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AULA 04 AVALIAÇÃO A adoção da política de avaliação no Brasil É neste contexto de crise, no final do século passado, que aparece toda uma literatura que articula uma alternativa à crise calcada pelo ideário neoliberal, no campo social mais amplo, e no campo educacional especificamente, orientada pelos “novos senhores do mundo” com a colaboração de agentes internacionais e locais. Estamos nos referindo especificamente ao Banco Mundial, pois o mesmo assumiu um papel de fornecedor de ideias para a formulação das políticas governamentais, principalmente, para os mercados emergentes de acordo com os interesses na era da globalização da economia e das finanças. Nas palavras do próprio Banco Mundial, a Educação é o locus privilegiado para a sua atuação em busca da conformação do novo projeto civilizatório que se desenhava para o século XXI: “O Banco Mundial está fortemente comprometido em sustentar o apoio à Educação. Entretanto, embora financie na atualidade aproximadamente uma quarta parte da ajuda para a educação, seus esforços representam somente cerca de meio por cento do total das despesas com educação nos países em desenvolvimento. Por isso, a contribuição mais importante do Banco Mundial deve ser seu trabalho de assessoria, concebido para ajudar os governos a desenvolver políticas educativas adequadas às especificidades de seus países. O financiamento do Banco, em geral, será delineado com vistas a influir sobre as mudanças nas despesas e nas políticas de autoridades nacionais”. (Banco Mundial, 1995: xxiii, grifo nosso) [Citado por CORAGGIO, 1996, p. 75]. Coraggio (1996, p. 77-79), ao analisar as propostas do Banco Mundial para a educação, situa, em um primeiro momento, as políticas sociais no contexto da globalização sob três aspectos principais: ECONOMIA: 1) As políticas sociais estão orientadas para dar continuidade ao processo de desenvolvimento humano que ocorreu apesar da falência do processo de desenvolvimento econômico. Sua bandeira é investir os recursos públicos ‘nas pessoas’, garantindo que todos tenham acesso a um mínimo de educação, saúde, alimentação, saneamento e habitação, bem como às condições para aumentar a expectativa de vida e para alcançar uma distribuição mais equitativa das oportunidades. Estas políticas não incluem uma definição sobre como conseguir que o “capital humano” seja algo mais do que um recurso de baixo custo para o capital, e de fato promovem a equidade à custa do empobrecimento dos setores médios urbanos, sem afetar as camadas de alta renda. GLOBALIZAÇÃO: 2) As políticas sociais - seja por razões de equidade ou cálculo político - estão direcionadas para compensar conjunturalmente os efeitos da revolução tecnológica e econômica que caracteriza a globalização. Elas são o complemento necessário para garantir a continuidade da política de ajuste estrutural, delineada para liberar as forças do mercado e acabar com a cultura de direitos universais (entitlements) a bens e serviços básicos garantidos pelo Estado. Quando as tendências regressivas do mercado não se revertem, estas políticas, concebidas como intervenções conjunturais eficientes, convertem-se em políticas estruturais ineficientes, modificando a relação entre a política, a economia e a sociedade, e fomentando o clientelismo político. Inicialmente planejadas para atender aos grupos sociais afetados pela transição, são agora focalizadas nos mais pobres. De fato, a regulação política dos serviços básicos subsiste, mas a luta democrática pela cidadania esmorece diante da mercantilização da política. DESCENTRALIZAÇÃO: 3) As políticas sociais são elaboradas para instrumentalizar a política econômica, mais que continuá-la ou compensá-la. São o ‘Cavalo de Troia’ do mercado e do ajuste econômico no mundo da política e da solidariedade social. Seu principal objetivo é a reestruturação do governo, descentralizando-o ao mesmo tempo em que o reduz, deixando nas mãos da sociedade civil competitiva a locação de recursos, sem mediação estatal. Outro efeito importante é introjetar nas funções públicas os valores e critérios do mercado (a eficiência como critério básico, todos devem pagar pelo que recebem, os órgãos descentralizados devem concorrer pelos recursos públicos com base na eficiência da prestação de serviços segundo indicadores uniformes etc.), deixando como único resíduo da solidariedade e beneficiência pública (redes de seguro social) e preferencialmente privada, para os miseráveis. Em consequência, a elaboração das políticas setoriais fica subordinada às políticas de ajuste estrutural, e frequentemente entra em contradição com os objetivos declarados. Foi neste contexto de refuncionalização do capitalismo no final do século XX é que se desenhou um conjunto de medidas para a implantação de uma política de avaliação do Ensino Superior. Na análise de Barreyro e Rothen: Em 1996, foi implantada uma sistemática de avaliação baseada na realização de uma prova pelos formandos da graduação e que visava, principalmente, à constituição de um “quase-mercado” da Educação Superior. Alguns anos depois, em 2004, foi estabelecido um sistema nacional de avaliação, depois de árdua disputa sobre o modelo a ser adotado. Apesar das influências dos modelos internacionais, a concepção de educação superior e de avaliação presente nas políticas implantadas foi gestada por acadêmicos envolvidos com comissões governamentais inseridas no Ministério da Educação durante as décadas de 1980 e 1990. Desse processo destacam-se quatro propostas de educação superior e de avaliação, que foram expressas nos seguintes documentos: “Programa de Avaliação da Reforma Universitária” (1983), o relatório da Comissão Nacional de Reformulação da Educação Superior “Uma Nova Política para a Educação Superior Brasileira” (1985), o “Relatório do Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior” (1986) e o documento da Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior “Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras” (1993). Na segunda metade da década de noventa do século passado, no Governo de Fernando Henrique Cardoso, iniciou-se a adoção de uma política de avaliação mais efetiva para o Ensino Superior. O processo teve início em 1995 com a lei 9.131, que estabeleceu o Exame Nacional de Cursos (ENC) - popularmente conhecido como "Provão", a ser aplicado a todos os estudantes concluintes de campos de conhecimento pré-definidos. Tal proposta encontrou resistências em vários setores da comunidade acadêmica tendo sido boicotado, por vários anos, pelo movimento estudantil, bem como, sofreu críticas de vários pesquisadores na área da educação. Contudo, tal exame acabou se constituindo como parte da cultura da educação superior no Brasil. Sua aplicação resultou na classificação anual dos cursos a partir de uma conceituação em escala de cinco níveis (conceituação A, B, C, D e E).
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