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CONTRATOS EMPRESARIAIS 1.1 - INTRODUÇÃO Para que os empresários atinjam o escopo de suas atividades, os mesmos fazem uso do poder negocial dos indivíduos (pessoa física ou jurídica) que se personifica através dos contratos, e se regem a relação contratual entre empresários será denominado de: CONTRATO EMPRESARIAL. Dentro desta visão, vários são os contratos que podem ser celebrados: a) Contrato de financiamento com instituição bancária para aquisição de maquinário. b) Contrato de leasing para o mesmo fim. c) compra e venda de mercadorias para revenda. d) Contrato de cartão de crédito para vender mercadoria por esse meio. 1.2 – Aplicação do CDC aos contratos empresariais 1.2.1 – Regra geral não se aplica. ENUNCIADO CFJ n.º 20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua atividade de produção, comércio ou prestação de serviços. COMPETÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTO E DE SERVIÇOS DE CRÉDITO PRESTADO POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE CARTÃO DE CRÉDITO. DESTINAÇÃO FINAL INEXISTENTE. – A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediária. Recurso especial conhecido e provido para reconhecer a incompetência absoluta da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, para decretar a nulidade dos atos praticados e, por conseguinte, para determinar a remessa do feito a uma das Varas Cíveis da Comarca. (Resp 541.867/BA, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Barros Monteiro, 2ª seção, j. 10.11.2004, DJ 16.05.2005, p.227). 1.2.2 – Aplica-se quando o empresário é destinatário final do produto. CDC, Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. 1.2.3 – Aplica-se quando o empresário tem vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica frente a outra parte litigante. APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Ao consumidor que adquire o produto ou contrata o serviço como insumo à sua atividade empresarial aplica-se o Código de Defesa do Consumidor quando demonstrada sua vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica frente a outra parte litigante. Incidência do diploma protetivo do consumidor à situação sub examine. Intelecção do art. 4º, I, da Lei 8.078/90. ADOÇÃO DA TEORIA DO RISCO DO EMPREENDIMENTO. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO. ART. 14, § 1º, I a III, DO CDC. Adotada a teoria do risco do empreendimento pelo Código de Defesa do Consumidor, todo aquele que exerce atividade lucrativa no mercado de consumo tem o dever de responder pelos defeitos dos produtos ou serviços fornecidos, independentemente de culpa. Responsabilidade objetiva do fornecedor pelos acidentes de consumo. CONTRATAÇÃO MEDIANTE FRAUDE. DEFEITO DO SERVIÇO. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA "OPE LEGIS". FORTUITO INTERNO. DEVER DE INDENIZAR. Defeito do serviço evidenciado através da celebração, pela parte demandada, de contratação com terceiro em nome da autora, mediante fraude ou ardil, o qual deu azo à inclusão do nome desta em cadastro de inadimplentes. Inexistência de comprovação, pela parte demandada, de que tomou todas as cautelas devidas antes de proceder à contratação, de modo a elidir sua responsabilidade pela quebra do dever de segurança, nos moldes do art. 14, § 3º, I e II, do CDC. Inversão do ônus da prova "ope legis". Fraude perpetrada por terceiros que não constitui causa eximente de responsabilidade, pois caracterizado o fortuito interno. DANOS MORAIS IN RE IPSA. PESSOA JURÍDICA. SÚMULA 227 DO STJ. HONRA OBJETIVA ATINGIDA. Evidenciada a inscrição indevida do nome da demandante em cadastro de inadimplentes, daí resulta o dever de indenizar. Dano moral "in re ipsa", dispensando a prova do efetivo abalo sofrido pela vítima em face do evento danoso, conquanto lesada seja pessoa jurídica. ARBITRAMENTO DO "QUANTUM" INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. Montante da indenização arbitrado em atenção aos critérios de proporcionalidade e razoabilidade, bem assim às peculiaridades do caso concreto. Toma-se em consideração os parâmetros usualmente adotados pelo colegiado em situações similares. APELOS DESPROVIDOS. (Apelação Cível Nº 70057263188, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Julgado em 27/11/2013). 1.3 – Contratos cíveis x contratos empresariais Os contratos empresariais se caracterizam pela simetria natural entre os contratantes (contrato paritário) não sendo de bom para o mercado sofrer tais contratos as limitações ou mitigações que limitem a liberdade dos empresários, diferente do que ocorre nos contratos civis onde temos falta de simetria das partes que celebram o contrato. Tais limitações feririam os princípios constitucionais da livre-iniciativa, da livre concorrência e da propriedade privada: CF, Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995) § único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Está ínsita na atividade empresarial os riscos deste empreendimento, sendo duas as regras de ouro a guiar tais atividades: 1) O empresário que acerta ganha. 2) O empresário que erra perde. Não deve, pois, o Estado intervir nessas relações sob pena de criar insegurança jurídica para as atividades empresariais. Sob esse tema podemos ver enunciados de jornada de direito comercial da CJF: 21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais. 23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual. 25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada. 26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da relação negocial. 27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as negociações do contrato empresarial, preservar segredo de empresaou administrar a prestação de informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em risco a competitividade de sua atividade. 28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inexperiência. 1.4 - Classificação dos contratos 1.4.1 - Quanto á natureza da obrigação: 1.4.1.1 - contratos unilaterais, bilaterais ou plurilaterais; a) Unilaterais - Implica direito e obrigações para um só dos contraentes. Dever da avença apenas para um. Via de mão única – Prestação pecuniária para uma das partes. Nessa linha, quando o contrato estabelecer apenas uma “via de mão única”, com as partes em posição estática de credor e devedor, pelo fato de se estabelecer uma prestação pecuniária apenas para uma das partes, falar-se-á em contrato unilateral. Ex.: doação pura e depósito. b) Bilateral ou Sinalagmático - Implica direito e obrigações para ambos os contraentes, produção simultânea de prestações para todos os contraentes. A dependência recíproca das obrigações (uma a causa de ser da outra), denomina-se sinalagma. Ex.: compra e venda. I) Apenas aos contratos bilaterais se aplica o “exceptio non adimpleti contractus”. Art. 476 do código civil. II) Só nos contratos bilaterais (e comutativos) é aplicado o vício redibitório. Art. 441 do Código Civil. c) Plurilaterais - são os contratos que contêm mais de duas partes. Na compra e venda, mesmo que haja vários vendedores e compradores, agrupam-se ele em apenas dois pólos: o ativo e o passivo. Se um imóvel é locado a um grupo de pessoas, a avença continua sendo bilateral, porque todos os inquilinos encontram-se no mesmo grau. Nos contratos plurilaterais (ou plúrimos), temos várias partes, como ocorre no contrato de constituição de uma sociedade, em que cada sócio é uma parte. Assim também nos contratos de condomínio. Uma característica dos contratos plurilaterais é a rotatividade de seus membros. 1.4.1.2 - Contratos onerosos ou gratuitos; a) Onerosos - quando a um benefício recebido corresponder um sacrifício patrimonial. Ex.: Compra e venda. b) Gratuito ou benéficos - Somente uma das partes auferirá benefício e a outra arcará com toda a obrigação. Toda a carga contratual fica por conta de um dos contraentes; o outro só pode auferir benefícios do negócio. Há uma liberalidade que está ínsita ao contrato, com a redução do patrimônio de uma das partes, em benefício da outra, cujo patrimônio se enriquece. Ex.: Doação pura e comodato. I) A interpretação dos contratos gratuitos deve ser sempre mais restrita que os negócios jurídicos onerosos (CC, Art. 114). II) Nos contratos benéficos o contratante onerado só reponde por dolo, ao passo que o beneficiado reponde por simples culpa (CC, Art. 392). III) A evicção só se opera nos contratos onerosos (CC, art. 447). 1.4.1.3 - Contratos comutativos ou aleatórios; a) Comutativos - Quando as obrigações se equivalem, conhecendo os contraentes, “ab initio”, as suas respectivas prestações. As partes podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua celebração, porque não envolvem nenhum risco. Ex.: Compra e venda, contrato individual de emprego e etc. b) Aleatório - Obrigação de uma das partes somente puder ser exigida em função de coisas ou fatos futuros, cujo risco da não-ocorrência for assumido pelo outro contraente. Estes contratos caracterizam-se pela incerteza, para as duas partes, sobre as vantagens e sacrifícios que deles podem advir. É que a perda ou lucro dependem de um fato futuro e imprevisível. O vocábulo aleatório é originário do latim alea, que significa sorte, risco, acaso. CC, Arts. 458 a 461. Ex.: Contrato de seguro, jogo e aposta. I) Contrato de compra e venda de coisa futura, com assunção de risco pela existência (emptio spei – CC, Art. 458) – Ex.: Compra de safra futura de um fazendeiro ou o produto da pesca no lançamento de uma rede. Corre-se o risco de a colheita não dar nada ou ter um superávit e de vir muito peixe ou nada, desde que o contratante tenha agido com habitual diligência. II) Contrato de compra e venda de coisa futura, sem assunção de risco pela existência (emptio rei speratae – CC, Art. 459) – Ex.: Se não der nada na colheita não haverá pagamento, mas se colher quantidade menor que as 10t por equitare que é o normal, haverá pagamento. III) Contrato de compra de coisa presente, mas exposta a risco assumido pelo contratante (CC, Art. 460). Ex.: Compra de produtos embarcados em navio, chegando ou não ao destino deverá pagar o preço, a menos que o outro contratante ao efetuar a venda já sabia do perecimento (CC, art. 461). 1.4.1.4 - Contratos paritários ou por adesão a) Paritários - as partes estarem em iguais condições de negociação estabelecendo livremente as cláusulas contratuais (Fase de Puntuação). São os contratos do tipo tradicional, em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em pé de igualdade (para par). b) Adesão - Um dos pactuantes predetermina (ou seja, impõe) as cláusulas do negócio jurídico. São os contratos que não permitem a liberdade ventilada nos contratos paritários, devido a preponderância da vontade de um dos contratantes, que elabora todas as cláusulas. O outro adere ao modelo de contrato previamente confeccionado, não podendo modificá-las: aceita-as ou rejeita-as, de forma pura e simples, e em bloco, afastada qualquer alternativa de discussão. Segundo Orlando Gomes1, são traços característicos dos contratos de adesão: I) uniformidade: obter, do maior número de contratantes, o mesmo conteúdo contratual; II) predeterminação unilateral: a fixação de das cláusulas é feita anteriormente a qualquer discussão; III) rigidez: além de uniformemente predeterminadas, não é possível discutir as cláusulas do contrato; IV) posição de vantagem (superioridade material) de uma das partes: embora a expressão superioridade econômica seja a mais utilizada (até pela circunstância de ser a mais comum), consideramos mais adequada a concepção de superioridade material, uma vez que é em função de tal desigualdade fática que faz com que possa ditar as cláusulas aos interessados. 1.4.1.5 - Contratos evolutivos. Nos contratos de direito público (contratos administrativos) existem clausulas que são regidas pela vontade das partes e outras por determinação da lei (devemos lembrar da máxima que diz que o administrador público só faz o que é autorizado por lei – CF, Art. 37, caput) que evoluem no tempo e cujas alterações modificam o contrato, mas que não devem alterar a chamada equação econômico/financeira do contrato. Por exemplo: se no início do contrato os direitos e obrigações, que representamos como D/O tiver o quociente igual 15, qualquer mudança que se opere em “D” ou em “O” deve alterar o outro para que o quociente permaneça o mesmo, ou seja, se aumentar as obrigações deve aumentar o direito na mesma proporção e vice e versa. 1.4.2 - Classificação dos contratos quanto à disciplina jurídica. 1 GOMES, Orlando. Contratos. 10ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. Se trata de uma classificação clássica do sistema jurídico nacional. Contratos civis e comerciais (União pelo CC/02) além do trabalho, consumeristas e administrativos. 1.4.3 - Classificação dos contratos quanto à forma: 1.4.3.1 - Solenes ou não solenes a) Não Solene - A forma livre é a regra em nosso país. Basta o consentimentopara sua formação. Podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive a verbal. Ex.: locação e comodato. b) Solene - Forma especial ou uma solenidade na sua celebração. “ad solemnitatem”. A lei prescreve, para sua celebração, forma especial que lhes dará existência, de tal sorte que, se o negócio for levado a efeito sem a observância da forma legal, não terá validade. Ex.: casamento, escritura pública na alienação de imóvel, testamento e etc. 1.4.3.2 - Consensuais ou reais a) Consensuais - Concretizados com a simples declaração de vontade. Se aperfeiçoam com o consentimento, isto é, com o acordo de vontades, independente da entrega da coisa e da observância de determinada forma. Todos os não-solenes. Ex.: Compra e venda de bens móveis, quando pura (CC, Art. 482). b) Reais - São aqueles que apenas se ultimam com a entrega da coisa, feita por um contraente e outro. O simples concurso de duas ou mais vontades não tem o condão de estabelecer o vínculo contratual, que só se forma com a tradição efetiva do objeto do ato negocial, por se requisito essencial à sua constituição. Exigem, para aperfeiçoar, além do consentimento, a entrega da coisa que lhe serve de objeto. Ex.: Depósito, comodato e mútuo. 1.4.4 - Classificação dos contratos quanto à designação. a) Contratos nominados ou típicos - Tem designação própria. Recebem do ordenamento jurídico uma regulamentação. Possuem, portanto, uma denominação legal e própria, estando previstos e regulados por norma jurídica, formando espécies definidas. Estão previstos no Código Civil e em leis especiais. Ex.: Doações, compra e venda e locação. Vale ressaltar que a locação de garagem ou a de estacionamento, por exemplo, excepcionalmente, apesar de contrato nominado (Lei N.º 8.245/91, art. 1º, § único), é atípica, por não haver previsão legal mínima, visto não estar regulamentada em lei. É contrato nominado, por ter nomem júris, é atípico por não possuir regulamentação normativa. b) Inominados ou atípicos - Não tem designação própria. Resultam de um acordo de vontades, não tendo porém, as suas características e requisitos definidos e regulamentados em lei. Afastam-se dos modelos legais, pois não são disciplinados ou regulados expressamente pelo Código Civil ou por lei extravagante, porém são permitidos juridicamente, desde que não contrariem a lei e os bons costumes, ante o princípio da autonomia da vontade (CC, Art. 425). Ex.: Contrato sobre exploração de lavoura de café, cessão de clientela e locação de carro forte. c) Contrato com pessoa a declarar - Inovação do novel Código Civil Art. 467: “No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.” Trata-se de avença comum nos compromissos de compra e venda de imóveis, nos quais o compromissário comprador reserva-se a opção de receber a escritura definitiva ou indicar terceiro para nela figurar como adquirente (cláusula “pro amico eligendo”). Utilizado para evitar despesas com nova alienação, nos casos de bens adquiridos com o propósito de revenda, com a simples intermediação do que figura como adquirente. 1.4.5 - Classificação dos contratos quanto á pessoa do contratante: 1.4.5.1 - Pessoais ou impessoais; a) Personalíssimos ou “Intuito Personae” - São os celebrados em atenção às qualidades pessoais de um dos contraentes. O obrigado não pode fazer-se substituir por outrem, pois essas qualidades (culturais, profissionais, artísticas etc.) tiveram influência decisiva no consentimento do outro contraente. b) Impessoais - Prestação pode ser cumprida, indiferentemente, pelo obrigado ou por terceiro. O importante é a execução. A pessoa do contratante é juridicamente indiferente. Pouco importa quem execute a obrigação; o único objetivo é que a prestação seja cumprida. A distinção entre contratos intuito personae e impessoais reveste-se de grande importância, em virtude das conseqüências práticas decorrentes da natureza personalíssima dos negócios pertencentes à primeira categoria, que: I) são intransmissíveis, não podendo ser executados por outrem; assim sendo, com o óbito do devedor, extinguir-se-ão, pois os sucessores não poderão cumprir a prestação, que era personalíssima; II) não podem ser cedidos, de modo que, se substituído o devedor, ter-se-á a celebração de novo contrato; III) são anuláveis, havendo erro essencial sobre a pessoa do contratante (CC, Art. 139, II). 1.4.5.2 - Individuais ou coletivos a) Individuais - As vontades são individualmente consideradas, ainda que envolva várias pessoas. Se refere a uma estipulação entre pessoas determinadas, ainda que em numero elevado, mas consideradas individualmente. Ex.: Compra e venda pode ser uma pessoa a contratar com outra ou várias pessoas. b) Coletivos - Acordo de vontades entre duas pessoas jurídicas de direito privado, representativas de categorias profissionais, sendo denominadas convenções coletivas. Mas pode haver contrato coletivo no âmbito do Direito de Empresa, celebrado por pessoas jurídicas representativas de determinadas indústrias ou sociedades empresárias, destinado inibir a concorrência desleal, a incentivar a pesquisa, a desenvolver a cooperação mútua etc. 1.4.5.3 - O autocontrato. O instituto está regulado no Art. 117 do CC, segundo o qual: "salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo". É a chamada procuração em causa própria que, consoante a norma, somente é admitida se autorizada pela lei ou pelo representado. Note-se que estamos diante de uma exceção, haja vista que, regra geral, o mandatário (representante), não pode atuar em seu próprio interesse, não lhe sendo lícito celebrar contrato consigo mesmo, ainda que não exista conflito de interesse. Sendo assim, apenas excepcionalmente o mandante ou a lei podem autorizar que o mandatário atue em nome do representado e que também se apresente como a outra parte do negócio jurídico a ser celebrado. Exemplificando: "A" outorga procuração para "B", para que esse realize à venda de sua casa. Ocorre que "B" se interessa pelo imóvel e decide adquiri-lo. A celebração do contrato de compra e venda e, da respectiva escritura envolverá apenas uma pessoa: "B", que, de um lado, estará representando "A" e, de outro, os seus próprios interesses. Em sendo esse o caso, deve-se compreender que, embora fisicamente haja uma única pessoa, são duas as manifestação de vontade, uma, como representante e a outra, como parte do negócio jurídico celebrado.
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