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Artigo Filosofia

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SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO
Por Israel Franco de Godoy
RESUMO
Este artigo propõe algumas reflexões inspiradas durante a realização de Estágio Supervisionado em Docência I, em Filosofia, no Ensino Médio, o qual foi realizado no âmbito da escola pública. Durante essa prática observou-se um grande afastamento entre o Ensino da Filosofia e o próprio ato de filosofar, a tal ponto que é possível questionar sobre a possibilidade do Ensino de Filosofia enquanto “disciplina”. Mostra com isso que há um conflito entre as orientações curriculares nacionais em relação à condução do processo de Ensino e aprendizagem de Filosofia e a intenção do aprimoramento do educando como pessoa humana, sua formação ética, senso crítico e autonomia intelectual tal como está explicitada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Buscou-se ainda, rever o significado de educar e ensinar, repensando o papel do professor, da escola e sobre a especificidade da Filosofia.
Palavras Chaves: Educação. Filosofia. Autonomia.
ABSTRACT
This article proposes some reflections inspired while performing Supervised Internship in Teaching I, in Philosophy, in high school, which was held in the public school. During this practice there was a large gap between the teaching of Philosophy and the very act of philosophizing, to the point that you can ask about the possibility of teaching Philosophy as "subject". Shows with this there is a conflict between national curriculum guidelines for the conduct of the teaching process and the learning of Philosophy and the intention of improving the student as a human person, his ethical, critical thinking and intellectual autonomy as is explicit in the Act Guidelines and Bases of National Education. It attempted to further review the significance of educating and teaching, rethinking the role of the teacher, the school and about the specificity of Philosophy.
Keywords: Education. Philosophy. Autonomy.
1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Uma das marcas mais profundas da contemporaneidade é a grande diversidade de conceitos, valores, diferenças, que significam enormemente o período de mudança que se vive na sociedade hodierna. Por esse motivo, fica difícil caracterizar nosso tempo. Os valores e ideologias que marcaram o século XX perderam substância. Já não dão conta de sustentar os modos de vida atual ao mesmo tempo que a atual revolução da informação faz a invisibilidade cotidiana, o ser comum, traduzir-se em esquecimento, exclusão e morte social.
Parafraseando Bauman, o progresso tecnológico equipou as massas, principalmente os adolescentes, de confessionários portáteis. Dicionários informais, de qualidade bastante discutível, que servem de manual para a vida dando respostas para tudo. Nesse sentido, o ”google” se estabeleceu como o “grande professor” nos dias de hoje. Esse é uns dos motivos nos quais faz-se necessário repensar o papel do professor e da escola, especialmente, em relação ao Ensino de Filosofia. Embora o tema não seja novo e já tenha sido abordado por muitos pensadores, intelectuais e educadores, os modelos tradicionais da Educação e do Ensino, não parecem dar conta de acompanhar essa intensa mudança.
Importa, portanto, pensar e repensar o significado e a prática educacional e a importância da Filosofia, numa sociedade marcada pela velocidade, pela mudança e, em muitos aspectos, pela superficialidade que reduz o ser humano ao status de mera mercadoria ou objeto e nesse sentido, na possibilidade da Filosofia em buscar que o aluno, tal como disse Espinosa, “Torne-se um agente ativo de sua própria vida”.
Assim, esse artigo irá propor algumas reflexões em torno do Ensino de Filosofia no âmbito da escola pública e para tanto examinará o problema entre a Filosofia e o Filosofar. Irá propor ainda, uma compreensão em relação a Educação, o Ensino e o papel do professor apontando algumas especificidades em relação a Filosofia e sua importância em inseri-la no currículo do Ensino Médio baseando –se em vários autores modernos e contemporâneos que tratam do assunto. Dentre eles, destacam-se Kant, Savater, Gallo e Heidegger, além de artigos e documentos legais disponíveis no site do Ministério da Educação e da Secretaria da Educação do Estado do Paraná. 
Espera-se, portanto, que as reflexões que seguem em relação ao assunto, assinalem alguns pontos emblemáticos que caracterizam o Ensino de Filosofia e reconduza o tema ao centro das discussões.
2 - O ENSINO DA FILOSOFIA E O FILOSOFAR 
Ocorre que o primeiro problema em relação ao Ensino de Filosofia gira em torno da própria dificuldade ou mesmo da impossibilidade, em se estabelecer uma definição clara da Filosofia. Nesse sentido, os programas curriculares acabam focando-se mais nos seus conteúdos que em sua prática. 
Mesmo entre os Educadores é comum encontrar, nessa dificuldade, uma noção confusa sobre o que é Filosofia e sua função na escola. Isso faz com que muitos professores tenham dificuldades em expor aos alunos uma compreensão mais ampla da Filosofia que a considere, também em seu sentido prático, mais relacionado ao “ethos” humano, como “práxis”. Que trabalhe a Filosofia como exercício próprio do pensamento, o qual se volta sobre si mesmo e, portanto, que não deve ser confundida com outro conjunto de saberes. Tampouco com alguma teologia ou mesmo como uma espécie de ateísmo, tal como ocorre com frequência no senso comum. Resultado claro, de uma falta de saber que contribui enormemente para a formação de preconceitos em relação a Filosofia. 
É sobre esse preconceito que Savater resume:[1: Fernando Fernández-Savater Martín nasceu em São Sebastião, em 21 de junho de 1947. É um escritor e professor de filosofia espanhol, catedrático em Ética na Universidade da Espanha. Alguns dos seus livros foram traduzidos em mais de vinte idiomas e tem se tornado bastante populares.]
Se quisermos resumir todas as repreensões contra a filosofia em quatro palavras, bastarão estas: não serve para nada. Os filósofos empenham-se em saber mais do que ninguém de tudo o que se possa imaginar, embora na realidade não sejam mais do que charlatães amigos do palavrório vazio. E então quem sabe de verdade o que é preciso saber sobre o mundo e a sociedade? Pois os cientistas, os técnicos, os especialistas, os que são capazes de dar informações válidas sobre a realidade. No fundo, os filósofos se empenham em falar do que não sabem: o próprio Sócrates o reconhecia, ao dizer "só sei que não sei nada". Se não sabe nada, por que vamos escutá-lo, quer sejamos jovens ou maduros? (SAVATER, 2001, p.4).
Segue que as Propostas Curriculares acabam dando ênfase à transmissão de conteúdo. Nos autores consagrados e suas doutrinas. Entendendo-os como fundamentais para a preparação do aluno à vida acadêmica e, embora não se possa ignorar a relevância dos filósofos e das escolas de pensamento que influenciaram, também não se pode afirmar que esse Ensino se traduz em “Ensino de Filosofia”. Que se ensina com isso, a filosofar.
É justamente em decorrência da aplicação da Filosofia como “matéria” de prova, sobre esse ou aquele pensador, que muitos educadores colocam em questão o Ensino de Filosofia no ensino médio. Essa dicotomia presente entre a Filosofia e o filosofar, Kant já assinalara no sec. XVIII nas páginas finais de sua consagrada obra Crítica da Razão Pura, publicada em 1781, ou seja, que “não se ensina Filosofia, mas a filosofar”. Mas então, porque buscar o ensino de Filosofia no Ensino Médio tendo em mente que isso não se traduz diretamente em um filosofar? Tem sentido sobrecarregar ainda mais o currículo escolar? 
Sobre isso, entende-se que o conteúdo histórico não deve ser desconsiderado e seria um grande equívoco negar toda tradição construída pela Filosofia assim como, a importância dos grandes pensadores. Deve-se ter em mente que aquilo que fora denominado de conteúdos estruturantes sirvam como um ponto de partida aos jovens iniciantes compreendendo que a relação entre a Filosofia e sua tradição, trata apenas uma abordagemmais epistemológica da Filosofia a qual está muito longe de esgotar suas possibilidades. 
É nesse sentido que as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, apresenta o módulo Filosofia:
Os conteúdos disciplinares devem ser tratados, na escola, de modo contextualizado, estabelecendo-se, entre eles, relações interdisciplinares e colocando sob suspeita tanto a rigidez com que tradicionalmente se apresentam quanto o estatuto de verdade atemporal dado a eles. Desta perspectiva, propõe- se que tais conhecimentos contribuam para a crítica às contradições sociais, políticas e econômicas presentes nas estruturas da sociedade contemporânea e propiciem compreender a produção científica, a reflexão filosófica, a criação artística, nos contextos em que elas se constituem (PARANÁ, DCEB-SEED, 2016, p.14).
Então, o problema é está no fato de as propostas curriculares tomarem por eixo central a aplicação de conteúdo relevando as reflexões e os conceitos, ao segundo plano. Por esse motivo é comum encontrar professores de outras disciplinas como história, sociologia e mesmo, geografia ensinando filosofia pois ao entender a Filosofia como um conjunto de saberes propicia que qualquer professor possa aplicar e solicitar que os alunos memorizem esse ou aquele conteúdo. Para Savater, no entanto, uma política de ensino voltada excessivamente a aplicação de conteúdo é notadamente equivocada enquanto que a Filosofia mesma, deve antes, estar mais focada nos grandes temas da Filosofia, nos conceitos, os quais refletem a perplexidade de ser humano, tais como a morte, a felicidade, o tempo a liberdade, entre outros, relacionando-os com o cotidiano. Inspirando os alunos a pensar os problemas filosoficamente. Sem a imposição de respostas definitivas e decoradas. Sem a imposição de verdade.
Conforme Dias, a lei de diretrizes e bases da educação brasileira (LDB) foi complementada pela análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e seguida das Orientações Curriculares Nacionais (OCN’s) para a Filosofia (DIAS, 2013, p. 2). Para ele, essa orientação: [2: Elitón Dias da Silva é Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP de Marília Foi Professor-Supervisor do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, PIBID, Pesquisa e trabalha com as temáticas Formação de professores e Ensino de Filosofia. Fonte: Plataforma Lattes: Disponível em http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4466156U8. Acesso em maio de 2016.]
[...] apresenta e demanda do professor uma concepção de ensino na qual a história da Filosofia ocupa uma posição central. Segundo as OCN’s, o Ensino de Filosofia não deve nunca desconsiderar a história da Filosofia, pois, nos textos filosóficos encontramos boa parte de medidas e competências para o trabalho docente, sendo, portanto, “recomendável que a história da Filosofia e o texto filosófico tenham um papel central no ensino da Filosofia, ainda que a perspectiva adotada pelo professor seja temática (DIAS, 2013, p. 2).
Como se pode observar, a imposição do conteúdo histórico da Filosofia como “base” da proposta curricular nacional tornou-se o princípio pelo qual se aplica o Ensino de Filosofia nas escolas. Sob essa perspectiva, as escolas, por suas próprias limitações (horas-aula, estrutura e até mesmo de qualificação do professor) deixam de atuar livremente na reflexão e na produção do pensamento que é marca da Filosofia em seu sentido mais originário. Antes, conhecer os filósofos e suas doutrinas, deveria seguir a proposta de uma introdução a Filosofia e tal como propõe Heidegger, deveria servir como um caminho para que o aluno “ponha seu filosofar em curso” ou, como ele mesmo diz: “Deixar que ela aconteça em nós” (HEIDEGGER, 2008, p.5).
Doutra feita, há críticos da introdução da Filosofia no Ensino Médio que questionam sobre se o aluno, ainda jovem, tem condições de entender claramente aquilo a que uma verdadeira Filosofia se propõe. Tais críticos ignoram que a Filosofia em seu sentido mais originário é uma característica propriamente humana, ou seja, que “Ser homem já significa filosofar” (HEIDEGGER, 2008, p.4). Então, a dúvida se o aluno tem condições para aprender Filosofia resolve-se na própria condição de ser homem, ou seja, se pertence a espécie humana ele pode filosofar. 
Todo aluno pode pensar, questionar, refletir e sobre esse aspecto a Filosofia é de todos e ao mesmo tempo não é de ninguém. Tampouco, a quem supostamente tem alguma vocação à ela. 
Nesse sentido, o papel do professor de Filosofia recairia novamente sobre a tarefa de instigar, provocar, causar espanto, ou seja, em estimular experiências geradoras do pensar. Recairia mais na interação com o aluno do que em uma posição de guru portador de todo o saber, ou seja, se deslocaria ao verdadeiro e mais original papel do professor que é o de educar. Coisa que a pedagogia moderna veio a chamar de “aprendizagem significativa”, mas que é característica própria da filosofia já na antiguidade.
Contudo, deve-se considerar ainda que as limitações da escola, do cronograma, do despreparo e de um certo comodismo de muitos professores, acabam por fazer com que esses profissionais se limitem a aplicar aquilo que é exigência do projeto pedagógico curricular (PPC) que por sua vez, se orienta a partir da LDB e das OCN’s mas que não passam de um papel. 
Desta feita, deixam de atuar na prática filosófica propriamente dita de forma que o aspecto burocrático da Educação acaba definindo a prática filosófica, fazendo da Filosofia, um conjunto de saberes a ser decorado para o vestibular fortalecendo o preconceito e a crítica em relação a Filosofia como se não passasse de algo inútil e meramente decorativo. 
Conforme se pode observar, foi demonstrado que há um problema com relação a orientação legal da Filosofia organizada enquanto disciplina nas OCN’s, cuja prática, não se traduz verdadeiramente em Filosofia em seu sentido mais original. Assim, o esforço seguinte será abordar o desafio encontrado na cotidianidade da sala de aula em relação ao papel do professor e consequentemente, repensar o que se entende por Ensino e Educação. É o que será visto no próximo capítulo.
3 - O ENSINO, A EDUCAÇÃO E O PAPEL DO PROFESSOR 
Conforme se pode observar o estabelecimento de conteúdos da História da Filosofia como eixo principal para o Ensino de Filosofia a encerrou na categoria de mais uma disciplina dentre outras a ser inserida no currículo escolar. A perspectiva histórica, embora importante não basta para caracterizar a Filosofia, ou seja, não é suficiente para que o aluno ponha seu filosofar em curso. Assim, esse capítulo tentará mostrar a importância de reconsiderar as orientações pedagógicas que envolvem o Ensino de Filosofia propondo algumas reflexões sobre a Educação, o Ensino e o papel do professor o qual, influencia diretamente as dificuldades enfrentadas em sala de aula. Sob essas reflexões poderá ser observado a necessidade de repensar a metodologia aplicada no Ensino de Filosofia e a proposta de uma abordagem mais aberta que priorize os conceitos, ou seja, os grandes problemas filosóficos.
A primeira dificuldade que se apresenta com relação a educação e o papel do professor é que muitos entendem que aquela não seja de sua alçada. Que se trata de uma responsabilidade voltada à família e que, portanto, caberia ao professor apenas ensinar aquilo que estabelece o conteúdo curricular. Como se ensinar fosse algo distinto da prática educativa e os conteúdos propostos pela escola tivessem nada a ver com a vida real do aluno. Entendem assim, que o “Ensino”, se basta na tentativa de transmitir algum conhecimento.
Conforme Jaeger “a educação não é propriedade individual, ao contrário, é essencialmente comunitária” (JAEGER, 1936, p. 3), pois compõe-se de experiências individuas e coletivas construídas no espaço e no tempo. Assim, a educação não escapa a uma realidade que a cerca e define. É nesse sentido, que “o caráter da comunidade já é sempre impressono indivíduo” (JAEGER, 1936, p. 3), portanto, faz parte de sua constituição de tal forma que a ação pedagógica não deve reduzir-se e tampouco fundamentar-se em mera transmissão de conhecimentos, mas antes, necessita necessariamente, refletir a “ação” de ensinar. 
Por esse motivo a posição do professor que afirma não ser sua a responsabilidade educar, consiste tão somente numa atitude esquiva e cômoda de quem não quer muito trabalho.
Ensinar, por sua vez, significa marcar, em-signar, do latim insignare, “colocar um signo, um exemplo que possa ser seguido” (KOHAN, 2002, p. 178), ou seja, trata-se de gravar nas gerações próximas tudo que significa “ser” dentro da realidade que se apresenta. Do universo que o circunda. 
Portanto, Ensinar não significa apenas marcar os alunos com alguns conhecimentos. Antes, ensina-se aos filhos, religião, saberes, tradição, valor, ou seja, o ato de ensinar estabelece a seu tempo tudo que compõe a vida interior e exterior do indivíduo. Sua concepção de sagrado, sua relação com o mistério, sua sensibilidade, seu trabalho, sua construção de família, o que pode e o que não pode e mais ainda, o que deve e o que não deve ser feito. Ou seja, ensinar constitui parte essencial da educação que, ainda segundo Jaeger, “é o princípio pelo qual a comunidade humana conserva e transmite seus saberes, seu modo de vida, sua visão de mundo, tanto física como espiritual” (JAEGER, 1936, p.3).
Portanto, o Ensino compõe parte fundamental da Educação e a Educação, por sua vez, constitui-se no local de partilha e re-significação das experiências das gerações anteriores, proporcionando uma base para a interpretação da realidade presente e para a formação de uma consciência partilhada pela qual se produzirá uma sensação de pertença: de comunidade. 
Assim, ensinar distingue-se de educar, mas na prática, são atitudes que se complementam, ou seja, não se ensina sem educar nem se educa sem ensinar.
Para Jaeger:
A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior quanto na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valores que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pelos valores válidos para cada sociedade (JAEGER,1936, p. 4).
Dito isto, é indiscutível a importância delegada ao papel de professor. Nesse sentido, o verdadeiro professor tem a responsabilidade de ensinar, de produzir uma marca no aluno e, portanto, de educar. 
Por esse motivo sua profissão não se trata de mais uma entre outras, de uma arte formal com um conjunto de teorias, tal como insinua algumas leituras da pedagogia moderna. Trata-se antes, de uma profissão que fundamentalmente é corresponsável pelo processo de estruturação histórica, objetiva e subjetiva, do homem. 
Assim, deve-se ter em mente que a verdadeira educação requer progresso, desenvolvimento, criatividade e imaginação. Deve inspirar responsabilidade e autonomia. Principalmente levando em consideração a série dificuldades que se apresentam a atual realidade escolar. Conforme Leonardo Boff alerta, “os velhos mitos estão agonizantes e os novos não possuem ainda força suficiente para gestar um novo ethos cultural” (BOFF, 1990, p. 20).[3: Leonardo Boff (1938) é doutor em filosofia e teologia, professor e escritor brasileiro. (BOFF, L., 1990.]
Essa perspectiva considera que a relação do homem com o outro e com a natureza está cada vez mais objetivada, especializada, técnica e por fim, embrutecida, ou seja, que a sensibilidade humana perdeu muito espaço para a razão cientifica, o utilitarismo e o ideal de mercado e tudo isso não escapa a realidade escolar. 
Para Bauman, por exemplo:
O “relacionamento puro”, tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se entra “pelo que cada um pode ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma, satisfações suficientes para permanecerem na relação” (BAUMAN, 2009, p. 111).
Tais dificuldades impõem que a escola busque refletir a sociedade e seus problemas. Até porque, ela não se constitui num espaço a parte da vida do aluno ou da comunidade devendo, portanto, pensar os problemas sociais que a atingem, como por exemplo, o aumento da violência que mais do que nunca, invade todos os espaços, inclusive o da escola.
Em relação a violência, diz Groppa:
Os educadores quase sempre acabam padecendo de uma espécie de sentimento de “mãos atadas” quando confrontados com situações atípicas em relação ao plácido ideário pedagógico. Entretanto, o cotidiano escolar é pródigo em eventos alheios a esse ideário-padrão (GROPPA, 1998, p. 9).[4: Nas notas das observações que estão anexadas ao final deste trabalho, poderão ser encontrados alguns exemplos dessa dificuldade. ]
Outro aspecto importante dos problemas que orbitam a Educação hodierna é a insatisfação crescente em relação a ineficiência escolar e o analfabetismo funcional. Nesse sentido, deve-se ter em mente que os alunos (assim como o professor) não são os ideais. Antes, são de “carne e osso”, ou seja, são pessoas, cada qual, com suas dificuldades e características e principalmente, com uma vivencia particular, mas que a formalização, excessivamente ideal, das estruturas que compõem a educação nacional parecem ignorar.
A importância do professor e da escola é indiscutível, mas importa ainda que seus papeis sejam repensados e que considerem a escola como parte essencial da “vida” do aluno. Um espaço vivo, ou melhor, um espaço no qual se estabelecem relações entre sujeitos que compartilham experiências de ensino e aprendizado e, portanto, num local privilegiado para o diálogo aos moldes dos diálogos Socráticos, cujas característica, vão além de qualquer adequação a um conjunto de normas e que perpassa a construção conjunta de ideias e valores.
Conforme Jaeger:
A estrutura de toda a sociedade se assenta nas leis e normas escritas e não escritas que a une e unem os seus membros. Toda educação é assim o resultado da consciência viva duma norma que rege uma sociedade humana (JAEGER, 1936, p. 4).
Assim, deve-se considerar a escola sob um aspecto mais amplo, que ultrapassa a simples função de retirar as crianças das ruas e criar indivíduos socialmente úteis, mas cuja proposta, seja mais humanizadora, promovendo cultura, arte e saber e por isso urge a necessidade de reconsiderar que o velho modelo “panótico” ainda presente no eidos escolar, evidentemente ultrapassado e insuficiente como proposta efetivamente educadora pois imprimem, tão somente, um adestramento no espírito humano que acarreta no seu empobrecimento e consequentemente, numa timidez mórbida.[5: Segundo Foucault o modelo panótico é caraterística de espaços onde se prioriza controle e vigilância e pode ser visto nas escolas, prisões e sanatórios. ]
Portanto, buscar modelos de escola que ultrapassem concepções tradicionais situadas como um espaço de homogeneização do pensamento deve imperar para que os ideais pedagógicos não se transformam em utopias na prática. Em teorias belas, mas distantes da realidade pois é justamente nesse sentido que os parâmetros curriculares nacionais, acabam sendo tomados por propostas idealistas. Ou seja, não pela impossibilidade de serem aplicadas, mas pela impossibilidade de serem aplicadas ante os atuais modelos escolares, os quais, estabelecem uma distância cada vez maior daquilo a que propõe em suas linhas, como por exemplo, no disposto no artigo 35 da LDB, que acentua a busca pelo “aprimoramento da pessoa humana”. [6: Art. 35, § III: o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;]
Sob essa perspectiva, até mesmo as propostas de inclusão, na prática, sequer trabalham a “diferença” como algo a ser valorizado e pensado a partir de sua singularidade, mas como algo a ser forçadamente integrado e aceito e que por isso, acarreta no aumentoda rejeição e do preconceito envolvidos. Até mesmo entre os profissionais educadores, pois na prática o que acontece e tão somente a reprodução do modelo “disciplinar”. Que faz da escola, espaço de “normalização” e “adestramento”, conforme acentua M. Foucault em “Vigiar e Punir”, obra publicada em português em 1987.
Portanto, os ideais teóricos se reduzem em uma prática que nivela a diferença no seu padrão mais baixo e que, por isso, não dá conta de promover o desenvolvimento humano e a auto superação das pessoas. Tampouco, de efetivamente capacitá-las a assumir sua tarefa de ser no mundo, com responsabilidade e consciência.
Isto posto, o professor poderia se perguntar o que ele tem a ver com isso ou será que não se está dando importância demais ao professor e por consequência, à escola?
 Conforme lembra, o professor Kohan :[7: Walter Omar Kohan é professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Pro ciência da (UERJ/FAPERJ). Fonte: Plataforma Lattes. Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4769490U1. Acesso em maio de 2016.]
Há somente uma forma de emancipar e essa forma não pode sustentar-se em nenhuma instituição social. Disse Rancière: “jamais um partido, um governo, um exército, uma escola ou uma instituição emanciparão a alguém”. A emancipação intelectual não pode instituir-se, mas sim, ser aplicada (KOHAN, 2002, p.191).
Então, deve-se ter em mente ainda que, por melhor que seja a escola, não será ela a libertadora das massas e tampouco o professor um herói salvador das consciências humanas, mas isso não o isenta de buscar que o aluno conquiste sua autonomia por si mesmo. De buscar inspirá-lo.
Cabe ao professor, especialmente o de Filosofia, propor diferentes perspectivas sobre um certo problema, pois ser responsável, significa ser participativo da própria realidade, e se isso deve valer para o aluno, também vale para o professor. Enfim, vale para a sociedade como um todo, de tal forma que ninguém está isento da responsabilidade promover reflexão e educar. 
Por isso é importante que o professor de Filosofia trabalhe de forma a “provocar” o aluno. Que busque inspirá-lo à tomar para si, as rédeas de sua própria vida deixando claro que “cidadania” significa muito mais que apenas vestir a camiseta da seleção. Cabe a este professor, cultivar no espírito humano aquela inquietação que lhe é tão peculiar e que confronta diretamente qualquer pensamento conformista, mostrando que esse tipo de atitude acaba por encerrar uma passividade nociva ante a vida, ainda que seja válida como expressão de liberdade. 
O professor de Filosofia deve promover atitude, coragem e disposição para com o saber, ou seja, deve focar em uma Educação construtora, ou como Kant diria, “iluminadora”, voltada a construção de sua “maioridade”. Ele é indubitavelmente um educador nato cuja tarefa, o envolve diretamente na promoção do esclarecimento lembrando que, embora a cultura hodierna seja marcada pela grande quantidade e facilidade de acesso à informação isso basta para tornar-se esclarecido.
Para Savater:
[...] a filosofia é incompatível com as notícias, e a informação é feita de notícias. Muito bem, mas é só informação que buscamos para entendermos melhor a nós mesmos e o que nos rodeia? (SAVATER, 2001, p. 4)
Assim, a simples transmissão de conteúdos não basta para formar o aluno. Antes, serve simplesmente como base para propor perspectivas diversas. Principalmente, considerando o atual paradigma cultural e social marcado pela rápida e intensa transformação. 
Um exemplo disso é o espantoso progresso tecnológico alcançado nos últimos cem anos que, embora tenha levado a humanidade à lugares e possibilidades antes inatingíveis, não foi e nem é capaz de dar conta de problemas propriamente humanos. Um dos motivos pelos quais se atravessa uma crise de valores e de instituições tal como situa o professor Muhd:[8: Agueda Silvia Assunção Muhd é mestre em Filosofia e professor pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Fonte: Plataforma Lattes. Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4784346D3. Acesso: maio/2016.]
Neste momento, vivenciamos uma situação histórica ímpar, em que é-nos permitido pensar, conscientizar-nos de nossa condição humana e, consequentemente, entendermos que a liberdade, a criatividade e a responsabilidade devem fazer parte do processo de reconstrução de um sujeito que, ao longo da história, foi fragmentado (MUHD, 2002, p. 235).
Crise, no entanto, não significa algo negativo, antes, é justamente o próprio sinal de mudança, ou seja, que novos modelos de pensamento e de vida estão se impondo e agravando a necessidade de se repensar os modelos tradicionais. Fato que não escapa aos profissionais da Educação pois de acordo com Jaeger:
A estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade de qualquer ação educativa. Acontece isso quando a tradição e violentamente destruída ou sofre decadência interna. Sem embargo a estabilidade não é indício seguro de saúde, porque reina também nos casos de rigidez senil, nos momentos finais duma cultura (JAEGER, 1936, p.4). 
Trata-se portanto, de entender que há uma transição paradigmática em movimento na qual é difícil saber exatamente aonde se vai chegar, mas se a sociedade pretende que essas mudanças caminhem em direção a alvos positivos, a educação deve ser atuante nesse processo. Deve agir com o propósito do amadurecimento e da preparação do homem para o enfrentamento das vicissitudes que permeiam a sua própria existência e nesse sentido, o professor, especialmente o de Filosofia, deve instigar o jovem a refletir conceitualmente sua realidade. Sua condição humana. 
Obviamente isso não fará do aluno um ser autônomo, livre. Não será o professor o libertador das massas, pois tal como o professor Kohan lembra: “Podemos anunciar a emancipação, mas não outorgá-la: a emancipação não é algo que se dá, senão que se toma” (KOHAN, 2002, p. 191). 
Ainda assim, cabe ao professor uma atitude engajada para a especificidade de sua profissão. Ele propor antes de qualquer coisa, a inquietação e a dúvida do aluno. Algumas fórmulas e soluções, mas nunca respostas definitivas. É isso que irá preparar o jovem para uma vida ativa e inspiradora que vai além do espaço e do tempo escolar, ou seja, que irá acompanhá-lo aonde quer ele que vá assumindo por conta própria a aventura de sua vida pois de acordo com Savater: 
Mais importante do que estabelecer conhecimentos é ser capaz de criticar o que conhecemos mal ou não conhecemos, embora acreditemos conhecê-lo: antes de saber por que afirma o que afirma, o filósofo deve saber pelo menos por que dúvida do que os outros afirmam ou por que não se decide a afirmar por sua vez. E essa função negativa, defensiva, crítica, já tem um valor em si mesma mesmo que não se vá além disso e mesmo que no mundo dos que não acreditam que sabem o filósofo seja o único que aceita não saber mas pelo menos conhece sua ignorância (SAVATER, 2001, p. 12).
Essa compreensão sobre o papel da Filosofia delega grande responsabilidade ao professor de Filosofia e sua tarefa, lembrando que ensinar não se afasta do papel de educar o que, necessariamente, pressupõe engajamento pessoal. A humildade da entrega de si, por parte do professor. 
Algo desejável não apenas em relação ao professor de Filosofia, mas a cada um dos atores envolvidos com a Educação e é por isso a ordem institucional e estrutural sejam passíveis de mudança e que as propostas pedagógicas sejam fundamentadas cada vez mais na prática priorizando o desenvolvimento da pessoa em contexto abrangente e que, principalmente, não deixe de focar também na valorização do professor tanto quanto, na do aluno, pois um não é sem o outro, devendo ser buscadas maneiras de reaproximar o professorde seu verdadeiro compromisso. O que faz com que tais considerações devam alcançar a esfera política. Esta é muito responsável pelo grande abatimento dessa classe cada vez mais desmotivada e insegura.
A esfera política parece reduzir o professor a mero instrumento pedagógico o aluno à objeto do professor esquecendo que se tratam de pessoas.
Para Muhd:
A preocupação com o aspecto valorativo, fundamental para a construção existencial subjetiva, é também de responsabilidade da educação. Isto pode ser afirmado porque, direta ou indiretamente, a sociedade, de fato, e sua estrutura organizacional, esperam que a educação oriente o processo de aquisição ou construção de valores (MUHD, 2002, p. 236).
Portanto, sem considerar os dois lados dessa moeda, da relação entre professor e aluno, não será possível promover a disposição para o ensino e nem para o aprendizado. Todos devem ser inspirados na busca do saber e isso jamais se constituiu em via de mão única.
O que até então fora visto propõe que a educação e o ensino se constituem em ações distintas, mas complementares, de forma que se pode afirmar que um não é sem o outro. Além disso é indispensável pensar e repensar o papel do professor nesse processo, pois ele é um educador nato, especialmente o professor de Filosofia. Considerou-se ainda que a esfera política deva buscar a valorização do aluno sem esquecer do professor, avaliando as causas de sua desmotivação, pois o engajamento pessoal desse profissional é essencial ao processo educativo. Nesse sentido foram abordadas algumas reflexões sobre o significado de ensinar e educar especialmente em relação à Filosofia no âmbito das escolas. O esforço seguinte será o de aprofundar as reflexões em torno da especificidade da Filosofia.
4 - DESPERTANDO O INTERESSE PELA FILOSOFIA 
Conforme observou-se anteriormente, a Filosofia é de enorme importância ao processo educativo por constitui-se em uma prática essencialmente reflexiva, crítica e, portanto, necessária ao desenvolvimento humano. Sob esse aspecto a Filosofia é mais que um conjunto de saberes, mas antes, é uma característica propriamente humana e por esse motivo destaca-se o papel do professor e a necessidade de uma abordagem mais conceitual da Filosofia nas escolas. Segue que a proposta final deste artigo será a de aprofundar essas reflexões em relação a algumas especificidades da Filosofia e sua relevância em ser introduzida no currículo do Ensino Médio. 
O homem não é um ser marcado por uma natureza própria como os demais. Antes ele faz a si mesmo e por isso não se conforma simplesmente à realidade, mas busca respostas ante a angústia de sua finitude, o medo e o encanto perante o mundo e a vida. Sente, portanto, a necessidade de significar a realidade que o cerca e na sua perplexidade ele intui representações do mundo, forma discursos. Interpreta suas relações, antagonismos e paradoxos. Constrói visões, cria cultura, civilização enfim, é da natureza humana um certo descontentamento, uma inquietação e por isso ele sente sempre a necessidade de buscar respostas aos mais diversos temas que perpassam a condição de “ser” do homem, sobre o universo, a verdade e a justiça, ou seja, ele busca incansavelmente um sentido para a vida. Assim, a Filosofia acaba por encerrar em seu bojo, essa gama de inquietações que estiveram sempre presentes em sua construção histórica e que por isso, é tão inspiradora de ideias, entendimentos e saberes proporcionando uma forma mais rica de abarcar as experiências cotidianas. Tal, é o sabor da Filosofia, seu propósito e função. 
Trata-se de algo inerente ao próprio ato de pensar e ser, ou seja: 
Ao homem não basta fazer parte da realidade: ele precisa também saber que está em um mundo e se pergunta imediatamente como será esse mundo em que não só habita, mas do qual também faz parte. Pois em certo sentido esse mundo me pertence (é meu mundo) mas também eu lhe pertenço, a espécie humana inteira lhe pertence e brotou dele como qualquer outro de seus componentes. O que é um "mundo"? Um entorno de sentido, um contexto dentro do qual tudo mantém uma certa relação e é relevante de modo explicável (SAVATER, 2001, p. 85).
Por isso a ação educativa não pode dispor da Filosofia. Ela é imprescindível ao processo de formação humana, situando o aluno no passo de refletir o conhecimento dado por outras disciplinas. 
Conforme Savater:
A ciência multiplica as perspectivas e as áreas de conhecimento, ou seja, ela fragmenta e especializa o saber; a Filosofia se empenha em relacioná-lo com tudo o mais, tentando enquadrar os saberes em um panorama teórico que sobrevoe a diversidade a partir dessa aventura unitária que é pensar, ou seja, ser humano (SAVATER, 2001, p.7).
Contudo, há praticamente um século, as escolas vêm destinando seus recursos cada vez mais a pesquisa e produção do conhecimento científico e cada vez menos às produções do espírito humano como a música, a Filosofia ou as artes desconsiderando que limitar as produções do espírito é o mesmo que limitar as capacidades de sua emancipação.
Nesse sentido, importa que a Filosofia não seja relegada à um papel meramente histórico pois: 
O afecto da Filosofia é criar conceitos, esse é seu desejo que age no tempo e contra o tempo, tal um intempestivo. É sempre disso que a Filosofia tratou, da criação de conceitos, dizem os autores da diferença. Noutros tempos, os gregos e, também, os romanos estudavam por simples prazer, para adornar o espírito e se instruir nas belas artes. Hoje, é comum o entendimento de que o estudo e a escola têm por função a adaptação a sociedade e à cultura (CUNHA, 2011, p. 35).
A escola, por sua vez, voltou-se para a fundamentação da técnica e a fragmentação do conhecimento, comprometida por um lado, com as demandas produzidas pela lógica do mercado e por outro, com a manutenção do sistema social e político vigente, acarretando num certo afastamento da vida real, como ocorre por exemplo, quando um professor de biologia, ao discorrer sobre a estrutura de uma certa planta, sabe tudo que deveria saber sobre ela, enche o quadro de desenhos, mas não é capaz de identifica-la no jardim ao lado. A mesma coisa ocorre com a Filosofia institucionalizada. 
Segundo a professora Cunha:
A filosofia tradicional tem se mantida apartada de interpretar uma realidade que se mostra cada vez mais indiscernível a olho nu, refugiada na lógica, na teoria sobre os sistemas, nas teorias epistemológicas, etc. (CUNHA, 2011, p. 19).
Assim, é evidente a importância de se buscar não somente a inserção como aprimoramento da Filosofia aplicada nas escolas. Ela deve-se considerar os problemas contemporâneos resultantes desse mundo densamente informatizado e trabalhar uma educação que se volte ao propósito de significar a vida, até porque, informação sem reflexão é fria e pobre. 
Segundo Savater: 
[...] não queremos mais informações sobre o que acontece, mas saber o que significa a informação que temos, como devemos interpretá-la e relacioná-la com outras informações anteriores ou simultâneas, o que implica tudo isso na consideração geral da realidade em que vivemos, como podemos ou devemos nos comportar na situação assim estabelecida. Essas são precisamente as perguntas das quais se ocupa o que vamos chamar de filosofia (SAVATER, 2001, p.5).
Assim, o professor de Filosofia necessita situar o aluno no mundo em que vive buscando que ele reflita sua condição, seus valores e os ideais que atuam direta e indiretamente no seu modo de ser. Especialmente em se tratando do jovem que frequenta o Ensino Médio pois ele é naturalmente um “bicho curioso”.
Nesse sentido, o professor de Filosofia:
Apresenta teorias e, mesmo sem querer ser uma luz sobre a verdade, insiste em seu atrevimento discursivo, na aquisição de novos modos, formas e imagens para tornar inteligível sua a filosofia. Fala do novo através da resistência ao velho, fugindo ao encontro com o inatual, diz do plausível em discursos alheios. Nisso tem feito uma filosofia, uma filosofia contrabando, desterro,cópia, plágio. Ideias postas, propostas e sobrepostas, interpretação e imagem que perfazem em entrelaçamentos um comum exercício de Filosofia (CUNHA, 2011, p. 33).
Mas se é tarefa do professor promover o ser filosófico no aluno, ensiná-los caminhos em direção ao filosofar, impõe-se a pergunta sobre se a Filosofia pode ser ou não aprendida? 
De acordo com Gallo:
Estou, pois, convencido que é possível ensinar filosofia e aprender filosofia. Que é possível socializar esse exercício de solidão (GALLO, 2002, p. 194).
Contudo:
Se ao ensinarmos Filosofia, nos limitarmos a expor figuras e momentos da história da filosofia [...] estaremos contribuindo para afirmar a Filosofia como peça (ou peças) de museu, como algo que se contempla, se admira, mas se vê a distância, como algo intangível para nós (GALLO, 2002, p. 198).
Ainda assim, mesmo afirmando que a Filosofia pode ser ensinada e aprendida não se pode concluir com isso que existe uma fórmula certa ou que basta se dispor a ensina-la e de certo será aprendida. Ainda citando Galo, “ensinar é como lançar sementes que não sambemos se irão germinar ou não…” (SAVATER, 2001, p.200). Assim, seria uma ilusão crer que se pode dominar completamente o processo de ensino e aprendizado, especialmente em Filosofia, da mesma forma que não é possível afirmar que exista um método milagroso para ensinar e isso não é novidade para qualquer professor experiente. Pode ser que uma aula, por mais adequada que possa parecer, funcione ou não e, no caso da Filosofia, essa afirmação é mais evidente ainda. 
Para a professora Cunha:
O estar estudante é um padecimento que interpela alguém, uma patologia que pode ou não vir do estudo formal. Tal a diluição do afecctio no affetus, é um estado de caverna de sobre a pele, de dobras de territórios desterritorializado, aberta em entranhas que vazam. No vazar das incertezas e dos estranhamentos pontes dão conta de um transbordar que é transformador e reparador (CUNHA, 2011, p. 66). 
Há, portanto, uma forte dose de incerteza no processo educativo que reduz a pretensão de ciência, da pedagogia, a apenas uma maneira de tranquilizar a consciência dos professores, oferecendo diversos métodos para se ensinar tal como Gallo assinala: “O aprendizado não pode ser circunscrito nos limites de uma aula, da audição de uma conferência, da leitura de um livro; ele ultrapassa todos essas fronteiras” (GALLO, 2001, p. 202).
Portanto, evidencia-se a incerteza presente na relação entre o Ensino e o Aprendizado de forma que, qualquer que seja o método, principalmente em relação a Filosofia, não se consegue dar conta de sua especificidade.
Assim, para a Filosofia não há uma forma específica de forma que, ao invés de se falar em método para a Filosofia, deva-se antes, falar em métodos. Nesse sentido, o filósofo é tão somente o sujeito da caverna convidando os demais a investir nessa aventura. A aventura da Filosofia.
De acordo com Savater:
Nenhuma resposta filosófica será válida para ele se não voltar a percorrer por si mesmo o caminho traçado por seus antecessores ou tentar outro novo apoiado nessas perspectivas alheias que deverá ter considerado pessoalmente. Em suma, o itinerário filosófico tem que ser pensado individualmente por cada um, mesmo que parta de uma tradição intelectual muito rica (SAVATER, 2001, p. 10).
Entende-se com isso que há algo específico na Filosofia que faz a Filosofia ser Filosofia e não outra coisa a tal ponto que nenhum método pode abarcá-la. Principalmente se ela for considerada simplesmente como outra matéria do currículo. 
O próprio ato de chamar a Filosofia de “disciplina” soa algo estranho, ainda que essa caracterização resulte, tão somente, da necessidade de incluí-la no âmbito das disposições legais que regem as diretrizes curriculares, ou seja, da necessidade de fazer oposição à aqueles que pretendem que a Filosofia seja ensinada de modo transversal à outras disciplinas, o que, efetivamente, resultaria na sua exclusão, pois, se incluída no currículo na qualidade de uma disciplina obrigatória, a Filosofia, propriamente dita, já fica em segundo plano, como poderia ser aplicada de modo transversal? È por isso que mesmo hoje, é possível encontrar professores de história ou sociologia aplicando aula de Filosofia.
A Filosofia necessita, portanto, de tratamento específico ou corre-se o risco de engessá-la, de diminuí-la ou mesmo de descaracterizá-la tal como acontece quando as determinações das OCN’s são interpretadas burocraticamente. 
Mas então o que faz a filosofia ser filosofia?
De acordo com o que foi anteriormente mencionado, o que caracteriza a Filosofia é justamente esse posicionar-se com relação aos mais diversos temas problematizando-os conceitualmente. A Filosofia está justamente nesse movimento provocado pela inquietude e insatisfação para com aquilo que já está dado: pronto e, que se constitui noutra grande dificuldade do professor que pretenda ensinar Filosofia. 
Citando novamente Cunha: 
Pobres professoras envolvidas com a Filosofia, com sua permanente crise, tentando equilibrar o voo dos conceitos nos planos que traçam! Avizinham conceitos e logo eles criam uma ponte onde novos conceitos se insinuam como um problema (CUNHA, 2011, p.48).
Assim, mesmo em se tratando da Filosofia verdadeira, a Filosofia dos conceitos, entende-se que estes não devam servir como peça de uma coleção. Mas que se tratem de peças a serem montadas e remontadas para, quem sabe, produzir algo novo. Algo que surja também da experiência particular de cada um, pois toda vez que alguém retoma o pensamento de algum filósofo, sempre o faz a partir de seu mundo. De uma perspectiva própria e singular graças a sua própria construção histórica. Por esse motivo a Filosofia mais original, também tem por característica, ser atemporal. 
Ainda conforme Cunha:
[...] a criação do conceito não se fixa à posse de um interprete, de um inventor, ainda que dependa dele para seu aparecimento. O conceito ficciona algo da realidade que diz do vivido. Tal ficção por vezes é tão bem disposta que promove certa atemporalidade na encarnação do conceito (CUNHA, 2011, p. 35).
Cabe, então, ao professor de Filosofia, estabelecer uma relação com a própria Filosofia e incluir nessa relação os seus alunos. Qualquer proposta que não inclua essa atitude não passará de ideologia e não corresponde necessariamente em Filosofia.
Conclui-se, portanto, que as colocações dispostas até aqui buscaram refletir sobre o ato de filosofar e sua possibilidade de ser aplicada em sala de aula assim como sobre a necessidade do comprometimento do professor e em estabelecer uma ação educativa que envolva a especificidade da própria Filosofia. Nesse sentido, entende-se que não há um método específico para ensinar Filosofia, tampouco, a certeza de seu aprendizado e que, por isso, cabe ao professor orientar seus alunos a refletir sua realidade. Instigá-lo na sua curiosidade e inquietação para quem sabe, ele possa ser contaminado pela Filosofia, algo que só será possível alterando a sua abordagem para uma que priorize a criação de conceitos e os temas que refletem a própria perplexidade de ser do homem, significando e adaptando tais reflexões à sua própria condição. Assim, não apenas é de extrema relevância aos jovens mais jovens como é óbvio que eles são totalmente capazes de fazê-lo. 
Assim, entende-se que a Filosofia tem uma característica própria e embora possa ser ensinada e aprendida, não tem um método específico. Além disso é imprescindível no Ensino Médio dada sua importância.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme se pode observar durante o desenvolvimento desse artigo, alguns elementos centrais podem ser retomados.
Observou-se que há um problema que envolve a prática do ensino de Filosofia no contexto das escolas brasileiras nos dias de hoje devido ao fato de haver uma orientação formal em tratar a Filosofia a partir de seu conteúdo histórico relegando a abordagem conceitual ao segundo plano. Que essa orientação prevista nas OCN’s, não se traduzverdadeiramente em Filosofia no seu sentido mais original, voltado a atitude reflexiva na construção e desconstrução de conceitos e, embora delegue alguma liberdade ao professor e as escolas quanto ao método, a obrigatoriedade formal de conteúdos recai em uma prática que reduza a Filosofia à sua tradição, devido, dentre outras coisas, necessidade de adequação aos aspectos burocráticos, limitação de horas-aula, de estrutura e de ordem pessoal. Tudo isso contribui para que a Filosofia aplicada no Ensino Médio não seja propriamente Filosofia, mas tão somente História da Filosofia. 
Observou-se também que há uma dificuldade de motivação em relação aos professores e que esses acabam separando Educação de Ensino e nesse sentido, fez-se necessário refletir o que significa ensinar e educar propondo que, embora se tratem de conceitos distintos, são inseparáveis e que por esse motivo, o trabalho de professor traz em seu bojo, uma responsabilidade para com a prática educativa. Principalmente em se tratando do professor de Filosofia. 
Foram elencadas ainda, algumas dificuldades próprias que caracterizam a sociedade hodierna evidenciando que o professor e a escola não se isentam de responsabilidade educativa e que além disso há uma enorme importância em se trabalhar a Filosofia nas escolas devido sua capacidade de desenvolver o senso crítico e promover uma formação mais humanitária, voltada a construção da liberdade e a autonomia do aluno.
Seguindo nessa linha de pensamento, observou-se ainda que, embora a perspectiva histórica seja de grande importância, em relação ao Ensino de Filosofia, ela é insuficiente para caracteriza-la, e muito menos para que o aluno ponha seu filosofar em curso e, portanto, que há a necessidade de que o aluno reflita os temas filosóficos vinculando-os com a sua realidade. Que a Filosofia seja tratada conceitualmente.
Demonstrou-se ainda, que essa consideração subentende a entrega do professor e a importância de reconsiderar as orientações pedagógicas que envolvem o Ensino da Filosofia e mais ainda, que existe a necessidade de que as políticas públicas busquem a valorização do professor tanto quanto do aluno.
Assim, foi estabelecida a importância da Filosofia ao processo educativo concluindo que há algo na Filosofia que a faz ser Filosofia e que, por esse motivo, necessita ser trabalhada de modo singular, muito embora não se encaixe em nenhum método específico.
Doutra feita, também se estabeleceu que a Filosofia é de extrema relevância ao Ensino Médio desde que em sua abordagem, o professor busque situar o aluno em sua realidade promovendo reflexão e senso crítico, ou seja, estimulando experiências geradoras do pensar e assim, conclui-se que os objetivos propostos foram alcançados.
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