Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS NEUROFISIOLÓGICOS DA PSICOLOGIA Felipe André Aço A discussão sobre as origens filosóficas da psicologia, tratados na aula anterior, certamente foram as bases para compreensão do que viria a ser chamada de Psicologia. Mas esta ciência, como todas as outras, teve além das influências filosóficas a marca do contexto social e da época em que surgiu. Particularmente, entre os séculos XVIII e XX, os fisiologistas e outros cientistas naturais eram profundamente interessados pelo estudo do funcionamento do sistema nervoso. Neste tempo, suas pesquisas versavam sobre: a) A fisiologia dos reflexos e processos sensório-motores básicos, b) A questão da possibilidade de funções específicas se “localizarem” em diferentes áreas do cérebro e c) A natureza da unidade básica do sistema nervoso: o neurônio. 1. O ILUMINISMO¹ No início do século XVIII, pesquisadores começaram a dar como certa a idéia de que a verdade objetiva poderia ser obtida por meio dos métodos da ciência e do uso imparcial da razão. Como a ciência e a razão passaram a ser vistas como o único meio seguro de lançar luz sobre as trevas da ignorância, esse período tornou�se conhecido como Iluminismo. Talvez, um dos principais ideólogos deste período tenha sido Isaac Newton que foi o pai da reconhecida mecânica clássica i que influenciou – e influencia – a ciência até os dias de hoje. Cientistas como Newton, caracterizavam�se pela busca da “verdade objetiva”. Este tipo de posicionamento, acabou influenciando não só as áreas ditas científicas, mas os próprios filósofos como John Locke ii que tentavam reproduzir a lógica mecânica (ação-reação e associação)para o estudo da mente. Ao final do século XIX, a fé na ciência estava rendendo seus frutos sob a forma das inovações tecnológicas que viriam a provocar a Revolução Industrial. Assim, a ciência parecia levar inevitavelmente ao progresso, e os cientistas eram vistos como totalmente objetivos, simplesmente buscando a “verdade”. Só depois de inovações tecnológicas como o gás venoso e a produção da bomba atômica foi que começou-se a questionar a objetividade e a “verdade” as, as ciências pareciam desprovidas de valor. No decorrer do século XIX, o caminho para o conhecimento científico estava definitivamente aberto. Nesta época a psicologia buscou alçar o seu próprio espaço através as pesquisas sobre o funcionamento dos sentidos e do sistema nervoso. ¹ O Iluminismo ou Esclarecimento (em alemão Aufklärung, em inglês Enlightenment) foi um movimento intelectual surgido na segunda metade do século XVIII, o chamado "século das luzes". Enfatizava a Razão e a Ciência como formas de explicar o Universo. Foi um dos movimentos impulsionadores do capitalismo e da sociedade moderna. Foi muito dinâmico nos países protestantes e lenta, porém gradual influência na maioria dos países católicos. Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 2. OS SENTIDOS GUILHOTINA E CONSCIÊNCIA Os problemas vividos no final do século XVIII quanto ao conhecimento objetivo da consciência eram limitados pela análise de pacientes que sofreram lesões cerebrais e não morreram. Dado difícil em uma época que ainda não havia antibióticos e assepsia nas cirurgias. A pergunta pertinente era: Quando a consciência abandona o corpo? Ou, ainda, onde se encontra a consciência? Perguntas difíceis, mas que teve no inventor da guilhotina uma das suas chances de resposta. O médico francês Joseph Ignace Guillotin, inventor da humanitária máquina de decapitação (dado que o método tradicional consistia em vários golpes de machado no pescoço, pode�se pensar que a guilhotina fosse, de fato, um método que causava menos sofrimento). Várias pesquisas foram feitas com condenados pós� decapitação através de estímulos visuais, táteis e auditivos, visto que num curto período de tempo ainda havia contração dos músculos dos moribundos. Nada foi comprovado, mas as pesquisas abriram caminho para o estudo do Ato reflexo. ATO O REFLEXO Antes do século XIX, a contribuição mais importante para o estudo dos reflexos veio do escocês Robert Whytt (1714�1766). Seus estudos, publicados no The Vital and Other Involuntary Motions of Animals (Os movimentos vitais e outros movimento involuntários dos animais), foi o resultante de anos de pesquisa acerca do papel da medula espinha na mediação do ato reflexo e o primeiro estudo extensivo dos reflexos com base numa pesquisa experimental iii (p. 80) Estudando animais decapitados (principalmente sapos), Whytt demonstrou que os músculos das pernas reagiam de forma previsível à estimulação física. Beliscando-se a perna de um apo decapitado, produzia-se nela uma determinada contração muscular. Porém, se a conexão entre o nervo da perna do animal e a medula espinhal fosse cortada, esses movimentos involuntários não ocorriam. Whytt distinguiu os atos voluntários dos involuntários: os primeiros eram controlados pela vontade, originavam-se no cérebro e exigiam que este estivesse intacto; os segundos eram controlados pela medula espinhal. A meio caminho dos controles voluntários e involuntários estava a formação dos hábitos: Nós não apenas adquirimos, por meio do hábito e do costume, a faculdade de executar determinados movimento com mais facilidade do ques estamos acostumados, mas também, à medida que essa facilidade aumenta, tornamo-nos menos suscetíveis a qualquer participação que a mente neles possa ter. (apud, Goodwin, 2005, p. 80) Whytt abriu caminho para o que mais tarde ficou conhecido como o reflexo condicionado, sua idéia era de que após estabelecido o hábito, a simples idéia de um estímulo era suficiente para provocar uma reação. Assim, a visão ou a idéia de uma comida gostosa, desencadeia uma reação reflexa de salivação. A LEI DE BELLMAGENDIE Bell e Magendie foram dois cientistas que mesmo trabalhando em países diferentes chegaram a conclusões semelhantes. Em síntese, quando Magendie cortou a raiz nervosa posterior (mais superficial) da medula espinhal de um cão, a área afetada podia mover-se, mas era insensível à estimulação. Quando foi cortada a raiz anterior (mais profunda), não se verificava nenhum movimento, muito embora pudesse notar sensibilidade no membro. Esta descoberta foi importante, pois forneceu uma base anatômica ao posterior estudo dos dois lados do reflexo: a sensação e o movimento. Uma primeira constatação provou que os estímulos caminham em uma única direção. Uma outra, provou que nervos sensórios diferentes possuem qualidades diferentes, assim um mesmo instrumento pode desencadear reações diferente dependendo da área que está estimulando. (Por exemplo: um instrumento metálico na boca pode desencadear uma reação de pontiagudo ou afiado a um tipo de nervo, mas gera o sabor em relação a outro). Fisiólogo 2 Helmholtz Nascido na Alemanha, Hermann Von Helmholtz (1821 – 1894) foi médico, com incursões na física e na psicologia. A grande contribuição de Helmholtz à ciência foram suas pesquisas sobre a medida de velocidade do impulso nervoso no início da década de 1850. Antes de suas pesquisas, considerava-se que o impulso nervoso poderia ser instantâneo, logo, impossível de se medir. Helmholtz, pelo contrário, conseguiu isolar o nervo motor e o músculo registrando o tempo entre o estímulo e a reação que ficou, em média, a uma velocidade de 95km/h. Esta era muito inferior, portanto, ao que se considerava que estava próximo à velocidade da luz. Nos anos que se passaram, este pesquisador ainda empreendeu estudos sobre a questão da visão e audição onde analisou a percepção da cor e da consonância e dissonância na música. Como físico, Helmholtz estava acostumado a buscar a precisão na natureza. Por isso sentia-se perplexo diante de algo que poderia ser chamado de problemada percepção. Por uns humanos destinados à visão e à audição pareciam singularmente apropriados, mas, por outro, as estruturas destinadas a possibilitar a existência desses sentidos pareciam terrivelmente falhas. Helmholtz argumentava que a nossa percepção do mundo exterior é apenas indireta, a experiência tem um papel fundamental na percepção. Para justificar isso, o pesquisador citava o exemplo dos objetos situados a diferentes distâncias. A medida que uma pessoa se aproxima, por exemplo, em nossa retina esta imagem cresce, mas a percepção que temos é que ela esta se aproximando. Isso acontece por um conhecimento prévio, dado pela experiência, não pelo estímulo sensório. A isso Helmholtz deu o nome de inferência inconsciente. Estes estudos dão margem ao surgimento da escola gestáltica do pensamento psicológico. 2. LOCALIZAÇÃO DA FUNÇÃO CEREBRAL Além dos avanços do conhecimento acerca da fisiologia sensória, o século XIX viu seus cientistas debruçarem�se sobre a natureza do cérebro e discutirem sobre o problema da localização das funções cerebrais. A questão que se colocava era: até que ponto diferentes partes do cérebro corresponderiam a diferentes atributos fisiológicos e psicológicos? ² A fisiologia (do grego physis = natureza e logos = palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a fisiologia estuda o funcionamento do organismo. Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 A Frenologia 3 Segundo os defensores da frenologia, as “faculdades” humanas poderiam ser identificadas e localizadas em áreas do cérebro precisamente definidas. A pergunta que eles faziam era: até que ponto diferentes partes do cérebro corresponderiam a diferentes atributos fisiológicos e psicológico? As origens da frenologia costuma remontar ao respeitado e excêntrico médico e estudioso da anatomia comparada Franz Josef Gall (1758 �1828). Muito embora seus pais o quisessem padre, sua teoria foi banida pela igreja que a considerou anti-religiosa. Gall era um anatomista e soube lucrar com isso cobrando àqueles que queriam observa-lo no seu consultório. Acusado de estar promovendo a imoralidade e o ateísmo, Gall saiu pela Europa fazendo palestra e ganhando dinheiro. Uma das primeiras descobertas deste pesquisador foi a tão difundida função contralateral do cérebro, isto é, a noção segundo qual cada lado do cérebro controla o lado oposto do corpo. Não há como negar que suas pesquisas anatômicas eram impecáveis. Ele foi o primeiro anatomista a provar que as circunvoluções cerebrais seguiam o mesmo padrão dentro de cada espécie. Também afirmou que o cérebro era um órgão com componentes tanto intelectuais quanto emocionais muito embora tenha fracassado quanto a situar estes componentes no cérebro. Os princípios essenciais da frenologia reduziam a cinco: 1. O cérebro é um órgão da mente. 2. A mente compõe-se de um grande número de habilidades (cerca de 40) ou atributos chamados “faculdades” algumas das quais são intelectuais (cognitivas) e outras afetivas (emocionais). 3. Cada faculdade tem o seu lugar próprio no cérebro. 4. Certas pessoas são mais dotadas que outras quanto a certas faculdades; nesse caso tem mais tecido cerebral no local correspondente que as menos dotadas. 5. Como o formato do crânio corresponde mais ou menos ao do cérebro, a intensidade de várias faculdades pode ser inferida pela forma do crânio. Este último princípio representava para os frenologista a chave para a aplicação da mensuração no exame de quem quer que fosse. Assim se criou evidências do caráter do sujeito a partir do exame do seu crânio. Um exame um pouco mais apurado, logo expunha os pontos fracos desta teorização. No entanto, o aspecto prático e extremamente visual da teoria caiu no gosto do povo americano que até o início do século XX tinha a teoria como uma de suas “modas”. A assertiva frenológica era que o cérebro funciona como um músculo, podendo, portanto, ser exercitado. Esse pressuposto deu base ao pensamento comportamental e a sua perspectiva da influencia unidirecional do ambiente à personalidade. Assim criou�se teorias sobre educação que prezavam a idéia do controle sobre o cérebro da criança, logo sobre o seu futuro. 3 Frenologia (do Grego: φρήν, phrēn, "mente"; e λόγος, logos, "lógica ou estudo") é uma teoria que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo "caroços ou protuberâncias"). Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 FLOURENS E O MÉTODO DA ABLAÇÃO A frenologia não subsistiu nem mesmo até a metade do século XIX. Um dos seus principais oponentes, mostrou experimentalmente, o tamanho do erro de Gall. Seu nome era Pierre Flourens (1794�1867) um eminente fisiólogo frances que retirou, através do método da ablação4, parte do cérebro de animais pressupondo, conforme imaginavam os frenologistas, que esta extirpação anularia a “X”, mas, descobria que na verdade esta parte retirada estava relacionadas com a função “Y”. Sua descoberta foi simples: o cérebro funciona como um todo integrado e não como um grupo enorme de faculdades localizadas em determinados pontos. MÉTODO CLÍNICO Os resultados dos estudos que envolvem ablação nem sempre são fáceis de interpretar, basicamente porque a destruição de uma parte do cérebro influi também sobre as conexões com essa parte, promovendo efeitos nem sempre previsíveis ou consistentes. Além disso, o estudo da ablação em seres humanos é proibido e antiético, assim surge o método clínico que nada mais é do que avaliar as conseqüências mentais e comportamentais de pessoas que sofreram algum acidente ou tiveram alguma patologia mental como derrame por exemplo. O exame se dava a partir da análise do cérebro após a morte do paciente. Dentre os exemplos mais conhecidos do método clínico está o de Phineas Gage (ao lado) que sobreviveu 12 anos após ter sua cabeça atravessada por uma estaca. Muito embora Flourens tenha demonstrado que o cérebro funciona de maneira integrada, outros cientistas também provaram que em algumas regiões é possível delimitar a localização da função. Alguns deles ficaram famosos como Wernicke que deu nome a área do cérebro responsável pelo conhecimento, interpretações e associações. Outro, não menos importante, também teve o seu nome associado a uma área do cérebro, foi Paul Broca que descobriu o centro motor da fala. O Notável Phineas Gage Em 1848, quando explodia rochas para abrir caminho para uma nova linha ferroviária perto de Cavendish, Vermont, Gage sofreu um acidente que tinha tudo para ser fatal. Depois de colocar um pouco de pólvora e um pavio num orifício escavado numa rocha que deveria ser explodida, Gage usou um espeto de ferro para comprimi-Ia. Tendo-se distraído, ele arranhou a superfície da rocha o suficiente para criar uma centelha que queimou a pólvora. Isso transformou o espeto num míssil que voou pelos ares e caiu a 30 m de distância. Mas infelizmente, para Gage, sua cabeça estava na trajetória. O espeto entrou logo abaixo do olho e saiu na parte superior esquerda do crânio de Gage, arrancando uma boa parte do córtex esquerdo frontal (veja a Figura 3.3). Milagrosamente, Gage esteve inconsciente por pouco tempo e, ao chegar à vila, pôde caminhar (amparado) até o consultório do médico. Ali ele se sentou e conversou com amigos (!) até a chegada do médico, cerca de trinta minutos depois do acidente. Dois meses depois, ele havia se recuperado o suficiente para voltar a viver sozinho,' mas jamais conseguiu voltar ao trabalho e sua personalidade mudou drasti-camente.Gage, que havia sido um líder co-munitário consciencioso e respeitado (era, inclusive, o capataz da equipe de construção da linha de ferro), tomou-se um constrangimento para a comunidade, com sua obstinação e seu omportamento irresponsável e blasfemo MacMillan, 1986). c( batar”. Um de seus médicos, John Harlow, era simpatizante da frenologia e viu no caso uma prova da crença frenológica na localização cerebral. Harlow fez anotações meticulosas sobre o caso e publicou-as em 1848 e 1868, referindo-se à lesão provocada no lobo frontal de Gage como um dano que 4 Ablação é uma palavra derivado do latim que significa “tirar, arrebentar Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 destruiu o equilíbrio [u.] entre suas faculdades intelectuais e propensões animais. Ele apresenta comportamento irregular e irreverente, proferindo às vezes as mais vulgares blasfêmias (algo que não era de seu costume), manifestando pouco respeito pelos companheiros, recusando conselhos ou coi-bições quando contradizem seus desejos, às vezes obstinado e às vezes caprichoso e hesi- tante, criando muitos planos futuros que logo em seguida são abandonados. [...] Antes do ferimento, embora não possuísse educação formal, ele tinha uma mente equilibrada e era considerado pelos que o conheciam um comerciante arguto, muito enérgico e persis-tente quando se tratava de executar todos os planos que traçava. Nesse aspecto, sua mente alterou-se radicalmente, a ponto mesmo de os amigos e conhecidos declararem que ele "já não era o mesmo Gage". (Harlow, 1868, citado por MacMillan, 1986, p. 85) MAPEANDO O CÉREBRO: A ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA No início do século XIX já se tinha a idéia de que a atividade neurológica era eletroquímica. Dois pesquisadores alemães da universidade de Berlim foram os primeiros a investigar se a superfície do córtex reagiria a correntes elétricas não muito fortes. Edward Hitzig (1838 – 1907) e Eduard Fritsch (1838 – 1927) conduziram vários experimentos através da estimulação mecânica e elétrica no cérebro de cães e, eventualmente, algum ferido que chegasse. Apesar da rusticidade do experimento, suas descobertas foram precursoras de outras tantas pesquisas. Na época os autores conseguiram localizar áreas cerebrais que coordenavam pescoço, pernas e focinho com grande precisão. Outro autor, chamado David Ferrier (1843 – 1928), também fez pesquisas no cérebro, só que desta vez investigou os aspectos sensórios no cérebro do macaco. Ele conseguiu identificar no lobo occipital a área sensória primária da visão e, numa parte do lobo temporal, o centro da audição. O SISTEMA NERVOSO NO SÉC. XX No início do século XX as pesquisas acerca do sistema nervoso voltaram-se para a natureza unidade básica do seu funcionamento, isto é, o neurônio. O neurônio só foi descoberto após a segunda metade do século XIX quando se alcançou a tecnologia do endurecimento do cérebro, primeiramente com álcool e após com parafina. Camillo Golgi (1844 – 1926) conseguiu injetar uma “tinta negra” no neurônio e, pela primeira vez, conseguiu identificar o neurônio completo, dentritos, axônios e ramificações. Esta descoberta lhe valeu o Nobel de medicina em 1906. Golgi acreditava que o sistema nervoso era composto destes neurônios mas argumentava, também que as células eram fisicamente ligadas umas as outras. Este posicionamento o colocava em conflito direto com outro ganhador do prêmio o neuroanatomista espanhol Santiago Ramón y Cajal (1852 – 1934) que predizia que o neurônio era uma unidade à parte, que apenas estava em contato com os demais sem contato físico entre eles. As provas a favor da teoria de Cajal só puderam ser apresentadas depois do invento do microscópio eletrônico. Quem consolidou definitivamente a tese de Cajal foi o britânico Charles Sherrington (1857 – 1952) ele cunhou a palavra sinapse ( do étimo grego que significa “juntar, ligar”) para este suposto espaço entre os neurônios. A transição da fisiologia neurológica para psicologia aconteceu com o zoólogo Karl Lashley (1890 – 1958) que conduziu pesquisas sobre o comportamento animal, usando de experimentos de laboratório sobre as habilidades sensórias de várias espécies e pesquisas sobre o condicionamento das reações salivares e motoras. Mas foi a sua pesquisa sobre a aprendizagem animal que lhe deu destaque. Sua técnica consistia em danificar o cérebro de vários animais, Educação a Distância – Psicologia – Aula 03 colocando�os posteriormente em labirintos onde deveriam, por uma ação adaptativa sair. Mesmo os ratos com lesões conseguiam “aprender” o caminho na maior parte dos labirintos. Nas tarefas simples, o grau de lesão tinha pouco efeito sobre a aprendizagem, em situações mais complexas (labirintos maiores) a possibilidade de resolução caia drasticamente. Seus estudos deram margem a um princípio chamado equipotencialidade que consistia na capacidade de desempenhar, com ou sem redução na eficiência, funções perdidas pela lesão. Certamente a eqüipotencialidade não é absoluta, pois ela está condicionada a lei da ação de massa, segundo a qual a eficiência do desempenho de toda uma função complexa pode ser reduzida de acordo com a extensão da lesão cerebral de uma área cujas partes não são mais especializadas. A esse princípio Lashley chamou de ação de massa. A conclusão desse autor era de que a aprendizagem não parecia estar localizada em nenhuma área específica do córtex e a sua eficiência é proporcional ao volume íntegro do cérebro. 3. CONCLUSÃO As descobertas quanto as influências do sistema nervoso sobre o comportamento e as possibilidades de coordenar e de identificar a localização das áreas responsáveis por este controle trouxe à psicologia a possibilidade de predizer o comportamento e localizar as áreas motoras e sensoriais que interferem na aprendizagem. Além disso, os psicólogos lograram, enfim, ter encontrado “um lugar ao sol”, isto é, um objeto de estudo bem mais específico e concreto antes inexistente. Dessa forma a psicologia começa a delinear a sua base mais empírica. Além dos componentes filosóficos, conteúdos experimentais são agregados a essa nova disciplina que o século XIX possui um estatuto próprio e um objeto de estudo definido, isto é, comportamento humano. 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA GOODWIN, C. James. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 2005. i A Mecânica Clássica é a parte da Física que analisa o movimento, as variações de energia e as forças que atuam sobre um corpo. No ensino de física, a mecânica calmamente é a primeira área da física a ser lecionada. ii Locke é considerado o protagonista do empirismo, a teoria normalmente chamada da "Tabula rasa". Esta teoria afirma que todas as pessoas começam por não saber absolutamente nada e que aprendem pela experiência, pela tentativa e erro. Notem que esta teoria será a precursora do que hoje conhecemos como escola Behaviorista de psicologia. iii Goodwin, C., James. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 2005.
Compartilhar