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HAMILTON, MADISON, JAY. Clássicos da Democracia Sôbre a Constituição dos Estados Unidos. São Paulo 1954

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HAMILTON, 
MIIDISON E JflY
Sôbre a Constituição dos Estados Unidos
055904
«IIHIIIUINIIIINIDIIIM
L0000055931
ÊSTE LIVRO PERTENCE A 
BiSLIOTBCA PÚBLICA
*
P^ ; Xc E*ni. y \:n
f U m t vüa i-v( 1S 67
V
ÊSTE LIVRO PERTENCE A 
e p U O T & C A P Ú B L I C A .
SÔBRE A CONSTITUIÇÃO 
DOS ESTADOS UNIDOS
Biblioteca “CLÁSSICOS DA D EM O CRA CIA ”
— 26 —
Volumes publicados:
John Stuart Mill — “Da Liberdade”
Edmond Cahn — “0 Impasse do Democrata”
Horace Mann — “A Educação dos Homens Livres”
Theodore Meyer Greene — “Liberalismo”
Woodrow Wilson — “Govêrno Constitucional dos Est. Unidos”
William C. Douglas “Uma Carta Viva de Direitos”
Benjamin Franklin — “Autobiografia”
Gilbert Highet — “O Inconquistável Espírito Humano”
David Hume — “Ensaios Políticos" .
George Bereday e
Luigi Volpicelli — "Educação Pública nos Est. Unidos"
John Locke — “Segundo Tratado sôbre o Govêrno”
Francis Hankin — “A Democracia em Ação"
Roy F. Nichols — “Religião e Democracia Norte-americana"
John Dewey — “Teoria da Vida Moral”
John Locke — “Carta a Respeito da Tolerância"
Herbert W. Schneider — “Moral para a Humanidade"
C. Hartley Grattan — “Educação de Adultos”
T. Harry Williams — "A Mensagem de Lincoln"
Carl L. Becker — "A Declaração da Independência"
HAMILTON, MADISON e JAY
SOBRE A CONSTITUIÇÃO 
DOS ESTADOS UNIDOS
ÊSTE LIVRO P£f?TOíC£ A 
B i b l i o t e c a p ú b l i c a
Tradução de 
E. Jacy M O N TEIRO
SALA DE LEITURA 
USIS — FORTALEZA
N .................EM ( j / ÁÁ / 196.iL
I B R A S A v .
rNSTITUIÇÃO BRASILEIRA HE DIFUSÃO CULTURAL S. A.
S A O P A U L O
Direitos para a língua portuguesa da
1BRASA — Instituição Brasileira de Difusão Cultural S. A.
Rua 7 de Abril, 252 — 7 ° andar — Tel. 35-6836 — São Paulo
B í^ j o T S C A P U B L I C ^
Data... ..... / ....... ..... / ...............
Bcaçàv...... ..................... .................. .
i&lltrtscarte Código para obter 
um livro igual: XII-26
B IB LIO TEC A P Ú B L IC A 
>,;0 ESTADO DO CEARÁ
.DATA. ! & iC & i ^ 
AO $ COMPRA □ PERMUTA □
£
-------------- I
1 9 6 4
Título do original norte-americano:
Hamilton, Madison and Jay — On the Constitution 
Copyright, 1954 by The Liberal Arts Press
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil
ÊSTE LIV80 PEBTEMCE í
b i b l i o t e c a p ú b l i c a
t - 
b
Í N D I C E
i
O r ig e m e s ig n if ic a d o das M e m ó r ia s d o F e d e r a l i s t a .............. IX
B ib l io g r a f ia e s c o l h i d a ....................................................................... .. XV
SELEÇÕES DAS M EM ÓRIAS DO FED ER A LISTA 
j I . N ova F il o s o f ia N a c io n a l
1. V alor da U n i ã o ......................................................................... 3
2 . Necessidade de G ovêrno com o poder de governar . . 17 
j 3 . Insuficiências da Confederação e Problemas da Con­
venção ................................................................................ 24
I I . N a t u r e z a e P o d ê r e s do N ôvo G o v ê r n o
1. A República Federal .............................................................. .......37
2 . G ovêrno Central e Estados .........................................................48
3. Controles e Contrapesos ...................................................... .......59
4 . Poder para regular a eleição de funcionários federais 64
III . A C o n s t it u iç ã o e a f a c u l d a d e d e l a n ç a r im p o s t o s
1. Faculdade de lançar impostos da N ação e dos Estados 67
2 . A faculdade de lançar impostos e os interêsses de Classe 79
IV . O R a m o L e g is l a t iv o
1. Casa dos Representantes ...................................................... 87
2 . Senado ........................................................................................ 98
VII
V . O R a m o E x e c u t i v o
1. N atureza G eral do Executivo ................................................115
2 . A Faculdade de V eto do Presidente ................... ................ 131
3. A Faculdade de nom ear ............................................................138
V I . O R a m o J u d ic iá r io
1. N atureza e Podêres do Judiciário Federal ................... .....141
2 . Tribunais Federais e Tribunais Estaduais ................... .....154
V II . C o n s id e r a ç õ e s G era is
1. Declaração de Direitos ..............................................................159
2 . Emendas e Ratificação ..............................................................164
A p ê n d ic e : C o n s t it u iç ã o d os E sta do s U n id o s .......................... .....171
VIII
ORIGEM E SIGNIFICADO DAS 
MEMÓRIAS DO FEDERALISTA
A 27 de m aio de 1787, o edifício em estilo da época do rei Jorge, 
em Filadélfia, onde se votara a Declaração da Independência, m o­
vimentava-se novam ente com tranqüila atividade. Cavalheiros trazen­
do cabeleiras postiças e calções curtos da época reuniam-se no salão 
de sessões. Organizavam-se form alm ente, votavam no sentido de con­
servar secretas as discussões até chegarem a resultado final e esco­
lhiam George W ashington para presidente da reunião. Doze repú­
blicas independentes, para usar a expressão de N oah W ebster, ha­
viam indicado êsses homens como delegados à convenção convoca­
da por um Congresso relutante da Confederação, a fim de propor 
emendas ao instrum ento que reunia em confederação os treze Es­
tados americanos. A ausência em Filadélfia do representante de Rhode 
Island indicava o particularism o e o espírito de independência que 
caracterizavam não essa pequena com unidade da Nova Inglaterra 
mas, em m enor grau, os cidadãos de todos os Estados. Os membros 
da Convenção puseram de lado tranqüilam ente o m andado do Con­
gresso e ousadam ente redigiram um a constituição para a nação uni­
ficada.
Êste procedim ento assinalava o ponto culminante de um a evo­
lução que com eçara aproxim adam ente havia um quarto de século, quan­
do o Tratado de Paris encerrara a últim a lu ta imperial entre a G rã- 
Bretanha e a F rança pela Am érica do N orte e içara perm anentem en­
te o pavilhão do Reino Unido sôbre o que havia sido a N ova França. 
Nos anos perturbados do após-guerra que se seguiram a 1763, quan­
do as treze colônias continentais estavam ligadas por laços de lei 
e sentimento mais intim am ente à m etrópole do que entre si, aqui e 
ali alguns coloniais começaram a pensar e a falar de si com o ame-
IX
ÊSTE L!V*?0 fTívTr.VCF * 
B I B L I O T E C A R Ú t , Í...ÍCA.
ricanos e a encarar a união final das treze províncias. Êsse sentimen­
to tornou-se mais forte nos tempos difíceis dos primeiros anos da 
década de 1770. Levantam ento armado em abril de 1775, em de­
fesa de antigos direitos, conduziu, uns quinze meses mais tarde, ao 
tiiunfo para o sentimento nacionalista quando se declarou a inde­
pendência. Conform e observou John M arshall, um dos jovens oficiais 
de George W ashington, mais tarde, longa guerra acostum ou os ho­
mens de vários Estados rebelados não só a agir em uníssono mas 
a considerar o Congresso Continental como o próprio govêrno dêles. 
Os sofrimentos e os triunfos do conflito, além disso, proporcionavam 
lembranças que fortaleciam a fidelidade para com a nova nação.
Contudo, quando os soldados inglêses em barcaram de volta e 
os homens do Nôvo M undo voltaram a atenção para as tarefas da 
paz, os cidadãos dos Estados inclinaram-se ao retorno à maneira an­
tiga e tradicional de pensar. Interêsses e lealdades locais dimi­
nuíram e por vêzes obscureceram a consciência nacional que o 
com bate pela liberdade despertara. Os Estados Unidos com preendiam 
vasta área geográfica, cujo tam anho se evidenciava todos os dias 
pelo tempo que se gastava para percorrê-lo, em diligência ou em 
barcoa vela, de cidade em cidade ou de Estado em Estado. James 
M adison, da Virgínia, lembrou as conseqüências das grandes distân­
cias quando um a vez com entou saber tão pouco dos negócios da 
Geórgia como dos de Kantchatka. A idéia de pertencer a grupo 
nacional com um não acudia fàcilmente a indivíduos tão afastados uns 
dos outros e que divergiam tanto nos interêsses e m aneira de viver 
como os de New Ham pshire e Carolina do Sul. Além disso, o Con­
gresso da Confederação não dispunha do poder de governar, neces­
sário para to rnar a nação em realidade para o povo. O Congres­
so era pouco mais que um a assembléia de embaixadores.
Todavia, na era crítica depois de 1783 o sentimento naciona­
lista ainda estava vivo. M uitos dentre os líderes da luta revolucio­
nária anterior observavam com apreensão a decadência do espírito 
de união e o surto de rumos que pressagiavam a possível dissolução 
da Confederação. Acreditavam que somente forte govêrno nacional 
estaria em condições de arcar com êxito com os problemas políticos 
e econômicos internos, proporcionando aos Estados Unidos tal po- 
aição no m undo que impusesse respeito no exterior. Alexander H a­
milton, de Nova York, era somente um entre muitos homens de vis­
tas largas que se agitavam. Êsses nacionalistas de após-guerra toma-
X
ram a iniciativa de realizar um a reunião de representantes dos Esta­
dos, que agissem no sentido de levar-se a efeito união mais perfei­
ta. Q uando W ashington, arquiteto da vitória da Revolução, conhe­
cido pela dedicação inabalável ao govêrno popular, trouxe em apoio 
da causa nacionalista seu grande nome, consolidou-se a Convenção 
de Filadélfia. A sua organização a 27 de maio de 1787 assinalou a 
m aior vitória a favor do nacionalismo desde Yorktown.
Os delegados à Convenção N acional representavam Estados so­
beranos, centros prim ários do poder sob os Artigos da Confedera­
ção. A soberania estadual confrontava os delegados com o proble­
ma de m aior dificuldade. A Convenção tinha por missão criar go­
vêrno nacional que fôsse nôvo centro de poder, superior aos Esta­
dos, sem privá-los, contudo, dos podêres e responsabilidades locais. 
Os elaboradores da Constituição construíram um a estrutura que en­
caravam como sendo república federativa. Sabiam ser obra pionei­
ra em instituições políticas. A história do Ocidente registrava a car­
reira de várias repúblicas e os delegados de Filadélfia lançaram mão 
do conhecimento resultante da experiência histórica com instituições 
republicanas. E ra, porém , novidade a república federativa, com pre­
endendo cuidadoso equilíbrio de podêres entre a nova nação e os Es­
tados mais antigos. Os Pais Fundadores aventuraram -se ousadamente 
em área política não cartografada.
Segundo problem a de complexidade quase igual confrontava os 
delegados de Filadélfia. As objeções coloniais à política imperial e ao 
controle, que finalm ente em 1775 conduziram à rebelião arm ada, re­
velavam a hostilidade am ericana ao rei. A Declaração de Indepen­
dência justificava a separação prim ordialm ente pela enum eração de 
agravos contra o rei. A G uerra Revolucionária eliminou a m onar­
quia entre as instituições políticas americanas. Todavia, em 1787, 
quase universalmente entre as nações do M undo Ocidental o chefe 
do govêrno era um m onarca hereditário. Os Artigos da Confedera­
ção não haviam tentado resolver o problem a da natureza do exe­
cutivo porque os Estados Unidos, conform e se organizaram sob êsse 
instrum ento, em bora possuindo certos podêres nacionais, eram an­
tes de tudo confederação de soberanias virtualm ente independentes. 
Os delegados de Filadélfia estavam convencidos da conveniência de 
um poder executivo forte, que assumisse a rseponsabilidade dos ne­
gócios do Estado e lhes desse orientação, conform e ordinàriam ente 
assume e proporciona m onarca forte. Contudo, em época em que a
XI
V D n a n d v o - >
m onarquia constituía o padrão normal, os elaboradores da Consti- 
tução temiam a m onarquia, porque tendia ao absolutismo como o 
de Luís XIV da França. Resolveram o problem a criando o cargo de 
presidente, imaginado hàbilm ente para mantê-lo responsável peran­
te o povo, conferir-lhe tal poder que tornasse possível ação cora­
josa, mas circunscrevendo-o de m aneira tal que tornasse impossível 
ao presidente emergir sob a figura do que o século X X cham a de 
ditador. Juntaram à república federativa a form a presidencial de 
govêrno.
James M adison, delegado de Virgínia e quem mais contribuiu 
dentre todos os delegados para dar form a à Constituição, exprimiu, 
na décim a-quarta m em ória do Federalista o espírito que dominava 
a Convenção. “N ão prestem ouvidos” , dizia M adison ao povo do 
Estado de N ova Y ork em 1787. . .
“à voz que petulantemente lhes diz ser novidade em o mundo político 
a forma de govêrno recomendada para adoção; que ainda não teve 
até hoje lugar nas teorias dos planejadores mais ousados; que tenta 
precipitadamente o que é impossível realizar. . . Mas por que rejeitar 
a experiência de república ampliada tão-só porque inclui o que é nôvo? 
Não será para a glória do povo americano, que, embora leve digna­
mente em conta as opiniões de épocas anteriores, e de outras nações, 
não tenha permitido que cega veneração pela antiguidade, pelo cos­
tume, ou por nomes, prevalecessem contra seu próprio bom senso, 
o conhecimento da própria situação, e as lições da experiência?. . . 
Se os líderes da Revolução não tivessem dado qualquer passo im­
portante para o qual não fôsse possível descobrir precedente, qualquer 
govêrno estabelecido cujo modêlo exato se não apresentasse, o povo 
dos Estados Unidos poderia, neste momento, estar incluído entre as 
vítimas melancólicas de conselhos transviados, reduzido, na melhor 
hipótese, a labutar sob o peso de alguma das formas de govêrno que 
esmagaram as liberdades do resto da humanidade.”
Meses antes dêste apêlo de M adison os membros da Conven­
ção Constitucional reconheceram que seguir-se-ia em dificuldade à 
estruturação da Constituição o trabalho de persuadir o povo dos Es­
tados para que aceitasse essa form a inteiram ente nova de govêrno. 
A Convenção pedia aos podêres legislativos estaduais que providen­
ciassem a eleição de Convenções estaduais especiais, que teriam espe­
cialm ente por missão apreciar o instrumento elaborado em Filadélfia, 
aceitando-o ou rejeitando-o. Surgiram graves dúvidas sôbre se o povo 
de Nova Y ork estava preparado para aceitar a Constituição propos­
ta. Devido à im portância de Nova York, possuidor de grande pôr-
XI I
ÊSTE HVRO rcH IB IG E A 
B I B L I O T E C A P Ú B L I C A
to e situado quase ao meio da cadeia de Estados ao longo da costa 
do Atlântico, os que propunham a m udança concentraram todos os 
recursos para conseguir a ratificação dêsse estado decisivo. Alexan- 
der H am ilton, cidadão do Estado, conduziu a campanha. P ara o pro­
jeto de explicação aos eleitores da natureza da Constituição propos­
ta e para a exposição dos argumentos favoráveis à adoção, chamou 
em auxílio James M adison, da Virgínia, e John J ay>, de Nova York. 
Os três escreveram um a série de cartas, publicadas pela imprensa de 
Nova York. Êstes ensaios causaram forte impressão aos cidadãos do 
Estado. M as não é possível dizer se ganharam a vitória a favor da 
ratificação na convenção estadual. H am ilton, como delegado, foi 
bem sucedido em prol da nova Constituição em virtude de sua hábil 
liderança política. A judou-o grandem ente já a terem nove Estados 
ratificado quando a convenção estadual votou, sendo aquêle número 
suficiente para assegurar a im ediata realidade do govêrno nacional 
criado pela nova Constituição.
Os ensaios publicados nos jornais de N ova York, todos assina­
dos por “Publius” , foram ràpidam ente reunidos em volume sob o tí­
tulo de “O Federalista” . -Desdeentão foram reconhecidos com o in­
terpretação contem porânea da Constituição de prim eira im portância 
e, além disso, como expressão insuperável da teoria política am erica­
na da época. D urante mais de século e meio as M emórias d’0 Fe­
deralista foram consultadas por estadistas, juizes e estudiosos da ciên­
cia política como fonte prim ária para compreensão da Constituição. 
Tais consultas parecem destinadas a continuar por futuro indefini­
do. N ão há obra alguma sôbre o pensam ento político am ericano que 
se aproxime em im portância das M emórias d’O Federalista. Consti­
tui profundo tratado de ciência política.
John Jay escreveu sòmente cinco ensaios dentre os que apare­
ceram sob a assinatura de “Publius”. H avia servido na Revolução, 
fôra m inistro no estrangeiro, e voltando aos Estados Unidos tornou- 
se Secretário do Exterior para o Congresso da Confederação. James 
M adison, que escreveu quase metade, adquiriu experiência política 
prim eiram ente como m em bro do legislativo de Virgínia e mais tarde 
com o figura principal no Congresso da Confederação. A participa­
ção nos negócios políticos preparou-o para o papel im portante que 
representou na Convenção Constitucional. A lexander H am ilton, de 
cuja pena saiu mais de m etade dos ensaios de “Publius”, fôra jovem 
e brilhante ajudante de W ashington durante grande parte da Guer-
XIII
ra Revolucionária. Term inado o conflito, exerceu advocacia em Nova 
York. Agastado com a orientação nos negócios nacionais, achou tem ­
po para representar papel im portante no movimento que term inou na 
convocação da Convenção Constitucional, à qual Nova ■ Y ork o en­
viou como delegado. Os três autores das M emórias d!0 Federalis- 
ta adquiriram fam a no govêrno instituído pela Constituição, para a 
qual tanto contribuíram. H am ilton tornou-se Secretário do Tesouro 
do presidente W ashington em período crítico das finanças nacionais. 
Jay serviu como prim eiro presidente da Côrte Suprema. M adison ele­
vou-se ao posto de Secretário de Estado e depois à Presidência.
Atribuiu-se a autoria das várias memórias reimpressas nas pági­
nas a seguir conform e a indicaram os primeiros estudiosos, tendo-a 
modificado e corrigido o Dr. Douglas Adair, do Colégio William e 
Mary. Para o cidadão de qualquer outro país que lê a Constituição 
A m ericana pela prim eira vez, as M emórias d’0 Federalista oferecem 
esclarecimentos do significado de suas palavras e frases, conform e 
se deu com os eleitores de N ova Y ork em 1787-8. Simultaneamente 
proporcionam aos cidadãos americanos do século XX, quando os 
confronta algum problem a complicado de interpretação constitucio­
nal, certa visão do espírito e propósito dos homens que tom aram as­
sento na Convenção Constitucional bem com o da interpretação do 
significado dessa lei fundam ental por parte dos homens que viveram 
e escreveram ao tempo em que era elaborada. As Memórias d’0 F e­
deralista perduram como docum ento vivo, de relêvo como meio para 
se com preender o passado e tom ar decisões no presente. Estas se­
leções contêm a essência da grande série assinada por “Publius” .
R a l p h H . G a b r ie l
Yale University 
Dezembro 1953
XIV
BIBLIOGRAFIA ESCOLHIDA
The W orks o f Alexander H am ilton. Edição de John C. Hamilton. 
7 vols. Nova York, 1850/51. — Editadas por H enry Cabot 
Lodge, 9 vols. Nova York, 1885/86. 2.a ed., 12 vols. Nova 
York, 1903.
Jay, John, A n Address to the People o f the State o f N ew York, on 
the subject o f the Constitution Agreed Upon at Philadelphia, 
the 17th September 1787. N ova York, 1788.
The Writings o f James M adison. Ed. de G aillard H unt., 9 vols. 
N ova York, 1900/10.
Bassett, John Spencer. The Federalist System , 1789-1801. Nova 
Y ork, 1906.
Bein, Alexander. Die Staatsidee Alexander H amiltons in ihrer Entste- 
hung und Entwicklung. M ünchen, 1927.
Brant, Irving, James M adison, 3 vols. Indianápolis, 1941/50.
Bryce, James. The Prediciions o f H am ilton and de Tocqueville. Bal- 
tim ore, 1887.
Burns, E. M cNall, James M adison, Philosopher o f the Constitution. 
N ew Brunswick, N. J., 1938.
Ford, Paul Leicester (ed .) A List o f Editions o f "The Federalist" 
Brooklyn, 1886.
------- Bibliography and Reference L ist o f the History and Literature
Relating to the Adoption o f the Constitution o f the United States. 
1787/88. Brooklyn, 1888.
------- Essays on the Constitution o f the United States, Published dur-
ing its Discussion by the People, 1787-1788. Brooklyn, 1892.
XV
------- Pamphlets on the Constitution o f the United States, Published
during the Discussion by the People. Brooklyn, 1888.
G erhard, W alter, Das politische System A lexander H am iltons 1789- 
1804, H am burg, 1929.
H unt, Gaillard, The L ife o f James M adison. N ova York, 1902.
Jay, John. Correspondence between John Jay and H enry B. Dawson, 
and between James A . H am ilton and H enry B. Dawson, concern- 
ing the Federalist. N ova York, 1864.
Kiesselbach, Wilhelm. D er amerikanische Federalist; politische Studien 
fü r die deutsche Gegenwart. Bremen, 1864.
Lodge, H enry Cabot, “James M adison” in Historical and Political 
Essays. Boston, 1892.
M onaghan, F rank. John Jay. N ova York, 1935.
Oliver, Frederick Scott, Alexander H amilton, A n Essay on Am erican 
Union. N ova edição, N ova York, 1925.
Prescott, A rthur Taylor, Drafting the Federal Constitution. A Reaar- 
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W ebster, N oah, Plan fo r the Union o f the Am erican States. Reprinted. 
Boston, 1908.
XVÍ
S ô b re a C o n s t i tu iç ã o d o s E s ta d o s U n id o s
PA R T E I
NOVA FILOSOFIA NACIONAL
1. O valor da união
H A M ILTO N :
Após inequívoca experiência da ineficácia do govêrno federal 
existente, fôstes convocados para deliberar sôbre nova Constituição 
para os Estados Unidos da América. O assunto fala da própria im­
portância, com preendendo em suas conseqüências nada menos que a 
existência da União, a segurança e o bem -estar das partes que a com­
põem, o destino de um império a muitos respeitos o mais interessan­
te do m undo. Freqüentem ente tem-se observado que parece ter sido 
reservado ao povo dêste país, pela sua conduta e exemplo, resolver 
a im portante questão se as sociedades dos homens são realm ente ca­
pazes ou não de instituírem bom govêrno pela reflexão e escolha, 
ou se estão para sempre destinadas a depender de acidente e de 
fôrça para as suas constituições políticas. Se existe qualquer dose 
de verdade na observação, a crise a que chegamos pode apropria­
dam ente considerar-se com o a era em que ter-se-á de form ular tal 
decisão; e a má escolha do papel que devemos representar nesta 
oportunidade merece se considere com o infortúnio geral para a hu­
manidade.
Esta idéia acrescerá os estímulos da filantropia aos do patriotis­
mo, no sentido de realçar a solicitude que todos os homens bons e 
ponderados devem sentir ante tal acontecimento. Será um a felicida­
de que a nossa escolha seja orientada por judiciosa estimativa de 
nossos verdadeiros interêsses, imparciais e não desorientados por con­
siderações que se não relacionem com o bem público. Todavia, é o 
que se deve desejar mais ardentem ente do que esperar sèriamente.
■ , , ■, - . >
3
O plnno que se oferece à nossa consideração afeta dem asiadamente 
muitos interêsses particulares, faz inovações em inúmeras instituições 
locais, mesmo que se não envolva em sua discussão um a variedade 
de objetivos estranhos aos seus méritos, e de opiniões, paixões e 
preconceitos pouco favoráveis à descoberta da v e rd a d e .. .
. . . Sim, meus concidadãos, confesso-vos que, depois de ter-lhe 
dispensadoatenta consideração, sou claram ente de opinião que é de 
vosso interêsse adotá-lo. Estou convencido que êste é o caminho mais 
seguro para vossa liberdade, dignidade e felicidade. N ão simulo re­
servas que não sinto. N ão vos distrairei com um a aparência de de­
liberação quando tiver resolvido. Declaro-vos francam ente as minhas 
convicções e exibirei francam ente perante vós as razões em que se 
baseiam. A consciência das boas intenções desdenha a ambigüidade. 
Contudo, não multiplicarei protestos neste assunto. Os meus motivos 
têm de ficar guardados no imo do meu próprio peito. Os argum en­
tos serão franqueados a todos, e todos poderão julgá-los. Pelo m e­
nos havemos de oferecê-los com intenção tal que não prejudiquem 
a causa da verdade.
Talvez julguem supérfluo oferecer argumentos para provar a uti­
lidade da União, ponto, sem dúvida, profundam ente gravado no co­
ração de grande grupo de pessoas em todos os Estados, e que é pos­
sível imaginar não conte com adversários. Entretanto, a verdade é 
que já estamos ouvindo m urm urar, em certos círculos dos que se 
opõem à nova Constituição, que os treze Estados são de extensão 
demasiado grande para qualquer sistema geral e que devemos neces­
sariamente recorrer a confederações separadas de porções distintas do 
todo. Com tôda probabilidade, propagarão esta doutrina gradualm en­
te, até que obtenha partidários em núm ero suficiente para apoiarem 
a sua franca admissão. Porquanto nada pode ser mais evidente, aos 
que são capazes de encarar a questão, com largueza de vistas, do 
que a alternativa de adotar-se a nova Constituição ou desmem brar- 
se a União. Será, portanto, útil com eçar examinando as vantagens des­
sa União, os males certos e os perigos prováveis a que todos os 
Estados ficarão expostos pela dissolução dela. . . (N .° 1).
JA Y
Quando o povo da A m érica refletir que ora o convocam para 
decidir questão que, por suas conseqüências, deverá revelar-se uma 
das mais im portantes das que até hoje lhe tom aram a atenção, tor-
4
nar-se-á evidente a conveniência de a encararem de m aneira muito 
inteligente tanto como muito séria.
N ada mais certo do que a necessidade indispensável de govêr­
no, sendo igualmente inegável que, de qualquer m aneira e em qual­
quer ocasião em que seja constituído, o povo terá de ceder-lhe al­
guns dos seus direitos naturais a fim de investi-lo com os podêres ne­
cessários. M erece, portanto, considerar-se se contribuirá mais para o 
interêsse geral do povo da Am érica que se constitua, para tod 
fins, em um a nação única, sob um govêrno federal, <011 deva separar- 
se em confederações diversas, concedendo ao cheie cS&ç. uma^,' 
a mesma espécie de podêres que lhe aconselham atrfciy - a iM ú n ico - ' 
govêrno nacional. \ l t 3 1
A té ültim am ente admitiu-se como opinião aceitai e 'j£cont^)versa 
que a prosperidade do povo da Am érica dependia de ttA tin lja r fir- 
memente unido, e os desejos, súplicas e esforços dos tiossis cftftdãos 
mais sensatos e melhores têm-se dirigido constantem ante u e s O sen­
tido. Todavia, surgem agora políticos que insistem e i i Wire tüt^opi- T 
nião é errônea, e que, ao invés de procurarm os segu|aítçá e flplici- 1 
dade na união, devemos procurá-la na separação dol ^ j ta d c ^ e m 
confederações distintas ou soberanias diferentes. P or Vnaisj extraor­
dinária que pareça esta nova doutrina, há, contudo, quegi^a Vdjvo- 
gue; e certos caracteres que, anteriorm ente, se lhe o p u n ^ jn 'forte­
mente, contam-se agora entre os que a favorecem. SejamV 
os argumentos ou os móveis que provocaram essa m udança nas opi­
niões e afirmações dêsses senhores, com tôda certeza não seria sen­
sato para o povo em geral adotar essa nova doutrina política sem 
estar inteiramente convencido de que se baseia na verdade e em po­
lítica judiciosa.
Foi-me agradável m uita vez observar que a Am érica indepen­
dente não se com punha de territórios destacados e distantes, mas que 
um país unido, fértil, vasto, era o quinhão de nossos filhos ociden­
tais da liberdade. Abençoou-o a Providência de m aneira particular 
com variedade de solos e de produtos, e regou-o com inúmeras tor­
rentes, para prazer e acomodação dos seus habitantes. Sucessão de 
águas navegáveis forma-lhe um a espécie de cadeia em tôrno aos li­
mites como se para m elhor uni-lo, enquanto os mais nobres rios do 
mundo, correndo a distâncias convenientes, patenteiam-lhes vias para 
fácil com unicação de auxílios amistosos e mútuo transporte e tro­
ca dos variados produtos.
5
Com igual prazer observei m uita vez que a Providência teve por 
bem conceder êste país unido a um povo único — descendente dos 
mesmos antepassados, falando a mesma língua, professando a mesma 
religião, afeiçoado aos mesmos princípios de govêrno, de m aneiras e 
costumes muito semelhantes, e que, pelos propósitos, armas, e esfor­
ços conjugados, com batendo lado a lado no curso de guerra longa 
e sangrenta, estabeleceu nobremente a liberdade geral e a indepen­
dência.
Êste país e êste povo parece terem sido feitos um para o outro, 
e afigura-se ter sido desígnio da Providência que herança tão apro­
priada e conveniente a um bando de irmãos, unidos uns aos outros 
pelos mais fortes laços, não viesse nunca a separar-se em certo nú­
m ero de soberanias intratáveis, rivais e estranhas.
Até hoje prevaleceram, em nosso meio, sentimentos semelhantes 
entre indivíduos de tôdas as categorias e denominações religiosas. T e­
mos sido uniform em ente um povo só para todos os objetivos gerais
— cada cidadão gozando individualmente, por tôda parte, dos mes­
mos direitos, privilégios e proteção nacionais. N a qualidade de nação 
fizemos guerra e paz; nessa qualidade vencemos inimigos comuns; 
formamos igualmente alianças e firm amos tratados e celebramos vá­
rios acordos e convenções com Estados estrangeiros. . .
Vale notar que não só o primeiro, mas todos os congressos su­
cessivos, assim como a recente Convenção, juntaram -se invariàvelmen- 
te ao povo em pensar que a prosperidade da Am érica dependia da 
sua união. Preservá-la e perpetuá-la, tal o grande objetivo do povo 
ao instituir esta Convenção, e tal também o grande objetivo do plano 
que a Convenção lhe aconselhou adotasse. Por conseguinte, com que 
conveniência ou para que bons propósitos fazem alguns homens ten­
tativas neste período particular visando a depreciar a im portância 
da União? Ou por que se sugere seriam preferíveis três ou quatro 
confederações ao invés de um a só? Em meu próprio espírito estou 
persuadido que o povo sempre estêve com a razão neste assunto e 
que a sua fidelidade universal e uniform e à causa da U nião repousa 
em motivos im portantes e ponderosos, que me esforçarei por desen­
volver e explanar em algumas memórias posteriores. Os que apóiam 
a idéia de substituir-se ao plano da Convenção certo núm ero de con­
federações distintas, parece preverem claram ente que a sua rejeição 
faria incorrer a continuação da União no m aior perigo. Tal seria o 
caso com tôda certeza, e desejo sinceramente que qualquer bom ci­
6
dadão possa prever com igual clareza, que, no m om ento em que 
se dissolver a União, a Am érica terá razões para exclamar, nas pa­
lavras do poeta: “Adeus, um grande adeus a tôda a m inha gran­
deza!” (N .° 2 ) .
H A M ILTO N :
U m a U nião sólida será da m aior im portância para a paz e a li­
berdade dos Estados, à guisa de barreira contra facção e insurrei­
ção internas. k, Entretanto, a ciência da política, a exemplo de mui­
tas outras, tem experim entado grandes aperfeiçoamentos. Presente­
m ente compreende-se à eficiência de diversos princípios que ou não 
eram conhecidos de modo algum ou os antigos somente conheciam 
imperfeitamente. A distribuição regular do poder em departamentos 
distintos, a introdução de contrapesos e controles legislativos, a ins­
tituição de tribunaiscompostos de juizes que conservam o cargo en­
quanto procedem bem, a representação do povo no legislativo por 
deputados por êle mesmo eleitos, constituem descobertas inteiramente 
novas ou progrediram principalm ente no sentido da perfeição nos 
tempos modernos., São meios e bem poderosos, mediante os quais po­
dem manter-se as vantagens do govêrno republicano e dim inuir ou 
evitar-lhe as imperfeições. A esta relação de circunstâncias que tendem 
ao aperfeiçoam ento dos sistemas populares de govêrno civil, abalan- 
çar-me-ei, por mais estranho que pareça a algumas pessoas, a adicio­
nar mais uma, sôbre um princípio que se tornou a base de objeção 
à nova Constituição; refiro-me à ampliação da órbita dentro da qual 
tais sistemas têm de girar, quer em relação às dimensões de um úni­
co Estado, quer em relação à consolidação de vários Estados meno­
res em uma grande C onfederação. . .
T ão longe estão as sugestões de M ontesquieu de se oporem a 
uma U nião geral dos Estados que êle trata explicitamente de uma 
“República Confederada” como meio de am pliar a esfera do govêr­
no popular e conciliar as vantagens da m onarquia com as da forma 
republicana. Diz êle:
É muito provável que os homens se vissem obrigados afinal 
a viver constantemente sob o govêrno de uma única pessoa se não 
houvessem imaginado uma espécie de constituição que possui tôdas 
as vantagens internas da república, juntamente com a fôrça externa 
de govêrno monárquico. Quero referir-me à “República Confederada”.
7
Esta forma de govêrno consiste em uma convenção por meio 
da qual vários Estados menores concordam em se tornar membros de 
outro maior que tencionam constituir. É uma espécie de reunião de 
sociedades para form ar outra nova, suscetível de aumentar, mediante 
novas associações, até atingir a tal grau de poder que a torne capaz 
de prover à segurança do conjunto de todos êles.
República desta espécie, capaz de resistir a fôrças externas, sus- 
tenta-se sem qualquer corrupção interna. A forma dessa sociedade 
evita tôda maneira de inconvenientes.
Se um dos membros tentasse usurpar a autoridade suprema, não 
seria possível supor tivesse a mesma autoridade e crédito em todos 
os Estados confederados. Se tivesse autoridade demasiado grande 
sôbre um dêles, os restantes ficariam alarmados. Se dominasse uma 
parte, aquela que ainda estivesse livie opor-se-ia com fôrças inde­
pendentes das que houvesse usurpado e o subjugaria antes que pu­
desse consolidar-se na usurpação.
Se em um dos Estados confederados irrompesse qualquer insur­
reição, os outros estariam em condições de reprimi-la. Se em uma 
parte se introduzissem abusos, a que estivesse dêles isenta a corrigi­
ria. O Estado pode destruir-se por um lado e não por outro; a con­
federação pode dissolver-se e os Estados confederados podem conser­
var a soberania.
Como êste govêrno compõe-se de pequenas repúblicas, goza da 
felicidade interna de cada um; e quanto à situação externa, possui, 
por meio da associação, tôdas as vantagens das grandes monarquias." *
Julguei conveniente citar por inteiro estas passagens interessan­
tes porque contêm luminoso resum o dos principais argumentos a fa­
vor da União, devendo rem over eficazmente as impressões falsas que 
a m á aplicação de outras partes da obra estava destinada a causar. 
A o mesmo tem po têm ligação íntim a com o objetivo mais imediato 
desta memória, que é dem onstrar a tendência da U nião no sentido 
de reprim ir facções ou insurreições internas.
Suscitou-se certa distinção, mais sutil do que exata, entre con­
federação e consolidação dos Estados. Diz-se que a característica 
essencial da prim eira é a restituição da sua autoridade aos membros 
na capacidade coletiva, sem que alcance os indivíduos de que se com ­
põe. Sustenta-se que o conselho nacional não se deve ocupar de qual­
quer objetivo que diga respeito à adm inistração interna. Tem-se tam ­
bém insistido na exata igualdade de sufrágio entre os membros como 
sendo feição proem inente do govêrno confederado. Êsse modo de 
pensar é, essencialmente, arbitrário; não lhe vêm em apoio nem prin­
* Espírito das Leis, I, Liv. IX, Cap. I.
8
cípio nem precedente. De fato tem acontecido que governos desta es­
pécie tenham funcionado geralmente pela maneira que a distinção 
acima form ulada lhe supõe inerente à natureza; mas na m aior parte 
dêles têm havido extensas exceções a tal prática, o que serve para 
provar, até onde pode chegar o exemplo, não existir no assunto qual­
quer regra absoluta. E dem onstrar-se-á claramente no curso desta in­
vestigação que, onde o princípio que se procura sustentar predominou, 
provocou incurável desordem e imbecilidade no govêrno.
A definição de “república confederada” parece simplesmente ser 
“reunião de sociedades” ou associação de dois ou mais Estados e m 
um único. A extensão, as modificações e os objetivos da autoridade 
federal são simples questões de discrição. Enquanto não se abolir a 
organização distinta dos Estados-membros, enquanto ela existir, e m 
virtude de necessidade constitucional, para fins locais, em bora em 
perfeita subordinação à autoridade geral da União, seria ainda, de 
fato e em teoria, associação de estados ou confederação. A Consti­
tuição proposta, longe de implicar em a abolição dos governos esta­
duais, torna-os partes constitutivas da soberania nacional, permitindo- 
lhes direta representação no Senado, deixando-os na posse de certas 
porções do poder soberano exclusivas e de grande relêvo. Estas con­
dições correspondem, no inteiro significado racional dos seus têr- 
mos, à idéia de govêrno federativo. . . (N .° 9 ).
M ADISON:
Entre as numerosas vantagens prometidas por U nião bem cons­
tituída, a que, sôbre as demais, merece m aior consideração é a ten­
dência para invalidar e controlar a violência da facção. O amigo 
dos governos populares não sente nunca inquietação mais intensa pelo 
caráter e destino dêles do que quando lhes contem pla a propensão 
para êsse vício perigoso. Por conseguinte, não deixará de atribuir o 
devido valor a qualquer plano que, sem violar os princípios a que 
se apega, proporcione remédio conveniente para semelhante mal. Ins­
tabilidade, injustiça e confusão introduzidas nos conselhos públicos 
constituíram, na verdade, os males m ortais que conduziram , por tôda 
parte, ao desaparecim ento dos governos populares, visto como con­
tinuam a ser os tópicos favoritos e prolíficos de que os adversários da 
liberdade derivam as declamações mais capciosas. Com tôda certe­
za jamais serão suficientemente admirados os melhoram entos valiosos
9
introduzidos pelas constituições am ericanas nos modelos populares, não 
só antigos com o modernos, mas seria parcialidade injustificável sus­
tentar-se terem obviado com igual eficácia o perigo por êste lado 
como se desejava e esperava. Os cidadãos mais virtuosos e circuns­
pectos form ulam queixas por tôda parte, bem como os amigos da 
lealdade pública ou privada e da liberdade pública ou pessoal, com 
relação à instabilidade de nossos governos, à falta de atenção ao 
bem público nos conflitos entre partidos rivais, tomando-se medidas 
mui am iudam ente não conform e às regras da justiça e aos direitos 
do partido m inoritário, mas pela fôrça superior de maioria interes­
sada e predominante. P or mais ansiosamente que desejemos serem 
tais queixas infundadas, a prova de fatos conhecidos não nos per­
m itirá negar serem até certo ponto verdadeiras. Verificaremos, na 
verdade, se observarmos francam ente a nossa situação, que alguns 
dos males que nos afligem foram erroneam ente atribuídos às ativi­
dades dos nossos governos; mas verificaremos tam bém ao mesmo tem ­
po que outras causas não só explicam muitos dos nossos males mais 
graves, mas em particular a falta de confiança dominante e crescen­
te em compromissos públicos e a inquietação pelosdireitos privados, 
que encontram eco de um a outro lado do continente. Estas devem 
ser principalmente, senão totalmente, efeitos da instabilidade e injus­
tiça com que certo espírito faccioso maculou as nossas adm inistra­
ções públicas.
Entendo por facção certo núm ero de cidadãos, seja em maioria 
ou minoria do todo, unidos e atuados por algum impulso com um de 
paixão ou de interêsse, contrário aos interêsses de outros cidadãos 
ou aos interêsses permanentes e agregados da comunidade.
H á duas m aneiras de curar os malefícios da facção: uma, afas­
tando as causas; outra, controlando os efeitos.
H á, igualmente, duas maneiras de afastar as causas de facção: 
uma, pela destruição da liberdade, essencial à sua existência; outra, 
dando-se a todos os cidadãos as mesmas opiniões, as mesmas pai­
xões e os mesmos interêsses.
N ão se poderia dizer mais verdadeiram ente do prim eiro remé- 
dic senão que é pior que a moléstia. A liberdade é para a facção o 
que o ar é para o fogo, alimento sem o qual instantaneamente ex­
pira. Mas não poderia ser m enor loucura abolir a liberdade, essen­
cial à vida política, porque alimenta a facção, do que seria desejar
10
a supressão do ar, essencial à vida animal, porque confere ao fogo 
poder destruidor.
O segundo expediente é tão impraticável como o prim eiro é 
insensato. Enquanto a razão hum ana continuar falível, tendo o ho­
mem liberdade para utilizá-la, formar-se-ão opiniões diferentes. En­
quanto existirem elos entre a razão e o am or próprio, opiniões e pai­
xões exercerão influência recíproca umas sôbre as outras, e as pri­
meiras serão os objetos a que as últimas se entregarão. A diversida­
de das faculdades do homem, da qual se origina o direito de pro­
priedade, não é obstáculo menos insuperável à uniform idade de inte­
rêsses. O prim eiro objetivo do govêrno é a proteção dessas faculda­
des. Da proteção de faculdades diferentes e desiguais para adquirir 
propriedade, resulta imediatam ente a posse de graus e espécies dife­
rentes de propriedade; e da influência destas sôbre os sentimentos 
e opiniões dos respectivos proprietários resulta a divisão da socieda­
de em interêsses e partidos diferentes.
As causas patentes de facção estão assim semeadas em a na­
tureza do homem, e por tôda parte as vemos encam inhadas a graus 
diferentes de atividade, conform e as circunstâncias diferentes da so­
ciedade civil. Zêlo por opiniões diferentes com relação à religião, 
ao govêrno e muitos outros assuntos, tanto especulativos como práti­
cos; apêgo a líderes diferentes que lutam ambiciosamente por pre- 
eminência e poder, ou a indivíduos de outras inclinações cuja sorte 
despertou interêsse nas paixões hum anas, dividiram, por sua vez, os 
homens em partidos, inflamaram -nos de animosidade m útua, tornan­
do-os muito mais inclinados a molestar e oprim ir ao próximo do que 
a cooperar para o bem comum. Tão forte é esta inclinação dos ho­
mens a entregarem-se a animosidade m útua que, se não se apresen­
tar oportunidade real, as distinções mais frívolas e imaginosas têm 
sido suficientes para inflamar-lhes paixões inamistosas e levá-los aos 
conflitos mais violentos. Todavia, a fonte mais comum e duradou­
ra de facções tem sido a distribuição desigual e diversa da proprie­
dade. Os que têm e os que não têm propriedade sempre form aram 
interêsses distintos na sociedade. Os credores e os devedores colocam- 
se sob discriminação semelhante. Interêsse pela terra, interêsse pela 
fabricação, interêsse mercantil, interêsse de dinheiro, e muitos outros 
interêsses menores, surgem necessariamente em uma sociedade civi­
lizada, separando-a em classes diferentes, impelidas por sentimentos 
e opiniões diferentes. A regulação dêsses interêsses diversos e con-
11
Iraililórios constitui a tarefa principal da legislação m oderna, in tro­
duzindo o espírito de partido e de facção nas operações ordinárias 
c necessárias do govêrno.
A ninguém é permitido julgar em causa própria porque o in­
terêsse próprio lhe desviaria o julgamento e mui provàvelmente lhe 
corrom peria a integridade. Por igual razão, senão maior, um grupo 
não pode ser juiz e parte ao mesmo tempo; entretanto, o que vêm 
a ser muitos dos atos mais importantes da legislação senão outras 
tantas resoluções judiciais, que não dizem respeito aos direitos de in­
divíduos isolados, mas aos de grandes grupos de cidadãos? E o que 
são as diversas classes de legisladores senão advogados e partes nas 
causas que resolvem? Trata-se de lei form ulada relativamente a dí­
vidas particulares? Ê questão em que os credores são partes de um 
lado, e os devedores, de outro. A justiça tem de m anter o equilí­
brio entre êles. Contudo, os partidos são e devem ser os próprios 
juizes, e o partido mais numeroso ou, em outras palavras, a facção 
mais poderosa, espera-se, deverá predom inar. Devem proteger-se os 
fabricantes nacionais, e até que ponto, por meio de restrições contra 
os fabricantes estrangeiros? são perguntas a que responderiam dife­
rentem ente as classes de proprietários e de fabricantes, e provàvelm en­
te nem um a nem outra levando somente em conta a justiça e o bem 
público. O lançam ento de impostos sôbre os vários tipos de proprie­
dades constitui ato que parece exigir a imparcialidade mais rigoro­
sa, entretanto, não existe, talvez, qualquer ato legislativo em que se 
proporcionem maior oportunidade e tentação ao partido dom inante 
para calcar aos pés as regras da justiça. Cada xelim com que so­
brecarregam os que estão por baixo é um xelim que economizam 
para o próprio bôlso.
Em vão se diz que estadistas esclarecidos serão capazes de ajus­
tar êsses interêsses em choque, sujeitando-os todos ao bem público. 
Nem sempre estarão no leme estadistas esclarecidos. Nem, em mui­
tos casos, poder-se-á fazer de qualquer maneira tal ajustamento le­
vando-se em conta considerações indiretas e rem otas, que raram en­
te prevalecerão sôbre o interêsse imediato que um partido possa ter 
em desprezar os direitos de outro ou o bem de todos.
A conclusão a que chegamos é que não é possível afastar as 
causas de facção, só se podendo procurar rem édio nos meios de 
controlar os efeitos.
12
Se a facção constitui minoria, o princípio republicano fornece 
o remédio, tornando possível à m aioria derrotar-lhe os propósitos si­
nistros por meio do voto regular. Poderá em baraçar a adm inistra­
ção, convulsionar a sociedade; mas não terá fôrças para levar a 
efeito a violência e m ascará-la sob as form as da constituição. Se a 
m aioria faz parte de um a facção, a form a de govêrno popular per­
mite-lhe, por outro lado, sacrificar à paixão do mando ou ao in­
terêsse não só o bem público mas os direitos dos outros cidadãos. 
Assegurar o bem público e os direitos privados contra o perigo de 
semelhante facção e, ao mesmo tempo, preservar o espírito e a for­
m a do govêrno popular, torna-se o grande objetivo visado pelas nos­
sas investigações. Deixem-me ajuntar que é êste o grande objetivo 
capaz de salvar esta form a de govêrno do opróbrio sob u.iijuul 11.i~u 
sofrido por tanto tempo, recomendando-se à estima e |d ã j |o 
homens. \ . f j | :
Quais os meios para se conseguir êsse objetivo? EviaeijíBmeAt^ 
somente por um ou outro dos seguintes: ou será precisp \-ifnpedÇn 
a existência da mesma paixão ou interêsse simultâneamenèe u^zu 
maioria; ou a maioria, esposando semelhante paixão ou in teresse^têx til 
de tornar-se, pelo núm ero e pela situação local, incapaz dà com biC) 
nar e levar a efeito planos de opressão. Se se perm itir cAirfcSiamí^ 
impulso e oportunidade, sabemos bem que nem motivos rllifciàos 
nem normais merecerão a nossa confiança como controle adequado. 
N ão controlarão a injustiça e a violência dos indivíduos e plrd 
à eficácia em proporção ao núm ero de interessados, isto é, e i 
porção à necessidade de sua eficácia. \
Destaanálise da questão pode concluir-se que um a demo^j^gjap 
pura, pelo que desejo significar sociedade que consista de pequeno 
iiúmero de cidadãos que se reúnam e administrem o govêrno em 
pessoa, não é suscetível de adm itir cura aos malefícios de facção. 
Paixão ou interêsse com um dom inará, em quase todos os casos, a 
m aioria do conjunto; com unicação e acôrdo resultam da própria for­
ma de govêrno, e nada haverá que impeça os incentivos ao sacrifí­
cio do partido mais fraco ou do indivíduo incômodo. D aí terem-se 
revelado sempre tais dem ocracias espetáculos de turbulência e contro­
vérsia, mostrando-se sempre incompatíveis com a segurança pessoal ou 
com os direitos de propriedade, tendo sido, em geral, tão curtas de 
vida como violentas de morte. Políticos teóricos que patrocinaram 
esta espécie de govêrno supuseram erroneam ente que, reduzindo os
13
homens a perfeita igualdade nos direitos políticos, êstes ficariam , si- 
multâneam ente, perfeitam ente igualados e assimilados nas posses, 
opiniões e paixões.
Um a república, com o que quero significar govêrno no qual se 
realiza o esquema de representação, patenteia perspectiva diferente 
e prom ete o remédio que buscamos. Permitam-nos exam inar os pontos 
em que diverge da dem ocracia pura, e ficaremos em condições de 
com preender não só a natureza do rem édio mas a eficácia que terá 
de derivar da União.
Os dois grandes pontos de diferença entre a democracia e a re­
pública são: primeiro, a delegação do govêrno, nesta última, a pe­
queno núm ero de cidadãos eleitos por todos; em segundo lugar, o 
m aior núm ero de cidadãos e a m aior extensão do país sôbre o qual 
se dilatará o govêrno.
O efeito da prim eira diferença está em que, por um lado, se 
apuram e ampliam as opiniões públicas fazendo-as passar através 
de um grupo escolhido de cidadãos cujo saber discernirá m elhor o 
verdadeiro interêsse do país, e cujo patriotism o e am or à justiça serão 
provàvelmente menos capazes de sacrificá-lo a considerações tem po­
rárias ou parciais. Com semelhante organização, pode muito bem acon­
tecer que a voz do público, emitida pelos representantes do povo, fi­
que mais de acôrdo com o bem público do que se pronunciada pelo 
próprio povo, especialmente convocado. Por outro lado, pode inver­
ter-se o efeito. Homens de tem peram ento faccioso, de preconceitos 
locais, ou de desígnios sinistros poderão, por intriga, corrupção ou 
outros meios, obter prim eiram ente os sufrágios e, em seguida, trair 
òs interêsses do povo. Resta resolver se são mais favoráveis repú­
blicas pequenas ou extensas à eleição dos guardiães apropriados do 
bem público; e esta questão se resolve claram ente a favor da últi­
m a hipótese, em virtude de duas considerações evidentes:
Em prim eiro lugar, deve observar-se que, por m enor que seja 
a república, os representantes têm de elevar-se a certo número a fim 
de prevenir os conluios de poucos, e que, por m aior que seja, deve 
limitar-se êsse número com o fito de impedir a confusão de um a 
multidão. Segue-se, portanto, que, não sendo nos dois casos o nú­
mero de representantes proporcional aos eleitorados respectivos, mas 
proporcionalm ente m aior na república m enor, se a proporção de ca­
racteres apropriados não fôr m enor na república maior do que na 
m enor, a prim eira apresentará m aior opção e, em conseqüência, m aior
14
probabilidade de escolha adequada.
Em segundo lugar, com o cada representante será escolhido poi 
m aior núm ero de cidadãos na república grande do que na pequena, 
será mais difícil aos candidatos indignos praticarem com êxito as ar­
tes viciosas empregadas por demais freqüentem ente nas eleições; e 
sendo mais livres os sufrágios do povo, concentrar-se-ão mais provà- 
velmente em homens que possuam mérito mais atraente e caráter mais 
difuso e sólido.
Deve confessar-se que, nesse caso, como em muitos outros, exis­
te um meio têrm o, em ambos os lados do qual ver-se-á que residem 
os inconvenientes. Ampliando-se dem asiadam ente o núm ero de elei­
tores, o representante fica demasiadamente pouco em contato com 
tôdas as circunstâncias locais e menores interêsses do eleitorado; re­
duzindo-o demasiadamente, êle ficará indevidamente ligado a êstes e 
dem asiadam ente pouco adequado a com preender e a perseguir objeti­
vos grandes e nacionais. A Constituição federal institui feliz combi­
nação a êste respeito: reportando-se os interêsses grandes e agrega­
dos ao legislativo nacional e os interêsses locais e particulares aos le­
gislativos estaduais.
O outro ponto de diferença consiste no maior núm ero de cida­
dãos e na extensão de território que é possível submeter à esfera de 
ação do govêrno republicano em com paração ao dem ocrático: e é 
principalm ente esta circunstância que torna menos temíveis as com ­
binações facciosas na prim eira do que na última. Quanto m enor a 
sociedade, tanto m enor será provàvelmente o núm ero de partes e in­
terêsses distintos que a compõem; quanto m enor o núm ero de par­
tes e interêsses distintos, tanto mais freqüentem ente se encontrará 
um a m aioria do mesmo partido; e quanto m enor o núm ero de indi­
víduos que compõem a maioria, e m enor o círculo dentro do qual 
se colocam, tanto mais fàcilmente com binarão e levarão a efeito os 
planos de opressão. Dilate-se o círculo e ver-se-á nêle incluída maior 
variedade de partidos e de interêsses; tornar-se-á menos provável tenha 
um a m aioria do conjunto motivo comum para invadir os direitos de 
outros cidadãos; ou se existir semelhante motivo comum, será mais 
difícil para todos quantos o sentem descobrir a própria fôrça e atuar 
em uníssono uns com os outros. Além de outros obstáculos, pode 
observar-se que, onde houver consciência de propósitos desonestos ou 
injustos, a desconfiança impede sempre a com unicação em proporção 
ao núm ero cujo acôrdo é necessário.
15
Conclui-se daí claram ente que a mesma vantagem da repúbli­
ca sôbre a dem ocracia no controle dos efeitos da facção tam bém cabe 
à república grande sôbre a pequena — cabe igualmente à União 
sôbre os Estados que a compõem. Consistirá a vantagem na substi­
tuição de representantes cujas opiniões esclarecidas e sentimentos* vir­
tuosos os tornam superiores aos preconceitos locais e aos planos de 
injustiça? N ão se negará que a representação da U nião mui prova­
velmente possuirá os dotes exigidos. Consistirá na maior segurança 
por maior variedade de partidos, contra a possibilidade de certo p ar­
tido ser capaz de exceder em núm ero, oprimido o resto? De igual 
m a n e ira . a variedade m aior de partidos com preendidos pela União 
aum enta essa' segurança. Consistirá, finalmente, nos obstáculos m aio­
res que se opõem ao acôrdo e realização dos desejos secretos de 
m aioria injusta e interessada? Neste ponto ainda a extensão da União 
dá-lhe a vantagem mais palpável.
A influência de líderes facciosos pode acender um a cham a den­
tro dos respectivos Estados, mas não será capaz de espalhar um a con­
flagração geral através de outros Estados. Seita religiosa pode dege­
nerar em facção política em um a parte da Confederação, mas a va­
riedade de seitas dispersas sôbre a superfície inteira dela deverá 
garantir os conselhos nacionais contra qualquer perigo desta origem. 
A fúria pela emissão de papel-moeda, pela abolição das dívidas, 
pela divisão igual da propriedade, ou por qualquer outro projeto 
im próprio ou maléfico terá menos possibilidade de perverter o cor­
po inteiro da U nião do que a certo membro dela, na mesma p ro­
porção em que tal moléstia mais provàvelmente atacará um conda­
do ou distrito do que a um Estado inteiro.
N a extensão e na estrutura própria da União, portanto, enxer­
gamos remédio republicano para as moléstias mais peculiares ao go­
vêrno republicano. E de acôrdo com o grau de prazer e orgulho que 
sentimos em ser republicanos deve ser onosso zêlo em alim entar 
o espírito e sustentar o caráter dos Federalistas. (N .° 10).
16
. . . Os principais objetivos a que visa a 
tes: defesa com um dos membros, preservação 
em relação a convulsões internas quanto a atai
H A M ILTO N :
2. Necessidade de govêrn 
com o poder de governar
ção do comércio com outras nações e entre os E stddoa^su^^ in ten - 
dência das relações, políticas e comerciais, com oa £/f$ses estran-
Os podêres essenciais à defesa com um são os seguintes: 
recrutar exércitos, construir e equipar arm adas, prescrever regras 
para a direção daqueles e destas, orientar-lhes as operações, prover- 
lhes sustento. Tais podêres devem existir sem limitação por ser im ­
possível prever ou definir a extensão e variedade das exigências na­
cionais ou a extensão e variedade correspondentes dos meios indis­
pensáveis a satisfazê-las. São infinitas as circunstâncias que põem 
em perigo a segurança das nações, e por êsse motivo é impossível 
a imposição de peias constitucionais ao poder, ao qual incumbe zelar 
por ela. Êsse poder deve ser coextensivo com tôdas as combinações 
possíveis de tais circunstâncias, ficando sob a direção dos mesmos 
conselhos designados para presidir à defesa comum.
Trata-se de um a dessas verdades que, para o espírito correto e 
imparcial, traz consigo a própria prova; argumentos e raciocínios 
podem obscurecê-la mas não a tornam mais claras. Baseia-se em axio­
mas tão simples quanto universais: os meios devem ser proporcionais 
aos fins; as pessoas de cuja ação se espera a consecução de qual­
quer fim devem dispor dos meios pelos quais o atingem . . .
Se forem tais as circunstâncias do nosso país que exijam go­
vêrno composto ao invés de simples, confederado ao invés de úni­
co, o ponto essencial que fica por ajustar será a discriminação dos
geiros. V..
objetivos, tanto quanto fôr possível realizá-la, a qual terá de caber 
às diversas províncias ou departam entos do poder, permitindo-se a 
cada um os mais amplos podêres para se desempenhar das incum ­
bências que lhe caibam. Atribuir-se-á à União a guarda da segu­
rança comum? Serão necessários para isso armadas, exércitos e 'f u n ­
dos? O govêrno da União deve ter podêres para prom ulgar tôdas as 
leis e fazer todos os regulamentos que lhes digam respeito. O mes­
m o deverá acontecer com relação ao com ércio e a qualquer outro 
assunto a que lhe seja permitido estender a própria jurisdição. Será 
a ministração da justiça entre os cidadãos o campo próprio dos go­
vernos locais? Êstes terão de possuir todos os podêres que entendem 
com êste objetivo e com qualquer outro que se atribua ao conheci­
mento e direção particulares dêles. Deixar de atribuir, em cada caso, 
um grau de poder correspondente ao fim im portaria em violar as 
regras mais evidentes de prudência e conveniência e entregar im­
prudentem ente os grandes interêsses da nação a mãos incapazes de 
geri-los com vigor e êxito.
Quem mais competente para tom ar medidas a favor da defesa 
pública senão o organismo a que se confia a guarda da sogurança 
pública, o qual, como centro de inform ação, com preenderá melhor 
a extensão e a urgência dos perigos que am eaçam, e na qualidade 
de representante do todo, sentir-se-á mais profundam ente interessado 
na preservação de cada um a das partes; que, devido à responsabi­
lidade em que im porta o dever a êle atribuído, perceberá mais in­
tensamente a necessidade de esforços apropriados; e que, pela exten­
são da própria autoridade através dos Estados, é o único capaz de 
estabelecer uniform idade e acôrdo nos planos e medidas por meio 
dos quais será possível garantir a segurança comum? N ão seria m a­
nifestamente incongruência atribuir ao govêrno federal a incum bên­
cia da defesa geral e abandonar aos governos estaduais os podêres 
efetivos por meio dos quais será possível realizá-la? N ão será a falta 
de cooperação a conseqüência infalível de semelhante sistema? E 
não o acom panharão inevitàvelmente a fraqueza, a desordem, a in­
devida distribuição dos encargos e calamidades da guerra, o aum en­
to desnecessário e intolerável das despesas? N ão colhemos inequí­
voca experiência dos seus efeitos no curso da Revolução que há 
pouco terminamos?
Qualquer m aneira por que encaremos a questão, na posição de 
investigadores imparciais da verdade, servirá para nos convencer que
18
é a um tempo insensato e perigoso negar ao govêrno federal podê- 
res ilimitados com relação aos objetivos que lhe são confiados. M e­
recerá, na verdade, por parte do povo a atenção mais vigilante e 
cuidadosa o fazer com que se institua o poder federal de tal ma­
neira que se torne possível investi-lo com segurança das faculdades 
necessárias. Será preciso rejeitar qualquer plano que tenha sido ou 
venha a ser oferecido à nossa consideração que, submetido a ins­
peção imparcial, não corresponda a estas exigências. Govêrno, cuja 
instituição o torne inadequado a que se lhe confiem todos os po­
dêres que um povo livre deve delegar a qualquer govêrno, seria de­
positário inseguro e im próprio dos interêsses nacionais. Sempre que 
fôr possível confiá-los convenientemente, os podêres concomitantes 
poderão acompanhá-Zos com segurança. Tal o verdadeiro resultado 
de qualquer raciocínio justo sôbre a questão. E os adversários do 
plano prom ulgado pela Convenção estão na obrigação de se lim itar 
a provar que a estrutura interna do govêrno proposto era tal que 
o tornava indigno da confiança do povo. N ão deveriam ter diva­
gado em declarações inflamadas e sofismas frívolos com respeito à 
extensão dos podêres. Os podêres não são demasiado extensos para 
os objetivos da adm inistração federal, ou, em outras palavras, para 
a gestão dos nossos interêsses nacionais, nem é possível form ular qual­
quer argumento satisfatório para dem onstrar que se pode acusá-los de 
semelhante excesso. Se fôr verdade, com o houve quem insinuasse 
dentre os escritores a favor do lado contrário, que a dificuldade re­
sulta da natureza da própria questão, e que a extensão do país não 
nos perm itirá constituir govêrno a que se possam confiar com se­
gurança podêres tão amplos, provar-se-ia que devêramos lim itar as 
nossas pretensões, lançando mão do expediente de confederações se­
paradas que se movessem dentro de círculos mais praticáveis. Por­
quanto será constantemente evidente o absurdo de confiar-se ao go­
vêrno a direção dos interêsses nacionais mais essenciais sem ousar 
entregar-lhe os podêres indispensáveis à gestão adequada e eficiente. 
Não tentemos conciliar contradições, mas abracemos firm em ente a 
alternativa racional. . . (N .° 23).
H A M ILTO N :
Dificilmente seria de esperar que, em uma revolução popular, o 
espírito dos homens se detivesse nesse feliz meio têrm o que assinala 
os limites salutares entre o poder e o privilégio, com binando a ener­
19
gia tio governo com a segurança dos direitos privados. A deficiência 
nesta questão delicada e im portante dá origem aos inconvenientes que 
experimentamos, e se não tivermos a cautela de evitar a repetição 
do êrro nas tentativas futuras no sentido de retificàr e m elhorar 
o nosso sistema passaremos de um projeto quimérico a outro; ex­
perim entaremos m udança após mudança, mas provavelmente não in­
troduziremos nunca qualquer alteração im portante para melhor.
A idéia de restringir o poder legislativo quanto aos meios de 
prover à defesa nacional constitui um dêsses requintes que se ori­
ginam de zêlo pela liberdade mais ardente do que esclarecido. Vi­
mos, contudo, que até o momento não prevaleceu extensamente — 
que, mesmo neste país, onde apareceu pela prim eira vez, a Pen- 
silvânia e a Carolina do N orte foram os únicos Estados que o pa­
trocinaram até certo ponto, tendo todos os outros recusado dar- 
lhe o m enor apoio, julgando sensatamente ser preciso colocar a con­
fiança em algum lugar;que a necessidade de assim fazer está con­
tida no próprio ato da delegação de podêres; e que é m elhor ar­
riscar-se ao abuso dessa confiança a em baraçar o govêrno e fazer 
perigar a segurança pública por meio de restrições inoportunas à 
autoridade legislativa. Os que se opõem à Constituição proposta com­
batem, neste particular, a decisão geral da América, e ao invés de 
aceitarem o ensinamento da experiência, com relação à conveniên­
cia de corrigirem-se os extremos em que incorrem os até agora, pa­
recem dispostos a conduzir-nos a outros ainda mais perigosos e mais 
extravagantes. Como se achassem o tono do govêrno por demais 
elevado ou rígido, as doutrinas por êles ensinadas estão talhadas 
a induzir-nos a deprimi-lo ou relaxá-lo por expedientes que, em 
outras ocasiões, foram condenados ou proibidos. Pode afirmar-se sem 
a imputação de invectiva que, se os princípios por êles apregoados 
sôbre diversos assuntos fôssem aceitos ao ponto de se tornarem 
credo popular, fariam com que o povo dêste país ficasse inteira­
m ente incapacitado para qualquer espécie de govêrno que fôsse. To­
davia não é de temer-se perigo dessa natureza. Os cidadãos da A m é­
rica possuem discernimento suficiente para não se deixarem levar 
à anarquia. E me enganaria muito se a experiência não tivesse gra­
vado no espírito público convicção profunda e solene de como é 
essencial a m aior energia do govêrno para o bem-estar e a prospe­
ridade da comunidade.
20
N ão será fora de propósito nesta ocasião cham ar concisamente 
a atenção para a origem e o progresso da idéia que visa à exclusão 
de estabelecimentos militares em tempo de paz. Em bora tal idéia 
se apresente a espíritos especulativos quando consideram a natureza 
e a tendência de semelhantes instituições, corroboradas pelos acon­
tecimentos que se verificaram em outros países e em outras épocas, 
entretanto deve-se filiá-los aos hábitos de pensar que herdamos da 
nação da qual se originaram em geral os habitantes dêstes Estados.
N a Inglaterra, por muito tempo depois da conquista norm anda, 
os podêres do m onarca eram quase ilimitados. G radualm ente foram- 
se abrindo brechas na prerrogativa, a favor da liberdade, prim eira­
mente devidas aos barões, em seguida ao próprio povo, até que se 
lhe extinguiu a maior parte das pretensões mais formidáveis. Mas 
foi somente com a Revolução de 1688, que elevou ao trono o P rín­
cipe de Orange, que a Inglaterra viu a liberdade inteiramente triun­
fante. Como inerente ao poder indefinido de fazer guerra, p rerro­
gativa reconhecida da Coroa, Carlos II havia mantido por autori­
dade própria, perm anentem ente, em tempo de paz, um corpo de 
5 .0 0 0 soldados de tropas regulares. Jaime II aum entou-o para 30.000, 
pagos pela lista civil. Com a Revolução, a fim de abolir-se o exer­
cício de poder tão perigoso, tornou-se artigo da Declaração de D i­
reitos então instituída que “a convocação ou m anutenção de exér­
cito perm anente dentro do reino em tem po de paz, exceto com o 
consentimento do Parlamento, era contra a lei”.
Naquele reino, quando o pulso da liberdade batia mais acele­
radamente, não se julgava necessária qualquer garantia contra o pe­
rigo dos exércitos permanentes além da proibição de serem convo­
cados ou mantidos por simples autorização do magistrado executi­
vo. Os patriotas que levaram a efeito aquela memorável revolução 
eram demasiado comedidos, demasiadamente bem inform ados, para 
pensarem em qualquer restrição à discrição legislativa. Percebiam ser 
indispensável certo núm ero de soldados para guardas e guarnições, 
que não era possível fixar limites precisos às necessidades nacionais, 
que deve existir poder igual a cada contingência possível em algu­
ma parte do govêrno, e que, quando reportavam o exercício dêsse 
poder ao legislativo, haviam chegado ao último estádio de precau 
ção capaz de se conciliar com a segurança da comunidade.
Pode dizer-se que o povo da América colheu na mesma fonte 
a impressão hereditária de perigo para a liberdade resultante de exér­
21
citos permanentes em tempo de paz. As circunstâncias de um a re­
volução exaltaram a sensibilidade pública com relação a tôdas as 
questões atinentes à garantia dos direitos populares, e, em alguns 
casos, despertaram o ardor do zêlo além do grau que coincidia com 
a situação norm al do corpo político. A tentativa de dois Estados no 
sentido de restringir os podêres do legislativo na questão dos esta­
belecimentos militares pertence ao núm ero dêsses casos. Os prin­
cípios que nos ensinavam a desconfiar do poder de m onarca here­
ditário estenderam-se, por excesso inconsiderado, aos representantes 
do povo nas assembléias populares. Mesmo em alguns dos Estados, 
nos quais tal êrro não encontrou guarida, deparamos com decla­
rações desnecessárias com relação aos exércitos permanentes, que 
não se devem m anter, em tem po de paz, sem o consentimento do 
legislativo. Digo-as desnecessárias porque o motivo que introduzira 
igual dispositivo na Declaração de Direitos da Inglaterra não se apli­
ca a qualquer das constituições estaduais. A faculdade de convocar 
exércitos, sob essas constituições, não se pode julgar, por um a in­
terpretação qualquer, que resida em qualquer outro poder que não 
o legislativo; e era supérfluo, se não absurdo, declarar não ser pos­
sível levar a efeito qualquer medida sem o consentimento do pró­
prio organismo ao qual somente cabia efetivá-la. Assim sendo, em 
algumas dessas constituições, e entre outras na dêste Estado de N ova 
York, que se tem justamente proclamado não só na Europa como 
na América, como uma das melhores dentre as formas de govêr­
no instituídas neste país, silencia-se com pletamente sôbre o assunto.
Deve notar-se que, mesmo nos dois Estados que parece terem 
intentado a interdição de instituições militares em tempo de paz, 
o modo de expressão empregado é mais admonitório do que proi­
bitivo. N ão se diz que não se devem m anter exércitos permanentes, 
mas que não se deve mantê-los em tempo de paz. Esta ambigüi­
dade de têrm os parece ter resultado de conflito entre zêlo e convic­
ção, entre o desejo de excluir semelhantes instituições em qualquer 
caso e a persuasão de que a exclusão absoluta seria insensata e 
insegura.
Pode duvidar-se que semelhante dispositivo, sempre que a si­
tuação dos negócios públicos parecesse >exigir que se afastassem 
dêle, fôsse interpretado pelo legislativo sob a form a de simples ad- 
moestação, devendo ceder às necessidades ou supostas necessidades 
do Estado? Que o decida o fato, já mencionado, relativamente à
Pensilvânia. Qual será então (poder-se-á perguntar) a utilidade de 
tal dispositivo, se deixa de aplicar-se no momento em que se m a­
nifeste qualquer propensão para pô-lo de lado?
Examinemos se existe qualquer com paração, quanto à eficácia, 
entre o dispositivo aludido e o que consta da nova Constituição com 
o fito de lim itar os créditos para fins militares ao período de dois 
anos. O primeiro, visando a muito demais, nada se destina a rea­
lizar; o segundo, afastando-se de extremo imprudente, e revelando- 
se inteiramente compatível com a satisfação apropriada das exigên­
cias da nação, terá ação salutar e poderosa.
O legislativo dos Estados Unidos será obrigado, por êste dis­
positivo, um a vez pelo menos cada dois anos, a deliberar com res­
peito à conveniência de m anter um a fôrça militar perm anente, a 
tom ar nova resolução sôbre o assunto, e a declarar como julga da 
questão mediante voto norm al perante o eleitorado. N ão tem a li­
berdade de dotar o departam ento executivo com fundos perm anen­
tes para a m anutenção de um exército, mesmo que seja tão im pru­
dente que se m ostre disposto a depositar nêle confiança tão impró­
pria. Como é de esperar que o espírito partidário, em graus diver­
sos, contamine todos os corpos políticos, sem dúvida haverá indi­
víduos nolegislativo nacional bastante dispostos a censurar as me­
didas e incrim inar as opiniões da maioria. A providência para a 
m anutenção de fôrça militar será sempre tem a favorito para decla- 
mação. Tôdas as vêzes que a questão se apresentar, o partido em 
oposição agitará e atrairá a atenção pública para o assunto; e se a 
maioria estiver realmente disposta a exceder os limites convenientes 
a com unidade se aperceberá do perigo e terá oportunidade de tom ar 
medidas para se precaver. Independentem ente dos partidos no pró­
prio legislativo nacional, sempre que chegar o período da discussão, 
os legislativos estaduais, que serão sempre não só guardas vigilan­
tes mas desconfiados e zelosos dos direitos dos cidadãos contra os 
abusos do govêrno federal, terão a atenção constantemente desperta 
para a conduta dos governantes nacionais e se m ostrarão bastante 
prontos, se algo de im próprio transparecer, a soar o alarm a para 
o povo, tornando-se não só a voz mas, se necessário, o braço do 
descontentam ento geral.
Planos destinados a subverter as liberdades de grande com uni­
dade exigem tempo a fim de am adurecerem para a execução. Exér­
cito tão grande que ameaçasse sèriamente essas liberdades, só pode­
23
ria fiii íliur-sc por acréscimos sucessivos, que supusessem, não só com- 
hinaçao tem porária entre o legislativo e o executivo, mas conspira­
ção continuada durante longo período. Seria provável que se per- 
scverasse nela e a transmitisse através das sucessivas variações em 
um corpo representativo, naturalm ente produzidas pelas eleições bie­
nais? Seria presumível que um homem, tão logo assumisse a sua ca­
deira no Senado N acional ou na Casa dos Representantes começas­
se a trair o eleitorado e o país? Seria possível supor não se encon­
trasse alguém com bastante discernimento para perceber conspiração 
tão desumana, ou bastante ousado ou honesto para avisar ao elei­
torado do perigo que corre? Se fôr possível form ular plausivelmen- 
te semelhantes hipóteses, ver-se-á de imediato extinta a autoridade 
delegada. O povo resolveria retom ar todos os podêres de que tivesse 
até então aberto mão, repartindo-se em tantos estados quantos fos­
sem os condados, a fim de ficar em condições de gerir os seus 
próprios negócios pessoalmente.
Se fôsse possível mesmo form ular tais hipóteses razoàvelmente, 
seria impraticável a ocultação do plano por qualquer prazo dilata­
do. Seria denunciado pela própria circunstância do aum ento das fô r­
ças armadas a tal ponto em tempo de profunda paz. Que motivo 
tangível seria possível atribuir, em um país em tais condições, ao 
aum ento tão vasto do poder militar? Impossível seria ficasse o povo 
enganado por muito tempo; e a destruição do projeto e dos que o 
m aquinavam seguir-se-ia ràpidam ente à descoberta. . . (N .° 26).
3 . Insuficiências da Confederação e Problemas da Convenção, 
H A M ILTO N :
. . . Em continuação ao plano por mim estabelecido para dis­
cussão do assunto, a questão que se deve examinar logo em segui­
da consiste na “insuficiência da atual Confederação para a preser­
vação da U nião”. Talvez se indague qual a necessidade de discutir 
ou provar para esclarecer um a posição que ninguém contraria ou 
da qual ninguém duvida, com respeito à qual o entendim ento e o 
sentimento de tôdas as classes estão de acôrdo, sendo em substân­
cia admitida tanto pelos opositores quanto pelos amigos da nova 
Constituição. N a verdade deve reconhecer-se que, por mais que di­
virjam a outros respeitos, parece em geral se harm onizarem na opi­
nião, pelo menos, de que se observam imperfeições importantes em
24
ÊSTE LIVRO PERTENCE À 
b ib lio te c a p ú b lic a
nosso sistema nacional e que se impõe fazer algo que nos livre da 
anarquia iminente. Ninguém mais precisa investigar os fatos que vêm 
em apoio desta opinião. Impuseram-se à sensibilidade do povo, em 
geral, extorquindo afinal daqueles, cuja política errônea contribuiu 
para precipitar a situação extrema a que chegamos, confissão a con­
tragosto da realidade dêsses defeitos no planejam ento do nosso go­
vêrno federal, os quais têm sido há muito apontados e lastimados 
pelos amigos inteligentes da União.
Pode dizer-se com justeza ter-se alcançado quase que o últi­
mo estádio de hum ilhação nacional. Quase nada mais existe capaz 
de ferir o orgulho ou degradar o caráter de nação independente que 
não tenhamos experimentado. Acaso existem compromissos a que 
estejamos obrigados por qualquer vínculo que se tenha de respeitar 
entre os homens? São êsses que se sujeitam a violação constante e 
impudente. Temos dívidas para com estrangeiros ou para com os 
nossos próprios concidadãos, contraídas por ocasião de iminente pe­
rigo para a preservação de nossa existência política? Não se vê qual­
quer providência satisfatória ou adequada para solvê-las. Temos ter­
ritórios valiosos e postos militares importantes na posse de potên­
cia estrangeira, os quais, por estipulação expressa, há muito deve­
riam ter-nos sido entregues? Ainda os retêm, com prejuízo dos 
nossos interêsses não menos que dos nossos direitos. Estamos em 
condições de ressentir ou repelir a agressão? N ão possuímos tropas, 
nem fundos nem govêrno. * Estamos pelo menos em condições de 
protestar com dignidade? Será preciso afastar primeiramente as jus­
tas acusações à nossa própria fé, relativamente ao mesmo tratado. 
Temos direito pela natureza e por ajuste a participar livremente da 
navegação do Mississipi? A Espanha dela nos exclui. N ão é o cré­
dito público recurso indispensável ao tempo de perigo público? Pa­
rece que lhe abandonam os a causa por desesperada e irreparável. 
Apresenta o comércio im portância para a riqueza nacional? O nosso 
se encontra no ponto mais baixo de decadência. A respeitabilidade 
perante as potências estrangeiras constitui garantia contra abusos por 
parte delas? A imbecilidade do nosso govêrno as impede de tratar 
conosco. Nossos embaixadores no exterior são meras alegorias de 
soberania simulada. Revela-se como sintoma da miséria nacional o 
decréscimo violento e anorm al do valor da terra? O preço das ter-
“Quero dizer para a União”.
25
ras aproveitadas em muitas partes do país é muito mais baixo do 
que se poderia justificar pela quantidade de terras abandonadas à 
venda, só sendo possível explicar-se inteiram ente pela falta de con­
fiança privada e pública que prevalece tão assustadoramente entre 
tôdas as classes e que tem tendência direta para depreciar a pro­
priedade de qualquer espécie que seja. N ão é o crédito público o 
amigo e patrono da indústria? A espécie mais útil, que diz respeito 
a tom ar em prestado e em prestar, está reduzida aos limites mais es­
tritos, e tal se dá mais pelo sentimento de falta de segurança do 
que por falta de dinheiro. Para encurtar enum eração de detalhes 
que não nos proporcionam prazer nem instrução, poder-se-á em 
geral perguntar qual a indicação existente de desordem, pobreza ou 
insignificância nacionais capazes de ocorrerem a com unidade tão 
peculiarm ente abençoada de vantagens naturais como a nossa, que 
não faça parte da negra lista dos nossos infortúnios públicos?
Tal a situação melancólica a que ficamos reduzidos pelas pró­
prias máximas e conselhos que ora nos dissuadiriam de adotar a 
Constituição proposta, e que, não satisfeita em ter-nos conduzido à 
beira do precipício, parece resolvida a nos m ergulhar no abismo que 
no fundo nos espera. Neste ponto, meus concidadãos, levados por 
todos os motivos que devem influenciar um povo esclarecido, vamos 
tom ar um a posição firme em prol da nossa segurança, tranqüilida­
de, dignidade e reputação. Vamos quebrar afinal o encanto fatal que 
nos seduziu por tempo demasiado afastando-nos da trilha da felici­
dade e da prosperidade.
É verdade, conform e anteriorm ente observamos, que os fatos, 
demasiado persistentes para que se possa

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