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DOCÊNCIA EM SAÚDE PSICODIAGNÓSTICO 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842p Psicodiagnóstico / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 243p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-66104-37-0 1. Psicologia. 2. Psicodiagnóstico. I. Portal Educação. II. Título. CDD 616.89075 2 SUMÁRIO 1 O PSICODIAGNÓSTICO ........................................................................................................... 6 1.1 ORIGEM E HISTÓRICO DO PSICODIAGNÓSTICO ................................................................. 6 1.2 DEFINIÇÕES ............................................................................................................................. 14 1.3 SINTETIZANDO ........................................................................................................................ 19 1.3.1 Pontos fundamentais do Psicodiagnóstico ................................................................................ 19 1.3.2 Momentos da avaliação ............................................................................................................. 20 1.3.3 Prática do Psicodiagnóstico ....................................................................................................... 20 1.4 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 21 2 QUESTÕES IMPORTANTES NO PSICODIAGNÓSTICO ........................................................ 32 2.1 O PROBLEMA ........................................................................................................................... 32 2.2 SINAIS E SINTOMAS ................................................................................................................ 35 2.3 MOTIVO DA CONSULTA .......................................................................................................... 38 2.4 SINTETIZANDO ........................................................................................................................ 38 2.5 AVALIAÇÃO DA PSICOPATOLOGIA ........................................................................................ 41 3 PASSOS DO PROCESSO DIAGNÓSTICO/OPERACIONALIZAÇÃO DO PROCESSO ......... 42 3.1 FORMULAÇÃO DE PERGUNTAS ............................................................................................ 43 3.2 CONTRATO DE TRABALHO .................................................................................................... 45 3.3 ESTABELECIMENTO DE UM PLANO DE AVALIAÇÃO ........................................................... 47 3.4 BATERIA DE TESTES .............................................................................................................. 49 3.5 ADMINISTRAÇÃO DE TESTES E TÉCNICAS .......................................................................... 53 3.6 LEVANTAMENTO, ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE DADOS .................... 55 3 3.7 DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO .......................................................................................... 59 3.8 COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS NA ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO ........................... 61 3.9 ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO ............................................................................................... 67 3.9.1 Recomendações ........................................................................................................................ 67 3.9.2 Pontos importantes a frisar ........................................................................................................ 70 4 ENTREVISTA DIAGNÓSTICA INICIAL .................................................................................... 73 4.1 DEFINIÇÕES ............................................................................................................................. 73 4.2 PRIMEIRO CONTATO COM O PACIENTE .............................................................................. 74 4.3 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 79 4.4 PRINCIPAIS REGISTROS ........................................................................................................ 83 5 ENQUADRE NO PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO ............................................................. 84 6 O PROCESSO DIAGNÓSTICO NA INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E IDADE ADULTA .......... 88 6.1 HISTÓRIA DO EXAMINANDO .................................................................................................. 88 6.2 ENTREVISTA INICIAL NO PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL ................................................. 108 6.3 TESTES QUE PODEM SER UTILIZADOS NO PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL .................. 114 6.4 FANTASIAS SOBRE A DOENÇA............................................................................................. 115 6.5 ESCOLHA DA ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA ADEQUADA ................................................... 116 7 ENTREVISTAS, TESTES E EXAME DO ESTADO MENTAL .................................................. 118 7.1 ENTREVISTA ........................................................................................................................... 120 7.1.1 Tipos de entrevistas.................................................................................................................. 129 7.1.2 Outros tipos de entrevistas ....................................................................................................... 132 7.2 EXAME DO ESTADO MENTAL................................................................................................ 133 7.2.1 Descrição geral ......................................................................................................................... 133 7.2.2 Humor e afeto ........................................................................................................................... 134 4 7.2.3 Características do discurso ...................................................................................................... 136 7.2.4 Percepção ................................................................................................................................ 136 7.2.5 Sensório e cognição ................................................................................................................. 139 7.2.6 Impulsividade ............................................................................................................................ 143 7.2.7 Discernimento e insight ............................................................................................................ 144 7.2.8 Confiabilidade ........................................................................................................................... 144 8 ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOSDECORRENTES DE AVALIAÇÕES PSICOLÓGICAS ................................................................................................................................ 187 8.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES NA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS ................................ 188 8.2 PRINCÍPIOS TÉCNICOS DA LINGUAGEM ESCRITA ............................................................ 188 8.3 PRINCÍPIOS ÉTICOS E TÉCNICOS ........................................................................................ 189 8.3.1 Princípios éticos ....................................................................................................................... 189 8.3.2 Princípios técnicos .................................................................................................................... 189 8.4 MODALIDADES DE DOCUMENTOS ....................................................................................... 190 8.5 LAUDO PSICOLÓGICO OU PERICIAL .................................................................................... 190 8.5.1 Conceito e finalidade do Laudo Psicológico ou Pericial ............................................................ 190 8.5.2 Estrutura ................................................................................................................................... 191 8.6 RELATÓRIO PSICOLÓGICO ................................................................................................... 192 8.6.1 Conceito e finalidade do Relatório Psicológico ......................................................................... 192 8.6.2 Estrutura ................................................................................................................................... 192 8.7 PARECER ................................................................................................................................ 195 8.7.1 Conceito e finalidade do Parecer .............................................................................................. 195 8.7.2 Estrutura ................................................................................................................................... 195 8.8 DECLARAÇÃO ......................................................................................................................... 197 5 8.8.1 Conceito e finalidade da Declaração ....................................................................................... 197 8.8.2 Estrutura .................................................................................................................................. 197 8.9 ATESTADO PSICOLÓGICO .................................................................................................... 198 8.9.1 Conceito e finalidade do Atestado Psicológico ......................................................................... 198 8.9.2 Estrutura ................................................................................................................................... 198 8.10 VALIDADE DOS DOCUMENTOS ............................................................................................ 199 8.11 GUARDA DOS DOCUMENTOS E CONDIÇÕES DE GUARDA ............................................... 200 9 ASPECTOS ÉTICOS IMPLICADOS NO PSICODIAGNÓSTICO ............................................. 201 9.1 COMPORTAMENTOS ESPECÍFICOS DO PSICÓLOGO EM UM PSICODIAGNÓSTICO ...... 201 9.2 COMPETÊNCIAS QUE O AVALIADOR DEVE TER ................................................................ 202 9.3 GUIA DE RESPONSABILIDADE ÉTICA E PROFISSIONAL.................................................... 206 9.4 RESOLUÇÕES DO CRP REFERENTES À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ............................... 208 9.5 DISPOSITIVOS QUE DEVEM SER OBSERVADOS PELO PSICÓLOGO NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ................................................................................................................................... 209 9.6 RESPONSABILIDADE DO DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO ................................................... 210 10 RESOLUÇÕES NA ÍNTEGRA ................................................................................................. 212 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 240 6 1 O PSICODIAGNÓSTICO 1.1 ORIGEM E HISTÓRICO DO PSICODIAGNÓSTICO Para que entendamos melhor o que significa o Psicodiagnóstico precisamos saber um pouco sobre o diagnóstico e avaliação diagnóstica. A palavra diagnóstico origina-se do grego diagõstikós e significa conhecimento (efetivo ou em confirmação) sobre algo, ao momento do seu exame; ou descrição minuciosa de algo, feita pelo examinador, classificador ou pesquisador; ou ainda juízo declarado ou proferido sobre a característica, a composição, o comportamento, a natureza etc. de algo, com base nos dados e/ou informações deste obtidos por meio de exame, ou seja, discernimento, faculdade de conhecer. Utiliza-se este termo para referir-se à possibilidade de conhecimento que vai além daquela que o senso comum pode dar, ou seja, a possibilidade de significar a realidade fazendo uso de conceitos, noções e teorias científicas. Segundo Ancona-Lopez (2002), Psicodiagnóstico pode ser conceituado como: Um processo de intervenção; Intervir é meter-se de permeio, estar presente, assistir, interpor os seus bons ofícios; Meter-se de permeio indica a atuação, posição ativa de alguém que interfere, que se coloca entre pessoas, que de algum modo estabelece um elo, uma ligação; Estar presente parece indicar uma posição, alguém a quem se pode recorrer e que está inteiro na situação; Assistir indica ajudar, cuidar, apoiar; Interpolar os seus bons ofícios indica ação de quem tem algum preparo em determinada área e põe seus conhecimentos à disposição de quem dele necessita ou ação de quem acredita no que faz. 7 Quanto à avaliação diagnóstica, podemos dizer que ela é mais ampla que o psicodiagnóstico, e seus objetos de estudo podem ser um sujeito, um grupo, uma instituição, uma comunidade; daí a importância dos trabalhos interdisciplinares já que o objeto a avaliar é sempre um sistema complexo, integrado por subsistemas diversos: como o biológico, psicológico, social, cultural, em interação permanente. Percebemos que o Psicodiagnóstico é apenas uma parte da avaliação diagnóstica. O Psicodiagnóstico derivou da Psicologia Clínica, introduzida, segundo Cunha (2003) por Lighter Witmer em 1896, e criada sobre a tradição da psicologia acadêmica e da tradição médica. Mas de acordo com Fernández-Ballesteros (1986), a paternidade do psicodiagnóstico também é atribuída a três autores, que deram os primeiros passos nos estudos sobre Psicodiagnóstico lançados no final do século XIX e no início do século XX: Galton, que introduziu os estudos da diferenças individuais; Cattell, a quem se devem as primeiras provas chamadas de testes mentais; Binet, que propôs a utilização dos exames psicológicos por meio de medidas intelectuais. O Psicodiagnóstico surgiu como consequência do advento da psicanálise, que ofereceu novo enfoque para o entendimento e a classificação dos transtornos mentais; anteriormente, o modelo para o estudo das doenças mentais remontava ao trabalho de Kraepelin VOCÊ SABIA? Enquanto os psicólogos em geral realizam avaliações, os psicólogos clínicos entre outras tarefas realizam psicodiagnósticos. Pode-se dizer que a avaliação psicológica é um conceito muito amplo. Psicodiagnósticoé uma avaliação diagnóstica, feita com propósito clínico e, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais (CUNHA, 2004). 8 e outros, e as suas tentativas para estabelecer critérios de diagnóstico diferencial para a esquizofrenia. Como discutiremos logo adiante, no período anterior a Freud, o enfoque do transtorno mental era nitidamente médico, onde os pacientes de interesse para ciência médica apresentavam quadros graves, estavam hospitalizados, e eram identificados apenas sinais e sintomas que compunham as síndromes. Mas já no período Freudiano, os pacientes atendidos não apresentavam quadros tão severos, não estavam internados, e embora fossem levados em conta os seus sintomas, estes eram percebidos de maneira compreensiva e dinâmica. Ocampo (1981) faz um panorama sobre alguns modelos que seguiu o processo de psicodiagnóstico ao longo do tempo: Modelo Médico: aqui é sintetizada a distância do paciente, a falta de identidade do psicólogo, onde o mais importante seria aplicar testes e mandar relato a outro profissional. Modelo da Psicanálise: marco de referência, influência no estudo da personalidade, mas é diferente pela sua metodologia própria. Diagnóstico de tipo compreensivo: o importante aqui seria encontrar sentido, relevância e significativo e entrar em contato. (...) tomar aquilo que é relevante e significativo na personalidade, entrar empaticamente em contato emocional e, também conhecer os motivos profundos da vida emocional de alguém (...) (TRINCA, 1984). Diagnóstico interventivo: aqui, segundo Ancona-Lopes (1984), seria enfatizada a impossibilidade de separação entre as fases de avaliação e intervenção. Até algum tempo o processo Psicodiagnóstico era considerado, como uma situação em que o psicólogo apenas aplicava testes em alguém. De acordo com Ocampo (1981), ele então cumpria uma solicitação seguindo os passos e utilizando os instrumentos indicados por outros profissionais, quase sempre da área médica (psiquiatra, pediatra, neurologista). Assim, o psicólogo atuava como alguém que aprendeu a aplicar testes e esperava que o paciente colaborasse. 9 Percebe-se que as origens da avaliação psicológica e do Psicodiagnóstico se deram sob uma tradição da medicina e da psicologia acadêmica, de orientações tanto comportamentalistas ou psicanalistas, predominantemente, que seguiam estratégias de avaliação comportamental, ou seja, identificação de comportamentos-alvo, ou por uma orientação conceitual buscando uma visão de homem específica, segundo as diretrizes de uma comunidade acadêmica. Assim, percebemos a ênfase dada ao aspecto do sujeito em sofrimento, disfuncional ou em desajuste com um ideal de saúde e normalidade. Além do que citamos anteriormente, a avaliação psicológica perpassaria também a psicometria, que tinha como métodos principais a aplicação de testes psicológicos estruturados ou de testes projetivos. Não esquecendo também no percurso dessas origens o uso de entrevistas psicológicas, herdada pela psiquiatria. Cunha (2003) deixa claro que tanto o uso de testes quanto o de entrevistas dirigidas para a identificação de sinais e sintomas seriam enfatizados, voltados para uma perspectiva de saúde dissociada da doença ou do psicopatológico. Psicodiagnóstico do francês psychodiagnostic e do inglês psychodiagnosis significa um diagnóstico fundamentado no estudo dos sintomas puramente psíquicos de um doente mental. Esse diagnóstico psicológico busca uma forma de compreensão situada no âmbito da Psicologia, sendo uma das funções exclusivas do psicólogo garantidas pela Lei nº 4119 de 27/08/62, que dispõe sobre a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. A seguir, apresentaremos um breve histórico pra que se entenda melhor como se deram os principais acontecimentos que originaram a Avaliação Diagnóstica ou mais especificamente o Psicodiagnóstico, de acordo com Alchieri e Cruz (2004): 1836 –1930: período em que houve muitas produções médico-científicas e acadêmicas; 1905: Binet apresentou o teste de inteligência; 1906: Jung com o teste de associação de palavras; 1921: Hermann Rorschach publicou seu teste de manchas de tinta; 1930-1962: estabelecimento e difusão da psicologia no ensino das universidades; 1960: a Psicologia se caracteriza pela regulamentação dos cursos de formação (graduação) e a consequente expansão do ensino de psicologia no Brasil. 10 1962-1970: criação dos cursos de graduação em psicologia; mais exatamente em 1962, há a regulamentação da profissão por meio da lei nº4119; 1970-1987: implantação dos cursos de pós-graduação; 1974: criação do Conselho Federal de Psicologia e dos Conselhos Regionais de Psicologia pela Lei 5.766; 1987: emergência dos laboratórios de pesquisa em avaliação psicológica. Voltando ao termo Psicodiagnóstico, Cunha (2003) diz que ele foi utilizado pela primeira vez por Hermann Rorschach quando publicou em 1921 seu teste de manchas de tinta. O teste de Rorschach seria uma prova psicológica projetiva desenvolvida pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach, consistindo em dar possíveis interpretações a dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas obtidas pode-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo. As pranchas do teste, desenvolvidas por Rorschach, são sempre as mesmas. No entanto, para a codificação e a interpretação, diferentes sistemas são utilizados. Esse teste alcançou grande admiração e popularidade durante as décadas de 40 e 50 por ser considerado um passo essencial no psicodiagnóstico e pelo fato de que os dados gerados pelo método eram compatíveis com os princípios básicos da teoria psicanalítica. Cunha (2003) deixa bem claro que a contribuição da psicometria foi essencialmente importante para garantir a cientificidade dos instrumentos psicológicos, e assim essa tradição psicométrica foi fundada e sedimentada pela difusão das escalas de Binet. Essa escala apresentou em 1905 o teste de inteligência para separar crianças com retardo mental, seguidas pela criação dos testes do exército americano, alfa e beta; em 1906 ocorreu o primeiro teste coletivo para selecionar recrutas. Assim, de acordo com Groth-Marnat (1999), percebe-se a necessidade de diferenciar o psicometrista do psicólogo clínico, estabelecendo a seguinte diferença: o primeiro tende a 11 valorizar os aspectos técnicos da testagem; ele utiliza testes para obter dados e em sua abordagem o produto final é muitas vezes uma série de traços ou descrições de capacidades; enquanto o segundo utiliza testes e outras estratégias, para avaliar o sujeito de forma sistemática, científica, orientada para resolução de problemas. Essa época foi marcada por descobertas na biologia como a tentativa da correlação de síndromes clínicas com modificações morfológicas observadas na autopsia. Com isso, a biologia forneceu muitos dados à medicina, o que levou a psiquiatria a buscar as causas da doença mental no organismo e em especial no sistema nervoso central. A consequência disso foi que os pacientes ao invés de lunáticos – assim como eram chamados, passaram a ser considerados neuróticos. Nessa época acontece a divisão dicotômica dos transtornos psiquiátricos, em orgânicos e funcionais. Foi nessa escala pré-dinâmica da psiquiatria que surgiu Kraepelin, que se notabilizou por seu sistema de classificação dos transtornos mentais e, especialmente, por seus estudos diferenciais entre esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva. Em consequência,as classificações nosológicas e o diagnóstico diferencial ganharam ênfase. Desse período em diante temos Freud com suas obras que representaram o primeiro elo de uma corrente de conteúdo dinâmico, seguida por Jung em 1906 com o teste de associação de palavras. E como já citamos anteriormente segue-se com Rorschach, em 1921, com seu teste com tintas. Nessa época começam a se multiplicar as técnicas projetivas, os testes de personalidade, como o teste da figura humana (HTP), o Szondi, o MPAs e outros; além do Rorschach e o Teste de Apercepção Temática (TAT), que eram os mais usados na época. E como tudo se modifica no decorrer do tempo, nessa mesma época algumas técnicas projetivas começaram a apresentar certo declínio em seu uso, passaram a apresentar problemas metodológicos, pelo incremento de pesquisas com instrumentos alternativos, também por estarem associadas a determinadas correntes como a psicanalítica e por interpretações intuitivas, apesar do esforço para a criação do escores. De acordo com Cunha (2003), atualmente, há indiscutível ênfase no uso de instrumentos mais objetivos e entrevistas diagnósticas mais estruturadas, notadamente com o incremento no desenvolvimento de avaliações computadorizadas de personalidade que vêm oferecendo novas estratégias neste campo. Também, as necessidades de manter um embasamento científico para o psicodiagnóstico, compatível com os progressos em outros ramos da ciência, têm levado ao desenvolvimento de novos instrumentos mais precisos, 12 especialmente após o advento do DSM-IV e de baterias padronizadas, que permitem nova abordagem na área diagnóstica da neuropsicologia, constituída pela confluência da psicologia clínica e da neurologia comportamental. Apesar de todas essas oscilações, podemos concluir que o campo da avaliação psicológica tem feito contribuições de suma importância para a teoria, prática e pesquisa clínica. Não deixando de focar a questão que algumas etapas que têm que ser revistas e analisadas para que ele continue alcançando seus objetivos. Uma delas é considerar que o reconhecimento da qualidade do Psicodiagnóstico tem que ter, em primeiro lugar, um refinamento dos instrumentos e, em segundo lugar, o psicólogo deve lançar mão de estratégias de marketing para aumentar a utilização dos serviços de avaliação pelos receptores de laudos. Outra questão é que muitas vezes, os psicólogos competentes acabam por fornecer uma grande quantidade de informações inúteis para as fontes de encaminhamento, por falta de uma compreensão adequada das verdadeiras razões que motivaram o encaminhamento ou, em outras palavras, por desconhecimento das decisões que devem ser tomadas com base nos resultados do Psicodiagnóstico. Diante dessas questões devem-se conhecer as necessidades do mercado e de desenvolver estratégias de conquistas desse mercado. E onde está esse mercado? Primeiramente, o psicólogo que lida com psicodiagnósticos exerce suas funções numa instituição que presta serviços psiquiátricos ou de medicina geral, num contexto educacional ou legal; ou numa clínica ou consultório psicológico, em que o psicólogo recebe encaminhamento principalmente de psiquiatras, de outros médicos (pediatras, neurologistas, etc.), da comunidade escolar (de orientadores, professores, etc.), de juízes, de advogados; ou atende casos que procuram espontaneamente um exame; ou são recomendados por algum familiar ou amigo. 13 É, pois, responsabilidade do clínico manter canais de comunicação com os diferentes tipos de contextos profissionais para os quais trabalha, familiarizando-se com a variabilidade de problemas com que se defrontam e conhecendo as diversas decisões que os mesmos pressupõem. Mais do que isto: deve determinar e esclarecer o que dele se espera, no caso individual. Esta é uma estratégia de aproximação, que lhe permitirá adequar seus dados às necessidades das fontes de encaminhamento, de forma que seus resultados tenham o impacto que merecem e o Psicodiagnóstico receba o crédito a que faz jus. (CUNHA, 2003). Arzeno (1995) afirma que o Psicodiagnóstico atualmente está se recuperando de uma época em que praticamente caiu no descrédito da maioria dos profissionais da saúde mental. Hoje, talvez, percebamos o verdadeiro sentindo do Psicodiagnóstico e percebamos a importância do profissional que realiza essa avaliação. CONCLUINDO! Agora que já nos situamos um pouco mais sobre onde o psicólogo clínico trabalha e qual é a clientela dele, podemos perceber que a principal dificuldade desse profissional é quando se defronta com questões como um encaminhamento, pois embora um encaminhamento seja feito porque a pessoa necessita de subsídios para basear uma decisão para resolver um problema, muitas vezes ela não sabe claramente que perguntas levantar ou, por razões de sigilo profissional, faz um encaminhamento vago para uma avaliação psicológica. E isso acarreta algumas consequências a quem encaminhou, pois o psicólogo aceita silenciosamente tal encaminhamento, e realiza um psicodiagnóstico, cujos resultados não são pertinentes às necessidades da fonte de solicitação. 14 Como vamos ver nos objetivos, um bom diagnóstico clínico está na base da orientação vocacional e profissional, do trabalho com peritos forenses ou trabalhistas, etc., e se o psicólogo é consultado é porque existe um problema, alguém sofre ou está incomodado e deve indagar a verdadeira causa disso. Outra questão que ainda persiste atualmente, segundo alguns autores, é a tendência das duas grandes categorias, ou seja, os pacientes são agrupados em duas grandes categorias de transtornos. Pacientes que apresentam transtornos mais graves e que podem precisar de hospitalização tendem a ser encaminhados para psiquiatras, enquanto os casos menos graves costumam ser encaminhados para psicólogos ou psiquiatras, de acordo com o conceito de transtorno mental e da avaliação da gravidade dos sintomas pela pessoa que identifica o problema e faz o encaminhamento. 1.2 DEFINIÇÕES O Psicodiagnóstico, segundo alguns autores, é uma área da Psicologia que tem por finalidade básica o desenvolvimento e a aplicação das técnicas de diagnóstico psicoterapêuticas (entrevistas, testes, técnicas projetivas e a observação diagnóstica) para a identificação e tratamento de distúrbios do comportamento. De acordo com Ancona-Lopez (1995), o Psicodiagnóstico é realizado com tempo limitado, buscando descrever e compreender a personalidade total do paciente, abrangendo, assim, aspectos atemporais; desta forma, pode-se dizer que, um de seus objetivos é direcionar o trabalho terapêutico. 15 Cunha (2003, p. 26) é bem enfático quando diz que o Psicodiagnóstico É um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicodiagnósticos (input), em nível individual ou não, seja para atender problemas a luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja por classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções. Ele pode também ser conceituado como um processo que visa a identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com um foco na existência ou não da psicopatologia. Ou um estudo profundo da personalidade, do ponto de vista fundamentalmente clínico, onde quando o objetivo do estudoé outro como trabalhista, educacional, forense, etc.; o Psicodiagnóstico clínico é anterior e serve de base para as conclusões necessárias nessas outras áreas. Não podemos esquecer que devido ao grande número de teorias existentes, a atuação do psicólogo varia consideravelmente e com isso o próprio uso do termo Psicodiagnóstico varia também podendo ser chamado de diagnóstico psicológico, diagnóstico da personalidade, estudo de caso ou avaliação psicológica. Trinca (1984) diz que na avaliação psicológica houve uma procura de integração das diversas abordagens e quando olhamos para a Psicologia Clínica, podemos verificar que houve grandes variações de conhecimentos e atuações, e, portanto, na prática do Psicodiagnóstico, temos também várias formas de atuação, muitas das quais não podem ser consideradas decorrentes de exclusivamente uma ou outra abordagem. Hoje, muitas abordagens em Psicologia partem de pressupostos e métodos diferentes, mas concordam que para se compreender o homem é necessário organizar conhecimentos que digam respeito à sua vida biológica, intrapsíquica e social, não sendo possível excluir nenhum desses horizontes. Segundo Cunha (1993), Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, no qual se realiza uma avaliação psicológica, por meio de testagem. A realização dos testes possui propósitos clínicos e são definidos durante a realização do diagnóstico. 16 Que fique claro que o Psicodiagnóstico é um procedimento científico que necessariamente utiliza testes científicos, diferentes da avaliação psicológica na qual o psicólogo pode ou não utilizar esses instrumentos. Ele é caracterizado como um processo científico, por que deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou infirmadas por meio de passos predeterminados e com objetivos precisos, sendo assim – segundo Cunha (2003) – limitado no tempo, baseado num contrato de trabalho entre paciente ou responsável e o psicólogo, tão logo os dados iniciais permitam estabelecer um plano de avaliação e uma estimativa de tempo necessário, ou seja, o número aproximado de sessões para a realização do exame. Ocampo e Arzeno (apud SANTIAGO, 2002) caracterizam o Psicodiagnóstico como uma prática bem delimitada, cujo objetivo é obter uma descrição e compreensão, a mais profunda e completa possível da personalidade total do paciente ou do grupo familiar, abarcando aspectos passados, presentes (diagnósticos) e futuros (prognóstico) dessa personalidade. Uma vez obtido um panorama preciso e completo do caso, incluindo aspectos patológicos e adaptativos, trataremos de formular recomendações terapêuticas adequadas como terapia breve e prolongada, individual, de casal, de família, grupal, com qual frequência; se é recomendável um terapeuta homem ou mulher, se a terapia pode ser analítica ou de orientação analítica ou então outro tipo de terapia, e se é necessário um tratamento medicamentoso paralelo. VOCÊ SABIA! Segundo alguns dicionários, Psicodiagnóstico (psico+diagnóstico) pode ser conceituado como conhecimento de sintomas psíquicos; determinação de capacidades, aptidões e tendências psicológicas, por meios clínicos e experimentais. 17 Enfatizando o que dissemos acima, o processo Psicodiagnóstico, segundo Ocampo (1981) pode ser visto como uma situação com papéis bem definidos e com um contrato no qual o cliente pede uma ajuda, e o psicólogo aceita o pedido e se compromete a satisfazê-lo na medida de suas possibilidades. Ela ainda caracteriza o processo como uma situação bipessoal, de duração limitada, cujo objetivo é conseguir uma descrição e compreensão profunda, e a mais completa possível, da personalidade total do paciente ou do grupo familiar, enfatizando a investigação de algum aspecto em particular, segundo a sintomatologia e as características da indicação. Ocampo (1981) também enfatiza alguns aspectos profissionais do Psicólogo que atrapalhavam a atuação desse profissional: um deles era a falta de identidade sólida, fazendo com que este não soubesse qual era seu verdadeiro trabalho dentro das ocupações ligadas à saúde mental. Isso se devia ao modelo similar ao do médico clínico que, para proceder com eficiência e objetividade, tomava a maior distância possível em relação a seu paciente a fim de estabelecer um vínculo afetivo que não lhe impedisse de trabalhar com a tranquilidade e objetividade necessárias; assim, os testes eram utilizados como um escudo entre o profissional e o paciente, como se eles constituíssem em si mesmos o objetivo do Psicodiagnóstico, evitando dessa forma pensamentos e sentimentos que mobilizassem afetos. Ancona-Lopez (2002) também cita esse distanciamento quando fala da visão clássica do Psicodiagnóstico, onde era recomendada uma atitude de neutralidade, o que leva a certo distanciamento do profissional, para facilitar as manifestações inconscientes do cliente; recomendava-se também que os contatos com o psicólogo durante o Psicodiagnóstico não se estendessem além do necessário, a fim de evitar o desenvolvimento de uma relação transferencial que exigiria outro tipo de atendimento. Alguns profissionais buscaram uma aproximação autêntica com o paciente, no entanto, tiveram que abandonar o modelo médico sem estarem preparados para isso. Assim o tempo passou e com a difusão da Psicanálise os psicólogos optaram por aceitá-la como modelo de trabalho, o que trouxe progressos e ao mesmo tempo uma nova crise de identidade no psicólogo, uma vez que este se esqueceu que a dinâmica do processo psicanalítico era muito diferente da dinâmica do processo Psicodiagnóstico. Como já se percebeu o Psicodiagnóstico está vinculado com a clínica, envolvendo temas de interesse clínicos, tais como nosologias psicopatológicas, critérios de saúde psíquica, enfoques patogênicos e saudáveis. Logo, diagnosticar supõe situarmo-nos no plano do processo 18 saúde e doença e poder determinar em que medida se está ou não em presença de uma patologia ou transtorno que necessita de um determinado tipo de intervenção. FONTE: Disponível em: < http://www.nhbar.org/uploads/images/BarExamBlueBook.jpg >. Acesso em: 10 ago. 2011. Ao caracterizarmos mais o Psicodiagnóstico pode-se dizer que de acordo com Cunha (2003) e outros autores, o plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses iniciais, definindo-se não só quais os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los. Os psicólogos devem saber quais instrumentos são eficazes, quais instrumentos podem ser eficientes, se aplicados com propósitos específicos, para fornecer respostas a determinadas perguntas ou testar certas hipóteses. Assim, percebemos que o psicólogo deve conhecer os diferentes instrumentos de avaliação psicológica, dominando quais instrumentos são eficientes e quais instrumentos fornecem respostas a determinadas perguntas ou testam hipóteses. O Psicodiagnóstico possui um fim em si mesmo, mas é também um meio para outro fim, ou seja, a finalidade é conhecer alguém de forma mais profunda possível. Conclui-se que o Psicodiagnóstico é um diagnóstico psicológico, realizado utilizando metodologia específica após solicitação ao psicólogo, com objetivo de clarificar alguma dúvida ou dificuldade no tratamento de um paciente. Ele é realizado utilizando entrevistas (inicial, anamnese, etc.) e aplicação de testes psicológicos para confirmar ou descartar hipóteses levantadas durante as entrevistas. Ele inclui, além das entrevistas iniciais, os testes, a hora de 19 jogocom crianças, entrevistas familiares, vinculares, etc. As conclusões de todo o material obtido são discutidas com o interessado, com seus pais, ou com a família completa, conforme o caso e o sistema do profissional. 1.3 SINTETIZANDO 1.3.1 Pontos fundamentais do Psicodiagnóstico O cliente deve ser visto como uma totalidade vertical (passado) e horizontal (presente), ou seja, cada pessoa é sua própria história e esta história deve estar aqui e agora presente; PSICODIAGNÓSTICO O PRIMEIRO PASSO EM DIREÇÃO AO EQUILÍBRIO O Psicodiagnóstico é uma avaliação de base científica que tem por objetivo uma investigação minuciosa do comportamento dos indivíduos, envolvendo não só seus sintomas, mas também suas possibilidades para superá-los. É por meio deles que sabemos qual é o problema que nos aflige e qual a melhor maneira de tratá-lo. Logo, o Psicodiagnóstico é o primeiro passo na direção do equilíbrio psicológico de crianças, adolescentes e adultos que buscam um tratamento seguro. 20 É preciso que se faça e refaça a matriz individual e familiar do cliente: onde vive, de onde ele vem, para onde vai, no seu contexto total; Seu sistema de comunicação consigo e com o mundo deve ser avaliado; Verificação contínua e cuidadosa de como ele faz ou diz as coisas; Observar o aspecto relacional terapeuta/cliente. 1.3.2 Momentos da avaliação Planejamento do diagnóstico psicológico: identificar o problema, escolher ou construir o instrumental psicométrico adequado, logística a seguir na execução; Resultado do Psicodiagnóstico (interpretação e integração dos dados); Comunicação dos dados. 1.3.3 Prática do Psicodiagnóstico Consultório; Contexto hospitalar - atendimento e pesquisa; Área forense; Instituições; Situações especiais; Educação; Trabalho. 21 1.4 OBJETIVOS Cunha (1993) define que o objetivo do Psicodiagnóstico abrange a compreensão de problemas com base em pressupostos teóricos, identificação e avaliação de aspectos específicos ou classificação do caso e possível previsão de seu curso, comunicando, ao final do trabalho, os resultados obtidos. Ele aponta para alguns possíveis usos do Psicodiagnóstico, o que vai depender das instituições requerentes e dos objetivos a serem alcançados. Seu uso pode ter um ou vários objetivos, dependendo das perguntas ou hipóteses inicialmente formuladas. Dependendo da simplicidade ou da complexidade das questões propostas, variam os objetivos. Então podemos classificar os objetivos de uma avaliação psicológica clínica, segundo Cunha (1993), como: Classificação simples: especificamente podemos dizer que aqui o exame compara amostras do comportamento da pessoa que está sendo examinada com os resultados de outros sujeitos ou grupos específicos, com condições demográficas equivalentes, onde esses resultados são fornecidos em dados quantitativos, sendo classificados sumariamente, como em uma avaliação de nível intelectual. Percebemos que nesse tipo de avaliação psicológica compara-se o sujeito a médias levantadas a partir de outros sujeitos da população. As questões ou perguntas mais elementares que podem ser formuladas em relação a uma capacidade, um traço, um estado emocional, seriam: “Quanto?” ou “Qual?” Um exemplo comum de exame com tal objetivo seria o de avaliação do nível intelectual, que permitiria uma classificação simples. O examinando é submetido a testes, adequados à sua idade e nível de escolaridade. São levantados escores, consultada tabelas e os resultados são fornecidos em dados quantitativos, classificados sumariamente. (CUNHA, 2003, p. 26). 22 É muito importante que o profissional escolha os objetivos adequados a serem utilizados no processo de Psicodiagnóstico, pois não podemos deixar de observar que se o profissional se detém apenas a este objetivo de classificação simples, seu trabalho seria caracterizado mais como o de um psicometrista do que um psicólogo clínico, pois como este tipo de objetivo se restringe a classificações quantitativas, utilizar-se-ia de testes. Mas como o psicólogo clínico dificilmente perde a referência de sujeito ou da pessoa do examinando, raramente ele se restringiria a este objetivo, mesmo por que analisaria escores dos subtestes, diferenças inter e intrateste que são suscetíveis de interpretação. Ao fazer todas estas interpretações, identificaria forças e fraquezas no funcionamento intelectual, aí já entraria no objetivo que citaremos a seguir, que é o de descrição. Descrição: esse tipo de avaliação ultrapassa a classificação simples, interpretando diferenças de escores, identificando forças e fraquezas e descrevendo o desempenho do paciente, como em uma avaliação de deficits neuropsicológicos. Observamos que essa classificação tem um valor mais interpretativo acerca dos escores levantados em testes, buscando identificar o desempenho do sujeito. REFORÇANDO! Quando falamos que são levantados escores queremos dizer que se obtém um valor quantitativo obtido pela soma ou total de pontos creditados a um indivíduo em situação de prova ou teste. 23 Um exemplo de objetivo focado pela maioria dos autores na descrição seria o exame do estado mental, geralmente realizado sem a administração de testes, não sendo, portanto, de uso exclusivo do psicólogo, ou seja, outros profissionais de saúde podem manejá-lo. Esse exame pode ser conceituado como o processo por meio do qual o profissional que trabalha com saúde mental (geralmente psiquiatras e psicólogos) examina sistematicamente o estado mental de um paciente. Esse exame é subjetivo e muito comum na rotina em clínicas psiquiátricas, ou melhor, ele é subjetivo e baseia-se em informações dadas pelo paciente e em observações de seu comportamento. Muitas vezes ele é completado por um exame objetivo. Nesse recurso diagnóstico explora-se a presença de sinais e sintomas, eventualmente utilizando provas muito simples, não padronizadas, para uma estimativa sumária de algumas funções, como a consciência, inteligência, orientação, atenção e memória. Classificação Nosológica: aqui, hipóteses iniciais são testadas, tomando-se como referência critérios diagnósticos, ou seja, várias hipóteses surgem no decorrer da coleta de dados resultantes do exame do estado mental, da história clínica e da história pessoal do examinando, e essas hipóteses que surgem são testadas para que sejam comprovadas ou rebaixadas. Essa avaliação pode ser realizada pelo psiquiatra e, também, pelo psicólogo, onde ambos fazem um julgamento clínico sobre a presença ou não de sintomas significativos, assim verificando semelhanças desse paciente com outros pacientes na mesma categoria diagnóstica. Quando está sob a responsabilidade do psicólogo, sempre que possível, além desses recursos o mesmo deverá lançar mão de outros instrumentos psicológicos, como baterias de testes e técnicas, para poder testar cientificamente as suas hipótese ou ainda levantar outras hipóteses a serem analisadas, conforme história e contexto de vida do paciente. Esse tipo de classificação é muito importante, pois facilita a comunicação entre profissionais; no caso, haveria uma grande interação entre psiquiatra e psicólogo, além de contribuir para o levantamento de dados epidemiológicos de uma população. Diagnóstico Diferencial: investigação de irregularidades ou inconsistências do quadro sintomáticodo examinando, para diferenciar alternativas diagnósticas, níveis de funcionamento ou a natureza da patologia; ou seja, no decorrer da coleta de dados surgem informações que não se encaixam, digamos sintomas totalmente destoantes ou inconsistentes, assim o profissional deve estar muito bem capacitado para atentar a fatos como este e saber identificar as variações nos quadros sintomáticos e níveis de funcionamento patológico. 24 Cunha (2003) diz que o diagnóstico diferencial está associado ao objetivo de classificação nosológica, assim podemos observar que o psicólogo investiga irregularidades e inconsistências do quadro sintomático e dos resultados dos testes para diferenciar categorias nosológicas, níveis de funcionamento mental. Um exemplo seria a investigação de certos sintomas que o sujeito tem que não batem com os achados dos testes. Assim, existem algumas objeções ao se trabalhar com esse objetivo, ou seja, o psicólogo deve ter um bom conhecimento teórico, dominar algumas técnicas, ter ampla experiência na área, ter sensibilidade clínica e muitos conhecimentos avançados de psicopatologia e de técnicas sofisticadas de diagnóstico. Avaliação Compreensiva: nesse tipo de avaliação a primeira coisa que se faz é determinar o nível de funcionamento da personalidade, examinando assim funções do ego, em especial a de insight, condições do sistema de defesas, facilitando assim a indicação de recursos terapêuticos e prevendo possíveis respostas ao mesmo. A avaliação compreensiva considera o caso numa perspectiva mais ampla e global, determinando o nível de funcionamento da personalidade, examinando funções do ego; e quais seriam essas funções do ego? Poderiam ser controle da percepção e da mobilidade; prova da realidade; antecipação, ordenação temporal; pensamento lógico, coerente, racional; elaboração das representações pela linguagem e outras. Nesse tipo de objetivo podem não ser utilizados testes, e essa não utilização de testes é um objetivo explícito ou implícito nos contatos iniciais do paciente com psiquiatras, psicanalistas e psicólogos de diferentes linhas de orientação terapêutica. Caso o objetivo seja atingido por meio de um Psicodiagnóstico, obtêm-se evidências mais objetivas e precisas, que podem, inclusive, servir de parâmetro para avaliar resultados terapêuticos, mais tarde, por intermédio de um reteste. Entendimento Dinâmico: nesse tipo de objetivo se associaria as dimensões investigadas na avaliação compreensiva a uma perspectiva teórica; haveria uma interpolação de dados, buscando inferir possíveis dificuldades futuras e focos terapêuticos para além do material levantado nas entrevistas, ou seja, dá para se perceber que esse tipo de avaliação ultrapassa os objetivos da avaliação anterior. Aqui há um nível mais elevado de inferência clínica, havendo uma investigação de dados com base teórica, ou seja, os dados seriam fundamentados. Esse objetivo também permitiria se chegar a explicações de aspectos comportamentais nem sempre acessíveis na entrevista, à antecipação de fontes de dificuldades na terapia e à definição de focos terapêuticos. 25 Aqui é focada a personalidade de maneira global, pressupondo um nível mais elevado de inferência clínica como dedução, conclusão, julgamento clínico, ou seja, podemos dizer que ela é considerada uma avaliação compreensiva, onde se procura entender a problemática do sujeito numa dimensão mais profunda, observando a história do desenvolvimento, identificando conflitos, investigando fatores psicodinâmicos e compreendendo o caso baseando-se num referencial teórico. Cunha (2003) deixa bem claro que um exame deste tipo requer entrevistas muito bem conduzidas, cujos dados nem sempre se dão pelos passos específicos de um Psicodiagnóstico, portanto, não sendo um recurso privativo do psicólogo clínico. Observa-se que frequentemente este tipo de objetivo se combina com os objetivos de classificação nosológica e de diagnóstico diferencial, mas que fique claro que quando é um objetivo do Psicodiagnóstico, leva não só a uma abordagem diferenciada das entrevistas e do material de testagem, como a uma integração dos dados com base em pressupostos psicodinâmicos. Prevenção: voltada para a identificação de problema precocemente, buscando detectar fraquezas e forças do ego, da personalidade do sujeito em questão, avaliando riscos e tentando identificar capacidade para enfrentar situações novas, estressantes e difíceis, e como o próprio nome do objetivo diz, é uma prevenção para que se tente evitar que problemas maiores ocorram futuramente. Como citamos acima, esse exame visa à identificação precoce de problemas, avalia riscos, faz uma estimativa de forças e fraquezas da personalidade, avalia a capacidade para enfrentar situações novas, difíceis, conflitivas ou ansiogênicas; depois de identificado tudo isso, investe-se na prevenção. Podemos dizer que não pressupõe profundidade no levantamento de indícios de patologia, é usada apenas para dar fundamentação ao desenvolvimento de programas preventivos com grupos maiores. Nos exame individual pode requerer uma dimensão mais profunda, especialmente envolvendo uma estimativa de condições do ego frente a certos riscos ou no enfrentamento de situações difíceis, seria indicado um Psicodiagnóstico. Prognóstico: aqui se tenta determinar o curso provável do caso clínico. Ao se identificar determinado transtorno por meio de outros objetivos, trabalha-se aqui no prognóstico. Objetivo que não é privativo do psicólogo e que pode dar uma contribuição importante na medida em que, por meio do Psicodiagnóstico, pode avaliar condições influenciadoras do transtorno. Esse tipo de objetivo depende fundamentalmente da classificação nosológica e o que podemos dizer é que ainda necessita de muitas pesquisas. 26 Perícia Forense: voltado para identificar insanidades, incapacidades e patologias que possam estar associadas a infrações da lei e afetem o exercício da cidadania. Esse tipo de objetivo é muito pedido por advogados, juízes e profissionais que trabalham nessa área para definir questões de ordem legais. Esse exame procura resolver questões relacionadas com “insanidade”, competência para o exercício de funções de cidadão, avaliação de incapacidade ou de comprometimentos psicopatológicos que na sua origem possam se associar com infrações da lei, etc. Segundo Groth-Marnat (1984), o psicólogo, por meio de uma série de interrogações, deve alcançar respostas claras, precisas e objetivas para que possa instruir um determinado processo. Quanto aos testes deve haver um grau satisfatório de certeza quanto aos dados coletados por meio desse instrumento, o que é um pouco complexo, por que os dados descrevem o que uma pessoa pode ou não fazer no contexto da testagem, mas o psicólogo deve ainda inferir, ou seja, concluir, julgar, deduzir, o que ele acredita que o examinando poderia ou não fazer na vida cotidiana. Muitas vezes este processo se torna até certo ponto ansiogênico para o próprio psicólogo, pois além da enorme responsabilidade que está nas mãos deste profissional de decidir a vida do outro, este processo busca respostas que fornecem subsídios para instruir decisões de caráter vital para o indivíduo, como por exemplo, decisões delicadas de atestado de insanidade que podem tirar a guarda dos filhos de uma mãe. Acontece bastante e comumente do psiquiatra ser nomeado como perito e solicitar o exame psicológico para fundamentar o seu parecer, assim, não obstante, muitas vezes o psicólogo é chamado para colaborar com a justiça, de forma independente.27 Resumindo podemos dizer que Ocampo (1981) afirma que a investigação psicológica deve conseguir uma descrição e compreensão da personalidade do paciente, onde é importante explicar a dinâmica do caso tal como aparece no material recolhido, integrando-o num quadro global. E uma vez alcançado um panorama preciso e completo do caso, incluindo os aspectos patológicos e os adaptativos, trataremos de formular recomendações terapêuticas adequadas. Arzeno (1995) cita algumas finalidades em que pode ser utilizado o Psicodiagnóstico. Diagnóstico; Avaliação do tratamento; Meio de comunicação; Na investigação. A principal finalidade de um estudo Psicodiagnóstico é a de estabelecer um diagnóstico, ou seja, explicar o que ocorre realmente com aquele paciente, o que ocorre além Ocampo (2001) juntamente com Ancona-Lopez (1984) citam os objetivos de forma mais geral: 1) Compreensão da personalidade como um todo; 2) Organizar conhecimentos: vida biológica, intrapsíquica e social; 3) Entender o sintoma: (fenomenológico e dinâmico) e se a ruptura do equilíbrio expressa algo a nível familiar; 4) Mostrar a importância do desenvolvimento (criança) e a interação dos fatores orgânicos com os emocionais; 5) Importância dos aspectos intrapsíquicos; 6) Principal objetivo seria conhecer os aspectos passados e presentes (diagnóstico) e futuros (prognóstico); 7) Explicar dinâmica, ou seja, buscar relações (família, grupo); 8) Aspectos adaptativos e patológicos/ ser dinâmico. 28 do que o paciente pode descrever conscientemente, enfim, descobrir o que tem aquele paciente a nível mental. Na primeira entrevista, são elaboradas hipóteses que podem ou não serem confirmadas. (Obs.: a entrevista projetiva, mesmo sendo imprescindível, não é suficiente para um diagnóstico cientificamente fundamentado.) Pode-se dizer que a entrevista clínica não é uma ferramenta infalível, nem os testes, mas se utilizarmos ambos os instrumentos de forma complementar há uma margem de segurança maior para chegar a um diagnóstico correto, especialmente se incluirmos testes padronizados. Então, o que vai diminuir a margem de erro são a interpretação e interpolação adequada dos dados obtidos por meio de entrevistas, testes e observação pelo profissional. Para se avaliar o tratamento, pode ser feito o reteste, consistindo em aplicar novamente a mesma bateria de testes aplicados na primeira ocasião. Isso pode ser feito para verificar os avanços terapêuticos de forma mais objetiva e também para planejar uma alta, ou seja, descobrir o motivo de um impasse no tratamento e para que o paciente e o terapeuta possam falar sobre isso, estabelecendo um novo contrato sobre bases atualizadas. Ainda existe o caso da disparidade de opiniões entre o paciente e o terapeuta, sendo que este é o que está apenas realizando o tratamento terapêutico e talvez ele não tenha realizado o Psicodiagnóstico. Nesse caso esclarece-se ao paciente e ao terapeuta que o Psicodiagnóstico registrará as situações para depois comentá-las. Essa decisão de se fazer ou não o Psicodiagnóstico vai depender muito das instituições em que está sendo realizado. Nas particulares, o terapeuta é quem decide o momento adequado para um novo Psicodiagnóstico, sendo públicas ou privadas, são elas que fixam os critérios que devem ser levados em consideração. Algumas deixam a critério dos terapeutas, outras consideram tanto a necessidade de avaliar a eficiência de seus profissionais quanto a de contar com um banco de dados úteis, por exemplo, para fins de pesquisa. Uma coisa que podemos ter certeza é que ao longo de um processo que se estende nas primeiras entrevistas aproximadamente, podemos observar como o paciente se relaciona diante de cada proposta, podemos extrair conclusões de grande utilidade para prever como será 29 o vínculo terapêutico, caso continue e quais serão os momentos mais difíceis do tratamento, os riscos de deserção e etc. Se usarmos diferentes instrumentos diagnósticos, isso nos permite estudar o paciente por meio de várias vias: falar livremente, por meio de lâminas, desenhos, imaginação, quebra cabeças e etc. e por algum motivo o domínio da linguagem verbal não foi alcançado, por conta da idade, doença, casos de surdos-mudos; podem-se usar nesse caso os testes gráficos e lúdicos que facilitam a comunicação. Na investigação se tem dois objetivos, o primeiro é a criação de novos instrumentos de exploração da personalidade que podem ser incluídos na tarefa psicodiagnóstica; ex.: Rorschach VOCÊ SABIA ! O Psicodiagnóstico, segundo Arzeno (1995), é também realizado como meio de comunicação, porque muitos pacientes têm dificuldades para conversar espontaneamente sobre seus problemas, com crianças muito pequenas, existem pacientes que só dão respostas lacônicas, e quando o profissional favorece a comunicação, a tomada de insight, ele contribui para que aquele que consulta adquira a consciência de sofrimento suficiente para aceitar cooperar na consulta, o que também provoca a perda de certas inibições, possibilitando assim um comportamento mais natural. 30 quando criou o teste das manchas. O outro objetivo é o de planejar a investigação para o estudo de uma determinada patologia, algum problema trabalhista, educacional ou forense, etc. Agora vamos ver outros usos do Psicodiagnóstico por psicólogos: Casos de dúvidas diagnósticas; Na obtenção de informação mais precisa. Ex.: suspeita de risco de suicídio, dependência de drogas, desestruturação psicótica; Quando não tem certeza sobre o tratamento mais aconselhável. Ex.: terapia comportamental, psicanálise, terapia breve; Outros prescindem totalmente do Psicodiagnóstico e não concedem valor científico algum aos testes projetivos; Outros dizem que não é importante fazer um diagnóstico inicial, que as informações chegam ao longo do tratamento. Quanto aos motivos de encaminhamento para se realizar um Psicodiagnóstico, muitas são as situações, como: Dificuldades em se chegar a um diagnóstico médico; Todos os tratamentos medicamentosos falharam; Quando nada explica um determinado comportamento que afeta negativamente o indivíduo. (Obs.: por razões éticas, ninguém poderá ser encaminhado por curiosidade em saber seu nível de inteligência ou QI, por exemplo.) Como já dissemos, um diagnóstico psicológico não significa necessariamente o mesmo que fazer um Psicodiagnóstico, porque este termo implica automaticamente a administração de testes e os testes nem sempre são necessários ou convenientes nesse caso. Vejamos agora algumas questões importantes que tornam o Psicodiagnóstico imprescindível: 31 É realizado para saber o que ocorre e suas causas, de forma a responder ao pedido com o qual foi iniciada a consulta; Outra questão que o torna fundamental é porque iniciar um tratamento sem o questionamento prévio do que realmente ocorre representa um risco muito alto, pois o paciente acredita que de alguma forma vamos poder ajudá-lo e “curá-lo” e caso apareçam situações inesperadas ou complicadas, teremos que interromper o tratamento e, além disso, decepcionar o paciente, o qual terá muitas dúvidas antes de tornar a solicitar ajuda; Outra questão imprescindível é quanto à proteção do psicólogo, que ao iniciar o tratamento contrai automaticamente um compromisso em dois sentidos, o clínico e ético; onde do ponto de vista clínico, deve estar certo de poder ser idôneo perante o caso sem cair emposturas ingênuas nem onipotentes, e do ponto de vista ético, deve proteger-se de situações nas quais está implicitamente comprometendo-se a fazer algo que não sabe exatamente o que é, ou seja, a consequência do não cumprimento de um contrato terapêutico pode ser a cassação da carteira profissional. 32 2 QUESTÕES IMPORTANTES NO PSICODIAGNÓSTICO 2.1 O PROBLEMA Segundo Cunha (2003), o Psicodiagnóstico é desencadeado quase sempre em vista de um encaminhamento, iniciando por uma consulta, a partir da qual outro profissional ou mesmo um psicólogo encaminham o paciente a um psicólogo clínico que trabalhe com Psicodiagnóstico. Esta avaliação que irá ser feita decorre da existência de um problema prévio, ou seja, um problema que o psicólogo deve identificar e avaliar, para poder chegar a um diagnóstico. Segundo Yager & Gitlin (1999), geralmente os sintomas estão presentes quando os limites da variabilidade normal são ultrapassados. Na maioria das vezes evidencia-se a dificuldade de identificar o início do problema que necessite de uma avaliação clínica. Os mesmos autores frisam também que a natureza e a expressão dos sinais e sintomas psiquiátricos são profundamente alteradas pelos recursos pessoais, capacidades de enfrentamento e defesas psicológicas do paciente. O psicólogo, ao exercer sua função, deve examinar as circunstâncias que precederam a consulta, avaliar a maneira de perceber o problema e delimitá-lo, investigar quando os sintomas começaram e se houve algum fator estressante que o desencadeasse, investigar os estados emocionais associados à vida diária, atribuindo a sinais e sintomas sua significação adequada. Um problema é identificado quando são reconhecidas alterações ou mudanças nos padrões de comportamento comum, que podem ser percebidas como sendo de natureza quantitativa ou qualitativa. (CUNHA, 2003, p. 33). 33 As perguntas que irão ser abordadas são muito importantes para se definir e se chegar a um diagnóstico correto, então a pergunta que devemos fazer a nós mesmos, para sabermos se estamos agindo corretamente com o paciente é: “A pergunta que estou a ponto de fazer será útil para entrevistado? Estou perguntando questões que realmente são significativas no processo?”; pois se você é um profissional que apenas faz a pergunta, que faz perguntas demais que confundem o entrevistado, e, em consequência, não ouve a resposta do cliente, você ensina ao entrevistado que nossa função é fazer perguntas e a dele, responder, ou seja, estipulamos que nós somos os chefes e somente nós sabemos o que é importante para ele. Este modelo (pergunta/resposta) não cria a atmosfera em que se pode desenvolver um relacionamento positivo cordial, em que o entrevistado tenha a oportunidade de crescer. Outro fato importante que devemos atentar é quanto a perguntas abertas e fechadas. Que fique claro que as perguntas abertas são amplas, convidando o entrevistado/cliente a alargar seu campo perceptivo, falando de concepções, opiniões, pensamentos e sentimentos. REFORÇANDO! É preciso ficar bem claro que um sintoma único não tem valor diagnóstico por si, assim, dado a relatividade dos critérios usuais na definição de um problema, a abordagem científica atual para a determinação diagnóstica defende o uso de critérios operacionais; isso quer dizer que é necessário que o paciente apresente certo número de características sintomatológicas, durante certo período de tempo, para ser possível chegar a uma decisão diagnóstica, ou seja, para cada transtorno existe um critério diagnóstico que define se um determinado sujeito pode ser enquadrado ou não naquele diagnóstico. Uma fonte útil nesse momento seria a utilização do CID-10 ou do DSM-IV. 34 Nesse tipo de pergunta surgirão muitos conteúdos e até mesmo questões chaves que estejam angustiando o paciente. Já as questões fechadas exigem apenas fatos objetivos, muitas vezes não deixando o sujeito se alargar nas suas respostas ou falar questões que o atormentam. Existe também a pergunta retórica, que é mais que fechada, porque é um tipo de pergunta que já inclui a resposta. As perguntas diretas podem ser conceituadas como perguntas que são interrogações precisas, enquanto que as perguntas indiretas perguntam sem parecer fazê-lo, aparecendo sem o ponto de interrogação, mas ainda assim fica claro que aquilo é uma pergunta e deseja-se uma resposta. Esta cria empatia, mostrando interesse pelo cliente. Às vezes aparecem em entrevista perguntas duplas, que alguns autores dizem que são perguntas sem utilidade nenhuma em entrevistas. Servem apenas para bombardear o entrevistado e nada acrescentam, só dificultam a confiança. Essa questão é delicada, pois muitos pacientes não se sentem bem com o bombardeio de perguntas, quebrando na hora a atmosfera de confiança e o rapport que está tentando estabelecer. E quando o entrevistado passa a me interrogar, quando ele tenta inverter os papéis, o que devo fazer? É claro que não se deve dar uma resposta a todas as perguntas, mas deve-se responder a todas que nos forem feitas que sejam a respeito do paciente e não ao nosso respeito, e tratá-las da mesma maneira que tratamos tudo o que o entrevistado diz – escutando, visando à compreensão, pois muitas não exigem resposta, mas sim atenção, outras vezes deve- se responder diretamente quando for conveniente, não ficando muito tempo com a palavra e retornando a ele o mais rapidamente possível. E, caso o entrevistado nos faça perguntas sobre outras pessoas, não devemos ignorar, mas também não responder diretamente; uma estratégia seria ignorar a perguntar e fazer outra que englobe o assunto a que ele se referir, afinal, não estamos ali para sermos interrogados e sim para se chegar a um Psicodiagnóstico. E se a pergunta for sobre ele mesmo, deve-se ter um cuidado maior, pois dependendo da nossa resposta o entrevistado pode se fechar, defender-se e racionalizar, mas o que acontece muitas vezes, é que quando eles se referem a si próprios é para ter mais informações sobre seu comportamento, sintomas e tratamento. 35 FONTE: Disponível em: < http://www.topgyn.com.br/home/thumbnail.php?file=12_08_automedicacao_457861735.jpg&size=article_medium >. Acesso em: 10 ago. 2011. 2.2 SINAIS E SINTOMAS Sintoma é qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não consistir-se em um indício de doença. Eles são subjetivos, sujeitos à interpretação do próprio paciente, sua variabilidade varia enormemente em função da cultura do paciente, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções. Aqui, no estudo de Psicodiagnóstico, chamaremos “sintoma” àquilo que o cliente traz como motivo manifesto da consulta. Já sinais na área de saúde podem ser conceituados como as alterações no metabolismo, no aspecto de uma pessoa, em sua conformação física, que podem ser indicadoras de adoecimento e podem ser percebidas ou medidas pelo profissional de saúde. Essa terminologia é oriunda da medicina, mas pode ter sentido comparável na psicologia. Sintomas são frequentemente confundidos com sinais, que são as alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde. 36Mas quando se trata de doença mental essa diferenciação se torna muito vaga, porque segundo Yager & Gitlin (1999), envolve estados internos, uma psicopatologia subjetiva, algo difícil de descrever; os sintomas estão presentes quando os limites da variabilidade normal são ultrapassados. Já Shaw (1977) afirma que sintoma é um sinal, porque se torna significativo na medida em que evidencia uma perturbação. Autores da linha psicanalítica – Freud é um deles – afirmam que podemos perceber é que: à medida que a primeira entrevista se desenvolve poderemos perceber se é realmente um sintoma, do ponto de vista clínico, ou se está somente encobrindo outros, mas geralmente o que ocorre é que o motivo latente não aflora no início porque, geralmente, angustia muito e permanece inconsciente. E na verdade o que acontecerá é que quando o motivo manifesto parecer trivial demais para justificar uma consulta é que suspeitaremos com maior segurança da VOCÊ SABIA! A diferença entre sintoma e sinal é que o sinal é aquilo que pode ser percebido por outra pessoa sem o relato ou comunicação do paciente, ou seja, o que outras pessoas percebem só de observar; e o sintoma é a queixa relatada pelo paciente, mas que só ele consegue perceber, ou seja, é algo subjetivo como falamos acima. Então, sinais são comportamentos observáveis, segundo Kaplan e Sadock (2007), achados objetivos, e sintomas achados subjetivos. 37 presença de um motivo latente de maior envergadura e deveremos prolongar a entrevista inicial ou realizar outra até obtermos maiores esclarecimentos sobre o caso. Sintoma pode ser conceituado como aquilo que o paciente traz como motivo manifesto da solicitação de Psicodiagnóstico. Devemos levar em consideração alguns fatores importantes para se chegar a um resultado correto no Psicodiagnóstico: Quando estamos falando sobre sintomas, devemos levar em consideração a etapa de desenvolvimento em que se encontra a pessoa que nos consulta. Algo muito importante a ser questionado é por que o sintoma preocupa agora, em casos em que existe sintomatologia bastante antiga. Quanto maior o tempo transcorrido entre o aparecimento da sintomatologia até o momento em que se concretiza a consulta, maior a nossa suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o desencadeante para realizar a consulta. Certamente, o problema foi ignorado até esse momento, mas algo ocorreu que os fez tomar a decisão de consultar. A razão pela qual esse sintoma preocupa o paciente ou aos pais desse, ou a ambos. A sintomatologia descrita por cada um dos interessados no processo de estudo psicológico pode diferir enormemente, mas essa contradição é apenas aparente; teríamos assim diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um mesmo caso. Devemos integrar as várias imagens de uma única personalidade que surgirão, definir o que realmente ocorre com a criança, entre todas aquelas projeções feitas pelos outros envolvidos, e decidir a ordem de relevância dos sintomas. Segundo Arzeno (1995) e Ancona-Lopez (2002), o sintoma ou os sintomas trazidos como motivos da consulta devem ser colocados dentro de um contexto evolutivo, de forma a não serem superdimensionados, pois estes sintomas apresentam várias características como: um aspecto fenomenológico; um benefício secundário, ou seja, eles podem estar funcionando como interferência para a intimidade dos pais; o sintoma está expressando alguma coisa, algo não dito, dentro do contexto familiar; todo sintoma implica fracasso ou rompimento do equilíbrio entre as séries complementares; o sintoma está no lugar de uma palavra que falta, ele vem como máscara ou palavra fantasiada. 38 2.3 MOTIVO DA CONSULTA Na primeira entrevista o paciente deve expor o que acontece com ele, o que lhe levou a procurar uma ajuda médica ou psicológica e esclarecer por que deseja consultar-se. O paciente vai apresentar vários motivos, esses motivos apresentados serão chamados de motivo manifesto, não sendo os mais autênticos, mas ao longo do processo podem ser descobertos outros motivos subjacentes, geralmente inconscientes que podemos chamar de motivos latentes sobre os quais se deverá falar da forma mais ampla possível e aconselhável. Arzeno (1995) nos confirma isso quando diz que à medida que a primeira entrevista se desenvolve poderemos perceber se é realmente um sintoma, aquilo que o consultante traz como motivo manifesto da consulta, do ponto de vista clínico, ou se está somente encobrindo outros. O que ocorre comumente é que o motivo latente não aflora no início por seu conteúdo ser, geralmente, muito angustiante, permanecendo, assim, no inconsciente. O paciente pode ter diferentes motivos de consulta manifestos dentro de um mesmo caso, o que da mesma forma, quanto maior o tempo transcorrido entre o aparecimento da sintomatologia até o momento em que se concretiza a consulta, maior a nossa suspeita de que exista outro motivo latente, que foi o desencadeante para realizar a consulta. Certamente, o problema foi ignorado até esse momento, mas algo ocorreu que o fez tomar a decisão de consultar. Isso adverte o terapeuta sobre o tipo de conflito que pode encontrar ao longo da terapia de um paciente, que pode solicitar o tratamento por um motivo e na verdade o que percebemos com o decorrer do processo é que existe algo mais profundo a ser investigado. Outro conceito, que segundo Arzeno (1995) deve ser levado em consideração, do ponto de vista teórico, é que na consulta o interessado deve expor a sua preocupação, o motivo que o leva a consultar, o que ele considera o sintoma preocupante; está implícita uma fantasia de doença e de cura que guarda uma estreita relação com o motivo latente da consulta. 2.4 SINTETIZANDO 39 Motivo da Consulta: Alguém solicita ou encaminha; Presença de doença física; Familiares angustiados. Nesta situação é importante que o psicólogo coloque-se: Como referência, delimitando claramente sua função (enquadramento), ao mesmo tempo em que observa a relação familiar; O terapeuta do cliente não deve agir de forma abrupta, ou seja, que não obrigue o paciente a fazer insight fora do timing. DEVERÃO SER OBSERVADOS: Estado emocional geral do paciente: Estrutura emocional básica; Autoconceito; Relação familiar; Nível de ansiedade; Grau de informação sobre a doença; Grau de informação sobre o tratamento. Observar a existência de conflitos: Com internação anterior; Com tratamento anterior; Com cirurgia anterior; Com separação de pessoas queridas; Com perdas. Temperamento emocional básico presente: Introvertido ou extrovertido (acentuado ou compensado); Avaliação Psicológica no hospital. 40 Características especiais do desenvolvimento psicológico: Observar adequação do ponto de vista intelectual, social e emocional. Estado Emocional geral da família: Estrutura; Nível de Ansiedade; Nível de Informação sobre a doença e tratamento; Conflitos observados. Obs.: Na realidade, o que possibilita uma boa observação são os sólidos conceitos na área de personalidade, infância, adolescência, linha teórica, psicopatologia, além do próprio psicólogo que é seu próprio e melhor instrumento. É importante observar: Relações familiares em que nunca existe uma comunicação de mão dupla; Em que o desejo não se manifesta, ou que há poucas palavras poucas trocas vivas. Ex.: O desejo que só se responde nos momentos das necessidades
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