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INFECTOLOGIA – RESUMO LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA Débora Shibayama Guterres Conceito o Doença infecciosa, não contagiosa, de caráter evolutivo crônico que, no homem, pode evoluir de forma sistêmica e sintomática em indivíduos imunologicamente suscetíveis, principalmente em crianças menores que 5 anos de idade. Etiologia o Seu agente etiológico é a Leishmania infantum chagasi, cujo vetor de transmissão, no Brasil, é o flebotomíneo Lutzomyia longipalpis. o A L. i. chagasi apresenta-se sob duas formas principais, as quais se multiplicam por divisão binária: Amastigota: arredondada ou ovoide e sem flagelo livre, essa é a forma encontrada dentro das células do sistema fagocítico mononuclear do hospedeiro (homem), principalmente no baço, fígado, medula óssea e gânglios linfáticos; Promastigota: essa é a forma que infecta os hospedeiros vertebrados, e é normalmente encontrada no tubo digestivo do flebotomíneo vetor fêmea. Epidemiologia A leishmaniose visceral é uma doença de distribuição mundial. Na Europa, ocorre mais nos países da Bacia do Mediterrâneo (Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Turquia). Na África, está mais presente nas regiões leste (Sudão, Etiópia, Somália e Quênia) e norte (Marrocos, Argélia, Líbia e Egito). Na Ásia atinge o Irã, Iraque, a Arábia Saudita, o Paquistão, o Afeganistão, a China e, principalmente, a Índia. Também atinge boa parte do continente americano, desde o Norte (México), passando pela América Central (Guatemala, Guadalupe, Honduras, El Salvador) até a América do Sul (Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Venezuela), onde o país que tem o maior número de casos é o Brasil. Todos os estados da costa brasileira registram casos dessa doença, mas a região mais endêmica é a zona semiárida do Nordeste, onde a doença é predominantemente rural e tem maior incidência em locais próximos ao pé de serras e nos vales entre as serras. Isso ocorre porque as condições ecológicas e o clima úmido e quente desses locais favorecem a proliferação do vetor. Na Amazônia, os principais focos de leishmaniose visceral americana estão no Pará. Em tempos mais recentes, vem ocorrendo uma urbanização da leishmaniose visceral, pois ela vem se estabelecendo nas periferias das grandes cidades (São Luis – MA, Fortaleza – CE, Rio de Janeiro – RJ, etc.) e das cidades menores também (Santarém – PA, Imperatriz – MA, Araçatuba – SP), e isso acontece porque o vetor tem encontrado nessas regiões urbanas um ambiente propício para sua reprodução. o Reservatórios e hospedeiros No Brasil todo, e especialmente na Amazônia, a raposa-do-campo (Cerdocyon thous) é o principal reservatório primário da leishmaniose visceral. Os reservatórios são animais que contém o parasito, mas este não causa infecção neles (os reservatórios têm o parasita, mas não adoecem e vivem com ele em harmonia). Dois animais gambás Didelphis albiventris foram encontrados na Bahia como reservatórios da L. i. chagasi, mas como foram apenas esses dois os animais identificados contendo esse agente, essa espécie não tem importância relevante como reservatório, ao contrário da raposa. Os hospedeiros, por sua vez, são os animais que são infectados pelo agente e adoecem pela ação do parasita. O principal hospedeiro doméstico no meio urbano, periurbano ou mesmo rural é o cão doméstico (Canis familiaris). O cão infectado é a principal fonte de infecção para o flebotomíneo vetor Lutzomyia longipalpis, por isso, o cão é o responsável por manter o ciclo da doença no meio domiciliar e peridomiciliar. O cão doente apresenta lesões cutâneas importantes pelas quais o flebotomíneo é contaminado. O homem é um hospedeiro acidental nesse ciclo, visto que o flebotomíneo parece realmente ter um tropismo maior pelos cães. o Transmissão A transmissão da leishmaniose visceral para o homem se dá por meio da picada de um flebotomíneo previamente infectado por ter picado, em geral, um cão com L. i. chagasi. Foi demonstrado que sete dias após picar o cão infectado, o flebotomíneo é capaz de infectar o homem. É importante observar que há um aumento na detecção dos casos de leishmaniose nos meses de junho e julho. Considerando que o período de incubação dessa doença varia de 1 a 4 meses, isso significa que a taxa de infecção humana deve ser mais alta nos meses de janeiro a abril, justamente durante o período em que o flebotomíneo se reproduz mais devido às condições de muita chuva na Amazônia. Patogenia O L. i. chagasi é um protozoário com tropismo pelas células do sistema fagocítico mononuclear do baço, fígado, medula óssea e linfonodos. Existem algumas pessoas que são infectadas, porém não chegam a adoecer. Se a pessoa vai ou não adoecer é algo que depende dos seguintes fatores: tamanho do inóculo do parasita (quantidade de promastigotas inoculadas), quantidade de inóculos que o indivíduo recebeu em um período de tempo (se ele foi picado uma ou mais vezes por vetor contaminado), idade e estado nutricional do hospedeiro (crianças desnutridas são mais vulneráveis), mecanismos de defesa da pessoa (perfil imunogenético das respostas inata e adquirida). A depender disso, a infecção pode evoluir de maneira sintomática ou assintomática. Quando as formas promastigotas do parasita são inoculadas pelo flebotomíneo, os neutrófilos chegam primeiro que as outras células imunes ao sítio da infecção e fagocitam o parasita. Dentro dos neutrófilos, as formas promastigotas se transformam em amastigotas, as quais podem resistir à ação do peróxido de hidrogênio (H2O2), das enzimas lisossomais e do óxido nítrico. Assim, as amastigotas continuam viáveis e, quando os neutrófilos entram em processo de apoptose, são fagocitadas pelos macrófagos junto com eles. Ainda na derme, as células dendríticas dérmicas se encarregam de apresentar os antígenos da L. i. chagasi para os linfócitos T, ativando os linfócitos T CD4 e T CD8. As próprias células dendríticas dérmicas também produzem interleucina-12. A IL- 12 é responsável por sensibilizar as células natural killer (NK) que começam a produzir interferon- gama. O IFN-gama ativa o macrófago que está parasitado para que esse macrófago seja capaz de produzir óxido nítrico, o qual tem uma ação leishmanicida muito importante no macrófago. Depois de ser fagocitado pelo macrófago, o parasita acaba se disseminando por via linfática e/ou hematogênica para os linfonodos, baço, medula óssea e fígado. O perfil imunogenético do indivíduo vai determinar se a resposta imune predominante que vai se desenvolver é de células T CD4/Th1 ou T CD4/Th2. As células T CD4/Th1 produzem IL-2 e, IL-12, IFN-gama e TNF-alfa, que são importantes substâncias ativadoras dos macrófagos infectados, o que, como já vimos, é um processo essencial no combate ao parasita. Por outro lado, se a pessoa tiver perfil imunogenético para desenvolver uma resposta predominantemente T CD4/Th2, as substâncias mais produzidas serão aquelas sintetizadas pelos linfócitos T CD4/Th2 (IL-4, IL-5, IL-10, IL-13), as quais são inibidoras da função do IFN-gama e, consequentemente, inibidoras da ativação dos macrófagos. Nessa pessoa, haverá uma ativação policlonal de linfócitos B, os quais vão entrar num nível de atividade muito alto, com grande produção de imunoglobulinas (hiperglobulinemia). Assim, a quantidade de linfócitos B vai aumentar e eles vão acabar ocupando um espaço que deveria ser dos linfócitos T CD4, o que vai diminuir ainda mais a resposta imune T CD4/Th1. A resposta imune celular T CD4/Th1 está relacionada à hipersensibilidade tardia que pode ser detectada pela reação intradérmica de Montenegro (RIM). Sendo assim, se alguém apresenta RIM positivo, significa que essa pessoatem predomínio da resposta celular Th1 e é, portanto, resistente à leishmaniose. A reação de imunofluorescência indireta (RIFI), por sua vez, detecta a presença de anticorpos e, dessa maneira, quando positiva indica um predomínio da resposta imune Th2, o que significa que esse indivíduo é suscetível à infecção por L. i. chagasi. Com uso desses testes, foi possível identificar 5 perfis clínico-imunológicos nessa doença: Infecção assintomática: a pessoa tem forte expressão de RIM – resistente à infecção; Infecção sintomática: a pessoa tem forte expressão de RIFI – suscetível à infecção; Infecção subclínica oligossintomática: a pessoa tem forte expressão de RIFI – tem manifestação clínica inicial de suscetibilidade (febre, astenia, palidez, esplenomegalia), mas acaba evoluindo para uma cura clínica em 2 ou 3 meses; Infecção subclínica resistente: a pessoa tem forte expressão de RIM – paciente inicialmente assintomático cujo sistema imune acaba caminhando para adquirir resistência à infecção; Infecção inicial indeterminada: a pessoa tem expressão semelhante de RIM e RIFI – no início da infecção o perfil imunogenético ainda não está definido, mas o sistema imune acaba caminhando para desenvolver suscetibilidade à L. i. chagasi. Em áreas endêmicas, 90% das pessoas que estão infectadas pela L. i. chagasi apresentam os perfis de infecção subclínica oligossintomática ou de subclínica resistente, e a maioria dos novos casos (incidência) de leishmaniose é detectada nas faixas etárias de 1 a 10 anos e 11 a 20 anos de idade. Patologia Sabemos que na leishmaniose visceral americana o sistema imune do doente é incapaz de desenvolver e ativar uma resposta celular T CD4/Th1 e T CD 8 que leve a uma produção eficaz de óxido nítrico para matar o parasita. O organismo tenta compensar essa incapacidade imunológica de combater o parasita por meio da hiperplasia e da hipertrofia dos órgãos do sistema fagocítico mononuclear, principalmente o baço e o fígado. Claramente, por causa disso, haverá uma hepatoesplenomegalia. O paciente também vai apresentar adenomegalia, e ainda pode ocorrer: pneumonite intersticial causada pela ocupação e lesão de células alveolares, redução da hematopoese devido à infiltração sofrida pela medula óssea, sequestro esplênico e fenômenos hemorrágicos. Além disso, já sabemos que a ativação da resposta humoral (resposta imune T CD4/Th2) vai fazer com que os plasmócitos (linfócitos B) tornem-se hiperfuncionantes e causem uma hiperglobulinemia. O que vai ocorrer é que, devido ao grande funcionamento dos linfócitos B, haverá diminuição dos linfócitos T presentes na zona paracortical dos linfonodos, e isso vai fazer com que o paciente se torne ainda mais vulnerável a infecções secundárias (intestinais, pulmonares, etc.). A hiperplasia do sistema linfático intestinal (placas de Peyer) acelera o trânsito digestivo, o que pode causar hipoalbuminemia. Na medula óssea há um bloqueio da produção celular. Isso vai causar uma hipoplasia mieloide eritroblástica e granulocítica que evoluirá com aplasia e também desaparecimento dos megacariócitos, com consequente queda das plaquetas. O que vai acontecer no fígado é uma dilatação dos sinusoides que cursará com hipertrofia e hiperplasia difusa das células de Kupffer. Os hepatócitos apresentarão esteatose importante e pode até haver uma fibrose intralobular com aumento dos espaços de Disse. Nos rins, há uma infiltração histioplasmocitária e uma hipotrofia glomerular com deposição de imunocomplexos que podem causar uma leve glomerulonefrite. Pode ocorrer também uma nefrite intersticial com edema e infiltrado inflamatório. Até hoje não há registros oficiais de casos de leishmaniose visceral americana em pessoas que já fizeram tratamento para essa doença e foram consideradas clinicamente curadas. Isso nos leva a pensar que, provavelmente, há uma imunomodulação da resposta imunecelular do indivíduo, que antes era predominantemente de células T CD4/Th2 e, com o tratamento, passa a ser de células T CD4/Th1. Isso também é detectado pelo teste da reação intradérmica de Montenegro, que identifica que o paciente passa a desenvolver uma hipersensibilidade tardia (que como já vimos, é a resposta característica da imunidade celular por células T CD4/Th1) após 6 a 12 meses de tratamento. Assim, o indivíduo que antes tinha um perfil de infecção sintomática desenvolve um perfil de infecção assintomática, que caracteriza a resistência do mesmo à doença em questão. Manifestações clínicas Já sabemos que os casos sintomáticos da infecção por L. i. chagasi correspondem aos pacientes que têm um perfil imunogenético de suscetibilidade (infecção sintomática e infecção subclínica oligossintomática). o Forma clássica da leishmaniose: apresenta-se em 4 períodos de evolução: Período de incubação: varia de 1 a 4 meses; Período inicial ou prodrômico: os sintomas começam de maneira súbita ou insidiosa (febre irregular, adinamia, indisposição, emagrecimento). Cerca de 30 dias há um agravamento do estado geral; Período de estado: o quadro de torna mais grave e os sintomas ficam mais bem definidos (febre diária, intermitente, remitente ou contínua de 37 a 40ºC com picos febris acompanhados de sudorese, emagrecimento, palidez cutâneo-mucosa importante, linfoadenopatia sistêmica, pele seca e áspera, alongamento dos cílios, queda dos cabelos, estomatite, edema de MMII, abdome volumoso com circulação venosa superficial visível, hepatoesplenomegalia). A diarreia sempre está presente e também pode haver tosse causada pelos infiltrados pulmonares inflamatórios induzidos pelo próprio parasita ou por infecções pulmonares secundárias. Taquicardia, hipotensão arterial e sopro sistólico devem-se principalmente à anemia. O derrame pleural, a ascite, os fenômenos hemorrágicos (epistaxe, gengivorragia e petéquias) podem estar presentes e são agravantes ao prognóstico do paciente. Período final: há ascite volumosa, derrame pleural, hepatoesplenomegalia importante, hemorragias sistêmicas e infecções bacterianas secundárias ocorrem nos pacientes que chegam a esse estado, e é frequente que eles também apresentem sepse. Esses são sérios agravantes ao prognóstico, especialmente em crianças com menos de 5 anos de idade. o Forma oligossintomática da leishmaniose (corresponde ao perfil de infecção subclínica oligossintomática) Na Amazônia, essa forma parece ser pouco frequente (cerca de 3 % dos indivíduos infectados). Seu quadro clínico é bastante inespecífico, podendo ou não apresentar: febre diária ou intermitente, astenia, palidez cutânea, adenopatias, discreta hepato ou esplenomegalia. Nem mesmo os exames complementares da forma oligossintomática apresentam as alterações características da leishmaniose de maneira expressiva. Diagnóstico: é necessário que eu peça um exame que evidencie a presença do parasita o Exames complementares específicos Esfregaço de sangue sobre lâmina: o parasita pode ser identificado em material colhido por aspiração do baço, medula óssea, gânglios linfáticos ou pela coleta de sangue periférico. Na prática, o que se faz é a punção da medula óssea, que também permite a colheita de material para Mielograma. 90% a 95% dos casos são eficientemente diagnosticados por esse método; Inoculação em animais: método pouco utilizado na prática; Provas sorológicas: as mais usadas são a imunofluorescência indireta (RIFI) e o Elisa. Desde fases precoces da infecção já é possível identificar os anticorpos, e em uma fase aguda pode-se solicitar a detecção do IgM. É importante ter em mente que, dependendo da especificidade do anticorpo utilizado noskits de teste, pode haver reação cruzada com certas doenças como Chagas, malária, esquistossomose, sífilis e leishmaniose cutânea, entretanto, títulos acima de 2560 são mais específicos para a leishmaniose visceral. Biologia molecular (PCR): reservada apenas para estudos científicos. o Exames complementares inespecíficos: Mielograma: é importante para o diagnóstico diferencial com outras causas de esplenomegalia e anemia. Na leishmaniose, há presença da forma amastigota do parasita no esfregaço do sangue medula óssea. A sensibilidade pode chegar a 95%; Hemograma: apresenta a tríade clássica que caracteriza a leishmaniose – anemia, leucopenia e plaquetopenia; Velocidade de hemossedimentação (VHS): está sempre aumentada; Proteínas totais e frações: há uma queda da quantidade de albumina e aumento na quantidade de globulinas, o que culminará com uma hipoalbuminemia e uma hiperglobulinemia devido à alta produção de anticorpos IgG contra o parasita pelos linfócitos B do doente, que tem uma resposta imune celular predominantemente T CD4/Th2; Eletroforese de proteínas: há uma diminuição na curva da albumina e um aumento das globulinas, principalmente as gamaglobulinas; Radiografia de tórax: pode mostrar derrame pleural ou pericárdico, pneumonite intersticial ou outros padrões de pneumonias bacterianas. Diagnóstico diferencial o Esquistossomose mansônica: nessa doença há hepatoesplenomegalia, mas raramente há febre e os ovos do parasita são detectados nas fezes ou nos tecidos; o Febre tifoide: nela, o paciente normalmente apresenta um estado geral melhor que na leishmaniose e ela é diagnosticada pelo isolamento da Salmonella typhi na hemocultura; o Enterobacteriose septicêmica prolongada: o quadro clínico é bem parecido com o da leishmaniose, mas a hemocultura e a parasitoscopia das fezes pelo método de Kato- Katz ajudam a diferenciar as duas; o Malária: diagnosticada pela presença do Plasmodium no sangue periférico (gota espessa); o Outras doenças a serem lembradas: doença de Chagas na fase aguda, endocardite bacteriana subaguda, brucelose, toxoplasmose, leucemias e linfomas. Tratamento o Específico: realizado com os seguintes medicamentos: Antimoniais pentavalentes (antimoniato de N-metilglucamina e estibogluconato de sódio): têm ação leishmanicida sobre as formas amastigotas porque inibem nelas os processos de glicólise e oxidação de ácidos graxos, que são necessários para a sobrevivência delas. Com isso, há redução na produção de trifosfato de adenosina (ATP) e trifosfato de guanosina (GTP). Estibogluconato de sódio (Pentostam): droga de administração parenteral, com 100 mg de antimônio pentavalente em cada mL. Antimoniato de N-metilglucamina (Glucantine): é a droga de 1ª escolha no tratamento aqui no Brasil. Cada ampola dessa droga contém 5 mL, e cada mL contém 81 mg de antimônio pentavalente puro (sb). O Ministério da Saúde preconiza que devem ser administrados de 10 a 20 mg de antimônio puro para cada kg do paciente. A administração pode ser por via IM (a dor local é um inconveniente, por isso, o local de aplicação deve ser alternado) ou EV (não é preciso diluir e deve ser aplicada com agulha fina, lentamente, durante 2 minutos). O tratamento dura de 20 a 25 dias. Quando o paciente estiver com tempo de evolução da doença superior a 2 meses, o mesmo esquema deverá ser repetido após um intervalo de 7 a 10 dias. Caso uma criança tenha intolerância a esse tratamento (isso normalmente não acontece), a administração do medicamento pode ser feita em dias alternados. Os índices de cura no Brasil chegam a 95%. Contraindicações: mulher gestante até o 6º mês, cardiopata, nefropata, hepatopata, portador de Doença de Chagas ou TB pulmonar. Os efeitos adversos são infrequentes e incluem: artralgia, mialgia, inapetência, náusea, vômito, plenitude gástrica, epigastralgia, pirose, dor abdominal, prurido, febre, fraqueza, cefaleia, tontura, palpitação, insônia, nervosismo, choque pirogênico, edema e reação de Jarisch-Herxheimer. Se o paciente não responder como esperado ao tratamento, podem ser usadas a anfotericina B ou a pentamidina. Anfotericina B: provavelmente causa lesão oxidativa no parasita e destrói as formas amastigotas e promastigotas. O efeito adverso mais importante é a insuficiência renal aguda por toxicidade para as células do endotélio vascular no glomérulo renal (a anfotericina B lipossomal está sendo usada nos pacientes que apresentam essa complicação). É contraindicada em gestantes, nefropatas e hepatopatas. Pentamidina (Pentacarinat): é um fármaco importado da Inglaterra que pode ser usado em casos de resistência aos antimoniais. Seu mecanismo de ação ainda não foi esclarecido e é contraindicado para gestantes, diabético, nefropatas, hepatopatas, cardiopatas e crianças com menos de 8 kg. Outros medicamentos: novos medicamentos têm surgido como alternativa, mas seu uso clínico ainda não está totalmente aprovado. Esses medicamentos são: Alopurinol (usado em combinação com os antimoniais pentavalentes, na dose de 20 a 30 mg/kg/dia); Gama-interferon (teve resultados promissores quando usado em associação ao antimoniato de N-metilglucamina); Anfotericina B lipossomal (usado em pacientes com IRA em uso de anfotericina, pois faz com que o medicamento se concentre mais no interior do macrófago, poupando o epitélio renal de lesões); Aminosidina (foi usada em associação apenas em número restrito de pacientes); Miltefosine (têm tido resultados promissores na Índia e agora será avaliada no Brasil). o Inespecífico: Quadros graves: dieta hipercalórica e hiperprotéica, podendo ser necessária a suplementação EV de albumina humana; Transfusões de sangue: restrita aos casos de extrema necessidade (níveis de hemoglobina costumam normalizar com o tratamento, não sendo necessárias as transfusões); Antibioticoterapia de amplo espectro concomitante em pacientes com leucopenia com granulócitos < 500/mm³; Esplenectomia é indicada apenas para casos de persistência do hiperesplenismo mesmo por um tempo longo depois do fim do tratamento. Obs.: Critérios de cura São clínicos: estado febril desaparece na 1ª semana de tratamento (se persistir, pensar em infecções intercorrentes ou em falha terapêutica), período em que também começa a redução das visceromegalias (normalização completa pode levar até 1 ano ainda). As alterações hematológicas melhoram a partir da 2ª semana e o estado geral do paciente melhora rapidamente, com recuperação do apetite, da força muscular e da disposição para trabalhar. Em alguns casos, pode ser que o parasita continue a ser detectado na punção esplênica ou no aspirado de medula óssea mesmo depois da cura clínica. Prevenção: são necessárias atuações em 3 áreas: o Medidas de controle do vetor (uso de DDT nos focos – uma curiosidade é que, onde há o combate à malária, caem as taxas de leishmaniose visceral humana); o Medidas de controle quanto ao reservatório (os cães infectados devem ser eliminados da área endêmica); o Medidas quanto ao homem (identificação dos casos da doença em humanos e oferta de melhores condições de educação e saúde).
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