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Direito Penal I Módulo IV Profª Neida Leal Floriano Conceito: É a parte do Direito Penal que tem a função de explicar o que é o crime (em geral), apontando as características que fazem parte de qualquer delito. Elementos fundamentais: O fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade Classificação: Dois sistemas: Tripartido (tricotômico): crimes, delitos e contravenções Bipartido (dicotômico): crimes ou delitos e contravenções Distinção entre crime e contravenção: art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal Art. 1º. Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Critério: meramente político Ex.: o porte de arma, que era contravenção penal, passou a ser crime em 1997 As contravenções penais são infrações menos graves que os crimes, são delitos-anões (NELSON HUNGRIA), ofendem bens jurídicos não tão importantes quanto os protegidos ao se tipificar um crime. Ilícito penal e ilícito civil: valoração de bens jurídicos e penalidades impostas Conceituação essencialmente jurídica → ilícito penal sob três enfoques: Conceito formal: aspecto externo, puramente nominal do fato Conceito material ou substancial: Análise de conteúdo dos fatos Conceito analítico da infração penal: exame das características ou aspectos do crime CONCEITO FORMAL: crime é todo o fato humano proibido pela lei penal. “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob a ameaça de pena”. (Heleno Cláudio Fragoso) “Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena”. (Manoel Pedro Pimentel) “É a concepção do direito acerca do delito, constituindo a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, numa visão legislativa do fenômeno”. (Guilherme de Souza Nucci) Definições que alcançam apenas o aspecto da exterioridade→ contradição do fato à norma penal CONCEITO MATERIAL: é a conduta que ofende os bens jurídico-penais. “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal”. (Magalhães Noronha) “Crime é a ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável somente através da sanção penal”. (Heleno C. Fragoso) É a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido, mediante a aplicação de uma sanção penal. CONCEITO ANALÍTICO: é o conceito formal particularizado em elementos que possibilitam melhor entendimento da sua abrangência. Várias correntes doutrinárias. Crime é conduta típica (tipicidade), antijurídica ou ilícita (ilicitude) e culpável(culpabilidade) → corrente majoritária no Brasil e no exterior. FUNÇÃO DO CONCEITO ANALÍTICO: analisar cada um dos elementos constitutivos do delito, observando que o crime é um todo unitário e indivisível. O crime é portanto, todo fato típico, ilícito e culpável. Não há crime sem ação (nullum crimen sine conducta). Ação → fato típico: é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um resultado, e é previsto como infração penal. Para que determinado fato seja considerado típico é necessário que haja perfeita adequação do fato concreto ao tipo penal. Elementos do fato típico: a) conduta (ação ou omissão/dolosa ou culposa) b) resultado c) nexo de causalidade d) tipicidade O conceito estrutural do crime se modifica a partir do sentido que se atribuiu à palavra ação. É sobre o conceito de ação que divergem os penalistas. Principais teorias: teoria causalista, teoria finalista e teoria social da ação TEORIA CAUSALISTA (naturalista, tradicional, clássica, causal-naturalista) – a conduta é um comportamento humano voluntário que provoca uma modificação no mundo exterior, que consiste em fazer ou não fazer. É um processo mecânico, muscular e voluntário. Principais defensores: Von LISZT e BELING TEORIA FINALISTA DA AÇÃO (ou da ação finalista) – considera que todo o comportamento do homem tem uma finalidade, portanto, a conduta é uma atividade humana dirigida a um fim e não um simples comportamento causal. “A ação é o exercício de uma atividade final.”(Welzel). TEORIA SOCIAL DA AÇÃO (ou da ação socialmente adequada, da adequação social ou normativa) – a ação “é a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela vontade humana” (Johannes Wessels). A relevância social da ação é o critério conceitual comum a todas as formas de comportamento e, portanto, igualmente ao crime. Conduta é ação humana por excelência. Constituição Federal, expressamente, permite nos arts. 173, § 5º e 225, § 3º a responsabilidade penal da pessoa jurídica em face de uma atividade lesiva ao meio ambiente. Concepção finalista: “conduta é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada finalidade” (Damásio de Jesus) Características da conduta: Comportamento humano (excluídos os fatos naturais e os do mundo animal) Repercussão externa da vontade do agente Elementos da conduta: Ato de vontade dirigido a um fim; Manifestação dessa vontade (atuação) que envolve dois aspectos: Aspecto psíquico: campo intelectual derivado do comando cerebral Aspecto mecânico (ou neuromuscular): movimento ou abstenção do movimento Formas de conduta: Ação em sentido estrito ou comissão: um movimento ativo, um fazer Omissão: é a abstenção do movimento A conduta pode se revelar por meio de uma ação (conduta comissiva ou positiva) ou de uma omissão (conduta omissiva ou negativa). Na ação comissiva o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. Na ação omissiva há uma abstenção de uma atividade que era imposta por lei ao agente. Os crimes omissivos podem ser: próprios (puros ou simples) impróprios (comissivos por omissão ou omissivos qualificados) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS (OU PUROS) – são os que objetivamente são descritos no tipo penal com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico (são portanto delitos formais). São delitos nos quais existe o chamado dever genérico de proteção. Ex.: art. 135, art. 269, art. 320, todos do CP CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS ( ou comissivos por omissão ou comissivos-omissivos) – somente as pessoas referidas no §2o do artigo 13, do CP, podem praticá-los, pois existe o chamado dever especial de proteção. Nesses crimes, o agente deve encontrar-se numa posição de garante ou garantidor, que pode ocorrer de três formas distintas: - deve ter a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância; - de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; - com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. A conduta pode ser de dois tipos: dolosa ou culposa. DOLOSA – ocorre quando o agente quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzí-lo; CULPOSA – ocorre quando o agente dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ounegligência. Regra: os crimes são dolosos, sendo culposos apenas quando houver previsão legal expressa nesse sentido. Conforme estabelece o art. 18, parágrafo único, do CP: Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Concepção finalista da ação→ a ação será sempre dirigida à produção de um resultado. Logo, se não houver vontade dirigida à produção de um resultado qualquer, não haverá conduta. Hipótese de ausência de conduta em face inexistência de resultado: a) força irresistível ou coação física irresistível (seja proveniente da natureza ou da ação de um terceiro); b) movimentos reflexos; c) estados de inconsciência. Duas fases: a interna e externa Interna: ocorre na esfera do pensamento, e percorre os seguintes pontos: a) representação e antecipação mental do resultado a ser alcançado; b) escolha dos meios a serem utilizados; c) consideração dos efeitos colaterais ou concomitantes à utilização dos meios escolhidos. Na fase externa o agente somente exterioriza tudo aquilo que havia arquitetado mentalmente. Obs.: a única exceção do ordenamento à regra de impossibilidade de punição dos atos preparatórios é o do artigo 288, do CP: Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para fim de cometer crimes: Existem crimes que produzem resultados naturais (naturalísticos) e são denominados crimes materiais, e outros, que não produzem tais resultados, que são os chamados crimes formais ou de mera conduta (ex.: injúria, violação de domicílio, etc.) Obs.: embora nem todos os crimes produzam um resultado naturalístico, todos produzem um resultado jurídico, que pode ser conceituado como a lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado pela lei penal. RESULTADO NATURALÍSTICO – alteração no mundo real; RESULTADO JURÍDICO – lesão ou perigo de lesão a bem jurídico tutelado pela lei penal. Conceito naturalístico: é a modificação do mundo exterior provocado pelo comportamento humano voluntário. “É o efeito natural da ação que configura a conduta típica, ou seja, o fato tipicamente relevante produzido no mundo exterior pelo movimento corpóreo do agente e a ele ligado por relação de causalidade”. (Heleno C. Fragoso) Conceito jurídico (ou normativo): é a lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal. Espécies de resultado: físico (ex.: dano), fisiológico (ex.: lesão, morte,etc.) ou psicológico (ex.: o temor no crime de ameaça) O nexo de causalidade é o elemento que une a conduta ao resultado naturalístico necessário à configuração do crime. Se não houver nexo de causalidade entre o resultado e a conduta do agente não haverá relação de causalidade e tal resultado não poderá ser atribuído ao agente, visto não ter sido ele o seu causador. Obs.: o nexo de causalidade diz respeito tão somente aos crimes materiais, não tendo sentido em relação aos delitos de mera conduta, bem como aos omissivos próprios. Espécies de crimes em que ocorre o nexo causal: a) crimes materiais – a lei penal exige, para sua caracterização, a produção de um resultado que cause uma modificação no mundo exterior, perceptível pelos sentidos; b) crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão) – são os constantes do §2º, do art. 13, do CP, que também exigem resultado naturalístico para a responsabilização do agente; Não ocorrerá nexo causal, em contrapartida, nos seguintes crimes: a) formais; b) de mera conduta; c) omissivos próprios ou omissivos puros Quando um fato do mundo natural se coaduna perfeitamente com a descrição legal realizada pelo tipo surge a TIPICIDADE. Conceito de tipicidade É a perfeita adequação entre o fato natural, concreto e a descrição contida na lei. Tipicidade é a perfeita subsunção da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal, a um tipo penal incriminador.
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