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“com certa insatisfação”. O que importa, no entanto, é a satisfa- ção que pode dar a seus leitores – o que agora, mais amplamente, se possibilita – sobretudo por valer-se, como anotou Afonso Arinos, “de uma bibliografia que assegura confiança ao leitor advertido”.² 1 Amado, Gilberto, Presença na Política. Rio: Livraria José Olympio Editora, 1960, pp. 43/44. 2 Franco, Afonso Arinos de Melo, in prefácio a O Pensamento Político no Brasil. Rio: Forense, 1978, p. XI. História das Idéias Políticas no Brasil 17 SEU ENXOVAL BIBLIOGRÁFICO Em uma aula de abertura de cursos na Universidade Fe- deral de Pernambuco, Nelson Saldanha fez referência a um “enxoval bibliográfico”.³ Que dizer do dele? É rico e variado. Inicia-se com As Formas de Governo e o Ponto de Vista Histórico (Belo Horizonte, Revista Brasileira de Estu- dos Políticos, 1960), reedição de texto de 1958, em que o autor tentou “superar a perspectiva puramente “sistemática” na análise das formas de governo, que começamos a usar a perspectiva his- tórica no tratamento dos termos jurídicos, filosóficos, político- sociais, sociocultural em geral”. E muitos livros se seguiram: Temas de História e Po- lítica (Recife, UFPe, 1969) em que reuniu textos em que se deveria esperar “tão só a unidade provinda da coerência normal do autor e do parentesco temático”; Sociologia do Direito (São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1970); Velha e Nova Ciên- cia do Direito (Recife, UFPe, 1974); Legalismo e Ciência do Direito (São Paulo, Editora Atlas, 1976), em que assinalou “a relação entre a experiência do Direito legislado e a Teoria Jurídica contemporânea, inclusive o conceito de norma condicionado pela noção da lei”. O Estado Moderno e o Constitucionalismo (São Paulo, Buschatsky, 1977); O Problema da História na Ciência Jurídica Contemporânea (Porto Alegre, 1978); O Pensamen- 3 Saldanha, Nelson, Saber Universitário, Filosofia e Ciências Humanas; in Humanismo e História – Problemas de Teoria da Cultura. Recife: Fundarpe, 1983, p. 5. 18 Nelson Nogueira Saldanha to Político no Brasil (Rio, Forense, 1978), que correspondia, segun- do o autor, ao que fora editado em 1968, mas não uma repetição: “É o mesmo, e entretanto é outro: acha-se inteiramente revisto e rescrito, basicamente repensado e em grande medida ‘atualizado’.” Estado de Direito, Liberdades e Garantias (Estu- dos de Direito Público e Teoria Política (São Paulo, Sugestões Literárias S/A., 1980), em que o tema do Estado de Direito, comple- tado com o das garantias, “estudado historicamente, em função da idéia geral de jurisdição, amplia-se com os textos relativos ao problema da liberdade”. A Tradição Humanística: Ensaios sobre Filosofia Social e Teoria da Cultura (Recife, UFPe – Editora Universitá- ria, 1981), reunindo textos sobre cultura, filosofia, vida intelectual, enfoques históricos e o pensamento brasileiro. Preocupado com a unidade do livro, explicava ele que, “na medida em que existe, corresponde justamente à idéia de uma tradição humanística, que figura no título e que se acha mencionada em vários dos textos.” A OAB/PE e sua Trajetória (Recife, 1982); Kant e o Criticismo (Recife, Fundação Joaquim Nabuco, 1982); Que é o Poder Legislativo (São Paulo, Brasiliense, 1982); Separação de Poderes , in Poder Legislativo , Brasília, Fundação Petrônio Portella, 1983; Formação da Teoria Constitucional (Rio, Editora Forense, 1983); Humanismo e História – Problemas de Teoria da Cultura (Rio, José Olympio/Recife, Fundarpe, 1983) em que lhe pareceu “nítida” a unidade que interligava os ensaios ali reunidos, unidade “referida a duas temáticas indissolúveis, a do humanismo e a da historicidade”. A Escola do Recife (Rio, Convívio/INL – Fundação Pró-Memória, 1985). Escrito em 1970, o estudo foi publicado, inicialmente, na Revista da Faculdade de Direito de Caruaru, “volumosa e benevolente revista que insere textos de qualquer exten- História das Idéias Políticas no Brasil 19 são”. Para o autor, “os homens de carne e osso que fizeram a Escola do Recife, vivendo como viveram numa cidade que hoje nos parece tão pequena como antecipação de nossos problemas urbanos, pensaram intensamente e intensamente escreveram, assumindo as questões de seu tempo com sofreguidão”. O Poder Constituinte (São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1986), reedição de sua tese de livre-docência, de 1957, escrita, segundo o autor, como “verde e ousado aluno do antigo curso de Doutorado da velha Faculdade de Direito do Recife”. Constituição & Crise Constitucional (Recife, OAB/ Fundação Antônio do Santos Abranches Editor, 1986), em que eram examinados o federalismo, a hipertrofia do executivo, a le- galidade e legitimidade da ordem jurídica e, editadas já as regras do processo eleitoral de novembro, estimava a Ordem dos Advo- gados que aqueles subsídios pudessem servir para que a nova Car- ta pudesse “vir a ficar o mais possível em sintonia com os reais anseios da sociedade”. Historicismo e Culturalismo (Rio, Tempo Brasilei- ro/Recife, Fundarte, 1986), quase uma dezena de escritos, abran- gendo um largo espectro de filosofia e de ciências humanas (histó- ria, sociologia, ciência política). Teoria do Direito e Crítica Histórica (Rio, Freitas Bastos, 1987); O Declínio das Nações e outros Ensaios (Re- cife, Fundação Joaquim Nabuco – Editora Massangana, 1990), em que disse acreditar na validade dos livros construídos por reunião de partes – ensaios, artigos, textos de procedência vária: “Nem sempre é possível sair a campo com um livro inteiriço e, aliás, pode ocorrer que livros pensados e elaborados com um todo acabem por não ter a unidade desejada”. 20 Nelson Nogueira Saldanha Ordem e Hermenêutica (Rio, Renovar, 1992), sobre as relações entre as formas de organização e o pensamento interpretativo, principalmente no Direito. Em que não se propôs a “fazer a defesa” da ordem como tal mas “situar as diversas implicações da idéia da ordem, bem como suas manifestações como experiência concreta dentro da vida social, em geral, e em especial na política e no Direito, neste sobretudo” (v. p. 13). Pela Preservação do Humano. Antropologia Filo- sófica e Teoria Política (Recife, Fundarpe, 1993), ensaios reunidos mas, segundo ele, “efetivamente escritos para um destino comum, e como propósito de virem a juntar-se em livros”. Da Teologia à Metodologia – Secularização e Crise no Pensamento Jurídico (Belo Horizonte, Livraria Del Rey Edi- tora, 1993), onde volta “a tomar como ponto de referência o processo de secularização cultural, necessário para a compreensão histórica da própria filosofia”. O Jardim e a Praça (São Paulo, Editora da Universi- dade de São Paulo, 1993), que julga “um esboço de antropologia filosófica ou, se se prefere, de uma teoria, não dogmática, do homem e da história”. Estudos de Teoria do Direito (Belo Horizonte, Li- vraria Del Rey Editora, 1994), coletânea que, “ocupando-se dos temas mais importantes do pensamento jurídico, desde as primei- ras reflexões dos filósofos da antigüidade greco-romana até as mais recentes contribuições filosóficas da hermenêutica do Direito”, con- duzia, segundo seu prefaciador, Paulo Bonavides, “a uma longa peregrinação de idéias e conceitos”. Romantismo, Evolucionismo e Sociologia – Figu- ras do Pensamento Social do Século XIX (Recife, Fundarj – História das Idéias Políticas no Brasil 21 Editora Massangana, 1997). O QUE DISSERAM OS PREFACIADORES Em prefácio, de 1978, a O Pensamento Político no Brasil, Afonso Arinos disse que as qualidades do livro indicariam as do autor: “Sua cultura ampla, variada e profunda; sua experi- ência técnica; sua iniciativa criadora e suas realizações nos planos literários independentes das atividades de professor.” Para ele, Saldanha integrava “um notável grupo de professores universitá- rios de Direito Público e de Ciência Política, que devolveu ao