Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB PODER CONSTITUINTE A constituição emana de um poder distinto dos poderes que ela estabelece, isto é, constituídos por ela, que são os poderes da República (poder legislativo, poder executivo e poder judiciário). Acima destes poderes há um poder maior, chamado poder constituinte, responsável pela elaboração da constituição e dos próprios poderes constituídos. Uma corrente doutrinária sustenta que uma nova constituição só será fruto de um poder constituinte originário se houver uma revolução, uma ruptura com a ordem constitucional anterior, na hipótese de uma transição pacífica o poder constituinte seria derivado. O STF decidiu,porém, que a constituição de 1988 é fruto de um poder constituinte originário, não obstante a transição pacífica entre a ditadura militar e o regime democrático. Existem dois tipos de Poder Constituinte: o Originário e o Derivado. A Teoria do Poder Constituinte foi construída no séc. XVIII, pelo Abade francês Sieyès, na obra escrita pouco antes da Revolução Francesa, “O Que é o Terceiro Estado”. Nesta obra, o “Terceiro Estado” representava o povo. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO É o que cria uma Constituição, seja a primeira, seja uma nova, substituindo a anterior. Características: 1) É um poder inicial, é um poder criador, ele que inaugura a organização constitucional do Estado, ele é o “ponto de partida”, pratica atos primários, por isso, é também conhecido como Poder Constituinte de Primeiro Grau ou Genuíno. É inicial porque não se funda em nenhum outro poder. Fundamenta-se em si mesmo. O fato de ser antecedido por um ato convocatório não elimina o caráter inicial. 2) É um poder autônomo, pois não é subordinado à ordem jurídica anterior, portanto ele é um poder meramente político, porque não se subordina ao que existia anteriormente à ordem jurídica anterior. Este poder não recebe uma missão pronta, pois tem ampla liberdade de gerenciamento das matérias que pretende dispor. É um poder inicial e não meramente de reforma. De fato, o poder constituinte originário não tem limitações de ordem material, não se submete às cláusulas pétreas, não é obrigado, por exemplo, a respeitar direito adquirido. Diversamente, o poder constituinte derivado é subordinado às limitações de ordem material, deve respeitar as cláusulas pétreas. 3) É um poder ilimitado, pois pode inserir na Constituição o que bem entender. Para Sieyès, a única restrição ao Poder Originário, seria o Direito Natural, que surge com o próprio ser humano, portanto, é anterior ao Estado e ao próprio poder, sendo assim, seria uma restrição ao Poder Constituinte Originário. Qual a razão de ser desta característica? Por que Sieyès concebeu o Poder Constituinte Originário, como um poder ilimitado? É importante ter presente, para que se compreendam as ponderações 2 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB contemporâneas sobre a necessidade de se reconhecer, pelo menos, alguns outros limites ao Poder Constituinte Originário. Na verdade, esta característica foi desenhada e foi atribuída ao Poder Constituinte Originário, em razão da época em que a teoria do poder constituinte foi edificada, na realidade surgiu em oposição ao Estado absolutista, e em razão do absolutismo do poder do governante, daí a ideia de se contrapor um poder que tivesse origem popular e, portanto, a mesma força, ou uma força que pudesse impor-se ao do governante. Desta forma, a ideia seria de atribuir ao Poder Constituinte Originário, uma força ilimitada. Dizem alguns autores, como o próprio Jorge Miranda, atualmente não mais se cogita a teoria do absolutismo dos governantes, com base na teoria do “direito divino dos governantes”, que era uma das fontes do absolutismo, da idade moderna. Se não há mais se cogitar, especialmente na civilização ocidental, da teoria do poder divino e do direito divino dos governantes, geradora do absolutismo da idade moderna, pelo menos em alguns Estados, não há mais, hoje em dia, que se admitir o absolutismo do Poder Constituinte Originário, seria até recomendável que se identificasse outro limite. A doutrina, sobretudo a doutrina europeia, tem identificado alguns limites ao Poder Constituinte Originário, é algo ainda em desenvolvimento, muito mais sensível hoje, no modelo europeu do que nas Américas. De acordo com Jorge Miranda, seria possível reconhecer hoje, os seguintes limites ao Poder Constituinte Originário, divididos em grupos: a) Limites transcendentes: congregam o direito natural, os valores éticos superiores e uma consciência coletiva, formada na sociedade. Transcendem o próprio direito positivo. Portanto, além do direito natural, Sieyès já colocava como restrição ao Poder Originário, Jorge Miranda apresenta-nos também valores éticos, sociais, valores que são construídos com o passar do tempo e das gerações, em cada sociedade, e que são considerados como superiores por aquele povo, por exemplo, a liberdade religiosa, que teve um desenvolvimento contundente no Brasil, tanto que o Brasil tem como marca, o convívio pacífico entre inúmeras religiões e que seria então um valor ético superior desta sociedade. Além disso, a ideia da formação de uma consciência jurídica coletiva, de uma “alma nacional”, o que também é comum no desenvolvimento da própria Nação, a formação de um mesmo modo de pensar, de agir e de ser, que integra a verdadeira cultura da sociedade. b) Limites imanentes: são aqueles que decorrem da própria natureza do conceito e das características dos elementos do Estado, como por exemplo, o princípio da soberania nacional, de fato, se o Poder Constituinte Originário surge para elaborar uma nova constituição, e se o papel de uma constituição é organizar o Estado, não teria sentido imaginar que este Poder Constituinte Originário pudesse descartar o princípio da soberania nacional, sendo que um dos elementos configuradores do Estado é exatamente o poder soberano, o poder qualificado pela soberania. c) Limites heterônomos: decorrem do Direito Internacional. É muito mais nítido no modelo europeu, de modo que se discute, se as normas obrigatórias emanadas dos órgãos diretivos da União Européia constituiriam limites ao Poder Constituinte Originário de cada Estado-Membro da União Europeia. Alguns entendem que isto já seria uma manifestação clara de que há limite vindo de fora, imposto ao Poder Constituinte Originário, já outros autores, entendem que não, pois no momento em que cada Estado adere ou decide por admitir as normas impostas pela União Europeia, assim o faz, num ato de manifesta soberania. O país optou por aderir e teria a opção de abandonar a União, são as posições 3 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB que analisam na realidade, estes limites oriundos de organismos supranacionais Atualmente, fala-se na existência de Poder Constituinte Supranacional, como tentou- se na Europa, ao apreciarem o projeto de Constituição Europeia, portanto seria um poder apto a elaborar uma constituição Supranacional, uma constituição Continental. É bem verdade que nos moldes do projeto que chegou a ser rejeitado, havia a possibilidade de criação, não propriamente de uma constituição Europeia, mas um Tratado Constitucional, porque, pelo menos, naquele projeto, não havia ainda a intenção de se suprimir as soberanias de cada Estado-Membro. Vejam que estas discussões estão em franco desenvolvimento e são mais sensíveis no modelo europeu do que no americano. É bem verdade, exatamente pelo fato de que isto é algo ainda em discussão, algo ainda em progressivo desenvolvimento, que os autores, osexaminadores, ainda colocam especialmente, em provas de 1ª fase, as características secas e tradicionais do Poder Originário. Todos encontrarão em várias provas ainda a característica: é um poder ilimitado. Muitos ainda fazem a ressalva de Sieyès em relação ao direito natural. Afinal, isto consta do próprio livro: O que é o Terceiro Estado? 4) É um poder incondicionado, não se sujeita a condições de exercício preestabelecidas. É ele mesmo que define as regras procedimentais para o seu exercício, é o próprio poder constituinte originário que define, por exemplo, o sistema de apreciação do projeto de Constituição, o mecanismo de votação, o quórum de aprovação, ele não está obrigado a seguir regras procedimentais preexistentes, é ele que define, e ele que controla essas regras, de tal modo que no momento em que veio à tona a notícia de que alguns dispositivos da Constituição Brasileira de 1988 não foram votados pela Constituinte, indagou-se à época, inclusive Ministros do STF, sobre o que seria possível fazer, a resposta foi “NADA”, afinal, caberia ao próprio poder constituinte originário esse controle, se não houve o controle, houve praticamente uma chancela, porque é um poder incondicionado. O Poder Constituinte Originário, tal e qual foi concebido por Sieyès, é um poder permanente, afinal, a qualquer momento poderá ser exercido para elaboração de uma nova Constituição. Em razão deste fato, em que ele foi concebido e é considerado um poder permanente, há uma parte na doutrina que considera que as manifestações populares diretas, por meio dos instrumentos de democracia direta, como referendo, plebiscito, equivaleriam a pronunciamentos do próprio Poder Constituinte Originário. Esta é uma visão de um seguimento da doutrina, em decorrência do fato de que o Poder Constituinte Originário é permanente. Modalidades do Poder Originário: 1) Poder Constituinte Originário Histórico-Fundacional: é o que faz a 1ª Constituição de um Estado. No caso do Brasil, é o que fez a Constituição de 1824. 2) Poder Constituinte Originário Revolucionário: é o que faz uma nova Constituição, substituindo a anterior. O termo “revolucionário” refere-se ao sentido amplo de revolução, não abrangendo apenas as revoluções bélicas, armadas, mas também as revoluções “brancas”, não bélicas, exatamente porque a elaboração de uma nova constituição decorre sempre de uma ruptura profunda, portanto, de uma revolução, não necessariamente 4 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB contenciosa, pode ser que essa ruptura tenha sido pacífica, expressa, de manifestações populares, manifestações plebiscitárias. O importante é que só haverá uma nova constituição, se houve em determinado Estado uma ruptura profunda, drástica, contundente, estrutural, com a ordem política e social anterior. Se houve uma mera alteração governamental, isto não impõe a preparação de uma nova constituição, uma mera emenda, uma mera reforma, poderia resolver, na realidade, se houve uma nova constituição, é porque mudou a mentalidade de forma profunda, é que mudou a estrutura central da ordem política até então existente. Por isso é que todo poder que cria uma nova constituição tem partido de uma revolta armada ou não, recebe a denominação de Poder Constituinte Originário Revolucionário. Não importa também a origem desta revolução, pode ter sido uma ruptura que partiu do povo, pacificamente ou não, ou até mesmo tenha partido do próprio governante que assumiu o Poder ou do grupo político que assumiu o poder. A diferença estará apenas na forma da concepção da constituição, em um caso poderá ser uma constituição democrática, em outro, outorgada, imposta, mas o fato é que haverá uma nova constituição. Titular do Poder Originário: Sieyès considerava como titular a nação. A doutrina contemporânea considera o povo, como titular. O parágrafo único do art. 1º da CF dispõe que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição. Portanto, o titular do poder constituinte originário é o povo. Já o exercente deste poder constituinte originário pode ser uma pessoa (por exemplo, um ditador, como fez Getúlio Vargas na constituição de 1937) ou um órgão colegiado formado por pessoas eleitas, como na constituição de 1988, ou ainda um grupo pequeno de pessoas, como na constituição de 1969 que foi elaborada por 3 militares. Não há uma forma predefinida para o exercício deste poder originário, por tratar-se de um poder incondicionado, não há um modelo obrigatório para que o titular desse poder exerça o poder e faça a Constituição. Sieyès considerava como um modelo ideal a eleição popular de representantes extraordinários, que reunidos em Assembleia Constituinte, deveriam elaborar a Constituição, isso foi tido como um modelo ideal, não necessariamente obrigatório, porque o poder originário é incondicionado. Esta proposta tida como ideal partia do princípio de que o povo escolheria representantes, exclusivamente para a preparação da Constituição. A Assembleia Constituinte passaria a ser o agente do poder constituinte e teria esta missão, elaboração da constituição, como única e exclusiva. Encerrado o trabalho, cumprida a missão, a Assembleia Constituinte, segundo este modelo proposto, seria dissolvida. Este é o modelo tradicional da doutrina, porque vem de Sieyès, na prática, foi possível encontrar mecanismos de formalização do Poder Constituinte Originário dos mais diversos tipos. Alguns autores dividem os atos constituintes em: atos constituintes unilaterais e atos constituintes bilaterais: a) Unilaterais: são aqueles em que apenas um órgão participou da elaboração da Constituição. Exemplos: 5 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB Própria Assembleia Constituinte ou Convenção, que posteriormente convoca referendo popular para chancelar ou não, o que foi discutido; Ato de outorga da Constituição pelo Governante; Imposição da Constituição por meio de um Decreto Presidencial. b) Bilaterais: dois órgãos participam da feitura constitucional. Exemplos: Constituição dos EUA, elaborada por uma Convenção e chancelada pelas Assembleias dos Estados membros; Constituições das Monarquias do século XIX, preparadas pela Assembleia e submetidas à chancela do Monarca. A doutrina diferencia Poder Constituinte Originário Material, de Poder Constituinte Originário Formal: a) Poder Constituinte Material: é a própria força revolucionária que provoca a ruptura com a ordem política anterior, dando ensejo à elaboração de uma nova constituição. b) Poder Constituinte formal: é a roupagem assumida por esta força revolucionária, isto é, a forma que ela assumiu, que pode ser uma Assembléia Constituinte ou uma Convenção, etc. Mas na verdade, o que interessa para a visualização de um poder constituinte originário autêntico é a existência do poder constituinte originário material. Basta que exista força revolucionária, não importa a roupagem, a forma que ela assume, para que se tenha um autêntico poder originário. Esta discussão foi importante à época da promulgação da Constituição Brasileira de 1988. Alguns autores chegaram a questionar se aquele ato havia sido uma nova Constituição ou se era apenas uma macro-emenda à Constituição anterior; afinal, colocaram em dúvida a autenticidade do Poder que a elaborou, se teria sido um Poder verdadeiramente Originário, pelos seguintes motivos: 1º) Foi uma Emenda à Constituição anterior (Emenda nº 26, de 1985), que convocou a Constituinte para 1986. Ora, portanto, não houve ruptura de sistema. 2º) A eleiçãode 1986 não foi exclusiva para uma Assembleia Constituinte; afinal, os parlamentares eleitos (deputados e senadores), seriam ao mesmo tempo constituintes e legisladores ordinários. Faltou a exclusividade. 3º) Alguns integrantes daquela Constituinte não foram eleitos para tanto, porque alguns senadores, que ainda tinham seu mandato em curso, não foram eleitos, mas integraram a Assembleia Constituinte. 4º) Concluída a tarefa de promulgar a Constituição, a Constituinte não foi dissolvida; converteu-se a Assembleia Constituinte no Congresso Nacional. Seguiu um caminho de Poder Constituinte para Poder Constituído. Por estas razões colocou-se em dúvida a autenticidade do poder originário brasileiro, que gerou a constituição brasileira de 1988. Entretanto, prevaleceu a posição majoritária da doutrina e, inclusive com a chancela do Supremo Tribunal Federal, até mesmo ao julgar a Ação que tratava da Anistia, de que houve um Poder autenticamente originário; afinal, não importa a roupagem assumida ou o 6 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB fato de não ter seguido o modelo proposto por Sieyès, o que importa é que houve verdadeiramente, nitidamente, uma força revolucionária que rompeu com o regime militar instituído em 1964. Não importa a forma que utilizou aquela força revolucionária, para expressar-se, se foi por meio de emenda à constituição, inclusive, diz o próprio Supremo: aquela Emenda nº 26, de 1985, é a “norma-mãe”, na verdade, integra aquele ato todo, o contexto que gerou a Constituição de 1988. PODER CONSTITUINTE DERIVADO O Poder Constituinte Derivado típico, clássico, é o poder de reforma da Constituição, por isso, é conhecido como Poder Constituinte Derivado Reformador. Este poder constituinte derivado pode ser reformador e decorrente. O primeiro, que é exercido pelo Congresso Nacional, tem a função de alterar a Constituição Federal através de emendas constitucionais. O segundo, que é exercido pelas Assembleias Legislativas é incumbido de elaborar ou alterar as constituições estaduais. Ambos derivam do poder constituinte originário. Ao lado desses dois poderes derivados, a constituição de 88 ainda estabeleceu o poder de revisão, no art. 3º do ADCT, que deveria ser realizado após 5 anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em sessão unicameral. Este poder revisional de alterar a constituição, através de emenda constitucional, foi estabelecido pelo próprio poder constituinte originário e portanto, trata-se de uma terceira espécie de poder constituinte derivado, tanto é que estava subordinado aos limites materiais e formais estabelecidos pela constituição. O STF decidiu que este poder revisional deveria observar as cláusulas pétreas. A Emenda Constitucional, fruto do poder derivado, exige quórum de 3/5, em dois turnos, nas duas Casas do Congresso Nacional, sendo portanto, votada quatro vezes e depois promulgada pelas Mesas da Câmara e do Senado. Pode classificá-la como Emenda Constitucional Ordinária. Diversamente, a Emenda Constitucional, emanada do Poder Constituinte Revisional, para ser aprovada dependia de maioria absoluta em sessão unicameral do Congresso Nacional, sendo promulgada pela Mesa do Congresso. Pode ser denominada Emenda de Revisão. Características: 1) É um poder derivado ou secundário, pois é instituído pelo Poder Originário, não existe por si só, por isso, também é chamado como Poder Constituinte de Segundo Grau, inclusive, em alguns casos, certas constituições até vedam a sua existência, como na hipótese de constituição imutável. 2) É um poder subordinado, pois sujeita-se à ordem jurídica preexistente, ele está submetido à ordem jurídica instituída pela própria Constituição. É considerado pela doutrina um poder jurídico (e não político, como o anterior). 3) É um poder limitado, sujeita-se a diversas restrições impostas pela própria constituição, como por exemplo, limitações materiais, isto é, cláusulas pétreas. 4) É um poder condicionado, pois sujeita-se a condições de exercício preestabelecidas, 7 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB não é ele que elabora ou define as regras procedimentais para o seu exercício, elas já estão previamente definidas na própria Constituição. Por exemplo, se o Congresso Nacional no Brasil pretender reformar a Constituição, não é ele que dirá qual o procedimento, o processo normativo da emenda, isto já está previamente definido na Constituição, que vislumbra os dois turnos na Câmara, os dois turnos no Senado, o quórum qualificado de 3/5 dos membros para aprovação. Titular do Poder Derivado: O titular deste Poder também é o povo, que o exerce, via de regra, indiretamente por meio do Poder Legislativo, por vezes, também é possível a participação direta do titular na aprovação da reforma. No Brasil, o titular deste poder é o povo e o exercente é o Congresso Nacional. Em alguns países, a reforma constitucional, depois de aprovada pelo Parlamento é submetida a referendo popular, e, portanto, o próprio titular do poder participa deste processo. No Brasil, o Poder Derivado Reformador se expressa por meio da Emenda, nos termos do art. 60, CF. Este é o instrumento de reforma, é o ato normativo que promove reforma constitucional, portanto, por ocasião de sua preparação, atua o legislativo no exercício do poder constituinte derivado reformador. A partir da EC nº 45, que criou o §3º do art. 5º da CF, também os Tratados de Internacionais de Direitos Humanos firmados pelo Brasil, que sejam submetidos pelo Congresso ao procedimento próprio da Emenda, equivalerão às Emendas, portanto promoverão reforma constitucional, entretanto, sujeitam-se às mesmas limitações das emendas, afinal, eles equivalem às emendas. Importante lembrar: a Constituição/88, nas disposições transitórias, art. 3º do ato das disposições constitucionais transitórias (ADCT), previu a Revisão Constitucional. De acordo com este dispositivo, deveria se respeitada uma limitação temporal de pelo menos de cinco anos, ou seja, passados cinco anos da promulgação da Constituição de 88, a qualquer momento, o Congresso Nacional, poderia aprovar a revisão constitucional, por maioria absoluta, em sessão unicameral. Importante lembrar: este procedimento previsto no art. 3º da ADCT revelou-se bem mais simples, do que o procedimento que a própria constituição prevê para a emenda. Emenda: votações em dois turnos, discussões e votações em dois turnos, em cada Casa, quórum qualificado de 3/5; Revisão: sessão unicameral, e quórum inferior ao da emenda, quórum de maioria absoluta. Sessão unicameral: significa que Deputados e Senadores votariam como se integrassem uma só Casa Legislativa. Com isso, o Senado Federal perde força pois o número de senadores é menor que o número de deputados, sendo que na sessão unicameral os votos são computados por cabeça; Sessão conjunta: Deputados e Senadores reunidos debatem, mas, no momento da votação, cada qual vota com seus pares. Há diferença sensível no resultado, se disser maioria absoluta em sessão conjunta, o 8 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB resultado deverá ser: maioria absoluta dos Senadores e maioria absoluta dos Deputados. Por outro lado, se disser maioria absoluta em sessão unicameral, o resultado deve ser: maioria absoluta do todo, do número total de Deputados + Senadores. O único momento em que a Constituição previu sessão unicameral foi neste, para a revisão constitucional (art. 3º doADCT). A Constituição não trouxe maiores esclarecimentos sobre a revisão, prevaleceu o entendimento de que houve a previsão de apenas uma revisão, a expressão está no singular e nas disposições transitórias e não no corpo permanente da Constituição. Revisão esta que já foi realizada em 1994, com poucas alterações. Logo após o esgotamento daquela limitação temporal, decorridos os cinco anos da promulgação da Constituição de 88, houve discussão no Brasil, se aquela revisão prevista no art. 3º deveria ou não ser realizada, ela foi realizada em 1994, mas discutiu-se antes do início dos seus trabalhos, se ela deveria ou não ser realizada. Discutiu-se então a natureza daquele Poder Revisional. Natureza do Poder Revisional: 1ª corrente: teve como adepto José Afonso da Silva, considerou que a natureza do Poder de Revisão era de Poder Constituinte Originário, entendendo que a Revisão poderia até mesmo criar uma nova Constituição, afinal, o art. 3º do ADCT, ao prevê-la, não estabeleceu que a Revisão devesse respeitar as cláusulas pétreas, e o único poder apto a ignorar cláusulas pétreas seria o Poder Constituinte Originário. Esta posição não prevaleceu. 2ª corrente: a Revisão era manifestação do Poder Constituinte Derivado Reformador, assim como Emenda, portanto, teria que respeitar cláusula pétrea. Prevaleceu o entendimento, inclusive no Supremo (ADIn 815), afinal, por uma questão de coerência constitucional, não teria sentido imaginar que a Emenda sujeita a um processo legislativo mais rigoroso, tivesse que respeitar cláusula pétrea e a Revisão, submetida a um processo legislativo menos rigoroso, não. Ademais, Poder Constituinte Originário é um poder incondicionado e a Revisão não se mostrava como um poder incondicionado, pois existiam regras procedimentais predefinidas. Dentro desta corrente, houve também uma divisão: os que achavam e concordavam que o Poder Revisional seria um mero Poder de reforma, houve quem entendesse que a Revisão não deveria ser realizada e outros, que deveria. Alguns, como Paulo Bonavides, sustentaram que não, por entenderem que ela teria sido prevista pela Constituição para ajustar a própria Constituição ao resultado do plebiscito previsto para 1993, no art. 2º da ADCT, sobre formas e sistemas de governo. Assim, se o eleitorado tivesse alterado a forma ou o sistema de governo, haveria necessidade de uma ampla reforma na Constituição e, até pela localização geográfica, esta corrente doutrinária atrelava a Revisão ao plebiscito. Como no plebiscito de 1993, nada mudou, foi mantida a forma republicana de governo e o sistema presidencialista de governo, esta vertente sustentou que a Revisão não deveria ser realizada. A outra vertente entendia que não, que não havia esta vinculação com o plebiscito, de tal forma que a Constituição não previu data para a realização da Revisão; previu apenas uma limitação temporal, inicial, mas a partir de outubro de 1993, a qualquer momento, qualquer ano, poderia ser feita a revisão constitucional. Portanto, para esta, o que pretendeu o constituinte constitucional foi estabelecer um período de teste para a 9 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB Constituição, findo o qual, segundo os critérios de conveniência do Congresso, a Constituição poderia ser amplamente reformada. Prevaleceu esta posição, com a Revisão realizada em 1994. Nas Federações, identifica-se ainda outro tipo de Poder Constituinte. É o Poder Constituinte dos Estados-Membros de criação das constituições estaduais. Para identificá-lo, houve toda uma discussão doutrinária, e especialmente a doutrina, optou em classificá-lo em Poder Constituinte Derivado, não pelo que ele faz (cria a Constituição Estadual), mas em razão de suas características, que fazem com que ele deva ser classificado como um poder derivado, e não como um poder originário, afinal, ele é um poder derivado, instituído pela própria Constituição Federal. É a constituição do país que prevê a sua existência, que adotou a Federação como forma de Estado, que prevê a capacidade de auto-organização dos próprios estados, portanto, ele é um poder subordinado, por ser exatamente derivado e limitado. Para evitar confusão com a nomenclatura do Poder que reforma a Constituição, convencionou-se chamá-lo de Poder Constituinte Derivado Decorrente. PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE É o Poder dos Estados-Membros, nas Federações, de elaboração das respectivas Constituições Estaduais, art. 25 da CF. As Constituições Estaduais deveriam ser feitas, no máximo, até um ano, após a promulgação da Constituição Federal. No Brasil houve uma discussão adicional relativa aos Municípios. Será que eles teriam Poder Constituinte Derivado Decorrente? A Constituição de 1988 fortaleceu a figura municipal, considerando-os como “entes da Federação”, de tal modo que fortaleceu a autonomia municipal, e conferiu ao Município o poder de elaboração do seu documento organizativo, denominado Lei Orgânica Municipal, art. 29 da CF. Antes da CF/88, os Estados é que faziam as Leis Orgânicas dos seus Municípios, salvo em alguns Municípios do Rio Grande do Sul. O Poder que elabora a Lei Orgânica Municipal seria um Poder Derivado Decorrente? A doutrina começou a discutir a natureza da Lei Orgânica Municipal. Alguns autores chegaram a considerá-la uma verdadeira “Constituição Municipal”. Entretanto, prevaleceu na jurisprudência, a posição de que Lei Orgânica Municipal não tem status de norma constitucional, portanto, não é Constituição. Razões: 1ª) Lei Orgânica deve respeitar a Constituição Federal e a Constituição Estadual. Ora, como imaginar que teriam a mesma natureza, o Poder Constituinte, que elabora a Constituição Estadual e o Poder Constituinte que elabora a Lei Orgânica Municipal, se este está subordinado aquele. Não poderiam ser poderes da mesma natureza. 2ª) Violação à Lei Orgânica Municipal não gera inconstitucionalidade, gera ilegalidade. Com efeito, não é cabível ação declaratória de inconstitucionalidade de lei municipal. 10 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB Prevaleceu o entendimento: Não há no Brasil o Poder Constituinte Derivado Decorrente Municipal Em relação ao Distrito Federal, ele é ente da Federação sui generis, não tem Municípios e não pode ser dividido em Municípios. A definição legal de suas áreas é de “regiões administrativas”. Portanto, não há eleição para prefeitos ou vereadores, o que existe são administradores regionais, nomeados pelo Governador do DF, mediante aprovação da Câmara Legislativa. O Legislativo do DF exerce as competências legislativas estaduais e municipais. O documento que organiza o Distrito Federal é chamado de Lei Orgânica e trata de matérias que seriam de competência estadual e municipal, trata-se de um documento híbrido. Conclusão: a Lei Orgânica do Distrito Federal tem parcial natureza constitucional e de norma legal, infraconstitucional. Deste modo, a parte da Lei Orgânica do Distrito Federal que trata de matéria que seria de matéria estadual, tem status constitucional, diversa da outra parte. Assim, o poder que elaborou a Lei Orgânica do Distrito Federal foi um poder Parcialmente Constituinte Derivado Decorrente. Como o Poder Decorrente é Derivado, está subordinado à CF, ele deve observar as limitações que a CF a ele impõe. A doutrina apresenta classificações dos princípios da CF que restringem a atuação do Poder Decorrente, que são classificados da seguinte maneira: a) Princípios Constitucionais Estabelecidos: são os que impõem limitações diretas e expressas aos Estados, bem como, limitaçõesindiretas e implícitas aos Estados. Exemplos: art. 19 e 21 da CF, entre outros. b) Princípios Constitucionais Sensíveis: são aqueles expressamente previstos no inciso VII do art. 34, cuja violação implica intervenção federal no Estado transgressor. O Procurador Geral da República formula uma representação e a encaminha ao STF. A doutrina denomina esta representação, como natureza de ação - Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva. O legitimado único é o Procurador Geral da República. c) Princípios Constitucionais Extensíveis: devem ser observados também pelos Municípios. São normas da Constituição Federal que disciplinam a organização da União Federal e, devido à importância destas normas para garantir uma unidade do federalismo brasileiro, a harmonia da separação de poderes, a uniformidade do federalismo brasileiro, a doutrina e o STF tem entendido que essas normas da CF, voltadas à União, devem ser transportadas aos demais entes, na disciplina das instituições equivalentes. E o Supremo tem identificado, aos poucos, normas da CF consideradas como extensíveis e que devam ser transportadas aos demais entes. Ex: normas da CF/88 sobre processo legislativo, orçamento público, organização e composição do Tribunal de Contas, eleição de Chefe do Poder Executivo, entre outras. 11 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB Princípio da simetria ou do paralelismo das formas é o nome dado ao critério de adaptação e adequação dos Princípios Extensíveis às esferas estadual, municipal e distrital. Essa necessidade da reprodução do modelo federal requer ajuste deste modelo às peculiaridades, características dos demais entes. Ex: as normas da CF sobre processo legislativo, no momento em que os Estados devem adotá-la para a disciplina do processo legislativo estadual, os Estados deverão promover um ajuste de adequação, afinal a União tem um poder legislativo bicameral e os Estados, um poder legislativo unicameral. 12 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF:PAULO ADIB CASSEB PERGUNTAS: 1) O que é Poder Constituinte? 2) Quais as suas espécies? 3) Quais as quatro características do Poder Constituinte Originário? 4) Este poder tem algum limite? 5) Além do direito natural, há outros limites? 6) Quais as duas modalidades de poder constituinte originário? 7) Quem é o titular do poder constituinte originário? 8) Quem é o seu exercente? 9) Qual a diferença entre poder constituinte material e formal? 10) A constituição de 1988 é fruto de poder constituinte originário ou derivado? 11) Quais as espécies de poder constituinte derivado? 12) Quais suas características? 13) Quem é o titular deste poder? 14) Como este poder se expressa? 15) Tratados Internacionais tem a mesma posição hierárquica da emendas Constitucionais? 16) Qual a diferença entre o poder reformador e o poder revisional? 17) O poder revisional é originário ou derivado? 18) O que é poder constituinte derivado decorrente? 19) Os Municípios têm poder constituinte derivado decorrente? 20) E o Distrito Federal? 21) Quais os princípios limitativos do poder decorrente? 22) O que é o princípio da simetria?
Compartilhar