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Guia de Estudo - Empreendedorismo Guia de Estudo Empreendedorismo Graduação Geral 2010 Porto Velho/RO 24/03/2009 Guia de Estudo - Empreendedorismo MARCUS ROBERTO RIBEIRO GUIA DE ESTUDO EMPREENDEDORISMO Orientar alunos das disciplinas semipresenciais e a distância das Faculdades São Lucas e São Mateus. Porto Velho/RO 2010 Guia de Estudo - Empreendedorismo Guia de Estudo - Empreendedorismo Faculdade São Mateus Faculdade São Lucas Coordenação de Educação a Distância - EAD Centro de Ensino São Lucas Rua. Alexandre Guimarães, 1927 – Areal Porto Velho – RO – 78.916-450 Fone: (69) 3211-8009 Faculdade de Tecnologia São Mateus - FATESM Rua. Alexandre Guimarães, 1927 – Areal Porto Velho – RO – 78.916-450 Fone: (69) 3211-8009 Porto Velho/RO 2010 Guia de Estudo - Empreendedorismo DIRETORA GERAL Maria Eliza de Aguiar e Silva VICE-DIRETORA Eloá de Aguiar Gazola COORDENADOR DE EAD José Lucas Pedreira Bueno SUPERVISORA PEDAGÓGICA Hélia Cardoso Gomes da Rocha DESGIN INSTRUCIONAL Humberta Gomes Machado Porto REVISOR DE TEXTO Wibison Menezes Silva SUPERVISORA DE TECNOLOGIA Sara Luíze Oliveira Duarte ADMINISTRADOR DO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM Marque Onel dos Santos Souza DESIGN/DIAGRAMAÇÃO Diênife Silva de Miranda O AUTOR MARCUS ROBERTO RIBEIRO - marcuspvh@hotmail.com Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de Taubaté – UNITAU. Pós- Graduação em Administração e Estratégia Empresarial pela ULBRA/PVH. Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté – UNITAU. Atualmente trabalha como Professor Universitário e atua na área de Educação a Distância como Professor Conteudista. Guia de Estudos - Empreendedorismo ÍCONES Realize. Determina a existência de atividade a ser realizada. Este ícone indica que há um exercício, uma tarefa ou uma prática para ser realizada. Fique atento a ele. Pesquise. Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais informação. Pense. Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a um questionamento. Conclusão. Todas as conclusões sejam de ideias, partes ou unidades do curso virão precedidas desse ícone. Importante. Aponta uma observação significativa. Pode ser encarado como um sinal de alerta que o orienta para prestar atenção à informação indicada. Hiperlink. Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo impresso ou endereço de Internet. Exemplo. Esse ícone será usado sempre que houver necessidade de exemplificar um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou estudado. Sugestão de Leitura. Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para leitura complementar. Aplicação Profissional. Indica uma aplicação prática de uso profissional ligada ao que está sendo estudado. Checklist ou Procedimento. Indica um conjunto de ações para fins de verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização de uma tarefa. Saiba Mais. Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado de forma a possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado. Revendo. Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente. Guia de Estudo - Empreendedorismo Conteúdo 1 APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 7 2 A DISCIPLINA ................................................................................................. 9 2.1 Ementa .................................................................................................. 9 2.2 Interdisciplinaridade .............................................................................. 9 2.3 Considerações Iniciais .......................................................................... 9 2.4 Objetivos ............................................................................................. 10 2.5 Metodologia ......................................................................................... 10 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO EMPREENDEDORISMO ............................ 11 UNIDADE 2 - TIPOS DE EMPREENDEDOR ................................................... 42 UNIDADE 3 - PERFÍL DO EMPREENDEDOR E CARACTERISTÍCAS ........... 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 129 Guia de Estudo - Empreendedorismo 7 1 APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo (a)! Este é o seu Guia de Estudos da Disciplina de Empreendedorismo, ministrada de forma semipresencial no seu curso de graduação. O nosso programa é baseado em uma das mais modernas propostas metodológicas de ensino contemporâneo, a EAD. Organizado de forma dinâmica e capaz de focar sua atenção para o melhor aproveitamento e desenvolvimento de suas habilidades, utiliza instrumentos pedagógicos eficazes, possibilitando-lhe elaborar conceitos e construir a sua crítica, desenvolvendo sua atitude política com uma educação aliada à construção da cidadania. A educação e toda a prática docente implicam numa ação social, visando à inserção do indivíduo na sociedade a que pertence. Portanto, envolvem características políticas, e de caráter conscientizador, sem tendências partidárias, buscando um cidadão pleno em sua autonomia. Qualquer que seja a profissão escolhida, você estará inserido em uma sociedade, como parte integrante dela e com responsabilidades. Como vivemos a globalização de uma maneira jamais vista, temos a necessidade de estabelecer um diálogo com todos os instrumentos transformadores da sociedade que pertencem a esse processo. Portanto, o mundo virtual não pode ser nosso desconhecido, muito menos a possibilidade das relações humanas que esse mundo tem como instrumento integrador. Para iniciarmos, convido você a conhecer o trecho do Livro do Bernardinho. Boa Leitura! Guia de Estudo - Empreendedorismo 8 Então, desafio proposto. Inicie a caminhada sem perder o foco, pois o seu sucesso será sempre alcançado pelo trabalho! Prof. Esp. Marcus Roberto Ribeiro “Uma aranha realiza operações que se assemelham às do tecelão e uma abelha envergonha alguns mestres-de-obras humanos com a construção de seus favos de cera. Mas o que distingue de início o pior dos mestres-de-obras da melhor abelha é que ele construiu o favo na sua cabeça antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho surge um resultado que no início do mesmo já existia na imaginação do trabalhador, portanto já tinha existência ideal”. Karl Marx, in Paul Singer (2000:7) Guia de Estudo - Empreendedorismo 9 2 A DISCIPLINA 2.1 Ementa Definições de Empreendedorismo na visão de diversos autores; Cultura Empreendedora; Tipos de Empreendedores; Perfil Empreendedor e Características; Os Dez Comportamentos de um Empreendedor. 2.2 Interdisciplinaridade A mesma será desenvolvida de maneira interdisciplinar,relacionando os tópicos básicos da disciplina com os demais conteúdos acadêmicos do curso. Nesta perspectiva, o ensino e a aprendizagem ganham significado e prática e são enriquecidos com os múltiplos sentidos explorados na matéria, com resultados práticos que se constituem como resultado das atividades disciplinares. 2.3 Considerações Iniciais Empreendedorismo e pequenos negócios são frequentemente discutidos, mas o conteúdo de cada um desses conceitos varia enormemente de um lugar para outro, de país para país, de autor para autor. Nos últimos anos, tem havido espaço para uma multidão de especialistas no campo do empreendedorismo. Podemos até mesmo dizer que, existe hoje, um ramo de pesquisa rotulado de ―empreendedorismo‖. Da economia e das ciências do comportamento surgem os principais autores, mas o assunto percorre muitas outras disciplinas. Portanto, é dentro de farta documentação que apresentamos os significados mais correntes ligados ao empreendedorismo. Guia de Estudo - Empreendedorismo 10 2.4 Objetivos Ao final da disciplina o aluno deverá ser capaz de: Introduzir o Empreendedorismo como ciência e sua importância; Compreender o conceito de Empreendedorismo; Compreender os mitos e diferenças entre Empreendedor Natu e Formação de Empreendedor; Compreender o conceito dos diversos tipos de Empreendedores; Entender o papel dos tipos de Empreendedores para sociedade; Conhecer as características e comportamentos empreendedores; Compreender os comportamentos e características empreendedoras necessárias para a formação de um empreendedor; Entender como as características e comportamentos empreendedores influenciam e interferem na vida profissional e social das pessoas. 2.5 Metodologia Serão desenvolvidas várias atividades ao longo do curso no Ambiente Virtual de Aprendizagem, onde o aluno deverá decidir um tempo para construir conhecimentos específicos na área de empreendedorismo. Está pronto para iniciarmos nossa jornada? Guia de Estudo - Empreendedorismo 11 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO EMPREENDEDORISMO Ao final do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: Introduzir o Empreendedorismo como ciência e entender sua importância; Compreender o conceito de Empreendedorismo; Compreender os mitos e diferenças entre Empreendedor Natu e Formação de Empreendedor. APRESENTAÇÃO Oi! Venha comigo e vamos construir conhecimentos. Quero que você perceba que a necessidade de leitura e atenção é muito importante para você conseguir entender tudo o que estaremos mostrando nesse curso. Esse é o nosso contrato firmado aqui. Nós lhe daremos todo o aparato pedagógico e tecnológico. O seu compromisso é dar toda atenção e disponibilidade durante as aulas, nos exercícios propostos e pesquisas a serem feitas. Ao final do curso, o prêmio será seu! Conhecimento ninguém rouba. Não pode ser desapropriado. Enfim, trata-se do seu tesouro. O QUE É EMPREENDEDORISMO? A disciplina que você está acompanhando é empreendedorismo. Então, vamos fazer uma pequena sondagem para ver como você está em relação aos conhecimentos previstos para esta unidade. Na Idade Média, o termo ―empreendedor‖ passou a abranger tanto um participante quanto um administrador de grandes projetos de produção. O empreendedor não assumia riscos e usava os recursos fornecidos, em geral pelo governo do país. Já no Século XVII, desenvolveu-se a reemergente conexão de risco Guia de Estudo - Empreendedorismo 12 com o empreendedorismo, em que o empreendedor assumia um contrato fixo com o governo, assumindo os eventuais lucros ou prejuízos. Richard Cantillon, economista e escritor nos anos 1700, considerado por alguns o criador do termo empreendedorismo, desenvolveu uma das primeiras teorias do empreendedor como alguém que corria riscos, observando que comerciantes, fazendeiros, artesãos e outros proprietários individuais operavam com riscos ao efetuar compras com um preço certo e vender a um preço incerto. (HISRICH e PETERS, 2004) No Século XVIII, tendo como uma das causas dessa incerteza de mercado a industrialização, o empreendedor foi diferenciado do fornecedor de capital, atualmente, investidor de risco. Enquanto Eli Whitney financiava o estudo para um desencaroçador de algodão com recursos da coroa britânica, Thomas Edison desenvolveu estudos no campo da eletricidade e da química através de fontes particulares de capital. Ambos eram, portanto, empreendedores, utilizando capital proveniente de investidores de risco para desenvolver seus projetos. (HISRICH e PETERS, 2004) No final do Século XIX e início do Século XX, não havia a distinção de empreendedores e gerentes. Os empreendedores passaram a ser vistos sob uma perspectiva econômica, organizando e operando uma empresa para lucro pessoal, como por exemplo, Andrew Carnegie, que não fez nenhum invento, mas adaptou e desenvolveu nova tecnologia na criação de produtos e promoveu grande desenvolvimento para a indústria de aço americana, através de sua busca por competitividade, em vez de inventividade ou criatividade. (HISRICH e PETERS, 2004) Os autores citados anteriormente (2004) observam que a conceituação de empreendedorismo atualmente está ligada à ideia de inovação, englobando não somente a capacidade de criar e conceitualizar, mas também o entendimento das forças Guia de Estudo - Empreendedorismo 13 que atuam no ambiente: ―A novidade pode ser desde um novo produto e um novo sistema de distribuição, até um método para desenvolver uma nova estrutura organizacional‖. (p. 29) De fato, podemos constatar que ao longo do século XX, os processos de desenvolvimento científico e de inovação tecnológica foram muito intensos, tendo a humanidade experimentado um salto na produção de conhecimentos, algo jamais verificado anteriormente na história. Pense sobre o que você leu e viu até aqui. Tente entender, e não decorar! Aquilo que você entende, não esquece. Pode ser um exemplo rústico, mas é muito válido. Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio (1986) Empreendedor: (ô) Adj. 1. Que empreende; ativo, arrojado, cometedor. l S.m. 2. Aquele que empreende; cometedor. Grande Dicionário Enciclopédico Larousse (1983) – Chefe de uma empresa. – Chefe de uma empresa especializada na construção, nos trabalhos públicos, nos trabalhos de habitação. – Pessoa que, perante contrato de uma empresa, recebe remuneração para executar determinado trabalho ou aufere lucros de outra pessoa, chamada mestre-de-obras. A idéia de empreendedor é associada inicialmente à idéia de criação de um negócio por meio de capitais pessoais. Empreendedor é a pessoa que levanta o capital. A gestão de um negócio criado requer também qualidades de empreendedor. Nova Larousse Clássica (1959) Aquela pessoa que efetua uma obra, para um cliente, sem se subordinar a ele. Chefe de uma empresa artesanal ou industrial. Pearce (1981) Refere-se ao fator organizacional na produção. Reuters (1982) Guia de Estudo - Empreendedorismo 14Alguém que provê fundos para uma empresa e, assim, assume os riscos. Robert Dicionário (1963) – Aquele que empreende qualquer coisa. – Pessoa que se encarrega da execução de um trabalho por contrato empresarial. – Toda pessoa que dirige um negócio por sua própria competência e que coloca em execução os diversos fatores de produção tendo em vista vender os produtos ou serviços. Dicionário Webster (1970) Pessoa que organiza e gera um negócio, assumindo o risco em favor do lucro. Dicionário de Ciências Sociais (1964) O termo empreendedor denota a pessoa que exercita total ou parcialmente as funções de: iniciar, coordenar, controlar e instituir maiores mudanças no negócio da empresa; e/ ou assumir os riscos, nessa operação, que decorrem da natureza dinâmica da sociedade e do conhecimento imperfeito do futuro e que não pode ser convertido em certos custos através de transferência, cálculo ou eliminação. PENSADORES (Empreendedor e Empreendedorismo) Estudado por diversos pensadores e pesquisadores, desde Cantillon (1755), passando por Schumpeter (1934) até os contemporâneos Drucker (1979), Pinchot (1985), Filion (1986), Dolabela (1986), Leite (2000) entre outros, o empreendedorismo revela-se num vasto campo para a pesquisa (RIBEIRO, 2003). O interesse por compreender o que é o empreendedorismo, como se comportam os empreendedores e o impacto que causam na economia, tem crescido em todo o mundo. No entanto, conforme Hisrich e Peters (2004), ainda não há uma definição concisa e internacionalmente aceita sobre o assunto. Conforme Dornelas (2001), nos Estados Unidos, o termo empreendedorismo é conhecido e referenciado há muitos Guia de Estudo - Empreendedorismo 15 anos. Visto que, é neste país que o capitalismo tem sua caracterização mais intensa, enquanto que no Brasil, houve uma intensificação de sua difusão no final da década de 90. ―No caso brasileiro, a preocupação com a criação de pequenas empresas duradouras e a necessidade da diminuição das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos são, sem dúvida, motivos para a popularização do termo empreendedorismo, que tem recebido especial atenção por parte do governo e de entidades de classe‖. AITKEN: IDEIA DE INOVAÇÃO ―...As características convencionalmente associadas com empreendimento – liderança, inovação, risco e outros – estão tão associadas ao seu conceito que, em uma cultura altamente comercializada como a nossa, fazem parte das características essenciais da efetiva organização dos negócios. ―Pela mesma lógica, em uma cultura diferentemente orientada, as características típicas de um empreendimento diferem.‖ (1963) ―... contudo, por definição, empreendedorismo sempre envolve, explícita ou implicitamente, a ideia de inovação.‖ (1965) Arthur Cole (1959, apud HASHIMOTO, 2006, p.4) definiu empreendedorismo como ―a atividade com propósito de iniciar, manter e aumentar uma unidade de negócios voltada ao lucro, para a produção ou distribuição de bens e serviços‖. BAUMOL: INOVAÇÃO/LIDERANÇA O empreendedor (queira ou não de fato, também exerce a função de gerente) tem uma função diferente. É seu trabalho localizar novas ideias e colocá-las em prática. Ele deve liderar e talvez, ainda, inspirar; ele não pode deixar que as coisas se tornem rotineiras e, para ele, a prática de hoje jamais será suficientemente boa para amanhã. Em resumo, ele é inovador e algo mais. Ele é o indivíduo que exercita o que na literatura da administração é chamado de ―liderança‖. E é ele quem está Guia de Estudo - Empreendedorismo 16 virtualmente ausente. Ou seja, mesmo não estando, ele é percebido como se estivesse (1968). Belshaw: iniciativa ―Um empreendedor é alguém que toma a iniciativa nos recursos administrativos (1955).‖ Brereto: inovação, promoção. ―Empreendedorismo – a habilidade de criar uma atividade empresarial crescente onde não existia nenhuma anteriormente.‖ (1974) Casson: economicidade ―Um empreendedor é alguém que se especializa em tomar decisões determinantes sobre a coordenação de recursos escassos.‖ (1982) Carland e outros: práticas estratégicas inovativas ―Um empreendimento empresarial é aquele que se engaja em pelo menos uma das quatro categorias de comportamento de Schumpeter (pensador do empreendedorismo), isto é, os principais objetivos de um empreendimento empresarial são lucratividade e crescimento e o negócio é caracterizado pelas práticas estratégicas inovativas‖. Empreendedor: um empreendedor é um indivíduo que estabelece e gera um negócio com a principal intenção de lucro e crescimento. ―O empreendedor é caracterizado, principalmente, pelo comportamento inovativo e pelo emprego de práticas estratégicas de gerenciamento no negócio.‖ (1984) Chiavenato (2004: 3), ―O termo empreendedorismo – do francês entrepreuner – significa aquele que assume riscos e começa algo novo‖. Cunningham e Lischeron (1991, apud HASHIMOTO, 2006, p.2): Classificaram os estudos sobre empreendedorismo em seis escolas: 1. A Escola Bibliográfica: estuda a história de vida de grandes empreendedores, mostrando que a pessoa Guia de Estudo - Empreendedorismo 17 simplesmente nasce empreendedora e que os traços empreendedores não podem ser desenvolvidos. 2. A Escola Psicológica: assume que o empreendedor desenvolve uma série de atitudes, crenças e valores que moldam sua personalidade. 3. A Escola Clássica: crê que o empreendedor é aquele que ―cria‖ algo, e não simplesmente o ―possui‖. 4. A Escola da Administração: sugere que o empreendedor é uma pessoa que organiza e administra um negócio. 5. A Escola da Liderança: mostra que o empreendedor é um líder que mobiliza as pessoas em torno de objetivos e propósitos. 6. A Escola Corporativa: diz que as habilidades empreendedoras podem ser úteis em organizações complexas. Dolabela (2000) ensina que o termo ―designa uma área de grande abrangência e trata de outros temas, além da criação de empresas‖. Geração do auto-emprego (trabalhador autônomo); Empreendedorismo comunitário (como as comunidades empreendem); Intra-empreendedorismo (o empregado empreendedor); Políticas públicas (políticas governamentais para o setor). (p. 29) Na literatura também são encontradas referências no sentido de relacionar a simples abertura de novas empresas ao conceito de empreendedorismo Drucker: prática/visão de mercado/evolução ―O trabalho específico do empreendedorismo numa empresa de negócios é fazer com que os negócios de hoje sejam capazes de fazer o futuro, transformando-se em um negócio diferente.‖ (1974) ―Empreendedorismo não é nem ciência, nem arte. É uma prática.‖ ―A gerência do empreendedor (empresarial) dentro da Guia de Estudo - Empreendedorismo 18 nova abordagem possui quatro requisitos: Requer, primeiro, uma visão para o mercado; Segundo: provisão financeira, e, particularmente, um planejamento, fluxo de caixa e necessidade de capital para o futuro; Terceiro: construir um alto time de gerência bem antes que o novo empreendimento necessite dele e bem antesque realmente possa ter condições de pagá-lo.‖ ―E, finalmente, requer do empreendedor-fundador uma decisão com relação ao seu próprio papel, área de atuação e relações.‖ Filion: fixação de objetivos/uso das oportunidades ―Um empreendedor é uma pessoa imaginativa, caracterizada por uma capacidade de fixar alvos e objetivos‖. Esta pessoa manifesta-se pela perspicácia, ou seja, pela sua capacidade de perceber e detectar as oportunidades. Também, por longo período, ele continua a atingir oportunidades, potenciais e a tomar decisões relativamente moderadas, tendo em vista modificá-las; esta pessoa continua a desempenhar um papel empresarial. (1986) Hisrich e Peters (2004) citam como exemplo inicial da primeira definição de empreendedor como ―intermediário‖ o navegador Marco Pólo, que na tentativa de estabelecer rotas comerciais com o Oriente, assinava um contrato com uma pessoa de recursos para vender suas mercadorias, assumindo um empréstimo, que na época comumente tinha uma taxa de 22,5%, incluindo seguro. Conforme estes autores, o capitalista corria os riscos passivamente e o comerciante aventureiro suportava não só os riscos físicos como os emocionais, e ao final da viagem, quando bem sucedida, os lucros eram divididos numa proporção de 75% para o capitalista e os 25% restantes para o comerciante. Hornday: realização/independência/liderança ―Comparados aos homens em geral, os empreendedores estão significativamente, em maior escala, Guia de Estudo - Empreendedorismo 19 refletindo necessidades de realização, independência e eficiência de sua liderança, e estão, em menor escala, refletindo ênfases nas necessidades de manutenção.‖ (1971) HORNDAY AND BUNKER: IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES ―Smith (1967) refere-se a dois tipos de empreendedores: o empreendedor profissional (ou artesanal) e o empreendedor que identifica oportunidades. Os primeiros são limitados em termos de bagagem cultural e engajamento social; os últimos são de um maior grau de instrução e de engajamento social e são mais agressivos no desenvolvimento e expansão da companhia.‖ (1970) Jasse: foco de mercado ―...Pode-se definir mais simplesmente empreendedorismo como a apropriação e a gestão dos recursos humanos e materiais dentro de uma visão de criar, de desenvolver e de implantar resoluções permanentes, de atender às necessidades dos indivíduos.‖ (1982) ―... O espírito empresarial se traduz por uma vontade constante de tomar as iniciativas e de organizar os recursos disponíveis para alcançar resultados concretos.‖ (1985) Julien (ESQUEMA 1): confiança/inovação/conhecimento 1 – O empreendedor é aquele que não perde a capacidade de imaginar, tem uma grande confiança em si mesmo, é entusiasta, tenaz, ama resolver problemas, ama dirigir, combate a rotina, evita constrangimentos... 2 – É aquele que cria uma informação interessante ou não do ponto de vista econômico (inovando em relação ao produto, ou ao território, ao processo de produção, ao mercado...) ou aquele que antecipa sobre esta informação (antes dos outros ou diferentemente dos outros). 3 – É aquele que reúne e sabe coordenar os recursos econômicos para aplicar, de modo prático e eficaz sobre um Guia de Estudo - Empreendedorismo 20 mercado, a informação que ele conhece a fundo. 4 – Ele o faz primeiro, em função das vantagens pessoais, tais como: prestígio, ambição, independência, o jogo, o poder sobre si e sobre a situação econômica e, em seguida, o lucro e outros. (1986). Kets de Vries: inovação/gerenciamento/risco ―... O empreendedor satisfaz a um número de funções que podem ser resumidas em inovação, gerenciamento, coordenação e risco.‖ (1977) ―Empreendedores parecem ser uma realização orientada, como assumir a responsabilidade por decisões, e não gostam de trabalhos repetitivos e rotineiros. Os empreendedores criativos possuem um alto nível de energia e um ótimo grau de perseverança e imaginação, que combinam com a espontaneidade de assumir riscos moderados e calculados, possibilitando-lhes transformar o que freqüentemente começou com uma simples e mal definida idéia em algo concreto. Empreendedores também podem gerar um entusiasmo altamente contagioso dentro de uma organização. Eles programam um senso de propósito e, fazendo isso, convencem os outros de que eles estão onde está a ação.‖ (1985) Kierulff: visão generalista ―... há evidências que as características empresariais e comportamentais podem ser desenvolvidas.‖ ―... O empreendedor é, acima de tudo, um generalista – ele deve saber um pouco sobre tudo.‖ (1975) Komives: pioneirismo/inovação ―Deixe-me definir um empreendedor. Ele é alguém que inicia um negócio onde, geralmente, não existia ninguém antes dele.‖ ―Empreendedorismo realmente se refere às pessoas que desejam adentrar-se em uma nova empreitada e se construir sobre ela.‖ Guia de Estudo - Empreendedorismo 21 Lance: convergência de propósitos ―Empreendedorismo... Uma pessoa que congrega risco, inovação, liderança, vocação artística, habilidade e perícia profissional em uma fundação sobre a qual constrói um time motivado. Esses grupos de seres humanos, às vezes sem se conhecerem previamente, desenvolvem uma nova empresa.‖ (1986). Lynn: criatividade ―... O empreendedor é também alguém criativo no sentido de que tenha de criar um novo produto ou serviço na imaginação e, então, deve ter energia e autodisciplina de transformar a nova idéia em realidade.‖ Mancuso: promoção/prosperidade ―Um empreendedor é a pessoa que cria uma empresa próspera do nada.‖ (1974) McClelland: economicidade/viabilidade O empreendedor foi definido como ―alguém que exercita controle sobre os meios de produção e produtos e produz mais do que consome a fim de vendê-los (ou trocá-los) pelo pagamento ou renda‖. Palmer: risco calculado ―… tomar decisões sob diversos graus de incerteza vem a ser uma característica fundamental do empreendedorismo.‖ (1971). Rosenberg: capacidade de correr risco Empreendedor: ―Alguém que assume o risco financeiro da iniciação, operação e gerenciamento de um dado negócio ou empresa‖. Say: discernimento/perseverança ―… Um empreendedor… Para ter sucesso, ele deve ter capacidade para julgar, perseverança e um conhecimento do mundo tanto quanto do negócio. Ele deve possuir a arte de superintendência e administração.‖ (1803) Schumpeter: inovação Guia de Estudo - Empreendedorismo 22 ―Sempre enfatizei que o empreendedor é o homem que realiza coisas novas e não, necessariamente, aquele que inventa.‖ (1934) Inovação como critério para o empreendedorismo: ―Empreendedorismo, como definido, consiste essencialmente em fazer coisas que não são geralmente feitas em vias normais da rotina do negócio; é essencialmente um fenômeno que vem sob o aspecto maior da liderança. Mas esta relação entre empreendedorismo e liderança geral é uma relação muito complexa.‖ Schuwarts: independência/identificação de oportunidades ―Empreendedor: um inventor, um mercador, ou simplesmente alguém que busca independência, que usa umaoportunidade para desenvolver seus talentos para fundar uma nova companhia.‖ Shapiro: iniciativa/transformação/risco ―Em quase todas as definições de empreendedorismo, há um consenso de que nós estamos falando de um tipo de comportamento que inclui: - tomada de iniciativa; - organização ou reorganização de mecanismos sócio- econômicos para transformar recursos e situações em contas práticas; - aceitação do risco e fracasso. ―O principal recurso usado pelo empreendedor é ele mesmo...‖ (1975) Sirópolis: crença/realização/pioneirismo Hoje, tomamos como definição o termo empreendedor. Ele sugere espírito, zelo, ideias. Contudo, temos a tendência de usar a palavra livremente para descrever qualquer um que dirige um negócio - por exemplo, para a pessoa que preside a General Motors ou possui uma banca de frutas, ou a pessoa que é dona do Mcdonalds (franquia) ou vende assinaturas de revistas. Guia de Estudo - Empreendedorismo 23 Antes, a palavra ‗empreendedor‘ gozava de um significado mais puro, mais preciso. ―Descrevia apenas aqueles que criaram seus próprios negócios, aqueles como Henry Ford‖. Stacey: flexibilidade/determinação ―Certamente, no início de sua carreira, o maior dom de um empresário tradicional é sua habilidade de explorar inúmeros caminhos para assegurar o seu sucesso, sem se tornar desanimado pelo fracasso ao longo do percurso; um dos seus dons é diminuir suas perdas rapidamente; e um outro é levantar-se, sacudir a poeira e tentar novamente.‖ (1980) Stevenson and Gumpert: Direcionamento/ flexibilidade/tenacidade Um Raios-X da organização empresarial revela essas características dinâmicas: - encorajamento da imaginação dos indivíduos; - flexibilidade; e - voluntariedade em aceitar riscos. (1985) A literatura disponível sobre empreendedorismo costuma tratar o assunto numa abordagem que aponta a figura do empreendedor como um trabalhador que transforma ideias em realidade, que visualiza nichos de mercado para atuar ou como aquele que aprimora idéias já implementadas, seja no próprio negócio ou na empresa em que atua (intra- empreendedor). Tanto nos textos acadêmicos quanto na imprensa especializada, os exemplos geralmente são de profissionais persistentes e aplicados em transformar recursos disponíveis em negócios de sucesso. Esta é de fato uma abordagem muito interessante, visto que é sempre empolgante para quem se interessa por este tema, ver profissionais que desenvolvem novos produtos e serviços, e através de sua capacidade empreendedora, geram empregos e dinamizam a economia em que atuam. Guia de Estudo - Empreendedorismo 24 No entanto, é fato que diante da necessidade de sobrevivência e das mudanças observadas no mercado de trabalho nos últimos anos, é difícil precisar até que ponto um novo negócio é fruto de uma cultura de empreendedorismo, ou se a abertura de novas empresas por vezes mascara um mercado de trabalho deteriorado e com perdas de direitos para o trabalhador. Por exemplo, quando um profissional abre uma empresa em função da exigência de seu empregador passar a contratá-lo como pessoa jurídica e não mais como empregado e conseqüentemente, com os direitos trabalhistas decorrentes desta condição, podem-se verificar traços de empreendedorismo no "novo empresário", visto que para dar conta de manter-se no mercado de trabalho nesta nova condição, é necessário ter iniciativa e capacidade de gerenciar a vida profissional. Porém, trata-se também de um caso de perda de direitos trabalhistas, em que o "novo empresário" é oficialmente responsável por seu negócio, mas na prática continua com a mesma relação patrão-empregado com o antigo empregador, agora contratante de seus serviços. Conforme destacado anteriormente, ainda não há na literatura uma definição concisa e aceita sobre o que é de fato empreendedorismo. Portanto, considerar abertura de empresas como empreendedorismo é uma questão controversa, visto que na abertura de um negócio, o proprietário não é obrigado a revelar o motivo que o levou àquela atividade, atendo-se somente às questões legais e burocráticas que envolvem a abertura de um negócio formalizado. Deste modo, considerar a abertura de um negócio como empreendedorismo, sem consultar o proprietário sobre suas motivações quanto á abertura do negócio, ou sem pesquisas que avaliem se o comportamento do proprietário frente ao negócio se aproxima das características de profissionais empreendedores ou de gerentes tradicionais, acaba sendo uma questão de ponto de vista, segundo valores Guia de Estudo - Empreendedorismo 25 e convicções que quem analisa o fato. De acordo com Bernardi (2003), ―A farta literatura disponível e a definição predominante da figura do empreendedor conduzem ao traçado de um perfil característico e típico de personalidade em que se destacam: senso de oportunidade, dominância, agressividade e energia para realizar, autoconfiança, otimismo, dinamismo, independência, persistência, flexibilidade e resistência a frustrações, criatividade, propensão ao risco, liderança carismática, habilidade de equilibrar ―sonho‖ e realização, e habilidade de relacionamento‖. (p. 64) De qualquer forma, o fato de criar uma nova empresa indica o movimento de um estágio de vida ou de negócio para outro, considerando que as atividades relacionadas à criação do negócio como escolha do local de atuação, levantamento de recursos e processo de produção ou prestação de serviço, entre outros, pode envolver traços de espírito empreendedor. No entanto, o registro ―frio‖ das estatísticas pode não contemplar todas as variáveis envolvidas no assunto em questão e levar a análises equivocadas. Cabe então refletir que nos anos 90 houve um intenso processo de terceirização em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Em função da conjuntura econômica, internacionalização e integração das economias nacionais, e inovações tecnológicas que hoje permitem que um produto tenha seus diversos elementos elaborados em diversas partes do mundo, a abertura de novas empresas muitas vezes pode significar a divisão de uma única organização em um conjunto de empresas menores, mas analisadas sob o ponto de vista da importância que carregam para a sociedade ou meio ambiente em que atuam, constituem-se em um único negócio. Neste caso, o simples aumento do número de empresas registradas nas juntas comerciais. não pode ser considerada empreendedorismo. Nos últimos anos, a palavra ―agilidade‖ tem sido uma constante no discurso de diversos atores na economia, desde grandes e pequenos empresários, a governantes e Guia de Estudo - Empreendedorismo 26 profissionais de instituições sem fins lucrativos. Ao contrário do que se observava até o final dos anos 1980, serviços não diretamente relacionados ao negócio ou atividade principal da organização, como serviços de limpeza, portaria, telefonia e manutenção de equipamentos foram terceirizados e obviamente, que para viabilizar esta nova ordem vigente, a criação de novas empresas é imprescindível. Conforme Dornelas (2001), após várias tentativasde estabilização econômica e em função das conseqüências do fenômeno da globalização, ocorreu no Brasil uma procura das empresas por alternativas para o aumento da competitividade, redução de custos e manutenção no mercado. Para este autor, ―Uma das conseqüências imediatas foi o aumento do índice de desemprego, principalmente nas grandes cidades, onde a concentração de empresas é maior. Sem alternativas, os ex-funcionários dessas empresas começaram a criar novos negócios, às vezes mesmo sem experiência no ramo, utilizando-se do pouco que ainda lhes restou de economias pessoais, fundo de garantia, etc. quando percebem esses profissionais já estão do outro lado. Agora são patrões e não mais empregados. Muitos ficam na economia informal, motivados pela falta de crédito, pelo excesso de impostos e pelas altas taxas de juros‖. (p. 15) Como se faz gente que faz? Sim, é possível formar empreendedores. Investir nisso é bom para o país, bom para as empresas e bom para você. POR DAVID COHEN, DE BABSON ―Vocês sabem o que é felicidade?‖, pergunta o professor Jeffry Timmons a uma turma de 40 empresários, altos executivos e acadêmicos no colégio de Babson, uma linda faculdade de negócios na periferia de Boston, conhecida como Guia de Estudo - Empreendedorismo 27 o maior centro de ensino de empreendedorismo dos Estados Unidos. Os alunos, gente como Richard Teerlink, ex-presidente da Harley-Davidson, respondem em coro: ―Felicidade é um fluxo de caixa positivo!‖ Essa turma está assistindo a um seminário de cinco dias para formar professores de empreendedorismo, que vão dar aulas em faculdades dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia e da América Latina. Boa parte é de gente que já ficou rica e agora quer passar sua experiência para frente. Eles querem saber a melhor maneira de ensinar. Mas ensinar a empreender? Para quê? Há poucas dúvidas, hoje, de que uma sociedade com mercado livre é capaz de produzir mais riqueza. Mas há uma condição primordial para que isso aconteça, uma característica sem a qual o mercado mais livre pode se tornar o menos aproveitado de todos: gente. Sem pessoas capazes de criar e aproveitar oportunidades, melhorar processos e inventar negócios, de pouco adiantaria ter o mercado mais livre do mundo. É aí que entra o espírito empreendedor - leia-se vontade e aptidão para realizar algo, deixar sua marca, fazer diferença. Pouco mais de 20 anos atrás, acreditava-se que as empresas com menos de 100 funcionários eram irrelevantes para analisar a economia de um país. Hoje, o consenso é outro. Nos Estados Unidos, a economia mais forte do planeta, estudos recentes mostraram que 81,5% dos empregos surgidos entre 1969 e 1976 nasceram nas novas companhias. Desde 1980, elas criaram 34 milhões de empregos, enquanto as 500 maiores empresas da lista da revista Fortune fechavam 5 milhões de vagas. No Brasil, as micro e pequenas empresas respondem por mais de 43% dos empregos. Somando as empresas médias (menos de 100 empregados, nos setores de comércio e serviços, ou menos de 500, na indústria), a taxa sobe para quase 60% dos empregos formais, de acordo com dados do IBGE de 1994. Isso sem contar o mercado informal, Guia de Estudo - Empreendedorismo 28 estimado em até 50% da economia brasileira. Não são só os empregos. Diferenças no nível de atividade empreendedora podem ser responsáveis por um terço da variação do crescimento econômico de um país, segundo um estudo feito em dez países pelo Global Entrepreneurship Monitor, um grupo de pesquisa formado pelo Babson College e pela London Business School. Mais: estudos da Fundação Nacional de Ciências e do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, nas décadas de 80 e 90, concluíram que metade de todas as inovações e 95% das inovações radicais no mundo dos negócios desde o fim da Segunda Guerra Mundial vieram das pequenas empresas. Pequenas que, bem entendido, muitas vezes se tornam grandes. Na década de 60, a lista das 500 maiores empresas americanas da Fortune tinha menos de dez substituições a cada ano. No final dos anos 80, o número de novatas triplicou. Atualmente, o clube das 500 vem trocando um terço dos seus sócios a cada três ou quatro anos. Talvez ainda mais importante do que isso, o espírito empreendedor pode promover de forma democrática a mobilidade social: ―Por ser centrado em oportunidades, o espírito empreendedor não dá a mínima para religião, cor de pele, sexo, naturalidade ou outras diferenças, e permite que as pessoas busquem e realizem seus sonhos‖, diz Jeffry Timmons, professor de empreendedorismo do Babson College. Isso é mais patente nos Estados Unidos, onde não por acaso o espírito empreendedor é o mais alto do mundo: quatro quintos das pessoas mais ricas do país, segundo a revista Forbes, eram originários de famílias de classe média. Na década de 80, a taxa de novos ricos era de 40%. (Este é um dos indícios, segundo Timmons, de que os Estados Unidos estão vivendo uma ―revolução empreendedora, cujos efeitos serão maiores que os da revolução industrial‖.) Em resumo: o espírito empreendedor é um dos fatores Guia de Estudo - Empreendedorismo 29 essenciais para aumentar a riqueza do país e melhorar as condições de vida de seus cidadãos. Essa afirmação leva imediatamente a duas questões. A primeira: o que é espírito empreendedor? E a segunda: é possível ensinar uma pessoa a tornar-se empreendedora? Quem de forma mais clara definiu a figura do empreendedor e sua importância para a economia capitalista foi o economista austríaco Joseph Schumpeter. No livro Capitalismo, Socialismo e Democracia, escrito em 1942, Schumpeter define a função do empreendedor como a de ―reformar ou revolucionar o padrão de produção pela exploração de um invento, ou, mais geralmente, de uma possibilidade tecnológica não testada, para produzir um novo bem ou produzir um velho bem de uma nova forma‖. Espírito empreendedor, portanto, não é simplesmente a coragem de abrir um negócio. Ele está intimamente ligado à inovação, ao crescimento, à exploração de uma brecha que ninguém mais viu. É isso que amplia as possibilidades de uma economia. A maior parte das empresas não se encaixa na definição de espírito empreendedor de Schumpeter. Segundo uma sondagem feita em 1997 nos balcões do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), 32% dos novos empresários decidiram abrir seu negócio porque estavam desempregados ou insatisfeitos no emprego – um motivo legítimo, mas insuficiente para denotar o espírito empreendedor. Outra forte razão para abrir uma empresa (também 32%) foi ―ter tempo disponível‖. Identificar uma oportunidade, que é a condição primordial para iniciar qualquer negócio, foi uma razão indicada por apenas 57% dos empresários na sondagem (a questão admitia mais de uma resposta). Não é à toa que os índices de falência de empresas são tão altos. No mundo inteiro, toma-se como base uma estimativa segundo a qual 80% das empresas fracassam em Guia de Estudo - Empreendedorismo 30 três anos de vida. A estimativa é certamente exagerada, masnão está muito longe da verdade. Uma pesquisa por amostragem feita em 1997 pelo SEBRAE em 12 estados mostra que o índice de falências varia entre 47% e 73% em três anos. Em São Paulo, o estado brasileiro que abriga mais empresas, os resultados foram: 35% de falências em um prazo de um ano, 47% em dois anos e 56% em três anos. Se as possibilidades de fracasso são tão grandes, é justo incentivar as pessoas a correr esse risco? Não, se abrir empresas for o equivalente financeiro a dar um salto no escuro. Sim, se uma cultura empreendedora ajudar a avaliar e a minimizar os riscos, se os fracassos puderem ser encarados como uma etapa no processo de aprendizado. É a esse processo que se refere o espírito empreendedor, algo bem diferente do espírito de aventura. Num passado recente, acreditava-se que o espírito empreendedor era uma função da personalidade, dependia mais que tudo do perfil psicológico. Schumpeter dizia que as características do empreendedor, essa capacidade de desafiar o que está estabelecido, estão presentes apenas numa pequena parcela da população. Pode ser. Mas hoje, há muito mais gente propensa a ter negócio próprio, diz Ofélia Torres, professora de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo. ―Primeiro, porque as empresas são menos estáveis; em segundo lugar, porque há muito mais estresse hoje nos cargos executivos, o que mina a criatividade da carreira como empregado; e, no caso brasileiro, porque há muita atração pela criatividade‖, diz Ofélia. Isso quer dizer que, a disposição para empreender pode ser substancialmente alterada pelo meio ambiente. Mas essa disposição, embora essencial, não é suficiente para a formação do espírito empreendedor, tal como é encarado hoje: uma forma de ver o mundo, aliada a um conjunto de técnicas e conhecimentos, que permite enxergar oportunidades e atuar de forma a obter resultados. Isso nos Guia de Estudo - Empreendedorismo 31 leva diretamente à segunda questão. É possível ensinar alguém a ser empreendedor? Uma das maneiras de responder a essa pergunta é com outra pergunta, formulada pelo consultor Fernando Dolabela: ―É possível ensinar alguém a ser empregado?‖ Dolabela é autor do livro Oficina do Empreendedor (editora Cultura) e criador de um método de ensino de empreendedorismo já utilizado em mais de 200 estabelecimentos de ensino, incluindo departamentos de informática e administração de universidades de ponta, como a UFMG e a FGV paulista. Dolabela explica os descaminhos do ensino com um exemplo caseiro. Numa reunião na escola de sua filha Fernanda, de 4 anos, a professora exibiu orgulhosa o progresso da menina, mostrando que em seis meses ela aprendera a fazer seus desenhos sem ultrapassar as linhas que delimitam o espaço para desenho. ―Daqui a 20 anos, vou ter de gastar uns 30.000 dólares num MBA para ela reaprender a ultrapassar as linhas que limitam seu espaço‖, diz Dolabela. É basicamente isso que se faz no Babson College. Matéria sobre Empreendedorismo que saiu na revista EXAME (Edição Especial de 26/08/2000). Guia de Estudo - Empreendedorismo 32 As lições de Babson Roger Babson foi um consultor e financista americano que ficou famoso por ter previsto a quebra da bolsa de 1929. Não ficou apenas famoso, ficou rico. Riquíssimo. Tanto que, querendo enviar seus filhos para uma escola de negócios e não gostando de nenhuma, resolveu criar a sua. Foi assim que nasceu o Babson College, na Nova Inglaterra, região que é hoje o segundo pólo de desenvolvimento da Nova Economia nos Estados Unidos, atrás apenas da região do Vale do Silício, na Califórnia. É claro que, nesse tempo todo, a escola mudou um pouquinho. Durante muitos anos, ela foi vista como um reduto da aristocracia corporativa: num de seus cursos, por exemplo, os estudantes costumavam levar suas secretárias para a sala de aula para treinar ditados de executivo. Atualmente, em vez da imagem de aristocrático, o Babson College é reconhecido como o principal pólo do ensino de empreendedorismo nos Estados Unidos. Desde que a revista US News & World Report instituiu a lista de melhores faculdades de negócios do país, há sete anos, o Babson College sempre aparece como a melhor instituição para formação de empreendedores. É também o primeiro colocado no ranking de ensino de empreendedorismo da Business Week, à frente de centros de excelência como Wharton, Harvard e Stanford. Foi nesse nicho que o colégio apostou há mais de um quarto de século. Pois a aposta se pagou: a formação de empreendedores virou uma febre nos Estados Unidos. No ano passado, mais de 1.100 faculdades Americanas ofereceram cursos de empreendedorismo. Em mais de 30 Estados do país, cursos desse tipo vêm sendo oferecidos para crianças e adolescentes, e oito deles já aprovaram legislação requerendo que as escolas de ensino primário e secundário incluam essa matéria em seu currículo. Até a Escola de Negócios da veneranda Universidade Harvard, a 40 minutos de carro de Babson, está reorganizando seu currículo de MBA para apostar na formação de empreendedores: a cadeira de Administração Geral, carro- chefe da escola, foi substituída este ano por uma que se chama O Administrador Empresarial. (A mudança de Harvard é provocada pelos novos tempos: no ano passado, mais de um quarto das cadeiras optativas escolhidas pelos alunos eram do Departamento de Empreendedorismo, que nos anos 80 Guia de Estudo - Empreendedorismo 33 oferecia apenas duas matérias.) Mas esse ensino funciona? Bill Gates, talvez o maior símbolo de empreendedor deste fim de século, não cursou MBA. Ao contrário, largou a faculdade para fundar a Microsoft. Jeffry Timmons, responsável pelo programa Price-Babson de formação de professores de empreendedorismo, tem uma resposta na ponta da língua: ―Se você está me perguntando se, num curso de 40 horas de aula, num semestre, eu posso transformar um aluno médio no equivalente corporativo a um Picasso ou um Beethoven, acho que nós dois sabemos a resposta‖. O que aprendem, então, os 3 500 alunos de Babson? ―Não estamos tentando ensinar a melhor maneira de fazer negócios, e sim as melhores maneiras‖, diz Les Charm, professor e consultor especializado em finanças. ―Você pode trazer os alunos até a fonte. Você não pode obrigar ninguém a beber, mas pode mostrar a fonte‖, diz Leonard Green, outro professor de Babson. Ou, na definição de Julian Lange, também professor, especializado em Internet: ―Empreendedores são oportunistas. É possível ensinar isso? Sim. A paixão por um produto ou serviço não se ensina, mas podemos ajudar a descobri-la. E podemos ensinar como os elementos de um negócio - recursos, equipes e oportunidades - interagem e mudam‖. Babson não formou Bill Gates, mas ajudou a forjar dezenas de grandes empreendedores. Como Bob Davis, da turma de 1985, fundador do Lycos, um portal que está se fundindo ao portal Terra, do grupo espanhol Telefónica, este ano. O novo Terra, fruto dessa fusão, terá Davis como executivo-chefe. Ou como Arthur Blank, presidente da Home Depot, uma cadeia de lojas de produtos para casa do tipo monte-você-mesmo, que faturou 38 bilhões de dólares no ano passado e há seis anos é eleita pela revista Fortune como a empresa de varejo mais admiradanos Estados Unidos. Ou, ainda, como Gordon Hoffstein, presidente da Be Free, uma empresa que fornece serviços de marketing pela Internet. A Be Free é a oitava companhia que Guia de Estudo - Empreendedorismo 34 Hoffstein ajuda a formar. Antes, presidiu empresas que sob sua direção faturaram de 300 a 525 milhões de dólares (e algumas que faliram, também). ―Em Babson, aprendi um método de encarar a realidade para tirar vantagem de oportunidades de negócios e resolver problemas. Esse método ajuda a ver um negócio em sua totalidade, não apenas a partir de uma disciplina‖, disse Hoffstein a EXAME, em entrevista por e-mail. Michael Smith, presidente da Hughes Electronics, costuma citar o curso de criatividade, ―principalmente porque ensina você a ser mais aberto para as idéias de outras pessoas‖.Segundo o casal de estudantes brasileiros Daniel Cifu e Eloisa Wolter, Babson ―ensina um estilo diferente de pensar, baseado em idéias, equipes e formulação do negócio, sempre com foco em avaliar oportunidades e verificar se elas têm chances no mercado‖. Então Babson é uma fábrica de empreendedores? É só cursá-la para virar um bem-sucedido homem ou mulher de negócios? Nem tanto. Apenas 15% de seus alunos abrem empresas. Isso num momento em que os Estados Unidos vivem a tal da ―revoluçãodos empreendedores‖, na definição de Timmons. Há cinco anos, a taxa de alunos que abriam negócios era de 7%. Mesmo esse índice de empreendedores já é extremamente positivo. Mas há outros 25% a 30% de alunos que vão trabalhar em empresas novas, segundo Stephen Spinelli, professor de estudos de empreendedorismo. ―A maioria dos alunos de Babson vai trabalhar em grandes empresas porque sente que precisa de mais experiência ou porque, tendo pago a faculdade, precisa juntar dinheiro antes de tentar montar sua própria empresa‖, diz Spinelli. Também há um outro desenvolvimento do espírito empreendedor no mundo corporativo: o empreendedorismo interno. Mesmo as maiores companhias do mundo estão hoje olhando as pequenas empresas inovadoras como o ideal de comportamento. Por isso, profissionais empreendedores Guia de Estudo - Empreendedorismo 35 (intrapreneurs, em inglês) têm sido valorizados, especialmente para liderar divisões ou departamentos. É o que diz John Altman, professor de empreendedorismo nas corporações: ―Quando Babson me tirou da aposentadoria, a última coisa que eu queria era transformar os dinossauros burocratas em empreendedores. Porque sempre fui ligado a empresas novas. Mas as grandes companhias são as que mais precisam de empreendedorismo. Elas têm de se transformar em empreendedoras para atrair algo ainda mais importante do que os clientes: os jovens que vão liderar a companhia no futuro‖. Não é à toa que Babson se mantém como centro de formação de empreendedores. Por apostar nesse nicho mais do que qualquer faculdade, atrai muitos empresários e consultores, que formam a quase totalidade de seus professores. Vários ficaram ricos por volta dos 40, 50 anos, e decidiram passar à vida acadêmica (como disse um dos empresários: ―Eu tentei a aposentadoria e falhei‖). Um dos professores de Babson doa todo o salário para a própria faculdade. Uma equipe assim tem três vantagens: a visão prática de quem já fez funcionar empresas, a facilidade de trazer convidados para expor casos (assim como em Harvard, todo o curso é baseado no estudo de casos) e a rede de conhecimentos. É claro que não se reproduz com facilidade um ambiente desse tipo, mas algumas características do ensino de Babson, explicadas durante um curso de cinco dias de formação de professores- empreendedores, podem jogar luz sobre trilhas a ser seguidas por quem queira dinamizar seu trabalho ou abrir um negócio. Ei-las:? Para criar um ambiente de ensino de empreendedorismo, o mais importante é ter exemplos de gente que possa dizer o que fez e como fez, falar sobre os problemas que enfrentou. ―Ensinar e empreender são uma combinação poderosa, porque todo empreendedor é um professor. Quer ensinar os outros, é curioso, quer saber como são as coisas‖, diz Spinelli, um desses casos de empresários que ficaram ricos Guia de Estudo - Empreendedorismo 36 e resolveram dar aulas. Nos cursos de Babson, os professores costumam apresentar um problema, pedir que os alunos dêem soluções, discutam, e depois apresentam o empresário, que responde a perguntas e conta o desfecho do caso na vida real. Em Babson, é comum ouvir o quanto é importante ser holístico. (Isso quer dizer enxergar as partes em função do todo.) Normalmente, holismo é papo de esotéricos, Médicos alternativos e profissionais de RH. Mas, em Babson, é assunto para empresários. O próprio curso de MBA foi totalmente reformulado, em 1993, para ser holístico. Isso significa que o curso não é separado em blocos, com um departamento de finanças, outro de marketing etc. O que o guia é o processo de fundar e dirigir uma empresa, e os professores de cada área dão seus diferentes enfoques para o mesmo problema. ? A visão de abrir uma empresa sempre foi a de alocação de recursos. O modelo de Babson é centrado na identificação de oportunidades. Para entender a diferença, leia este caso, relatado por Allan Cohen, professor de liderança: ―Numa reunião do conselho da Vinfen, uma organização americana que cuida de doentes mentais, uma enfermeira tentava convencer dois empresários a construir mais centros de tratamento. Os empresários sabem que esses centros não se pagam, que sua viabilidade financeira é nula. O argumento da enfermeira é que há gente precisando deles. Eles estão pensando em termos de recursos, ela é quem está vendo a oportunidade. Qualquer gerente pode pensar em termos de oportunidade‖. ? Mostre uma situação a um bom jornalista e ele imediatamente vai pensar: ―Isso é publicável? A que leitores interessa?‖ Conte uma história a um bom diretor de teatro e ele automaticamente vai pensar: ―Dá para encenar? Com que luz? Como isso vira diálogo?‖ Da mesma forma, um empreendedor deve estar sempre atento a descontinuidades no mercado, deve olhar a realidade e pensar: ―Há uma Guia de Estudo - Empreendedorismo 37 oportunidade? Ela é viável? Posso oferecer um serviço com um preço que dê lucro?‖ ―O empreendedor é uma máquina de geração de oportunidades. Por isso ele é tão importante para a sociedade‖, diz Timmons. Mitos sobre empreendedores MITO 1 Empreendedores nascem feitos. Realidade: Embora empreendedores nasçam com uma certa inteligência, vontade de criar e energia, sua formação depende da acumulação de habilidades relevantes, experiência, contatos. MITO 2 Qualquer um pode começar um negócio. Realidade: Pode. Sobreviver e florescer é que são elas. Empreendedores que entendem a diferença entre uma ideia e uma oportunidade e pensam grande têm mais chances de ser bem-sucedidos. MITO 3 Dinheiro é o fator mais importante para montar uma empresa. Realidade: Se as outras peças e o talento estão no lugar, o dinheiro virá. Dinheiro é como o pincel e a tinta para um pintor - materiais que, nas mãos certas, produzem maravilhas. MITO 4Empreendedores não têm chefe e são completamente independentes. Realidade: Todo mundo é chefe do empreendedor: seus sócios, investidores, clientes, fornecedores, empregados, família, comunidade. Mas os empreendedores podem escolher as exigências que vão atender, e quando. MITO 5 Empreendedores devem ser jovens e cheios de energia. Realidade: Essas qualidades podem ajudar, mas idade não é barreira. O que é crítico é possuir o conhecimento relevante, experiência e contatos que facilitam reconhecer e agarrar uma oportunidade. MITO 6 Empreendedores trabalham mais do que executivos de grandes companhias. Realidade: Alguns trabalham mais, outros não. Guia de Estudo - Empreendedorismo 38 MITO 7 Empreendedores são lobos solitários. Realidade: Os empreendedores mais bem-sucedidos são líderes que constroem grandes equipes e ótimos relacionamentos com pares, diretores, investidores, clientes, fornecedores e outros. MITO 8 Empreendedores são jogadores. Realidade: Empreendedores bem-sucedidos calculam muito bem os riscos. Eles tentam influenciar o jogo de probabilidades, freqüentemente atraindo outros para dividir os riscos com eles. MITO 9 Qualquer empreendedor com uma boa ideia pode atrair investimentos de risco. Realidade: Nos Estados Unidos, apenas entre 1 e 3 de cada 100 empreendedores com boas idéias conseguem atrair capitalistas de risco. MITO 10 Empreendedores querem o show todo só para eles. Realidade: Privilegiar o próprio ego coloca um teto nas possibilidades de crescimento. Os melhores empreendedores geralmente sabem construir um time, uma organização, uma companhia. MITO 11 Empreendedores sofrem um estresse tremendo. Realidade: Sem dúvida, mas não há evidências de que o empreendedor sofra mais estresse do que outros profissionais com muita responsabilidade. A maioria dos empreendedores, ao contrário, acha seu trabalho muito satisfatório. A experiência brasileira Apesar de ainda embrionário, o ensino de empreendedorismo vem crescendo muito no Brasil. A adoção do método de formação de empreendedores criado pelo consultor Fernando Dolabela é um exemplo. Outro exemplo é o programa Brasil Empreendedor, lançado pelo governo no ano passado, cuja meta é capacitar mais de 2 milhões de empresários. (Embora seja um curso de apenas 16 horas, é um primeiro contato com o assunto: cerca de metade dos capacitados pelo Sebrae tem se inscrito em novos cursos, segundo o gerente de estudos e pesquisas Araguacy Affonso Rego.) Também a chegada de investidores estrangeiros está multiplicando o número de incubadoras de empresas e cursos de empreendedorismo nas universidades (havia 2 Guia de Estudo - Empreendedorismo 39 incubadoras no país em 1988, 27 em 1995 e hoje há mais de 100). Uma das melhores experiências brasileiras é da PUC do Rio de Janeiro. Sua incubadora já formou 9 empresas, e tem 24 em gestação. ―Sete dessas empresas que saíram são do tipo que nós queremos incentivar: querem crescer, têm faturamento médio de 800 mil a 1 milhão de reais/ano e média de 20 funcionários‖, diz José Alberto Sampaio Aranha, responsável pelo programa. A mais bem-sucedida é a MHW, que vende o universite, um software de educação a distância. A empresa virou parceira da Microsoft, tem escritório nos Estados Unidos e recebeu investimentos de 12 milhões de dólares. Outra empresa saída do projeto Gênesis, da PUC, é a Pipeway, inventora de um robozinho que ganhou concorrência para a inspeção de 3 000 quilômetros do gasoduto Brasil-Bolívia. A PUC tem hoje três cadeiras de empreendedorismo, eletivas. Elas serão a espinha dorsal de uma coordenação de empreendedorismo que deve atingir todos os cursos da universidade. Outra experiência bem-sucedida é a Escola Técnica de Formação Gerencial, criada em 1994 em Belo Horizonte. O curso dura três anos, e um terço dos alunos é de filhos de empresários. Hoje há 20 dessas escolas em Minas Gerais, que já formaram cerca de 600 alunos. O método de ensino vem da Áustria, e os professores são pequenos e médios empresários que transmitem sua experiência. Um dos programas da escola, que visa capacitar pessoas carentes ou deficientes a obter alguma renda, foi premiado numa feira da Alemanha. No Rio Grande do Sul, mais de 600 escolas estão participando de algum tipo de programa da Junior Achievement, uma associação americana que promove o ensino de empreendedorismo para jovens. ―A educação formal não prepara os jovens para empreender‖, diz Wilma Araujo Santos, diretora do Junior Achievement no Estado. Também nesse caso são voluntários das empresas patrocinadoras que dão aulas os jovens. Que a onda de empreendedorismo chegou ao Brasil não há dúvida. O concurso e-Cobra de planos de negócios, que teve apoio de EXAME, foi lançado em 15 de dezembro, com expectativa de receber 200 inscrições. ―Recebemos mais de 700 planos‖, diz Heitor Martins, consultor da McKinsey e responsável pelo programa. Mais de 10 000 pessoas se inscreveram no site do e-Cobra para um concurso que foi montado como um processo de aprendizado, incluindo palestras e material de consulta. ―As 1 000 visitas diárias ao site mostram uma demanda forte por ajuda para ser empreendedor‖, diz Martins. Colaboraram Suzana Naiditch e José Maria Furtado Guia de Estudo - Empreendedorismo 40 CULTURA EMPREENDEDORA A inovação faz parte da cultura empreendedora, no sentido de identificar as demandas de uma empresa ou grupo social e adotar uma postura pró-ativa, visando buscar respostas para as questões existentes e desenvolver processos, produtos ou serviços capazes de satisfazer estas demandas. Filion (2000: 23), relaciona os seguintes elementos que compõem a cultura empreendedora: Identificação de oportunidades de negócio; Definição de visões; Expressão de diferenciais; Avaliação de riscos; Gestão de relacionamentos. O desenvolvimento da cultura empreendedora depende de vários fatores como, por exemplo, características culturais, níveis de progresso científico e tecnológico, para suportar as idéias concebidas e orientação da direção de empresas e governos no sentido de avançar na produção do conhecimento e desenvolver métodos e técnicas que proporcionem a obtenção de maior lucratividade das empresas e bem-estar social. Para Bernardi (2003), ―entre muitas motivações e razões objetivas e subjetivas para empreender encontram-se predominantemente as seguintes: necessidade de realização, implementação de ideias, independência, fuga da rotina profissional, maiores responsabilidades e riscos, prova de capacidade, auto-realização, maior ganho, status e controle de qualidade de vida‖. (p. 66) Conforme Hisrich e Peters (2004), ―A percepção de que é desejável iniciar uma nova empresa é resultado da cultura, da subcultura, da família, dos professores e dos colegas de uma pessoa. A cultura que valoriza um indivíduo que cria com sucesso um novo negócio dará origem a mais empreendimentos do que uma cultura que não dá valor a isso‖. (p. 31) Guia de Estudo - Empreendedorismo 41 Guia de Estudo - Empreendedorismo 42UNIDADE 2 - TIPOS DE EMPREENDEDOR Ao final do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: Compreender o conceito dos diversos tipos de Empreendedores; Entender o papel dos tipos de Empreendedores para sociedade; TIPOS DE EMPREENDEDOR Existem vários tipos de empreendedor. Mas Young (1990, apud URIARTE, 1997, p.25-26) indica como mais citados na literatura, os seguintes tipos: 1. Empreendedor artesão: é aquele indivíduo que tem conhecimento técnico, e monta a sua empresa para praticar o seu ofício. 2. Empreendedor tecnológico: é aquele indivíduo que tem conhecimento do desenvolvimento ou comercialização de um novo produto ou processo inovador, e monta a sua empresa para introduz ir essas melhorias tecnológicas e obter lucro. 3. Empreendedor oportunista: é aquele indivíduo que enfoca o crescimento e o ato de criar uma nova atividade econômica, e monta a sua empresa ou compra e faz crescer empresas em resposta a uma oportunidade observada. 4. Empreendedor ―estilo de vida‖: é aquele indivíduo que começa um negócio porque acha que a sua empresa lhe proporcionará a liberdade, a independência e/ou outros benefícios desejados para a sua vida. Segundo Jean-Baptiste Say (1803, apud NETO, 2005, Preste muita atenção, aqui serão abordados os diversos tipos de empreendedores e seus papeis na sociedade. Qual a contribuição de cada um dos empreendedores para a qualidade de vida da sociedade. Guia de Estudo - Empreendedorismo 43 p.3), empreendedor é: ―Alguém que inova e é agente de mudanças‖. Já para o professor Jacques Fillion (2003, apud RIBEIRO, 2005), o empreendedor é capaz de perceber oportunidades, transformar sonhos em realidades e considerar que o erro e o fracasso são ocasiões para aprender alguma coisa, ou, de forma mais sucinta: ―Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões‖. De acordo com Lezana (1998, p.44): Empreendedores são pessoas que perseguem o benefício, trabalhando individual e coletivamente. Podem ser definidos como indivíduos que inovam, identificam e criam oportunidades de negócio, montam e coordenam novas combinações de recursos (funções de produção), para extrair os melhores benefícios de suas inovações num meio incerto. Para Cunha (1997, apud URIARTE, 1997, p.22), o empreendedor é alguém que define metas, busca informações e é obstinado. Segundo Gerber (1996, apud URIARTE, 1997, p.22), o empreendedor é um grande estrategista, inovador, criador de novos métodos para penetrar e/ou criar novos mercados; é criativo e lida com o desconhecido, imaginando o futuro, transformando possibilidades em probabilidades e caos em harmonia. Chumpeter (1934, apud URIARTE, 1997, p.22) destacou que as funções inovadoras e de promoção de mudanças do empreendedor servem para promover o desenvolvimento e crescimento econômico. De acordo com Filion (2000), ―O empreendedor é uma pessoa que empenha toda sua energia na inovação e no crescimento, manifestando-se de duas maneiras: criando sua própria empresa ou desenvolvendo alguma coisa completamente nova em uma empresa preexistente (que herdou ou comprou, por exemplo). Nova empresa, novo Guia de Estudo - Empreendedorismo 44 produto, novo mercado, nova maneira de fazer – tais são as manifestações do empreendedor‖. (p. 24). Segundo Karl Vesper (1980) in Hisrich e Peters (2004), ―Para o economista, um empreendedor é aquele que combina recursos, trabalho, materiais e outros ativos para tornar seu valor maior do que antes; também é aquele que introduz mudanças, inovações e uma nova ordem. Para um psicólogo, tal pessoa é geralmente impulsionada por certas forças – a necessidade de obter ou conseguir algo, experimentar, realizar ou talvez escapar à autoridade de outros. Para alguns homens de negócios, um empreendedor aparece como uma ameaça, um concorrente agressivo, enquanto, para outros, o mesmo empreendedor pode ser um aliado, uma fonte de suprimento, um cliente ou alguém que cria riqueza para outros, assim como encontra melhores maneiras de utilizar recursos, reduzir o desperdício e produzir empregos que outros ficarão satisfeitos em conseguir‖. (p. 29). Conforme Chiavenato (2004), ―Na verdade, o empreendedor é a pessoa que consegue fazer as coisas acontecerem, pois é dotado de sensibilidade para os negócios, tino financeiro e capacidade de identificar as oportunidades. Com esse arsenal, transforma idéias em realidade, para benefício próprio e para benefício da comunidade. Por ter criatividade e um alto nível de energia, o empreendedor demonstra imaginação e perseverança, aspectos que, combinados adequadamente, o habilitam a transformar uma idéia simples e mal estruturada em algo concreto e bem- sucedido no mercado‖. (p. 5). Para Schumpeter (1949) in Dornelas (2001: 37), ―O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização pela exploração de novos recursos e materiais‖. Bolton destaca três tipos de empreendedores: Guia de Estudo - Empreendedorismo 45 Empreendedor de negócios: aquele que identifica oportunidades no mercado planeja e constrói novas empresas; Empreendedor Corporativo: (Intra – Empreendedor) o indivíduo que promove as mudanças dentro da empresa em que trabalha; re inventa a emprese e os negócios, etc; Empreendedor Comunitário ou social: aquele que promove mudanças reúne recursos e constrói em benefício da comunidade – voluntariado; terceiro setor. EMPREENDEDOR CORPORATIVO (INTRA EMPREENDEDOR) De acordo com Pinchot (1989), a diferença entre o empreendedor e o intra-empreendedor é que o empreendedor deixa a empresa onde trabalha para vivenciar as emoções, riscos e gratificações de uma idéia transformada em realidade. Já o intra-empreendedor realiza tudo isso dentro da empresa onde trabalha. Ou seja, o intra-empreendedorismo é a presença do ―espírito empreendedor‖ nas organizações. Para Neto (2005), intra-empreendedores são as pessoas que vislumbram e desenvolvem oportunidades de Guia de Estudo - Empreendedorismo 46 negócios ou de melhorias para a organização onde trabalham. Hashimoto (2006, p.13) afirma que qualquer funcionário que por iniciativa própria promove alguma mudança dentro ou fora do seu escopo de trabalho, para o qual ele não é originalmente pago pode, a rigor, ser considerado um empreendedor corporativo. Uriarte (1997) destaca a importância dos empreendedores para dar vida às grandes empresas existentes. Isso porque, para serem bem-sucedidas, as empresas precisam manter uma liderança em mudanças em relação aos concorrentes. E esta liderança só é possível quando elas têm em seu quadro pessoas capazes de iniciar mudanças em tecnologia, marketing ou organização. Para o psiquiatra Shinyashiki (2005), empresas campeãs são formadas por seres humanos campeões. Os intra-empreendedores são profissionais que se responsabilizam pelos projetos da empresa como se fosse uma unidade de negócio, resolvem seus problemas e, principalmente, evitam que eles aconteçam,
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