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Culpabilidade e suas excludentes

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BCF 
Nº 70051761872 (N° CNJ: 0482783-57.2012.8.21.7000) 
2012/CRIME 
 
 1 
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
PODER JUDICIÁRIO 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
APELAÇÃO. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. 
ROUBO. 
1. Materialidade e autoria quanto à subtração e à 
grave ameaça demonstradas pelos elementos 
probatórios coligidos, bem como pelo depoimento da 
vítima, que narrou de forma firme o coerente o 
ocorrido. De outro lado, a vítima não afirmou, 
espontaneamente, o emprego de arma de fogo, tendo 
sua resposta sido induzida pela acusação, importando, 
pois, o afastamento da majorante prevista no art. 157, 
§2º, inciso I, do CP. 
2. Dosimetria da pena. Basilar estabelecida no mínimo 
legal de quatro (04) anos, tornada definitiva em razão 
da ausência de outras causas modificadoras nas fases 
subsequentes, a ser cumprida em regime inicial 
aberto. Valoração como neutra ou presumidamente 
favorável da culpabilidade, que na primeira fase da 
dosimetria da pena despe-se de seus elementos 
específicos (imputabilidade, potencial consciência da 
ilicitude e exigibilidade de conduta diversa), 
traduzindo-se como juízo de reprovação social, que 
não extrapola a que é própria da espécie. 
Antecedentes valorados como neutros, considerando a 
orientação da Súmula n. 444 do STJ. 
3. Prescrição retroativa operada, decretada de ofício, 
considerado o transcurso de um período de tempo 
superior a oito anos entre o fato delituoso e o 
recebimento da denúncia. Delito praticado antes da 
entrada em vigor da Lei n. 12234/10. Punibilidade 
extinta para todos os efeitos legais. 
APELO PROVIDO, COM DISPOSIÇÃO DE OFÍCIO. 
 
APELAÇÃO CRIME 
 
SEXTA CÂMARA CRIMINAL 
Nº 70051761872 (N° CNJ: 0482783-
57.2012.8.21.7000) 
 
COMARCA DE BAGÉ 
MARCIO DUTRA LACERDA 
 
APELANTE 
MINISTERIO PUBLICO 
 
APELADO 
 
 
 
 
 
 
 
BCF 
Nº 70051761872 (N° CNJ: 0482783-57.2012.8.21.7000) 
2012/CRIME 
 
 2 
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
PODER JUDICIÁRIO 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
A CÓR DÃO 
 
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara 
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial 
provimento ao apelo, para desclassificar a condenação do réu MARCIO 
DUTRA LACERDA para os lindes do art. 157, caput, do CP e reduzir sua 
pena carcerária definitiva para quatro (4) anos de reclusão, a ser cumprida 
em regime inicial aberto, e, consequentemente, ex officio, extinguir a 
punibilidade para todos os efeitos legais, porquanto operada a prescrição 
retroativa. 
Custas na forma da lei. 
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes 
Senhores DES. AYMORÉ ROQUE POTTES DE MELLO (PRESIDENTE) E 
DES. ÍCARO CARVALHO DE BEM OSÓRIO. 
Porto Alegre, 14 de novembro de 2013. 
 
 
DES.ª BERNADETE COUTINHO FRIEDRICH, 
Relatora. 
 
R E L AT ÓRI O 
DES.ª BERNADETE COUTINHO FRIEDRICH (RELATORA) 
Trata-se de recurso de apelação interposto por MARCIO 
DUTRA LACERDA contra sentença proferida no Processo-crime tombado 
sob o n. 004/2.10.0005043-0, que tramitou perante o juízo da 2ª Vara 
Criminal da Comarca de Bagé. 
De início, adoto o relatório consignado na sentença atacada: 
 
 
 
 
 
 
BCF 
Nº 70051761872 (N° CNJ: 0482783-57.2012.8.21.7000) 
2012/CRIME 
 
 3 
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
PODER JUDICIÁRIO 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
 
“(...). 
MÁRCIO DUTRA LACERDA, vulgo Lacerdinha, brasileiro, 
solteiro, sem profissão definida, ensino fundamental incompleto, 
com 33 anos de idade, nascido em 07/01/1977, natural de 
Bagé/RS, filho de Darci Conceição Lacerda e Rudi da Cruz Dutra, 
residente na Rua 144, nº 2648, bairro Malafaia, nesta Cidade, 
responde ao presente processo, como incurso nas penas do art. 
157, parágrafo 2º, inciso I, do Código Penal, pela prática de fato 
delituoso, assim narrado na denúncia: 
‘No dia 05 de novembro de 2002, por volta das 21h, em via pública, 
localizada no bairro Malafaia, nesta Cidade, o denunciado, mediante grave 
ameaça, exercida com emprego de arma de fogo (não apreendida), e 
mediante violência à pessoa, subtraiu, para si, a quantia de R$ 6,00 (seis 
reais) e o título eleitoral de propriedade do ofendido João Soares Lopes. 
Na oportunidade, o denunciado abordou a vítima que caminhava pela 
rua e, armado com um revólver, anunciou o assalto, ao mesmo tempo em que 
desferiu um soco na cabeça da vítima, que caiu ao solo, tendo o denunciado 
subtraído do bolso da calça da vítima a quantia em dinheiro e o título 
eleitoral. Após a subtração dos bens, o denunciado fugiu. 
Os bens subtraídos não foram recuperados’. 
Recebida a denúncia, em 06 de janeiro de 2011 (fl. 26), foi o 
réu pessoalmente citado (fl. 23v), sendo-lhe nomeada a 
Defensoria Pública (fl. 24), que apresentou resposta à acusação, 
sem arrolar testemunhas (fl. 25). 
Não verificadas as hipóteses do art. 397, do CPP, foi 
designada audiência de instrução, interrogatório, debates orais e 
julgamento (fl. 26). 
Na audiência foi ouvida a vítima (fls. 33/34). Ao final, o 
acusado foi interrogado (fls. 34V/35). No prazo do art. 402, do 
CPP, as partes nada requereram (fl. 31). Os debates orais foram 
substituídos por memoriais, a requerimento das partes (fl. 31). 
Nos memoriais o Ministério Público postulou pela 
condenação (fls. 37/41). A defesa pugnou pela absolvição (fls. 
42/54).” 
 
Após regular tramitação do processo, sobrevém sentença, 
julgando procedente a denúncia, para condenar o réu como incurso nas 
sanções do art. 157, §2º, inciso I, do CP, à pena privativa de liberdade de 
cinco (5) anos e oito (8) meses de reclusão (basilar em quatro anos e três 
 
 
 
 
 
 
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meses, em razão dos antecedentes e da culpabilidade, aumentada em 1/3 
em razão da majorante concernente ao emprego de arma), em regime 
semiaberto, e à pena pecuniária de trinta dias-multa, na razão unitária de 
1/20 do salário-mínimo vigente à época do delito. 
Publicada a sentença em 15/02/2012. 
Intimados o Ministério Público, a Defesa, e o réu. 
A Defesa interpõe recurso de apelação. 
Em suas razões recursais, argumenta que a palavra da vítima 
não merece respaldo, porquanto se encontrava alcoolizada no momento do 
delito, tendo diminuída a sua capacidade de compreensão e de 
discernimento dos fatos, mormente, quando considerada a sua parcialidade 
e pelo fato de não ser roborada por depoimentos de testemunhas oculares, 
importando a absolvição do acusado em razão da insuficiência de provas 
com força para sustentar condenação, observado o princípio do in dubio pro 
reo. 
E, na hipótese de manutenção da decisão condenatória, requer 
a desclassificação do delito da denúncia para roubo simples, afastada a 
circunstância majorante pertinente ao emprego de arma, tendo em vista que 
nenhum armamento foi apreendido com o acusado, inviabilizando, via de 
conseqüência, a avaliação da potencialidade lesiva. 
No que diz com a dosimetria da pena privativa de liberdade, 
explica que a culpabilidade, por ser pressuposto da pena, não pode influir no 
estabelecimento da pena-base, inexistindo elementos para aferir a sua 
personalidade ou presentes antecedentes que permitam maior reprovação. 
Postula provimento ao apelo, com as consequências legais. 
O recurso é respondido. 
O Ministério Público opina pelo conhecimento e parcial 
provimento ao apelo, reduzida a pena-base para o mínimo legal. 
 
 
 
 
 
 
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Conclusos para julgamento.O réu se encontra preso, mas não em virtude desta persecução 
penal. 
É o relatório. 
V O TO S 
DES.ª BERNADETE COUTINHO FRIEDRICH (RELATORA) 
Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade recursal, 
conheço do apelo. 
Prospera em parte o recurso, porquanto, embora mantida a 
decisão condenatória, importa a desclassificação do crime descrito na 
denúncia para o de roubo simples, afastada a circunstância majorante 
pertinente ao emprego de arma de fogo. 
A denúncia imputa ao réu a prática do crime de roubo 
majorado, por que no dia 05/11/2002, por volta das 21h, em via pública, no 
bairro Malafia, Município de Bagé, subtraiu, para si, mediante grave ameaça, 
potencializada pelo emprego de arma de fogo, a quantia de R$ 6,00 e o 
Título de Eleitor pertencentes à vítima, abordada enquanto caminhava pela 
rua, sofrendo um soco na nuca e, uma vez subjugada, desapossada das res 
furtivae, não recuperadas, tendo o meliante empreendido fuga. 
A materialidade e a autoria, quanto à subtração patrimonial e à 
grave ameaça e violência, vem demonstradas pela ocorrência policial de fl. 
07, e, principalmente, pelos elementos probatórios coligidos, mormente pelo 
depoimento da vítima, colhido em juízo. 
O réu, em seu interrogatório, negou a materialidade do delito, 
afirmando que, na ocasião, surgiu uma “conversa” de que a vítima teria tido 
relações com a sua ex-mulher, motivo pelo qual decidiu “sacudi-lo”, sem que 
 
 
 
 
 
 
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tenha, todavia, se apropriado de seu patrimônio, negando ter-lhe apontado 
revólver. 
A vítima, ao ser ouvida em juízo, contou que “tinha ido na 
venda”, quando o réu lhe “pegou da cabeça” e desferiu-lhe um soco, 
subtraindo “cinco pila”, seu “título” e sua “certidão”. Perguntada, afirmou que 
já conhecia o réu da vila, em que moravam, e que o ameaçava de morte, 
caso não deixasse o bairro. Questionada pelo Ministério Público “se 
“mencionou que ele apontou uma arma e lhe deu um soco na cabeça”,” 
respondeu “foi”. Indagado se ficou machucado, disse que não, apenas 
“vermelho”, tendo permanecido dormindo na rua. Questionada se estava 
desmaiado ou dormindo, respondeu que desmaiado. Perguntada se tinha 
bebido algo, respondeu que havia tomado vinho, aproximadamente três ou 
quatro copos, e saído “meio borracho dali”. 
Cumpre observar que o depoimento da vítima se mostra coeso 
e convergente quando à subtração patrimonial sofrida, bem como quanto à 
grave ameaça perpetrada pelo réu,e a violência sofrida, ao ser golpeado na 
cabeça, vindo a desfalecer em consequência, fornecendo elementos 
probatórios suficientes ao veredicto condenatório. 
De outro lado, quanto ao emprego de arma, conquanto 
conserve compreensão quanto à prescindibilidade de sua apreensão, 
mesmo nos casos de arma de fogo, para o reconhecimento da majorante, no 
caso concreto, os elementos probatórios coligidos não fornecem certeza 
quanto ao seu emprego. Isto porque, a vítima, em seu depoimento, em 
momento algum, relatou, espontaneamente, o emprego de arma, tendo sua 
resposta sido induzida, rogada venia, pela Acusação, pois lhe foi perguntado 
se confirmava o que havia declarado, na fase investigatória, acerca do 
emprego de arma de fogo, ao que respondeu, simplesmente, “foi”, sem 
fornecer quaisquer detalhes a permitir que se conclua, com certeza, pela 
 
 
 
 
 
 
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potencialização da grave ameaça em virtude do emprego de arma, motivo 
pelo qual importa o afastamento da majorante. 
Deste modo, desclassifico o fato delituoso para condenar o réu 
como incurso nas sanções do art. 157, caput, do CP. 
Em relação à dosimetria da pena, razão assiste à Defesa. 
A culpabilidade, como circunstância judicial prevista no art. 59 
do CP, despe-se de seus elementos específicos (imputabilidade, potencial 
consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa), traduzindo-se 
como reprovabilidade social pelo fato delituoso, ou como grau de censura, 
no dizer de Guilherme Souza Nucci, conforme a lição a seguir reproduzida: 
 
“Cometido o fato típico e antijurídico, para verificarmos de 
há crime, é imperioso constatar a existência de 
reprovabilidade do fato e de seu autor, devendo este ser 
imputável, agir com consciência potencial de ilicitude (para 
os causalistas, inclui-se, também, ter atuado com dolo ou 
culpa) e com exigibilidade e possibilidade de um 
comportamento conforme o direito. Reconhecida a 
censurabilidade do injusto (fato típico e antijurídico), 
encontramos o crime, logo, impõe-se a condenação. Passa-
e, a partir desse ponto, ao contexto da aplicação da pena, 
tornando-se à análise da culpabilidade, aliás, 
expressamente mencionada no art. 59 do Código Penal, 
para encontrar-se a justa medida da pena. Entretanto, agora 
está ela despida de outros elementos específicos, 
significando apenas o grau de censura merecido pelo 
agente em face do que fez.” (in Código Penal Comentado, 
10ª ed., pp. 235 e 237). 
 
A culpabilidade constitui o vetor mais genérico previsto no art. 
59 do CP, não prescindindo, por outro lado, mormente quando de sua 
valoração negativa, de fundamentação concreta quando de sua análise na 
primeira fase do método trifásico. A abstratividade do conceito se justifica 
pela impossibilidade e dificuldade de se classificar todas as vicissitudes da 
vida em antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, 
circunstâncias e consequências do crime, bem como comportamento da 
 
 
 
 
 
 
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vítima, de modo que a todos esses fatores não se pode conferir conceito 
hermético, variando suas nuances conforme a ótica do intérprete. No caso 
do julgador, na primeira fase do método trifásico, dosará a pena de acordo 
com o grau de culpabilidade do autor pelo fato delituoso praticado, ignorando 
apenas as próprias elementares que tipificam o delito, bem como os 
elementos que vierem configurar circunstâncias legais ou especiais de 
aumento ou diminuição de pena, a serem valoradas nas fases 
subsequentes. Poder-se-ia argumentar que, em assim se entendendo, 
haveria bis in idem na hipótese em que os demais vetores fossem 
considerados negativos em sua maioria, revelando, também, uma 
culpabilidade, i.e., uma reprovabilidade social acentuada. No entanto, ao 
valorar negativamente a culpabilidade, o julgador fundamentará as 
circunstâncias concretas do seu efetivo grau de incidência ao juízo de 
reprovação social, que lhe permitiram avaliar o grau de censurabilidade da 
conduta. E, estas circunstâncias, justamente para evitar o bis in idem, não 
serão analisadas para avaliar os outros sete vetores. 
In casu, data venia ao juízo a quo, o reconhecimento da 
culpabilidade como “acentuada”, sem, contudo, fundamentar esta 
compreensão em circunstância concreta do delito ou à aspecto relacionado 
ao agente, não propicia um maior apenamento. 
Assim, importa valorar a culpabilidade, in casu, como neutra, 
pois, traduzida, aqui, como juízo de reprovação social, não extrapola a que é 
própria da espécie. O réu não registra antecedentes, ao menos conforme a 
orientação da Súmula n. 444 do STJ. Inexistem elementos para aferir a 
conduta social ou a personalidade do agente. As circunstâncias do 
delito não auferem relevância; os motivos são ínsitos ao tipo, consistindo 
na busca pelo lucro fácil.As consequências são ordinárias. Por fim, o 
comportamento da vítima não contribuiu ao delito. 
 
 
 
 
 
 
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Assim, estabeleço a pena-base privativa de liberdade em 
quatro (4) anos de reclusão, tornada, nesse quantum, definitiva em razão da 
ausência causas modificadoras, a ser cumprida em regime inicial aberto, nos 
termos do art. 33, §2º, alínea “c”, do CP. 
Considerando a pena ora concretizada, o lapso prescricional da 
pretensão punitiva corresponde a oito anos, nos termos do art. 109, inciso 
IV, do CP, o qual já transcorreu integralmente entre a data do fato 
(05/11/2002) e a data do recebimento da denúncia (06/01/2011, fl. 26), 
importando atentar que o delito foi cometido antes da entrada em vigência 
da Lei n. 12234/10, lex gravior – e que, portanto, não retroage –, a qual 
extirpou do ordenamento jurídico a prescrição retroativa tendo como marco 
inicial a data do delito. 
Importa, pois, declarar extinta a punibilidade do réu quanto ao 
fato delituoso que lhe é imputado, para todos os efeitos legais, com fulcro no 
art. 107, inciso IV, c/c art. 109, inciso IV, e art. 110, §1º, todos do CP. 
Em face do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento 
ao apelo, para desclassificar a condenação do réu MARCIO DUTRA 
LACERDA para os lindes do art. 157, caput, do CP e reduzir sua pena 
carcerária definitiva para quatro (4) anos de reclusão, a ser cumprida em 
regime inicial aberto, e, consequentemente, ex officio, extinguir a 
punibilidade para todos os efeitos legais, porquanto operada a prescrição 
retroativa. 
 
DES. ÍCARO CARVALHO DE BEM OSÓRIO (REVISOR) - De acordo com 
o(a) Relator(a). 
DES. AYMORÉ ROQUE POTTES DE MELLO (PRESIDENTE) - De acordo 
com o(a) Relator(a). 
 
 
 
 
 
 
 
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Nº 70051761872 (N° CNJ: 0482783-57.2012.8.21.7000) 
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DES. AYMORÉ ROQUE POTTES DE MELLO - Presidente - Apelação 
Crime nº 70051761872, Comarca de Bagé: "DERAM PARCIAL 
PROVIMENTO AO APELO, PARA DESCLASSIFICAR A CONDENAÇÃO 
DO RÉU MARCIO DUTRA LACERDA PARA OS LINDES DO ART. 157, 
CAPUT, DO CP E REDUZIR SUA PENA CARCERÁRIA DEFINITIVA PARA 
QUATRO (4) ANOS DE RECLUSÃO, A SER CUMPRIDA EM REGIME 
INICIAL ABERTO, E, CONSEQUENTEMENTE, EX OFFICIO, EXTINGUIR A 
PUNIBILIDADE PARA TODOS OS EFEITOS LEGAIS, PORQUANTO 
OPERADA A PRESCRIÇÃO RETROATIVA. UNÂNIME." 
 
 
Julgador(a) de 1º Grau: NAIRA MELKIS PEREIRA CAMINHA

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