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RESUMO DERMATO – PROVA 2 Vanessa Arruda Piodermites São processos infecciosos, que podem ser chamados primários ou secundários a infecções em outros órgãos. A gravidade depende de fatores de virulência da bactéria e produção de toxinas. Os fatores de virulência dizem respeito ao potencial invasivo da bactéria (elementos antifagocitários na parede bacteriana) e a própria capacidade de produção de toxinas. Essas podem ser endotoxinas (liberadas quando há ruptura da bactéria) ou exotoxinas (liberadas sem necessidade de ruptura). ETIOLOGIA Principalmente Streptococcus e Staphylococcus. O Staphylococcus é capaz de produzir várias toxinas, como alfa-necrogênicas, esfoliatina, penicilinases, hemolisinas, hialuronidases. Dos Streptococcus pyogenes, o mais patogênico é o beta-hemolítico do grupo A, que secreta a proteína M, substância de grande valor na virulência por inibir a fagocitose ao dificultar, na superfície da célula, a ativação do sistema complemento pela via alternada. FLORA NORMAL A pele normal é rica em bactérias, que podem ser agrupadas em residentes permanentes e residentes transitórias; as primeiras colonizam a pele e vivem nela como comensais, sendo de difícil remoção, enquanto as últimas podem colonizar a pele e são de remoção relativamente fácil. A flora permanente é constituída de cocos Gram-positivos (estafilococos coagulase- negativos, principalmente epidermidis, e micrococos), bastonetes Gram-positivos aeróbios, difteroides (Corynebacterium e Brevibacterium), bastonetes Gram-positivos anaeróbios (Propionibacterium) e bactérias Gram-negativas, além de fungos; essa flora permanente varia quantitativa e qualitativamente de acordo com vários fatores (idade, sexo, raça, grau de umidade, locais anatômicos etc.). A flora transitória é representada, principalrnente, pelo Staphylococccus aureus (coagulase-positivo) e pelo Streptococcus pyogenes, que são bactérias do ambiente, tornando-se patogênicas em geral quando há perda da integridade da pele. FATORES PREDISPONENTES - Tópicos: Umidade da pele, deficiência na produção de ác. graxos e solução de continuidade. - Sistêmico: imunossupressão - Ambiental: calor e umidade - Do agente: virulência da cepa MECANISMO DE DEFESA/BACTÉRIAS EXTRACELULARES - Barreiras estruturais do hospedeiro – Integridade da pele; - Resposta imune via células TCD4 e células B para produção de resposta celular e humoral; - Produção de anticorpos – Opsonização, ativação de complemento e neutralização de bactérias / seus produtos. CLASSIFICAÇÃO *Quanto à profundidade Infecção superficial da pele: impetigo e síndrome da pele escaldada estafilocócica (SSSS) Infecção da epiderme e derme: ectima Infecção mais profunda: erisipela e celulite Profunda com tendência à supuração: abscesso e fleimão Abertura do folículo pilossebáceo: ostiofoliculite Profundidade do folículo piloso: foliculite Folículo piloso juntamente com sua glândula sebácea: furúnculo e carbúnculo Glândula sudorípara écrina: periporite e abscessos múltiplos dos lactentes Unha e suas dobras: paroníquia e panarício. 1- IMPETIGOS São infecções piogênicas primárias da pele, contagiosas, superficiais, produzidas por estafilococos e estreptococos. Acometem a face e os membros superiores, mas podem disseminar por autoinoculação. Utiliza-se o termo impetiginização quando o impetigo complica uma dermatose preexistente (p. ex., pediculose, escabiose, eczema etc.); nesse caso, em geral é de natureza estafilocócica. EPIDEMIOLOGIA É bem mais frequente em crianças e nos meses de mais calor. CLÍNICA São reconhecidas duas formas clínicas: impetigo não bolhoso (70%, causado mais por Streptococcus) e impetigo bolhoso (Staphylococcus). O estado de portador propicia o seu aparecimento. lmpetigo não bolhoso: A localização preferencial é em torno do nariz e da boca e nas extremidades, e a pele apresenta solução de continuidade para instalação do processo. Ocorre no local de pequenos traumatismos como escoriações, queimaduras e picadas de insetos. Mácula eritematosa bolha e/ou vesícula efêmeras de paredes finas crosta resultante espessa e de coloração amarelada/melicérica. Pode lembrar a queimadura de cigarro; não há tendência à circinação (forma de anel). Sintomas gerais normalmente estão ausentes e pode ser acompanhado de linfadenite-satélite. lmpetigo bolhoso: De etiologia exclusivamente estafilocócica. Portanto, tem etiologia igual à da síndrome da pele escaldada estafilocócica (SSSS); seria, na verdade, forma mitigada. Não há necessidade de solução de continuidade cutânea para o aparecimento das lesões. Ocorre mais em neonatos (diferentemente do anterior) e também em crianças. Tem como características clínicas a formação de vesículas que rapidamente se transformam em bolhas grandes que sofrem processo de pustulização. As crostas resultantes são finas e acastanhadas e, por vezes, tomam aspecto circinado. As localizações preferenciais são face, períneo, nádegas e extremidades. Podem complicar em linfangite, celulite, bacteremia, artrite séptica e septicemia quando causadas por Staphylococcus. Quando é de origem estreptocócica, pode complicar em síndrome nefrítica. DIAGNÓSTICO Clínico; exames bacterioscópicos e cultura para identificação do agente. Entre os diagnósticos diferenciais, destacam-se herpes simples, candidíase, dermatofitose, periporite e miliária. TRATAMENTO - Limpeza com água e sabão - Uso de antissépticos: Óxido amarelo de Hg 0,5-1%; Ác. bórico 2% em compressas ou cremes; Permanganato de potássio 1/10.000 - Antibióticos tópicos: Mupirocina, ácido fusídico, neomicina, polimixina B - Antibioticoterapia sistêmica: Penicilina, eritromicina, azitromicina (para infecções disseminadas). 2- ECTIMA/Pereba: Etiologia estreptoestafilocócica. Placa vesícula pústula úlcera com crosta espessa e aderida. Ocorre mais nas pernas, deixando cicatriz. Pode ser única, mas, em geral, há várias lesões. Além dos cuidados locais (água e sabão, compressas com água boricada ou permanganato seguido de antibiótico tópico), muitas vezes utiliza-se antibiótico sistêmico contra estreptococos. Acompanhada de febre e adenite satélite. Pode complicar em impetigo. Portas de entrada: picada de inseto, lesões de escabiose e dermatose pruriginosa. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Leishmaniose tegumentar e úlcera de estase. TRATAMENTO Dicloxacilina ou penicilinas, por via oral, durante dez dias ou mais. 3- FOLICULITE Infecção do folículo piloso, que pode ser superficial (osteofoliculite) ou profunda (sicose e hordéolo). - Superficial: Causada pelo S. aureus coagulase positivo. Pequenas pústulas bastante superficiais, número variável, centradas por pelo em qualquer área do corpo, bastante pruriginosas. Crianças: couro cabeludo; adultos: face anterolateral interna das coxas e nádegas. Ocorre mais frequentemente com uso de roupas oclusivas, barbear frequente, clima quente e úmido, obesidade. O tratamento é tópico, feito com ácido fusídico e mupirocina. - Sicose da barba (Foliculite profunda): Pústula pequena e frágil no infundíbulo do folículo piloso, que podem ser isoladas ou confluentes. Possui elevada cronicidade. O tratamento é feito com tetraciclina. Principal diagnóstico diferencial é a Pseudofoliculite da Barba, sendo esta mais frequente, um processo irritativo com erupção papulo-pustular acneiforme. Tratamento é feito com laser para retirada dos pelos, retinoides, clindamicina tópica, tetraciclina oral. - Hordéolo (Foliculite profunda): Infecção das glândulas Meibomius e dos cílios causada por Staphylococcus. Acompanhada de edema e dor. 4- FURÚNCULO É uma estafilococcia necrosante do aparelho pilossebáceo, autolimitada (10-14 dias). CLÍNICA Lesão eritematoinflamatória dolorosa centrada porpelo -> necrose central (carnegão) -> eliminação -> tumoração eritematosa com vários pontos de necrose -> grande área ulcerada (comum celulite perilesional) Comum em áreas mais pilosas e sujeitas à fricção, como axilas e nádegas, e tem preferência pelo adulto jovem. lmunodeprimidos, alcoólatras, desnutridos e diabéticos são mais suscetíveis. Quando há confluência, ao mesmo tempo e no mesmo lugar de vários furúnculos, o quadro recebe o nome de carbúnculo (típico do idoso, sobretudo diabético). À multiplicidade de lesões ou recidivas frequentes dá-se o nome de furunculose. DIAGNÓSTICO Clínico. Quando necessário, exame bacteriológico e antibiograma no caso de suspeita de MRSA comunitário. O principal diagnóstico diferencial é com a miíase furunculoide, que apresenta menos inflamação e orifício central. TRATAMENTO Devido ao curso autolimitado, a antibioticoterapia se faz mais no sentido da prevenção de uma furunculose do que do tratamento da lesão. As lesões com flutuação ou muito dolorosas devem ser drenadas. - Descolonização: sabonetes antissépticos, como clorexidina, mupirocina tópica, no vestíbulo nasal, por 5 dias. - Rifampicina, 600 mg/dia durante 10 dias. 5- ERISIPELA Infecção aguda da derme, com importante comprometimento linfático. Natureza predominantemente estreptocócica, sobretudo do grupo A. O início ocorre após solução de continuidade. CLÍNICA Incubação de poucos dias -> Lesão única elevada, com 10-15cm de diâmetro, eritema vivo com edema intenso doloroso, bordas bem delimitadas -> avanço sobre pele circunvizinha. Em processos intensos, surgem bolhas e até necrose com ulceração. Acomete a parte distal de um membro inferior. É acompanhada de linfangite e linfadenopatia regional aguda, seguida de fenômenos gerais (febre, mal-estar, calafrios e outros). A apresentação bolhosa confere gravidade ao processo, assim como a localização facial. Fatores de risco são DM, IVP, infecções cutâneas por fungos, obesidade, linfedema, alcoolismo. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Trombose venosa profunda e tromboflebite. TRATAMENTO - Penicilina-procaína na dose de 400 a 600.000 U, IM, de 12 em 12 h ou, nos casos mais graves, penicilina cristalina na dose de 3.000.000 U IV, de 4 em 4 h. Alternativas: ampicilina, eritromicina e clavulanato + amoxicilina. Em casos recorrentes, pode-se utilizar penicilina benzatina. - Medidas gerais: repouso, membros elevados, compressas frias e debridamento. Alguns autores preconizam o uso de corticoterapia associada, pois com isso a evolução é mais rápida. 6- CELULITE Mesmo processo da erisipela quando atinge fundamentalmente a hipoderme. Estreptococos, predominantemente. Também Estafilococos, H. influenzae, pneumococos, pseudomonas e outros. CLÍNICA Semelhante à erisipela, porém com eritema mais vivo e bordas mal delimitadas. Acompanha febre e mal-estar. Em imunodeprimidos, ocorrem áreas de hemorragia dérmica e bolhas. DIAGNÓSTICO Clínico; cultura para identificar agente. Os diagnósticos diferenciais mais importantes são tromboflebite (pernas), angioedema, herpes-zóster (face) e erisipeloide (mãos). TRATAMENTO - Repouso com elevação do membro, - Analgesia - Antibioticoterapia sistêmica, que deve ser parenteral nos casos intensos ou localizados na face. Nos casos em que se suspeita da etiologia estafilocócica, além dos fármacos já descritos no tratamento da erisipela, usa-se oxacilina ou cefalotina (100-150 mg/kg/dia 4-4horas). Nos casos de celulite hemorrágica, é indicado, ainda, o uso de corticoides sistêmicos. 7- ERITRASMA: Causada pelo Corynebacterium minutissimum CLÍNICA Manchas pardas e/ou levemente rosadas, de limites mais ou menos nítidos, com descamação furfurácea, lembrando pitiríase versicolor. Infecção crônica, sem sinal de inflamação. Acomete axilas, áreas inframamárias e interdígitos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Tinhas, dermatite seborreica e psoríase. TRATAMENTO Eritromicina local ou oral (1g/dia por 5 a 10 dias) ou imidazólicos 8- TRICOMICOSE AXILAR: causada pelo Corynebacterium tenuis CLÍNICA Trata-se de uma infecção superficial dos pelos caracterizada por massas avermelhadas, negras ou amareladas, aderidas ao redor da haste pilosa. Presença nos pelos axilares de pequenas concreções, como um manto que os envolve. Há hiperidrose e suor colorido (amarelo, vermelho ou preto). TRATAMENTO Raspagem da área e na aplicação tópica de álcool iodado 1%, soluções antissépticas e antibióticos tópicos. 9- DOENÇA DE RITTER Doença bolhosa superficial produzida pela toxina esfoliativa – esfoliatina - do Staphylococcus aureus fagotipos II. Também chamada de Síndrome da Pele Escaldada Estafilocócica (SSSS). Acomete mais crianças, mas quando ocorre no adulto tem taxa de mortalidade de 60%. CLÍNICA Infecção primária inicia-se, em geral, na conjuntiva, nasofaringe, ouvido, trato urinário ou pele. Alguns dias após infecção inicial surgem eritema, febre, rash eritematoso escarlatiforme, mais pronunciado nas flexuras. A formação de bolhas flácidas ocorre em cerca de 24-48h, que ao se romperem originam extensas áreas desnudas, com aspecto de escaldamento/grande queimado. Sinal de Nikolsky é positivo. Não acomete mucosas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de SSSS baseia-se em três critérios: (1) a clínica, em que há eritrodermia, descamação ou formação de bolhas; (2) o isolamento do S. aureus produtor de toxina esfoliativa; e (3) a histopatologia característica, que consiste em clivagem intraepidérmica na altura da camada granulosa. Diagnóstico diferencial é com Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise Epidérmia Tóxica. TRATAMENTO - Hospitalização - Antibioticoterapia (oxacilina IV, cloxacilina VO após melhora) - Terapêutica local: compressas e cremes de barreira
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