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COMO RESUMIR Emı´lio E. Kavamura - eek.fae@hotmail.com janeiro 2011 1 Introduc¸a˜o 1Todo estudante, de modo especial os de cursos superiores, e´ solicitado frequentemente a resumir textos e obras, ora como atividade inerente ao pro´prio estudo, ora como trabalho marcado por seus professores. Em sua vida profissional e de intelectual percebera´ que saber resumir e´ uma necessidade e, ao mesmo tempo, um ha´bito que ja´ deveria ter adquirido.... 2 Como encontrar a ide´ia principal E´ preciso ter um propo´sito inicial de leitura, e ler em func¸a˜o dele. Um propo´sito inicial pode ser o de ter uma ide´ia sobre o assunto. Outro pode ser o de tirar a esseˆncia ou o mais importante do que se vai ler. Neste caso, como obter a ide´ia principal? Depende do lugar onde se propo˜e a extra´ı-las se de um cap´ıtulo, de uma secc¸a˜o, ou de um para´grafo. Comecemos pelo para´grafo. Um para´grafo, geralmente, conte´m uma so´ ide´ia principal. Esta e´ a definic¸a˜o de para´grafo. Os autores o sabem e normalmente o praticam. Observando atentamente, notamos que um para´grafo, em geral, comec¸a com uma frase importante. Esta, em seguida e´ explicada, ilustrada, acompanhada de frases adicionais. O final do para´grafo e´ feito com uma frase que o resume. Neste caso, a ide´ia principal esta´ no in´ıcio do para´grafo. Mas nem sempre o autor age desta maneira. A`s vezes, por razo˜es este´ticas, inverte a ordem: deixa a frase principal para o fim. Quando procuramos a ide´ia principal, na˜o busquemos uma orac¸a˜o completa, pois, provavelmente, a ide´ia princial e´ parte da orac¸a˜o. Podemos ate´ resumi-la, com um par de palavras.... A t´ıtulo de ilustrac¸a˜o, suponhamos o seguinte para´grafo. Contra a possibilidade de uma cieˆncia do comportamento ha´ um outro argumento, a propo´sito do qual ao longo dos se´culos, se acumlam uma literatura ampla qua˜o pouco esclarecedora. Refiro-me ao argumento do ”‘livre arb´ıtrio”’: na˜o podemos formular leis relativas ao comportamento humano, porque os seres humanos sa˜o livres para escolher a maneira como ira˜o agir. Reluto em dar atenc¸a˜o mı´nima a essa discussa˜o fu´til, mas a omissa˜o completa poderia ser, suponho eu, chocante; creio que o argumento e´ de importaˆncia especialmente para as cieˆncias do comportamento, que deveriam examina´-lo dos pontos de vista psicolo´gico e sociolo´gico para saber por que e´ ta˜o persistentemente apresentado e porque merece acolhida ta˜o firme. 1Adaptado de SALOMON, D. V..Como fazer uma monografia. Instituto de Psicologia - Universidade Cato´lica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1971. 1 Seguindo as indicac¸o˜es acima e na˜o senso o nosso propo´sito analisar o autor, mas apreender o que ele diz, extrair´ıamos assim a ide´ia principal: Contra a possibilidade de uma cieˆncia do comportamento ha´ o argumento do ”‘livre arb´ıtrio”’: na˜o podemos formular leis de comportamento humano, porque os seres humanos sa˜o livres para escolher a maneira como ira˜o agir. Os exames dos pontos de vista psicolo´gico e sociolo´gico ... Em trechos descritivos, narrativos, de literatura, de ficc¸a˜o, pode acontecer que o principal na˜o se encontre em uma so´ orac¸a˜o ou mesmo que na˜o esteja expl´ıcito. O autor prefere implicita´-lo, formulando frases esteticamente elaboradas. Neste caso temos que fazer um esquema atrave´s do para´grafo. Se quisermos adquirir a habilidade de encontrar o principal em um para´grafo, e´ preciso adquirir o ha´bito de querer sempre encontrar a ide´ia principal em todo o para´grafo que se leˆ. conseguida a frase resumo, confronta´-la com o para´grafo para se ter a certeza de que agiu corretamente. Procurar, tanto quanto poss´ıvel, expressa´-la com as pro´prias palavras. Vejamos agora quando se trata de encontrar a ide´ia principal em algom mais que um para´grafo: em um cap´ıtulo, em uma sec¸a˜o, em uma obra. A primeira coisa a fazer neste caso e´ o exame inicial antes da leitura. Isso se faz percorrendo, com o propo´sito de informac¸a˜o, toda a obra, atrave´s de seu ı´ndice, das partes, dos cap´ıtulos, atentando para os t´ıtulos e subt´ıtulos e procurando captar o esboc¸o ou plano seguido pelo autor. E´ comum os autores dedicarem uma parte introduto´ria ou a parte final para dar a ide´ia principal. Quem escreve, obedece a um plano, desenvolve ide´ias dentro de uma ordem hiera´rquica: a mais geral para todo o trecho e as menos gerais apresentadas logo abaixo desta. Procurando distribuir as ide´ias espec´ıficas pelos para´grafos. Devemos pressupor, portanto, a existeˆncia de um plano e seu desenvolvimento. Em esseˆncia, o de- senvolvimento e´ a fundamentac¸a˜o lo´gica do trabalho, elaborado a partir de um plano: isso e´ valido mesmo quando o trabalho e´ litera´rio, histo´rico, filoso´fico. E´ patente nos trabalhos cient´ıficos e nos livros de texto, quando a finalidade do autor e´ expor, interpretando, explicando, demosntrando: o autor na˜o se preocupa, aqui, em persuadir; apenas em comprovar ou provar uma teoria. O pensador tem que pensar logicamente. Se antes de expor, agiu dentro de um contexto de descobrimento, de investigac¸a˜o - agora, ao desenvolver e expor seu trabalho, age num contexto de justificativa; por isso ele informa - explica - interpreta - analisa - discute - demonstra - prediz. O leitor precisa saber disso e a cada passagem do texto identificar o tipo de atividade do autor.... 3 Como encontrar os detalhes importantes A ide´ia principal e os detalhes importantes esta˜o em estreita relac¸a˜o formando juntos uma estrutura. Um detalhe importante a base da ide´ia principal: Apresenta-se, geralmente, sob a forma de um fato, um conjunto de fatos importantes em relac¸a˜o a` ide´ia principal. Podem funcionar como ar- gumentos e provas da ide´ia principal. Julgar algo como importante e´, muitas vezes, subjetivo. E´ um problema de valor. Mas nos livros de texto, o importante quase sempre esta´ ligado a` ide´ia principal. Se o leitor leˆ com atenc¸a˜o e com intenc¸a˜o de localiza´-la, pode estar seguro de encontra´-la. O autor costuma frisar, atrave´s de sua linguagem e do espac¸o reservado, o que e´ importante para a sua ide´ia principal. A atitude objetiva do leitor que se propo˜e localizar o detalhe importante e´ perguntar-se diante de um trecho: trata-se apenas de um exemplo? Na˜o sera´ parte importante da prova? E´ uma prova a mais?.... Tudo vai depender do propo´sito do leitor. 2 Um propo´sito pode ser avaliar o que se leˆ. Isso e´ muito comum quando se leˆ questa˜o controversa ou assunto que se presta a` discussa˜o e interpretac¸a˜o. Geralmente o autor sabe o que diz. Isso na˜o o impede, entretanto, que se use o senso cr´ıtico. Um leitor jamais pode ser passivo. Quando houver divergeˆncias entre o que ele pensa e o que diz o autor, e´ preciso investigar o ”‘por queˆ”’. Deve indagar quais as provasapresentadas, por que chegou a`quela conclusa˜o, se estava equivocado e ate´ que ponto estava. Avaliando criticamente as ide´ias do autor, facilmente localizaremos as ide´ias principais e os detalhes importantes. Outro propo´sito sera´ o de ler com o objetivo de encontrar aplicac¸a˜o a` vida, a uma situac¸a˜o espec´ıfica. Isso e´ importante para quem se propo˜e fazer da leitura um ha´bito de aprendizagem constante. Esta incumbeˆncia pertence ao leitor, na˜o especificamente ao autor. Cada um sabera´ encontrar o que e´ a resposta exata ou o que e´ importante para seu objetivo, uma vez que iniciou a leitura dentro deste propo´sito. O funfamental, portanto, e´ sempre ler com um propo´sito espec´ıfico. 4 A te´cnica de sublinhar Julga-se que o ha´bito de sublinhar caracteriza o bom leitor. Ha´ um engano grande aqui. Muita gente, desde o momento que comec¸a a ler, comec¸a, tambe´m, a sublinhar o que pensa ser importante. Isso na˜o significa saber ler, nem estudar, nem agir bem em func¸a˜o do propo´sito de captar a ide´ia principal e os detalhes importantes do textopara resumi-lo. E´ um procedimento arbitra´rio de selec¸a˜o de passagens, sem nenhum fundamento para julgar real- mente o que e´ mais importante. O sublinhar tem seu valor, mas a partir de um propo´sito formulado, dentro de um plano pre´vio, no tempo oportuno. E´ preciso em primeiro lugar examinar o cap´ıtulo e formular perguntas sobre ele, procurando res- ponder a elas a` medida que se leˆ. Nesta fase e´ prefer´ıvel na˜o sublinhar. Se achou que ide´ias importantes, detalhes de valor foram localizados, coloque a´ margem um sinal convencional: x, +, ., etc. Depois de terminada a leitura do texto inteiro (cap´ıtulo, sec¸a˜o, etc.) voltar a ler, buscando a ide´ia principal, os detalhes importantes, os termos te´cnicos, as definic¸o˜es, as classificac¸o˜es, as provas. Isso e´ o que deve ser sublinhado. Nesta segunda leitura, na˜o sublinhe as orac¸o˜es. So´ os termos essenciais. Habitue-se a sublinhar depois que releu um ou dois para´grafos, para o devido confronto. Voltando, pense exatamente o que ira´ sublinhar. Use como guia, os sinais que colocou a` margem. Agora sera´ ate´ poss´ıvel mudar de opinia˜o e selecionar com crite´rio mais seguro. Mas deve-se agir de tal forma que relendo o que foi sublinhado se consiga estrutura sinte´tica e significativa do todo que se leu. 5 Como fazer o resumo ... indicac¸o˜es pra´ticas para a elaborac¸a˜o do resumo com finalidade de estudo: 1. Utilize as mesmas te´cnicas que foram apresentadas quando nos ocupamos da captac¸a˜o da ide´ia principal, dos detalhes importantes, das te´cnicas de sublinhar.... 2. Uma te´cnica importante na elaborac¸a˜o do resumo e´ apontar as ide´ias mais importantes, enquanto se leˆ. Depois, atrave´s desses destaques, e´ que faremos um esboc¸o e em seguida o resumo. Muitas vezes a sinopse do in´ıcio do cap´ıtulo, os t´ıtulos e sub-t´ıtulos, a introduc¸a˜o juntamente com o 3 suma´rio no final do cap´ıtulo ajudam muit´ıssimo para o esboc¸o do resumo. Ha´ autores que na˜o colocam resumo no final do cap´ıtulo; 3. Na˜o resuma, antes que tenha tirado notas do conteu´do. Reveja estas notas que funcionara˜o como guias, quando, enta˜o, passara´ a escrever uma se´rie de para´grafos, resumindo o cap´ıtulo. Na˜o e´ uma maneira correta nem produtiva ir resumindo a medida que se leˆ. Geralmente tal te´cnica leva o estudante a extender-seem demasia em seu pretenso resumo. Tambe´m na˜o e´ sempre indicado confiar na memo´ria apenas, sem o indicadores e notas de conteu´do. Quem age desta maneira, a na˜o ser que se trate de trecho pouco extenso, ocorre o risco de esquecer os detalhes importantes; 4. Ao redigir o resumo, use frases curtas e diretas. Redija sempre com o propo´sito de ser conciso e claro. Como resumir 2 Em nossas aulas, temos conversado sobre a importaˆncia do ato da leitura, suas dificul- dades, bem como estrate´gias para supera´-las. A esquematizac¸a˜o e as etapas de ana´lise textual propostas por Severino (2002: 47-61) podem nos auxiliar muito neste caminho. Nesta semana vamos abordar um outro tipo de trabalho acadeˆmico bastante exigido nos cursos de graduac¸a˜o: o resumo. Segundo a NBR 6028/2003 da ABNT (Associac¸a˜o Brasileira de Normas Te´cnicas), um resumo sintetiza os pontos principais de um documento, podendo ser indicativo, infor- mativo ou cr´ıtico. Um resumo informativo e´ detalhado, trazendo informac¸o˜es sobre a finalidade, metodologia e concluso˜es a que chega o autor. Ja´ o resumo indicativo pontua os aspectos principais do texto, mas na˜o detalha informac¸o˜es quantitativas e qualitativas. Por fim, o resumo cr´ıtico, tambe´m chamado de resenha, consiste na ana´lise cr´ıtica de um documento. Para elaborar um resumo se faz necessa´rio, antes de mais nada, uma leitura completa do texto. Durante esta leitura, vamos identificar as passagens mais importantes e as ide´ias principais do autor. E´ conveniente que a cada ide´ia identificada, assinalemos no canto do texto. Depois, em uma leitura mais detalhada, devemos voltar aos pontos assinalados e sublinhar aqueles que forem realmente centrais para o entendimento da tese do autor e do problema abordado no texto. Somente depois desta leitura trabalhada e´ que vamos escrever o resumo. Por se tratar de trabalho de natureza informativa, devemos desenvolver no texto a sequeˆncia lo´gica de ide´ias do autor, que nos levem de seus objetivos iniciais e problematizac¸a˜o ao esclarecimento de sua tese e de sua argumentac¸a˜o. Um resumo desta natureza exige fidelidade ao pensamento do autor, exigindo a reelaborac¸a˜o da mensagem do autor com nossas pro´prias palavras. A menos que estejamos escrevendo um resumo cr´ıtico, na˜o vamos pontuar no texto nossas opinio˜es pessoais. Quanto ao estilo empregado, vale a recomendac¸a˜o de De´lcio Salomon (2001: 114): use frases curtas e diretas. No mais, ale´m da pra´tica constante da te´cnica (somente esta nos levara´ ao aperfeic¸oa- mento da competeˆncia em resumir), fica uma u´ltima sugesta˜o: leia resumos publicados em perio´dicos cient´ıficos de sua a´rea. Ale´m de se familiarizar com novas tendeˆncias em sua a´rea te´cnico-cint´ıfica, voceˆ podera´ comparar os resumos indicativos elaborados pelos pro´prios autores com o teor do artigo, verificando assim o que e´ importante levar para o papel quando se resume um texto. 2Gonc¸alves, Jose´ Artur Teixeira Como resumir. Dispon´ıvel em: http://metodologiadapesquisa.blogspot.com/ 2008/ 03/ como-resumir.html. Acesso em 26 janeiro 2009. 4
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