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NE LIDADE DEPENI )ENTE: o caso do Brasil, 1939-42 m julho de 1939, uma reunião extraordinária do CollBelho de Segurança Nacional, sob a presidên cia de Getúlio Vargas, avaliou a situa ção política européia e decidiu que, em caso de guerra, o Brasil adotaria uma posição de Mutralidade. Essa decisão aparentemente expressava algum ti po de collBellBo entre as altas autori dades que participaram da reunião. Na verdade, porém, ele era o resultado de uma divisão profunda na cúpula do governo Vargas acerca de qual seria a melhor aliança para o Brasil no final dos anos 30. Na reunião, manifesta ram-se preferéncias políticas sobre onde o Brasil deveria comprar o aI ma mento de que precisava para sua defe sa. O presidente Vargas queria descar tar os fornecedores europeus. O chefe interino do Estado-Maior do Exército, general Francisco José Pinto, preferia comprar as 8I'mas nos EUA O minis tro da Guen a, general Dutra, deseja- Gerson Moura va adquiri-las da Alemanha. O minis tro da Marinha, Aristides Guilhen, mantinha-se fiel aos fornecedores bri tânicos. Ao cabo, o CollBelbo decidiu dar prosseguimento à política de com pra na Europa.l Nos 30 meses seguintes, a neutrali dade brasileira pôde ser razoavelmen te sustentada, não obstante a tellBão crescente e as dificuldades surgidas em razão dos problemas econômicos, da radicalização ideológica e da luta política em todo o país. Mas a entrada dos EUA na guel'l'a mudou de fOl'illa drástica todo esse quadro, desestabili zando o delicado equilíbrio político que sustentava a neutralidade. Nos oito meses seguintes, de dezembro de 1941 a agosto de 1942, os neutralistas foram perdendo gi adualmente sua posição dominante no processo decisório da po lítica externa. Em agosto de 1942, o Brasil declarou guei'ra à Alemanha e à Itália. Encerrava-se, assim, a neutra- Nota:. Este texto roi aprescnladoem inglês nu "Conrerência sobren H istóriada Neulralidode- rea liz.ada em Helsinki, Finlândia, em setembro de 1992. A lradução é de Francisco de CllBlro Azevedo. ESLudos Hislórk06, Rio de Janeiro. vol. 6. n. 12, 1993, p.177-189. 178 ESTUDOS HISTÓRICOS -I 993/12 lidade. Um coup d'oeil sobre o pa88ado nos ajudará a entender melhor a natu reza e as limitações da neutralidade brasileira durante quase três anos. • o Brasil nos anos 30 A década de 30 tem sido considerada um marco importante na história con temporánea do Brasil devido à emer gência de novas forças políticas sob a f 01'1118 de um movimento nacional que derrubou a ''república oligárquica" e trouxe Getúlio Vargas ao poder em ou tubro de 1930. Entre os historiadores, o debate concentra-se na questão da natureza - se conservadora ou revolu� cionária - do novo equilíbrio de poder. Alguns autores detectam o conserva dorismo de sempre na estrutura social brasileira, disfarçado sob novas eti queta. e por trás de um conjunto de refol"mas mais aparentes que reais. Outros dão ênfase às mudanças econô micas e sociais, ressaltando especifica mente o papel do Estado na reorienta ção da economia do país, até então baseada na exportação do café, para um novo padrão, vinculado ao setor industrial urbano. As mesmas catego rias de conservação e transfol"mação são também aplicadas ao entendimen to da política externa brasileira nos anos 30. A verdade é que a ''revolução'' de outubro no Brasil não conduziu nem a uma ruptura radical com o passado nem à .ua perfeita continuidade. ''Re definição" parece ser o tel"mo mais apropriado para caracterizar tanto os negócios internos como as relações ex· ternas brasileiras do período. A tomada do poder em 1930 por Getúlio Varga., ex-deputado, ex-mi nistro da Fazenda e então presidente do Rio Grande do Sul, resultou de uma aliança peçuliar. Certos grupos "oligár- quicos" (expressão política dal5 claseee agrárias dominantes) dissidentes jun taram-se aos tenentes (jovens oficiais militares revolucionários) para derru bar a facção uoligárquica" dominante, represe�tada pelo presidente Wash ington Luí.. O Governo Provisóric (1930-34) ficou marcado pelo conflito entre o. tenentes e as oligarquias ''re gionais". O Governo Constitucicnal sob a presidência de Vargas (1934-37) foi um período de extraordinária mobili zação política e de polarização ideoló gica. O governo reagiu contra essa po larização política - e isso se tornou evidente a partir de 1935 - com uma repressão cada vez mais intensa que culminou no golpe de novembro de 1937 e na instauração da ditadura Var gas, apoiada pelas forças armadas. Foi o começo do Estado Novo, que durou de 1937 a 1945. Se olhalln06 p:u-a a década de 30 como um todo, veremos que a Revolução de 1930 produziu algumas mudal'Ç"B bastante significativas na economia e na sociedade brasileiras, ainda que sem afetar a estrutura de dominação social. Embora as massas continllassem ex· c1uídas da vida política, algumas novas facções sociais começaram a participar, direta ou indiretamente, do procESSO de cisório. O "Estado de compromisso" que se estabeleceu tornou-ase cada vez mais forte e autónomo, mas possibilitou, ao mesmo tempo, a participação tanto de antigas facções políticas (as oligar<juiae regionais de origem rural) quanto de novas (setores ligados à industrializa ção, à urbanização e ao creschnento do Estado). A política econômica do governo Vargas nos anos 30 manteve-se coeren te com estas características: defendeu o setor exportador e recusou-se a ado tar uma política protecionista para a indústria. Não obstante, iniciou uma política cambial que criou melhores N EUTRAUDAD EDEP ENDENT E 179 condições para a industrialização. Ao mesmo tempo, devido a alguns impas ses internos e externos, o Estado envol veU-tie diretamente na industrializa· ção. Era inevitável que "a melhor polí tica econômica para o país" se tornasse uma questáo polêmica. Diferentes se tores tinham diferentes interesses e diferentes percepções do que era a eco nomia brasileira, de quais os seus laços com a economia internacional e do pa. pel desempenhado pelo Estado. Essas diferenças produziram muitos confli tos nas arenas decis órias do governo. A política externa brasileira Os conflitos gerados pelas questões econômicas estavam claramente pre sentes no processo decisório da política externa, uma vez que as diferentes concepções de política econômica ten diam a COrJ esponder a alinhamentos preferenciais nas relações internacio· nais. O comércio exterior e os assuntos fmanceiros e industriais subordina vam�e a esses conflitos. Além disso, assuntos militares como a compra ou a reposição de armamento e munição, a vigilância das fronteiras, os estudos estratégicos e o treinamento das forças al'madas ligavam-se claramente a for· necedores e a know-how estrangeiros, e envolviam decisões políticas. Não nos esqueçamos de que a déca da de 30 foi uma época de aguda· com petição entre os EUA e a Alemanha pela influência econômica e política nas Américas. As políticas externas de Hitler e de Roosevelt deram um novo impulso à projeção internacional de seus países. Qtl8seque imediatamente teve início na América Latina uma cor rida comercial, cultural, política e ideo lógica entre as duas poténcias. Duran te toda a dêcada, a Grã-Bretanha man- teve-se em discreta posição defensiva na América Latina. No Brasil, a emergência de divisões entre as posições "liberal" e "nacionalis ta'\ ou poSições ''pró-EUA'' e "pró-Eixo", dependeu da situação política dominan te ou até mesmo da questão específica que estava sendo discutida. O resultado dessas divisões e do papel Plocminente desempenhado por Vargas no processo decisório durante os anos 30 foi uma disposição pelll!snente para aproveitar as melhon:6 oportunidades criadas pela competição entre a Alemanha e os EUA no sentido de influenciar os rumos do Brasil. No conjunto, a política externa brasileira nos anos 30 pode ser descrita como uma política de eqü idistância pragmática entre as dllAS potências tan· to em questões comerciais, como políti cas e militares. Esta política conduziu à declaração da neutralidade em julho de 1939 e, o que é mais importante, aumen tou o poder de barganha do Brasil nos anos seguintes. Os EUA e a Alemanha propunham diferentes tipos de comércio exterior. Por isso, o debate interno brasileiro acerca dessa questão teve sêrias implicações políticas, tanto internas quanto exter nas. Dentro do país, a polêmica dividiu classes, grupos de inteJ'fRSe8 e até mes mo órgãos do governo, de modo que não se pode falar de consenso nas classes dominantes da economia brasileira. Es ses interesses e demandas contraditá-. . , . rlOS conver�am para 05 orga06 governa· mentais, tanto nas instâncias superiores do proresso decisório quanto nas inter mediárias. As vantagens e desvanta gens do livre-romércio (ou seja, das rela ções comerciais com os EUA) e do comér· cio compensado (ou seja, das relações com a Alemanha) constituíam os pontos principais da polêmica. Nessas circuns tâncias, o governo VaIghs optou por uma política de adesão ao livre-comércio, co mo que cedendo aos desejos do governo 180 ESTUDOS HISTÓRICOS - I09.'l/12 noJte..americano, mas sem abrir mão d06 beneficios derivad06 d06 ajuste. de compensação propostos pela Alemanha. Em 1935 o governo brasileiro assinou um tratado comercial com 06 EUA que mantinha ou reduzia as tarifas alfande gárias sobre produtos oriundos dos dois paí&€8. No ano seguinte ASSinou um ajuste comercial (de compensação) com a Alemanha para a exportação de gran des quantidades de algodão, café, laran ja, couro, tabaco e carne enlatada. O comércio entre o Brasil e a Alema nha cresceu de fotma gradual e conetan te até o final d06 anos 30. O governo Roosevelt vigiou de perto essas negocia ÇÓ€6 e puesionou o governo brasileiro no sentido de acabar com ou pelo menos linútar seus efeitos. Curiosamente, o g0- verno norte-americano evitou qualquer tipo de retaliação contra o Brasil. Ao contrário, Washington muitas vezes mostrou se até conivente em relação à continuidade do comércio brasileiro-ale mão regulado por ajustes de compensa ção, chegando mesmo a oferecer ajuda fmanceira para a liquidação da dívida pública brasileira e a criação de um ban- o co central E claro que o governo norte- americano tinha interesse em aumentar o comércio americano-brasileiro e em eliminar a influência econôDÚca da Ale- manha no Brasil, mas isso estava subor dínado a objetivos mais amplos, em es pecial à garantia do apoio político brasi leiro -se poseível, uma aliança completa -aos EUA. A partir de 1937 dois importante. problemas internos ocuparam o governo Vargas' o reequipamento das forças ar madas brasileiras e a necessidade de investimento econônúco, sobretudo para a construção de urnB usina siderúrgica. Durante esses anos o agravamento da situação internacional e a crascente in fluência das militalts nos cenlt 06 deci sórios colocaram em evidência a neces sidade de se reequip:tr 8!õ3 forças 81 JIIB- das brasileiras, em especial o Exército. Grandes compras de suprin'mtos na vais foram feitas, ou tentadas, na Ingla te" a e llO6 EUA, e encomendas substan ciais de ma teriais bélicos alemães foram feitas pelo Exército em 1938 e 1939. Mesmo depois de iniciada a guerra, o governo brasileiro continuou dispenden do esforços vigorosoe para receber os ma teriaia alemães, ao mesmo tempo em que tentava comprar equipamentos e munição norte-americanoe. As questões militares tinham es treita ligação com as políticas. O gene ral Eurico Dutra, ministro da Guerra, e o general Góis Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, eram co nhecidos por seus sentimentos pró-Ei xo. Como chefe do Estado-Maior, Góis Monteiro foi convidado a visitar a Itá lia e a Alemanha em 1939. Cuidadosos esforços díplomátic08 foram necessá rios para evitar que fossem assumidos compromissos políticos embaraçosos em conversações das instâncias milita res superiores. Não causa 8urpreaa que no mesmo ano de 1939 o governo brasileiro tenha imediatamente aceito a sugestão norte-americana de uma visita ao Brasil do general Marshall, chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA, seguida de uma visita de retri buição de Góis Monteiro a05 EUA. o impacto da guerra européia Como a maioria das outras repúbli cas latino-americanas, o Brasil depa rou-se com novos problemas econômi cos e políticos em conseqüência da guerra européia. Além de enfrentar o deslocamento econômico do comércio exterior, a escassez de combustível e de bens de consumo, a especulação, a in flação e a inquietação social, o governo Vargas foi forçado a definir suas atitu- • N EUTRAUDAD EDEP ENDENT E 181 das políticas em relação aos beligeran- • tas. E de particular importância notar- se que, em meio a todas as conseqüên· cias econômiCAS, sociais e políticas imediatas da guel'J"8 européia, o gover no 'brasileiro manteve com determina ção suas principais metas estratégicas: a industrialização do país, a começar pela construção de uma grande usina siderúrgica, e o reequipamento das for ças atinadas para a defesa do país em tempos tão perigosos. O impacto da ""Iosão da guerra eu ropéia em setembro de 1939 sobre a economia do Brasil foi enorme, dado que o país dependia basicamente do setor exportador. Em 1940 o bloqueio naval dos britãnicos contra a Alema nha afastou, de um só golpe, a América Latina da esfera de ação comercial da Alemanha. Assim, o problema quase insolúvel até então enfrentado pelos EUA - o do comércio de compensação entre o Brasil e a Alemanha -foi resol vido pelo Reino Unido. Mas ao mesmo tempo o bloqueio britãnico gerou um novo problema para os países latino americanos - o do suprimento de bens manufaturados, pois nem os EUA nem o Reino Unido estavam em condições de substituir de imediato as fontas ale- -roaes. O fa to de a Alemanha não ma is exer cer influência sobre o comércio exterior brasileiro não significou o declínio de sua influência política. As vitórias do Eixo de 1939 a 1941 criaram 11m pode roso império alemão na Europa e um império japonês no Extremo Oriente e no Sudeste asiático. As vitórias da Ale manha deram alento àqueles que a apoiavam nas Américas e aumenta ·ram o nível de apoio político de que desfrutava. Aquelas vitórias tinham de ser levadas a sério pelas autoridades dos países neutros em seus planos para o futuro. Iniciativas norte-americanas anti-Eixo Iniciada a guel"l8 européia, Washing ton compreendeu a extensão do "proble ma" latinO-Americano. Sua interpreta ção da coqjuntura política baseava se nos seguintes pontos: asAmériC'Sls do Sul e CenlI ai já eram, sob muitos aspectos, importantes para o projeto nazista de dominação do mundo. Alguns países da região constituíam campos potenciais de colonização por abrigarem uma conside rável população de origem germânica. Fases países tinham sido muito impor tantas para o esforço alemâo de rea ... "a mento, pois forneceram boa parte da matéria-prima adquirida pelo Eixo atra vês do comércio compensado. As forças armadas de muitos países latino-ameri canos tinham sido treinadas por missões militares alemãs e constituíam um alvo para a propaganda sistemática destina da a despertar antagonismo contra os EUA Essa posição seria disseminada pelas estações de rádio, centIV5 cultu rais, clubes de atletismo e cinemas con· trolados por alemães.2 O volume das exportações latino-americanas estava em queda, e os EUA podiam adquirir grande quantidade de matéria-prima, mantendo assim O nível de divisas de seus vizinhos. Essa política podia lesol ver o problema norte�americano das ma teriais estratégicos que 05 EUA não po diam mais obter de áreas que JXlssaram a ser controladas pelo Eixo. 'Ibdas essas questões exigiam agora um esforço bem maior de coordenação entre 05 vários setores do governo no contexto da políti . ca da "boa vizinhança". Por todas essas razões, o presidente Roosevelt criou em 16 de agosto de 1940 um órgão especial para cuidat dos assuntos econômicos e culturais interamericanos, com o objetivo de 182 ESTUDOS H1STÓRICOS-1993112 contrabalançar a influência alemã. Em toda a América Latina foi lançada uma maciça ofensiva norte-americana nas áreas econômica, política e cultural, e o Brasil tornou-se u_m dos alvos princi pais dessa ofensiva.3 No nível da diplomacia continental, a I Reunião dos Chanceleres America nos, realizada no Panamá em setem bro de 1939, votou pela neutralidade do continente. Estabeleceu também o princípio da neutralidade das águas territoriais. Essas decisões unânimes reforçaram a liderança norte-america na, e Roosevelt começou a usar essa neutralidade para ajudar os britâni cos. A Conferência de Havana, em ju lho de 1940, deu um passo além da neutralidade formal. Como observou R. A. Humphreys, enquanto a Confe rência do Panamá se reuniu sob a égide da neutralidade, a Conferência de Ha vana reuniu-se sob a égide da defesa, pois nela ficou decidido que qualquer tentativa de um Estado não-americano de violar a integridade territorial, a soberania ou a independência política de um Estado americano seria conside rada um ato de agressâo ao continente como um todo.4 Naquele momento, a Alemanhajá tinha invadido a Holanda e a França, colocando as Guianas em risco. Por essa razão, a eolÚerência de Havana firmou o princípio do não-re conhecimento de qualquer tentativa de transferir uma região geográfica do continente de uma p:>tência não-ame ricana para outra. Assim, a neutralidade estabelecida pelos EUA no hemisfério contrariava claramente os interesses do Eixo. Tra tava-se de um instrumento tático em pregado por Roosevelt como parte de sua política destinada a transformar os EUA em grande potência. A ação norle-americana em outras "solidarie dades hemisféricas" tinha propósito semelhante. Impedido pela opinião pú- blica norte-americana e pelo Congres so de desempenhar um papel ativo na política européia na década de 30, Roa sevelt abriu espaços de ação na Améri ca Latina e fotjou a unidade do conti nente sob sua liderança. A neutralidade brasileira o governo brasileiro tentou manter cautelosamente uma política de neutra lidade em relação à guena européia. Embora as relações comerciais com a Alemanha tivessem declinado rapida mente entre 1939 e 1941, 05 canais de comunicação política e militar entre o Brasil e a Alemanha perü18neceram abertos. Conseqüentemente, o bloqueio naval britânico produziu efeitos políticos imprevistos e gerou uma onda de senti mentos antibritânicos nos círculos mili tares brasileiros. AAlemanha era ainda considerada como fornecedora de BUlias ou como parceira potencial na constru ção da usina siderúrgica. Acima de tudo, a habilidade do Brasil em dizer "nâo" às grandes potências DOS anos anteriol'es tinha aumentado seu peso nos negócios interamerican05. Mas em 1940/41, mes mo tentando manter sua posição de neu tralidade, o governo Vargas passou a aceitar gradualmente a necessidade ine vitável de escolher um paroeiro em de corrência da rápida polarização a que a guel'I"8 conduziu. Enfrentando as inicia tivas norte-americanas, o Brasil soube ganhar certas vantagens oriundas da nova situação criada pela gueJJs. A ofensiva política dos EUA visava a integração de todos 05 países latino americanos em sua estratêgia global de combate às potências do Eixo. No caso brasileiro, isso envolvia a elimina ção da influência do Eixo e a vigilância sobre os cidadãos nacionais daqueles países, a fim de garantir aos EUA o NEUTRAUOADE DEPENDENTE 183 suprimento de materiais estratégicos para sua indústria e a concessão de bases militares para suas tropas, Em� bora essa ofensiva tenha ocorrido em um período em que a política do Brasil era de neutralidade, o governo Roose velt não considerou isso um problema. Sua compreensão da neutralidade bra sileira subordinava-se às necessidades do planejamento estratégico norle americano. Por essa razão, os EUA entenderam e trataram a neutralidade brasileira em função do conflito euro peu em curso, sem referencia ao confli to potencial e à rivalidade existente entre os EUA e a Alemanha. Desse ponto de vista, a neutralidade brasilei ra não era incompatível com a ativida de pró-EUA. Por isso, em 1940 Wash ington sentiu-se em condições de exigir que o Brasil eliminasse a influência alemã e de solicitar que fosse permiti da a presença de tropas norte-america nas em território brasileiro. Pela mwma razão, quase todas as iniciativas políticas do governo norte americano em relação ao Brasil durante esse período foram de natureza clara mente militar, redundando em esforços, diplomáticos e militares, para garantir a defesa do Nordeste brasileiro, julgada essencial pelos estrategistas norte-ame ricanos. Na área diplomática, as inicia tivas norte-americanas tiveram boa aco lhida, pois Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores, era um conhe cido defensor do pan-americanismo e ad versário do Eixo, tendo colaborado de todas as maneiras possíveis com os re presentantes dos EUA no Brasil. Mas na área militar a situação diferia substan cialmente, uma vez que os líderes das forças arrnadas brasileiras nutriam dú vidas quanto ao poderio militar norte americano frente à máquina. de guel'J'B alemã. A polltica militar norte-americana para a América Latina era essencial- mente bilateral, devendo o papel a ser desempenhado pelos parceiros conti nentais ser definido para cada caso em particular. No caso do Brasil, os estrate gistas do Exército e da Marinha norte americanos trabalharam durante o ou tono e o inverno de 1939/40 com a idéia de enviar uma força expedicionária ao Nordeste brasileiro. Quando as forças alemãs se voltaram para os países da Europa ocidental em 1940, essee esfor ços foram acelerados. Em meados de junho de 1940, os estrategistas militares norte-americanos consideraram que o Nordeste brasileiro estava pronto para se tomar uma área importante de ope ração no caso de a Grã-Bretanha ser derJ;otada �las forças alemãs no norte da ACrica. Naturalmente, esses planos exigiam a ')Dais estreita colaboração" por parte do Brasil. Para garantir essa colaboração, foram Assinados acordos com o governo brasileiro para a vinda ao Brasil de uma Missão Naval e de uma Missão da Aviação Militar Norte-Ameri cana.6 Em outubro de 1940, foi criada uma Comissão Mista Brasil-EUA para estudar a melhoria das medidas comuns de defesa. O tenente-coronel Lehman Miller, chefe da Missão Militar Norte Americana, ao chegar ao Brasil encon trou chefes militares que duvidavam da capacidade dos EUA de proteger o Bra sil. Por essa razão, esses oficiais lhe ap1 esentaram uma lista de aI mas ao custo estimado de 180 milhões de dóla res, necessárias para a defeca do paÍ'5, e insistiram em que, antes de qualquer disc111ssão sobre a defesa mútua, se deve ria resolver a questão do fornecimento • dessas afiliaS. Os estrategistas norte� americanos começaram a entender o quanto era crucial para seus vizinhos a questão do fornecimento de ai mas.7 De outubro de 1940 a dezembro de 1941, todas as tentativas norte-america nas de obter qualquer concessão do Bra sil encontraram uma rejeição decidida. 8 184 ESTUDOS HISTÓRICOS-199M2 Da meema fOi 1118, 06 esforços norte-ame ricanos para a obtenção de defmições e planos claros para a defe"" do Nordeste na ComisAAo Mista no Rio de Janeiro reM '"l'8ram na insistência brasileira em garantia. concretas de que 06 EUA for neceriam aviões e 8111185 às forças brasi· leiras, p<W!ibilitando-lhes defender o Nordeete em caso de invasão.9 O War Depal tment não estava certo do apoio brasileiro no caso de 06 EUAentrarem na guena, porque acreditava que muitoe doe'dirigentee militaree tinham opiniões favoráveis ao Eixo. Ao mWIllO tempo considerava ffiSCncial prtlteger o Nordes te estacionando forças norre-america.na.s em bases militaree da região. Por isso 06 militares norte·american06 protelaram a entI egs de 8l'IUamento ao Brasil, ao mes mo tempo em que forlllulavam plan06 para ocupar bases no Nordeste.lO De seu ladO,06 militarro brasileilU' não enten diam .... protelações por parte d06 EUA e começavam a duvidar de sua intenção de enviar o ai l!lamento encomendado. Con seqüentemente, m06travam� cada vez menos propensos a fazer novas oonces sõee a06 EUA li Fora da esfera militar, 88 relações Brasil-EUAestavam em franca melho ria naquele período. O governo Vargas emendou algUlnas leis nacionalistas que regulavam os bancos, tornando-as mais favoráveis aos EUA Além disso, no fmal de 1941, quando as relações EUA..Japão passaram a se deteriorar aceleradamente, Vargas começou a fa lar de maneira mais clara em favor do pan-americanismo. Em 10 de novem bro, ele pronunciou um discurso em que definiu a missão do Exército como: 1) defender a nação contra todo inimigo estrangeiro e 2) garantir a ordem in terna. O presidente defendeu ainda uma política de franca solidariedade no hemisfério.12 Em outras palavras, o Brasil se uniria aos EUA na causa da solidariedade continental desde que suas forças Bl'madae f06BCID adequa damente aparelhadas. O meemo temA e o mesmo recado para o governo nor te-americano foram objeto de um se gundo discurso em 31 de dezembro de 1941. Mas nesse meio tempo, OI! japo neses tinham desfechado o ataque a Pearl Harbour, dando início ao rompi mento do impasse na colaboração mili tar Brasil-EUA. 1942 O ano de 1942 foi crucial para a política externa brasileira. Em oito meses ela mudou da posição de decla rações retóricas de solidariedade para uma aliança fil'me com os EUA. Com essa transformação, a eqüidistância pragmática que tinha guiado os negó cios exteriores brasileiros até 1941 foi completamente abandonada. Essa transformação fundamental resultou de fatores externos e de pressões inter nas, e é significativo que o governo Vargas tenha mantido o controle dos acontecimentos em meio a todas as pressões, fazendo concessões mas tam bém conseguindo algumas vantagens através de um processo contínuo de . -negoclaçao. Os eventos mais importantes que afetaram o processo decisório da poli tica externa brasileira em 1942 foram os seguintes: a Conferência do Rio de Janeiro Ganeiro), na qual o Brasil rom peu relações com as poténcias do Eixo; a missão do ministro da Fazenda Sou sa Costa a Washington (fevereiro/mar ço), durante a qual foram assinados acordos militares e econômicos com o governo norte-americano; o acordo se creto político-militar com os EUA (maio), que estabeleceu a criação de duas comissões mistas militares para planejar a defesa do território brasilei- N EUTRAUDADE D EP ENDENTE 185 ro; e a declaração de gueJ"J a contra a . Alemanha e a Itália (agosto), depois que cinco navi06 mercantes brasileiros fOJ'Bm colocados a pique. A Conferência. do Rio de Janeiro-A I1I Reunião de Consulta dos Chancele roa das Repúblicas Americanas repre sentou o capítulo fmal de uma série de conferênciAs intemmericanas iniciada na reunião de Buenoe Aires em 1936. Na Conferência do Rio em 1942,06 esforços norle-americanos pBl'B coordenar políti cas em todo o continente com O objetivo de consolidar sua posição contrária ao Eixo nos negócios internacionais atingi ram seu ponto alto. Imediatamente de pois de Pearl Harbour, discutiram-&! t0- das 88 maneiras de restringir as ativida des do Eixo nas repúblicas americanas e de assegurar o suprimento dos recursos essenciais ao esforço de guel'ra norte america no, sendo redigida a partir daí a minuta das resoluções que seriam sul, metidas à Conferência. A mais impor tante delas exigia que as relações entre as repúblicas americanas e 08 países do Eixo fossem rompidas. Depois de duas semanas de intensas negociaçõeB, os participantes da Conferência concorda ram com uma fórmula de compromisso capaz de conseguir apoio unãnime. A nova I'{ooluçãorecomendava, e não mais decidia, que as repúblicas americanas rompessem relações diplomáticas com o Japão, a Alemanha ea Itália. Um exame das outJ as resoluções emitidas pela Con ferencia Il106tra que a reunião foi. em seu conjunto, uma vitória completa dos EUA Uma série de lesoluções de longo prazo relativas a declarações políticas, coordenação econômica e jurídica, con· trole da polícia e políticas de saúde abriu caminho pBl'B uma ampla coordenação das políticas interamericanas sob a lide rança doe EUA A maioria dessas leso luçõeB era oonsistente com as iniciativas norte-americanas anteriores e com a de- fmição do papel a ser desempenhado pelas nações Latino-americanas na par ceria com 06 EUA 13 O Brasil na Conferência -Eram dois 08 impa"""" nas relações Brasil-EUA no fmal de 1941: a questáo do fornecimento das allllas exigido pel"" militar", brasi leiros e a questão da defesa do Nordeste. O Brasil já concedera a05 EUA vári05 privilégi05 no inicio daquele ano. Entre eles i.nchlÍam·t5e8 pelwmopo.ra a For ça do Atlântico Sul, sob o comando do almiranteJoDBslngram, utilizar os por tos de Recife e Salvador; a construção ou ampliação de bases aéreas no Norte e Nordeste do país; e a pel mis.eão da. pas sagem de aviões e suprimentos através do país para levar ajuda à campanha británica no norte da Africa. Além disso, uma esquadrilha aérea da Marinha nor te-americana chegou para desempenhar atividades de patrulhamento na costa nordeste brasileira. Não obstante, o ob jetivo principal d05 militales norle-ame ricaDos - o estacionamento de tropas norte-americanAs no Nordeste -não ti nha sido ainda atingido. Mas Washing ton estava preparado para a ocasião, e durante toda a Conferencia o governo Vargas recebeu atenção especial doe es trategistas e das autoridades norte americanas. Além da seleta deJp@'ção norte-americana enviada para a reu nião, o próprio p' widente Roosevelt manteve contato direto com o p' w;dente Vargas. No início da Conferência, enviou uma carta prz.sool a Vargas na qual declarava que estava pronto a pagar o preço do apoio brasileiro. Roosevelt pro metia ainda que, apesar das necessida des das forças 81lllsdas norle-america nas callsadas pela. ofensiva japonffi8, o governo norte-americano entregaria os equipamentos1r'105 quais o Brasil esta va esperando. Assim, o governo norle-americano se prontifIcou a empenhar-&! no forneci mento não apenas de 811118S, mas de OutT05 tipos de equipamentos de que o 186 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1993/12 BraBil """"""itava. (Durante a Confe rência, Donald PiersOll, presidente do Eximhenk, iniciou 88 ' � com W! autoridAdes braBileiras sobre o ASSunto.) No final da Conferência Vargas tinha óbtido doe EUA garant-iQs sufICientes para neutralizar a oposição militar. No último dia da Conferência, ele anunciou o rompimento das relações com o Eixo e alguns dias depois enviou a Washington seu ministro da Fazenda, Sousa Costa, para acelerar a entrega do Rnuamento norte-americano ao Brasil e finalizar aoorcl08 econômicos e financeiros, não obstante a contínua resistência por par te dos militares brasileuoo. Desdobramentos posteriores - Um compromisso entre o War Deparlment e o Departamento de Estado superou a resistência dos militares brasileiros: em 3 de março de 1942 foi assinado um contrato Lend-Lease, pelo qual oe EUA transfeririam ao Brasil 81 filamento e munição no valor de 200 milhões de dólares. O governo brasileiro pagaria 35% do custo do material entrell\le em seis parcelas, entre 1943 e 1948.15 Por esse acordo cumpriram-se as exigên cias dos militares brasileiros e as for ças arlllAdas foram substancialmente reequipadas. Por seu lado, o governo braaileiro sancionou rapidamente - 05 pedidos norle-americanoe de novas instalaçóes e de entrada de mais efeti vos no Nordeste. As forças arlllAdas norte-americanas obtiveram pel'",is são para construir quartéis, acampa mentos e outras acomodações; para voar sem autorização prévia em um conedor estabelecido; para construir instalações subterrâneas de BJ'Inaze nagem; e para ampliar a pista da ilha de Fernando de Noronha. Os contratoe de 3 de março abriram caminho para uma colaboração mAis permanente entre os dois governos e suas forças 81"11lSda.e através de um acordo político-militar de defesa. A principal cláusula deste acordo secre to, que foi assinado em 23 de maio de 1942, foi o estabelecimento de dUAe comissões mista.e militaree, uma em Washington e a outra no Rio de Janei ro. A primeira traçaria os plano8 con juntoe de defesa para o Nordeste, e a outra trabalharia na elevação dos pa drões das forças brasileiras.16 A Co missão de Washington iniciou seus tra balhos em agosto, mas antes dessa da ta a colaboração militar entre os dois - . ,- ifi 17 pal5ea começara a se mu:::D5 lear. A ."tI ada. na guenu - A partir da Conferência do Rio, foi constante o au mento da contribuição do Brasil para o esforço de guel"l a norte-americano. Essa contribuição itlCluía a crescente produ ção e o transporta de materiais béliros estratégicos; a pel111iAAÃo para 08 EUA utilizarem as bases aéreas do Nordeste no transporta de materiais e troJl'l;l de alta prioridade para 06 Aliados na Mri ca, no Oriente Médio e no Extremo Oriente; e a abertura doe estaleuoo bra sileuoo aoe navios doe Aliados. F ...... es treita colaboração com o esforço de guer ra norte-americano atraiu a hostilidade do Eixo, e em março alguns navioe mer· cantes brasileiros foram atacados e afundados por submarinos alemães. Em maio começou o patrulhamento aéreo da costa do Nordeste pela Força Aérea Bra- 8ileira com a ajuda têcnica dos norta americanos, e pelo menos um submari· no alemão foi afundado, ficando um ou tro danificado.18 Em tei mos práticos, """" cooperação aberta com os EUA co locou o Brasil na posição de beligerante, ao mesmo tempo em que fazia surgir no seio do governo uma áspem disputa so bre a extensão da colábomção militar com os EUA. A disputa oessou quando, entre 5 e 17 de agosto, cinco navios bra sileiros, alguns dos quais fazendo rotas comerciais em navegação de cabotagem, foram afundados por submarinos do Ei xo. O nÚmero de vítimas foi grande, NEUTRAWDADEDEPENDENTE 187 incluindo não apenas aa tripulaÇÓ€6 dos navios, mAS outrue civis e soldados. A indignação popular logo se manifestou, oconendo manifestaÇÓ€6 contra o Eixo em todas aa principeis cidades do país, muitas vezes com ataques a fiJ 11188 per· te .- · ·d . 1.9 ncenU%! a naCIOMJ.CIl �� paJSe8. Naqueles dias cruciais tcxlOB os minis· boo concordavam que se deveriam ter mar medidas drásticas contra o Eixo. A única controvérsia girava em torno da questão de se proclamar ou não o '4estado de guel'l'u" entre o Brasil e as potências do Eixo. Embora O ministro da Guer·ra preferisse não proclamar explicitamen te o "estado de guelJu", o sentimento popular contra a Alemanha se fez tão intenso em todo o país que a resistência foi minada, che!ll!ndo se a um consenso em poucos dias.2o Em 22 de agoeto o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha e à ltália.21 Conclusão A neutralidade do Brasil entre 1939 e 1942 ilustra os limites da politica externa de um peís dependente. Se, em razão da natureza:dllobal das duaa guel 1 as mundiais, era altamente problemática a manutenção de uma neutralidade estrita na qual se obser vassem tanto os direitos das potênciaa neutras quanto os das beligerantes, mais complicada ainda seria a neutra lidade de países que se encontravam na esfera de influência de uma ou mais das grandes potências. Devido à tendência globalizante da guer'1l moderna, apenas Estados mui to poderosos eram capazes de respeitar e impor 08 direitos e deveres inerentes à política de neutralidade. Mas estes eram precisamente os Estados menos propensos a abrir mão de esforços vol tados para a reestruturação radical do sistema internacional. Nesse contexto, a neutl alidade constitui uma quase impossibilidade nas guerraa globais contemporâneas, eobrevivendoBpen8s em certas situações como função doe interesses dos próprios beligerantes. No caso do Brasil, a neutralidade diante da guen a na Europa entre 1939 e 1941 beneficiou-se de três fatores. Primeiro, a neutralidade dos EUA, que definiram para si próprios e para todo o continente a disposição de ficar de fora da guerra européia. Segundo, a convicção das lideranças militares bra sileiras de que o país não se encontrava preparado para enfrentar as conse qüências de uma guenB moderna. Thr ceiro, a divisão política entre o Estado e a sociedade em relação à melhor aliança externa para o país. Com o cr",,,,imento da rivalidade EUA-Alemanha no Atlântico e da rivali dade EUA..Japão no Pacífico em 1941, o governo Roosevelt começou a considerar. a possibilidade de intervenção na guer � e isso, por SUB vez, comprometeu drasticamente a neutralidade latino americana. Desde então, tomou se cada vez mais dif"rcil para o governo brasileiro manter sua política de neutralidade. A crescente cooperação econômica e políti ca com os EUA no fmal de 1941 e início de 1942 fez com que o Brasil paSAAS8e gradualmente da neutralidade for·/IIal para a co-beligerância, mesmo antee de declarar fonua.lmente gueI'J8 à Alema· nha e à Itália. Nesse sentido, a resistência oposta pelo regime de Vargas às pressões nor te-americanas em 1940/41 para conse guir colaboração irrestrita tinha me nos a ver com a manutenção da neutra· lidade brasileira do que com o aumento do poder de barganha do Brasil em relação a Washington. Embora neutra listaa sinceros e ger/llanóftlos disfarça dos tentassem defender a política de neutralidade do Brasil, a possibilidade 188 ESTUDOS HlSTÓRICOS- 1993/12 de resistência àe exigências norte americana! era mínima. O governo Vargas teve pelo men06 o mérito de reconhecer suas própriAS limitações e a capacidade de agir no momento certo - ou seja, quando 06 EUA precisaram efetiVAmente da ajuda brasileira -, uti lizando habilmente sua neutralidade como trunfo para a obtenção de bene IIcios econômicoe e políticoe. Notas e referências Fontes primárias, instituições e ar quiv06 serão referenciados pelas se guintes abreviações: AIll = Arquivo História> do Itamarati, Rio de Janeiro CPDOC/GV = Arquivo Getúlio Vargas, CPDOC-FGV, Rio de Janeiro CPDOC/OA= Arquivo OevaldoAranha, CPDOC-FGV; Rio de Janeiro FRL = Franklin Roosevelt Library, Hyde Park, N. Jersey FRUS = Foreign Relations of the Uni ted States, Government Printing Office, Washington, DC . NA = National Archives, Washington, DC PRO = Public Record Oflice, Londres PRO/FO = Foreign Office 1. Um relato completo desta rewlião pode ser encontrado em CPDOC/GV 39.06.00-Confid. 2. US Government Printing OfIice, HitI tory of the Off<ee of the Co-Ordinator of Inrer-Americw, Affair. (Washington, OC, 1947), p. L 3. US National Archives and Records Service, G.S.A., ReoordJJ of the OffWe of InrerAmericw, Affair. (Washington, DC, 1973). 4. R A. Humphreys, Latin America and the Seoond World War, 1939-1942 (Lon mw, 1981), p. 70-75. 5. S. Conn e B. Fairchild, The frwne work hemi.phere defense (Washington, 1960), p. 272-274. Oe estrategistas milita res norte-americanos procuravam instala ções para bas .. no Brasil desde julho de 1939, segundo K Hagan, em Peace and war (Westport/Londres, 1978), p. 246. 6. AHI/RE/EUA/Notas recebidas, Amembassy para Aranha, 25 de junho de 1940. 7. Nas palavras do Gen. Mathew Ridg way: 1'De nossa disposição de fornecer ou da promessa defirútiva de forneoor este arma. mento no futuro próximo pararem depender noeses futuras relaçóes com o Brasil", Conn e Fairchild, op. cit., p. 276. O tom é o mesmo na 0011eapondência diplomática entre Cor deU Hull (seu1!lário de Estado) e Jefferson Cafl'ery (embaixador norte-americano no Brasil), datada de 7, 17 e 18 de junho de 1940 e 16 de julho de 1940 - FRUS, 1940, v. V, p. 4549. 8. Da mesma forma, na questão da per missão para aeronaves militares norte americanas sobrevoarem o Brasil em , direção à Mrica, o Ministério da Aeronáu tica do Brasil insistia em que 08 EUA pro metessem fornecer aviões para a Força Aérea Brasileira. Caffery-Hull, 23, 22 e 23 de setembro de 1941, NA!RG 226 OSS 221, 593, 323. 9. Foi Góis Monteiro quem insistiu nes te ponto na Comissáo Mista. A falta de wgência na tomada de decisão exasperou os oficiais americanos. Ver carta de Góis Monteiro, NA/RG 218, 25 de setembro de 1941. /lDC 5700 (5740). 'Iàmbém Conn e Fairchild, op. cit., p. 297. 10. Para garantir o sucesso de seus pla nos, 08 militares norte-americanos sugeri ram que o governo dos EUA poderia tentar demonstrar que "as medidas de coopera ção pedidas ao Brasil não deveriam ser consideradas como concessões feitas, mas como rontribuição à defesa do hemisfério". Conespondência, nota 9. 11. Relatório de Góis Monteiro, CPDOC/GV 41.10.10. Por essa época, o NEUTRAUDADE DEPENDENTE 189 embaixador CafTery teve a impre88áo de que Góis Monteiro oooperaria com 08 pla DOS norte-americanos, mas desejava estar certo cio fornecimento de anDaS. 12. O governo norte-americano perce beu a mudança e Roosevelt expH SSOU sua satisfação pesaoal a Vargas em 19 de no vembro de 1941. FRL/PSF 41.11.19. Ver também a ooixespondência sobre o discur so de Vargas, CPDOC/GV 41. 11.12 e GV.oo.oo/l. 13. Estudei essas .esoluçôeB deta1hada mente em Brozilian. foreign relatio,Uj 1939- 1950 (ph.D., Universidade de Londres, 1983), p. 77-82. 14. Carta de Roosevelt a Vargas, CPDOC/GV 42.01.07/2 • FRL/PPF, 7 de janeiro de 1942. 15. Lend-!.e ... Agroement between the USA and Brazil, FRUS, 1942, V, p. 815- 818. 16. S. Conn e B. Fairchild, op. cit., p. 318-319. 17. AHI/RE/EUNNotas recebidas: Amemb88sy a Salgado Filho, Ministro da Aeronáutica, 15 dejllnho de 1942; Catrery a Aranha, 14 de julho de 1942; Catrery a Leão Velloso, 20 de julho de 1942. 18. Hugh •• to War Department, 11 d. ma� de 1942, NA/RG59 832.00/4198; Hughes to Stata Department, 12 de � de 1942, NA/RG59 832.00/4199; Brazilian Air Attaché to Air MiniBtry, 28 de maio de 1942, PRO/FO 371 30351 (A5097/4/6). 19. A collespondência diplomática re . fletiu essa intensa mobilização. US Em bassy in Rio de Janeiro to State Department, 18-28 de agosto, NA/RG59 832.00/4238, 4242, 4243, 4244, 4247, 4248, 4249, 4255, 4257, 4258, 4259, 4283, 4265, 4268. Também NA!RG59 832.57/93, 94, . 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105 - de 18 a 21 de agoeto de 1942. 20. Noel Charles (British Ambessador in Rio) to th. Foreign Oflice, 20 de agosto, PRO/F0371 30351 (A7703/4/6). 21. Sobre a dificuldade de se alcançar uma decisão unânime, ver a carta de Os valdo Aranha a Carlos Martins (embaixa dor brasileiro nos EUA), CPDOC/OA 42.08.23/2, e J. Catrery to Under-SeCletary of State, 28 de agosto, NA/RG59 832.00/4268. O Japão não foi incluído na declaração de guel'ra porC8.11Sa da situação enfrentada paIo Chile. 22. Franco Mosconi, ''Neutralità", em N. Bobbio, N. Mataucci e G. Pasquino (orgs.), Dizionario di politica ('lUrim, UTET, 1983). Edição brasileira: Dicioná, rio de política, p. 882. Gerson Moura, falecido em dezembro de 1992, era PhD em história pela Univer sidade de Londres, pesquisador do CPDOC e professor no IRI-PUC{RJ.
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