Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTRA CAPA Prefa´cio a` 1.a Edic¸~ao Este livro desenvolve novos tipos de sequ¨eˆncias que sa˜o generalizac¸o˜es das progresso˜es aritme´ticas e geome´tricas. Tem, portanto, o objetivo de aprofundar o que existe a respeito de tais sequ¨eˆncias. Onde na˜ aprofun- damos, simplificamos, como e´ o caso do Princ´ıpio da Dualidade, o qual possui aplicac¸o˜es em teoria dos conjuntos e a´lgebra de Boole, agora estamos aplicando-o pela primeira vez − assim cremos − no estudo das progresso˜es aritme´ticas e geome´tricas. O leitor encontrara´ novidades do primeiro ao u´ltimo cap´ıtulo do presente trabalho. Por exemplo, ja´ no primeiro cap´ıtulo deduzimos uma fo´rmula ge- ral e na˜o recursiva para a soma de poteˆncias dos nu´meros naturais. Na˜o tenho conhecimento de que exista uma fo´rmula fechada para esta soma. Em 1713 apareceu na revista Ars Conjectandi (Arte de Conjecturar) uma fo´rmula recursiva (isto e´, na˜o fechada) para o referido somato´rio. A fo´rmula em questa˜o e´ atribu´ıda a Jacobi Bernoulli (1654-1705). Citamos ainda as progresso˜es aritme´ticas planas e espaciais; uma genera- lizac¸a˜o que nos permitira´ va´rias aplicac¸o˜es na resoluc¸a˜o de novos problemas na˜o so´ da matema´tica como tambe´m da computac¸a˜o. Por exemplo deduzimos, com o aux´ılo das progresso˜es aritme´ticas espa- ciais, uma fo´rmula que nos permite a representac¸a˜o de um inteiro positivo em qualquer base nume´rica; em particular na bina´ria. No que concerne a` computac¸a˜o, de ha´ muito existe uma controve´rsia a respeito do uso de calculadoras pelos estudantes e em que fase isto deve se dar. Concernente a isto, sou da opinia˜o de que os alunos devem usa´-la desde que a priori saibam “fazer na ma˜o”. Neste sentido e ta˜o somente neste o aluno, a meu ver, esta´ apto a usar uma calculadora, em particu- lar programa´vel. A propo´sito, eu penso que os pais deveriam dar a seus filhos, juntamente com o video-game, uma calculadora programa´vel, pois desta forma esta˜o lhes abrindo as portas de uma alternativa profissional que e´ a da programac¸a˜o e, como se isto na˜o bastasse, porque a programac¸a˜o desenvolve a inteligeˆncia, logicamente falando. Quando comec¸ar a programar? Acredito que desde o primeiro grau, por exemplo, quando da resoluc¸a˜o de equac¸o˜es do 2 o grau ou na resoluc¸a˜o de sistemas lineares. Ha´ algum tempo tenho o sonho de ver estudantes, de todos os n´ıveis, com calculadoras programa´veis em sala de aula e programando os problemas em tempo real. Ainda com respeito ao uso de computadores, pec¸o permissa˜o para ex- por meu pensamento a respeito de uma outra questa˜o: Demonstrac¸o˜es via computador. Aqui entramos no campo subjetivo, isto e´, alguns aceitam enquanto outros na˜o, demonstrac¸o˜es com aux´ılio computacional. Eu, par- ticularmente, me incluo dentre os que na˜o aceitam tais demonstrac¸o˜es e 3 gostaria de justificar minha opc¸a˜o: Primeiramente devemos ter em consi- derac¸a˜o que todo processo computacional consta de duas partes: software e hardware. Software e´ lo´gica e, portanto, podemos atingir 100% de confianc¸a no mesmo, isto e´, podemos sem dificuldade atingir um grau de confiabilidade total no software. O problema comec¸a a aparecer quando nos voltamos para o hardware, que e´ F´ısica. Sabemos que os computadores utilizam a a´lgebra Booleana, isto e´, ope- ram com os s´ımbolos “0” e “1” os quais, a n´ıvel de circuito, sa˜o inter- pretac¸o˜es de n´ıveis de tensa˜o (por exemplo “1”=5V, “0”=0V, ou ainda, [ 0, 0.8 ] ≡ “0” e [2, 5] ≡ “1”) e, como e´ sabido, o funcionamento dos chips depende da temperatura. Em outras palavras, que confiabilidade devemos dispensar a uma demonstrac¸a˜o que e´ func¸a˜o da temperatura?. Embora a de- pendeˆncia da temperatura possa ser minimizada ao ma´ximo, o que se exige de uma demonstrac¸a˜o e´ que dependa de argumentos lo´gicos apenas. Para os que insistem na validade de tais demonstrac¸o˜es quero lembrar que uma demonstrac¸a˜o feita em uma estac¸a˜o fria seria mais confia´vel que outra feita em uma estac¸a˜o quente. Mas se insistirem em que as condic¸o˜es clima´ticas da sala poderiam ser rigorosamente controladas, sugiro que as demonstrac¸o˜es venham acompanhadas de um relato´rio sobre tais controles. Para a transmissa˜o de dados (a qual ocorre tanto a n´ıvel externo quanto a n´ıvel interno ao computador) passamos a ter problemas com ru´ıdo. Uma fonte inevita´vel de ru´ıdo ele´trico e´ o movimento te´rmico de ele´trons em ma- teriais condutores − fio, resistores, etc. − Tanto este e´ um aspecto que preocupa os engenheiros de comunicac¸o˜es que surgiu uma disciplina assaz importante que se chama “codificac¸a˜o com controle de erros” o que prova que os sistemas computacionais na˜o garantem 100% de confiabilidade, que e´ o que se exige de uma demonstrac¸a˜o matema´tica. E´ o´bvio que o computador foi e sempre sera´ u´til tanto a` matema´tica apli- cada quanto a` pura. Por exemplo para nos auxiliar a formular conjecturas, ou refuta´-las, mas nunca para demonstrar teoremas. Por exemplo, certa feita assisti a uma palestra na qual um matema´tico ha- via utilizado um computador, durante va´rios dias, para “demonstrar”a na˜o primalidade de um dos nu´meros de Fermat (nu´meros da forma F n = 22 n +1). Sa´ı da palestra com a “confianc¸a aumentada” mas na˜o convencido de que o nu´mero em questa˜o de fato na˜o era primo. Gostaria de chamar a atenc¸a˜o de alguns matema´ticos para mais um as- pecto: Sabe-se que na mu´sica alguns nascem, ou melhor, teˆm o dom de inte´rpretes (sa˜o excelentes inte´rpretes) mas na˜o compo˜em nada. E, reci- procamente, outros ha´ que teˆm o dom da composic¸a˜o mas que na˜o sa˜o inte´rpretes; ambos sa˜o importantes para o universo musical. Na matema´tica, como tambe´m nas outras cieˆncias (F´ısica, por exemplo), acontece algo semelhante: ha´ uma espe´cie de geˆnios que sa˜o os inte´rpretes, 4 mas que na˜o compo˜em, isto e´, na˜o produzem nada de substancial (estes sa˜o a maioria) e ha´ “geˆnios” de outra espe´cie, os quais sa˜o “compositores” na cieˆncia. Estes “geˆnios” embora embora na˜o sejam geˆnios (na acepc¸a˜o que se da´ a esta palavra) e´ desnecessa´rio dizer que sa˜o ta˜o (ou mais) importantes que os geˆnios. Tenho por certo que Einstein, por exemplo, foi um “geˆnio” embora na˜o tenha sido um geˆnio. Evidentemente que, como na mu´sica, ha´ os que sa˜o geˆnios e ao mesmo tempo “geˆnios”, como por exemplo: Newton, Poincare´, Gauss, Euler, Gal- lois, etc. Quanto a este ponto de vista, descobri que na˜o estou so´, vejam: “. . .A seu modo, Glasshow pode ser um extravagante ‘revoluciona´rio anarquista’, mas a forma pela qual chega a`s suas ide´ias fa´-lo avanc¸ar constantemente com novos conceitos, muitos deles loucos e imposs´ıveis, mas outros sa˜o avanc¸os genu´ınos em f´ısica. Certamente que conta com a ajuda de outros para separar as ide´ias ma´s, na˜o obstante possui um instinto criativo que muitos na˜o possuem. Em f´ısica teo´rica ser sim- plesmente brilhante na˜o e´ suficiente. Deve-se ser capaz de gerar novas ide´ias, algumas bizarras, que sa˜o essenciais para o processo de descoberta cient´ıfica.” (Do livro “Para Ale´m de Einstein”de Michio Kaku/Jennifer Trainer) Da mesma forma afirmo que na matema´tica na˜o basta ser brilhante, tem-se que ter o instinto criativo. Em resumo, estou reinvindicando da co- munidade cient´ıfica, maior atenc¸a˜o aos “compositores”, a exemplo do que tem acontecido aos inte´rpretes. Os assuntos aqui tratados podem ser estudados tanto a n´ıvel de 2o quanto ao n´ıvel de 3o grau. Deixo registrado aqui meus agradecimentos ao senhor Antoˆnio Pedro de Souza por ter patrocinado a digitac¸a˜o do manuscrito de uma versa˜o ante- rior deste livro (1993) − versa˜o esta que na˜o chegou a ser editada. Agradec¸o tambe´m ao professor Dr. Fe´lix Pedro Quispe Go´mez (UFSC) pelo ines- tima´vel aux´ılio que me prestou no que concernea` digitac¸a˜o do presente livro, pelo sistema TEX. Finalmente minha gratida˜o maior a Deus, por ter me concedido gestar e dar a` luz a este trabalho. Isto e´: Assentar este tijolinho em sua magnaˆnima obra. Bras´ılia, dezembro de 1999. 5 Desabafo (Desobstruindo o Peito e a Garganta) Quero deixar registrado aqui minha indignac¸a˜o no que diz respeito ao tratamento dispensado a este trabalho por o´rga˜os e pessoas competentes, que poderiam teˆ-lo apoiado e na˜o o fizeram. Se este livro tivesse que depender do apoio destas entidades, ha´ muito tempo que o mesmo teria ido parar nas latas de lixo ou, quem sabe, reciclado como papel higieˆnico para limpar a bunda destas mesmas pessoas. Ha´ quase dez (10) anos peregrino com este livro − desde o manuscrito − embaixo do sovaco a` procura de apoio. Na˜o encontrando, continuei tra- balhando no mesmo, assim e´ que alguns resultados so´ consegui demonstrar recentemente (1999); mas mesmo esta u´ltima versa˜o do livro foi rejeitada. E como foi poss´ıvel esta edic¸a˜o? Dei aulas por treˆs meses em Bras´ılia; almoc¸ando na rodovia´ria − sopa de R$ 1, 00 (hum real) − e andando a pe´ para economizar no oˆnibus, juntei o suficiente para pagar uma tiragem de 400 exemplares. Esta´ saindo sem revisa˜o te´cnica, sem revisa˜o gramatical, etc.; pois apoio me faltou em todos estes sentidos. Eu pro´prio tive que digita´-lo sozinho, v´ırgula apo´s v´ırgula. Num certo momento da minha vida me encontrei frente a uma bifurcac¸a˜o: Ganhar dinheiro ou dar minha contribuic¸a˜o a` Cieˆncia (criar). Digo bi- furcac¸a˜o pois, a meu ver, sa˜o alternativas mutuamente excludentes. Optei pelo caminho mais dif´ıcil e incerto. Aqui esta´ minha prestac¸a˜o de contas: um livro com na˜o poucas contribuic¸o˜es para o Mundo e para a Eternidade! . . . Todo meu sacrif´ıcio-fe´, Deus me retribuiu com juros exorbitantes. E aqui esta´ impl´ıcito: Sacrif´ıcio-renu´ncia-penu´ria na˜o somente meus; mas tambe´m de toda a minha famı´lia, que nestes anos todos foram privados de conforto e algumas vezes ate´ do mı´nimo necessa´rio. Sei que este livro e´ apenas uma semente, mas adubada − como foi − por minha renu´ncia-sacrif´ıcio tenho certeza que jamais morrera´. . . Na˜o deis aos ca˜es o que e´ santo: nem deiteis aos porcos as vossas pe´rolas, para que na˜o suceda que eles lhes ponham os pe´s em cima, e tornando-se con- tra vo´s, vos despedacem. (Mt 7 : 6) “A obtenc¸a˜o de um resultado novo em pesquisa e´, para o cientista, uma fonte de in- tenso prazer, ligado intimamente ao instinto de criac¸a˜o e eternidade, pois, independen- temente da importaˆncia da contribuic¸a˜o no contexto da cieˆncia, ou de sua utilizac¸a˜o, re- presenta algo acrescentado ao conhecimento humano que marca sua existeˆncia na terra.” Pierre Curie (F´ısico) 6 A primeira edic¸a˜o deste livro chegou a`s ma˜os de um ilustre matema´tico brasileiro, Prof. Ubiratan D’Ambo´sio, que me escreveu o seguinte email. O enderec¸o gentil@dmat.ufrr.br foi recusado. Gostaria que ele recebesse esse e-mail. De fato, gostei muito do livro. Um Abrac¸o, Ubiratan −−−−− Original Message −−−−− From: Ubiratan D,Ambro´sio <ubi@usp.br> To: Gentil Lopes da Silva Sent: Saturday, November 06, 2004 10:46 AM Subject: Obrigado pelo livro Caro Gentil Muito obrigado pelo livro que voceˆ mandou pelo Chateau. Esta´ muito bom, interessante e cheio de provocac¸o˜es. Da´ oportunidade para os estudantes se iniciarem em pesquisas. Voceˆ fala que o livro destina-se a alunos de 2o e 3o graus. Eu diria que e´ tambe´m para a po´s. Aritme´tica continua sendo grande fonte de problemas de pesquisa que podem ser trabalhados com relativamente pouco da complicada linguagem, notac¸o˜es e resultados que caracterizam muitas a´reas da matema´tica. Sa˜o formulac¸o˜es simples que podem ser trabalhados com pouca te´cnica, exigindo imaginac¸a˜o e criativi- dade. Vou recomendar aos meus alunos. Mas tive um problema. Nos sites das livrarias, o livro na˜o existe. E nem esta´ no site da Thesaurus. Recomen- dar um livro implica dizer como adquirir. O que voceˆ diz? Siga em frente com suas ide´ias. As suas reflexo˜es iniciais, a sua escolha de ep´ıgrafes, e a pro´pria capa, sa˜o uma grande contribuic¸a˜o para um novo pensar na urgente renovac¸a˜o da educac¸a˜o em todos os n´ıveis. A sua trajeto´ria desde seus estu- dos, lecionando em condic¸o˜es preca´rias, e com as dificuldades para publicar o livro e´ um exemplo, muit´ıssimo frequente, do processo (certamente inten- cional) de desencorajar o florescimento dos criativos, e abrir o espac¸o para os executores de ide´ias de outros. Uma curiosidade: voceˆ sabia que o E´douard Lucas, que voceˆ cita na pa´gina 393, e´ quem fez a revisa˜o te´cnica para a publicac¸a˜o po´stuma do livro “Me´langes de Calcul Inte´gral”, de Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, em 1882? O livro havia sido recusado por inu´meras editoras enquanto ele estava vivo. Muito obrigado. Um abrac¸o, Ubiratan Nota: Como o Prof. Ubiratan na˜o estava conseguindo acessar o meu antigo email (gentil@dmat.ufrr.br) ele enviou seu email a um seu ex-aluno (saudoso Chateaubriand), colega meu, que me repassou. 7 Prefa´cio a` 2.a Edic¸~ao Passaram-se ja´ 15 (quinze) anos da primeira edic¸a˜o deste livro. Alguns fatores me motivaram a sentar e trabalhar nesta segunda edic¸a˜o − um vo- lume de quase 600 pa´ginas, com muitas ilustrac¸o˜es −, tendo em conta que hoje meu tempo e´ bastante escasso. Vou arrolar os principais: − Perdi os arquivos tanto do programa fonte (TEX) quanto do pdf da pri- meira edic¸a˜o, o que me impedia de disponibiliza´-lo na internet; − O fato de um eminente matema´tico brasileiro ter gostado da primeira edic¸a˜o naturalmente contribuiu para esta decisa˜o; − Um segundo ilustre matema´tico brasileiro (Prof. Dr. Carlos Gustavo T. de A. Moreira − IMPA/RJ) esteve aqui em minha Universidade, por ocasia˜o da IX Semana de Matema´tica (26 a 30/10/2015), conheceu meu livro e gostou muito, em particular de uma fo´rmula que comparece no mesmo (p. 53); −Minha perfomance no processador de texto LATEX melhorou bastante nes- tes 15 anos − o que possibilitou uma segunda edic¸a˜o bem mais esmerada que a primeira. Em func¸a˜o desta u´ltima raza˜o e´ que a presente edic¸a˜o traz inu´meras melhorias pontuais, em relac¸a˜o a` primeira; ademais, a utilizac¸a˜o de uma calculadora (HP Prime ) com programac¸a˜o alge´brica trouxe uma melhoria exponencial ao livro, tanto e´ que o considero um novo livro. A calculdora HP Prime e´ uma potente e sofisticada ferramenta de com- putac¸a˜o nume´rica e simbo´lica − sem falar que e´ tambe´m gra´fica, colorida, com tela sens´ıvel ao toque (touchscreen) −, decidi adota´-la em todo este livro; escrevi o u´ltimo cap´ıtulo para ensinar a programac¸a˜o da mesma, in- clusive o leitor pode baixa´-la (emulador) gratuitamente para seu notebook, tablet e ate´ celular. Uma justificativa: talvez o leitor na˜o fac¸a ideia do qua˜o dif´ıcil e´ a dia- gramac¸a˜o (formatac¸a˜o) de um livro, ainda mais de um livro cheio de figu- ras, fo´rmulas e ilustrac¸o˜es, como e´ o caso do presente e, por outro lado, em acre´scimo, muitas vezes ainda tive que decidir quando − por razo˜es dida´ticas − deveria forc¸ar uma figura (ou fo´rmula) a ficar na mesma pa´gina da ex- planac¸a˜o correspondente; por outro lado escrevi-o ja´ pensando em utilizar o pdf como slide para projec¸a˜o em minhas aulas; por exemplo, no pro´ximo semestre vou ministrar a disciplina Ca´lculo nume´rico na qual adotarei a HP Prime, vou utilizar o u´ltimo cap´ıtulo (projetando-o) para ensinar meus alu- nos a programar a calculadora. Quaisquer cr´ıticas ou sugesto˜es sera˜o bem-vindas, meu novo email e´: gentil.iconoclasta@gmail.com Gentil, o iconoclasta Boa Vista-RR, 25 de agosto de 2016. 8 Suma´rio 1 Sequeˆncias aritme´ticas de ordem m 13 1.1 Introduc¸a˜o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.2 Definic¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.3 Fo´rmula do termo geral de uma P.A.m . . . . . . . . . . . . . 19 1.3.1 Calculadora HP Prime−Computac¸a˜o alge´brica . . . . 31 1.4 P.A.m em func¸a˜o dos seus pro´prios termos . . . . . . . . . . . 36 1.5 Propriedade fundamental de uma P.A.m . . . . . . . . . . . . 42 1.6 Soma dos termos de uma P.A.m . . . . . . . . . . . . . . . . 46 1.6.1 Uma fo´rmula ine´dita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 1.7 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 1.8 Apeˆndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 • Princ´ıpio da induc¸a˜o finita . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 • Triaˆngulo aritme´tico de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . 68 • Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 2 Somas e Diferenc¸as de ordem m 81 2.1 Diferenc¸as de ordem m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 2.2 Somas de ordem m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 2.3 Unificac¸a˜o de sequeˆncias sob as P.A.m . . . . . . . . . . . . . 113 2.4 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 2.5 Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 • Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 3 Sequeˆncias geome´tricas de ordem m 127 3.1 O princ´ıpio da dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 3.2 Definic¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 3.3 Fo´rmula do termo geral de uma P.G.m . . . . . . . . . . . . . 134 3.4 P.G.m em func¸a˜o dos seus pro´prios termos . . . . . . . . . . 137 3.5 Propriedade fundamental de uma P.G.m . . . . . . . . . . . . 138 3.6 Produto dos termos de uma P.G.m . . . . . . . . . . . . . . . 139 9 3.7 Quocientes de ordem m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 3.8 Produtos de ordem m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 3.9 Ca´lculo de combinac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 3.10 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172 3.11 Apeˆndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 • Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 4 Sequeˆncias Especiais 189 4.1 Construc¸a˜o de sequeˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 4.1.1 progressa˜o geome´trica-aritme´tica . . . . . . . . . . . . 190 4.1.2 progressa˜o aritme´tica perio´dica . . . . . . . . . . . . . 198 4.1.3 progressa˜o geome´trica-aritme´tica-aritme´tica . . . . . . 201 4.1.4 Um (ex)problema em aberto . . . . . . . . . . . . . . 211 4.2 Produto dos termos de uma P.A. . . . . . . . . . . . . . . . . 216 4.2.1 progressa˜o aritme´tica-geome´trica . . . . . . . . . . . . 218 4.3 Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 4.4 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 5 Progressa˜o aritme´tica bidimensional 227 5.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 5.2 Noc¸o˜es iniciais: sequeˆncias duplas . . . . . . . . . . . . . . . . 228 5.3 Fo´rmula do termo geral de uma PA-2D . . . . . . . . . . . . 232 5.3.1 Propriedades numa PA-2D . . . . . . . . . . . . . . . 238 5.4 Soma dos termos de uma PA-2D . . . . . . . . . . . . . . . . 242 5.5 Linearizac¸a˜o de sequeˆncias duplas . . . . . . . . . . . . . . . . 247 5.6 Equac¸o˜es de linearizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248 5.7 Soma em uma sequeˆncia linearizada . . . . . . . . . . . . . . 254 5.8 Aplicac¸o˜es da linearizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261 5.9 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270 5.10 Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277 • Um pouco de filosofia a`s vezes faz bem ao esp´ırito . . . . . 277 • A filosofia do Nada − do Vazio, da Vacuidade . . . . . . . 281 • Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 294 6 Progressa˜o geome´trica bidimensional 299 6.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299 6.2 Fo´rmula do termo geral de uma PG-2D . . . . . . . . . . . . 302 6.2.1 Propriedades numa PG-2D . . . . . . . . . . . . . . . 304 6.3 Soma do termos de uma PG-2D . . . . . . . . . . . . . . . . . 304 6.4 Soma do termos de uma PG-2D infinita . . . . . . . . . . . . 307 6.5 Produto dos termos de uma PG-2D . . . . . . . . . . . . . . . 307 6.6 Linearizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312 6.7 Aplicac¸o˜es da linearizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 313 6.8 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 322 10 6.9 Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331 • Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331 7 Progressa˜o aritme´tica tridimensional 337 7.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337 7.2 Noc¸o˜es iniciais: sequeˆncias triplas . . . . . . . . . . . . . . . . 338 7.3 Fo´rmula do termo geral de uma PA-3D . . . . . . . . . . . . 344 7.3.1 Propriedades numa PA-3D . . . . . . . . . . . . . . . 351 7.4 Soma dos termos de uma PA-3D . . . . . . . . . . . . . . . . 354 7.5 Linearizac¸a˜o de sequeˆncias triplas . . . . . . . . . . . . . . . . 358 7.6 Equac¸o˜es de linearizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359 7.7 Soma em uma sequeˆncia linearizada . . . . . . . . . . . . . . 371 7.8 Aplicac¸o˜es da linearizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 379 7.9 Exerc´ıcios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 415 7.10 Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 422 8 Mais aplicac¸o˜es 431 8.1 Um algoritmo para vencer na Torre de Hano´i . . . . . . . . . 447 8.2 Quadrados e cubos ma´gicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 449 8.2.1 Quadrados ma´gicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 449 8.2.2 Cubos ma´gicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 455 8.3 Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 472 � Representac¸a˜o bina´ria e Torre de Hano´i . . . . . . . . . . . 472 � Uma transformac¸a˜o linear especial . . . . . . . . . . . . . . 475 9 Programando a HP Prime 481 9.1 Introduc¸a˜o a` programac¸a˜o da HP Prime . . . . . . . . . . . . 481 9.1.1 Programac¸a˜o nume´rica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483 9.1.2 Programac¸a˜o alge´brica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 491 9.2 Listas e Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 500 9.2.1 Listas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 500 9.2.2 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 505 9.3 Estruturas de Programac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 515 9.3.1 Estruturas c´ıclicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516 9.3.2 Estruturas condicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 526 9.4 Algumas func¸o˜es especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 530 • Tabela-Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 544 • Resolvendo equac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 545 9.5 Polinoˆmios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 565 9.6 Nu´mero inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 586 11 1 a Edic¸~ao deste livro/Ano 2000 12 Capı´tulo 1 Sequeˆncias aritme´ticas de ordem m Nem voceˆ nem eu nem ningue´m sabemos o que faz um matema´tico vingar. Na˜o e´ uma questa˜o de inteligeˆncia. Conhec¸o matema´ticos mais ha´beis que eu, mas que na˜o tiveram sorte. Considere dois mineiros: um talvez seja perito em geologia, mas e´ o mineiro ignorante quem acha as pepitas douradas. (Louis J. Mordell/matema´ticobritaˆnico) 1.1 Introduc¸a˜o O pre´-requisito para a leitura deste cap´ıtulo e´ o Princ´ıpio da Induc¸a˜o Finita e o Triaˆngulo Aritme´tico de Pascal (TAP) que constam em um apeˆndice, nas pa´ginas 64 e 68. Posso afirmar que todo este livro se iniciou a partir de uma simples ob- servac¸a˜o. Estava eu em dado momento necessitando da fo´rmula para a soma dos quadrados dos n primeiros nu´meros naturais: 12 + 22 + 32 + · · · + n2 =? Como na˜o lembrava da fo´rmula me propus a deduz´ı-la. Por onde comec¸ar? Me veio a ideia de fazer diferenc¸as sucessivas entre os termos da sequeˆncia, 1 4 9 16 25 . . . assim: 1 4 9 16 25 . . . 3 5 7 9 . . . − − − − Ou ainda, 13 1 4 9 16 25 . . . 3 5 7 9 . . . Notei∗ − e achei interessante − o fato de que as diferenc¸as entre termos consecutivos da primeira sequeˆncia resultasse em uma sequeˆncia que estava em progressa˜o aritme´tica. Me perguntei: por que na˜o definir um tipo de sequeˆncia cujas diferenc¸as dos termos fosse uma P.A. e na˜o uma constante? − como acontece com a diferenc¸a dos termos de uma P.A., veja: 1 4 9 16 25 . . . 3 5 7 9 . . . 2 2 2 . . . Foi assim que defini (criei) as progresso˜es aritme´ticas de ordem dois, por exemplo: 1 4 9 16 25 . . . P.A.2 3 5 7 9 . . . P.A.1 2 2 2 . . . P.A.0 Uma sequeˆncia de termos constantes denominei de uma “progressa˜o aritme´- tica de ordem zero”; notac¸a˜o como no diagrama. Posteriormente constatei que a sequeˆncia dos cubos dos n primeiros nu´meros naturais, 13 23 33 43 53 63 . . . tambe´m funciona neste esquema, veja: 1 8 27 64 125 216 . . . P.A.3 7 19 37 61 91 . . . P.A.2 12 18 24 30 . . . P.A.1 6 6 6 . . . P.A.0 Rapidamente me dei conta de que na˜o havia raza˜o para ficar apenas nas P.A.2 − meu objetivo inicial −, assim e´ que me propus a generalizar para uma ordem arbitra´ria m. E´ justamente a propriedade exposta anteriormente − comum a estas sequeˆncias e muitas outras − que vai nos permitir unifica´-las em uma so´ fo´rmula! ∗Na e´poca era rece´m formado em engenharia, mas teimosamente ja´ ensaiava minhas primeiras criac¸o˜es na matema´tica. 14 Interregno cultural Apo´s a conclusa˜o deste livro† me deparei na literatura com as progresso˜es aritme´ticas de ordem m, logo dei-me conta de que a minha definic¸a˜o destas sequeˆncias e´ diferente da que consta na literatura, o que me permitiu obter va´rias fo´rmulas que na˜o aparecem nos outros livros. Antes de apresentar a minha definic¸a˜o vejamos a que consta na literatura∗: (p. 7) Uma progressa˜o aritme´tica de segunda ordem e´ uma sequeˆncia (a n ) na qual as diferenc¸as ∆a n = a n+1 − an , entre cada termo e o termo anterior, formam uma progressa˜o aritme´tica na˜o-estaciona´ria. Exemplo 15. A sequ¨eˆncia (a n ) = (1, 3, 6, 10, 15, 21, . . .) e´ uma pro- gressa˜o aritme´tica de segunda ordem porque a sequ¨eˆncia das diferenc¸as (bn) = (an+1 − an) = (2, 3, 4, 5, 6, . . .) e´ uma progressa˜o aritme´tica na˜o- estaciona´ria. De modo geral, uma progressa˜o aritme´tica de ordem k (k > 2) e´ uma sequ¨eˆncia na qual as diferenc¸as entre cada termo e o termo anterior formam uma progressa˜o aritme´tica de ordem k − 1. Enta˜o, retomando, como disse, sem ter conhecimento de que ja´ exis- tiam as progresso˜es aritme´ticas de ordem m, tomei um caminho alterna- tivo. A propo´sito, este caminho alternativo me permitiu na˜o apenas dedu- zir va´rias fo´rmulas ine´ditas como, ademais, tambe´m definir as progresso˜es geome´tricas de ordem m; nos livros que consultei na˜o encontrei refereˆncia a estas sequeˆncias. Para o que se segue, necessitaremos de dois ı´ndices para localizar um termo qualquer nestas sequeˆncias: um que se refira ao pro´prio termo e, outro, que se refira a` ordem da sequeˆncia. Sendo assim, convencionamos: a nm = n - e´simo termo da P.A. de ordem m. Por exemplo, observe a disposic¸a˜o dos ı´ndices no diagrama a seguir a13 a23 a33 a43 a53 a63 . . . P.A. 3 a12 a22 a32 a42 a52 . . . P.A. 2 a11 a21 a31 a41 . . . P.A. 1 a10 a20 a30 . . . P.A. 0 Nota: Em todo este livro consideraremos n ∈ N = { 1, 2, 3, . . . } e m ∈ N ∪ { 0 }, a menos que o contra´rio seja explicitado. †Refiro-me a` primeira versa˜o, 1993. ∗A matema´tica do ensino me´dio − volume 2 / Elon Lages Lima, et. all; 6.ed. Rio de Janeiro: SBM 2006. 15 1.2 Definic¸a˜o O nosso caminho alternativo (ine´dito) consta da seguinte Definic¸a˜o 1. Chama-se progressa˜o aritme´tica de ordem m ( P.A.m ) uma sequeˆncia dada pela seguinte fo´rmula de recorreˆncia: a n0 = r, r 6= 0, n ≥ 1; a1j = aj , j = 1, 2, . . . , m; a nm = a (n−1)m + a (n−1)(m−1) , m ≥ 1, n ≥ 2. Onde: (i) m ≥ 1 e´ um natural arbitrariamente fixado. (ii) r e a j sa˜o constantes dadas. Podemos chamar r de raza˜o ou semente da P.A. de ordem m. Por definic¸a˜o, r 6= 0. (iii) a n0 = r (n ≥ 1) significa que uma P.A. de ordem zero tem todos os seus termos constantes (e´ uma sequeˆncia constante). Exemplo: Vejamos a ideia que esta´ por tra´s desta definic¸a˜o. Vamos cons- truir uma P.A.2 . Enta˜o, fixando m = 2, resulta: a n0 = r, r 6= 0, n ≥ 1; a1j = aj , j = 1, 2; a n2 = a(n−1)2 + a(n−1)(2−1) , n ≥ 2. Devemos fornecer treˆs termos, representados por uma “bolinha” na figura: • • • a10 a11 a12 O termo a10 e´ repetido indefinidamente para a direita, assim: • • • a11 a12 • • • . . . a10 a10 a10 a10 16 Resumindo ate´ aqui, fornecemos uma sequeˆncia constante e o primeiro termo das P.A.1 e P.A.2 . Em seguida construimos a P.A.1 atrave´s das seguinte somas sucessivas, veja: • • a11 a12 • • • . . . a10 a10 a10 a10 • • • • . . . + + + P.A.0 P.A.1 Uma vez construida a P.A.1 usamos esta para − ainda atrave´s de somas sucessivas − construir a P.A.2 , assim: • • • • • . . . a11 a12 • • • . . . a10 a10 a10 a10 • • • • . . . + + + P.A.0 P.A.1 P.A.2 + + + Este e´ o algoritmo para construirmos uma P.A. de qualquer ordem. Uma das primeiras propriedades em uma P.A.m consta no seguinte Lema 1. Numa P.A.m o termo de ordem n e´ igual a` soma do primeiro termo, com a soma dos n− 1 primeiros termos da P.A. de ordem m− 1. Deduc¸a˜o: Da fo´rmula de recorreˆncia que define uma P.A.m , temos: a2m = a1m + a1(m−1) a3m = a2m + a2(m−1) a4m = a3m + a3(m−1) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · a nm = a (n−1)m + a (n−1)(m−1) 17 Somando estas n− 1 igualdades e fazendo os cancelamentos apropriados obtemos: a nm = a1m + S(n−1)(m−1) (1.1) Onde: S (n−1)(m−1) e´ a soma dos n− 1 termos iniciais da P.A.m−1 . Prova: Induc¸a˜o sobre n. n = 1: a1m = a1m + S(1−1)(m−1)︸ ︷︷ ︸ =0 Suponhamos a equac¸a˜o va´lida para n = p, isto e´: (H.I.) a pm = a1m + S(p−1)(m−1) E provemos que vale para n = p+ 1, isto e´: (T.I.) a (p+1)m = a1m + S((p+1)−1)(m−1) Da fo´rmula de recorreˆncia, temos: (def. 1, p. 16) a (p+1)m = a pm + a p(m−1) = a1m + S(p−1)(m−1) + ap(m−1) = a1m + S((p+1)−1)(m−1) � Nota: Alertamos o leitor a na˜o causar confusa˜o entre deduc¸a˜o e demons- trac¸a˜o de uma fo´rmula; pois, na˜o raro, sa˜o coisas distintas. Por vezes uma deduc¸a˜o na˜o tra´s em si a demonstrac¸a˜o e, reciprocamente, por vezes a de- monstrac¸a˜o na˜o da´ nenhuma indicac¸a˜o de como a fo´rmula foi obtida. Em todo este livro adotaremos a seguinte extensa˜o do coeficiente bino- mial: ( n r ) = n! r! (n− r)! , se 0 ≤ r ≤ n; 0 , se r > n ou r < 0. para todo n, r ∈ Z. 18 1.3 Fo´rmula do termo geral de uma P.A.m Na˜o seria sensato − e nem mesmo razoa´vel − recorrer a` definic¸a˜o (p. 16) para o ca´lculo de um termo qualquer de uma P.A.m . Nosso objetivo agora sera´ demonstrar uma fo´rmula que nos fornec¸a diretamente qualquer termo de qualquerP.A.m . Vamos por passos: (i) m = 1 : Utilizando o lema 1 (p. 17), temos: a n1 = a11 + S(n−1)(1−1) onde, S (n−1)0 e´ a soma dos n−1 termos iniciais da P.A. de ordem zero, vale: S (n−1)0 = r + r + · · ·+ r︸ ︷︷ ︸ (n−1) termos = (n− 1) r Sendo assim, temos: a n1 = a11 + (n− 1) r (1.2) E´ a fo´rmula do termo geral de uma P.A.1 . (ii) m = 2 : Utilizando o lema 1 (p. 17), temos: a n2 = a12 + S(n−1)(2−1) (1.3) onde, S (n−1)1 e´ a soma dos n− 1 termos iniciais da P.A.1 . Vamos deduzir esta fo´rmula utilizando a equac¸a˜o (1.2), assim: a11 = a11 a21 = a11 + r a31 = a11 + 2r · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · a n1 = a11 + (n− 1) r Somando estas n igualdades, resulta: a11 + a21 + a31 + · · ·+ an1 = (a11 + a11 + a11 + · · ·+ a11) + ( 1 + 2 + · · ·+ (n− 1) ) r O seguinte resultado ja´ e´ conhecido, 1 + 2 + · · ·+ n = n(n+ 1) 2 ⇒ 1 + 2 + · · ·+ n− 1 = (n− 1)n 2 (1.4) Portanto, S n1 = na11 + n(n− 1) 2 r 19 Ou ainda, S (n−1)1 = (n− 1)a11 + (n− 1)(n − 2) 2 r Substituindo este resultado na equac¸a˜o (1.3) (p. 19), resulta: a n2 = a12 + (n− 1)a11 + (n− 1)(n − 2) 2 r (1.5) E´ a fo´rmula do termo geral de uma P.A.2 . (iii) m = 3 : Utilizando o lema 1 (p. 17), temos: a n3 = a13 + S(n−1)(3−1) (1.6) onde, S (n−1)2 e´ a soma dos n− 1 termos iniciais da P.A.2 . Vamos deduzir esta fo´rmula utilizando a equac¸a˜o (1.5), assim: a12 = a12 a22 = a12 + a11 a32 = a12 + 2 a11 + r a42 = a12 + 3 a11 + 3 r a52 = a12 + 4 a11 + 6 r a62 = a12 + 5 a11 + 10 r · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · a n2 = a12 + (n− 1)a11 + (n− 1)(n − 2) 2 r Somando estas n igualdades, resulta: S n2 = n a12 + ( 1 + 2 + 3 + · · ·+ (n− 1) ) a11 (1.7) + ( 1 + 3 + 6 + 10 + · · ·+ (n− 1)(n − 2) 2 ) r Agora precisamos encontrar uma fo´rmula para a seguinte soma 1 + 3 + 6 + 10 + · · ·+ (n− 1)(n − 2) 2 = ? (1.8) Como proceder? 20 Com um pouco de inspirac¸a˜o percebemos que a sequeˆncia 1, 3, 6, 10, . . . aparece na segunda diagonal do famoso Triaˆngulo Aritme´tico de Pascal (TAP), veja (estamos contando as diagonais “de cima para baixo”, iniciando a contagem em zero): 1 1 1 1 2 1 1 3 3 1 1 4 6 4 1 1 5 10 10 5 1 1 6 15 20 15 6 1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ց Em seguida desconfiamos de que a parcela (n − 1)(n − 2)/2 prove´m de um coeficiente binomial. De fato, podemos escrever (prop. 1, p. 68) (n− 1)(n − 2) 2 = ( n− 1 2 ) = ( n− 1 n− 3 ) O que nos leva a olhar para o Triaˆngulo na seguinte versa˜o: ( 0 0 ) ( 1 0 ) ( 1 1 ) ( 2 0 ) ( 2 1 ) ( 2 2 ) ( 3 0 ) ( 3 1 ) ( 3 2 ) ( 3 3 ) ( 4 0 ) ( 4 1 ) ( 4 2 ) ( 4 3 ) ( 4 4 ) ( 5 0 ) ( 5 1 ) ( 5 2 ) ( 5 3 ) ( 5 4 ) ( 5 5 ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·( n 0 ) ( n 1 ) ( n 2 ) ( n 3 ) ( n 4 ) · · · ( n n−1 ) ( n n ) ( n+1 0 ) ( n+1 1 ) ( n+1 2 ) ( n+1 3 ) ( n+1 4 ) · · · (n+1 n−1 ) ( n+1 n ) ( n+1 n+1 ) ( n+2 0 ) ( n+2 1 ) ( n+2 2 ) ( n+2 3 ) ( n+2 4 ) · · · (n+2 n−1 ) ( n+2 n ) ( n+2 n+1 ) ( n+2 n+2 ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 21 Em seguida observe, na versa˜o anterior do triaˆngulo, que a sequeˆncia 1, 2, 3, 4, 5, . . . aparece na diagonal um. Ja´ sabemos que 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + · · · + n = n(n+ 1) 2 (1.9) E´ vantajoso observarmos n(n+1)/2 como oriundo de um coeficiente bino- mial, isto e´, n(n+ 1) 2 = ( n+ 1 2 ) = ( n+ 1 n− 1 ) Inspirados na diagonal um do TAP, escrevemos para a soma (1.9)( 1 0 ) + ( 2 1 ) + ( 3 2 ) + · · ·+ ( n n− 1 ) = ( n+ 1 2 ) = ( n+ 1 n− 1 ) Para nossa surpresa observamos que a soma dos n primeiros coeficientes binomiais − da diagonal um − e´ exatamente o coeficiente que se encontra imediatamente abaixo do coeficiente ( n n−1 ) . Observe isto no diagrama: ( 0 0 ) ( 1 0 ) ( 1 1 ) ( 2 0 ) ( 2 1 ) ( 2 2 ) ( 3 0 ) ( 3 1 ) ( 3 2 ) ( 3 3 ) ( 4 0 ) ( 4 1 ) ( 4 2 ) ( 4 3 ) ( 4 4 ) ( 5 0 ) ( 5 1 ) ( 5 2 ) ( 5 3 ) ( 5 4 ) ( 5 5 ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·( n 0 ) ( n 1 ) ( n 2 ) ( n 3 ) ( n 4 ) · · · ( n n−1 ) ( n n ) ( n+1 0 ) ( n+1 1 ) ( n+1 2 ) ( n+1 3 ) ( n+1 4 ) · · · (n+1 n−1 ) ( n+1 n ) ( n+1 n+1 ) ( n+2 0 ) ( n+2 1 ) ( n+2 2 ) ( n+2 3 ) ( n+2 4 ) · · · (n+2 n−1 ) ( n+2 n ) ( n+2 n+1 ) ( n+2 n+2 ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · Esta observac¸a˜o nos sugere escrever − inspirados na diagonal dois − a soma (1.8) (p. 20), assim:( 2 0 ) + ( 3 1 ) + ( 4 2 ) + ( 5 3 ) + · · ·+ ( n+ 1 n− 1 ) =? 22 E, com a experieˆncia do caso anterior, na˜o nos custa nada conjecturar (uma palavara sofisticada para “chute”) que a soma anterior e´ o coeficiente binomial imediatamente abaixo de ( n+1 n−1 ) , isto e´, ( 2 0 ) + ( 3 1 ) + ( 4 2 ) + ( 5 3 ) + · · ·+ ( n+ 1 n− 1 ) = ( n+ 2 n− 1 ) Escrevendo esta equac¸a˜o na forma a que nossos olhos esta˜o acostumados, temos: 1 + 3 + 6 + 10 + · · · + n(n+ 1) 2 = (n+ 2)(n + 1)n 6 Para obter exatamente a equac¸a˜o (1.8) (p. 20), substituimos nesta equac¸a˜o n por n− 2, obtendo: 1 + 3 + 6 + 10 + · · ·+ (n− 2)(n − 1) 2 = n(n− 1)(n − 2) 6 Podemos testar nossa conjectura para alguns valores de n, enta˜o: n = 3 ⇒ 1 = 1 n = 4 ⇒ 1 + 3 = 4 n = 5 ⇒ 1 + 3 + 6 = 10 Substituindo a equac¸a˜o anterior e mais a equac¸a˜o (1.4) (p. 19) na equac¸a˜o (1.7) (p. 20), obtemos: S n2 = n a12 + (n− 1)n 2 a11 + n(n− 1)(n − 2) 6 r Substituindo S (n−1)2 na equac¸a˜o (1.6) (p. 20), obtemos: a n3 = a13 + (n− 1) a12 + (n − 2)(n − 1) 2 a11 + (n− 1)(n− 2)(n − 3) 6 r Esta e´ a fo´rmula do termo geral de uma P.A.3 . Seria um tanto quanto desanimador (para na˜o dizer impratica´vel) se tive´ssemos que deduzir uma fo´rmula do termo geral para cada uma das progresso˜es aritme´ticas de ordem m. Vamos tentar generalizar os resultados ja´ obtidos. Tendo em conta que r = a10 , temos: a n1 = a11 + (n− 1) r = ( n− 1 0 ) a11 + ( n− 1 1 ) a10 23 Tambe´m, a n2 = a12 + (n− 1)a11 + (n− 1)(n − 2) 2 r = ( n− 1 0 ) a12 + ( n− 1 1 ) a11 + ( n− 1 2 ) a10 Ainda, a n3 = a13 + (n− 1) a12 + (n− 1)(n − 2) 2 a11 + (n− 1)(n − 2)(n − 3) 6 r = ( n− 1 0 ) a13 + ( n− 1 1 ) a12 + ( n− 1 2 ) a11 + ( n− 1 3 ) a10 Vamos reescrever as equac¸o˜es anteriores da seguinte forma: a n1 = 1∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(1−j) a n2 = 2∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(2−j) a n3 = 3∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(3−j) Agora fica fa´cil generalizar: Teorema 1 (Fo´rmula do termo geral de uma P.A.m ). Em uma P.A.m o n− e´simo termo vale a nm = m∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(m−j) (1.10) Nota: Esta fo´rmula do termo geral de uma P.A.m e´ ine´dita, isto e´, na˜o consta na literatura − Assim como muitas outras que ainda aparecera˜o oportunamente.Isto tudo e´ uma consequeˆncia de nossa definic¸a˜o de P.A.m (def. 1, p. 16), que e´ uma definic¸a˜o construtiva, ao contra´rio da que se apresenta na literatura (p. 15). 24 Prova: Induc¸a˜o sobre n (m fixo). n = 1: a1m = m∑ j=0 ( 1− 1 j ) a 1(m−j) = ( 0 0 ) a 1(m−0) + m∑ j=1 ( 0 j ) a 1(m−j) = 1 a1m + 0 = a1m Suponhamos a equac¸a˜o va´lida para n = p, isto e´: (H.I.) a pm = m∑ j=0 ( p− 1 j ) a 1(m−j) E provemos que vale para n = p+ 1, isto e´: (T.I.) a (p+1)m = m∑ j=0 ( ( p + 1 ) − 1 j ) a 1(m−j) Da fo´rmula de recorreˆncia, temos: (def. 1, p. 16) a (p+1)m = a ((p+1)−1)m + a ((p+1)−1)(m−1) = a pm + a p(m−1) = m∑ j=0 ( p− 1 j ) a 1(m−j) + m−1∑ j=0 ( p− 1 j ) a 1((m−1)−j) = m∑ j=0 ( p− 1 j ) a 1(m−j) + m∑ j=0 ( p− 1 j − 1 ) a 1(m−j) = m∑ j=0 [( p− 1 j ) + ( p− 1 j − 1 )] a 1(m−j) = m∑ j=0 ( ( p+ 1 )− 1 j ) a 1(m−j) . � Na u´ltima igualdade usamos a relac¸a˜o de Stiefel, equac¸a˜o (1.25), p. 68. Voltando a` nossa conjectura − quanto a` soma das diagonais do TAP − enunciamos o seguinte resultado. 25 Teorema 2. Seja j um natural arbitrariamente fixado. Para n ≥ j vale a seguinte identidade: n∑ i= j ( i j ) = ( n+ 1 j + 1 ) (1.11) Prova: Apeˆndice, pa´gina 71. � Exemplos: (a) Tomando j = 1 na equac¸a˜o (1.11), obtemos: n∑ i=1 ( i 1 ) = ( n+ 1 1 + 1 ) Isto e´, ( 1 1 ) + ( 2 1 ) + · · ·+ ( n 1 ) = ( n+ 1 2 ) Ou ainda, 1 + 2 + · · · + n = n(n+ 1) 2 (b) Tomando j = 2 na equac¸a˜o (1.11), obtemos: n∑ i=2 ( i 2 ) = ( n+ 1 2 + 1 ) Isto e´, ( 1 2 ) + ( 2 2 ) + ( 3 2 ) + · · · + ( n 2 ) = ( n+ 1 3 ) Ou ainda, 1 + 3 + 6 + · · ·+ n(n− 1) 2 = (n+ 1)n(n− 1) 6 Observac¸a˜o: A equac¸a˜o (1.11) nos fornece para j = m a soma dos n+1−m termos iniciais da diagonal m do TAP. Nota: O teorema 2 foi descoberto exatamente dentro do contexto descrito − isto e´, surgiu da necessidade de estabelecermos uma fo´rmula para a soma dos termos de uma P.A.2 −, posteriormente tivemos conhecimento de que o mesmo ja´ existia (conhecido como Teorema das Diagonais). Achei por bem compartilhar com o leitor o processo heur´ıstico de descoberta. 26 Mostraremos oportunamente que a diagonal m do TAP esta´ em P.A.m : 1 1 1 1 2 1 1 3 3 1 1 4 6 4 1 1 5 10 10 5 1 1 6 15 20 15 6 1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ց P.A. 0 ց P.A. 1 ց P.A. 2 . . . Voltando ao teorema 1 (p. 24) observe que para calcular o n-e´simo termo de uma P.A.m necessitaremos conhecer, a priori, o primeiro termo de todas as sequeˆncias anteriores, e´ o que nos diz o coeficiente a 1(m−j) (j = 0, 1, . . . , m) na equac¸a˜o (1.10) (p. 24). No caso particular de uma P.A.3 , por exemplo, isto implica em que para conhecermos qualquer termo do retaˆngulo em destaque na horizontal a 13 a 23 a 33 a 43 a 53 a 63 . . . P.A.3 a 12 a 22 a 32 a 42 a 52 . . . P.A.2 a 11 a 21 a 31 a 41 . . . P.A.1 a 10 a 20 a 30 . . . P.A.0 deveremos conhecer os termos em destaque na vertical − como se observa na equac¸a˜o de an3 , veja: a n3 = a 13 + (n− 1) a 12 + (n− 1)(n− 2) 2 a 11 + (n− 1)(n− 2)(n− 3) 6 a 10 Algoritmo Vamos sugerir um algoritmo para se obter os termos a 1(m−j) , para j = 0, 1, . . . , m. Oportunamente provaremos tal algoritmo. Dada a P.A.m (m ≥ 1) fazemos diferenc¸as sucessivas entre termos consecutivos das P.A.s de ordem m, m − 1, . . . , 1 e tomamos o primeiro termo de cada uma destas sequeˆncias. 27 Exemplos: (a) Encontre a fo´rmula do termo geral da seguinte P.A.2 : 1 3 6 10 15 21 . . . Soluc¸a˜o: Substituindo m = 2 na fo´rmula (1.10) (p. 24), obtemos: a n2 = 2∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(2−j) = ( n− 1 0 ) a 1(2−0) + ( n− 1 1 ) a 1(2−1) + ( n− 1 2 ) a 1(2−2) Simplificando, obtemos: a n2 = a 12 + (n− 1)a 11 + (n− 1)(n− 2) 2 a 10 (1.12) Esta e´ a fo´rmula do termo geral de uma P.A.2 . Para encontrar os coeficientes a11 e a10 aplicamos o algoritmo, assim: 1 3 6 10 15 . . . 2 3 4 5 . . . 1 1 1 . . . − − − Ou ainda, 1 3 6 10 15 . . . 2 3 4 5 . . . 1 1 1 . . .a 10 → a 11 → a12 → Substituindo estes resultados na equac¸a˜o (1.12) e simplificando, obtemos: a n2 = n(n+ 1) 2 (1.13) e´ a fo´rmula para um termo qualquer da segunda diagonal do Triaˆngulo de Pascal. 28 (b) (UFRGS 04) Considere a disposic¸a˜o de nu´meros abaixo. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · O primeiro elemento da quadrage´sima linha e´ a) 777 b) 778 c) 779 d) 780 e) 781 Soluc¸a˜o: Vamos obter a fo´rmula do termo geral da sequeˆncia 1 2 4 7 11 16 . . . Aplicando o algoritmo, resulta 1 2 4 7 11 16 . . . 1 2 3 4 5 . . . 1 1 1 1 . . .a 10 → a 11 → a 12 → A sequeˆncia em questa˜o e´ uma P.A.2 ; logo, substituindo estes dados na equac¸a˜o (1.12) (p. 28), temos an2 = 1 + (n− 1) 1 + (n− 1)(n− 2) 2 1 Simplificando, an2 = n2 − n + 2 2 Enta˜o, a40,2 = 402 − 40 + 2 2 = 781 29 (c) Uma aplicac¸a˜o importante de uma P.A.m e´ a seguinte: Dada uma sequeˆncia com m + 1 termos, podemos encontrar um polinoˆmio de grau m que gera estes m+ 1 termos. Exemplo: Encontre uma fo´rmula para os cinco primeiros nu´meros primos. Soluc¸a˜o: Devemos encontrar um polinoˆmio que gere a sequeˆncia: 2, 3, 5, 7, 11 Como temos 4 + 1 termos, estes determinam uma P.A.4 , da seguinte forma: an4 = 4∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(4−j) Ou ainda, a n4 = ( n− 1 0 ) a 14 + ( n− 1 1 ) a 13 + ( n− 1 2 ) a 12 + ( n− 1 3 ) a 11 + ( n− 1 4 ) a 10 Aplicando o algoritmo obtemos o seguinte diagrama: 2 3 5 7 11 1 2 2 4 1 0 2 −1 2 3a 10 → a11 → a 12 → a 13 → a14 → Substituindo estes coeficientes e simplificando, obtemos: p(n) = 1 8 n4 − 17 12 n3 + 47 8 n2 − 103 12 n+ 6 Onde, p(n) = a n4 . 30 1.3.1 Calculadora HP Prime−Computac¸a˜o alge´brica No nosso entendimento uma das maiores conquistas da Cieˆncia da Computac¸a˜o foi justamente a computac¸a˜o alge´brica; hoje em dia uma “simples” calculadora como a HP Primenos permite trabalhar com equac¸o˜es, com fo´rmulas. Em particular podemos programar, por exemplo, na˜o apenas a fo´rmula do termo geral de uma P.A.m como, ademais, muitas outras fo´rmulas que ainda aparecera˜o neste livro. Nota: No u´ltimo cap´ıtulo ensinamos como programar esta Calculadora. Apenas a t´ıtulo de ilustrac¸a˜o, programamos (p. 75) a fo´rmula do termo geral de uma P.A.m (eq. (1.10), p. 24), entramos com os m + 1 primeiros termos e o programa sai com a fo´rmula do termo geral. Por exemplo, na tela a seguir temos a simulac¸a˜o do exemplo (a) dado na pa´gina 28, onde entramos (em um vetor) com os treˆs primeiros termos da sequeˆncia 1 3 6 10 15 21 . . . e o programa sai com a fo´rmula (1.13) (p. 28). Com o mesmo programa implementamos o exemplo (c) dado na pa´gina 30. Nas telas a seguir entramos (em um vetor) com os cinco primeiros nu´meros primos e o programa nos devolve o polinoˆmio que gera estes cinco primos, em sequeˆncia. 31 Um dos teoremas mais importantes e´ dado a seguir. Teorema 3 (Teorema da Unificac¸a˜o). A fo´rmula do termo geral de uma P.A.m e´ um polinoˆmiode grau m e, reciprocamente. Prova: (⇒) Temos a nm = m∑ j=0 ( n− 1 j ) a 1(m−j) = ( n− 1 0 ) a 1m + ( n− 1 1 ) + · · ·+ ( n− 1 m ) a 10 = a1m + (n− 1) a1(m−1) + · · ·+ (n− 1)(n− 2) · · · (n−m) m! a10 como, por definic¸a˜o, a10 6= 0, temos um polinoˆmio de grau m. (⇐) A prova da volta sera´ feita no pro´ximo cap´ıtulo. � Observe que o “reciprocamente” do teorema significa que toda sequeˆncia que tem como fo´rmula do termo geral um polinoˆmio de grau m e´ uma P.A.m − da´ı o nome de teorema da unificac¸a˜o. Perceba que isto na˜o e´ pouco; por exemplo, a sequeˆncia (a n ) dada por a n = nm (m natural arbitrariamente fixado) e´ uma P.A.m e, por conta disto, oportuna- mente obteremos uma fo´rmula geral e na˜o recursiva para a soma de poteˆncias dos n primeiros nu´meros naturais. Esta sera´ uma fo´rmula ine´dita. [...] 1 a Edic¸~ao deste livro/Ano 2000 32 Nu´meros poligonais de k lados como P.A.2 Temos, ainda como consequeˆncia do teorema da unificac¸a˜o, que os nu´meros poligonais esta˜o em P.A.2 . Consideremos a P.A. de primeiro termo 1 e de raza˜o k − 2, sendo k ≥ 3 um inteiro arbitrariamente fixado. Isto e´, 1, k − 1, 2k − 3, 3k − 5, . . . , 1 + (n− 1)(k − 2), . . . (1.14) Definic¸a˜o 2. Chama-se nu´mero poligonal de k lados todo nu´mero que e´ soma de termos consecutivos da P.A. (1.14), comec¸ando pelo primeiro termo 1. Temos: p 1, k = 1 p 2, k = 1 + (k − 1) = k p 3, k = 1 + (k − 1) + (2k − 3) = 3k − 3 p 4, k = 1 + (k − 1) + (2k − 3) + (3k − 5) = 6k − 8 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · p n, k = 1 + (k − 1) + (2k − 3) + · · ·+ [1 + (n− 1)(k − 2)] = 6k − 8 = n(n− 1)(k − 2) 2 + n Casos especiais dos nu´meros poligonais de k lados sa˜o: (i) Nu´meros triangulares (k = 3): p n, 3 = n(n− 1)(3− 2) 2 + n Listando, p n, 3 : 1 3 6 10 15 21 28 . . . (ii) Nu´meros Quadra´ticos (k = 4): p n, 4 = n(n− 1)(4− 2) 2 + n Listando, pn, 4 : 1 4 9 16 25 36 49 . . . 33 Triaˆngulo de Pascal e as P.A.m No triaˆngulo aritme´tico de Pascal a diagonal m (m = 0, 1, 2, . . .) encontra-se em P.A.m , veja: 1 1 1 1 2 1 1 3 3 1 1 4 6 4 1 1 5 10 10 5 1 1 6 15 20 15 6 1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ց P.A.0 ց P.A.1 ց P.A.2 . . . Ou ainda, ( 0 0 ) ( 1 0 ) ( 1 1 ) ( 2 0 ) ( 2 1 ) ( 2 2 ) ( 3 0 ) ( 3 1 ) ( 3 2 ) ( 3 3 ) ( 4 0 ) ( 4 1 ) ( 4 2 ) ( 4 3 ) ( 4 4 ) ( 5 0 ) ( 5 1 ) ( 5 2 ) ( 5 3 ) ( 5 4 ) ( 5 5 ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·( n 0 ) ( n 1 ) ( n 2 ) ( n 3 ) · · · ( nn−2) ( nn−1) (nn) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · P.A. 0 P.A. 1 P.A. 2 O n-e´simo termo da diagonal m e´ dado por a nm = ( m+ n− 1 n− 1 ) (1.15) Ou ainda, (prop. 1, p. 68) anm = ( m+ n− 1 m ) = (m+ n− 1)! m! (n− 1)! 34 Temos, (m+ n− 1)! = (n+m− 1) · . . . · (n+ 1) · n · (n− 1)!︸ ︷︷ ︸ (m+1) fator(es) Sendo assim, temos (m+ n− 1)! (n− 1)! = (n+m− 1) · . . . · (n+ 1) · n Portanto, a nm = (n+m− 1) · . . . · (n+ 1) · n m! , m ≥ 1 (arbitrariamente fixado) Observe que m = 1 : ⇒ a n, 1 = n 1! = n m = 2 : ⇒ an, 2 = (n+ 1)n 2! m = 3 : ⇒ a n, 3 = (n+ 2)(n+ 1)n 3! e´ o termo geral das diagonais um, dois e treˆs, respectivamente. Para cada m arbitrariamente fixado, a nm e´ um polimoˆmio de grau m, por isto afirmamos que a diagonal m, no TAP, esta´ em P.A.m . ∗ ∗ ∗ Na˜o creio que devo gastar anos estudando o trabalho dos outros, decifrando um campo complicado para poder contribuir com um pequeno aporte meu. Pre- firo dar largas passadas numa direc¸a˜o totalmente nova, em que a imaginac¸a˜o e´, pelo menos, inicialmente, muito mais importante do que a te´cnica, porque suas te´cnicas correspondentes teˆm ainda de ser desenvolvidas. [. . .] Lembre-se que a matema´tica e´ uma livre criac¸a˜o da mente humana e, como disse Cantor − o inventor da moderna teoria da infinitude, descrita por Wal- lace −, a esseˆncia da matema´tica reside na liberdade, na liberdade de criar. A histo´ria, pore´m, julga essas criac¸o˜es por sua beleza duradoura e pela extensa˜o com que elas iluminam outras ideias matema´ticas ou o universo f´ısico, em suma, por sua “fertilidade”. (Gregory Chaitin/Matema´tico e cientista da computac¸a˜o) 35 1.4 P.A.m em func¸a˜o dos seus pro´prios termos Observe a fo´rmula do termo geral de uma P.A.m , a nm = m∑ j =0 ( n− 1 j ) a 1(m−j)︸ ︷︷ ︸ ↑ o termo assinalado nos diz que para se obter um termo qualquer da P.A.m deve- remos conhecer o primeiro termo das progresso˜es de ordens inferiores − como ja´ haviamos mencionado antes (p. 27). Em nosso entendimento isto e´ um incoˆmodo, por exemplo, se quisermos escrever um programa computacional para encontrar este n-e´simo termo − com resultado nume´rico ou simbo´lico. O que vamos tentar agora e´ obter a fo´rmula do termo geral de uma P.A.m em func¸a˜o apenas dos seus pro´prios termos. Como toda grande caminhada inicia-se com um pequeno passo, vamos por partes. Incialmente vamos escrever a fo´rmula do termo geral de uma P.A.1 em func¸a˜o apenas dos seus pro´prios termos, veja: a n1 = a 11 + (n− 1) a 10 Precisamos eliminar desta equac¸a˜o o termo a 10 . Na definic¸a˜o de uma P.A.m (p. 16), para m = 1, temos a n1 = a (n−1)1 + a (n−1)(1−1) logo, a (n−1)0 = a n1 − a (n−1)1 Substituindo n = 2 nesta equac¸a˜o, resulta: a 10 = a 21 − a 11 . Portanto, a n1 = a 11 + (n− 1) (a 21 − a 11 ) E´ a fo´rmula do termo geral de uma P.A.1 em func¸a˜o apenas dos seus pro´prios termos. Vamos agora a` fo´rmula do termo geral da P.A.2 . Da definic¸a˜o, temos: m = 1 : a n1 = a (n−1)1 + a (n−1)0 ⇒ a (n−1)0 = a n1 − a (n−1)1 m = 2 : a n2 = a (n−1)2 + a (n−1)1 ⇒ a (n−1)1 = a n2 − a (n−1)2 Substituindo n = 2 nestas duas u´ltimas equac¸o˜es, resulta: a10 = a21 − a11 a 11 = a 22 − a 12 Substituindo n = 3, temos a21 = a32 − a22 36 Substituamos estas duas u´ltimas equac¸o˜es na primeira, obtemos a10 = (a32 − a22)− (a22 − a12) = a32 − 2 a22 + a12 Resumindo, temos a n2 = a 12 + (n− 1)a 11 + (n− 1)(n− 2) 2 a 10 Onde, a 11 = a 22 − a 12 a 10 = a 32 − 2 a 22 + a 12 Vejamos o que acontece para a P.A.3 . Na definic¸a˜o (p. 16), temos: m = 1 : a (n−1)0 = a n1 − a (n−1)1 m = 2 : a (n−1)1 = an2 − a(n−1)2 m = 3 : a (n−1)2 = a n3 − a (n−1)3 (⋆) Destas equac¸o˜es decorrem as seguintes: n = 2 ⇒ a 10 = a 21 − a 11 (1) a 11 = a 22 − a 12 (2) a 12 = a 23 − a 13 (3) e n = 3 ⇒ a 20 = a 31 − a 21 (4) a 21 = a 32 − a 22 (5) a 22 = a 33 − a 23 (6) Substituindo (3) e (6) em (2), obtemos: a 11 = (a 33 − a 23 )− (a 23 − a 13 ) = a 33 − 2 a 23 + a 13 (7) Ja´ temos a 12 e a 11 em func¸a˜o dos termos da P.A.3 , agora falta a 10 . Olhando a eq. (1), vamos precisar de a 21 em func¸a˜o dos termos da P.A.3 . De (5) precisamos de a 32 e a 22 ; mas a 22 ja´ temos (eq. 6). Para calcular a 32 vamos substituir n = 4 em (⋆), obtendo: a 32 = a 43 − a 33 (8) Substituindo (8) e (6) em (5), obtemos: a 21 = (a43 − a 33 )− (a 33 − a 23 ) = a 43 − 2 a 33 + a 23 (9) 37 Substituindo (9) e (7) em (1), obtemos: a 10 = (a 43 − 2 a 33 + a 23 )− (a 33 − 2 a 23 + a 13 ) = a43 − 3 a33 + 3 a23 − a13 E agora, o que faremos com todas estas informac¸a˜oes? Imbu´ıdos de um senti- mento de fe´, tentemos colocar ordem no caos! Vamos fazer o seguinte resumo das concluso˜es ja´ obtidas: a 11 = 1 · a 11 a10 = a21 − a11 = 1 · a 21 − 1 · a 11 P.A.1 : a12 = 1 · a12 a 11 = a 22 − a 12 = 1 · a 22 − 1 · a 12 a10 = a32 − 2 a22 + a12 = 1 · a 32 − 2 · a 22 + 1 · a 12 P.A.2 : a 13 = 1 · a 13 a 12 = a 23 − a 13 = 1 · a23 − 1 · a13 a 11 = a 33 − 2 a 23 + a 13 = 1 · a 33 − 2 · a 23 + 1 · a 13 a 10 = a 43 − 3 a 33 + 3 a 23 − a 13 = 1 · a 43 − 3 · a 33 + 3 · a 23 − 1 · a 13 P.A.3 : Os coeficientes nume´ricos (valor absoluto) dos desenvolvimentos de a 13 , a 12 , a11 e a10 correspondem exatamente aos coeficientes nas linhas do TAP, observe: 38 1 1 1 1 2 1 1 3 3 1 1 4 6 4 1 1 5 10 10 5 1 · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · a 10 = 1 · a 43 − 3 · a 33 + 3 · a 23 − 1 · a 13 −→ a11 = 1 · a33 − 2 · a23 + 1 · a13 −→ a 12 = 1 · a 23 − 1 · a 13 −→ a 13 = 1 · a 13 −→ Desta forma somos ate´ capazes de adivinhar os desenvolvimentos dos coeficien- tes na P.A.4 , veja: 1 · a 14 1 · a 24 − 1 · a 14 1 · a 34 − 2 · a 24 + 1 · a 14 1 · a44 − 3 · a34 + 3 · a24 − 1 · a14 1 · a 54 − 4 · a 44 + 6 · a 34 − 4 · a 24 + 1 · a 14 a 14 : a 13 : a 12 : a11 : a 10 : Para formalizar todo o exposto, observemos o triaˆngulo na seguinte versa˜o: ( 0 0 ) ( 1 0 ) ( 1 1 ) ( 2 0 ) ( 2 1 ) ( 2 2 ) ( 3 0 ) ( 3 1 ) ( 3 2 ) ( 3 3 ) ( 4 0 ) ( 4 1 ) ( 4 2 ) ( 4 3 ) ( 4 4 ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · a 14 : a13 : a 12 : a 11 : a 10 : Para a P.A.4 escrevemos (inspirados pela quarta linha do triaˆngulo): a 10 = 1 · a 54 − 4 · a 44 + 6 · a 34 − 4 · a 24 + 1 · a 14 = ( 4 0 ) a 54 − ( 4 1 ) a 44 + ( 4 2 ) a 34 − ( 4 3 ) a 24 + ( 4 4 ) a 14 39 Da terceira linha do triaˆngulo, tiramos: a 11 = 1 · a 44 − 3 · a 34 + 3 · a 24 − 1 · a 14 = ( 3 0 ) a44 − ( 3 1 ) a34 + ( 3 2 ) a24 − ( 3 3 ) a14 Da segunda linha do triaˆngulo, tiramos: a12 = 1 · a34 − 2 · a24 + 1 · a14 = ( 2 0 ) a 34 − ( 2 1 ) a 24 + ( 2 2 ) a 14 Da primeira linha do triaˆngulo, tiramos: a 13 = 1 · a 24 − 1 · a 14 = ( 1 0 ) a 24 − ( 1 1 ) a 14 Podemos unificar as quatro equac¸o˜es anteriores da seguinte forma: a 1(4−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) a (1−k+j)4 , j = 1, 2, 3, 4. Generalizando este resultado para uma P.A.m , temos o seguinte Teorema 4 (Gentil). Em uma P.A.m e´ va´lida a seguinte identidade: a 1(m−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) a (1−k+j)m (1.16) Prova: Sera´ feita oportunamente no pro´ximo cap´ıtulo. � Para recompensar o esforc¸o do leitor em ter nos acompanhado na deduc¸a˜o desta fo´rmula − bem como para tranquilizar os ce´pticos − adiantamos que com o aux´ılio da mesma obteremos, logo mais, uma fo´rmula fechada (isto e´, autossuficiente, na˜o recursiva) para a soma de poteˆncias dos naturais. Por muito tempo os matema´ticos buscaram por tal fo´rmula, coube a no´s materializar esta aspirac¸a˜o. Exemplo: Escrever a P.A.2 em func¸a˜o dos seus pro´prios termos. Soluc¸a˜o: Substituindo m = 2 na equac¸a˜o (1.16), temos a 1(2−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) a (1−k+j)2 , j = 1, 2. Enta˜o, j = 1 ⇒ a 11 = 1∑ k=0 (−1)k ( 1 k ) a (1−k+1)2 = 1 · a 22 − 1 · a 12 40 e j = 2 ⇒ a 10 = 2∑ k=0 (−1)k ( 2 k ) a (1−k+2)2 = 1 · a 32 − 2 · a 22 + a 12 Portanto, an2 = a12 + (n− 1) a11 + (n− 1)(n− 2) 2 a10 = a 12 + (n− 1)(a 22 − a 12 ) + (n− 1)(n− 2) 2 (a 32 − 2 · a 22 + a 12 ) − P.A.m em func¸a˜o dos seus pro´prios termos na HP Prime Na tela a seguir a 1(m−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) a (1−k+j)m temos o programa que implementa a fo´rmula da direita. (p. 74) Como ilustrac¸a˜o, considerando o exemplo da pa´gina 30, entrando com os cinco primeiros nu´meros primos, em um vetor, 2 3 5 7 11 1 2 2 4 1 0 2 −1 2 3a 10 → a 11 → a12 → a 13 → a 14 → o programa nos devolve os coeficientes em destaque no diagrama acima. 41 1.5 Propriedade fundamental de uma P.A.m Em uma progressa˜o aritme´tica a diferenc¸a entre dois termos consecutivos quais- quer e´ constante e igual a` pro´pria raza˜o, isto e´ a (n+1)1 − a n1 = r Este fato e´ uma decorreˆncia imediata da pro´pria definic¸a˜o. Pois bem, perguntamos se existiria uma relac¸a˜o equivalente para uma P.A.m . Como encontrar a raza˜o, por exemplo, em uma P.A.2 ?. Para a P.A.2 seguinte, por exemplo 1 3 6 10 15 21 . . . qual a relac¸a˜o que deve ser obedecida por termos consecutivos da mesma? Observe que a diferenc¸a entre termos consecutivos 1 3 6 10 15 21 . . . 2 3 4 5 6 . . . na˜o e´ uma constante, a exemplo da P.A. Tentaremos resolver esta questa˜o inicialmente para a P.A.2 . Vamos recorrer a` origem, digo, a` definic¸a˜o m = 2 : a n2 = a (n−1)2 + a (n−1)(2−1) ⇒ a (n−1)1 = a n2 − a (n−1)2 Desta equac¸a˜o obtemos as duas seguintes an1 = a(n+1)2 − an2 a (n+1)1 = a (n+2)2 − a (n+1)2 Portanto a (n+1)1 − a n1 = ( a (n+2)2 − a (n+1)2 ) − ( a (n+1)2 − a n2 ) = a (n+2)2 − 2 a (n+1)2 + a n2 = r. Isto e´, numa P.A.2 e´ va´lida a seguinte relac¸a˜o entre treˆs termos consecutivos a n+2 − 2 · a n+1 + a n = r Vejamos se conseguimos encontrar uma lei ana´loga entre termos consecutivos de uma P.A.3 . Enta˜o, m = 3 : an3 = a(n−1)3 + a(n−1)(3−1) ⇒ a(n−1)2 = an3 − a(n−1)3 42 Desta equac¸a˜o obtemos as treˆs seguintes a n2 = a (n+1)3 − a n3 a (n+1)2 = a (n+2)3 − a (n+1)3 a (n+2)2 = a (n+3)3 − a (n+2)3 Portanto a (n+1)1 − a n1 = a (n+2)2 − 2 a (n+1)2 + a n2 = ( a (n+3)3 − a (n+2)3 ) − 2 (a (n+2)3 − a (n+1)3 ) + ( a (n+1)3 − a n3 ) = a (n+3)3 − 3 a (n+2)3 + 3 a (n+1)3 − a n3 = r. Isto e´, numa P.A.3 e´ va´lida a seguinte relac¸a˜o entre quatro termos consecutivos a n+3 − 3 · a n+2 + 3 · a n+1 − a n = r Visando a uma generalizac¸a˜o, escrevemos: 1 · a (n+1)1 − 1 · an1 = r 1 · a (n+2)2 − 2 · a (n+1)2 + 1 · a n2 = r 1 · a (n+3)3 − 3 · a (n+2)3 + 3 · a (n+1)3 − 1 · a n3 = r Observando que os coeficientes nume´ricos nas equac¸o˜es anteriores esta˜o na pri- meira, segunda e terceira linhas, respectivamente, do TAP, escrevemos (→) 43 ( 1 0 ) · a (n+1)1 − ( 11) · an1 = r ( 2 0 ) · a (n+2)2 − ( 21) · a(n+1)2 + ( 22 ) · an2 = r ( 3 0 ) · a (n+3)3 − ( 31 ) · a(n+2)3 + ( 32) · a(n+1)3 − ( 33) · an3 = r O que nos permite enunciar o seguinte Teorema 5 (Propriedade Fundamental das P.A.m ). m + 1 termos consecutivos de uma P.A.m esta˜o relacionados pela seguinte identidade: m∑ k=0 (−1)k (m k ) a (n−k+m)m = a10 (1.17) Prova: Sera´ feita oportunamente no pro´ximo cap´ıtulo. � Nota: A relac¸a˜o (1.17) se aplica a toda sequeˆncia (a n ) que tem como fo´rmula do termo geral um polinoˆmio de grau m. Mostre que a10 = m! am ; sendo am o coeficiente de nm. Exemplos: (a) Treˆs termos consecutivos de uma P.A.2 satisfazem 2∑ k=0 (−1)k ( 2 k ) a (n−k+2)2 = a 10 Isto e´, (−1)0 ( 2 0 ) a (n−0+2)2 + (−1)1 ( 2 1 ) a (n−1+2)2 + (−1)2 ( 2 2 ) a (n−2+2)2 = a 10 Simplificando, 1 a (n+2)2 − 2 a (n+1)2 + 1 a n2 = a 10 Ou ainda, abandonando o segundo ı´ndice, 1 a n+2 − 2 a n+1 + 1 a n = a 10 A propriedade anterior pode ser confirmada, por exemplo, para a sequeˆncia dos quadrados dos naturais, veja: 1 4 9 16 25 36 . . . Por exemplo: 1 · 9 − 2 · 4 + 1 · 1 = 2 44 Ou, 1 · 16 − 2 · 9 + 1 · 4 = 2 (b) Estando a sequeˆncia (2x, x+ 1, 3x+ 1, 7x+ 3) em P.A.2 , determine x. Soluc¸a˜o: Se (a 1 , a 2 , a 3 , a 4 ) esta´ em P.A.2 enta˜o devemos ter 1 · a 3 − 2 · a 2 + 1 · a 1 = 1 · a 4 − 2 · a 3 + 1 · a 2 Logo, 1 · (3x+ 1) − 2 · (x+ 1) + 1 · (2x) = 1 · (7x+ 3) − 2 · (3x+ 1) + 1 · (x+ 1) resolvendo esta equac¸a˜o encontramos x = 3. (c) Seja a sequeˆncia (an) dada por an = n 3. Mostre que a seguinte identidade se verifica: 3∑ k=0 (−1)k ( 3 k ) a (n−k+3) = 3! Soluc¸a˜o: Temos 3∑ k=0 (−1)k ( 3 k ) a (n−k+3) = (−1)0 ( 3 0 ) a (n−0+3) + (−1)1 ( 3 1 ) a (n−1+3) + (−1)2 ( 3 2 ) a (n−2+3) + (−1)3 ( 3 3 ) a (n−3+3) Simplificando a expressa˜o a` direita obtemos, 3∑ k=0 (−1)k ( 3 k ) a (n−k+3) = 1 (n+ 3)3 − 3 (n+ 2)3 + 3 (n+ 1)3 − 1n3 = 6 Apenas a t´ıtulo de curiosidade, veja que interessante, na calculadora HP Prime 3∑ k=0 (−1)k ( 3 k ) (n− k + 3)3 ︸ ︷︷ ︸ Digitando esta expressa˜o primando esta tecla obtemos este resultado 45 1.6 Soma dos termos de uma P.A.m Para uma progressa˜o aritme´tica temos a seguinte fo´rmula para a soma dos seus n primeiros termos S n = n a 1 + n(n− 1) r 2 Desejamos generalizar este resultado. Ja´ vimos que (pp. 19, 23) S n1 = na 11 + n(n− 1) 2 r e S n2 = n a 12 + (n− 1)n 2 a 11 + n(n− 1)(n− 2) 6 r Procurando uma generalizac¸a˜o, escrevemos Sn1 = ( n 1 ) a11 + ( n 2 ) r e S n2 = ( n 1 ) a 12 + ( n 2 ) a 11 + ( n 3 ) r Ou ainda, S n1 = 1∑ j=0 ( n j + 1 ) a 1(1−j) e S n2 = 2∑ j=0 ( n j + 1 ) a 1(2−j) O que nos permite enunciar o seguinte (→) 46 Teorema 6 (Soma dos termos de uma P.A.m ). Em uma P.A.m a soma Snm dos n termos iniciais vale S nm = m∑ j =0 ( n j + 1 ) a 1(m−j) (1.18) Prova: Consideremos a equac¸a˜o (1.1) (p. 18) a nm = a 1m + S (n−1)(m−1) ⇒ S (n−1)(m−1) = a nm − a 1m Enta˜o, Snm = a(n+1)(m+1) − a1(m+1) = m+1∑ j=0 ( (n+ 1)− 1 j ) a 1((m+1)−j) − a 1(m+1) = m+1∑ j=0 ( n j ) a 1((m+1)−j) − a 1(m+1) = a 1(m+1) + m+1∑ j=1 ( n j ) a 1((m+1)−j) − a 1(m+1) = m+1∑ j=1 ( n j ) a 1((m+1)−j) = m∑ j=0 ( n j + 1 ) a 1(m−j) � Como vimos (p. 32) a fo´rmula do termo geral de uma P.A.m e´ um polinoˆmio de graum; da equac¸a˜o (1.18) concluimos que a fo´rmula da soma dos termos de uma P.A.m e´ um polinoˆmio de grau m + 1. Nos exemplos a seguir podemos constatar isto em alguns casos. 47 Exemplos: (a) Considere a sequeˆncia dada por a n = n2, dos quadrados dos naturais. Encontre uma fo´rmula para a soma dos seus n primeiros termos. Soluc¸a˜o: Pelo teorema da unificac¸a˜o (p. 32), a sequeˆncia dada e´ uma P.A.2 . Enta˜o S n2 = 2∑ j =0 ( n j + 1 ) a 1(2−j) = ( n 1 ) a 12 + ( n 2 ) a 11 + ( n 3 ) a 10 Do diagrama seguinte (Algoritmo, p. 27) 1 4 9 3 5 2a 10 → a11 → a 12 → Obtemos, S n2 = ( n 1 ) 1 + ( n 2 ) 3 + ( n 3 ) 2 Simplificando, obtemos 12 + 22 + 32 + · · · + n2 = n(2n+ 1)(n+ 1) 6 (1.19) Resultado este ja´ conhecido por outros me´todos. ∗ ∗ ∗ No programa que comparece na pa´gina seguinte usamos a fatorac¸a˜o de uma expressa˜o. Nas telas a seguir exemplificamos como fatorar e expandir uma expressa˜o alge´brica. 48 − Soma dos termos de uma P.A.m na HP Prime Na tela a seguir (p. 78) Snm = m∑ j=0 ( n j + 1 ) a 1(m−j) temos o programa que implementa (alge´bricamente) a fo´rmula da direita. Por exemplo, entrando em um vetor com os termos 1, 4, 9 o programa nos devolve a fo´rmula (1.19) (p. 48): 49 (b) Os nu´meros triangulares, 1 3 6 10 15 . . . n(n+ 1) 2 . . . esta˜o em P.A.2 . Encontre uma fo´rmula para a soma de seus n primeiros termos. Soluc¸a˜o: Temos S n2 = 2∑ j =0 ( n j + 1 ) a 1(2−j) = ( n 1 ) a 12 + ( n 2 ) a 11 + ( n 3 ) a 10 Do diagrama seguinte, 1 3 6 2 3 1a 10 → a11 → a 12 → Obtemos, S n2 = ( n 1 ) 1 + ( n 2 ) 2 + ( n 3 ) 1 Simplificando, obtemos S n = n(n+ 1)(n+ 2) 6 Acho que muita gente vai se beneficiar com este livro. E´ claro e com muitos exemplos e aplicac¸o˜es interessantes. Parabe´ns por ver seu grande esforc¸o coroado. (Ubiratan D’Ambro´sio/USP) 50 (c) Encontre o valor da soma, S = 2 · 12 + 5 · 22 + 8 · 32 + · · · + (3n− 1) · n2 Soluc¸a˜o: Como a n = (3n− 1) · n2, esta sequeˆncia e´ uma P.A.3 . Enta˜o, Sn3 = 3∑ j=0 ( n j + 1 ) a 1(3−j) = ( n 1 ) a13 + ( n 2 ) a12 + ( n 3 ) a11 + ( n 4 ) a10 Do diagrama seguinte (algoritmo), 2 · 12 5 · 22 8 · 32 11 · 42 18 52 104 34 52 18a10 → a 11 → a 12 → a 13 → Obtemos, S n3 = ( n 1 ) 2 + ( n 2 ) 18 + ( n 3 ) 34 + ( n 4 ) 18 Entrando com a expressa˜o da direita na HP Prime e pedindo para ela simplificar, obtemos S n = n(n+ 1)(9n2 + 5n− 2) 12 (d) Sendo f : R → R, definida por f(x) = x2 − 1, encontre S = f(1) + f(2) + f(3) + · · ·+ f(n) Soluc¸a˜o: Devemos encontrar a soma dos termos da sequeˆncia 12 − 1, 22 − 1, 32 − 1, . . . , n2 − 1 O termo geral desta sequeˆncia e´ an = n 2 − 1, uma P.A.2 , portanto. Enta˜o, S n2 = 2∑ j=0 ( n j + 1 ) a 1(2−j) = ( n 1 ) a 12 + ( n 2 ) a 11 + ( n 3 ) a 10 Do diagrama seguinte, 0 3 8 3 5 2a 10 → a11 → a 12 → 51 Obtemos, S n2 = ( n 1 ) 0 + ( n 2 ) 3 + ( n 3 ) 2 Logo, f(1) + f(2) + f(3) + · · ·+ f(n) = 3 ( n 2 ) + 2 ( n 3 ) (e) Os nu´meros poligonais de k lados (p. 33) p 1, k , p 2, k , p 3, k , p 4, k , . . . , p n, k , . . . ou ainda, 1, k, 3k − 3, 6k − 8, . . . , n(n− 1)(k − 2) 2 + n, . . . esta˜o em P.A.2 . Vamos estabelecer uma fo´rmula para soma´-los. Soluc¸a˜o: Temos, Sn2 = 2∑ j =0 ( n j + 1 ) a 1(2−j) = ( n 1 ) a12 + ( n 2 ) a11 + ( n 3 ) a10 Do diagrama seguinte, 1 k 3k − 3 k − 1 2k − 3 k − 2a 10 → a 11 → a12 → Obtemos, Sn2 = ( n 1 ) 1 + ( n 2 ) (k − 1) + ( n 3 ) (k − 2) Entrando com o lado direito desta equac¸a˜o na HP Prime e pedindo para ela simplificar, obtemos a tela ao lado; logo, S n2 = (n+ 1)n ( (n− 1) k − (2n− 5) ) 6 Nota: Quemtem charrete, desloca-se de charrete; quem tem bicicleta, desloca- se de bicicleta; quem tem carro, de carro, e quem tem helico´ptero, desloca-se de helico´ptero . . . esta e´ a lei doravante em vigor! 52 1.6.1 Uma fo´rmula ine´dita “Gostei da sua fo´rmula” Carlos Gustavo T. de A. Moreira (Gugu/IMPA) Durante muitos anos − possivelmente se´culos − os matema´ticos estiveram a` procura de uma fo´rmula para a soma de poteˆncias dos nu´meros naturais, ningue´m teve eˆxito, coube a mim materializar essa aspirac¸a˜o. Teorema 7 (Gentil/1997). Sendo m um nu´mero natural arbitrariamente fixado, e´ va´lida a seguinte identidade: 1m + 2m + 3m + · · · + nm = m∑ j=0 ( n j + 1 ) a (m−j) (1.20) Onde: a (m−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) (1− k + j)m (1.21) Prova: E´ uma consequeˆncia imediata do teorema da unificac¸a˜o (p. 32) e das fo´rmulas (1.18) (p. 47) e (1.16) (p. 40). � Observe que para consolidar esta fo´rmula devemos ainda demonstrar a equac¸a˜o (1.16). E mais: para poder utilizar a equac¸a˜o (1.18) devemos mostrar que a sequeˆncia dada por a n = nm e´, de fato, uma P.A.m . Isto sai do teorema da unificac¸a˜o; mas este, ainda estamos devendo. O cap´ıtulo seguinte foi concebido e desenvolvido, em sua maior parte, no sentido de dar uma demonstrac¸a˜o rigorosa da fo´rmula (1.20), este objetivo funcionou como uma bu´ssola. A deduc¸a˜o da fo´rmula em questa˜o se deu por volta do ano de 1991∗, enquanto sua efetiva demonstrac¸a˜o se deu uns seis anos depois − apo´s algumas tentativas frustradas. ∗Ate´ enta˜o, eu contava apenas com uma graduac¸a˜o em engenharia. 53 Vamos exemplificar a utilizac¸a˜o da fo´rmula para m = 3, enta˜o: 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = 3∑ j=0 ( n j + 1 ) a (3−j) Onde: a (3−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) (1− k + j)3 (1.22) Portanto, 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = ( n 1 ) a 3 + ( n 2 ) a 2 + ( n 3 ) a 1 + ( n 4 ) a 0 Fazendo j = 0, 1, 2, 3 em (1.22), obtemos j = 0 ⇒ a 3 = 0∑ k=0 (−1)k ( 0 k ) (1− k + 0)3 = 1 j = 1 ⇒ a 2 = 1∑ k=0 (−1)k ( 1 k ) (1− k + 1)3 = 7 j = 2 ⇒ a 1 = 2∑ k=0 (−1)k ( 2 k ) (1 − k + 2)3 = 12 j = 3 ⇒ a0 = 3∑ k=0 (−1)k ( 3 k ) (1− k + 3)3 = 6 Sendo assim, temos 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = ( n 1 ) 1 + ( n 2 ) 7 + ( n 3 ) 12 + ( n 4 ) 6 Simplificando, com ou sem a HP, obtemos 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = n 2 (n+ 1)2 4 (1.23) Observe que a equac¸a˜o (1.20) (p. 53) e´ na˜o recursiva. Em 1713 foi publicado na revista Ars Conjectandi (Arte de Conjecturar) uma fo´rmula que, infelizmente, padece da recursividade − fo´rmula esta atribuida a Jacques Bernoulli (1654-1705). Em um apeˆndice (p. 73) mostramos e exemplificamos a fo´rmula de Bernoulli. 54 − A fo´rmula ine´dita na HP Prime Nas telas a seguir (p. 79) 1m + 2m + 3m + · · · + nm = m∑ j=0 ( n j + 1 ) a (m−j) a (m−j) = j∑ k=0 (−1)k ( j k ) (1− k + j)m temos os programas que implementam a fo´rmula da direita. O segundo programa (PAM4) recebe m e calcula os coeficientes dados pela equac¸a˜o de a (m−j) e repassa- os para o primeiro programa, que calcula o somato´rio na forma alge´brica. Por exemplo, fornecendo m = 3 para o primeiro programa (PAM5) ele nos devolve a fo´rmula para a soma dos cubos dos n primeiros nu´meros naturais: Compare com a fo´rmula (1.23). (p. 54) Jacques Bernoulli − e nenhum seu contemporaˆneo − jamais sonhou com esta possibilidade (desenvolvimento). A bem da verdade, na˜o precisamos ir muito longe, mesmo apo´s deduzir esta fo´rmula − por volta do ano de 1991 − jamais sonhei que isto um dia seria poss´ıvel. 55 Interregno: A Matema´tica como arte e engenharia O matema´tico, como o pintor ou o poeta, e´ um desenhista. Se os seus desenhos sa˜o mais duradouros que os deles, e´ porque sa˜o feitos com ide´ias. (G.H. Hardy) Tenho enfatizado junto a meus alunos menos o aspecto utilita´rio da matema´tica, mas, sobretudo, sua vertente como arte e engenharia − tal como de fato ela e´ em sua esseˆncia. Assim como se desenvolve a sensibilidade para a mu´sica (ou outro tipo qualquer de arte) de igual modo desenvolve-se a sensibilidade para a matema´tica; digo, o enleˆvo experimentado pelo artista tambe´m faz parte da experieˆncia ma- tema´tica. A verdadeira matema´tica conjuga arte com engenharia. Damos um exemplo disto na pa´gina a seguir. Me formei em engenharia (eletroˆnica) no ano de 1986 e fui trabalhar em minha cidade natal (Boa Vista-RR) no setor de Telecomunicac¸o˜es (Sistema Telebra´s), era detentor de um cargo de chefia e minha ocupac¸a˜o ordina´ria se resumia em carimbar pape´is e “monitorar” os “indicadores de desempenho operacional”, onde utilizava tabelas e gra´ficos. Embora fosse relativamente bem remunerado na˜o estava nem um pouco satisfeito pois sentia que minhas atividades na˜o se enquadravam na con- cepc¸a˜o que se tem do que seja engenharia. Por outro lado, desde os tempos de estudante alimentei o sonho de deixar minha contribuic¸a˜o a` cieˆncia; entretanto, na˜o desejava deixar uma contribuic¸a˜o efeˆmera mas, se poss´ıvel, uma que “transcendesse os se´culos”. Juntando a este requisito minha insatisfac¸a˜o com a “engenharia” que eu praticava decidi me demitir para da´ aulas de matema´tica na UFRR, que estava sendo criada na ocasia˜o. A propo´sito, quando estudava para prestar concurso na Universidade me ocorreu que naquele preciso momento (1989) milhares de indiv´ıduos, por este Brasil afora, estavam estudando para melhorar suas condic¸o˜es salariais e eu, aqui, me esforc¸ando para piorar a minha. Com efeito, de saida perderia a metade do sala´rio, afora outras vantagens − foi o que terminou acontecendo. Observe que aquele que opta por fazer pesquisas antes de mais nada da´ (lite- ralmente) um salto no escuro∗ porquanto, a priori, na˜o existe nenhuma garantia de que se tera´ algum eˆxito. Pois bem, atuando no magiste´rio, e na˜o descuidando do meu objetivo princi- pal, comecei a ensaiar algumas criac¸o˜es na matema´tica; em retrospecto creio que fui bem sucedido. Hoje conto com oito livros ja´ publicados − apresento outros resultados ine´ditos no meu livro de Espac¸os Me´tricos. Nota: Um dos objetivos deste relato e´ mostrar aos jovens que a vida nos disponibi- liza outras modalidades de satisfac¸a˜o, que na˜o apenas ganhar dinheiro. Tenho dito que uma maioria de jovens da atual gerac¸a˜o foi programada para ganhar dinheiro com vistas ao consumo. Ate´ a e´tica fica em segundo ou terceiro plano. Fica dif´ıcil servir a dois senhores, na˜o raro temos que optar. Tenho consta- tado no meio acadeˆmico que aqueles que fazem do dinheiro seu objetivo principal, dificilmente da˜o uma contribuic¸a˜o relevante a` Cieˆncia. ∗Pelo ao menos numa conjuntura semelhante a que eu me encontrava, inclusive em termos de preparo acadeˆmico, apenas um curso de graduac¸a˜o em engenharia, digo, numa outra a´rea. Por oportuno, por essa e´poca (ainda como “engenheiro”) foi que comecei a desenvolver, de modo um tanto quanto emp´ırico, as P.A.m e P.G.m . 56 Retomando, o interessante disso tudo e´ que somente muitos anos depois atinei com um fato deveras paradoxal: eu havia abandonado a “engenharia” e, sem da´-me conta, encontrava-me praticando a verdadeira engenharia! Com efeito, conto com verdadeiras obras de engenharia-matema´tica dispersas por outros livros meus (como [8], p. ex.), apenas para contextualizar: Definic¸a˜o P.A.m (Def. 1, p. 16) Triaˆngulo de Pascal F.T.G. (eq. (1.10), p. 24) ∆m f(n) (eq. (2.2), p. 85) Teo. do gene (Teo. 10, p. 91 ) Binoˆmio de Newton Snm (Eq. (1.18), p. 47) a 1(m−j) (Eq. (1.16), p. 40) Teo. 18 (Eq. (2.17), p. 113) 1m +
Compartilhar