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1 Utilização da palma forrageira na alimentação de ruminantes Marcelo de Andrade Ferreira 1 , 1Depto de Zootecnia – UFRPE, RESUMO - A palma forrageira é uma alternativa alimentar de grande importância para as regiões semi-áridas. As cultivares mais utilizadas são a redonda, a gigante (Opuntia fícus-indica Mill) e a miúda (Nopalea cochenilifera Salm Dick). Em geral, apresenta em sua composição química baixos teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido. No entanto, é rica em carboidratos totais, carboidratos não-fibrosos e matéria mineral. Seu alto teor de umidade é uma característica favorável em regiões onde a água se torna escassa. Apresenta digestibilidade da matéria seca entre 65 e 75%. É necessário a associação da palma forrageira a outros volumosos, para atender o requerimento mínimo de fibra efetiva do animal e podem ser utilizadas uréia e fontes suplementares de proteína verdadeira para atender as exigências dos animais em proteína. É importante o fornecimento de dietas na forma de mistura completa, especialmente para vacas leiteiras. Palavras-chave: palma forrageira, ruminantes, semi-árido Use of cactus forage in ruminants feeding ABSTRACT – The forage cactus is a very importante alternative feed for the semi-arid regions. The cultivars used are the “redonda”, “gigante” (Opuntia fícus-indica Mill) and “miúda” (Nopalea cochenilifera Salm Dick). In general, presents in its chemical composition low dry matter, crude protein, neutral detergent fiber and acid detergent fiber. However, it is rich in total carbohydrates, non-fibrous carbohydrates and mineral matter. Its high moisture content is a favorable feature in regions where water becomes scarce. Presents dry matter digestibility between 65 and 75%. It is necessary the association of cactus forage to other roughages to meet the minimal requeriments for effective fiber of the animal and can be used urea and additional sources of crude protein to meet the demands of animal protein. It is important provide diets in total mixed ration, especially for dairy cows. Key Words: forage cactus, ruminant, semi-arid 2 Introdução A sazonalidade na produção de alimentos, devido a irregularidade e escassez de chuvas, é uma característica da região semi-árida do Nordeste brasileiro. A produção de ruminantes nessa região é de grande relevância por ser uma atividade menos vulnerável a seca, quando comparada com outras explorações, e se constitui num dos principais fatores de fixação do homem no campo, como também na geração de emprego e renda (Ferreira et al., 2009). Para a manutenção da produção, tanto de leite como de carne, frente às adversidades climáticas, deve-se proceder com o adequado gerenciamento dos recursos forrageiros disponíveis na região. Devem ser priorizados aqueles que se enquadram na realidade natural das condições impostas e que possam ser utilizados de forma segura, trazendo retorno econômico para que a atividade possa ser competitiva quando comparada a outras culturas. A palma forrageira, originária do México, possui características anatômicas, morfológicas e fisiológicas adaptadas as regiões áridas e semi-áridas. Apresentam o mecanismo fotossintético ácido das crassuláceas (CAM) no qual os estômatos abrem-se durante a noite e fecham-se durante o dia, reduzindo a perda de água por transpiração (Mulas & Mulas, 2004). A palma forrageira tem entre as cultivares mais utilizadas a redonda, a gigante (ambas Opuntia fícus-indica Mill) e a miúda (Nopalea cochenilifera Salm Dick) (Santos et al., 2006). Seu uso ocorre, em algumas regiões, durante todo o ano, principalmente na alimentação de rebanhos leiteiros. Normalmente é colhida manualmente e, dependendo do espaçamento e da necessidade do criador, pode ser colhida em intervalos de dois ou quatro anos, sem perda do valor nutritivo (Farias et al., 2000). Apresenta produtividade média de 10 ton MS/ha/ano (Santos et al., 2006) e estima-se que no nordeste brasileiro a área plantada seja de 550.000 ha (Araújo et al., 2005). Composição bromatológica A palma forrageira em sua composição química apresenta, em geral, baixos teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido. No entanto, é rica em carboidratos totais, carboidratos não-fibrosos e matéria mineral (Tabela 1), apresentando elevados teores de cálcio, potássio e magnésio (Ben 3 Salem et al., 1996) e baixos teores de fósforo, como na maioria das forragens tropicais (Germano et al., 1991). Pode haver variação na composição químico-bromatológica da palma de acordo com a espécie, idade dos artículos e época do ano (Santos, 1989). Tabela 1. Composição bromatológica da palma forrageira Espécie MS PB 1 FDN 1 FDA 1 CHT 1 CNF 1 MM 1 Autores Palma redonda 10,40 4,20 -- -- -- -- -- Santana et al. (1972) Palma gigante 9,40 5,61 -- -- -- -- -- Santos (1989) Palma redonda 10,93 4,21 -- -- -- -- -- Santos (1989) Palma miúda 16,56 2,55 -- -- -- -- -- Santos (1989) Palma gigante 12,63 4,45 26,17 20,05 87,96 61,79 6,59 Andrade (2001) Palma gigante 8,72 5,14 35,09 23,88 86,02 50,93 7,98 Magalhães (2002) Palma gigante 7,62 4,53 27,69 17,93 83,32 55,63 10,21 Araujo (2002) Palma miúda 13,08 3,34 16,60 13,66 87,77 71,17 7,00 Araujo (2002) Palma gigante 10,70 5,09 25,37 21,79 78,60 53,23 14,24 Melo (2002) Palma gigante 14,40 6,40 28,10 17,60 77,10 -- 14,60 Batista et al. (2003) Palma miúda 12,00 6,20 26,90 16,50 73,10 -- 18,60 Batista et al. (2003) Palma IPA-20 13,80 6,00 28,40 19,40 75,10 -- 17,10 Batista et al. (2003) Os baixos teores de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) da palma podem ser corrigidos com a associação com alimentos fibrosos, como também a adição de uma fonte de proteína verdadeira ou de NNP. A uréia é uma importante alternativa para correção protéica da palma forrageira, em decorrência do alto conteúdo de carboidratos prontamente disponíveis para os microorganismos ruminais (Ferreira, 2005). O alto teor de umidade da palma é uma característica favorável em regiões onde a água se torna escassa em determinadas épocas do ano (Magalhães, 2002). Lima (2002) observou que vacas leiteiras mestiças com produção média de 15 kg de leite/dia, recebendo na alimentação aproximadamente 50% de palma forrageira, tiveram suas exigências em água praticamente supridas pela dieta. De maneira semelhante, Ben Salem et al. (1996), Tegegne et al. (2007) e Abidi et al. (2009) observaram decréscimo, e até mesmo ausência, na ingestão de água em ovinos e caprinos consumindo dietas com níveis crescentes de palma forrageira. 4 Digestibilidade dos nutrientes A palma forrageira apresenta coeficientes de digestibilidade in vitro na matéria seca da ordem de 74,4; 75,0 e 77,40% para as cultivares redonda, gigante e miúda, respectivamente (Ferreira et al., 2009). Torres et al. (2009) não encontraram diferença na digestibilidade aparente dos nutrientes quando substituiu a palma gigante por palma miúda em dietas para bovinos em crescimento, o que foi relacionado com a semelhança da composição nutricional das duas variedades. Um exemplo de digestibilidade de dietas com palma forrageira para vacas em lactação é dado na Tabela 2. Tabela 2. Digestibilidade aparente dos nutrientes, em função de níveis de inclusão de palma forrageira em substituição à silagem de sorgo em dietas para vacas em lactação Digestibilidade (%) Níveis de palma (%) Efeito 0 12 24 36 DAMS 73,15 77,61 79,98 73,01 Quadrático DAMO76,20 78,80 81,12 74,47 Quadrático DAFDN 64,56 61,93 62,89 43,85 Quadrático DACHT 75,60 78,70 81,09 74,64 Quadrático Adaptado de Andrade (2001) Pode-se observar que com o aumento da proporção de palma nas dietas, o coeficiente de digestibilidade aumentou até determinado ponto, a partir do qual ocorreu diminuição na digestibilidade para todos os nutrientes. Com a inclusão da palma, houve aumento no teor de CNF e diminuição no teor de FDN. A redução da fração de fibra (FDN) resulta em menor salivação, considerada importante para diminuição do pH ruminal (Mertens, 2001), alterando a população microbiana, com conseqüente diminuição da digestibilidade dos nutrientes, evidenciando mais uma vez a importância do equilíbrio entre as proporções de CNF e FDN da dieta. O comportamento observado para a digestibilidade com a inclusão de palma é similar àquele observado para dietas com altos níveis de concentrado. Dietas com tais alimentos apresentam altas frações de CNF, que são prontamente fermentados no rúmen, comprometendo a atividade microbiana, principalmente de bactérias fibrolíticas, e, como conseqüência, a digestão (Véras et al., 2000). 5 No entanto, Bispo et al. (2007) observaram aumento linear nos coeficientes de digestibilidade (MS, MO e CHT) com a inclusão de palma em substituição ao feno de capim-elefante em dietas para ovinos. O pH ruminal diminuiu linearmente, com variação de 6,46 a 6,24, para as dietas com 0 e 56% de palma forrageira, respectivamente, não sendo observado efeitos dos níveis de palma sobre a concentração de amônia ruminal. Os autores concluíram que o uso de até 56,0% de palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante aumenta a ingestão e melhora o aproveitamento dos nutrientes em dietas para ovinos. Palma forrageira na alimentação de bovinos A alta palatabilidade da palma forrageira, associada ao seu baixo teor de matéria seca, favorece o consumo de grandes quantidades diárias. Carvalho et al. (2005) observaram que novilhas leiteiras com peso médio de 250 kg recebendo dietas com 62% de palma, apresentaram consumos de matéria seca superiores aos estimados pelo NRC (1989) e NRC (2001). Pessoa (2007) observou que novilhas mestiças recebendo dieta com 64% de palma e 30% de bagaço de cana apresentaram consumo de MS de 2,8% do peso vivo. Torres et al. (2003) relatam, para animais com peso semelhante, um consumo de MS de 2,9% do peso vivo com uma dieta contendo 50,0% de palma forrageira, 30% de bagaço de cana e 20,0% de farelo de soja, com base na matéria seca. Tem sido relatado também que o uso da palma forrageira, principalmente em dietas de vacas em lactação, provoca problemas como diarréias, queda no teor de gordura do leite, baixo consumo de matéria seca e perda de peso (Santana et al., 1972; Santos et al, 1990). O adequado nível fibra na dieta de ruminantes, especialmente para vacas leiteiras, é necessário para a boa função ruminal e saúde do animal, estimulando a ruminação e a secreção de saliva, contribuindo para manutenção de pH ruminal acima de 6,0 e porcentagens normais de gordura no leite (Mertens, 1997). O NRC (2001) recomenda que dietas de vacas em lactação devem conter, no mínimo 25% de FDN e que ao menos 19% seja proveniente de volumosos com alta efetividade da fibra. Recomenda também que o teor de CNF da dieta deve ser entre 36 e 44% da matéria seca da dieta, variando em função do teor de FDN e da proporção de FDN oriunda do volumoso. É necessário, portanto, a associação da palma a outros volumosos, para evitar problemas digestivos, em especial a diarréia, decorrente do aumento da taxa de 6 passagem do alimento através do sistema digestivo (Ben Salem et al., 2002). Vários trabalhos avaliaram a associação da palma forrageira com outros volumosos (Tabela 4). Tabela 4. Palma forrageira associada com volumosos em dietas para vacas leiteiras. Palma % Volumoso % Conc. % PL kg/dia FDN % CNF % Referência 38.00 37.80 (SS) 23.20 13.9 40.45 35.00 Mattos et al. (2000) 55.40 17.80 (BC) 25.30 13.6 36.00 39.00 29.00 28.00 (SS) 43.00 29.5 34.00 41.50 Melo et al. (2006) 49.81 25.35 (FCT) 22.31 17.6 34.60 42.39 46.66 27.98 (FCE) 22.33 17.6 33.91 42.26 Silva et al. (2007) 50.05 24.07 (BC) 22.34 16.2 36.38 41.47 24.00 33.00 (SS) 43.00 25.7 31.90 43.42 Wanderley et al. (2002) 58.81 34.63 (SS) 3.29 10.71 40.39 36.33 Wanderley (2008) 62.65 33.30 (SG) 0.70 11.8 35.48 37.50 60.46 35.79 (FG) 0.64 9.85 40.63 37.16 Produção de leite (PL); Silagem de sorgo (SS); Bagaço de cana (BC); Feno de capim Tifton (FCT); Feno de capim Elefante (FCE); Silagem de Girassol (SG); Feno de Guandu (FG) Salienta-se que em todos os trabalhos não foram observados diarréia, perda de peso, alterações no consumo de matéria seca ou queda no teor de gordura no leite. Observa-se também que os teores de FDN e CNF nas dietas experimentais estiveram dentro do limite preconizado pelo NRC (2001) para manutenção de boas condições ruminais. A associação da palma forrageira com diferentes volumosos em dietas para vacas em lactação também foi estudada por Ferreira et al. (2009). As dietas experimentais continham, com base na matéria seca, em torno de 50% de palma forrageira e 25% de um dos volumosos: bagaço de cana, feno de capim tifton, feno de capim elefante, silagem de sorgo ou uma mistura de silagem de sorgo mais bagaço de cana. A produção de leite, o consumo de matéria seca, a síntese de proteína microbiana e as concentrações de uréia no plasma, no leite e na urina não foram alteradas pelas dietas experimentais, demonstrando, segundo os autores, a viabilidade de utilização desses volumosos, nos níveis de inclusão estudados, em dietas para vacas produzindo em torno de 18 kg de leite/dia . Existem poucos trabalhos na literatura utilizando palma forrageira em dietas para bovinos em crescimento (Tabela 5). Nos dados apresentados, deve-se salientar que 7 mesmo os animais que não receberam concentrado na dieta (Pessoa, 2007) apresentaram um ganho de peso médio de 430 g/dia, demonstrando a viabilidade de utilização da palma forrageira associada a ingredientes fibrosos e fonte de NNP na alimentação de bovinos em crescimento. Salienta-se, inclusive, a importância da adoção de mistura completa quando se utiliza altas proporções de uréia na dieta, pois foi observado consumo de até 300g/animal/dia, quando novilhas foram suplementadas com farelo de algodão, sem terem apresentado qualquer distúrbio metabólico. Tabela 5. Palma forrageira em dietas para animais em crescimento Raça Palma % Bagaço cana % Uréia % Suplemento Kg; % PV; % GMD kg Referência H 69,8 27,6 2,6 F. trigo: 1 kg 0.71 Carvalho et al. (2005) H 69,8 27,6 2,6 F. soja: 1kg 1.20 M 64,0 30,0 4,0 F. trigo: 0,5% PV 0.60 Pessoa et al. (2007) M 64,0 30,0 4,0 F. algodão: 0,5% PV 0.84 M 64,0 30,0 4,0 Sem suplemento 0.43 M 50,0 30,0 -- F.soja: 20% 1,20 Torres et al (2003) Holandês (H); Mestiço HZ 5/8 (M) Outro aspecto a ser considerado é a possível substituição do concentrado da dieta por palma forrageira, devido seu alto teor de carboidratos não fibrosos. A alta participação dos concentrados, em especial o milho, no custo das dietas, principalmente de vacas leiteiras, justifica o interesse por essa opção. Véras et al. (2002) substituíram até 75% de milho moído por farelo de palma forrageira em ensaio de digestibilidade com bovinos, e não verificaram alteração no teor de energia das dietas, mantendo o consumo restrito a 2,5% do peso vivo dos animais. Alguns autoresestudaram a substituição total ou parcial do milho ou do farelo de soja por palma forrageira, associada ou não com uréia, em dietas para vacas em lactação (Tabela 6). Os resultados mostram que houve pouca alteração na produção de leite quando o milho foi substituído por palma, no entanto, quando o farelo de soja foi substituído, maiores alterações foram verificadas. Deve-se salientar que com a substituição parcial ou total do concentrado pela palma forrageira ocorre uma redução nos custos de alimentação, o que pode justificar economicamente alguma alteração na produção de leite. 8 Tabela 6. Palma forrageira em substituição a alimentos concentrados em dietas para vacas em lactação Palma % Milho % Soja % Uréia % CC Kg Volumoso % PLCG kg/dia CNF % Referência 31.94 14.27 21.95 0.00 8.00 30.44 19.36 36.98 Melo et al. (2003) 37.77 13.92 14.04 1.58 6.00 31.20 17.87 34.28 36.00 15.12 8.37 1.89 3.70 37.00 15.90 36.68 Araújo et al. (2004) 50.00 0.00 9.03 1.69 1.30 37.00 14.83 33.28 0.00 16.39 14.19 0.00 7.10 67.42 19.85 15.06 Oliveira et al. (2007) 51.00 0.00 19.15 0.00 3.50 27.85 19.31 30.02 45.00 9.30 14.00 0.20 4.40 30.00 13.66 34.70 Bispo (2009) 60.00 0.00 6.88 1.63 1.30 30.00 11.12 34.40 Produção de leite corrigida para 4% de gordura (PLCG); Consumo de concentrado (CC) Palma forrageira na alimentação de ovinos e caprinos Em trabalho realizado com caprinos, Vieira et al. (2007) observaram efeito quadrático da substituição de palma forrageira por feno de tifton sobre o consumo de matéria seca, sem alteração nos coeficientes de digestibilidade da MS, MO e FDN. O consumo máximo de MS ocorreu com 44,2% de palma forrageira, na base da MS. Em ovinos, Gebremariam et al. (2006) também verificaram efeito quadrático da substituição de palhada por palma forrageira, observando consumo máximo quando a palma correspondia a 43,0 % da MS. Por outro lado, Bispo et al (2007) verificaram aumento linear no consumo de MS em função da substituição de feno de capim elefante por palma forrageira, trabalhando com níveis de inclusão entre 0 e 57%. Considerando-se a alta e rápida degradação ruminal da palma, ocorre intensa produção de espuma no rúmen (Vieira, 2006) e aumento na distensão ruminal (Gebremariaerem et al. 2006), o que poderia influenciar negativamente o consumo, devido à relação negativa entre distensão ruminal e ingestão de MS em ovinos (Villalba et al., 2009). No entanto, verifica-se que a adição de uma fonte de fibra efetiva em dietas onde a palma representa a maior fração reduz a produção de espuma e essa distensão ruminal (Santos et al., 2009). Souza et al. (2009) observaram que a inclusão de feno de tifton à ração também aumentou o tempo de ruminação e o consumo de MS pelos animais. Em ovinos, Costa (2009) avaliando casca de soja, feno de tifton e caroço de algodão e Wanderley (2008) avaliando silagens e fenos como fontes de fibra em dietas 9 com aproximadamente 55% de palma forrageira não verificaram variação no consumo de MS. Matos (2009) estudou a substituição de feno de tifton e farelo de milho por palma forrageira em dietas para ovinos em crescimento, verificou ganhos médios diários variando de 237 a 213g. A adição de palma influenciou de forma quadrática o ganho de peso, cujo ponto de máxima foi 37%, no entanto, a inclusão de 67,9% de palma na dieta resultou em maior retorno financeiro. Ben Salen et al (2004) avaliaram o desempenho de cordeiros recebendo dieta à base de palha de cevada e suplementados com cevada ou palma forrageira como fontes de energia e farelo de soja ou atriplex como fontes de proteína. Os animais que receberam dietas contendo palma forrageira apresentaram maior consumo de matéria seca totale e os animais que receberam dietas com palma associada ao farelo de soja ou atriplex apresentaram maior ganho de peso (119 e 81 g/dia, respectivamente) que os animais que receberam a cevada associada a essas fontes protéicas (108 e 59 g/dia, respectivamente). Araujo (2009) relatou ganho médio de 180g/dia em ovinos recebendo ração composta exclusivamente por palma forrageira e farelo de soja. Abidi et al. (2009) não observaram diferenças no consumo de MS e nas digestibilidades das dietas de caprinos e ovinos que continham palma ou grão de cevada moído em sua composição. No entanto, os animais que receberam ração contendo cevada apresentaram maior ganho de peso, porém, os autores salientam que pode haver uma melhor relação custo:benefício em favor das dietas que contém palma. Costa et al. (2009) observaram que o uso de palma na dieta em substituição ao milho não alterou a produção de leite por cabras Saanen ou Alpina, embora tenha reduzido a porcentagem de gordura do leite. De maneira semelhante, Rekik et al. (2010) concluíram que a palma pode substituir completamente o grão de cevada em dietas de ovelhas no final de gestação e início de lactação, sem que haja alteração na produção de leite e atividade ovariana, assim como no ganho de peso das crias. Processamento e estratégias de fornecimento Um aspecto que merece atenção é a forma como a palma é processada. Quando a palma é picada em máquina forrageira apropriada a mucilagem é exposta, o que não ocorre quando a palma é picada a faca. Vilela (2009) forneceu a palma forrageira associada ao bagaço de cana e farelo de soja para vacas em lactação e observou maior consumo quando a palma era picada na máquina forrageira quando comparada àquela picada com faca (16,3 vs 15,2 kg/dia, respectivamente), provavelmente devido a maior 10 exposição da mucilagem, proporcionando maior aderência aos outros alimentos que compõem a dieta, reduzindo a seletividade. Os animais que receberam a palma picada com faca tiveram maior oportunidade de seleção, o que causou um desbalanço entre os carboidratos estruturais e não estruturais da dieta, refletindo em menor teor de gordura no leite em relação aos animais alimentados com palma processada em máquina forrageira (36 vs 39 g/kg, respectivamente). Uma prática usual é o fornecimento da palma forrageira para bovinos leiteiros picada no cocho sem a mistura de qualquer outro alimento, enquanto o concentrado, quando utilizado, é oferecido no momento das ordenhas. Pessoa et al. (2004) utilizaram dietas à base de palma forrageira, silagem de sorgo e concentrado, para vacas em lactação, utilizando diversas estratégias de fornecimento. O fornecimento da dieta na forma de ingredientes separados ocasionou o consumo de menores quantidades de silagem de sorgo. Segundo os autores, a mudança na proporção dos alimentos consumidos pode ter alterado as condições ruminais e o equilíbrio no suprimento de nutrientes para os animais, influenciando na resposta produtiva. Yrjämen et al. (2003) também observaram melhor utilização da energia para produção de leite quando a dieta foi fornecida em mistura completa. Essas considerações também são importantes para pequenos ruminantes, especialmente caprinos, que são animais muito seletivos. Essa capacidade seletiva influencia a proporção dos ingredientes e a composição química da dieta consumida. Em conseqüência, a ração efetivamente consumida pode ser diferente da dieta ofertada, como observado por Cavalcanti et al. (2008) ao avaliarem inclusão de palma gigante (Opuntia ficus-indica Mill) e palma orelha-de-elefante (Opuntia stricta) na dieta de caprinos e ovinos. Esses autores verificaram que os animais aumentaram a proporção de palma gigante e diminuíram a de palma orelha-de-elefante, em comparação com a dieta ofertada. Souza (2007) observou que quando a palma éfornecida separadamente dos demais ingredientes da ração, borregas consomem inicialmente a palma e depois procuram o feno e o concentrado, embora o consumo total de matéria seca não seja influenciado pela forma de fornecimento da ração (Souza, 2007; Silva et al., 2009). Fotius (2010) avaliou o efeito da oferta dos ingredientes da dieta de ovinos sobre o consumo e a digestibilidade dos nutrientes, dentre outros parâmetros. Os tratamentos utilizados foram (1) mistura completa às 7:00 h e às 15:00 h (MC); (2) concentrado às 7:00 h e palma às 8:00 h e concentrados às 15:00 h e feno de capim tifton às 16:00 h (CPCF); (3) concentrado às 7:00 h e feno de capim tifton às 8:00 h e 11 concentrado às 15:00 h e palma às 16 h (CFCP); (4) palma às 7:00 h e concentrado às 8:00 h e feno de capim tifton às 15:00 h e concentrado às 16:00 h (PCFC) e (5) feno de capim tifton às 7:00 h e concentrado às 8:00 h e palma às 15:00 h e concentrado às 16:00 h (FCPC). Não houve efeito dos tratamentos sobre consumo de MS, MO, EE, PB, NDT, CHOT, CNF e FDN . No entanto, as digestibilidades de MS, MO, NDT, CHOT e FDN foram maiores para as sequências PCFC e CPCF. O autor concluiu que as diferentes sequências de oferta dos ingredientes não afetam o consumo de nutrientes e o comportamento ingestivo. No entanto, a sequência da oferta de palma e concentrado pela manhã, independente do horário, promove melhor digestibilidade dos nutrientes. Desta forma, é importante que o fornecimento de dietas a base de palma forrageira para vacas em lactação seja realizado na forma de mistura completa (Pessoa et al., 2004). No caso de ovinos, o fornecimento na dieta pode ser tanto na forma de mistura completa, como também com os ingredientes separados (Silva et al., 2009), a escolha dependerá de fatores econômicos. Conclusões A utilização da palma forrageira na alimentação de ruminantes representa a mais importante alternativa de recurso forrageiro para os rebanhos da região semi-árida. No entanto, devem ser observados aspectos relativos ao processamento e ao modo de fornecimento para o animal. A associação com volumosos e outras fontes de nitrogênio é essencial para obtenção de bom desempenho animal. Assim, a adoção dos conhecimentos gerados através da pesquisa pode contribuir para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa região. Bibliografia consultada ABIDI, S.; BEN SALEN, H.; VASTA, V. et al. 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