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SISTEMA NERVOSO EXAME NEUROLÓGICO NA CRIANÇA – RESUMO Feito por: Débora Shibayama Guterres A atividade funcional do sistema nervoso começa pela 10ª semana de gestação com o início da mielinização, a qual progride até alcançar o seu pico, por volta dos 20 anos de idade. No amadurecimento do sistema nervoso (SN) há eventos aditivos/progressivos (proliferação neuronal, migração neuronal, sinaptogênese, mielinização) e regressivos (apoptose, retração axonal e degeneração sináptica). Após o nascimento, entre 3 e 6 meses de idade, ativam-se as regiões occipitais, temporais e parietais, e entre 8 e 10 meses, a região frontal, o que coincide com a conclusão das conexões axonais de longa distância entre as principais regiões corticais para a transmissão de informações entre si. Vária aquisições das áreas perceptiva e motora (gnosias e praxias) continuam na fase escolar, aperfeiçoando-se na adolescência. A linguagem é uma função que não parece muito associada à mielinização, sendo, provavelmente, relacionada ao aumento da densidade sináptica no lobo frontal. Entre 16 e 20 meses há o surto do vocabulário; entre 18 e 20 meses, a combinação de palavras; entre 20 e 30 meses, a formação da sentença gramatical. O SN divide-se em sistema nervoso central (SNC) (encéfalo e medula espinal) e sistema nervoso periférico (SNP) (raízes + nervos + gânglios + plexos + terminações nervosas). O SNP divide-se funcionalmente em: somático (da vida de relação) e visceral (funções autonômicas) simpático ou parassimpático. O SN tem como funções básicas a motricidade e a sensibilidade, as quais trabalham de forma integrada (sistema sensitivo-motor) para a conservação do indivíduo e sua interação com o meio. Os atos motores podem ser de 3 tipos: 1. Voluntário: o comando dos movimentos é feito pelos neurônios motores superiores, situados no córtex frontal (giro pré-central), os quais têm axônios que se juntam e formam o feixe corticoespinal do sistema piramidal. Os neurônios motores superiores comandam os neurônios motores inferiores, que têm corpos localizados nos núcleos do tronco cerebral e colunas ventrais da medula e axônios que alcançam a periferia e terminam nos músculos. O sistema piramidal também possui o feixe corticonuclear, que é responsável pela motricidade dos nervos cranianos e não chega a alcançar a medula. 2. Reflexo: o reflexo pode ser miotático/profundo ou superficial/exteroceptivo. a. Miotático: caracterizado por contração brusca do músculo quando é estirado rapidamente. A base do movimento é o arco reflexo. O estiramento muscular gera impulsos que chegam aos neurônios motores da coluna cinzenta anterior da medula, e esses neurônios promovem a contração do músculo estirado. Em condições normais, o sistema piramidal é estimulado a inibir parte da ação do arco reflexo, de maneira que tais reflexos não se executem de forma exaltada. b. Superficial/exteroceptivo: caracterizado por contrações musculares após estimulação de áreas de pele ou mucosa. Exemplos: - Reflexo cutâneo-plantar: movimentação do hálux e artelhos após estímulo no sentido póstero-anterior na planta do pé (1º ano de vida: reflexo de flexão dorsal/extensão dos dedos; após 1º ano: reflexo de flexão plantar dos dedos). - Reflexo cutâneo-abdominal: o estímulo da parede abdominal causa contração muscular e desvio da linha alba e cicatriz umbilical para o lado estimulado (esse reflexo depende da integridade do trato corticoespinal do sistema piramidal). 3. Involuntário: movimento relacionado aos tratos extrapiramidais. O sistema extrapiramidal também tem relação com o tônus muscular e os reflexos tônicos associados com a postura e o equilíbrio, sendo que os gânglios da base são seus principais componentes. As lesões nesse sistema se caracterizam pelas hipercinesias (coreia, atetose, balismo, mioclonias, distonia e tremor). A sensibilidade pode dividir-se em: 1. Exteroceptiva: relacionada a estímulos dolorosos e térmicos da pele e sensibilidade tátil grosseira não discriminativa. Os estímulos do tronco e membros seguem pelos axônios dos neurônios do gânglio espinal que, no corno posterior da medula, cruzam para o lado oposto e ascendem pela porção anterolateral da medula como trato espinotalâmico lateral, passando pelo tálamo até as áreas sensitivas somáticas do córtex. 2. Proprioceptiva: sensibilidade profunda responsável pela sensibilidade cinético- postural, vibratória, dolorosa, compressão profunda e discriminação táteis. Os receptores localizam-se nas cápsulas das articulações, músculos, derme e subcutâneo. Pelo fato de o 1º neurônio motor (neurônio motor superior) decussar de um lado para o outro do corpo ao passar pelo bulbo, quando há uma lesão nesse neurônio, o acometimento dos movimentos é contralateral. Se a lesão for medular, o acometimento dos movimentos é ipsilateral. A síndrome piramidal é basicamente a lesão do 1º neurônio motor, e ela se caracteriza por: tônus muscular aumentado, reflexos hiperativos, trofismo muscular normal ou pouco afetado, Sinal de Babinski + e reflexos cutâneo-abdominais abolidos. Em casos de lesão do neurônio motor periférico, temos: tônus muscular reduzido, reflexos hipoativos, atrofia muscular e fasciculações. Essas lesões no sistema piramidal podem ter caráter irritativo (fenômenos de excitação), com quadro clínico de crise convulsiva do tipo Bravais-Jackson, ou caráter destrutivo, o que pode causar dois tipos de fenômenos: deficitários (dificuldade ou incapacidade de realizar movimentos voluntários – paresia ou plegia) e de liberação, quando o sistema piramidal já não exerce adequadamente sua função inibitória sobre reflexos ou outros movimentos (sinal de Babinski, sincinesias, automatismos medulares, hiperreflexia, espasticidade). Ao entender esses princípios a compreensão do exame neurológico na criança é melhor, sendo que esse exame deve ser adequado para cada faixa etária, de acordo com a maturidade neurológica esperada para cada uma. Há várias escalas que auxiliam a avaliação do desenvolvimento neurológico infantil, sendo que a de Gesell e Denver é uma das mais usadas. No 1º ano de vida, as manifestações neurológicas se dividem em: 1. Permanentes: serão constantes por toda a vida. 2. Transitórias (reflexo tônico-cervical assimétrico de Magnus de Kleijn, de Moro, de Landau, cutâneo-plantar em extensão/flexão dorsal): são primitivas e normais durante um tempo para o lactente, desaparecendo com a evolução e podendo reaparecer em condições patológicas. 3. Evolutivas (sucção, preensão, marcha, apoio plantar, natação): a criança nasce com o reflexo que depois assume caráter voluntário, aprendido ou de automatismo secundário. Exame neurológico no lactente Deve ser feito em ambiente com temperatura amena, com o bebê acordado e sem choro, até 1h30min após mamada. Faça tudo o que puder com a criança vestida, se precisar despi-la, atente para o princípio da manipulação mínima: fazer todas as manobras possíveis em decúbito dorsal, depois puxando-o para sentar-se, em seguida pondo-o eretamente com apoio plantar no plano do exame, depois fazer manobra de suspensão, e por último, fazendo exame em decúbito ventral. Se o bebê for prematuro, deve-se considerar a idade concepcional dele para comparar os resultados dos exames (p. ex. um bebê nascido com 28 semanas, aos 6 meses de idade terá semiologia neurológica correspondente aos 3 meses de um bebê nascido a termo). Para a avaliação do desenvolvimento motor e da linguagem: escalas de Gesell e de Denver. a. Escala de Gesell: é aplicada nas idades-chave de 4, 16, 28 e 40 semanas e aos 12, 18, 24 e 36 meses, sendo o resultado final quantitativo e expressocomo quociente de desenvolvimento (QD). i. Desenvolvimento motor: aquisições motoras ii. Desenvolvimento adaptativo: organização sensório-motora frente aos estímulos (aspectos cognitivos). iii. Desenvolvimento da linguagem: analisar comunicação verbal e/ou não verbal para a compreensão e expressão. iv. Desenvolvimento pessoal-social: reações relacionadas à cultura social, influenciadas pelo ambiente. b. Escala de Denver: para cada marco do desenvolvimento há um limite máximo e mínimo de idade. À esquerda e à direita ficam as idades em que 25 e 90% das crianças normais alcançam esses marcos, respectivamente. i. Desenvolvimento motor grosseiro. ii. Desenvolvimento fino adaptativo. iii. Desenvolvimento pessoal-social. iv. Desenvolvimento da linguagem. No que diz respeito às aquisições posturais de equilíbrio e da coordenação, Diament propôs o seguinte esquema: Exame neurológico na criança Exame cefálico o Perímetro craniano: medição anteroposterior (glabela-occipício) e biauricular (da inserção superior de uma orelha à outra) com fita métrica. Macro/microcefalia: medida acima/abaixo de 2 desvios padrões da média normal. Braquicéfalo: medida biauricular > anteroposterior. Dolicocéfalo: medida biauricular < anteroposterior (forma de quilha de navio). Exame da coluna o Verificar a forma da coluna, presença de pequenas tumorações, tufos pilosos, manchas na pele e depressões. Exame da fala Vocalização 1 a 4 meses Lalação/silabação 5 a 9 meses Dupla-silabação 8 a 12 meses Palavras 8 a 12 meses Palavras-frases 12 a 18 meses Frases agramaticais 18 a 24 meses Frases gramaticais 2 a 3 anos Exame das praxias Praxias são as habilidades de movimentação do corpo e seus membros para alcança uma finalidade, sendo que grande parte das praxias só são passíveis de avaliação a partir dos 3 aos 4 anos de idade. O desenvolvimento das praxias é dependente da qualidade da integração de diferentes áreas corticais e estruturas subcorticais, como a substância reticular e o tronco. o 5 meses: mudança de decúbito. o Prova do pano sobre a face 2 a 3 meses: o bebê irrita-se com o pano; 4 a 5 meses: o bebê já tenta afastar o pano com as duas mãos; 6 meses: o bebê já retira o pano do rosto; o 12 a 14 meses: o bebê empilha 3 cubos; o 3 anos: o bebê empilha 10 cubos; o 2 anos: consegue tirar o sapato; o 3 anos: consegue colocar os sapatos; o 5 anos: consegue amarrar os sapatos; o 6 a 7 anos: consegue abotoar e desabotoar roupas. Exame das gnosias Gnosia é a capacidade do bebê de reconhecer verbal, visual e pelo tato o que está ao redor. o 2 anos: reconhecimento de faces (prosognosia); o 4 anos: reconhecimento das formas geométricas (estereognosia). Exame da atitude (posição do bebê) o Simétrica o Assimétrica Recém-nascido: semiflexão dos membros; em decúbito dorsal, mãos fechadas e cabeça lateralizada. o Deitada espontânea: bebê ainda em decúbito dorsal, mas já ativo e com movimentos coordenados; o Ativa espontânea: bebê sentada, com ou sem apoio; aos 12 meses, bebê já de pé, com ou sem apoio. Exame do equilíbrio estático o Sustento cefálico Manobra do arrasto: puxa-se levemente a criança, que está em decúbito dorsal, pelos braços e para a frente. Entre 2 a 4 meses o bebê já é capaz de levantar a cabeça, flexionando-a para a frente, contra a gravidade; Manobra do arrasto o Posição sentada: aos 6 meses, ainda precisa de apoio; aos 9 meses não precisa mais de apoio; o Posição ortostática: 11 meses; o Teste de Romberg: a criança deve ficar em pé com os olhos fechados, com os calcanhares dos pés juntos. Se houver tendência de queda para qualquer lado, há alguma alteração na propriocepção. Se a tendência de queda for para um lado específico, é indicativo de lesão vestibular. o Teste de Tandem: a criança deve ficar em pé, com um pé na frente do outro; o Ficar em pé com um pé só. Exame do equilíbrio dinâmico o Coloca-se o paciente para movimentar-se 8 meses: engatinha; 10 a 12 meses: marcha voluntária com apoio; 11 a 14 meses: marcha voluntária sem apoio; Até 8 a 9 meses: marcha digitígrada. Obs.: é importante atentar para possíveis tipos de marcha patológica na criança: Escarvante: paciente levanta acentuadamente o membro inferior, lembrando os passos de um soldado. Indica paralisia da flexão dorsal do pé, o que faz o paciente tropeçar; Anserina ou de pato: há oscilações da bacia, as pernas estão afastadas, há hiperlordose lombar, como se o paciente quisesse manter o corpo em equilíbrio, em posição ereta. Encontrada em doenças musculares que diminuem a força muscular da pelve e coxas; Ceifante: incapacidade em aumentar a velocidade de locomoção ou adaptar-se às irregularidades nas condições do solo, além das dificuldades em elevar o pé durante a fase de oscilação da marcha. Encontrada em hemiplegias espásticas; Atáxica ou cerebelar: paciente ziguezagueia como um embriagado, o que traduz incoordenação dos movimentos por lesão cerebelar; Talonante ou tabética: o paciente olha fixamente para o chão e levanta os membros de maneira abrupta e explosiva, com os calcanhares tocando o solo com intensidade. Com os olhos fechados, a marcha piora e se torna impossível. Indica perda de sensibilidade proprioceptiva; Vestibular ou em estrela: se o paciente tiver que ir para a frente e voltar de costas, andará no formato de uma estrela, o que indica lesão vestibular. Exame da motricidade o Tônus muscular: Inspeção: observar se há achatamento das massas musculares de encontro ao leito; Palpação: analisar a consistência muscular (aumentada em lesões motoras centrais e diminuída nas periféricas); Movimentos passivos: flexão e extensão dos membros para ver se há resistência (tônus aumentado) ou passividade de movimentação maior do que o normal (tônus diminuído), ou ainda se há algum exagero na extensibilidade da fibra muscular; o Força muscular: MMSS: manobra do echarpe: cruzamento dos braços do bebê diante da cabeça alinhada na linha média, em decúbito dorsal, segurando as mãos do bebê e depois soltando-as para ver como voltam à posição anterior ou se permanecem fletidas; MMII: Prova do rechaço: as pernas do bebê são flexionadas pelo examinador, com a face ventral da coxa encostada no abdome. Com a outra mão, o examinador pressiona os membros fletidos no sentido do abdome e depois os libera bruscamente dessa posição, e eles serão projetados em extensão; Manobra dos membros pendentes ou da beira do leito: a cabeça da criança alinha-se na linha média, com seu quadril ficando na beira do leito. Os membros pendentes normalmente serão levantados pela criança. Manobras de oposição e resistência; Manobras deficitárias Manobra dos braços estendidos: em pé ou sentado, o paciente estende os braços para a frente, com a palma das mãos voltada para cima ou para baixo e os dedos em abdução. Manobra de Mingazzini para MMII: em decúbito dorsal, o paciente deve estender as coxas afastadas e para, flexionando as pernas a 90°. Obs.: Classificação da força muscular: Grau 5: força normal Grau 4: vence parcialmente a resistência Grau 3: vence a gravidade, mas não vence a resistência Grau 2: movimentos no mesmo plano, não vence a gravidade Grau 1: contração muscular sem deslocamento Grau 0: sem contração muscular Exame da coordenação motora o Prova da mão-objeto: com 6 a 8 meses, o bebê agarra o cubo em frente à face; o Coordenação mão-boca: com 4a 7 meses, o bebê leva o objeto agarrado pela mão à boca; o Prova indicador-nariz: em pé ou sentada, com o membro superior distendido lateralmente, a criança deve tocar a ponta do nariz com o dedo indicador; o Prova calcanhar-joelho: em decúbito dorsal, a criança deve tocar o joelho com o calcanhar do membro a ser examinado, primeiro com os olhos abertos e depois com olhos fechados. Há dismetria quando a criança não consegue acertar o alvo; o Prova dos movimentos alternados: a criança deve fazer movimentos rápidos e alternados, como abrir e fechar as mãos, supinação e pronação ou extensão e flexão dos pés. A dificuldade e a incapacidade de realizar os movimentos são, respectivamente, chamadas de disdiadococinesia e adiadococinesia; o Prova do indicador-indicador. Exame dos reflexos o Reflexos tendinosos-profundos Reflexo Nível segmentar Nervo Bíceps C5-C6 Musculocutâneo Tríceps C7-C8 Radial Braquioradial C5-C6 Radial Patelar L3-L4 Femoral Aquileu L5-S1 Tibial Obs.: Classificação dos reflexos tendinosos profundos: 0: ausente; 1+: hipoativo; 2+: normal; 3+: vivo; 4+: exaltado o Reflexos primitivos Sucção; De Moro ou reflexo de abraçamento: na queda da cabeça (com a criança sendo segurada pelo dorso e nuca no braço do examinador) e o rompimento do equilíbrio, o bebê responde com a extensão e abdução dos membros, e em seguida, a flexão-adução, principalmente dos MMSS. O reflexo continua forte até próximo do 3º mês; De Voracidade ou dos Pontos Cardeais: ao ser tocado em qualquer região do rosto em torno da boca, o bebê vira-se para o lado estimulado. Esse reflexo persiste até por volta do 2º mês; Preensão palmar ou plantar: o bebê segura apreende com grande força o que estiver nas mãos ou nos pés a partir do estímulo. A preensão palmar persiste até por volta do 3º mês, e a plantar, do 7º ou 8º mês; Tônico cervical de Magnus e de Kleijn ou reflexo do esgrimista: com o bebê em decúbito dorsal, o examinador deve firmar o peito da criança para que ela não rotacione o tronco. Com a outra mão, o examinador deve roda a cabeça do bebê para um lado, e o bebê responde com a extensão dos membros que estão do lado para onde a cabeça foi girada e com a flexão dos membros do lado oposto. Esse reflexo costuma permanecer até por volta do 3º mês. Reflexo de Moro Reflexo da Voracidade
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