Buscar

ACIDENTES OFà DICOS EM CÃES CAUSADOS POR SERPENTES DOS GÊNEROS Bothrops E Crotalus

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FEPI – FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA DE ITAJUBÁ 
UNIVERSITAS – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ 
 
 
 
 
 
 
MATHEUS DE ARAUJO PRUDÊNCIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ACIDENTES OFÍDICOS EM CÃES CAUSADOS POR SERPENTES DOS GÊNEROS 
Bothrops E Crotalus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ITAJUBÁ 
2009 
FEPI – FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA DE ITAJUBÁ 
UNIVERSITAS – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ 
 
 
 
 
 
 
MATHEUS DE ARAUJO PRUDÊNCIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ACIDENTES OFÍDICOS EM CÃES CAUSADOS POR SERPENTES DOS GÊNEROS 
Bothrops E Crotalus 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Curso de Medicina Veterinária do 
UNIVERSITAS Centro Universitário de 
Itajubá, sob orientação do professor M.Sc. 
Rodolfo Malagó. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ITAJUBÁ 
2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a minha esposa 
amada, Gislene Aparecida Silva de Araujo 
Prudêncio, pela sua paciência, compreensão e 
companheirismo. 
Dedico ao meu pai, Luiz Prudêncio 
Santos, meu exemplo e inspiração, com quem 
sempre tenho a certeza que posso contar. 
Dedico a minha mãe, Maria Gorete Souza 
de Araujo Prudêncio, quem sempre me incentivou 
em meus estudos e em minha vida. 
Dedico a minha irmã, Marcella de Araujo 
Prudêncio, a quem admiro pela força e coragem e 
amo de todo coração. 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus por me dar força a cada dia para concluir mais essa 
etapa. 
Agradeço aos professores que me incentivaram e contribuíram para a minha formação. 
Agradeço muito ao meu orientador Rodolfo Malagó, pelo apoio, colaboração e 
amizade. 
Agradeço a professora Diva Aparecida Moutinho Cardoso e a minha tia Dalva de 
Araujo, por dedicarem parte do seu tempo para me auxiliar na correção deste trabalho de 
conclusão de curso. 
Agradeço ao biólogo Marcelo Ribeiro Duarte e a todos os funcionários do Instituto 
Butantan que me auxiliaram nas pesquisas bibliográficas. 
Agradeço ao Abílio Pereira da Silva Neto e a todos os colegas, por caminharem ao 
meu lado, por me proporcionarem ótimos momentos e por me ajudarem a vencer esta luta. 
Agradeço aos meus queridos alunos, pela compreensão e apoio. 
Agradeço a todos que contribuíram para conclusão deste curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eu fui à floresta porque queria viver livre. Eu 
queria viver profundamente, e sugar a própria 
essência da vida... expurgar tudo o que não fosse 
vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia 
vivido". 
Henry David Thoreau 
RESUMO 
 
O objetivo deste trabalho foi descrever os acidentes ofídicos em cães causados por serpentes 
do gênero Bothrops e Crotalus, apresentando os sinais clínicos, diagnósticos, tratamentos e 
enfatizando a importância do reconhecimento da espécie agressora e da rápida atuação do 
médico veterinário. Este levantamento bibliográfico buscou reunir informações, relatos de 
casos, teses de medicina veterinária e de livros que abordam o assunto, contudo, não houve 
pretensão de que o assunto aqui se esgote e sim de auxiliar os leitores que clinicam no 
tratamento do animal acidentado, além de servir de suporte para trabalhos acadêmicos futuros. 
Concluiu-se que mais ainda que no envenenamento botrópico, no crotálico, o tempo decorrido 
entre a picada e o tratamento é crucial no restabelecimento dos animais e que do ponto de 
vista ético, o veterinário independente do tempo transcorrido e da condição clínica do animal 
deve sempre ministrar o antiveneno. 
 
Palavras-chave: Bothrops, Crotalus, cão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The objective of this study was to describe ophidian accidents in dogs caused by snakes of 
species Bothrops e Crotalus, presenting clinical signs, diagnosis, treatments and emphasize 
the importance of aggressor species recognition and fast action by the veterinarian. This 
literature review sought to collect information, case reports, veterinary medicine dissertations, 
and books of which board this subject, although without the pretension of enclose the subject, 
but to assist the readers that treats injured animals, over and above attend on support to future 
academic discussions. In conclusion, even more than Bothrops poisoning, in Crotalus 
poisoning, the passed away time between the bite and the treatment is crucial in the animal’s 
recuperation. In the ethical point of view, the veterinarian should always to administer the 
antipoison, independently of the elapsed time and animal’s clinical condition. 
 
Keywords: Bothrops, Crotalus, dog. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 14 
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 16 
2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS COBRAS .......................................... 16 
2.2 GÊNEROS DE SERPENTES PEÇONHENTAS ..................................... 17 
2.3 SENTIDOS .............................................................................................................. 21 
2.4 ALIMENTAÇÃO ................................................................................................... 22 
2.5 ESPÉCIES AMEAÇADAS ................................................................................. 23 
2.6 ACIDENTES OFÍDICOS .................................................................................... 23 
2.6.1 Dados estatísticos ....................................................................................................... 23 
2.6.2 Distribuição dos acidentes ofídicos no Brasil .......................................................... 23 
2.6.3 Acidente com serpente dos gêneros Lachesis e Micrurus ....................................... 24 
2.6.4 Acidente com serpente do gênero Bothrops ............................................................ 25 
2.6.4.1 Distribuição geográfica das serpentes do gênero Bothrops .................................. 31 
2.6.5 Acidente com serpente do gênero Crotalus ............................................................. 35 
2.6.5.1 Distribuição geográfica das serpentes do gênero Crotalus ................................... 41 
2.7 QUANTIDADE DE VENENO INOCULADO ............................................. 41 
2.8 AÇÕES DOS VENENOS OFÍDICOS ............................................................. 42 
2.8.1 Ação proteolítica ........................................................................................................ 42 
2.8.2 Ação coagulante ......................................................................................................... 42 
2.8.3 Ação neurotóxica ...................................................................................................... 43 
2.8.4 Ação hemorrágica ..................................................................................................... 43 
2.8.5 Ação hemolítica ......................................................................................................... 44 
2.8.6 Ação miotóxica ........................................................................................................... 44 
2.8.7 Ação nefrotóxica ........................................................................................................44 
2.8.8 Ações comparadas entre os venenos crotálico e botrópico .................................... 45 
2.9 TOXIDADE DOS VENENOS ........................................................................... 47 
2.10 EXAMES LABORATORIAIS ........................................................................... 47 
2.10.1 Testes de coagulação ................................................................................................. 47 
2.10.2 Hemograma ................................................................................................................ 47 
2.10.3 Dosagem de veneno sérico ........................................................................................ 48 
2.10.4 Outros exames a serem solicitados .......................................................................... 49 
2.11 TRATAMENTO ..................................................................................................... 49 
2.11.1 Soro antiofídico, anticrotálico e antibotrópico ....................................................... 51 
2.11.2 Protocolo de atendimento ......................................................................................... 54 
2.11.3 Tratamento não específico ........................................................................................ 55 
2.11.3.1 Antibioticoterapia .................................................................................................. 55 
2.11.3.2 Heparina e reposição de fatores de coagulação ................................................... 55 
2.11.3.3 Debridamento cirúrgico ........................................................................................ 56 
2.11.3.4 Fasciotomia ............................................................................................................. 56 
2.11.3.5 Profilaxia do tétano ................................................................................................ 56 
2.11.3.6 Choque .................................................................................................................... 57 
2.11.3.7 Insuficiência Renal Aguda (IRA) .......................................................................... 57 
2.11.4 Fitoterapia .................................................................................................................. 57 
3 METODOLOGIA ................................................................................................ 59 
4 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 60 
4.1 SINAIS CLÍNICOS ............................................................................................... 60 
4.1.1 Acidentes botrópicos ................................................................................................. 60 
4.1.2 Acidentes crotálicos ................................................................................................... 61 
4.2 EXAMES LABORATORIAIS ........................................................................... 61 
4.3 TRATAMENTOS .................................................................................................. 62 
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 63 
 REFERENCIAS ................................................................................................... 64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 Parto, cobra vivípara ..................................................................................... 16 
Figura 2 Eclosão, cobra ovípara .................................................................................. 16 
Figura 3 Posicionamento da fosseta loreal, narina e olho ......................................... 17 
Figura 4 Evidencia da fosseta loreal .......................................................................... 17 
Figura 5 Dentes inoculadores ....................................................................................... 18 
Figura 6 Diferenciação entre os gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis .................. 18 
Figura 7 Ausência de fosseta loreal e dentição do gênero Micrurus ......................... 18 
Figura 8 Dentição das cobras áglifas ........................................................................... 20 
Figura 9 Dentição das cobras solenóglifas .................................................................. 20 
Figura 10 Dentição das cobras proteróglifas ................................................................ 20 
Figura 11 Dentição das cobras solenóglifas .................................................................. 21 
Figura 12 Roedor sendo ingerido .................................................................................. 22 
Figura 13 Áreas de necrose ............................................................................................ 28 
Figura 14 Feridas com tecido de granulação, 11ºdia ................................................... 28 
Figura 15 Feridas no dia 17º dia .................................................................................... 28 
Figura 16 Feridas no dia 25º dia .................................................................................... 29 
Figura 17 Ferida completamente curada no 55º dia .................................................... 29 
Figura 18 Cão apresentando necrose na região nasal ................................................. 30 
Figura 19 Cão apresentando edema facial .................................................................... 31 
Figura 20 Edema facial ................................................................................................... 31 
Figura 21 Bothrops jararaca ........................................................................................... 32 
Figura 22 Distribuição geográfica da Bothrops jararaca ............................................. 32 
Figura 23 Bothrops moojeni ............................................................................................ 32 
Figura 24 Distribuição geográfica da Bothrops moojeni .............................................. 32 
Figura 25 Bothrops jararacussu ..................................................................................... 33 
Figura 26 Distribuição geográfica da Bothrops jararacussu ....................................... 33 
Figura 27 Bothrops alternatus ........................................................................................ 33 
Figura 28 Distribuição geográfica da Bothrops alternatus .......................................... 33 
Figura 29 Bothrops atrox ................................................................................................ 34 
Figura 30 Distribuição geográfica Bothrops atrox ....................................................... 34 
Figura 31 Bothrops erytbromelas .................................................................................... 34 
Figura 32 Distribuição Geográfica da Bothrops erytbromelas ................................... 34 
Figura 33 Bothrops neuwiedi .......................................................................................... 35 
Figura 34 Distribuição geográfica da Bothrops neuwiedi ............................................ 35 
Figura 35 Ptose palpebral e face neurotóxica ................................................... 37 
Figura 36 Cloração de urina humana, após acidente crotálico .................................. 38 
Figura 37 Sedimento urinário da cadela picada por cascavel .................................... 40 
Figura 38 Grumos epiteliais associadas com dano renal ............................................. 40 
Figura 39 Histopatologia - fibras musculares necrosadas ...........................................40 
Figura 40 Crotalus durissus terrificus ............................................................................ 41 
Figura 41 Distribuição geográfica da Crotalus durissus terrificus .............................. 41 
Figura 42 Soro antiofídico polivalente Master Soro Plus ............................................ 53 
Figura 43 Área de necrose - grupo I .............................................................................. 58 
Figura 44 Área de necrose - grupo II ............................................................................ 58 
Figura 45 Área de necrose - grupo III ........................................................................... 59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 Acidentes humanos por cobras identificadas .............................................. 23 
Quadro 2 Quantidade de veneno extraído .................................................................... 42 
Quadro 3 Acidentes por serpentes do gênero Bothrops e Crotalus ............................. 45 
Quadro 4 Veneno a ser neutralizado no acidente botrópico ....................................... 46 
Quadro 5 Veneno a ser neutralizado no acidente crotálico ........................................ 46 
Quadro 6 Esquema de soroterapia ................................................................................ 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 Distribuição dos acidentes ofídicos no Brasil .............................................. 24 
Gráfico 2 Concentração de uréia nitrogenada ............................................................. 39 
Gráfico 3 Concentração sanguínea de AST e CK ........................................................ 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ORGANOGRAMAS 
 
Organograma 1 Diferenciação de serpentes peçonhentas e não peçonhentas .......... 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Assim como os humanos, os animais de companhia são vítimas frequentes de 
envenenamento por animais peçonhentos. Enquanto nos humanos o acidente é constatado pela 
própria vítima que pode descrever, capturar ou mesmo matar o animal peçonhento, buscando 
socorro rapidamente, o mesmo não ocorre com animais cujas ações acima descritas, 
dependem do proprietário ou do tratador estarem presentes no momento do acidente 
(BICUDO, 2003) e o atendimento quase sempre está acima de 1 a 2 horas (BICUDO, 1994). 
Barravieira e Junior (2001), relatam um caso onde o animal estava brincando próximo 
a um riacho quando começou a rolar e latir, sendo tratado 4 horas após a picada. 
Na maior parte das vezes a constatação desse tipo de envenenamento é feita 
tardiamente quando do aparecimento dos sintomas ou de alterações no comportamento do 
animal, decorrentes da ação local ou sistêmica do envenenamento, podendo levar a confusão 
com outras doenças e a erro de medicação (BICUDO, 2003). 
Na Terra, existem aproximadamente 3.000 espécies de serpentes, sendo que apenas 
410 são consideradas venenosas. No Brasil, estão catalogadas até o ano 1999 256 espécies, 
sendo 69 venenosas e/ou peçonhentas e 187 não venenosas e/ou não peçonhentas 
(BARRAVIERA, 1999). Com estes dados pode-se observar que a maior parte das cobras não 
é perigosa e, como estes animais são importantes para o equilíbrio ecológico, não devem ser 
combatidos. 
Animais venenosos são aqueles que possuem toxina, porém não possuem aparelho 
inoculador dessas toxinas ou peçonha; como, por exemplo, os sapos. Os animais peçonhentos 
possuem dentes, ferrões ou agulhões especializados para injetar a peçonha; a exemplo 
podemos citar as serpentes peçonhentas, aranhas, escorpiões, abelhas e vespas (FREITAS, 
2003). 
Das 69 espécies de serpentes peçonhentas, 32 pertencentes ao gênero Bothrops, 6 ao 
gênero Crotalus, 2 ao gênero Lachesis, e 29 ao gênero Micrurus. Estes 4 gêneros acrescidos 
das serpentes dos gêneros Porthidium e Bothriopsis, constituem a família Viperidae ou 
víboras (BARRAVIERA, 1999). 
Existe ainda a família Boidae tendo como representante no Brasil as jibóias, sucuris, 
cobras-papagaio e salamantas (BARRAVIERA, 1999). E a família Colubridae, 
correspondente a 65% das aproximadamente 2.700 espécies de serpentes conhecidas 
atualmente (KOCHVA, 1978/1987, apud SANTOS, 2004). 
As cobras sempre causaram fascínio ou medo nos homens e as formas de tratamento 
para picadas são cercadas de mitos. 
Promover cortes ou perfurações visando à remoção do veneno no local atingido, ainda 
que imediatamente após a picada, estão totalmente contraindicados. Além de não promover a 
saída de veneno, essas práticas podem ser responsáveis por hemorragias de difícil controle 
cirúrgico em virtude do edema que se instala na área, bem como alterações hemodinâmicas 
produzidas pelo veneno, particularmente das serpentes do gênero Bothrops. Medidas dessa 
natureza aumentam a chance de contaminação no local podendo levar à formação de flegmão 
e necrose de grande extensão, bem como septicemia, agravando as condições clínicas do 
animal acidentado. A introdução de microrganismos anaeróbios pode propiciar o 
desenvolvimento de gangrena gasosa ou mesmo tétano (BICUDO, 2003). 
A aplicação de garrote ou torniquete com arame, pano ou gaze visando impedir a 
disseminação do veneno, a partir do membro afetado contribui apenas para o agravamento das 
lesões locais produzidas pelo veneno, podendo levar à perda do membro afetado devido à 
ação prolongada da isquemia e da hipóxia, além de acentuar o quadro de dor (BICUDO, 
2003). 
 “Chupar” o veneno, mesmo logo após a picada é ineficaz e coloca a pessoa que o 
pratica em risco de envenenamento. 
O local da picada deve ser limpo com água corrente, procurando fazer que a água 
escorra sem pressão sobre a área afetada. Deve-se evitar ao máximo muita manipulação, que 
só servirá para intensificar a dor causada pela ação do veneno, principalmente o botrópico, 
podendo fazer que o animal se defenda com mordidas e saltos (BICUDO, 2003). 
 O objetivo deste trabalho é relatar as principais características biológicas das cobras, 
suas distribuições geográficas e especialmente de descrever os acidentes ofídicos em cães 
causados por serpentes do gênero Bothrops e Crotalus, apresentando os sinais clínicos, 
exames laboratoriais, tratamentos e enfatizando a importância do reconhecimento da espécie 
agressora e da rápida atuação do médico veterinário. 
 
 
 
 
 
 
 
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS COBRAS 
 
As serpentes apresentam corpo alongado, sem membros, revestidos por escamas. 
Como sua coluna vertebral é longa, seus órgãos internos, como fígado, estômago e rins, 
também são muito alongados. A camada superficial desse revestimento é trocada durante as 
mudas, que ocorre a intervalos variáveis (MARQUES et al. 2005). Durante a vida a serpente 
muda de pele várias vezes. Quando em processo de muda, as cobras deixam de se alimentar, 
ficam mais apáticas e, consequentemente mais vulneráveis aos predadores (APPENZELLER. 
1999). 
As cobras apresentam reprodução com fecundação interna e podem ser divididas em 
vivíparas (Fig. 1), ovíparas (Fig. 2) e ovovivíparas (cuja eclosão se dá dentro do corpo da 
fêmea momentos antes do parto). 
 
Figura 1 - Parto, cobra vivípara 
Fonte: Marques et al. (2001) 
 
 
Figura 2 - Eclosão, cobra ovípara 
Fonte:Marques et al. (2001) 
 
 As serpentes venenosas são aparentemente mais tranquilas, vagarosas e seus hábitos 
são principalmente noturnos, já as não venenosas, com hábitos diurnos, são mais espertas, 
ágeis e procuram fugir rapidamente mesmo antes de serem detectadas (APPENZELLER, 
1999). 
 
2.2 CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS DE SERPENTES 
PEÇONHENTAS NO BRASIL 
 
• Fosseta loreal presente: 
 
A fosseta loreal, órgão sensorial termorreceptor (Fig. 3 e 4), é um orifício situado entre 
o olho e a narina, daí a denominação popular de “serpente de quatro ventas”. Indica com 
segurança que a serpente é peçonhenta pertencente ao gênero Bothrops, Crotalus ou Lachesis 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1999). 
 
Figura 3 - Posicionamento da fosseta Loreal, narina e olho 
Fonte: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde (1999) 
 
 
Figura 4 - Evidência da fosseta Loreal 
Fonte: Freitas (1999) 
 
• Todas as serpentes destes gêneros são providas de dentes inoculadores bem 
desenvolvidos e móveis situados na porção anterior do maxilar (Fig. 5). 
 
Figura 5 - Dentes inoculadores presentes nos gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis 
Fonte: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde (1999) 
 
• A diferenciação entre os gêneros referidos também pode ser feita pelo tipo de cauda 
(Fig. 6). 
 
Figura 6 - Diferenciação entre os gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis 
Fonte: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde (1999) 
 
• Fosseta loreal ausente 
 
As serpentes do gênero Micrurus não apresentam fosseta loreal e possuem dentes 
inoculadores pouco desenvolvidos e fixos na região anterior da boca (Fig. 7). 
 
Figura 7 - Ausência de fosseta loreal e dentição observada no gênero Micrurus. 
Fonte: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde (1999) 
 
 
 
Devido a grande diversidade biológica do Brasil é difícil diferenciar serpentes 
peçonhentas de não peçonhentas, observe a chave para esta diferenciação (Org. 1). 
 
 
* As falsas corais podem apresentar o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, sendo distinguíveis 
pela ausência do dente inoculador (dentição opstóglifa). 
** Na Amazônia ocorrem corais verdadeiras desprovidas de anéis vermelhos. 
Organograma 1 - Chave para diferenciação de serpentes peçonhentas e não peçonhentas Fonte: Caderno técnico 
UFMG (1999) 
 
As serpentes apresentam grande variedade de cores. Os padrões de coloridos estão 
relacionados ao ambiente em que a serpente vive, podendo apresentar função de proteção 
(camuflagem, advertência) ou de controle de temperatura, uma vez que cores escuras 
permitem maior absorção de calor. Muitas espécies de cobras podem ser reconhecidas pelo 
seu colorido característico, mas existem variações de indivíduos da mesma espécie. Essas 
variações podem ocorrer ao longo da vida, de modo que, nesses casos, a coloração dos adultos 
é diferente daquela dos jovens. Algumas dessas variações não estão relacionadas à idade, 
sendo devidas às diferenças individuais dos padrões de desenhos ou na quantidade de 
pigmentos. Albinismo e melanismo são extremos dessas variações com ausência ou excesso 
de pigmento de melanina, respectivamente (MARQUES et al. 2005). 
O crânio é mais delicado e apresenta ossos mais móveis que a maioria dos demais 
répteis. Os dentes são afilados e curvados para trás. A dentição é importante no 
reconhecimento das espécies causadoras de acidentes ofídicos (Marques et al. 2005). De 
acordo com o tipo de dente, as serpentes podem ser agrupadas em quatro categorias: 
 
Fosseta 
Loreal 
Ausente Presente 
Não 
peçonhenta 
Com anéis 
Coloridos* 
Cauda 
Lisa 
Cauda 
eriçada 
Cauda 
com guizo 
Micrurus 
** 
Bothrops Lachesis Crotalus 
Peçonhenta Peçonhenta 
 
Peçonhenta 
 
Peçonhenta 
 
Áglifas (Fig. 8) – Não apresentam dentes especializados para inoculação de veneno 
(MARQUES et al. 2005). 
 
 
Figura 8- Dentição das cobras áglifas 
Fonte: Freitas (1999) 
 
Opistóglifas (Fig. 9) – Na maxila superior há um par dente posteriores com um sulco 
por onde escorre o veneno (MARQUES et al. 2005). 
 
Figura 9 - Dentição das cobras opistóglifas 
Fonte: Freitas (1999) 
 
Proteróglifas (Fig. 10) – O dente sulcado está em posição anterior (MARQUES et al. 
2005). 
 
 
Figura 10 - Dentição das cobras proteróglifas 
Fonte: Freitas (1999) 
 
Solenóglifas (Fig. 11) – O dente anterior é oco, formando um tubo através do qual o 
veneno é inoculado. O osso maxilar é móvel, permitindo ao dente anterior deslocar-se para 
frente quando a serpente abre a boca (MARQUES et al. 2005). 
 
 
Figura 11 - Dentição das cobras solenóglifas 
Fonte: Freitas (1999). 
 
2.3 SENTIDOS 
 
As cobras tem a visão pouco desenvolvida, apesar do olho em geral ser bem evidente, 
com pálpebras soldadas e transparentes. A maioria das espécies percebe movimentos. A visão 
tem função importante para as serpentes arborícolas, cuja ambiente requer noção de 
profundidade para orientação e o deslocamento (MARQUES et al. 2005). 
A audição é rudimentar e cobras não apresentam tímpano e nem ouvido externo. 
Assim captam os sons através da mandíbula, e uma série de outros ossos do crânio transmite 
as vibrações sonoras ao ouvido interno (MARQUES et al. 2005). 
O olfato bem desenvolvido é o principal sentido, utilizado na exploração do ambiente, 
permitindo a localização de presas, predadores e parceiros. Para “sentir cheiros”, a serpente 
expõe sua língua bifurcada, e capta moléculas do ambiente, analisado-as no órgão vômero-
nasal. Situado no palato (céu da boca), esse receptor é também chamado de órgão de Jacobson 
(MARQUES et al. 2005). 
A fosseta loreal é uma abertura entre o olho e a narina, presente em todos os 
viperídeos americanos (jararaca, cascavel e surucucu). As fossetas permitem a percepção 
mínima de temperaturas, da ordem de 0,003°C. Esses sensores térmicos são importantes para 
detectarem presas e predadores (MARQUES et al. 2005). 
 
2.4 ALIMENTAÇÃO 
 
As cobras são carnívoras e ingerem suas presas inteiras, pois seus dentes não servem 
para cortar ou mastigar. São capazes de engolir animais relativamente grandes, uma vez que 
seu crânio permite grande abertura da boca. A maioria das serpentes alimenta-se de anfíbios, 
lagartos e mamíferos. Há espécies que se alimentam de peixes, aves e até outras cobras. Uma 
boa parte das espécies alimenta-se de presas em mais de uma dessas categorias e há as que 
caçam qualquer vertebrado de tamanho adequado. Poucas serpentes caçam moluscos (lesmas 
e caramujos), minhocas e artrópodes (insetos, aranhas e lacraias). Serpentes generalistas 
apresentam uma dieta variada, ao passo que as especialistas se alimentam de um único ou 
poucos tipos de presa (MARQUES et al. 2005). 
Muitas espécies de serpentes ingerem suas presas ainda vivas, geralmente anuros, ao 
passo que outras usam a constrição e matam suas presas antes de ingeri-las. O envenenamento 
é um modo eficiente de subjugar presas perigosas (roedores, outras serpentes), sendo 
empregado por viperídeos, elapídeos e colubrídeos com dentição opistóglifa. Alguns 
colubrídeos opistóglifos podem empregar ambas estratégias, envenenando e constringindo 
suas presas (MARQUES et al. 2005). 
Segundo Marques et al (2005), a maioria das serpentes caça ativamente, isto é, 
locomove-se em busca de suas presas. Por outro lado, os viperídeos caçam em espreita, 
aguardando que sua presa se aproxime para capturá-la. Essas serpentes inoculam o seu veneno 
durante um bote rápido e largam-na em seguida, evitando o contato prolongado com a presa 
viva. Momentos depois, usando o olfato, rastreiam sua presa já morta e ingerem-na (Fig. 12). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 12 - Roedor sendo ingerido 
Fonte:Marques et al. (2001) 
 
 
 
2.5 ESPÉCIES AMEAÇADAS 
 
 Segundo Freitas (1999), Algumas espécies e raças de cobras correm risco iminente de 
extinção. São elas: Bothrops pirajai (jaracuçu-de-tapete), Lachesis muta rhombeata 
(surucucu), Bothrops b. bilineatus (jararaca-verde) e Epicratas cenchria hygrophilus 
(salamanta da Mata Atlântica). 
 
2.6 ACIDENTES OFÍDICOS 
 
2.6.1 Dados estatísticos 
 
 Os acidentes causados por serpentes peçonhentas em animais domésticos não são, 
como na medicina humana, de notificação compulsória o que impede a elaboração de 
estatísticas precisas e, como consequência, o dimensionamento dos prejuízos por eles 
causados. A razão disso decorre do fato dos antivenenos para uso humano, produzidos por 
instituições governamentais, são distribuídos gratuitamente para uso restrito em hospitais. A 
reposição destes somente é feita mediante o preenchimento das fichas de notificação 
(BICUDO, 2003), já os antivenenos de uso veterinário são produzidos comercialmente e 
vendidos livremente para médicos veterinários, proprietários e tratadores de animais. 
 
2.6.2 Distribuição dos acidentes ofídicos no Brasil 
 
O Ministério da Saúde (MS), a partir de julho de 1986, organizou grupos de trabalho 
para definir e traçar as diretrizes para o controle das ações em ofidismo (ALVES et al. 1999). 
Segundo Alves et al. (1999), a implementação das ações junto aos estados possibilitou 
o reconhecimento de dados reais sobre os acidentes ofídicos. Assim, de junho de 1986 até 
dezembro de 1993, foram notificados ao MS 152410 acidentes em humanos (quadro 1). 
 
Gênero das cobras Número de acidentes Porcentagem 
Jararaca (Bothrops) 105496 69,22 % 
Cascavel (Crotalus) 9830 6,45% 
Surucucu (Lachesis) 2159 1,42% 
Coral (Micrurus) 615 0,40% 
Quadro 1 – Acidentes humanos por cobras identificadas 
Fonte: ALVES et al. (1999) 
 
Alves et al (1999) cita que dos 152410 acidentes ofídicos notificados, 30943 (20,30%) 
não foram classificados quanto ao tipo de cobra por falta de informações e 3367 (2,21%) 
foram provocados por serpentes não peçonhentas (Gráfico 1). 
O número de mortes em humanos vem se mantendo em torno de 0,59% dos acidentes 
(ALVES et al. 1999). 
 
Distribuição dos Acidentes Ofidicos no 
Brasil
Jararaca
69,22%
N.I.
20,30%
Cascavel
6,45%
Surucucu
1,42%Coral
0,40%
N.P.
2,21%
 
Gráfico 1 – Distribuição dos acidentes ofídicos no Brasil 
Fonte: Alves et al. (1999) 
 
2.6.3 Acidente com serpente dos gêneros Lachesis e Micrurus 
 
 Os acidentes causados por serpentes do gênero Lachesis em animais são extremamente 
raros e a descrição de acidentes naturais com serpentes do gênero Micrurus não consta da 
literatura veterinária. Não existem antivenenos para uso veterinário para acidentes destes dois 
gêneros (BICUDO, 2003). 
 Contudo, em 2009, observou-se que a empresa Vencofarma, produz soro antiofídico 
polivalente, Master Soro Plus, para tratamento de envenenamentos causados por serpentes do 
gênero Lachesis, além dos gêneros Bothrops e Crotalus, em animais não sendo indicado 
apenas nos acidentes causados por serpentes do gênero Micrurus (LABORATÓRIOS 
VENCOFARMA DO BRASIL LTDA, 2008). 
 
 
 
 
 
 
2.6.4 Acidente com serpente do gênero Bothrops 
 
 A intensidade e predominância de cada uma das ações do veneno botrópico varia em 
função da espécie, idade e distribuição geográfica das serpentes do gênero, proporcionando 
diferenças quanto a gravidade do quadro clinico observado nos animais acidentados 
(BICUDO, 2003). 
 A partir do local da picada, ocorre a formação de um grande edema (Fig. 19 e 20) que 
vai se espalhando por toda a região, podendo ocorrer ou não sangramento contínuo no ponto 
de inoculação. A pele quando despigmentada toma coloração arroxeada podendo haver ou não 
a formação de pequenas bolhas extremamente dolorosas ao toque. Nos casos que o tempo da 
picada excede 12 horas pode haver início de necrose a partir do ponto de inoculação (Fig. 18). 
A intensidade dos sintomas varia em função da quantidade de veneno inoculado e de sua 
composição (BICUDO, 2003). 
 O tempo de coagulação geralmente está aumentado, podendo em alguns casos não 
haver capacidade coagulante do sangue mesmo depois de muitas horas. O retorno da 
coagulação após o tratamento é um bom indicador da neutralização do veneno circulante. 
Ainda que não frequente, pode ocorrer grandes hemorragias em cavidades e parênquima de 
órgãos ou mesmo no sistema nervoso central causada pela dilatação vasculotóxica do veneno 
(BICUDO, 2003). 
 No estudo de caso elaborado por Barravieira e Junior (2001), o exame clínico mostrou 
dispnéia, edema firme na região torácica ventral, temperatura retal de 39,5ºC, tempo de 
perfusão capilar de 1 minuto, membranas mucosas hiperêmicas, dor e elevação de 
temperatura local. Hemorragia não foi observada. Marcas de picadas não puderam ser vistas, 
somente hematomas na pele. O tempo de coagulação foi 5,5 minutos, o qual era normal. 
Dois dias após o envenenamento o animal estava apático com temperatura retal de 
40ºC, tempo de coagulação de 6 minutos, membrana da mucosa pálida e tempo de perfusão 
capilar de 3 minutos (BARRAVIERA e JÚNIOR, 2001). 
O edema local era grande avançando em direção a região abdominal ventral e 
prepúcio. O apalpar mostrou dor local intensa com edema quente de consistência firme. 
Necrose local não foi observada. Hidratação foi realizada por administração endovenosa de 
solução Ringer (200mL). Enrofloxacin 5mg/kg a cada 24 horas e ketoprofen 1mg/kg a cada 
24 horas foram prescritos (BARRAVIERA e JÚNIOR, 2001). 
 
 
 No 4º dia (Figua 13), o animal retornou para o hospital com duas áreas de necrose com 
10cm de diâmetro cada: uma na área do pescoço e a outra da região abdominal até o pênis. 
Exames mostraram que o animal estava alerta apresentando parâmetros normais com 
temperatura de 39ºC, hidratado, a membrana mucosa estava de coloração normal 
(BARRAVIERA e JÚNIOR, 2001). 
 Nos acidentes envolvendo lábios, bochecha e língua o animal tem dificuldade para 
fechar a boca podendo ocorrer sialorréia. Dependendo da área picada da cabeça, o edema 
pode atingir a região da glote provocando insuficiência respiratória, obrigando a realização de 
traqueostomia. O quadro clinico nos casos mais graves é de apatia, depressão, suspensão do 
apetite e da sede, hematúria, epistaxe, melena e hematêmese (BICUDO, 2003). 
 A transfusão sanguínea está indicada somente nos casos de perda excessiva de sangue, 
avaliada mediante exames laboratoriais (BICUDO, 2003). 
 Devido à incoagulabilidade sanguínea, o sangue acaba tingindo quase todo o animal e 
o local, dando falsa impressão de grande hemorragia, razão pela qual o animal deve ser 
avaliado por meio de exames hematológicos de rotina. A contenção dos animais deve ser feita 
de maneira cuidadosa evitando-se traumas e quedas violentas que poderão propiciar 
hemorragia nas áreas atingidas, complicando o quadro clinico. O fato do sangue não coagular 
não implica hemorragia, desde que esteja contido nos vasos, daí o cuidado com os traumas e 
intervenções cirúrgicas (BICUDO, 2003). 
 Controle da emissão de urina e seu exame visual e laboratorial devem ser realizadas 
com frequência, uma vez que existe a possibilidade de insuficiência renal (IR) determinada 
pela ação direta do veneno nos capilares renais e indireta causada por hipovolemia (BICUDO, 
2003). 
 A recuperação do animal, desde que o antiveneno seja aplicado nas quantidades 
preconizadas, está diretamente relacionada ao tempo decorrido entre a picada e o tratamento, 
quanto menor for esse tempo melhor será a recuperação, sendo menores as complicações 
causadas por esse tipo de envenenamento (BICUDO, 2003). 
 As complicações, como necrose e infecção após o desaparecimento dos sintomas de 
envenenamento, deve seravaliada e tratada pelos métodos cirúrgicos usuais. A profilaxia de 
infecções secundárias com antibiótico é discutível ficando a critério do veterinário, o mesmo 
ocorrendo com a profilaxia de clostridioses (BICUDO, 2003). 
 
 
No estudo de caso elaborado por Barravieira e Junior (2001), citado anteriormente, 
após o aparecimento das áreas de necrose (Fig. 13) as feridas foram limpas utilizando 
povidine diluído em solução salina para o desbridamento das bordas das feridas. Limpeza 
com solução de Dakin, compressas com permanganato de potássio por 5 min, e furazolidine 
(Furacin ®) e açúcar três vezes por dia, foram prescritos. 
11º dia (Fig. 14), o exame clínico mostrou que a condição do animal era boa, com 
temperatura de 39,2 ° C. As feridas apresentaram tecido de granulação. As feridas e as arestas 
foram limpas com solução de povidine diluído em solução salina, e furazolidine (Furacin ®) 
foi aplicado. Limpeza com solução de Dakin, compressas com permanganato de potássio por 
5 minutos, e furazolidine (Furacin ®) e açúcar duas vezes por dia foram prescritos 
(BARRAVIERA e JÚNIOR, 2001). 
17º dia (Fig. 15), o animal estava alerta, com temperatura de 38,8 ° C. As feridas 
apresentaram tecido de granulação, com cerca de 50% de regressão. A ferida e suas margens 
foram limpas com povidine diluído em solução salina, e furazolidine (Furacin ®) foi aplicado. 
Limpeza com solução de Dakin, compressas com permanganato de potássio por 5 minutos, e 
furazolidine (Furacin ®) e açúcar duas vezes por dia foram prescritos (BARRAVIERA e 
JÚNIOR, 2001). 
25º dia (Fig. 16), o estado do animal era bom, com temperatura de 38,5 ° C, a 
membrana mucosa da cor normal, ulceração CPT 2, e não limpa-purulenta com fronteiras bem 
definidas e 80% de redução. As feridas e suas arestas foram limpas com povidine diluído em 
solução salina e furazolidine (Furacin ®) foi aplicado seco com solução de Dakin, compressas 
com permanganato de potássio por 5 minutos, e furazolidine (Furacin ®) e açúcar duas vezes 
por dia foram prescritos (BARRAVIERA e JÚNIOR, 2001). 
Através do levantamento bibliográfico dos relatos de caso foi possível observar que a 
sintomatologia esperada nos acidentes ofídicos nem sempre estão presentes simultaneamente 
no animal acometido, o que facilita o diagnóstico errado e aumenta a importância da 
anamnese e dos exames laboratoriais. 
55º dia (Fig. 17), a ferida estava completamente curada (BARRAVIERA e JÚNIOR, 
2001). 
 
 
Figura 13 – Animal apresentando duas áreas de necrose, 4º dia após envenenamento botrópico 
Fonte: Barraviera e Júnior (2001) 
 
 
Figura 14 – Feridas com tecido de granulação, 11ºdia 
Fonte: Barraviera e Júnior (2001) 
 
 
Figura 15 – Feridas no dia 17º dia 
Fonte: Barraviera e Júnior (2001). 
 
Figura 16 - Feridas no dia 25º dia 
Fonte: Barraviera e Júnior (2001). 
 
 
Figura 17 - Ferida completamente curada no 55º dia 
Fonte: Barraviera e Júnior (2001) 
 
Conforme Plunkett (2002 apud HIRSCHMANN et al. 2009), os principais problemas 
clínicos no envenenamento botrópico são: destruição local de tecido, devida às enzimas 
digestivas do veneno; edema, devido à exsudação de plasma; hemorragia, devida à destruição 
de microvasculatura; choque, devido à hipovolemia, e bloqueio neuromuscular, em algumas 
vítimas. O prognóstico varia de acordo com a espécie de cobra envolvida, a quantidade de 
veneno injetada e a localização do ferimento. 
No exame físico relatado por Herrera e Pereira (2009), o paciente apresentava intensa 
hemorragia e edema no membro anterior direito, taquicardia, dispnéia e aumento da 
temperatura corpórea. 
A confirmação laboratorial do acidente pode ser feita através de antígenos do veneno 
botrópico que podem ser detectados no sangue ou outros líquidos corporais do paciente, 
através da técnica imunoenzimática (PINHO e PEREIRA, 2001). 
A avaliação laboratorial é realizada através do tempo de coagulação (TC), que 
geralmente está aumentado, bem como o tempo parcial de tromboplastina (PTT). São exames 
importantes para diagnóstico, conduta e evolução clínica. O hemograma geralmente revela 
leucocitose com neutrofilia e plaquetopenia de intensidade variável. O exame de urina pode 
apresentar proteinúria, hematúria e leucocitúria. Outros exames complementares importantes 
incluem dosagem de eletrólitos, uréia e creatinina, com a finalidade de detectar precocemente 
distúrbios hidroeletrolíticos e insuficiência renal aguda (PINHO e PEREIRA, 2001). 
Pinho e Pereira (2001), se baseando nas alterações clínicas e laboratoriais, classificam 
os acidentes botrópicos em casos leves, moderados e graves (quadros 4 e 5) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 18 – Cão apresentando necrose na região nasal 
Fonte: Borges (1999) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 19 – Cão apresentando edema facial 
Fonte: Caderno técnico UFMG (1999) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 20 - Edema facial 
Fonte: Hirschmann et al. (2009) 
 
Hirschmann et al. (2009), relata em um estudo de caso com um cão da raça Cimarron, 
macho, que apresentava edema de face há mais ou menos 16 horas (Fig. 20). Durante a 
anamnese, sugeriu-se que o animal poderia ter sido picado por uma cruzeira, cobra comum da 
região. O animal apresentou ainda: mucosas congestas e tempo de preenchimento capilar 
(TPC) maior que três segundos, sinais iniciais condizentes com coagulação intravascular 
disseminada (CID). 
 
2.6.4.1 Distribuição geográfica das serpentes do gênero Bothrops 
 
As cobras se adaptaram aos mais diversos ambientes, mas cada espécie se adaptou e 
habita diferentes regiões de acordo com o clima, relevo, vegetação e presença de presas e 
predadores. O gênero bothrops pode ser encontrado em quase todo pais (Fig. 21 a 34). 
 
 
Figura 21 – Bothrops jararaca (jararaca) 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 22 – distribuição geográfica da Bothrops jararaca 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 23 – Bothrops moojeni (caiçaca) 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 24 – distribuição geográfica da Bothrops moojeni 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 25 – Bothrops jararacussu(jararacuçu) 
Fonte: Fundacentro (2001). 
 
 
Figura 26 – distribuição geográfica da Bothrops jararacussu 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 27 – Bothrops alternatus (rutu, cruzeira) 
Fonte: Fundacentro (2001). 
 
 
Figura 28 – distribuição geográfica da Bothrops alternatus 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 29 – Bothrops atrox (caiçaca da Amazônia) 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 30 – distribuição geográfica Bothrops atrox 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 31 – Bothrops erytbromelas (jararaca da seca) 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
 
Figura 32 – Distribuição Geográfica da Bothrops erytbromelas 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
Figura 33 – Bothrops neuwiedi (jararaca pintada) 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 34 – Distribuição geográfica da Bothrops neuwiedi 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
2.6.5 Acidente com serpente do gênero Crotalus 
 
 Os sintomas de envenenamento crotálico nos animais de companhia, particularmente 
os cães, causa um quadro de prostração e depressão sem perda da consciência. O animal quase 
sempre apresenta-se em decúbito lateral com incapacidade total ou parcial de levantar a 
cabeça ou de movimentar os membros. Esse quadro clínico é tanto mais acentuado quanto 
maior o tempo decorrido entre a picada e o atendimento. Observa-se ainda redução ou mesmo 
paralisia das pálpebras e do globo ocular, midríase, nos casos mais avançados a córnea fica 
ressecada com inicio de ulceração (BICUDO, 2003). 
Koscinzuk et al. (1999), relatam o caso onde dois cães,sendo uma fêmea e um macho 
(Fig. 35), envenenados naturalmente por cascavéis foram referidos pelo hospital veterinário 
da faculdade de medicina veterinária da cidade de Corrientes – Argentina. A sintomatologia 
apresentada por ambos foi similar, a área de pele onde houve a inoculação do veneno pode ser 
identificada visualmente. Sinais neurológicos estavam presentes com um local de hipoalgesia, 
após alguns minutos o membro afetado mostra efeito anestésico e ataxia. 
Depois de 1 hora a perna oposta mostrou a mesma sintomatologia. Face neurotóxica 
estava presente 30 minutos depois do acidente com ptose palpebral, anisocoria, sialorréia e 
reflexo esofagosalivar alterado (Koscinzuk et al. 1999). 
A confirmação laboratorial do acidente pode ser feita através de antígenos do veneno 
crotálico que podem ser detectados no sangue ou outros líquidos corporais do paciente através 
da técnica de Elisa (PINHO e PEREIRA, 2001). 
Na avaliação laboratorial encontramos como resultado da miólise valores elevados de 
creatinofosfoquinase (CPK), desidrogenase lática (LDH) e aspartase-alanino-transferase 
(ALT). O aumento da CPK é precoce, com pico de máxima elevação dentro das primeiras 24 
horas após o acidente. O aumento da LDH é lento e gradual, constituindo-se, pois, um exame 
para diagnóstico tardio do envenenamento crotálico. O hemograma pode mostrar leucocitose, 
com neutrofilia e desvio à esquerda. O tempo de coagulação (TC) frequentemente está 
prolongado. O exame de urina pode apresentar proteinúria discreta, presença de mioglobina, 
com ausência de hematúria. Elevação dos níveis de uréia, creatinina, ácido úrico, fósforo, 
potássio e diminuição da calcemia, são observadas na fase oligúrica da insuficiência renal 
aguda (PINHO e PEREIRA, 2001). 
Segundo relatado por Herrera e Pereira (2009), o cão atendido no Hospital Veterinário 
da UFMG, no exame clínico observou-se marca puntiforme única no lábio superior direito, 
com ausência de edema. O cão foi internado sendo realizados os seguintes exames: 
hemograma, urinálise, dosagens séricas de creatinina, uréia, bilirrubina, ALT e AST; com os 
seguintes resultados: proteinúria, mioglobinúria, bilirrubinúria e aumento dos valores séricos 
de ALT e AST. Nos dois primeiros dias, o cão apresentou ainda prostração, midríase, 
incoordenação motora, paresia e mialgia generalizada; sintomatologia semelhante à descrita 
na literatura. 
Foram administrados durante o internamento: soro antiofídico polivalente (via 
endovenosa), fluidoterapia (NaCl, 0,9% e Glicose), dexametazona e enrofloxacina. Observou-
se que o tratamento foi eficaz, pois, após cinco dias de internamento o animal recebeu alta. 
Com base nesse relato, pode-se verificar que a identificação da serpente e conhecimento da 
sintomatologia são fundamentais para um tratamento eficiente (Herrera e Pereira, 2009). 
Baseados nas alterações clínicas (Fig. 33) e laboratoriais e visando orientar a 
terapêutica a ser empregada, os acidentes crotálicos são classificados em casos leves, 
moderados e graves (PINHO e PEREIRA, 2001). 
Para determinar se um animal foi picado por cascavel, examine o esfregaço de sangue 
periférico quanto à presença de equinócitos. Os equinócitos surgem 15 minutos após o 
envenenamento e desaparecem 48 horas depois (FORD e MAZZAFERRO, 2007). 
 
 
Figura 35 – Cão envenenado por cascavel sul-americana, quatro horas depois do acidente, observa-se ptose 
palpebral e face neurotóxica 
Fonte: Koscinzuk et al. (1999) 
 
O local da picada é de difícil visualização e pode haver ou não discreto edema na 
região. A dor é difícil de ser evidenciada dada à incapacidade de reação do animal, razão pela 
qual sua manipulação deve ser restrita ao máximo, dado o comprometimento muscular 
(BICUDO, 2003). 
Koscinzuk et al. (1999), relatam a aplicação da fluidoterapia com solução de Ringer 
com lactato iniciada depois de estabelecer o diagnóstico e em uma tentativa de evitar o 
choque um corticosteróide foi administrado (dexametasona 4,4mg/kg). Depois do 
corticosteróide, um frasco de soro antiofídico foi administrado para neutralizar 8mg de 
veneno. 
 Depois do segundo dia cuidados especiais foram tomados com o alimento, que foi 
dado em pequenas pelotas, em pratos fundos, devido a perda do reflexo exofágico (Koscinzuk 
et al. 1999). 
 Após o tratamento inicial, desapareceu a dificuldade respiratória e duas horas mais 
tarde também a ptose palpebral. Hiperalgia apareceu no segundo dia, e o reflexo de 
esofagosalivar ficou alterado durante três dias (KOSCINZUK et al. 1999). 
Segundo relatado por Herrera e Pereira (2009), o cão atendido no Hospital Veterinário 
da UFMG, foram administrados durante o internamento: soro antiofídico polivalente (via 
endovenosa), fluidoterapia (NaCl, 0,9% e glicose), dexametazona e enrofloxacina. Observou-
se que o tratamento foi eficaz, pois, após cinco dias de internamento o animal recebeu alta. 
Para evitar complicações circulatórias, particularmente na área pulmonar, o lado de 
decúbito deve ser gentilmente trocado a cada 4 horas. Atenção especial deve ser dada aos 
olhos, umedecendo-os com solução fisiológica e lubrificando a córnea com pomada oftálmica. 
A água deve ser dada diretamente na boca do animal sem que sua cabeça seja levantada, e sua 
boca deve ser mantida sempre úmida. A administração de solução eletrolítica e de glicose 
deve ser continua visando a reposição das perdas enquanto o animal estiver prostrado. O pH 
da urina deve ser mantido em 7 ou acima para evitar a precipitação da mioglobina nos túbulos 
renais, enquanto a urina estiver da cor escura (BICUDO, 2003). 
 Após 48 horas ou quando o animal começar a apresentar retorno dos movimentos, 
pode ser iniciada alimentação, de preferência pastosa, em pequenas quantidades, diretamente 
na boca do animal. A recuperação plena se dá em aproximadamente 72 horas, não havendo 
sequelas. O retorno do animal às suas atividades deve ser considerado somente a partir da 
segunda semana do inicio da recuperação. Ainda que raro, o quadro clinico pode recidivar 
havendo necessidade de nova internação e tratamento (BICUDO, 2003). 
 O quadro clinico em questão pode ser confundido com outras afecções, como 
botulismo, intoxicação por ionóforos, inseticida fosforados e carbonatos, poliradiculoneurite, 
babesiose e traumas, que podem ser diferenciados pela anamnese e exames clínicos e 
laboratoriais (BICUDO, 2003). 
A urina possui coloração cor-de-café devido à mioglobinúria, podendo ser escassa 
(Fig. 36). Esse estado se acentua mesmo após o tratamento com o antiveneno, entrando o 
animal em um estado pré-coma ou coma vígil que pode permanecer por mais de 48 horas. 
Esta condição não deve ser considerada desfavorável quanto ao propósito de recuperação do 
animal. A cor normal da urina retorna em questão de horas após a dose recomendada de 
antiveneno. Para melhor visualização da urina o animal deve ser cateterizado (BICUDO, 
2003). 
 
 
Figura 36 – Cloração de urina humana, após acidente crotálico 
Fonte: Borges (1999) 
 
Koscinzuk et al. (1999), relata que amostras de sangue foram coletadas pela via 
cefálica após, 5, 24, 48, 168 após o acidente. Diversas amostras de urina foram coletadas de 
cada cão por cistocentese ou por coleta livre e processada dentro das primeiras horas após o 
acidente. 
 Biopsias histopatológica (Fig. 5) foram realizadas em apenas um animal, onde foram 
obtidas amostras de músculos por ambos os membros posteriores, efetor e contralateral. 
 O exame de sangue (Fig. 2) revelou um aumento no nível da uréia nitrogenada a qual 
foi maior dentro das 48 horas iniciais, mas a creatinina não mostrou nenhuma variação. AST e 
CPK aumentou depois das primeiras 4 horas e atingiu nível máximo nas primeiras 24 horas 
(KOSCINZUK et al. 1999). 
Exame de urina mostrou pH 7,0, densidade de 1,010 e presença de proteínae 
hemoglobina. Nos sedimentos foram encontradas células redondas, provavelmente de origem 
tubular e células epiteliais vaginais na fêmea. Sugeriu-se então, lesões renais sem falha renal. 
Os valores da uréia nitrogenada e creatinina ficaram normais após a primeira semana 
(Gráficos 2 e 3 e Figuras 37, 38 e 39) (KOSCINZUK et al. 1999). 
 
 
Gráfico 2 – Concentração de uréia nitrogenada em cães envenenados por cascavel 
Fonte: Koscinzuk et al. (1999) 
 
 
Gráfico 3 – Concentração sanguínea de AST e CK em cães envenenados por cascavel 
Fonte: Koscinzuk et al. (1999) 
 
 
Figura 37 – Sedimento urinário da cadela picada por cascavel 
Fonte: Koscinzuk et al. (1999) 
 
 
Figura 38 – Grumos epiteliais associadas com dano renal 
Fonte: Koscinzuk et al. (1999). 
 
 
Figura 39 – Histopatologia do membro atingido onde tecido conectivo atingido está presente. Várias fibras 
musculares sofreram necrose 
Fonte: Koscinzuk et al. (1999) 
 
 
 
 
2.6.5.1 Distribuição geográfica das serpentes do gênero Crotalus 
 
 A cascavel é encontrada em várias regiões brasileiras (Fig. 40 e 41). 
 
 
Figura 40 – Crotalus durissus terrificus (cascavel) 
Fonte: Fundacentro (2001) 
 
 
Figura 41 – Distribuição geográfica da Crotalus durissus terrificus 
Fonte: Alves et al. (1999) 
 
2.7 Quantidade de veneno inoculado pelas serpentes 
 
 É difícil calcular a quantidade de veneno que uma serpente inocula no ato da picada. 
Vários fatores devem ser considerados para essa avaliação, dentre eles podemos citar: 
tamanho da serpente; tempo decorrido entre uma picada e outra; idade da serpente; o modo ou 
condição em que ocorreu a picada. 
 Rosenfeld e Belluomini (1960 apud Bicudo, 1994), extraindo o veneno das serpentes 
no momento da chegada ao Instituto Butantan, obtiveram em 75% de cada espécie estudada 
os seguintes valores máximos (quadro 2): 
 
 
 
Bothrops jaracussu Jararacuçu 400 mg 
Bothrops alternatus Urutu 130 mg 
Bothrops atrox Caiçaca 105 mg 
Bothrops cotiara Cotiara 65 mg 
Bothrops jararaca Jararaca 65 mg 
Crotalus durissus terrificus Cascavel 50 mg 
Bothrops neuwiedi Jararaca-pintada 45 mg 
Quadro 2- Quantidade de veneno extraído 
Fonte: Bicudo (1994) 
 
 De acordo com esses autores (ROSENFELD e BELLUOMINI, 1960 apud 
BICUDO,1994), existe grande possibilidade de que as quantidades acima venham a ser 
inoculadas no ato da picada. 
 
2.8 AÇÕES DOS VENENOS OFÍDICOS 
 
2.8.1 Ação proteolítica 
 
Nos acidentes provocados por serpentes dos gêneros Bothrops as lesões locais, como 
rubor, edema, bolhas e necrose, eram atribuídas exclusivamente à ação proteolítica desses 
venenos. No entanto, estudos mais recentes demonstram que os efeitos locais decorrem da 
atividade de múltiplos componentes, com ações de diversas especificidades. Diante disso o 
termo “proteolítico” não constitui, atualmente, a forma mais adequada para descrever esses 
efeitos. Os efeitos, quando tardios, podem, inclusive, ser produzidos por infecção secundária 
(AMARAL, et al. 1987). 
 
2.8.2 Ação coagulante 
 
Os venenos dos gêneros Bothrops e Crotalus tem ação coagulante. A maioria do gênero 
Bothrops possui isolada ou simultaneamente ativadores da trombina, do fibrinogênio e de 
outros fatores de ação semelhante a trombina, que transforma fibrinogênio em fibrina. No 
gênero Crotalus, a ação coagulante é do tipo trombina (AMARAL, et al. 1987). 
Qualquer que seja o mecanismo de ativação da cascata de coagulação, o efeito resultante 
final será, principalmente, o consumo de fibrinogênio. No acidentes botrópicos observa-se 
também o consumo de plaquetas, o que não é observado nos acidentes crotálicos (AMARAL, 
et al. 1987). 
2.8.3 Ação neurotóxica 
 
A terminologia mais adequada para esta ação seria ação mioneural e não neurotóxica pois, 
limita-se praticamente ao bloqueio da junção mioneural. Esse tipo de ação é encontrado em 
serpentes do gênero Crotalus (AMARAL, et al. 1987). 
A fração miótica do veneno da cascavel sul-americana é a crotoxina, que atua na pré-
sinapse da junção mioneural, impedindo a liberação do neurotransmissor acetilcolina, não 
havendo, portanto, reversão dos sintomas com administração de anticolinergicos. A crotoxina 
possui elevado peso molecular, quando comparada às neurotoxinas elapídicas, o que pode 
levar a uma maior demora no aparecimento da sintomatologia de bloqueio da junção 
neuromuscular nesse tipo de acidente (AMARAL, et al. 1987). 
As neurotoxinas elapídicas podem atuar na pré ou pós-sinapse, podendo haver nessa 
última condição, reversão do bloqueio pela administração de anticolinesterásicos. O 
desenvolvimento dos sintomas de bloqueio da junção mioneural é, em geral, rápido em 
decorrência do baixo peso molecular dessas toxinas (AMARAL, et al. 1987). 
 
2.8.4 Ação hemorrágica 
 
Os venenos das serpentes do gênero Bothrops, podem causar hemorragia, local ou 
sistêmica (pulmão, cérebro e rins). Isso ocorre entre 2 a 3 minutos após a inoculação do 
veneno. Em duas horas ocorre necrose de fibras musculares, em virtude da lesão 
microcirculatória, embora essa necrose possa também ocorrer por ação direta do veneno. A 
necrose de artérias intramusculares é evidente a partir da sexta hora (AMARAL, et al. 1987). 
A atividade de certas hemorragias depende da presença de cátions, como zinco, cálcio e 
magnésio. Nos níveis locais e sistêmicos, as alterações do sistema de coagulação podem 
agravar a hemorragia (AMARAL, et al. 1987). 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.8.5 Ação hemolítica 
 
Classicamente, a atividade hemolítica é inerente aos venenos das serpentes do gênero 
Crotalus. É demonstrada exclusivamente in vitro e ocorre apenas indiretamente. Para que haja 
lise de hemácias de algumas espécies animais é necessária a adição de lecitina (AMARAL, et 
al. 1987). 
A atividade hemolítica in vivo seria demonstrada pela ocorrência de urina escurecida, em 
razão supostamente, da eliminação de hemoglobina ou metaemoglobina. A identificação 
desses pigmentos, se realiza apenas através do teste de benzidina e pode provocar confusão 
com a mioglobina existente nessas urinas escurecidas. Este fato é comprovado por meio de 
imunoeletroforese de amostras dessa urina, contra soro antimioglobina humana (AMARAL, 
et al. 1987). 
Não há evidencias, clinicas ou laboratoriais, que comprovem a ocorrência de hemólise no 
envenenamento crotálico humano. Portanto não há como avaliar sua eventual participação 
patogênica (AMARAL, et al. 1987). 
 
2.8.6 Ação miotóxica 
 
A ação miotóxica sistêmica é encontrada nos venenos das serpentes do gênero Crotalus, 
havendo sido demonstrada para músculos esqueléticos. Provoca lise e ou necrose de fibras, 
liberando enzimas musculares e mioglobina na circulação. 
A mioglobina circulante, filtrada nos rins, aparece na urina e determina sua cor escura. A 
atividade miotóxica pode ser comprovada diretamente por biópsias musculares, executadas 
em pontos distantes do ponto da picada (AMARAL, et al. 1987). 
 
2.8.7 Ação nefrotóxica 
 
Esse tipo de ação é encontrado nos venenos crotálicos e botrópicos. No caso do 
envenenamento crotálico, admite-se ação nefrotóxica direta sobre os túbulos renais, embora 
outros mecanismos possam contribuir para a patogênese dessas lesões. 
No envenenamento botrópico, as lesões renais poderiam decorrer de uma ação direta do 
veneno sobre o endotélio vascular renal, ou de outras ações do veneno, como a coagulante, 
pela formação de microtrombos, capazes de provocar isquemia renal por obstrução da 
microcirculação (AMARAL, et al. 1987). 
2.8.8 Ações comparadas entre os venenos crotálico e botrópico 
 
O veneno botrópico tem ação proteolítica, coagulante e hemorrágica, o veneno 
crotálico apresenta ação neurotóxica, miotóxica, hemolítica e coagulante (quadros 3 e 5), agravidade do envenenamento está também, diretamente ligada à quantidade de veneno 
injetado (quadros 4 e 5). 
 
Comparativo dos acidentes causados por serpentes do gênero Bothrops e Crotalus. 
 
Gênero da 
serpente 
Ações do veneno Sintomas e sinais precoces 
(até 6 horas após o acidente) 
Sintomas e sinais tardios 
(6/12 horas após o acidente) 
 
 
Bothrops 
 
Proteolítica 
Coagulante 
Hemorrágica 
 
Alterações 
locais 
evidentes 
Dor, edema, calor e rubor no 
local da picada, imediados. 
Aumento do tempo de 
coagulação. Hemorragias. 
Choque nos casos graves. * 
 
Bolhas, equistosomose, 
necrose, oligúria e anúria 
(insuficiência renal aguda). 
 
 
 
 
 
 
Crotalus 
 
Neurotóxica 
 
 
 
 
 
Alterações 
locais 
discretas ou 
ausentes 
Ptose palpebral (fácies miastemicas – neurotóxica), diplopia, 
oftalmoplagia e visão turva por dificuldade de acomodação 
visual. Relatos de insuficiência respiratória aguda, em casos 
graves. 
 
 
Miotóxica 
 
Dor muscular generalizada. 
Urina avermelhada ou 
marrom. Edema discreto, no 
local da picada. 
 
Urina avermelhada ou 
marrom escura (Hemorragia e 
mioglobinuria). Oligúria e 
anúria (insuficiência renal 
aguda). 
Hemolítica 
 
Urina avermelhada 
Coagulante Aumento no tempo de coagulação. Raramente ocorrem 
hemorragias. 
(*) nos acidentes causados por filhotes de bothrops o edema e a dor no local da picada podem ser ausentes, 
predominando a ação coagulante do veneno. 
Quadro 3 – Comparativa dos acidentes causados por serpentes do gênero Bothrops e Crotalus 
Fonte: Amaral et al. (1987) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Classificação quanto à gravidade e quantidade aproximada de veneno a ser 
neutralizada no acidente botrópico. 
 
Manifestações e 
tratamento 
 
Gravidade 
Avaliação inicial 
Locais: 
 
Principalmente 
edema 
Sistêmica: 
hemorragia 
grave, 
choque, 
anúria 
 
Tempo de 
coagulação * 
Quantidade 
aproximada de 
veneno a ser 
neutralizada 
(mg) 
 
Via de 
adminis-
tração 
 
Leve 
 
Discreto 
 
Ausentes 
Normal 
ou 
alterado 
 
100 
IV 
(intravenosa) 
 
Moderada 
 
Evidente 
Ausentes ou 
presentes 
Normal 
ou 
alterado 
 
200 
 
IV 
 
Grave 
 
Intenso 
 
Evidentes 
Normal 
ou 
alterado 
 
300 
IV 
* Tempo de coagulação normal até 10 minutos, prolongado de 10 a 30 minutos e incoagulável acima de 30 
minutos 
Quadro 4 – Classificação quanto a gravidade e quantidade aproximada de veneno a ser neutralizada no 
acidente botrópico 
Fonte: Amaral et al. (1987) 
 
Classificação quanto a gravidade e quantidade aproximada de veneno a ser 
neutralizada no acidente crotálico. 
 
Manifestações 
e tratamento 
 
Gravidade 
Avaliação 
inicial 
Fácies 
miastemica 
e 
visão turva 
 
Mialgia 
Urina 
vermelha 
ou 
marrom 
Oliguria 
e 
anuria 
Tempo de 
coagulação 
Quantidade 
aproximada 
de veneno a 
ser 
neutralizada 
(mg) 
Via de 
adminis-
tração 
Moderada Discreta ou 
evidente 
Discreta 
ou 
ausente 
Pouco 
evidente 
ou 
presente 
Ausente Normal ou 
alterado 
 
150 
 
IV 
Grave Evidente presente presente Presente 
ou 
ausente 
Normal ou 
alterado 
 
300 
 
IV 
Quadro 5 – Quantidade aproximada de veneno a ser neutralizada no acidente crotálico 
Fonte: Amaral et al. (1987) 
 
 
 
 
 
 
 
2.9 ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE A TOXICIDADE DOS VENENOS 
 
 Em um estudo experimental sobre a toxicidade dos venenos, Araújo e Belluimini 
(1960 apud BICUDO, 2003), relatam a inoculação via intramuscular de uma dose de 1 mg de 
veneno seco/kg de peso vivo em dezesseis cães, sendo dois cães para cada tipo de veneno, 
houve sete mortes, três no dia da inoculação com venenos da Bothrops jararaca (jararaca), B. 
alternatus (urutu), B. cotiara (cotiara) , um no segundo dia com o veneno da B. atrox 
(caiçaca) e dois com o veneno da B. jararacussu (jararacussu) e entre o quarto e sexto dia 
com o veneno branco da Crotalus durissus terrificus (cascavel). Nove cães sobreviveram, 
dois foram inoculados com o veneno da B. neuwiedi (jararaca pintada), dois com o veneno 
amarelo da Crotalus durissus terrificus, um com o veneno da B. jararacussu, um da B. 
alternatus, um da B. cotiara, um da B. atrox e um com o veneno branco da Crotalus durissus 
terrificus (Bicudo 2003). Este relato não menciona nenhum tipo de tratamento com os 
animais, nem de fornecimento de água e alimentos e utiliza à mesma dose de veneno em 
várias espécies de animais doméstico. Com estes dados é possível observar que mesmo o 
animal que não recebe tratamento adequado tem uma chance razoável de sobrevivência. 
 Em outro estudo Viana (1983 apud BICUDO, 2003), concluiu ser 2mg/kg a dose 
mortal mínima do veneno de Bothrops moojeni, para cães. 
A classificação dos venenos quanto a toxicidade, em ordem crescente feita pelos 
autores foi a seguinte: Crotalus durissus terrificus – veneno branco maior que o amarelo - B. 
jararaca, B. jararacussu e B. alternatus; B. cotiara, B. neuwiedi e B. atrox e os animais 
domésticos classificados quanto a sensibilidade aos venenos, da seguinte forma: carneiro, 
cavalo e boi foram os mais sensíveis, seguidos em ordem decrescente de cabra, cão, coelho, 
porco e gato (BICUDO, 2003). 
 
2.10 EXAMES LABORATORIAIS 
 
2.10.1 Testes de coagulação 
 
O achado de TC prolongado ou incoagulável, mesmo na ausência de alterações locais 
evidentes ou outras manifestações sistêmicas, indica envenenamento e necessidade de 
administração do soro específico (CARDOSO et al. 2003, apud PEREIRA, 2006). 
O tempo de coagulação mostra forte associação com os níveis séricos de fibrinogênio 
nos acidentes botrópicos, demonstrando a importância desse exame na avaliação da 
capacidade coagulante nesses acidentes. Deve ser utilizado de rotina por ser de fácil execução, 
baixo custo e alta sensibilidade e observar os seguintes valores: 
-TC normal: até 5 - 6 minutos. 
-TC prolongado: acima de 6 minutos. 
- TC incoagulável: acima de 30 minutos. 
As alterações na coagulabilidade sanguínea têm valor diagnóstico mas não devem ser 
utilizadas como critério de gravidade nos acidentes (CARDOSO et al. 2003, apud PEREIRA, 
2006). 
 
2.10.2 Hemograma 
 
Podem ser observadas anemia discreta, leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda 
e trombocitopenia na fase inicial (SANTOS et al. 2003, apud PEREIRA, 2006). 
No hemograma relatados por Hirschmann et al. (2009), o animal apresentava 
trombocitopenia e, segundo Plunkett (2002), a trombocitopenia é um efeito comum do 
envenenamento crotalídeo. Ela ocorre em virtude do consumo de plaquetas no local de 
inoculação de veneno. O dano causado à membrana basal e às células endoteliais resulta em 
agregação de plaquetas. No esfregaço de sangue foi vista a presença de equinócitos. 
 
2.10.3 Dosagem de veneno sérico 
 
A técnica imunoenzimática (Eliza) é a mais utilizada para detectar a venenemia nos 
acidentes por animais peçonhentos, contudo não está disponibilizada no Brasil (PEREIRA, 
2006). 
É um indicador da quantidade de veneno inoculado, mas tem valor limitado para a 
aferição da quantidade de veneno total presente no paciente. A quantidade de veneno 
extracelular, seja no local da picada ou em outros tecidos, não pode ser detectada baseando-se 
exclusivamente na venenemia, uma vez que trabalhos experimentais demonstram que os 
níveis de veneno sérico, num determinado momento, mesmo em seus níveis máximos, se 
situam, em geral, em valores inferiores a 1,5% do total de veneno inoculado (CARDOSO et 
al. 2003, apud PEREIRA, 2006). 
 
2.10.4 Outros exames a serem solicitadosa) Provas de avaliação de função renal: uréia, creatinina, e eletrólitos, estes quando há 
suspeita de comprometimento renal (PEREIRA, 2006). 
b) Urina I: pode ser observado hematúria, proteinúria e mais raramente 
hemoglobinúria (PEREIRA, 2006). 
c) Creatinoquinase (CPK), desidrogenase lática (DHL), e aspartato aminotransferase 
(AST): podem estar elevadas em pacientes que apresentem processo flogístico acentuado no 
local da picada, ou em acidentes causados por serpentes com veneno com atividade miotóxica 
local como a B. jararacussu (PEREIRA, 2006). 
 
2.11 TRATAMENTO 
 
 O tratamento com soro antiofídico deve ser a primeira medida a ser tomada no caso de 
envenenamento por serpentes. A aplicação do soro deve ser feita independente do tempo 
transcorrido entre a picada e o atendimento, mesmo que esse tempo seja superior a 24 horas, 
tanto no acidente botrópico como no crotálico. Devido à impossibilidade de se determinar a 
quantidade de veneno inoculado, o prognóstico é sempre reservado nos dois tipos de acidentes 
(BICUDO, 2003). 
 O animal acidentado, tanto o de companhia como de produção, independente do 
gênero da serpente agressora, deve ser mantido confinado, isolado dos demais, sob vigilância 
estrita em regime de internato em ambiente confortável, com pouca movimentação nas 
primeiras 48 horas. Nos casos em que a quantidade de soro ministrada tenha sido insuficiente 
para neutralizar o veneno inoculado há necessidade de ser aplicado mais de 50% da dose 
inicial (BICUDO, 2003). 
 Deve-se evitar a aplicação do soro pela via subcutânea dada a absorção mais lenta por 
essa via, que pode ser acentuada nos casos de desidratação e hipotermia. A aplicação 
intramuscular deve ser evitada, particularmente nos animais de pequeno porte, devido ao 
volume de soro a ser aplicado, e a possibilidade de ocorrer hemorragias intramusculares, 
decorrente da ação hemorrágica e miotóxica de certos venenos, o que pode agravar ainda mais 
a capacidade de locomoção do animal acidentado (BICUDO, 2003). 
 
Uma via alternativa, como recurso extremo, na impossibilidade de acesso à via 
venosa, é a peritoneal, onde também existe risco de hemorragia devido as alterações 
hemostáticas, provocadas pelo veneno, podendo esse risco ser maior em casos que o tempo 
decorrido entre o acidente e o tratamento foi grande (BICUDO, 2003). 
 Em hipótese alguma, o soro ou parte dele deve ser aplicado próximo ao local da picada 
com o intuito de neutralização do veneno. O edema e as alterações hemodinâmicas que 
ocorrem nesse local dificultam a disseminação e absorção do soro pela corrente sanguínea 
onde já se encontram o veneno (BICUDO, 2003). 
 O antiveneno poderá ser utilizado mesmo após o vencimento do período de validade, 
desde que seja impossível a obtenção de outro dentro do prazo, e que não haja precipitado ou 
turvação do produto. Nesse caso, com a queda da capacidade de neutralização, foi 
recomendada por um dos produtores a administração da dose dobrada (BICUDO, 2003). 
 A ocorrência de reação anafilática durante ou após a aplicação do soro é rara nos 
animais domésticos, mas pode ocorrer. O veterinário deve estar preparado para emergência 
dessa natureza, ficando atentos às condições clínicas do animal, particularmente a frequência 
respiratória e cardíaca. O uso prévio de corticosteróides ou anti-histamínicos parece não 
proteger o animal de possíveis relações anafiláticas causadas pelo antiveneno (BICUDO, 
2003). 
 O tratamento cirúrgico das lesões locais causada pelo veneno somente deve ser 
iniciado depois que os sintomas de envenenamento tenham desaparecido (BICUDO, 2003). 
No tratamento relatado de acidente botrópico por Herrera e Pereira (2009), foi 
administrado o soro polivalente (botrópico-crotálico), dexametasona e a Curcuma longa foi 
utilizada como tratamento complementar. Ele concluiu que o uso do soro antiofídico 
polivalente, é eficaz no tratamento da picada por Bothrops sp., efetuado rapidamente na dose 
que neutralize o veneno. Conseguinte do controle das complicações com corticóide, 
fluidoterapia e tratamento da ferida com cúrcuma longa tópica e barbatimão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.11.1 Soro antiofídico, anticrotálico e antibotrópico 
 
 A soroterapia é o único tratamento curativo, existente no momento, para os casos de 
animais picados por serpentes (BICUDO, 1994). 
 Os soros ou antivenenos são produzidos a partir de inoculações, em equinos, de doses 
subletais de diferentes venenos ofídicos. Dessa forma obtemos todos os tipos de soro. O soro 
antiofídico é uma mistura do soro antibotrópico e anticrotálico, capaz de neutralizar o veneno 
de serpentes dos gêneros Bothrops e Crotalus (BICUDO, 1994). 
 O soro especifico deve ser usado sempre que possível, de acordo com o gênero da 
espécie agressora. Essa identificação pode ser feita pelos sintomas que o animal apresenta, 
pelo reconhecimento direto da serpente agressora ou pela prevalência da distribuição dos 
gêneros de serpentes na região onde ocorreu o acidente (BICUDO, 1994). 
 Segundo Bicudo (1994), nos casos em que haja duvida nessa identificação ou quando 
não houver disponível o soro especifico, deve ser usado o soro antiofídico. O soro antiofídico 
não possui ação neutralizante sobre o veneno das serpentes do gênero Lachesis (surucucu) e 
Micrurus (coral). 
 Bicudo (2004), cita que para uso veterinário somente são disponíveis os soros 
antibotrópico, anticrotálico e antiofidico, sendo este último o mais encontrado. O soro 
antielapídico (para acidentes com corais) e antilaquético (para acidentes com surucucu) são 
produzidos somente por instituições governamentais, sendo exclusivamente para uso humano. 
 Considerando que o tratamento com soro se baseia na capacidade neutralizante sobre o 
veneno inoculado e admitindo que as serpentes tenham capacidade de inocular, no ato da 
picada, a mesma quantidade de veneno obtida na primeira extração, podemos estabelecer para 
efeito de tratamento, que nos acidentes a quantidade de soro a ser aplicada deve ser suficiente 
para neutralizar no mínimo 100mg de veneno botrópico e 50mg de veneno crotálico 
(BICUDO, 1994). 
 O tamanho ou peso do animal não são considerados para o cálculo da quantidade do 
volume de soro a ser aplicada. Assim sendo, o volume de soro a ser aplicado num bovino ou 
num cão picados por cascavel ou jararaca é o mesmo, ou seja, a serpente ao picar esses 
animais inocula a mesma quantidade de veneno (BICUDO, 1994). 
 No momento, os soros encontrados no mercado, para uso veterinário são produzidos 
pelo Laboratório Vencofarma do Brasil Ltda (Londrina-PR) e pelo Laboratório Bio-Vet Ltda 
(Vargem Grande Paulista – SP), este último por exemplo produz o denominado Soro Anti-
Ofídico Bio-vet, que neutraliza por mililitro de soro 1mg de veneno botrópico e 1mg de 
veneno crotálico, sendo vendido em frascos-ampolas de 50mL (BICUDO, 1994). 
 Existem também soros para uso humano que são produzidos pelo Instituto Butantan, 
em São Paulo; Instituto Vital Brasil, em Niterói; e Fundação Ezequiel Dias, em Belo 
Horizonte, que não são comercializados e sim distribuídos para uso gratuito nos hospitais 
humanos (BICUDO, 1994). 
 O volume total de soro deve ser aplicado de uma só vez, via endovenosa, de maneira 
lenta. O objetivo da soroterapia é neutralizar o máximo de veneno no menor espaço de tempo 
possível, evitando assim efeitos colaterais produzidos pelos mesmos. Se os sintomas 
permanecerem mais de 24 horas após o tratamento ou o animal voltar a piorar, deve ser 
injetado no mínimo metade da dose inicial (BICUDO, 1994). 
Herrera e Pereira (2009), de um modo geral, recomendam o seguinte esquema nos 
acidentes botrópicos (quadro 6). 
 
Casos Ampolas / volume Via Doses 
Benignos 5 ampolas de 10 mL 5- via subcutânea (SC) 1 dose 
Casos médios 8 ampolas de 10 mL 4- SC 
4- intravenosa (IV). 
1 dose 
Casos

Outros materiais