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Constitucional Bernardo Fernandes

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11 
 
 
 
Direito 
Constitucional 
 
Curso Fórum TV – Nathália Moreira Nunes de Souza 
BERNARDO 
FERNANDES 
 
 
1 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Direito Constitucional ................................................................................... 0 
Teoria da Constituição ................................................................................... 5 
Constitucionalismo ..................................................................................... 5 
Conceito ................................................................................................... 5 
Neoconstitucionalismo- ............................................................................... 7 
Características do Neoconstitucionalismo ............................................... 8 
Transconstitucionalismo ............................................................................ 9 
Classificação das Constituições ................................................................. 11 
Bloco de Constitucionalidade ................................................................ 19 
Sentidos e Concepções de Constituição ..................................................... 20 
Sociológico ............................................................................................. 20 
Político .................................................................................................. 21 
Jurídico ................................................................................................. 22 
Cultural ................................................................................................. 22 
Classificação das Normas Constitucionais (Aplicabilidade das Normas 
Constitucionais) ........................................................................................ 23 
Normas Constitucionais de Eficácia Plena ............................................ 23 
Normas Constitucionais de Eficácia Contida ......................................... 24 
Normas Constitucionais de Eficácia Limitada ....................................... 24 
Outras Classificações ............................................................................. 25 
Poder Constituinte ................................................................................... 27 
Poder Constituinte Originário .............................................................. 27 
Histórico ............................................................................................. 27 
Conceito .............................................................................................. 27 
Características .................................................................................... 28 
Poder Constituinte Derivado ................................................................. 30 
Poder Constituinte Derivado Reformador ......................................... 30 
Revisão ............................................................................................ 30 
Emendas Constitucionais ................................................................ 33 
Limites Formais ........................................................................... 33 
Limites Circunstanciais ................................................................ 35 
Limites Materiais ......................................................................... 35 
Outras formas de reforma ............................................................... 38 
Poder Constituinte Decorrente .......................................................... 39 
Municípios ....................................................................................... 41 
Organização do Estado ................................................................................ 43 
Forma de Estado....................................................................................... 43 
Análise do Federalismo Brasileiro ........................................................ 44 
 
 
2 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Classificações do Federalismo ............................................................... 45 
Quanto à História ............................................................................... 45 
Quanto à Concentração de Poder ....................................................... 46 
Quanto ao Equacionamento das Desigualdades ................................. 46 
Autonomia ............................................................................................. 47 
Repartição de Competência entre os Entes .............................................. 49 
Técnicas de Repartição de Competências .............................................. 49 
Repartição de Competências na Constituição ........................................ 50 
Repartição Horizontal........................................................................ 50 
Possibilidade de Delegação do art. 22, p. único, CF ....................... 52 
Repartição Vertical ............................................................................ 52 
Considerações Finais .......................................................................... 56 
Territórios ....................................................................................... 57 
Intervenção ............................................................................................... 58 
Princípios .............................................................................................. 58 
Conceito ................................................................................................. 59 
Procedimentos ....................................................................................... 59 
Decreto de Intervenção ...................................................................... 61 
Controle sobre o Decreto de Intervenção ........................................ 61 
Exceções: Ausência do controle pelo Congresso .............................. 62 
Controle Judicial ................................................................................... 62 
Intervenção Estadual nos Municípios ................................................... 63 
Poder Legislativo ...................................................................................... 64 
Funções .................................................................................................. 64 
Composição ............................................................................................ 65 
Número de Deputados e Resolução do TSE ....................................... 65 
Funcionamento das Casas ..................................................................... 69 
Estrutura ............................................................................................... 72 
Comissões .............................................................................................. 73 
Comissões Permanentes ..................................................................... 73 
Comissões Temporárias...................................................................... 73 
Comissões Mistas ................................................................................ 73 
Comissão Representativa ................................................................... 74 
Comissão Parlamentar de Inquérito .................................................. 74 
Conceito ........................................................................................... 74 
Requisitos ....................................................................................... 74 
Poderes de Autoridade Judiciária .................................................. 75 
Estatuto dos Congressistas ....................................................................77 
 
 
3 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Imunidades Parlamentares ................................................................ 77 
Imunidade Material ........................................................................ 78 
Imunidade Formal .......................................................................... 80 
Imunidade Formal em Relação à Prisão ..................................... 80 
Imunidade Formal em Relação ao Processo ............................... 82 
Outras Imunidades ......................................................................... 87 
Impedimentos ..................................................................................... 88 
Hipóteses de Perda de Mandato ........................................................ 89 
Procedimentos ................................................................................ 89 
Processo Legislativo .............................................................................. 93 
Conceito .............................................................................................. 93 
Espécies .............................................................................................. 93 
Tipos de processo legislativo .............................................................. 93 
Processo Legislativo Sumário ......................................................... 94 
Processos Legislativos Especiais ..................................................... 95 
Fases do Processo Legislativo ............................................................ 95 
Processo Legislativo Ordinário .......................................................... 97 
Processos Legislativos Especiais ...................................................... 107 
Projeto de Lei Complementar ....................................................... 107 
Projeto de Lei Delegada ................................................................ 110 
Medidas Provisórias ..................................................................... 112 
Emendas Constitucionais .............................................................. 119 
Conceito ...................................................................................... 119 
Procedimento Legislativo........................................................... 119 
Decretos Legislativos ..................................................................... 123 
Conceito ...................................................................................... 123 
Procedimento ............................................................................. 123 
Resoluções ..................................................................................... 124 
Conceito ...................................................................................... 124 
Procedimento ............................................................................. 124 
Poder Executivo ...................................................................................... 127 
Funções ................................................................................................ 127 
Sistema de Governo ............................................................................. 128 
Estrutura do Poder Executivo ............................................................. 129 
Presidente da República .................................................................. 130 
Vice-Presidente ................................................................................ 132 
Ministro de Estado ........................................................................... 133 
Conselho da República e Conselho de Defesa .................................. 133 
 
 
4 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Crimes do Presidente da República .................................................... 134 
Imunidades ....................................................................................... 134 
Crimes de Responsabilidade ............................................................ 135 
Crimes Comuns................................................................................. 138 
Governadores ....................................................................................... 141 
Poder Judiciário ..................................................................................... 143 
Funções ................................................................................................ 143 
Garantias ............................................................................................. 144 
Estrutura ............................................................................................. 147 
 
 
 
5 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
aula 01 – 09/02/2015 – pt. 01 
CONSTITUCIONALISMO 
CONCEITO 
Constitucionalismo é um movimento do Século XVII na Inglaterra e do Séc. XVIII na 
França e nos EUA que teve como objetivo limitar o poder (nova organização do 
Estado) e estabelecer direitos e garantias fundamentais. 
 
CONSTITUCIONALISMO = LIMITAÇÃO DE PODER + DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
Qual a diferença do constitucionalismo inglês para o constitucionalismo francês e 
americano? 
Todos os constitucionalismos têm um traço comum de limitar poder e estabelecer 
direitos fundamentais. Todavia, o constitucionalismo inglês decorreu da Revolução 
Gloriosa, trazendo a ideia de limitação do poder através da Supremacia do 
Parlamento. 
Agora, o rei reina, mas não governa mais. É uma limitação de quem antes não tinha 
limite. É a modificação do Estado de política, para um Estado de Direito 
Constitucional. 
O Estado da Política é aquele em que o rei poderia punir as pessoas por sua mera 
vontade. Poderia ficar insatisfeito porque um tem olho verde e mandar degolá-lo, ou 
declarar guerra contra uma Cidade Estado porque à noite sonhou com isso; ou 
mandar recolher tributo porque quer mais dinheiro, e determinar a morte de quem 
não puder pagar. 
O Estado de Direito Constitucional, no caso do constitucionalismo inglês, é inaugurado 
no séc. XVII pela Revolução Gloriosa, com a supremacia do parlamento. O rei reina, 
mas não governa (quem governa é o Parlamento). Os integrantes do parlamento, 
em parte, serão escolhidos pelo povo. 
No caso inglês, teremos uma Declaração de Direitos de 1689, chamada de Bill of 
Rights. 
 [limitação de poder + estabelecimento de direitos fundamentais] 
 
A Constituição aqui é apenas material, não escrita e histórica. Para eles, o papel 
aceitaria tudo, seria apenas tinta. A Constituição não seria um pedaço de papel, mas 
 
 
6 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
as práticas, o que se faz no decorrer da história. Ou seja, é o que construímos a partir 
de práticas. 
 
Já o Constitucionalismo francês e americano é o mais tradicional, adveio no Séc. XVIII, 
fruto das Revoluções Francesas. Aqui veio a Teoria da Separação dos Poderes, 
teorizada por Montesquieu. 
Como não poderia deixar de ser, existiram Declarações de Direitos nestes 
constitucionalismos: 
 França → 1789 → Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão 
 EUA → 1791 → Bill of Rights 
 
Nesse constitucionalismo, criou-se um papel que mandaria acima de todos, fosse o Rei 
ou Presidente, Legislativo ou Judiciário. Era a Constituição. Todos deveriam conhecer, 
obedecer e aplicar este documento. 
Surgem aí as constituições formais, escritas e dogmáticas. 
INGLATERRA FRANÇA / EUA 
Séc. XVII Séc. XVIII 
Revolução Gloriosa Revolução Burguesa 
Supremacia do Parlamento Teoria da Separação dos Poderes 
Declaração de Direitos de 1689 
França→ 1789 – Declaração Universal 
dos Direitos do Homem e do Cidadão 
EUA → 1791 – Bill of RightsConstituição material, não escrita e 
histórica 
Constituições formais, escritas e 
dogmáticas 
 
França EUA 
Declaração de Direitos – 1789 Constituição – 1787 
Constituição - 1791 Declaração de Direitos - 1791 
 
 
 
7 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
O constitucionalismo de maior sucesso na história é o do séc. XVIII, fruto das 
Revoluções Burguesas, que inaugurou a ideia de separação de poderes e a ideia do 
constitucionalismo formal em CF escritas e dogmáticas, tanto que adotamos esse 
modelo no Brasil e na maioria dos países do mundo. 
 
O conceito de Constituição, a partir do séc. XVIII, na maioria dos países do mundo 
pode ser dado conforme Canotilho: Constituição é a ordenação sistemática e 
racional da comunidade política explicitada em um documento escrito que 
organiza o Estado e estabelece direitos e garantias fundamentais. 
 
Pt. 02 
NEOCONSTITUCIONALISMO1-i 
O neoconstitucionalismo é um movimento da 2ª metade do século XX em diante (pós 
II G.M.) que tem como objetivo um novo modo de compreender, interpretar e aplicar 
o Direito Constitucional e as Constituições subjacentes ao mesmo. 
O neoconstitucionalismo trabalha com uma ruptura com o Direito Constitucional, 
trazendo uma nova forma de compreender, aplicar e interpretar o Direito 
Constitucional e as Constituições. 
Quais são os marcos do neoconstitucionalismo? 
 Histórico -> é o Estado Constitucional de Direito que surge pós 2ª Guerra 
Mundial. 
 
 Filosófico -> é o Pós-Positivismo, uma tentativa de superação da dicotomia 
entre jusnaturalismo e positivismo. O pós-positivismo tem por objetivo ir além 
da legalidade estrita, porém sem desconsiderar o Direito posto. Portanto, 
permite uma reconciliação entre Direito e a ética, moral, justiça e filosofia. 
 
 Teórico -> é um conjunto de teorias que desenvolvem a força normativa da 
Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e uma nova 
hermenêutica (a hermenêutica constitucional): 
 
o Força normativa da Constituição 
o Expansão da jurisdição constitucional 
o Hermenêutica constitucional (nova hermenêutica) 
 
 
 
 
1 Artigo do Barroso sobre Neoconstitucionalismo: http://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art04102005.htm 
 
 
8 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO 
A. Constitucionalização do Direito -> é a Constituição como centro do 
ordenamento jurídico. Essa é a característica básica, porque a partir do 
Neoconstitucionalismo todo o Direito passa a ser constitucional. A CF vira o 
centro do ordenamento jurídico, como um sol ao centro do sistema solar. É 
uma verdadeira invasão do Direito Constitucional, também chamada no 
RJ de ubiquidade do Direito Constitucional (é a ideia de estar em todos 
os lugares ao mesmo tempo). Ocorre uma verdadeira filtragem 
constitucional, já que todos os direitos devem ser analisados antes à luz da 
Constituição, como se fosse um funil. 
 
B. Força Normativa da Constituição 
 
C. Busca pela Concretização (implementação) dos Direitos 
Fundamentais -> o neoconstitucionalismo busca concretizar os Direitos 
Fundamentais, tendo como mote a dignidade da pessoa humana. Esta passa 
a ser núcleo axiológico dos ordenamentos jurídicos, falando-se na sua eficácia 
irradiante. 
 
D. Judicialização da Política e das Relações Sociais -> há um significativo 
deslocamento de poder do Legislativo e Executivo para o Judiciário. O 
Judiciário, pela primeira vez, passa a ser protagonista de ações, podendo 
excepcionalmente implementar políticas públicas. O STF, p.e., afasta a reserva 
do possível e utiliza o mínimo existencial à luz da dignidade da pessoa 
humana para implementar políticas públicas. 
 
E. Reaproximação entre o Direito e a Ética, o Direito e a Justiça, o 
Direito e a Filosofia -> surgem aqui duas questões importantes: 
 Moralismo jurídico 
 Leitura moral da Constituição 
 
F. Renovação da Teoria da Norma, da Teoria das Fontes e da Teoria da 
Interpretação 
Pt. 03 
Quanto à teoria da norma, a renovação operada é o reconhecimento da 
normatividade dos princípios. Portanto, não se reconhece apenas a força 
normativa da CF, mas também a força normativa dos princípios, que deixam de ter 
perspectiva secundária, usados apenas como forma de complementação na falta de 
regras. 
Mesmo existindo regras, pelo neoconstitucionalismo o p. pode ser aplicado. Há 
autores que atualmente criticam isso. 
 
 
 
9 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Quanto à Teoria das Fontes, o Neoconstitucionalismo promove o deslocamento de 
poder do Legislativo e Executivo para o Poder Judiciário. Isso fica claro no 
Brasil, onde há repercussão geral, transcendência dos motivos determinantes, súmulas 
vinculantes... O Direito não surge mais apenas do Legislador, passando a emanar 
também da atuação do Poder Judiciário. Por isso, falamos numa expansão da 
jurisdição constitucional e dos Tribunais Constitucionais. 
 
No que toca à Teoria da Interpretação, há uma relativização dos métodos 
clássicos, mediante uma nova hermenêutica. Essa nova hermenêutica é chamada 
de Hermenêutica Constitucional: 
 Tópica 
 Metórica-Estruturante 
 Hermenêutica Concretizadora 
 Teorias da Argumentação 
 Princípio da Proporcionalidade 
 Ponderação 
 
TRANSCONSTITUCIONALISMO 
Criador: Marcelo Neves (UnB). 
 
O transconstitucionalismo pode ser conceituado como o entrelaçamento de ordens 
jurídicas diversas (estatal, internacional, transnacional, supranacional) com os mesmos 
problemas de natureza constitucional. 
 
Ordens jurídicas diferenciadas enfrentarão concomitantemente as mesmas questões 
de natureza constitucional. 
Ex.: o STF julgou a ADPF 101, com a questão de importação de pneus, enquanto que 
a mesma questão vem sendo discutida internacionalmente pela União Europeia, 
OMS, OMC, Organização Mundial do Meio Ambiente, etc. Portanto, ordem nacional, 
supranacional e internacional discutem simultaneamente a mesma questão de 
natureza constitucional, que pode ser abordada sob diversos aspectos. 
 
A OAB ajuizou a ADPF 153, sustentando que a Lei da Anistia, de 1979, feria princípios 
constitucionais como o p. da democracia e o p. da dignidade da pessoa humana, e 
portanto não poderia ser recepcionada pela CF 1988. Isso porque ela anistiava não só 
exilados políticos, como também agentes torturadores do período da ditadura e 
outros agentes da repressão. 
 
 
10 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Essa ADPF está vinculada, portanto, a um tema muito popular atualmente, da 
Justiça de Transição, e o direito à memória. 
O STF julgou improcedente a ADPF 153, em abril/2010. Entendeu que a lei da anistia 
foi recepcionada pela CF 1988, mesmo tendo abrangido exilados políticos e agentes 
da repressão. 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos julgou o caso Gomes Lund x Brasil, 
dizendo que a lei da anistia no Brasil não pode ser obstáculo para investigação e 
punição dos responsáveis por torturas e mortes na Ditadura Militar do Brasil. Ou seja, 
a lei da anistia não tem validade no que tange aos agentes repressores que 
praticaram torturas e mortes no Brasil, não podendo servir de obstáculo para 
investigação e repressão dessas pessoas. 
O STF deu uma decisão e a Corte Interamericana deu outra. Entra aqui o 
transconstitucionalismo, porque o mesmo problema de Direito Constitucional foi 
debatido e resolvido por duas ordens, uma interna e outra externa. Daí vem a ideia 
do Controle de Convencionalidade, que nada mais é do que a possibilidade de 
estabelecer um parâmetro entre normas do ordenamento jurídico e tratados 
internacionais de direitos humanos. 
O parâmetro é entre as normas jurídicas do país e tratados internacionais de Direitos 
Humanos (normas internas x TIDH).Qual ordem deve prevalecer, o STF ou Corte Interamericana de Direitos Humanos 
(que o Brasil integra e, portanto, deve respeitar suas decisões)? 
Marcelo Neves entende que não há necessariamente uma ordem que deve 
prevalecer sobre as outras (imposição de uma norma de forma heterônoma sobre as 
outras). Defende-se aqui os diálogos constitucionais para que decisões mais 
adequadas sejam tomadas. 
O Marcelo Neves defende a tese das pontes de transição entre as ordens jurídicas. 
Quanto mais elas se abrirem aos diálogos constitucionais, mais chances de decisões 
mais adequadas, mais justas e mais legítimas serem tomadas. 
 
Para o transconstitucionalismo, existe a necessidade de abertura, e não de 
fechamento entre as ordens. 
Outro exemplo dado pelo Marcelo Neves é a quantidade de fundamentação de 
decisões do STF com base em decisões internacionais ou de Tribunais de outros países. 
Essa comunicação de decisões entre Estados, entre organismos internacionais, propicia 
que decisões mais justas sejam tomadas. 
 
 
Aula 02 – 09/02/2015 – Pt. 01 
 
 
11 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
Quanto ao conteúdo 
 Constituição Formal -> é a Constituição escrita e dotada de supremacia em 
relação às outras normas do ordenamento. Falamos também numa 
“supralegalidade” da Constituição. A Constituição formal pode e deve ser 
modificada, para não ficar parada no tempo, mas não pelos meios normais 
utilizados para modificar outras leis. Ou seja, a Constituição Formal só pode 
ser modificada por procedimentos especiais (mais difíceis) previstos nela. 
Utilizaremos o critério da hierarquia: a norma inferior que contrariar uma 
norma constitucional será inconstitucional. Quanto ao conteúdo, a CF 88 é 
formal, posto que escrita e dotada de supremacia em relação a qualquer 
outra norma do ordenamento, tanto que só pode ser modificada por 
procedimentos especiais que ela mesma determina (art. 60 CF). 
[escrita + supremacia em relação a outras normas] 
 
 
 Constituição Material -> é o conjunto de normas escritas ou não na 
Constituição Formal e que dizem respeito às matérias tipicamente 
constitutivas do Estado e da sociedade. Ou seja, são matérias sem as quais não 
temos sociedade e nem Estado; com o Constitucionalismo, passou a ser 
essencial a Organização do Estado, com sua separação de poderes, e os 
Direitos e Garantias Fundamentais. 
Matérias essenciais: Organização do Estado + Direitos Fundamentais 
Além dessa definição teórica, podemos definir que a Constituição Material é 
composta de organização do Estado e Direitos Fundamentais. 
 
Existe Constituição Material fora da Constituição Formal? Sim. Por exemplo, a Lei nº 
8.069/90, que apesar de ser Lei Ordinária trata de matéria constitucional, por 
envolve direito fundamental da criança e do adolescente. 
Outro exemplo é a Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), que versa sobre matéria 
constitucional (direito fundamental). Portanto, é Constituição Material fora da 
Formal. 
Outro exemplo é a Lei 8.078/90, que possui várias normas que são matérias 
constitucionais (CF material), ainda que fora da Constituição Formal. 
Exemplos de CF material fora da CF formal: ECA, Estatuto do Idoso, CDC.... 
 
Essas normas, porém, não são dotadas de supremacia, tanto que podem ser 
alteradas por leis ordinárias, com procedimentos comuns. Uma LO pode 
perfeitamente alterar o ECA, por exemplo. 
Já a CF material que se encontra dentro da CF formal não pode ser alterada por 
uma LO, por exigir procedimento especial (supremacia da Constituição). 
 
 
12 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Dentro da Constituição Formal, não existem apenas normas materialmente 
constitucionais. 
Ex.: norma constitucional que prevê que o Colégio Pedro II é federal. 
 
Quanto à estabilidade 
 Constituição Rígida -> requer procedimentos especiais para sua 
modificação. Quando a CF é rígida quanto à estabilidade, será formal 
quanto ao seu conteúdo. A Constituição Federal brasileira é rígida, segundo a 
corrente majoritária. 
Obs.: Alguns autores paulistas classificam a CF brasileira como “super-
rígida”, porque além de serem exigidos procedimentos especiais para 
modificá-la, ainda há cláusulas pétreas, com temas que não podem ser 
alterados de forma alguma. Todavia, essa corrente é minoritária. 
 
 Constituição Flexível -> não requer procedimento especial para sua 
modificação. Isso só pode ocorrer quando a Constituição está no mesmo nível 
das leis ordinárias, tanto que não pediu procedimento especial para sua 
modificação e qualquer lei poderá modificá-la. Vigora o critério de que a lei 
posterior vigora a anterior, e para isso não pode existir hierarquia entre CF e 
demais normas. Ex.: a Constituição inglesa2. 
 
 Constituição Semirrígida ou Semiflexível -> é a Constituição que tem uma 
parte flexível e outra rígida. Ex.: Constituição de 1824. 
 
 
2 Em 1998, a Inglaterra aprovou o tratado de direitos humanos da União Europeia, segundo a qual leis 
internas não poderão contrariar tal tratado. Qualquer lei comum pode modificar a Constituição 
inglesa, mas não pode contrariar o Tratado de Direitos Humanos da União Europeia. Aqui entraria 
um controle de convencionalidade. 
Normas 
materialmente 
constitucionais 
Não são CF 
material 
Norma materialmente 
constitucional, mas não está 
na CF formal. 
Norma formalmente 
constitucional 
 
 
13 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Pt. 02 
Quanto à forma 
 Constituição Escrita -> é a Constituição escrita e sistematizada num 
documento, elaborada em um procedimento único. A CF 88 é escrita. 
Portanto, a CF é formal, rígida e escrita. 
Atualmente, não apenas as EC podem modificar a CF, mas também os 
tratados internacionais de Direitos Humanos que passarem pelo procedimento 
de EC. Só que a redação não vai ficar num único documento (o texto 
constitucional), continuará fora, o que gerou algumas críticas. 
 
 Constituição Não Escrita -> é a Constituição elaborada de forma esparsa no 
decorrer do tempo em virtude de um processo histórico. 
As Constituições não escritas podem ter documentos escritos? SIM. Como vimos 
no conceito, Constituição Não Escrita é aquela elaborada de forma esparsa, 
então nada impede que haja um documento escrito, desde que ele não seja 
único, feito num único procedimento (o que faria da Constituição Escrita). Ex.: 
a Constituição Inglesa, que é cheia de documentos escritos, como a Magna 
Carta, a Petição de Direitos, o Bill of Rights, o Acordo do Povo... Além desses 
documentos escritos, essa Constituição é integrada ainda de costumes jurídicos 
(material, não escrita, histórica, flexível, costumeira). 
 
Quanto ao modo de elaboração 
 Dogmática -> equivale à escrita quanto à forma 
 
 Histórica -> equivale à não escrita quanto à forma 
 
Quanto à origem do documento 
Refere-se à origem democrática ou não do documento. 
 Constituição Promulgada -> é aquela aprovada com participação popular. É 
um sinônimo de Constituição Democrática. A CF 88 é promulgada. 
 
 Constituição Outorgada -> é aquela elaborada sem a participação popular. 
Ou seja, o povo não participa do seu processo de elaboração. É sinônimo de 
Constituição Autocrática ou Ditatorial. Ex.: Constituição de 1824, 1937, 
1967 e emendas de 69. 
 
 Constituição Cesarista -> é a Constituição elaborada sem a participação 
popular, mas posteriormente à sua produção o povo é chamado para dizer 
“sim” ou “não” sobre o documento3. 
 
 
3 Obs.: o José Afonso diz que seria um plebiscito. Todavia, plebiscito é uma consulta prévia à produção 
normativa, o que não ocorre aqui. Portanto, o termo correto seria “referendo”, que é a consulta 
posterior à produção normativa.14 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
 Constituição Pactuada -> é aquela que resulta de um acordo entre o rei e o 
parlamento. Isso era comum no final do séc. XVIII e início do séc. XIX, em que a 
monarquia estava enfraquecida enquanto a burguesia ganhava força. Essas 
Constituições são chamadas de Pactuadas ou Dualistas. Paulo Bonavides diz 
que essas Constituições resultam de um acordo para desenvolver dois 
princípios: o princípio monárquico e o princípio democrático (em virtude do 
Parlamento). 
 
Quanto à extensão 
 Constituição Sintética -> é a Constituição resumida, sucinta. Em seu texto ela 
apresenta apenas matérias Constitucionais. Ela tem o básico do básico, ou 
seja, a organização do Estado e os direitos fundamentais. Ex.: Constituição 
americana de 1787. 
 
 Constituição Analítica -> é uma Constituição extensa e prolixa. Não apresenta 
em seu texto apenas matérias constitucionais. A CF 88 é analítica. Ela é 
detalhista, porque desce a pormenores. 
 
Quanto à ideologia ou à dogmática 
 Constituição Ortodoxa -> prevê apenas uma ideologia em seu texto. Ex.: a 
Constituição de 1918 da Rússia, a atual Constituição da China... 
 
 Constituição Eclética -> é aquela que apresenta mais de uma ideologia em 
seu texto. É também conhecida como Constituição Plural ou Constituição 
Aberta. São típicas de um Estado Democrático de Direito. Ex.: a CF 88, que 
fala em valores sociais do trabalho e livre iniciativa, direito de propriedade e 
função social da propriedade. É uma abertura constitucional que permite o 
desenvolvimento de perspectivas bem diversas. 
 
Pt. 03 
Quanto à finalidade 
 Constituição Garantia -> é uma Constituição que se volta para o passado, 
sendo exemplos as Constituições do Séc. XVIII e XIX. Estas Constituições são 
negativas, abstencionistas¸ conhecidas também como Constituições Quadro. 
Isto porque não são interventivas, nem proativas. Lembre-se que no Séc. XVIII 
e XIX havia um Estado Liberal. Portanto, essas Constituições são típicas do 
liberalismo, em que não existe uma intervenção estatal (Estado Mínimo). Essas 
Constituições visavam a garantir direitos já assegurados frente a ataques do 
Poder Público. 
A Constituição Federal de 1988 pode ser classificada como uma Constituição 
Garantia? A verdadeira pergunta é: qual Constituição brasileira não é de 
garantia, não visa a assegurar direitos de ataques do Poder Público? Ora, 
 
 
15 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
todas as Constituições também têm este escopo, por isso a CF 88 também tem 
um viés de Constituição Garantia. 
 
 Constituição Balanço -> é uma Constituição que se volta para o presente, 
sendo típicas dos Estados socialistas (são constituições de cunho marxista). São 
exemplos as Constituições do Século XX. 
 
 Constituição Dirigente -> é uma Constituição que se volta para o futuro. É 
típica de Estados sociais (Constitucionalismo Social – Welfare State – Estado 
tutor – Estado planificador – Estado de Bem Estar Social). São Constituições 
que estabelecem tarefas, fins e programas para o Estado e a 
sociedade. Ou seja, estabelecem uma ordem concreta de valores para 
Estado e sociedade. Em seus textos, são comuns as normas programáticas. 
Quanto à finalidade, a Constituição brasileira é classificada como DIRIGENTE, 
embora toda Constituição tenha um viés de garantia. 
 
Obs.: Na língua portuguesa, a grande referência da Constituição Dirigente é o 
Canotilho, cuja tese de doutorado tratou deste tema e alcançou grande notoriedade. 
Entre 2001 e 2002, Canotilho resolveu lançar a segunda edição desse livro, dizendo 
que a Constituição sobre a qual ele escrevera na década de 70 não existia mais. 
Isso causou grande repercussão entre os autores no Brasil. Canotilho veio aqui e 
explicou que a Constituição Dirigente não morreu; o que morrera foi o tipo de 
Constituição Dirigente do século XX. 
Para Canotilho, a Constituição Dirigente ainda existe, porém em outros moldes. 
Portanto, atualmente ainda existe um certo dirigismo constitucional, porém menos 
impositivo e mais reflexivo. Seria um “dirigismo soft”. 
 
Classificação ontológica 
Criador: Karl Loewenstein 
É uma classificação que busca a essência das Constituições (onto = ser, essência ; lógica 
= estudo). 
Loewenstein queria descobrir, em suma, o que realmente é a Constituição, 
diferenciando-a de tudo mais. Para fazer esta ontologia, concluiu que a Constituição 
não era nada do que foi dito nas classificações acima, porque elas só analisam o 
texto, e a Constituição é muito mais do que isso. 
Afinal, o que adianta o texto falar em democracia se o país na verdade é ditatorial? 
Do que adianta falar em dignidade da pessoa humana se à noite o líder do país 
come criancinhas? 
Loewenstein defende que não dá para analisar só o texto para definir Constituição: é 
imprescindível analisar também a realidade social vivenciada por esse texto. 
 
 
16 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Portanto, essa classificação ontológica considera a relação entre o texto e a realidade 
constitucional, se o Judiciário realmente é guardião da Constituição ou se ignora a sua 
aplicação. 
Por essa análise, só existem 03 tipos de Constituição: 
 Constituição Normativa -> é a Constituição na qual existe uma adequação 
entre o texto e a realidade social. O texto é cumprido, dotado de 
efetividade. Nunca será 100% efetivo, mas o grau de seu descumprimento é 
muito menos do que na Constituição Nominal. Ex.: Constituição americana 
(1787), Constituição da França de 1958, Constituição da Alemanha (1949)... 
 
 Constituição Nominal -> não há adequação entre texto e realidade 
social. O texto fala em saúde, educação para todos, justiça social, 
democracia, mas na prática a realidade social é totalmente diversa. O lado 
positivo dessa Constituição é o pedagógico: o primeiro passo foi dado, porque 
o texto é avançado e bom. Só que há um processo, e a realidade ainda não 
está adequada a esse texto da Constituição. A CF 88 é exemplo de 
Constituição Nominal. 
 
 Constituição Semântica -> é aquela que trai o significado do termo 
“Constituição”. “Constituição” veio para acabar com a farra do absolutismo. Já 
a CF semântica, ao invés de limitar o Poder, legitima o Poder 
autoritário. As Constituições autoritárias são semânticas e traem o 
significado originário de “Constituição”, que é limitar poder. Ex.: CF 1937 e 
1967. 
 
Toda Constituição pretende ser normativa, mas não existe uma classificação de 
Constituição que “pretende ser normativa”. Essa categoria nunca foi elaborada por 
Loewenstein, embora seja mencionada em autor do RJ. Por sua classificação a CF 
1988 é NOMINAL. 
 
 Legitimidade Efetividade 
Constituição Normativa Sim Sim 
Constituição Nominal Sim Não 
Constituição Semântica Não Sim 
 
 
 
 
 
 
 
17 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Aula 03 – 23/02/2015 – Pt. 01 
Constituição Dúctil 
Criador: Gustavo Zagrebelsky 
Constituição Dúctil é aquela que não predefine uma forma de vida para a 
sociedade. Ao invés disso, ela cria condições para que nós possamos realizar os mais 
variados projetos de vida (concepções de vida digna). 
No fundo, trata-se de uma Constituição plural, eclética, típica de um Estado 
Democrático de Direito. 
Esse documento apenas cria condições para que possamos realizar as mais diferentes 
concepções de vida digna. 
Esta Constituição também pode ser considerada uma Constituição aberta. 
 
Constituição Plástica 
Existem duas correntes sobre a Constituição Plástica. A primeira delas, majoritária, 
define Constituição Plástica como aquela dotada de maleabilidade. 
Ou seja, é uma Constituição maleável aos influxos da realidade social. Portanto, é 
uma Constituição que permite releituras, reinterpretações de seu texto em virtude denovas realidades sociais. 
O texto da Constituição pode continuar o mesmo literalmente, gramaticalmente, 
mas ele será reinterpretado em virtude de novas realidades sociais. 
Esse fenômeno nada mais é do que a mutação constitucional. Portanto, para essa 1ª 
corrente a Constituição Plástica seria aquela que admite a mutação constitucional. 
Não importa se a Constituição é flexível ou rígida, ou seja, se ela requer ou não 
procedimentos especiais para sua modificação. Seu texto pode permanecer o mesmo, 
mas ser reinterpretado por mudanças na realidade social. 
Essa corrente tem dois grandes representantes: Raul Machado Hora e Uadi Lammego 
Bullos. 
 
A segunda corrente entende que Constituição Plástica é aquela dotada de 
flexibilidade, ou seja, a Constituição Plástica se equipararia à Constituição Flexível (= 
aquela que pode ser alterada sem procedimentos especiais). 
Seu principal adepto é o Pinto Ferreira. 
 
 
 
 
 
18 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Heteroconstituições 
São Constituições elaboradas e decretadas fora do Estado que elas irão reger. Ex.: se a 
CF do Brasil fosse elaborada e decretada na Argentina. 
Por exemplo, a Constituição do Chipre foi feita na década de 60 em Zurique. 
O mais comum são as autoconstituições, que alguns autores denominam de 
homoconstituições. São Constituições elaboradas e decretadas dentro do Estado 
que irão reger. 
 
 
Quanto ao 
conteúdo 
Formal 
Material 
Quanto à 
estabilidade 
Rígida 
Flexível 
Semirrígida 
Quanto à 
forma 
Escrita 
Não escrita 
Quanto à 
elaboração 
Dogmática 
Histórica 
Quanto à 
origem 
Promulgada 
Outorgada 
Cesarista 
Pactuada 
Quanto à 
extensão 
Sintética 
Analista 
Quanto à 
ideologia 
Ortodoxa 
Eclética 
Quanto à 
finalidade 
Garantia 
Balanço 
Dirigente 
Ontológica 
Normativa 
Nominal 
Semântica 
Dúctil 
Plástica 
Heteroconstituições 
 
 
19 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE 
Autor que primeiro trabalhou o tema a partir da decisão do Conselho Constitucional 
Francês: Louis Favoreu (considerado o artífice do tema). 
 
Há duas correntes sobre esse tema. A primeira delas, de tradição francesa, define 
bloco de constitucionalidade como um conjunto de normas materialmente 
constitucionais que estão fora da Constituição formal, e mais a Constituição formal 
[bloco de constitucionalidade = normas materialmente constitucionais fora da CF 
formal + CF formal] 
Esse conceito, portanto, engloba as normas que estão na CF formal, mas não são 
materialmente constitucionais. 
 
Integram as normas materialmente constitucionais fora da Constituição: 
 Norma materialmente constitucional infraconstitucional, como o ECA (L. 
8.069/90)e o Estatuto do Idoso (L. 10.741/2003). 
 
 Costumes jurídicos constitucionais4 
 
 Jurisprudência constitucional 
 
A 2ª corrente entende que o bloco de constitucionalidade será formado pelo conjunto 
de normas expressas e implícitas na Constituição Formal. Portanto, esse bloco seria o 
nosso parâmetro para o controle de constitucionalidade, que se restringe apenas às 
normas da Constituição formal. 
Ex. de norma implícita na CF -> princípio da proporcionalidade 
A 2ª corrente é majoritária no Brasil. 
[bloco de constitucionalidade = normas explícitas + normas implícitas] 
 
O conceito de bloco de constitucionalidade surgiu na França com um julgado do 
Conselho Constitucional francês, que é o órgão que controla a constitucionalidade das 
leis na frança, datado de 16/07/1971. 
Afirmou-se, naquela ocasião, que o preâmbulo da Constituição integraria o bloco de 
constitucionalidade francês. Ou seja, deu-se valor constitucional ao preâmbulo em 
1971 (coisa que até hoje não se concluiu no Brasil). 
 
4 Costumes jurídicos são formados pelo elemento objetivo (REPETIÇÃO HABITUAL DA PRÁTICA) e 
pelo elemento subjetivo (CONVICÇÃO DE JURIDICIDADE DA PRÁTICA). 
Ex.: o revezamento entre os Ministros do STF para ser o Presidente da Corte, em que assume o Ministro 
mais antigo que ainda não tenha sido o Presidente. 
 
 
20 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
A França inaugura o conceito de bloco de constitucionalidade usando o preâmbulo. 
Atualmente, eles consideram que integra o bloco de constitucionalidade a 
Constituição (1958) e seu preâmbulo, o preâmbulo da Constituição anterior (1946), a 
Declaração Universal de Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e algumas leis da 
República francesa (infraconstitucionais). 
O conceito adotado pela teoria francesa, portanto, é amplo, porque não engloba 
apenas a Constituição, mas o preâmbulo de uma CF que não existe mais, uma 
declaração de direitos e normas infraconstitucionais. São normas materialmente 
constitucionais que estão fora da Constituição formal. 
 
Para a corrente majoritária, o Brasil adota um conceito restrito de bloco de 
constitucionalidade, que seria composto apenas pelas normas da Constituição formal. 
Tanto que este é o único parâmetro utilizado para controle de constitucionalidade. 
Os tratados internacionais de direitos humanos podem ser utilizados na forma do art. 
5º, §3º, CF, ou seja, recebem formalização como normas constitucionais equivalentes 
às EC. 
Obs.: Celso de Mello busca trabalhar em seus votos um conceito amplo de bloco de 
constitucionalidade, tanto que por ele nem precisaríamos seguir o rito das EC para os 
TIDH serem normas constitucionais. Tratar-se-iam de normas constitucionais 
independentemente disso, seguindo a doutrina da Flávia Piovesan. 
 
SENTIDOS E CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO 
SOCIOLÓGICO 
Ferdinand Lassalle 
 
Esse sentido remonta ao Século XIX, 1863, mais especificamente de um livro do 
Lassalle traduzido como “A Essência da Constituição”. 
Por esse sentido sociológico, a Constituição poderia ser definida como os fatores 
reais de poder que regem a sociedade. 
 Fatores reais de poder 
 
Mas que fatores seriam esses? (i) Econômicos; (ii) Militares; (iii) Religiosos, dentre 
outros. 
 
 
 
21 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Ou seja, no fundo o que rege uma sociedade são fatores reais de poder. O texto 
escrito da Constituição seria uma mera folha de papel, que sucumbe para a 
Constituição real. 
 Constituição escrita como mero pedaço de papel 
 Constituição real (fatores de poder) que se sobrepõe à Constituição escrita 
 
O que rege a sociedade não é um pedaço de papel, mas sim os fatores reais de poder 
(religião, militar, economia, pressão do operariado), que são considerados uma 
Constituição Real, que se contrapõe à Constituição Escrita. 
 
POLÍTICO 
Carl Schmitt 
 
Essa concepção data da déc. 20 do Século XX. Carl Schmitt escreveu o livro “Teoria 
da Constituição”, onde define o sentido político da Constituição. 
A Constituição deve ser entendida como as decisões políticas fundamentais do 
povo. 
Para Schmitt, o poder constituinte seria o povo; portanto, essas decisões políticas 
fundamentais seriam do próprio poder constituinte. 
O pedaço de papel seriam as “leis constitucionais”, mas acima delas estaria a 
Constituição como as decisões políticas fundamentais. Também podemos nos referir a 
essa tese como DECISIONISTA. 
 decisões políticas fundamentais do povo 
Esse conceito fundamentou o nazismo. Para Schmitt, a democracia não é e nunca 
poderia ser o que nós trabalhamos hoje, ou seja, uma democracia burguesa e 
representativa (escolhemos representantes para exercer poder em nosso nome). Os 
representantes não representarão o povo que o escolheu, mas apenas representarão 
os interesses deles mesmos e dos grupos que os elegeram. 
Democracia seria apenas a identidade de governante e governado,tal como ocorria 
na Grécia Antiga, em que as pessoas eram representantes e representados ao mesmo 
tempo. 
Como não é possível realizar isso na prática, escolher-se-ia um líder. O líder era o 
povo e o povo era ele. Portanto, o líder não representava o povo, ele ERA o povo, 
não se falando em representação. 
Ora, se a Constituição é decisão política fundamental do povo, e o povo é o líder, 
então qualquer decisão desse líder será sempre constitucional. 
 
 
 
22 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
JURÍDICO 
Hans Kelsen e Konrad Hesse 
 
As obras desses autores se deram no Séc. XX. Kelsen escreveu A Teoria Pura do 
Direito, de que nos importa sua 2ª edição, em 1961. Já o Konrad Hesse escreveu em 
1959 A Força Normativa da Constituição. 
 
Pt. 03 
Para esses autores, a Constituição deve ser entendida como norma jurídica 
prescritiva de dever-ser 5 que vincula condutas e rege o Estado e a 
sociedade. 
 norma jurídica 
 prescritiva de dever-ser 
 vincula condutas e rege o Estado e a sociedade 
 
CULTURAL 
Peter Haberle 
 
A Constituição deve ser entendida como produto da cultura. 
A ideia é que a Constituição é o retrato de uma época. Você consegue entender um 
povo a partir da Constituição, afinal ela é feita de homens num período histórico, 
funcionando como um reflexo da sociedade. 
Nesses termos, a Constituição é condicionada pela cultura. Não podemos confundir 
isso, porém, com a efetividade. A CF 88, por exemplo, veio a lume numa época de 
redemocratização, sendo influenciada por várias ideias dessa época; se ela teve ou 
não efetividade, é outro tema. 
Além de a CF ser condicionada pela cultura, ela também é sua condicionante. Afinal, 
ela em tese busca reger aquela sociedade. 
 Constituição como produto da cultura 
 Constituição condicionada e condicionante da cultura 
Obs.: na verdade, esta corrente é tipicamente mista, porque ao mesmo tempo coloca 
a Constituição como fator de poder, decisão do povo e norma jurídica vinculante. 
Afinal, todos esses elementos integram a cultura de um povo (religião, militar, 
economia, política, normas jurídicas...). 
 
5 Ela não descreve, mas prescreve. 
 
 
23 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
(APLICABILIDADE DAS NORMAS 
CONSTITUCIONAIS) 
O objetivo aqui é classificar as normas constitucionais quanto à aplicabilidade ou sua 
eficácia jurídica. 
O grande expoente aqui é José Afonso da Silva, que lançou sua teoria brasileira da 
aplicabilidade. Para ele, todas as normas constitucionais são dotadas de 
aplicabilidade. 
Norma constitucional não é conselho, não é súplica. Se está dentro da Constituição, 
rege o Estado e a sociedade e vincula condutas, então precisa ter aplicabilidade. 
Todas as normas constitucionais têm ao menos dois efeitos: 
1. Efeito positivo: pelo simples fato de uma Constituição surgir, ela ‘revoga’ 
tudo do ordenamento anterior que seja contrário a ela. Tecnicamente, 
falamos numa “não recepção”. 
 
2. Efeito negativo: negar ao legislador ordinário a possibilidade de 
formular leis contrárias às normas constitucionais. 
 
Embora todas as normas tenham aplicabilidade, existem diferentes graus de 
aplicabilidade e de eficácia jurídica. 
Eficácia jurídica é a aptidão que a norma tem para produzir efeitos, não se 
confundindo com a eficácia social (chamada pelo Barroso de efetividade). 
Podemos ter uma norma com eficácia jurídica sem que tenha eficácia social. Eficácia 
jurídica é a possibilidade de a norma ser aplicada, é sua aptidão para gerar efeitos. 
Eficácia social é a efetividade, é a norma ser realmente obedecida e aplicada no 
mundo prático. 
Ex.: em 1997, entrou em vigor o Código Nacional de Trânsito, segundo o qual todos os 
carros do Brasil precisariam ter kit de primeiros socorros. Era norma com eficácia 
jurídica, porque era válida, em vigor e passada a vacatio legis, mas não era 
observada na prática, até porque o ideal é que num acidente nem se toque na 
vítima, mas aguarde atendimento especializado. 
Pt. 04 
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA 
São as normas bastantes em si, ou seja, reúnem todos os elementos para a produção 
de todos os efeitos jurídicos. 
São dotadas de uma aplicabilidade direta e imediata. 
Ex.: art. 1º, 44 e 46 CF (a forma de governo e de Estado são definidas com apenas 2 
palavras no início da Constituição: república e federativa). 
 
 
24 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA 
São aquelas que nascem com eficácia plena, reunindo todos os elementos para 
produzir todos os possíveis efeitos jurídicos, mas terão seu âmbito de eficácia reduzido, 
restringido ou contido pelo legislador infraconstitucional. Sua eficácia é direta e 
imediata. 
Ex.: art. 5º, XIII, VIII e art. 37, I, CF. 
 
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA 
São aquelas normas que não bastam em si, porque não reúnem todos os elementos 
para a produção de todos os efeitos jurídicos, pois necessitam de complementação 
(regulamentação) dos poderes públicos para tal. 
Essas normas são dotadas de aplicabilidade indireta, mediata. 
Essas normas se dividem em duas: 
 Normas de princípios institutivos -> são normas que apresentam esquemas de 
organização de órgãos, entes ou instituições do Estado. Ex.: art. 18, §2º, art. 25, 
§3º e art. 33, caput, CF. 
 
 Normas de princípios programáticos -> são aquelas que apresentam tarefas, 
fins e programas para o cumprimento pelo Estado e pela sociedade. Ex.: 
direito à saúde e direito à educação. 
 
Qual a diferença entre normas constitucionais de eficácia contida e as normas 
constitucionais de eficácia limitada? 
Ambas preveem o advento de lei. Portanto, a diferença entre normas de eficácia 
limitada e contida não resiste em previsão de “conforme previsto em lei” ou termos 
semelhantes. 
A diferença entre elas está no modo de atuação, porque na norma de eficácia 
contida o legislador atua para conter o âmbito de eficácia. Na norma de eficácia 
limitada, o legislador atua para aumentar o seu âmbito de eficácia. Ou seja, faz-se 
uma lei para que essa norma passe a ter uma eficácia plena. 
 
Temos uma norma constitucional de eficácia limitada que ainda não foi 
complementada / regulamentada pelo Poder Público. Essa norma sem 
complementação é dotada de aplicabilidade e eficácia? 
Sim, pois todas as normas constitucionais são dotadas de aplicabilidade, 
independentemente de complementação do Poder Público ou de qualquer outra 
atuação. A aplicabilidade, porém, será mediata, indireta. 
 
 
25 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
 
Norma constitucional de eficácia limitada programática sem atuação do poder 
público não produz todos os efeitos, mas produz alguns efeitos, quais sejam, o positivo 
e o negativo. São efeitos comuns a todas as normas constitucionais, que revogam 
normas contrárias a elas e impedem que o legislador edite leis que lhes sejam 
contrárias. 
 
Aula 04 – 23/02/2015 – Pt. 01 
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES 
Maria Helena Diniz 
1. Normas Constitucionais de Eficácia Absoluta -> para Maria Helena 
Diniz, além das normas já classificadas por José Affonso, haveria também 
normas constitucionais de eficácia absoluta. Trata-se da norma insuscetível 
de alteração. Seriam as cláusulas pétreas do art. 60, §4º, CF. A crítica é 
que as cláusulas pétreas podem ser modificadas, só não podem ser 
abolidas. Não existe esse tipo de norma inalterável em nossa Constituição. 
 
2. Normas Constitucionais de Eficácia Plena -> é a mesma eficácia 
plena do José Afonso. 
 
3. Normas Constitucionais de Eficácia Relativa Restringíveis -> é a 
norma de eficácia contida do José Afonso. 
 
4. Normas Constitucionais de EficáciaRelativa Dependentes de 
Complementação -> é a norma de eficácia limitada do José Afonso 
 
Carlos Ayres Britto e Celso Ribeiro Bastos 
É uma classificação das normas constitucionais conforme a sua vocação para a 
atuação do legislador. 
A. Normas constitucionais de aplicação -> normas de aplicação são aquelas 
não vocacionadas à atuação do Poder Público. Equivalem às normas de 
eficácia plena do José Affonso. 
 
B. Normas constitucionais de integração -> são as normas vocacionadas à 
atuação do Poder Público: 
 
a. Normas constitucionais de integração RESTRINGÍVEIS -> são as normas 
constitucionais de eficácia contida. 
 
b. Normas constitucionais de integração COMPLEMENTÁVEIS -> são as 
normas constitucionais de eficácia limitada. 
 
 
26 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Uadi Lammego Bulos 
Uadi acrescenta à classificação do José Affonso a Norma Constitucional de 
Eficácia Exaurida. São aquelas normas que já cumpriram a sua função no 
ordenamento jurídico, tendo a sua eficácia posta a termo (exaurida). 
Encontramos exemplos desse tipo de norma no ADCT, como é o caso do art. 2º (que 
exigia plebiscito para definir se a forma de governo seria república ou monarquia, e 
se teríamos um sistema de governo de presidencialismo ou parlamentarismo). 
 
As normas do ADCT são tão normas constitucionais como aquelas do corpo 
permanente? Sim, tanto que para modificá-las faz-se necessário EC ou um TIDH 
aprovado na forma do art. 5º, §3º, CF. 
 
 
 
27 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
PODER CONSTITUINTE 
É o poder ao qual incumbe criar, modificar ou complementar uma Constituição. 
 
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
Poder Constituinte Originário é aquele encarregado de elaborar uma Constituição. E 
as Constituições escritas surgem no Séc. XVIII com o movimento do constitucionalismo. 
Só a partir daí se fala num órgão encarregado de produzi-las. Portanto, a origem do 
Poder Constituinte Originário está no Séc. XVIII, com o Constitucionalismo. 
 
HISTÓRICO 
O grande destaque nessa matéria foi Emmanuel Sieyes, que escreveu a obra ‘O 
que é o terceiro Estado’. Sua ideia era debater o que seria o povo, considerado por 
ele o terceiro estado (o primeiro e segundo estado eram nobreza e clero). 
 
CONCEITO 
Conceito: o Poder Constituinte Originário é um poder extraordinário que surge em 
um momento extraordinário visando à desconstituição de uma ordem e o 
estabelecimento de uma nova ordem constitucional. 
Podemos falar que se trata de um poder desconstitutivo constitutivo, já que destrói 
uma ordem para construir uma ordem nova. Ou seja, existe uma “dupla face” neste 
poder constituinte. 
 
 
 
 
Poder Constituinte 
Originário (criar) 
Poder Constituinte 
Derivado-
Reformador (alterar, 
reformar) 
Poder Constituinte 
Decorrente 
(complementar) 
 
 
28 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
CARACTERÍSTICAS 
Pt. 02 
1. Inicial -> o poder constituinte originário é sempre um ‘ponto zero’, um 
começar de novo, afinal estamos rompendo com uma ordem para estabelecer 
uma ordem nova. 
Perguntamos: quem vem primeiro, o Estado ou a Constituição? A 
Constituição, tanto que o poder constituinte originário é sempre inicial, um 
“ponto zero”. É a Constituição que cria o Estado, ainda que ele já exista 
historicamente. Na maioria das vezes, aliás, já existe um Estado antes. Ocorre 
aqui um artificialismo, de que a Constituição começa um Estado novo, mesmo 
que anteriormente a ela houvesse, na história, um Estado. A Constituição cria 
um Estado, mesmo que ele já existisse historicamente. 
A CF 88, p.e., criou um novo Brasil, ainda que historicamente ele já existisse. 
Por isso falamos num “ponto zero”. 
 
2. Autônomo -> cabe apenas ao Poder Constituinte fixar as bases da nova 
Constituição. 
 
3. Ilimitado -> o Poder Constituinte Originário é ilimitado do ponto de vista do 
Direito positivo anterior. Se está criando um novo ordenamento, novo Estado, 
nova sociedade, não guarda limites com base no Direito positivo anterior. Essa 
é a corrente positivista, segundo o qual o Poder Constituinte é poder de fato 
que rompe com uma ordem jurídica para criar uma nova, rompendo com o 
Direito positivo anterior. 
Existe, porém, uma segunda corrente, a jusnaturalista. Essa corrente entende 
que o poder constituinte originário é limitado pelo direito natural. Trata-se de 
Direito acima do positivo (o direito natural paira sobre o direito positivo). 
Sieyes era um dos defensores dessa corrente, porque a Constituição iniciaria 
um novo ordenamento jurídico e um novo Estado, que estariam limitados por 
cânones do Direito natural. 
Ou seja, existiriam cânones de direito natural que limitariam o poder 
constituinte originário. São vetores que envolvem o homem em virtude de ser 
homem, eles advêm da natureza humana. Ex.: vida, igualdade, liberdade e 
dignidade. 
Qualquer PCO está limitado pela ideia de Direito natural, que é inerente à 
natureza humana e que carrega valores como a vida, igualdade, liberdade e 
dignidade. 
É majoritária a corrente POSITIVISTA. 
Se o Poder Constituinte é ilimitado do ponto de vista positivo, ele poderia 
incluir na nova Constituição qualquer sorte de norma? Existe uma terceira 
corrente, de tendência sociológica, que entende que, apesar de ilimitado pelo 
direito positivo anterior, o poder constituinte originário terá limites internos na 
própria sociedade que o fez surgir, ou seja, no próprio movimento 
revolucionário que o fez eclodir. 
Para alguns autores, como Canotilho, existem também limites externos em 
princípios de direito internacional. Pense, por exemplo, no Tribunal Penal 
Internacional e Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
 
29 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Será que hoje, ao fazer uma nova Constituição, poderíamos dizer que o 
petróleo do Kuwait é nosso? É uma questão que envolve interesses mundiais e 
certamente seria inviável manter uma norma dessas. 
São princípios de direito internacional que devem ser respeitados: (i) p. da 
independência dos povos; (ii) p. da não intervenção; (iii) p. da prevalência dos 
direitos humanos. 
Essa terceira corrente é a mais sofisticada. Aqui entra o p. da vedação do 
retrocesso (ou efeito cliquet ou p. da não reversibilidade dos direitos 
fundamentais sociais). 
 
4. Incondicionado -> em regra, o poder constituinte originário não guarda 
condições ou termos pré-fixados para elaboração de uma nova Constituição. 
Em regra, quem define os procedimentos para elaboração da Constituição é o 
próprio poder constituinte. 
O primeiro passo a ser seguido pelo poder constituinte originário 
provavelmente será justamente para sistematizar a elaboração, ou seja, para 
dizer através de qual procedimento será feito a nova Constituição. 
 
5. Permanente -> mesmo após a elaboração da Constituição o poder 
constituinte continua vivo, ainda que em estado de latência (em hibernação), 
pois está alocado no povo. 
A qualquer momento esse poder constituinte originário pode eclodir. Esse PCO 
é permanente, está no povo, não se exaure com a Constituição. Pode 
despertar a qualquer momento, como parece ter quase ocorrido nas 
manifestações de 2013. 
Não se pode confundir o titular do poder constituinte com o agente do poder 
constituinte. O titular do poder constituinte é permanente, porque é o povo. 
Mesmo após a elaboração da Constituição, esse titular continua presente. 
Difere-se do agente do poder constituinte, que é o grupo encarregado de 
redigir o texto. Chamamos esse grupo de Assembleia Constituinte (nos EUA foi 
Convenção da Filadélfia). Esse agente do poder constituinte NÃO é 
permanente, pois após a elaboração da Constituição ele finaliza o seu 
trabalho e se exaure. Chamamos o TITULAR de PODER CONSTITUINTE 
MATERIAL; e o AGENTE de PODER CONSTITUINTEFORMAL. 
- titular do poder constituinte – povo – permanente – poder constituinte 
material 
- agente do poder constituinte – formaliza a revolução / golpe – redige o 
texto – Assembleia Constituinte – não é permanente – poder constituinte 
formal 
Obs.: quando se falar genericamente em “poder constituinte originário”, 
estaremos falando do POVO, o seu titular. Quando estiver se referindo ao 
agente, é preciso deixar isso explícito. 
 
 
 
 
 
 
30 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
Pt. 03 
O Poder Constituinte Derivado e o Reformador são sempre de 2º grau, constituídos, 
limitados e condicionados. 
A relação entre derivado, decorrente e originário, é quase bíblica, de que “a criatura 
não pode ir contra o criador”. 
 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR 
A reforma da Constituição é um gênero, que no Brasil possui 02 espécies: 
 Revisão 
 Emendas Constitucionais 
 
A revisão é uma reforma global / geral do texto. Já a emenda é uma reforma 
pontual. 
 
REVISÃO 
Art. 3º ADCT 
Incide para a revisão um limite temporal e limites formais. A revisão só seria 
realizada após 05 anos de promulgação da CF, com sessão unicameral e com 
quórum de maioria absoluta. 
 
Limite temporal: após 05 anos. 
Limites formais: sessão unicameral + quórum de maioria absoluta 
 
Sessão unicameral significa a junção da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. 
Para a revisão, exigia-se como quórum a maioria absoluta. 
Portanto, esses limites formais são menos rígidos do que os limites impostos às 
Emendas no art. 60 CF, já que ali a sessão não é unicameral e exige-se 2 turnos nas 
Casas, com 3/5 de votos para aprovação. 
Já houve revisão constitucional entre 01/03/1994 e 07/06/1994. Alguns 
constitucionalistas entendem que deveria ter aguardado mais, até porque se exigia 
no mínimo uma espera de 05 anos, mas nada obstava um lapso maior. Logo no 
começo de 1994 já realizaram a revisão, que terminou com a aprovação de apenas 
06 emendas de revisão, esvaziada pelo escândalo dos anões do orçamento. 
 
 
31 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Com base no atual texto da Constituição, é possível uma nova revisão? Não, já que o 
texto do art. 3º ADCT está no singular, falando numa única revisão. Já em Portugal, 
p.e., de 05 em 05 anos é possível fazer uma revisão. 
É possível alterar o texto via EC para estabelecer uma nova revisão? Uma primeira 
corrente, defendida pelo Michel Temer, diz que é possível alterar o texto via EC para 
estabelecer uma nova revisão. 
Uma segunda corrente entende que não é possível essa alteração, pois não é 
adequado / correto alterar o texto via EC para propor uma nova revisão. Fazer uma 
reforma para alterar o modo de reforma é golpe. Em Portugal, chamam isso de 
“golpe da dupla revisão”. Seria uma forma de acabar com a especialidade, rigidez 
da Constituição, manipulando-a. Abrindo caminho para que uma EC modifique a 
forma de reforma da CF, poderíamos abolir cláusulas pétreas, modificar o 
procedimento para elaborar EC, etc. São defensores desta corrente Paulo Bonavides, 
Ingo Sarlet, Lênio Streck, dentre vários outros grandes constitucionalistas. 
Entre nós, a corrente majoritária é a segunda. 
 
Aula 05 – 02/03/2015 – Pt. 01 
 
 
Poder 
Constituinte 
Originário 
Derivado-
Reformador 
(reformar) 
Revisão Emendas 
Decorrente 
(complementar) 
 
 
32 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
 
Reforma 
Revisão 
Reforma 
geral 
01 turno 
Promulgação 
pela Mesa do 
Congresso 
Sessão 
unicameral 
Maioria 
absoluta 
Emendas 
Reforma 
pontual 
Limites 
formais 
Legitimados 
1/3 Deputados ou 
Senadores 
Presidente 
mais de 1/2 de 
ALE, com maioria 
relativa em cada 
uma 
Tramitação e 
votação 
02 turnos 
02 Casas 
3/5 dos votos 
Promulgação: 
Mesa da Câmara 
e Mesa do Senado 
Rejeitada ou 
prejudicada: 
reapresentada no 
próximo ano 
legislativo 
Limites 
circunstanciais 
Intervenção 
federal 
Estado de 
Defesa 
Estado de 
Sítio 
Limites 
materiais 
 
 
33 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
EMENDAS CONSTITUCIONAIS 
Art. 60 CF 
Nas Emendas, possuímos limites formais, limites circunstanciais e limites 
materiais. 
Os limites formais estão no art. 60, inc. I, II e III, §§ 2º, 3º e 5º. 
Os limites circunstanciais estão no art. 60, §1º. 
Já os limites materiais estão no art. 60, §4º. 
 
LIMITES FORMAIS 
1. Forma pela qual uma proposta de EC pode ser apresentada 
São legitimados para apresentar a Proposta de Emenda à Constituição (i) pelo 
menos 1/3 de deputados ou de Senadores; (ii) Presidente da República; (iii) mais de ½ 
das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, com quórum de maioria 
simples em cada uma delas. 
O artigo fala em “maioria relativa”, que é sinônimo de “maioria simples”. 
 
 
José Affonso da Silva defende a iniciativa popular de PEC. Trata-se de 
interpretação sistemática do art. 1º, p. único, art. 14 e art. 61, §2º, CF. 
O art. 1º, p. único, retrata a soberania popular, a ideia de que todo poder emana do 
povo. O art. 14 traz os direitos políticos e a participação do povo nos processos de 
poder. O art. 61 traz a iniciativa popular de uma lei. 
Legitimados 
PEC 
1/3 de 
Deputados 
1/3 Senadores 
Presidente da 
República 
+ 1/2 ALE, cada 
uma com 
maioria simples 
 
 
34 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Para José Affonso, se é possível iniciativa popular de lei, com base na soberania 
popular e nos direitos políticos, por interpretação sistemática o povo também poderia 
apresentar PEC, aplicando o art. 61, §2º também para iniciativa de PEC. 
Essa corrente, porém, é minoritária. Prevalece neste ponto a interpretação literal 
da Constituição: se o poder constituinte originário quisesse dado ao povo a 
possibilidade de apresentar PEC, teria expressado isso como o fez para as ALE, 
deputados, Senadores e PR. Fez isso para projeto de LO e LC, mas não para a PEC. 
 
2. Forma pela qual uma PEC tramitará e será votada nas Casas (§2º) 
 A PEC será discutida e votada em dois turnos, nas duas Casas. O quórum para 
aprová-la é de 3/5 dos votos. 
 02 turnos 
 02 Casas 
 3/5 de votos 
Portanto, são 04 votações, bem diferente da Revisão, em que bastava uma sessão 
unicameral, em 01 turno só, com aprovação por maioria absoluta. 
Como é esse trâmite de 02 turnos em 02 Casas? Se o primeiro turno é na Câmara, o 
segundo é na câmara também. Depois vai para o Senado, onde serão feitos mais dois 
turnos. 
 
3. Forma pela qual uma EC será promulgada (§3º) 
A promulgação se dará pela Mesa da Câmara e pela Mesa do Senado, com seu 
respectivo número de ordem. 
O texto constitucional não faz referência ao Presidente da República sancionar ou 
vetar PEC. Portanto, não existe sanção ou veto de PEC. Lembre que o PR não é 
poder constituinte derivado – o máximo que ele pode fazer é apresentar a PEC. O 
Poder Constituinte Derivado são os deputados e senadores; quando eles entram para 
votar esse projeto, é como se “virassem” o Poder Constituinte Derivado. 
 
Pt. 02 
Cuidado! Além da Mesa da Câmara e da mesa do Senado, temos a Mesa do 
Congresso, que é junção das duas mesas anteriores. O presidente desta mesa será o 
Presidente do Senado, que é Presidente do Congresso (a mesa é formada por 
integrantes das duas Casas). Acontece que a promulgação NÃO se dá pela Mesa do 
Congresso. 
A Mesa do Congresso Nacional NÃO pode promulgar a Emenda Constitucional. 
 
 
35 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Mesa do Senado e Mesa da Câmara precisam assinar separadamente: as duas 
precisam assinar. Se uma Casa assinar e a outra não, não há que se falarem 
promulgação. 
Obs.: as emendas de revisão foram promulgadas pela mesa do Congresso. 
 
4. §5º do art. 60 
A doutrina majoritária diz que se trata de um limite formal. Ele prevê a forma como 
uma PEC rejeitada (não alcançou os 3/5) ou prejudicada pela CCJ pode ser 
reapresentada: na próxima sessão legislativa (= ano legislativo). 
Uma PEC rejeitada ou prejudicada só pode ser reapresentada no próximo ano 
legislativo. 
Suponhamos que uma PEC é rejeitada em 1º turno na Câmara em setembro/2015. 
Em janeiro de 2016, havendo convocação extraordinária, a PEC pode ser 
reapresentada? O ano legislativo é diferente do ano normal, porque ele começa em 
fevereiro: janeiro ainda é ano legislativo anterior. 
 
LIMITES CIRCUNSTANCIAIS 
O Poder Constituinte Originário (PCO) estipulou que em determinadas circunstâncias 
em que nada está bem no país, ou de eclosão social, de desequilíbrio, de desordem, a 
Constituição não poderia ser emendada. 
Por isso, o art. 60, §1º veda que a CF seja emendada na vigência de: 
 Intervenção federal 
 Estado de defesa 
 Estado de sítio 
Nessas circunstâncias, não é de bom tom alterar a CF, lei maior de país, que 
fundamenta a validade das outras leis. Deve-se esperar cessar essas situações para 
fazer a alteração. 
 
LIMITES MATERIAIS 
Art. 60, §4º, CF 
São as célebres cláusulas pétreas: 
 Forma Federativa de Estado 
 Voto direto, secreto, universal e periódico 
 Separação dos Poderes 
 Direitos e garantias individuais 
 
 
 
36 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Não existem normas imodificáveis. Mesmo as cláusulas pétreas podem ser alteradas, 
desde que não seja uma modificação que tenda a abolir o núcleo dessas normas: 
pode ser para acrescentar, incrementar, melhorar... Aliás, a EC 45 acrescentou ao art. 
5º da duração razoável do processo, o que comprova que essas cláusulas não estão 
petrificadas, apenas se protege um núcleo que não pode ser abolido nem com 
reformas tendentes a abolir. 
Essa é, aliás, a principal crítica à classificação da Maria Helena Diniz ao falar em 
normas constitucionais de eficácia absoluta. 
 
Poderia advir EC para acabar com o voto obrigatório? Atualmente, além de direto, 
secreto, universal e periódico, o voto no Brasil é obrigatório. Indagamos então se essa 
obrigatoriedade é cláusula pétrea. É claro que o voto pode deixar de ser obrigatório, 
por não se tratar de cláusula pétrea. 
 
Muito se discute sobre o inc. IV do art. 60 e qual o seu alcance. Formaram-se quatro 
correntes sobre o tema: 
1. Interpretação literal => cláusula pétrea são as normas do art. 5º CF. Este 
artigo não poderia ser usurpado. É a interpretação mais simples de todas. 
 
2. Interpretação literal restrita => não são cláusulas pétreas todas as normas 
do art. 5º, que contém direitos individuais e coletivos. Precisamos analisar, no 
art. 5º, o que é direito individual propriamente dito. Portanto, cláusulas 
pétreas serão apenas os direitos individuais propriamente ditos previstos no 
art. 5º. Tratam-se, em suma, dos direitos de liberdade, as liberdades 
fundamentais. Dizem que os direitos que envolvem igualdade são muito mais 
sociais, não devendo ser considerados cláusulas pétreas. Gilmar Mendes 
defende esta corrente. 
 
3. Interpretação extensiva => cláusulas pétreas são todos os direitos 
fundamentais constitucionais. Essa corrente entende que o constituinte errou: 
embora esteja escrito “direitos individuais” no art. 60, §4º, inc. IV, deveria estar 
escrito “direitos fundamentais”. Essa corrente é defendida pelo Ingo Sarlet. 
 
4. Interpretação extensiva sistemática => as cláusulas pétreas são os direitos 
de 1ª, 2ª e 3ª dimensão que dizem respeito ao mínimo existencial, tendo como 
base a dignidade da pessoa humana. Portanto, elas vão muito além do art. 
5º, já que engloba, direitos sociais e direitos coletivos e difusos, além dos 
individuais. Direitos sociais, como os trabalhistas, podem ser cláusulas pétreas, 
mas devemos confrontá-los com o mínimo existencial e a dignidade da pessoa 
humana. Portanto, não é todo direito social que é cláusula pétrea, como por 
exemplo o 1/3 de férias. O direito deverá ser analisado no caso concreto. 
Alguns direitos sociais e coletivos serão cláusulas pétreas, desde que 
fundamentados no mínimo existencial, à luz da dignidade da pessoa humana. 
Essa corrente é defendida pelo Sarmento. O professor concorda. 
 
 
 
37 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
Pt. 03 
O STF não tem uma posição definida sobre o tema, porém vem adotando a 4ª 
corrente, ainda que não admita isso expressamente. O STF vem recorrentemente 
entendendo que as cláusulas pétreas não estão apenas no art. 5º, ou seja, existem 
outros direitos fundamentais ao longo da Constituição que são cláusulas pétreas. 
Portanto, não podem ser abolidos nem admitem reformas tendentes a aboli-las. 
Ex.: ADI 939 ii (entende como cláusula pétrea o art. 150. III, b, CF – princípio da 
anterioridade tributária, que preserva a segurança jurídica prevista no art. 5º) e ADI 
3.685iii (princípio da anterioridade, ou anualidade, eleitoral). 
O STF é claro em analisar se o direito guarda relação com o núcleo que envolve a 
dignidade da pessoa humana. Em ambos os casos, esse núcleo envolveu a segurança 
jurídica, mas poderia envolver liberdade, igualdade, direitos sociais com mínimo 
existencial, vida… 
 
LIMITES MATERIAIS IMPLÍCITOS 
Os limites do art. 60, §4º CF são limites materiais explícitos. Existem também limites 
materiais implícitos, que não estão expressos na Constituição, mas, por 
interpretação da obra do poder constituinte originário, não podem ser abolidos ou 
suprimidos. 
São limites materiais implícitos: 
1. Impossibilidade de revogação dos limites materiais explícitos do art. 60, §4º, 
CF. Não existe uma norma vedando a revogação do art. 60, §4º, CF, ou seja, 
embora esse artigo proteja vários institutos, não há uma proteção em si 
mesma ao próprio art. 60, §4º, o que em tese admitiria uma reforma nesse 
próprio artigo para depois reformar os institutos que ele protege. Seria um 
golpe em relação ao PCO, porque ao final poderíamos, por exemplo, atacar 
direitos individuais. 
 
2. Impossibilidade de alteração do poder constituinte derivado ou do processo de 
reforma da Constituição. Uma emenda constitucional pode agora dizer que 
não é mais poder constituinte derivado apenas o Parlamento, mas também o 
Presidente? Ou então que a EC será aprovada mediante maioria simples? 
Não há uma norma proibindo isso expressamente, mas a proibição vem de 
uma interpretação lógica. 
 
3. Impossibilidade de revogação dos princípios fundamentais da CF. 
 
 
 
 
 
 
 
38 
DIREITO CONSTITUCIONAL | Bernardo Fernandes 
OUTRAS FORMAS DE REFORMA 
O Poder Constituinte Derivado via emenda é o único modo de alterar a 
Constituição? 
Existem dois outros modos de alterar a Constituição: 
A. Tratado internacional de Direitos Humanos que passar pelo procedimento do 
art. 5º, §3º, CF. Nesse caso, o TIDH entra equivalente a EC, de modo que 
muda a Constituição Federal tanto quando uma emenda constitucional. 
 
B. Mutação constitucional, ou Poder Constituinte Difuso => é a mutação que 
ocorre quando o texto da Constituição permanece o mesmo, mas ele é 
reinterpretado em virtude de novas realidades sociais. 
 
Qual a diferença entre a mutação constitucional e a reforma via EC? Como vimos, 
ambos mudam a Constituição Federal. A diferença é que a EC é uma alteração 
formal da Constituição: o texto muda. Pode ser acrescentado um novo texto, uma 
parte dele pode sair, etc. 
Já na mutação constitucional, a alteração é informal: o texto continua o mesmo, o 
que muda é a interpretação e aplicação desse mesmo texto. 
 
O que é uma mutação inconstitucional? 
Pt. 04 
É o processo de alteração informal

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