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Unidade V – Transporte (CC, Arts. 730 a 756) 5.1 - Conceito. Origens. É O negócio pelo qual um sujeito se obriga, mediante remuneração, a entregar coisa em outro local ou a percorrer um itinerário para uma pessoa. CC, Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. 5.1.1 – Evolução dos transportes Remonta, a gênese do contrato de transporte a uma época em que o ser humano atinge um determinado grau de relacionamento, fazendo nascer a necessidade de intercâmbio entre os povos, principalmente para fins comerciais, tornando-se necessário o translado de pessoas e coisas. Num primeiro momento, o transporte marítimo foi de suma importância para os povos da Grécia antiga, ao passo que regulou as normas de danos e avarias nos navios, bem como de descarto de objetos ao mar, no caso de perigo de naufrágio. Tratando-se de legislação pátria, somente com a entrada em vigor do Código Comercial, em 1850, é que surgiram as primeiras normas regulamentares expressas, sendo que, devido às condições existentes à época, tais normas tratavam do transporte muito sucintamente, tendo em vista o pequeno desenvolvimento do mesmo. O próprio Código Comercial apenas tratou dos condutores de gêneros e dos comissários de transportes, em seus art. 99 a 118. CCom, Art. 99 - Os barqueiros, tropeiros e quaisquer outros condutores de gêneros, ou comissários, que do seu transporte se encarregarem mediante uma comissão, frete ou aluguel, devem efetuar a sua entrega fielmente no tempo e no lugar do ajuste; e empregar toda a diligência e meios praticados pelas pessoas exatas no cumprimento dos seus deveres em casos semelhantes para que os mesmos gêneros se não deteriorem, fazendo para esse fim, por conta de quem pertencer, as despesas necessárias; e são responsáveis as partes pelas perdas e danos que, por malversação ou omissão sua, ou dos seus feitores, caixeiros ou outros quaisquer agentes resultarem. O código civil de 1916 foi silente acerca do tema sendo regulado no novel código civil de 2002, fazendo parte agora do rol dos contratos típicos. 5.1.2 – Transporte como meio acessório de se efetivar outros contratos Ponto importante que deve ser tratado quando se analisa o conceito do contrato de transporte é a sua diferenciação para as outras espécies de contratos que tragam o transporte como meio acessório para o seu cumprimento. A essência do contrato de transporte é o traslado de pessoas e bens, constituindo esse deslocamento o núcleo, a natureza jurídica do contrato. O deslocamento é o objetivo fim do contrato. Existem outras modalidades de contratos que se utilizam do transporte apenas como meio acessório para cumprimento de determinada obrigação. É o que se observa no contrato de compra e venda de determinado bem móvel, onde o vendedor se compromete a entregar o objeto na residência do comprador. Como exemplo temos a hipótese corriqueira da compra de um eletrodoméstico em determinada estabelecimento comercial, onde o vendedor se compromete a fazer a entrega do bem. Caso o objeto sofra algum dano ou avaria durante esse transporte, o vendedor será responsabilizado de acordo com as normas vigentes ao contrato de compra e venda, e não ao contrato de transporte, haja vista que trata-se daquela modalidade de contrato, sendo o transporte apenas um meio acessório para a sua execução. 5.1.3 - Transporte exercido por meio da autorização, concessão ou permissão. Tratando-se de transporte exercido por meio da autorização, concessão ou permissão, como a maioria o é, sendo regidos estes contratos pelos institutos do ramo do Direito Administrativo, o art. 731 do Código Civil dita que os mesmos serão regidos pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos: CC, Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto neste Código. COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA UNIÃO CF, Art. 21 – compete à União: XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; e) os sérvios de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DA MUNICIPALIDADE CF, Art. 30. Compete aos Municípios: V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; COMPETÊNCIA RESIDUAL DO ESTADO CF, Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. 5.1.4 – Aplicação subsidiária de normas. Pretendeu o legislador estabelecer regras gerais para o contrato de transporte sem, contudo, afastar outras normas contidas em diplomas especiais: CC, Art. 732. Aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as disposições deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções internacionais. LEI TEMA Lei Nº 11.442/07 Dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas por conta de terceiros e mediante remuneração. Lei Nº 9.611/98 Dispõe sobre o Transporte Multimodal de Cargas e dá outras providências. 5.1.5 – Transporte Cumulativo de pessoas e coisas. É o realizado por vários prestadores mediante um único bilhete e se considera único e executado como se fosse por uma única sociedade. Tendo em vista a obrigação de resultado que encarta o contrato de transporte, essa modalidade exige que todas as sociedades que participam do percurso contratado respondam solidariamente. CC, Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas. § 1º O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso. § 2º Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a responsabilidade solidária estender-se-á ao substituto. CC, Art. 756. No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores respondem solidariamente pelo dano causado perante o remetente, ressalvada a apuração final da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano. Acerca do transporte cumulativo temos brilhante escólio de Pontes de Miranda1: “Nos tempos modernos, com a maior quantidade de empresas, o transporte cumulativo de pessoas exerce função social da mais alta importância. Não é acertada a concepção do transporte cumulativo de pessoas ou de coisas como pluralidade de contratos, porque tal figura satisfaz o requisito da sucessividade de transportadores, porém não o da cumulatividade. No transporte cumulativo, há unicidade de contrato e pluralidade de transportadores. Não importa se o outorgante em nome próprio do contrato de transporte é uma só pessoa, ou se já muitos outorgantes em nome próprio (todos ou alguns dos transportadores). O que é essencial é que se devam ao freguês as sucessivas prestações de transporte.As relações jurídicas entre o outorgante em nome próprio ou os outorgantes em nome próprio e os demais transportadores é estranha à relação jurídica entre a pessoa transportanda ou o possuidor do bem ou dos bens transportandos e quem se vincula a prestar os sucessivos transportes, porque vinculados são todos”. 1 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado, T. XLV. Rio de Janeiro: Borsoi, 1964, p. 27. APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE. TRANSPORTE DE CARGA. AVARIAS EM CONTÊINER. TRANSPORTE CUMULATIVO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. Nos termos do artigo 756 do Código Civil, nos transportes cumulativos, respondem solidariamente pelos danos ocorridos no trajeto os transportadores, ressalvada a possibilidade de apuração final entre eles. No caso, portanto, imperiosa a manutenção da sentença, pois condenou a ré ao pagamento da indenização solidariamente à transportadora que estava de posse do contêiner no momento do sinistro. Ademais, estando a demandada com a posse do bem móvel da autora, responde pelo danos nele ocorridos. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº 70055004188, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 12/12/2013). 5.2 - Natureza jurídica. É contrato com princípios próprios com uma afinidade com o contrato de depósito que é palpável, tanto que o art. 751 do Código Civil estabelece que a coisa depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de contrato de transporte, reger-se-á, no que couber, pelas disposições relativas ao depósito. CC, Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-se, no que couber, pelas disposições relativas a depósito (CC, Arts. 627 a 652). 5.2.1 – Classificação. A) Bilateral ou Sinalagmático: Pois gera obrigações para ambas as partes, obrigação entre o transportador e o passageiro ou expedidor; B) Consensual: Porque se aperfeiçoa com simples acordo de vontades; C) Oneroso: Porque as partes buscam vantagens recíprocas, o destino para a coisa ou para o passageiro e preço para o transportador; Deve-se observar que para que se configure o contrato de transporte cujas regras gerais serão dadas pelos artigos 730 a 756 do Código Civil, há de ser obrigatória que o mesmo se faça mediante retribuição para o transportador, caso contrario estaríamos diante do transporte gratuito. Oportuno esclarecer que não há a necessidade de que o transporte seja feito apenas mediante pagamento em espécie. O próprio Código Civil, no parágrafo único do art. 736, considera como contrato oneroso os que, ainda que feito sem remuneração, tragam vantagens indiretas ao transportador. D) Típico: Porque previsto no atual Código Civil; E) De duração: Pois sua execução não se limita a um só ato ou instantaneamente, necessitando sempre de um lapso temporal para ser cumprido; F) Comutativo: Porque as partes conhecem as obrigações respectivas desde o início do contrato, não dependendo de evento futuro ou incerto, é um contrato por adesão, que se efetiva mediante condições uniformes e tarifas invariáveis; G) Não solene: Porque não depende de forma prescrita para ser concluído. 5.2.1 - Espécies. Divide-se em transporte de pessoas ou coisas. É conceito unitário, pois, ao final, o que se pretende é o transporte de um local para outro. O transportador deve preservar a integridade física do passageiro, reservando-lhe o espaço prometido, não se responsabilizando nos casos fortuitos e de força maior, como no de assalto a mão armado no interior de coletivo: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DO CONSUMIDOR - APLICAÇÃO DA LEI N. 8.078/90 (CDC) E DO DECRETO 2.681/1912 - RELAÇÃO CONSUMERISTA - CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS - ALEGAÇÃO DE VÍCIO DE SEGURANÇA - ROUBO À MÃO ARMADA COMETIDO NO INTERIOR DE ÔNIBUS - RESPONSABILIDADE OBJETIVA AFASTADA - DEVER DE INDENIZAR NÃO CARACERIZADO - ATO ILÍCITO E DANOS COMPROVADOS - NEXO DE CAUSALIDADE ROMPIDO PELA EXCLUDENTE DO CASO FORTUITO - PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - AFASTAMENTO DA SÚMULA N. 187 DO STF - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. O assalto à mão armada executado por agente que se faz passar por consumidor do serviço rodoviário, é acontecimento estranho ao contrato de transporte de pessoas. É dever da concessionária de transporte coletivo levar o consumidor ao seu destino com segurança, mas é ponderável que eventos externos possam influenciar na execução desta obrigação. (TJ-SC - AC: 261039 SC 2006.026103-9, Relator: José Volpato de Souza, Data de Julgamento: 30/09/2009, Quarta Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Apelação Cível n. , de Caçador). EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. PREQUESTIONAMENTO EXPLÍCITO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS. DESNECESSIDADE. MATÉRIA IMPUGNADA EXAMINADA. INVIÁVEL A ANÁLISE DE QUESTÃO CONSTITUCIONAL EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL (CF, ARTS. 102, III, E 105, III). RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. ROUBO DE PASSAGEIRO EM VEÍCULO DE TRANSPORTE COLETIVO. FORÇA MAIOR. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA TRANSPORTADORA INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] 5 - "Assalto ocorrido no interior de veículo coletivo constitui causa excludente de responsabilidade da empresa transportadora, por configurar fato inteiramente estranho ao transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior do coletivo" (STJ. REsp nº 435.865/RJ, Relator o Ministro Barros Monteiro, DJ de 12/5/03, Segunda Seção) (REsp 598248/RJ, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3ª Turma, julgado em 07/12/2004). Também deve garantir a integridade da coisa conferida á sua guarda para o deslocamento. 5.3 - Sujeitos. 5.3.1 – Transporte de Coisas A) Remetente, expedidor ou carregador – é quem entrega a coisa ao transportador para ser deslocada. B) Transportador ou condutor – é aquele que se obriga a entregar a coisa no seu destino. C) Destinatário ou consignatário - é a pessoa designada para receber a coisa. 5.3.2 – Transporte de pessoas A) Transportado – é aquele que adquire bilhete de transporte ou passagem para que o transportador o desloque para um ponto indicado. B) Transportador ou condutor – é aquele que se obriga a levar a pessoa até o seu destino. 5.4 - Objeto. O objeto do transporte de coisa é a mercadoria a ser deslocada. No transporte de passageiro, é o deslocamento deste para o ponto indicado. Qualquer que seja a modalidade de transporte de coisas, por trem, veículo automotor, aeronave ou embarcação, tem que ser levado em conta os seus requisitos específicos acerca do peso, dimensão e embalagem da coisa a ser transportada (CC, Art. 743), bem como a observância das normas emitidas pelos órgãos de regulação e fiscalização. CC, Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem como a que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens. CC, Art. 747. O transportador deverá obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou comercialização não sejam permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento. 5.5 - Frete. Também chamado de porte, o frete nada mais é do que o preço pago pelo transporte ao transportador. É um elemento essencial no contrato, porque o transporte gratuito deve ser considerado uma categoria a margem da regra geral. O princípio exceptio non adimpleti contractus (CC, Art. 476) diz que o transportador não precisa transportar algo se não for pago o frete, salvo se estipulado no contrato que o pagamento realizará no destino. 5.6 - Obrigações das partes. Vistoria e protesto. Responsabilidade do transportador. 5.6.1 – Obrigações do remetente: a) entregar a mercadoria, b) pagar o frete, salvo quando o encargo for do destinatário, c) acondicionar a mercadoria, sob pena de recusa (CC, Art. 746), d) declarar o valor e a natureza (CC, Art. 743). 5.6.2 – Obrigação do transportador: a) receber, transportar e entregar a coisa com diligência (CC, Art. 749), b) emitir conhecimento de transporte conforme a natureza do contrato (CC, Art. 744), c) seguir o itinerário ajustado, salvo impedimento por caso fortuito ou força maior (CC, Art. 753), d) aceitar variação de destino pelo destinatário, conforme condições ajustadas (CC, Art. 748), e) permitir o desembarque em trânsito da mercadoria a quem se apresente com o conhecimento (CC, Art. 754). 5.6.2.1 – Responsabilidade civil do transportador Diz o art. 734, do CC/02 que “o transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente de responsabilidade”. O transportador tem responsabilidade objetiva. Tem o transportador o dever de transportar incólume, pessoas e coisas, não havendo necessidade de comprovação de culpa do transportador, pois este só se exonera nos casos de caso fortuito e forca maior ou por culpa exclusiva da vítima. Não é possível no contrato de transporte cláusula de não indenizar. Conforme súmula 161 do STF: in verbis: “Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.” DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO TRANSPORTADOR. OCORRÊNCIA DE FORÇA MAIOR. EXCLUSÃO. AÇÃO DE REGRESSO DA SEGURADORA CONTRA O TRANSPORTADOR. INVIABILIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO- PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DAS SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. A responsabilidade do transportador é objetiva, nos termos do art. 750 do CC/2002, podendo ser elidida tão somente pela ocorrência de força maior ou fortuito externo, isto é, estranho à organização da atividade. [...] 3. No caso, o Tribunal de origem, com base na prova dos autos, concluiu que o naufrágio da embarcação e o extravio da mercadoria transportada se deu em virtude da ocorrência de caso fortuito, alheio à esfera de previsibilidade do comandante da embarcação. Alterar tal entendimento é inviável em recurso especial. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1285015 AM 2011/0238274-7, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Julgamento: 11/06/2013, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/06/2013). O art. 735, também do Código Civil, vem para reforçar a atribuição da responsabilidade objetiva ao transportador, ao afirmar que “a responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageira não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.”. Nesse aspecto, o legislador apenas trasladou para o Código Civil um entendimento já sumulado pelo STF em 13/12/1963, através de sua sumula n.º 187. Um exemplo clássico para essa situação é aquele em que um passageiro sofre danos materiais decorrente de um acidente com o ônibus que o transportava, acidente esse provocado por veículo de um terceiro que avançou o sinal fechado em seu sentido. Nesse caso, o passageiro recorre judicialmente à sociedade transportadora, cabendo a ela uma ação regressiva em face do motorista causador do acidente. Assim, está claro que o objetivo do legislador foi proteger o hipossuficiente da relação contratual. 5.7 - Transporte de pessoas. Já visto alhures à responsabilidade do transportador por danos e impossibilidade de exclusão de responsabilidade por cláusula contratual (CC, Arts. 734 e 735). Estipula o Art. 737 que: “O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior”. CONSUMIDOR. VÍCIO DO SERVIÇO. TRANSPORTE AÉREO. ATRASO DE VOO. CONEXÃO ATRASADA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. CDC. TRATAMENTO INADEQUADO AOS PASSAGEIROS. BAGAGEM ENTREGUE COM CINCO HORAS DE ATRASO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. 1. Houve atraso no vôo das autoras de Londrina/Campinas, o que resultou na realização corrida da conexão em Campinas/Porto Alegre, sendo que ao chegarem na capital, as autoras tiveram suas bagagens extraviadas temporariamente. 2. O extravio da bagagem é fato incontroverso, tanto que as autoras chegaram 24 horas após o previsto à sua cidade, em razão da espera pelas bagagens, que demorou em torno de 05 horas, depois de suas chegadas. Ademais, por residirem no interior do Estado do RS, não havendo muitos horários de ônibus, tiveram que pernoitar em Porto Alegre. 3. É dever das companhias aéreas transportar o passageiro e sua bagagem de modo incólume ao seu destino. Tal responsabilidade que se afigura objetiva, nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. 4. Configurada relação de consumo na qual prospera a inversão do ônus da prova, com fulcro no Código de Defesa do Consumidor - art. 6º, VIII. 5. Ausência de comprovação de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da parte autora. 6. Dano moral configurado diante do tempo de espera, o desgaste e de todos os transtornos que geraram profissionalmente às autoras, conforme prova testemunhal colhida (fls. 27/28). 7. Quantum indenizatório fixado em R$ 3.000,00, atendendo aos critérios da razoabilidade e proporcionalidade, bem assim aos parâmetros utilizados pela Turma para julgamentos símiles. Sentença confirmada pelos próprios fundamentos. RECURSO DESPROVIDO. (TJ-RS - Recurso Cível: 71004192837 RS , Relator: Luís Francisco Franco, Data de Julgamento: 08/08/2013, Terceira Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 12/08/2013). RESPONSABILIDADE CIVIL DANO MATERIAL E MORAL - Pretensão da autora de reforma da sentença que não reconheceu a responsabilidade ré, como empresa prestadora de serviços de transportes aéreos, pelos alegados danos morais e materiais sofridos Descabimento Hipótese em que a ré não tem responsabilidade pelo atraso do transporte terrestre, oferecido gratuitamente Perda do voo que não pode ser atribuída à ré Autora que chegou com atraso ao aeroporto - RECURSO DESPROVIDO. (TJ-SP - APL: 1549204020118260100 SP 0154920-40.2011.8.26.0100, Relator: Ana de Lourdes Coutinho Silva, Data de Julgamento: 08/02/2012, 13ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 08/02/2012). Por outro lado o consumidor do serviço deve se abster de práticas que tragam embaraços á prestação do mesmo, como vemos na dicção do art. 738 do CC: CC, Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço. Caso fique patente que o transportado teve prejuízos pelo descumprimento das normas ou instruções a indenização será calculada na medida em que o transportado tiver concorrido para o evento (CC, Art. 738).Como regra o transporte de pessoas é um serviço público, um direito constitucional do indivíduo de se locomover: CF, Art. 5º - XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; Por isso o transportador não poderá recusar passageiro salvo nos casos previstos em lei ou regulamento ou quando as condições de saúde ponha em risco os demais passageiros: CC, Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem. 5.7.1 - Transporte gratuito. O transporte desinteressado, feito por mera cortesia, não possui suas regras ditadas pelos contratos de transporte previsto nos art. 730 a 756. Determina a súmula 145 do STJ, que: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quanto incorrer em dolo ou culpa grave.” Nesses casos muda-se a figura da responsabilidade civil, passando-se a adotar a modalidade subjetiva, haja vista que o transportador somente será responsabilizado caso incorra em dolo ou culpa grave. Assim, o condutor de veículo somente será responsabilizado pelos danos causados a uma pessoa a qual dê carona, por exemplo, caso esteja em alta velocidade, caso em que restará comprovada a imprudência, uma das modalidades de culpa. Assim, em qualquer que seja a situação, o transportado deverá, além de comprovar o dano e a ação/omissão da agente causador, provar que o mesmo agiu com dolo ou culpa grave, para aí sim ter direito à reparação de seus danos. CASO SEM CULPA: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO ORDINÁRIA. TRANSPORTE DE CORTESIA (CARONA). 1. Tendo sido comprovado nos autos que o demandado Evandro Levis havia adquirido de Éderson Antonio Bordin a motocicleta envolvida no acidente de trânsito discutido no presente feito, em data anterior ao evento danoso, não há falar em responsabilidade dos sucessores de cujus pela reparação dos danos sofridos pela autora. 2. Ausente demonstração específica de dolo ou culpa grave do condutor da motocicleta, não há falar em sua condenação à reparação dos prejuízos invocados pela autora. Incidência da Súmula n. 145 do Egrégio STJ. 3. Não se preocupou a apelante em indicar as normas a respeito das quais pretendia manifestação expressa, mostrando-se inviável o acolhimento do pedido de prequestionamento. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70058343492, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mário Crespo Brum, Julgado em 10/04/2014). CASO COM CULPA: APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO ORDINÁRIA. 1. Os elementos de prova juntados aos autos indicam a culpa grave do demandado Amauri para o evento danoso, ao não adotar as medidas de cautela necessárias para trafegar em segurança pela rodovia, em face da neblina existente, vindo a perder o controle sobre o veículo ao ingressar em uma curva em velocidade significativa. Descumprimento da norma inscrita no artigo 28 do CTB. 2. Diante da culpa grave do condutor do automóvel, não se aplica à espécie a orientação jurisprudencial consolidada na Súmula n. 145 do Egrégio STJ. 3. Comprovado o óbito da passageira, filha da demandante, mostram-se evidentes os prejuízos morais sofridos pela autora, os quais devem ser reparados. 4. A reparação de danos morais deve proporcionar justa satisfação à vítima e, em contrapartida, impor ao infrator impacto financeiro, a fim de dissuadi-lo da prática de novo ilícito, porém de modo que não signifique enriquecimento sem causa dos ofendidos. Na hipótese, sob comento, vai fixada a verba indenizatória em favor da autora no montante de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), com correção monetária pelo IGPM a partir da data do presente julgamento e juros moratórios de 1% ao mês a contar do evento danoso (STJ, Súmula n. 54). 5. Restou comprovada a contratação de seguro pela requerida Ires Nadir junto à Mapfre. Dessa forma, deve ser reconhecida a responsabilidade solidária da seguradora pela reparação dos prejuízos sofridos pela demandante, limitada aos valores inscritos na apólice para a rubrica Danos Morais / Estéticos, visto que a vítima fatal do acidente (passageira) qualifica-se como terceira na relação jurídica formada entre a seguradora e a proprietária do automóvel. 6. [...]. Voto vencido. APELAÇÃO PROVIDA, POR MAIORIA. (Apelação Cível Nº 70057219917, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mário Crespo Brum, Julgado em 21/11/2013). 5.7.2 – Rescisão do contrato de transporte (Art. 740). O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada. Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado. Nas duas hipóteses previstas acima, o transportador terá direito de reter até (5%) cinco por cento da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória. 5.7.3 – Interrupção da viagem (Art. 741). Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em conseqüência de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte. 5.7.4 – Retenção de bagagem para pagamento (CC, Art. 742). O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção sobre a bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou durante o percurso. 5.8 - Transporte de coisas. 5.8.1 – Dever de cuidado e entrega no prazo Deve o transportador levar a coisa até o local de destino mantendo incólume a mesma tomando para isso todas as providências necessárias, e entrega-la no prazo previsto, que pode ser ajustado em horas, dias ou meses, lembrando que o atraso na entrega da coisa, em regra, acarreta a responsabilidade civil do transportador (CC, Art. 749). O contrato de transporte engloba tanto a remessa de documentos por meio de motoboy quanto o transporte de uma plataforma por um navio. 5.8.2 – Responsabilidade do transportador x conhecimento de transporte A responsabilidade do transportador, limitada ao valor constante do conhecimento (de transporte), começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa e termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se o destinatário não for encontrado (CC, Art. 750). A vigência da garantia, no seguro de coisas transportadas, começano momento em que são pelo transportador recebidas, e cessa com a sua entrega ao destinatário (CC, Art. 780). 5.8.3 – Disposições diversas. Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-se, no que couber, pelas disposições relativas a depósito. Art. 752. Desembarcadas as mercadorias, o transportador não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a domicílio, e devem constar do conhecimento de embarque as cláusulas de aviso ou de entrega a domicílio. Art. 753. Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador solicitará, incontinenti, instruções ao remetente, e zelará pela coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior. § 1º Perdurando o impedimento, sem motivo imputável ao transportador e sem manifestação do remetente, poderá aquele depositar a coisa em juízo, ou vendê-la, obedecidos os preceitos legais e regulamentares, ou os usos locais, depositando o valor. (Exemplo: Estradas interrompidas, greve no porto e aeroporto fechado por causa do mau tempo) § 2º Se o impedimento for responsabilidade do transportador, este poderá depositar a coisa, por sua conta e risco, mas só poderá vendê-la se perecível. § 3º Em ambos os casos, o transportador deve informar o remetente da efetivação do depósito ou da venda. § 4º Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns, continuará a responder pela sua guarda e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remuneração pela custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou se conformará aos usos adotados em cada sistema de transporte. Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o conhecimento (de transporte) endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência dos direitos. § único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega. Art. 755. Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente; se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vendê-la, depositando o saldo em juízo. 5.9 – Conhecimento de Transporte. É o documento que o transportador emite no recebimento da mercadoria. Deve ser entregue ao remetente, que o enviará ao destinatário, no lugar de destino. O conhecimento de transporte goza dos princípios cambiários de literalidade, autonomia e cartularidade. É considerado título de crédito representativo de mercadoria. Pode ser transferido por simples declaração do destinatário no verso (endosso). É considerado título de crédito impróprio, porque, ao contrário dos chamados títulos de crédito próprios atinentes especificamente ao crédito (letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata), os títulos de crédito impróprios conferem direito real (como os conhecimentos de depósito) ou referem-se a prestação de serviços (bilhete de teatro cinema e ...) ou confere condição de sócio (ações de sociedades anônimas ou comandita por ações). 5.10 - Bilhete de passagem. É o documento que prova o contrato de transporte de pessoas. Como o contrato de transporte não exige forma, não é documento essencial, podendo o mesmo ser provado por todos os meios aceitos em direito. Bagagem de mão A bagagem de mão ou de cabine é considerada como bagagem não registrada, sob a inteira responsabilidade do passageiro que a transporta, sendo que, a soma das dimensões (altura, largura e comprimento) não pode ultrapassar 115 cm, incluindo rodas, alças, bolsos externos, etc. As medidas máximas para cada dimensão são de 23 x 40 x 55 cm. Seu peso não deve exceder 5 kg. (Portaria 676/GC-5/ 13/11/2000), (IATA Passenger Services – Recomendação 1749). Importante Em virtude das ameaças de terrorismo nos voos ligando à Inglaterra e aos Estados Unidos, por uma determinação das autoridades brasileiras, não é permitido levar em voos internacionais ou trechos domésticos de voos internacionais os seguintes objetos como bagagem de mão, líquido ou gel, tais como: - Todos os tipos de bebidas. - Shampoos (líquido ou gel). - Cremes (líquido ou gel). - Perfumes (líquido ou gel). - Loções (líquido ou gel). - Cosméticos líquidos (de qualquer tipo). - Spray de cabelo. - Creme dental. - Desodorantes (em aerosol, líquidos ou creme). - Objetos pontiagudos, como: faca, canivete, estilete, etc. Bagagem despachada e Franquia de Bagagem para Voos Domésticos A bagagem despachada é a bagagem que vai no porão do avião. Para bagagens despachadas no porão, cada passageiro adulto tem direito a até duas malas com peso total somado de 23 kg (alínea “b” do artigo 37 da Portaria 676 de 13 de novembro de 2000 da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC).
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