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18 CAPÍTULO VI - CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 1. CLASSIFICAÇÃO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA6 Normas De Eficácia Plena: normas que, desde a entrada em vigor da constituição produzem, ou têm a possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular. o Natureza: regras jurídicas. o Aplicabilidade imediata: dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua executoriedade. Exemplos: Art. 5º, XI, XX, III; Art. 1º; Art. 15; Art. 17, § 4º. Normas de Eficácia Contida: “São aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matérias, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do Poder Público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nela enunciados”. o Aplicabilidade não integral: sua aplicabilidade não depende de legislação ulterior, mas pode ficar condicionada a limites por ventura impostos por tal legislação. Exemplos: Art. 5º VIII, VI, VIII; Art. 37, I; Art. 143. Normas Constitucionais de Princípio Institutivo: “Normas através das quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuição de órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário os estruture em definitivo.” o Normas Impositivas: normas que determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma legislação integrativa. Exemplos: Art. 20, §2; Art., 32, §4º; Art. 33; Art. 107, §1º; Art. 109, VI. o Normas Facultativas: limitam-se a dar ao legislador ordinário a possibilidade de instituir ou regular situações nelas delineadas. Exemplos: Art. 22, § único; Art. 125, §3º; Art. 195, §4º; Art. 25, §3º; Art. 154, I. Normas Constitucionais Programáticas: normas constitucionais através das quais o constituinte, em vez de regular direta e imediatamente, determinados interesses, limitou- se a traçar-lhes os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando a realização dos fins sociais do Estado. Exemplos: Art. 7º, XX; XXVII; Art. 173, § 4º; Art. 21, IX; Art. 184; Art. 215; Art. 193; Art. 196 6 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 7 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. 19 CAPÍTULO VI - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS CF/88 - Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. 1. PRINCÍPIO REPUBLICANO Conceito: Uma República é uma forma de governo onde o chefe de Estado (representa o país no exterior), normalmente chamado presidente, é escolhido pelo voto popular e secreto, podendo, ou não, acumular com o chefe do poder executivo (chefe de governo). A forma de eleição é normalmente realizada por voto livre, secreto, em intervalos regulares, variando conforme o país. República presidencialista ou presidencialismo: Nesta forma de governo o presidente, escolhido pelo voto para um mandato regular, acumula as funções de Chefe de Estado e chefe de governo. República parlamentarista ou parlamentarismo: Neste caso o presidente apenas responde à chefia de Estado, estando a chefia de governo atribuída a um representante escolhido de forma indireta pelo Legislativo, normalmente chamado "premier", "primeiro-ministro" ou ainda "chanceler" (na Alemanha). 2. PRINCÍPIO FEDERATIVO Conceito: é a forma de Estado em que há uma descentralização política e administrativa, assim, o poder central (no Brasil a União) distribui competências legislativas e administrativas aos entes federados, concedendo-lhes autonomia Características: (i) Descentralização política fixada na Constituição; (ii) Participação das vontades parciais nas vontades gerais; (iii) Possibilidade de os Estados membros se auto-organizarem por meio de Constituição própria. Requisitos para manutenção: (i) Rigidez Constitucional; (ii) Controle de Constitucionalidade. 20 3. PRINCÍPIO DO ESTADO DEMOCRÁTICO Conceito: É o princípio pelo qual é assegurada a participação popular na formação da vontade Estatal. o Democracia direta: é a participação direta do povo na formação consecução desígnios do Estado. o Democracia Representativa: é a participação indireta do povo, vez que aqui, elegem-se representantes que tem a prerrogativa de deliberar sobre os desígnios do Estado no lugar do povo. Direitos Fundamentais e Democracia substancial: O grau de democracia de um estado poderá ser auferido a partir do nível de acesso do povo aos bens fundamentais, quanto maior o acesso, mais democrático se pode afirmar o Estado, quanto menor o acesso, menos democrático. Democracia substancial e democracia formal: Democracia formal garante a participação universal e igualitária no processo político – um homem, um voto. Democracia substancial garante o usufruto das riquezas produzidas no Estado e uma participação qualitativa no processo político. 4. PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO Conceito: É o princípio que subordina o Estado às normas jurídicas por ele mesmo criadas, e que garante a existência de posições jurídicas jusfundamentais a todos, pelo simples fato de serem seres humanos. o O Estado deve pautar suas ações sob o estrito cumprimento da legalidade. o O Estado deve respeitar e garantir (promover) os direitos fundamentais. Características: (i) Supremacia da Constituição; (ii) Superioridade da Lei; (iii) Controle do poder pelo poder; (iv) Garantia de direitos fundamentais. 5. PRINCÍPIO DA SOBERANIA Conceito: É o princípio pelo qual um Estado não reconhece, em seu território, nenhum poder acima do seu, não estando obrigado ao cumprimento de normas internacionais, a não ser que, espontaneamente, tenha optado por cumpri-las. 21 6. PRINCÍPIO DA CIDADANIA Conceito: A par do princípio democrático, garante, aos cidadãos, a possibilidade de influir nos desígnios do Estado. No Brasil, cidadão é o maior de 16 anos na forma do art. 14, § 1º, II, c da CF/88. Ainda pode ser compreendida como a ligação entre o sujeito e o Estado. Crítica: A cidadania como requisito para exercício de direitos. Uma barreira à universalização dos direitos fundamentais. Status que garantem direitos fundamentais7 o Pessoas (direitos humanos): vida, liberdade, garantias penais e processuais penais, saúde, educação o Cidadãos (direitos públicos): direito de residência e circulação no território nacional; reunião e associação; trabalho; direito à subsistência e assistência para quem é inapto ao trabalho. o Capazes de agir (direitos civis): contratar; eleger e combinar o trabalho; empresa; petição. o Cidadãos + capazes (direitos políticos): votar e ser votado, ascender aos cargos públicos, - fundamentados na representação da democracia política. Crise da cidadania: pressão dos imigrantes e refugiados pela obtenção de direitos em um mundo globalizado. 7. HISTÓRICO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Pensamento filosófico e político da antiguidade: A dignidade da pessoa humana dizia com a posição social ocupada pelo indivíduo e seu grau de reconhecimento pelos demais membros da comunidade. Roma: “é anatureza quem prescreve que o homem deve levar em conta os interesses de seus semelhantes pelo simples fato de também serem homens, razão pela qual todos estão sujeitos às mesmas leis naturais, de acordo com as quais é proibido que uns prejudiquem outros.” (Marco Túlio Cícero). Dignidade humana no pensamento medieval 7 FERRAJOLI, Luigi. Por uma teoria dos direitos e dos bens fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 22 o Papa São Leão Magno: “os seres humanos possuem dignidade pelo fato de que Deus os criou à sua imagem e semelhança, e que, ao tornar-se homem, dignificou a natureza humana.” o São Tomás de Aquino: A dignidade humana é decorrência do fato da criação, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus o homem adquire algo de especial em relação ao restante da criação. A dignidade é ainda reforçada a capacidade de autodeterminação do ser humano, que sendo livre por sua própria natureza, existe em função da própria vontade. Dignidade humana na idade moderna o Giovanni Pico Della Mirandola: “a dignidade humana advém do seu traço especial, dado por Deus, a racionalidade, que lhe possibilita construir de forma livre e independente sua própria existência e seu próprio destino”. A grandeza e superioridade do homem em relação aos demais seres (por isto sua dignidade) decorre do fato de possuir o homem, diferentemente dos outros seres uma natureza indefinida, que ao seu próprio arbítrio, a partir de sua racionalidade, poderá ser transformada no que o homem pretender. o Immanuel Kant: encontra na autonomia a razão para fundamentar a qualidade de dignidade do homem8. Para o autor no reino dos fins aquilo que não tem preço possui dignidade9 e, portanto, só pode ser tratado como um fim em si mesmo10. Coisas que tem preço podem ser substituída por outras equivalentes. Quando algo está acima de todo preço e não pode ser substituída por outra equivalente ela tem dignidade, assim é a natureza singular do homem. Dignidade humana no direito contemporâneo Dignidade humana nos documentos políticos: (i) Constituição Mexicana de 1917; (ii) Constituição alemã da República de Weimar 1919; (iii) Lei constitucional decretada por Francisco Franco 1945 (ditadura espanhola); (iv) Carta das Nações Unidas 1945; (v) Declaração Universal dos Direitos Humanos 1948 (vi) Lei Fundamental Alemã – art. I “a dignidade humana deve ser inviolável. Respeitá-la e protegê-la será dever de toda a autoridade estatal” 8 Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Discurso; Barcarolla, 2009, p. 269. 9 Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Discurso; Barcarolla, 2009, p. 265. 10 Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Discurso; Barcarolla, 2009, p. 239. 23 8. CONTEÚDO MÍNIMO DA IDEIA DE DIGNIDADE HUMANA Valor intrínseco: “corresponde ao conjunto de características que são inerentes e comuns a todos os seres humanos e que lhes confere um status especial e superior no mundo, distinto das outras espécies. Valor intrínseco é oposto ao valor atribuído ou instrumento, porque é um valor bom em si mesmo e não tem preço.”11 o É um valor objetivo que independe de qualquer evento ou experiência que não pode ser concedido ou perdido mesmo diante dos comportamentos mais reprováveis. o Independe da própria razão estando presente em pessoas senis e recém-nascidos. Autonomia: “é o elemento ético da dignidade humana. É o fundamento do livre arbítrio dos indivíduos, que lhes permite buscar, da sua própria maneira, o ideal de viver bem e de ter uma vida boa. A noção central aqui é a de autodeterminação: uma pessoa autônoma define as regras que vão reger a sua vida.”12 o A autonomia corresponde à capacidade de alguém tomar decisões e de fazer escolhas pessoais ao longo da vida, baseada na sua própria concepção de bem, sem influencias externas. Valor comunitário: representa o elemento social da dignidade. Dois elementos: (i) os compromissos, valores e crenças compartilhadas de um grupo social, e (ii) as normas impostas pelo Estado. o O valor comunitário como uma restrição sobre a autonomia pessoal: busca sua legitimidade na realização de três objetivos: (i) proteção dos direitos e da dignidade de terceiros; (ii) proteção dos direitos e da dignidade do indivíduo e (iii) proteção dos valores sociais compartilhados. 9. VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA Conceito: Este artigo da norma constitucional introduz um modelo econômico baseado na liberdade de iniciativa, que tem por finalidade assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, sem exclusões nem discriminações Objetivos fundamentais: Este princípio, além do princípio da dignidade humana, fundamenta os objetivos da república federativa do Brasil (Art. 3º da CF/88). 11 BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2013, p. 76. 12 BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2013, p. 81. 24 CF/88 - Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 10. PLURALISMO POLÍTICO Pluralismo e pluripartidarismo: É costumeiro confundir-se a expressão pluralismo político com a ideia de vários partidos políticos, contudo a esta matéria atribui-se a denominação pluripartidarismo ou multipartidarismo, que é uma das consequências do pluralismo político. Conceito: Pluralismo político é a possível e garantida existência de várias opiniões e ideias com o respeito por cada uma delas. O pluralismo político, como base do Estado democrático de direito, aponta o reconhecimento de que a sociedade é formada por vários grupos, portanto composta pela multiplicidade de vários centros de poder em diferentes setores. Direitos relacionados: A liberdade de expressão, manifestação e opinião, garantindo- se a participação do povo na formação da democracia do país.
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