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A imprensa comemora a República memórias em luta 1890

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A IMPRENSA COMEMO A 
" 
REP LICA: 
memórias em luta 
no 15 de novembro de 1890 
'V ma nova revolução operou-se 
ontem em todo o mundo fluminense, 
mas rêuolução ck entusiasmo" 
O Paiz, 16 de novembro de 1890 
"( ... ) o glorioso aniversário da 
ditadura encontra a nação 
indiferente e apática. (. . .) A festa é, 
pois, essencial e exclusivamente 
oficial. " 
A Tribuna, 12 de novembro de 1890 
imprensa carioca de 1890 nos dá 
dimensão da marca funda­
mental da primeira comemoração do 
15 de novembro: a tentativa de se 
construir uma tradição de forte con­
t e ú d o simbólico (Ferreira Neto 
1989:47). Segundo o que foi noticiado, i 
a pesar da chuva as tropas teriam re­
produzido a disposição que haviam to­
mado no ano anterior, durante a der­
rubada do governo constitucional. 
Carla Siqueira 
Houve desfile de tropas, e Deodoro as 
passou em revista. Figura central dos 
festejos, o "Generalíssimo" teve uma 
placa comemorativa inaugurada em 
sua casa, marcando sua atuação histó­
rica na Proclamação. 
O 15 de novembro organizado pelo 
governo provisório destacava a presen­
ça militar. O Exército aparecia como a 
instituição salvadora. O perdão às 
"praças de linha", que em dezembro de 
1889 haviam cometido "atos de indis­
ciplina") oferecia uma prova da genero­
sidade do líder Deodoro. Aabertura do 
Congresso no dia máximo da pátria, 
por sua vez, era uma prova de sua 
afeição à legalidade, à ordem. 
Durante os três dias de comemora­
ção, bandas militares tocaram o hino 
nacional, em coretos enfeitados com as 
" da Re 'bli " M . armas pu ca . enlDAS em 
"trajes alegóricos da República" desflia­
ram em procissão cívica. Quartéis, ruas, 
edifícios públicos e particulares foram 
EatucJo.llia16ricoa, Riode Janeiro, vol. 7, n. 14, 199<t, p. 161-181. 
• 
162 ESTUDOS HISTÓRICOS -)994/a 
especialmente iluminados. A ilumina­
ção era, aliás, um dos elementos mais 
fortes da cena celebmtiva. No Campo da 
Aclamação foi erguida uma coluna, em 
cl.\Ío topo encontrava-se uma ''Estátua 
da Liberdade". Na mão direita ela por­
tava um facho de luz, na esquerda o 
decreto da Proclamação da República. 
O 15 de novembro de 1890 tentava 
abafar as discussões sobre o 15 de no­
vembro de 1889. Um ano após a Pro­
clamação, o patrocinador da comemo­
ração quer afirmar seu poder político, 
num momento em que o pacto entre 
republicanos paulistas, militares e ou­
tros segmentos burocráticos e oligár­
quicos está sl.\Íeito a lutas internas pe­
la hegemonia, além de enfrentar a opo­
sição monarquista. 
Preocupados quanto à sobrevivência 
do novo regime, 05 republicanos chegam 
a uma unanimidade: a sacralidade da 
data. O 15 de novembro torna-se um 
marco indiscutível, 2 a partir do qual se 
havia iniciado a udemolição de três sé­
culos" anunciada por Deodoro na aber­
tura do Congresso. q,nforme nos diz 
Edgar Leite Fel'l"ira Neto (1989: 41-
43), o 15 de novembro transfol'I!Ia-se 
numa udecretação de eternidade", o 
anúncio de um novo testamento da or­
dem a vigorar nos séculos vindouros. 
Neste ambiente conflituoso, a come­
moração do 15 de novembro de 1890 
evoca a reflexão sobre os acontecimen­
tos desde a Proclamação, e as páginas 
dos jornais expressam o embate entre 
republicanos e monarquistas. 3 Filia­
dos a um grup:> ou ao outro, os jorna­
listas tàm a certeza de estarem viven­
do um momento crucial para o país, e 
sentem-se testemunhas privilegiadas, 
na pretensão de serem historiadores 
do presente. Acirra-se, então, a batalha 
das versões, a luta pela afirmação de 
uma determinada inteligibilidade. 
Através do discurso comemorativo, 
nos diz Eric Walter (1983:14), a im-
prensa ascende à mais alta função da 
memória: dar sentido ao devir, como 
fator de coesão e de organização do todo 
social. A rememoração histórica reali­
zada pela imprensa não oferece apenas 
uma visão do passado. Pelo que lembra 
e pelo que esquece, oferece, também, 
uma compreensão do presente, urna 
ordem que se quer preservar no futuro. 
A esta leitura dos eventos decorridos 
vem 6omar�se a construção - positiva 
no caso dos republicanos, negativa no 
caso dos monarquistas - da festa como 
acontecimento. 
Objetivamos, neste texto, com­
preender como o gesto comemorativo 
se inscreve no discurso da imprensa, 
identificando as estratêgias memoria­
listas, com suas regras e seus parado� 
xos. 1bmamos como pressu}X)sto a pos� 
sibilidade de olhar para o discurso jor­
nalístico como lugar de memória (No� 
ra, 1984) de um embate, mas também 
como uma cena textual (Walter, 1983), 
onde se distribui um material semân· 
tico e onde se efetua um certo número 
de operações retóricas, o que nos per· 
mite relativizar a diferença entre repu­
blicanos e monarquistas e fazer apare­
cer um jogo de fOl'mas e sentidos que 
faz a especificidade relativa deste dis­
curso da inIprensa. 
O provisório eterniza a República 
A 17 de novembro de 1890, em meio 
aos festejos do prinleiro aniversário da 
República, o editorial de O Paiz traça 
a linha do jornal, afirmando sua atua­
ção na propaganda republicana e tam­
bém sua tarefa na consolidação do novo 
• regIme: 
UMesmo por ter sido um dos princi. 
pais fatores da revolução política, 
cumpre-lhe a tarefa e a honra de 
• A IMPRENSA COMEMORA A REPUBUCA 163 
ser um dos maiores auxiliares da 
reorganização social. Alssim firma­
do o Brasil no regime republicano, 
começou a suceder à refotlna das 
instituições a reconstrução dos COSA 
tumes. E neste momento em que de 
todas as intelectualidades e de to­
dos 05 corações a pátria espera o 
contingente do seu critério e do seu 
civismo para Ber deveras na demo­
cracia americana o núcleo de colos­
sal grandeza; ( ... ) fazer alguma 
coisa na esfera da propaganda, pelo 
melhoramento social, sob inspira­
çã� de conservadorismo racional e 
patriótico, parece-nos a mais larga, 
a mais fecunda de todas as fórmu­
las e de todas as exigências de po­
lítica." 
As palavras de O Paiz, jornal ligado 
a Quintino Bocaiúva 4 -figura central 
nos acontecimentos de 1889, ministro 
de Deodoro em 1890-revelam o enten­
dimento dos republicanos acerca do ne­
cessário esforço a ser empreendido. 
Decretada a República, esta era uma 
idéia pela qual ainda era preciso lutar. 
O trabalho de propaganda não estava 
findo, muito pelo contrário, tornava-se 
mais complexo. Agora, significava ga­
rantir a legitimidade da nova ordem e 
atender à expectativa de realização do 
que fora prometido. Cumprir a pro­
messa, isto é, encarnar a idéia de Re­
pública, significava a construção de 
um novo Estado e da sua articulação 
com a paUs e o demos, ou seja, a reor­
ganização do espaço público. 
Firmado o Brasil no regime republi­
cano, reform.adas as instituições - as­
sim diz o jornal - a principal tarefa 
política torna-se a "reorganização so­
cial". Na verdade, conforme nos mostra 
Renato Lessa (1987:43), o veto imposto 
ao regime monárquico não implicou a 
invenção positiva de uma nova ordem, 
caracterizando-se os primeiros anos da 
República majs pela ausência de meca­
nismos institucionais próprios do Im­
pério do que pela criação de novas for­
mas de organização política, Segundo 
o autor, o que se seguiu à Proclamação 
foi a desrotinização da política, o "mer­
gulho no caos", Estava assim em jogo a 
legitimidade do novo regime, bem co­
mo o poder daqueles que o haviam 
implantado. 
05 primeiros momentos da vida re­
publicana foram então consumidos 
neste esforço de legitimação, através 
da insinuação de crenças e sistema" de 
valores. No trecho de O Pai� percebe­
mos o acerto da expressão de Pierre 
Nora (1984:IX): a história da Repúbli­
ca é a história de uma aculturação. 
"Para ser deveras na democracia ame­
ricana ° núcleo de colossal grandeza", 
é preciso promover a "reconstrução dos 
costumes", "sob inspiração de conser­vadorismo racional e patriótico", isto é, 
inscrever as práticas sociais na ordem 
republicana. 
Autores como Lúcia Lippi Oliveira 
(1989), José Murilo de Carvalho (1990) 
e Edgar Leite Ferreira Neto (1989) 
mostraram como se buscou recriar o 
imaginário coletivo dentro de um sen­
tido cívico republicano, numa ação pe­
dagógica que se traduziu na produção 
de novos símbolos, tais como a bandei­
ra, o hino, os monumentos e o calendá­
rio das festas oficiais. A essa tentativa 
de prover urna moldura para a vida 
social chamou Eric Hobsbawm (1984) 
de invenção das tradições. Proclamada 
a República, ela continua a ser uma 
meta a realizar. Este esforço de manu­
tenção da idéia de República insere-se 
na dinãmica dos conceitos de movimen­
to, tal como proposta por Reinhart Ko­
selleck (1985). 
Segundo o autor, a filosofia da histó­
ria fundada pelo iluminismo dá início 
à consciência da diferença qualitativa 
entre passado e futuro. A idéia de pro-
164 ESTUDOS mSTÓrucos -199(11. 
gresso é o marco da existência desta 
consciência histórica, que empreende a 
valoração da experiência. É neste pon­
to que, de conceitos tais como "repúbli­
ca" e "democracia" - que indicam um 
exemplo de experiência acontecida no 
pas!\8do que o futuro deveria repetir­
derivam 05 conceitos de movimento, 
como "republicanismo", que menos le 
metem ao passado do que a um objetivo 
no futuro. São conceitos que geram 
experiência, mais que a registram. 
Causam efeito de antecipação, no sen­
tido de que oferecem um princípio para 
o movimento histórico, um ditado mo­
ral para a ação política. 
Espaço ck experiência e horizonte ck 
expectatiua são as categoriAS construí­
das por Koselleck para pensar a "cons­
ciêncis temporal especificamente his­
tórica". A modernidade caracteriza ... e 
pela percepção da crescente incapaci­
dade da experiência passada de aten­
der às expectativas do presente em 
relação ao futuro, em face da multipli­
cação destas expectativas provocada 
pela aceleração do tempo histórico. Es­
paço de experiência e horizonte de ex­
pectativa cada vez menos cotlesponde­
riam um ao outro, sendo tarefa da ação 
política cobrir esta diferença. O traba­
lho de invenção de uma tradição repu­
blicana busca este equacionamento. A 
história da República torna ... e, assim, 
a história de uma aculturação, no sen­
tido de que um novo conteúdo s im bóli­
co pretende suprir o vazio deixado pelo 
veto ao passado monárquico, viabili­
zando a imposição de uma nova ordem. 
O trabalho do grupo dirigente é 
manter viva a idéia de República, .omo 
slogan organizador da sociedade. A c0-
memoração do 15 de novembro, data 
máxima da República, contribui para 
este esforço: tenta enquadrar a coleti­
vidade neste sentido construtivo. As 
comemorações cívicas -seguindo o que 
escreve Mona Ozouf sobre a festa revo-
lucionária (1984:20) - empreendem o 
batismo do indivíduo, transformando­
o em cidadão. Ainda que no caso brasi­
leiro náo caiba o adjetivo "revolucioná­
ria", pois a ordem republicana busca 
justamente equacionar renovação e 
conservação, a festa em questão pre­
tende ter o mesmo efeito. A memoração 
histórica realizada pela comemoração 
significará a "construção de um passa­
do republicano que irá conceder subs­
tância a lima especifica dimensão de 
povo brasileiro e às limitações do exer­
cício da cidadania" (Ferreira Neto, 
1989:14). 
Em um regime que pressupõe a di­
nâmica do voto e do sistema repre­
sentativo clássico, a comemoração in .. 
tenta a fabricação de um consenso o 
mais abrangente possível, ou mesmo a 
unanimidade. Esta reunião cívica ins­
taura uma ordem onde a adesão das 
• • • ID883ru!1 conJuga�e com a preemInen ... 
cia da classe política. Pois a comemo­
ração é o apelo à participação popular, 
mas também o exercício de um ritual 
hierarquizado. A:!, massas são convida ... 
das por seus educadores republicanos 
a uma gzande festa da memória, mas 
fIxar o sentido desta celebração é tare­
fa dos dirigentes, daqueles que detêm 
o saber histórico e a soberania da pala­
vra (Walter, 1983:60). 
Dizer torna-se um fazer, e é essa a 
tarefa da cidade letrada - seguindo a 
fOl'mulação de Angel Rama (1985). A 
imprensa tem aí o seu lugar na reelabo­
ração do imaginário social. Enquanto 
instituição, a imprensa sempre foi mar­
cada por este espírito que, no geral, não 
difere muito do próprio caráter da edu­
cação, da Igreja, do rermamento intelec­
tual, ou seja, o de criar adeptos para 
bandeiras e princípios. Foi, como os ou­
tros. também. forma de interpretação e, 
como todas as forwAs de interpretação, 
necessariamente, 1Jma fOlllla prática, 
concleta, de luta pelo poder (Marcondes 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBUCA 165 
Filho. 1993:146). A origem de grande 
parte da imprensa do século XIX está 
mesmo n08 "ism05" Burgid08 neste tem­
PO. aqui entendidos como conceitos de 
movimento - na acepção de Koselleck, 
visões de mundo que justificavam e da­
vam sentido não só ao fazer jornalístico, 
como também às práticAs políticas, às 
maneiras de agir. Assim, no final do 
século XIX brasileiro. o aparecimento 
dos primeiros jorna i. de perf>.! mais em­
presarial. preço menor e circulação 
ma is abrangente (guardadas. nestes 
três itens. as proporções da época) -
Gazeta de Notícias. Gazeta da Tarde. 
Diário de Notícias. Cidade do Rio. O 
paiz - esteve vinculado à politização 
urbana promovida em parte pelos mo­
vimentos abolicionista e republicano 
(Needell. 1993:221). 
A "República do pensamento" 
Uma unanimidade é patente entre 
os jornalistas de então: a importãncia 
da imprensa na vida nacional. "A im­
prensa é a vista da nação". diz Rui 
Barbosa (1990:37). Percorrendo os jor­
nais e revistas. percebemos o esforço 
cotidiano em BÍumar a si mesmos co­
mo lugar de independência. espírito 
científico e elevação de idéias - "a ver­
dadeira forma de República do pensa­
mento", como já havia escrito Machado 
de Assis (1959:955). A imprensa. se­
gundo suas próprias palavras. é intér­
prete dos sentimentos populares. for­
madora da opinião coletiva. analista 
dos negócios públicos. Ela é um braço 
da "ilustração brasileira", ou seja, o 
movimento que em fins do século XIX 
fOl'mou-se no Brasil. guardando. do ilu­
minismo europeu do século XVIII. uma 
crença radical no poder da razão e da 
ciência. e. portanto. no papel dos inte­
lectuais (Barros. 1959:22). O auto-re-
trato construído pela imprensa é o de 
um instrumento direto e imediato de 
ação educativa. 
Em novembro de 1890. a imprensa 
nascida no bojo das campanhas aboli­
cionista e republicana celebra o suces­
so de sua atuação no advento do novo 
regime. A presença dos jornalistas 
Quintino Bocaiúva. Aristides Lobo e 
Rui Barbosa no governo surge como 
prova do reconhecimento desta parti­
cipação. O Paiz. a Gauta de Notícias e 
a Revista Illustrada são parte desta 
imprensa republicana carioca que, 
após anos ocupada em atear fogo ao 
trono. torna-se situação. Do outro lado. 
o monarquista Jornal do Commercio. 
que durante toda a sua existência pau­
tou-se por uma orientação conservado­
ra, tenta manter uma oposição mode­
rada. Sua "neutralidade" é criticada 
por outros monarquistas, como Carlos 
de Laet. Segundo este. ''s6 uma folha 
OUSQva fazer frente à tira rua triunfan­
te": A TribunaLiberal (Laet. 1899:85). 
Fechado ainda em 1889. o jornal res­
surge no ano seguinte como A Tribuna. 
reduzido em seu nome, mas não em 
sua combatividade. 
Na comemoração do primeiro ani­
versário da República. a imprensa si­
tuacionista luta pela hegemonia da 
função iluminadora dos destinos nacio­
nais. Já em outubro a Revista Il/ustrcv 
da desqualificava o Jornal do Com­
mercio, o "irmão mais velho da monar­
quia brasileira". Sua falta de "orienta­
ção científica e independente" teria si· 
do atestada pela não percepção. às vés­
peras da Proclamação.de que "o país 
estava essencialmente republicano". 
Na virada do século. a função ilumi­
nadora da imprensa vem respaldada 
pela crença na ciência. e a cientificida­
de jornalística. por sua vez. confunde­
se com civismo. Por ocasião do empas­
telamento de A Tribuna. no dia 29 de 
novembro de 1890. 5 O Paiz e a Revista 
166 ESTUDOS IlISTÓruCOS -1994/1( 
IIlustrada juntam-se ao coro de indig­
nação contra o ato de violência, mas 
não sem antes assinalar a provável 
"culpa" do órgão oposicionista. O paiz 
faz ref�rência à "violência da lingua­
gem". 6 A Revista IIlustrada acusa a 
"oposição sistemática da Tribuna con­
tra o atual estado de coisas": 
"Sem plano de combate, sem arien· 
tação política e o civismo necessá­
rio para bem dirigir o espírito 
público através da crise que atra­
vessamos, elucidando as questões, 
combatendo-as quando preciso e 
apoiando-as quando se fizesse mis­
ter,limitava-se a dizer horrores até 
do próprio desconhecido. Fez seus 
uns conceitos alucinados que um 
tal Frederico de S., uma de nossas 
vergonhas na Europa, publicou so­
bre a transformação política do 
Brasil/' 
E mais adiante: 
"A liberdade de imprensa tem limi­
tes: a relatividade é uma lei natu­
ral-social. Desde que um jornal ou 
indivíduo torna-se elemento de de­
sordem, que lhe pese o vigor das 
leis. Ora, a Tribuna sempre foi um 
elemento mau, uma molécula afe­
tada em um organismo da nossa 
imprensa. ( ... ) Nós somos pela li­
berdade de opinião. E a imprensa 
que representa a opinião coletiva, 
que deve ser livre não 56 para sua 
dignidade da ação como também 
para a boa marcha dos negócios 
públicos.,,7 
Sob o pseudônimo de Frederico de S., 
o monarquista Eduardo Prado denun­
ciava as práticas da ditadura militar 
republicana, que, segundo ele, se opu­
nham ao perfil liberal do Império (Oli­
veira, 1989). Para a Revista lllustrada, 
estes ataques não passavam de "concei­
tos alucinados" que fomentavam a "des­
cabelada crítica" da Tribuna. O jornalis­
mo deixa de ser uma atividade "científi­
ca" e "cívica" quando ameaça o sonho da 
ordem governista. A liberdade de im­
prensa subsiste. mas somente enquanto 
for exercida "sob inspiração de conser­
vadorismo racional e patriótico". 
A linguagem fin-de-siecle da im­
prensa revela a presença do positivis­
mo na sua dupla vertente: como a reli­
gião cívica elaborada por Comte e como 
o ideal científico - derivado também 
ele das teorias com tia nas (Lõwy, 
1987:25) - reinante no século XIX. O 
princípio da liberdade de imprensa é 
submetido à máxima comtiana: "tudo 
é relativo e isso é a única coisa absolu· 
ta". Assim, não sendo a atividade jor­
nalística exercida dentro do sentido 
conservador, deveria Ber suprimida. 
Era conservador, na visão de Comte, 
aquele que conseguia conciliar o pro­
gresso trazido pela Revolução com a 
ordem necessária para apressar a 
transição para a sociedade normal, no 
caso, para a sociedade positivista ba­
seada na Religião da �umanidade 
(Carvalho, 1990:21). Segue uma lógica 
semelhante o texto da Revistalllustra­
da: num momento de crise, a 1hbuna 
portava·se como unl "elemento mau" 
no "organismo", pondo em risco a "boa 
marcha dos negócios públicos". 
A atitude da imprensa revela, tam­
bém, como o poder dos intelectuais não 
procede simplesmente de um trabalho 
de autoconsagração, mas de uma rela­
ção de troca com o poder político, que o 
reconhece e legitima. O empastela­
mento do órgão monarquista dá·se 
uma serna na após a revogação das leis 
repressivas de Deodoro, que vigora­
vam desde março daquele ano, cer­
ceando a liberdade de todos os jornais. 
A imprensa republicana empreende a 
separação entre a boa e a má imprensa, 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBLICA 167 
resguardando-se na afirmação do ci­
vismo (o alinhamento com o poder) e da 
. cientificidade (que pressupõe uma 
neutralidade) da sua atividade. Os tra­
ços desta cientificidade patriótica fi­
cam evidentes na participação da im­
prensa na comemoração do 15 de no­
vembro, em que 05 jornais, segundo O 
Pa;z, "adornaram luxuosamente os 
edificios de suas redações e oficinas, de 
modo a concorrer poderosamente para 
o brilhante aspecto que apresentava a 
rua do Ouvidor". 8 
o burburinho da festa 
O governista O Paiz é o mais enga­
jado no espírito comemorativo. Desde 
os primeiros dias de novembro, publica 
elogios a Deodoro e aos demais mem­
bros do governo provisório, legitiman­
do a formação resultante do pacto que 
havia deposto a Monarquia. Em seus 
editoriais e colunas fixas (assinadas 
com pseudônimos sob os quais pode­
riam estar ocultas figuras do próprio 
governo), O Paiz sedimenta a versão 
republicana. Diz o editorial "Um ano 
depois", do dia 15: 
"A história não julga com mexeri­
cos, nem condena com depoimento 
de intrigantes, e nós procuramos 
fazer aqui uma memoração históri­
ca. Esperamos que nos cheguem as 
notas verdadeiras da verdade do 
que existe, para condenar os vicio­
sos e exaltar os homens honestos. 
A justiça popular não prescreve 
nunca. Seja o dia de hoje o início de 
novo e mais fecundo período para o 
BrasiL" 
Contra o artifício monarquista, que 
defende seu regime a partir de uma 
legitimidade assentada na tradição bis-
tárica, O Paiz busca no passado raízes 
republicanas. Assim, a 4 de novembro, 
Máximo Job, em sua coluna "Ecos da 
Cidade", fala da "geração bestializada 
por quarenta anos de perfídias e menti­
ras", que "sacode o torpor monárquico 
que a engerelhou para ser o que foram 
em coragem cívica e em patriotismo as 
gerações de 1820 e 1831". Significativa­
mente, faz uso da expressão "quarenta 
anos de perfidias e mentiras", com a 
qual o deputado conservador Ferreira 
Vianna, autor do panfleto A Conferência 
dos DiuinDs, insistentemente atacava o 
reinado de dom Pedro lI. 9 
No citado editorial do dia 15, o órgão 
republicano desdobra-se na elaboração 
do mito de origem: 
"Como se fez a revolução? Como se 
fazem todas as revoluções: pela go­
ta de água no vaso a transbordar 
das amarguras da nação. ( ... ) Tão 
morto estava o império, a tal apatia 
de cretino chegara a sociedade, que 
se dizia ser este o seu esteio, que o 
grito revolucionário partido dos 
quartéis ecoou por todos os cantos 
de sua imensa capital, repercutin. 
do por todo o Brasil, com as vibra­
ções e a sonoridade das grandes 
solidões. Nem mesmo as coletivida­
des e as classes interessadas nas 
instituições arriscaram um arra­
nhão nos augustos e digníssimos 
dedinhos de seus membros, para 
fingir um último serviço para apa­
rentar a extrema dedicação. ( ... ) A 
revolução não matou o império. O 
império estava morto e a república 
teve apenas o trabalho de remover­
lhe o cadáver apodrecido para que 
não infeccionasse o ambiente na­
cional." 
Sob a influência de Quintino Bo­
caiúva, o discurso de O Paiz deixa 
transparecer sua filiação ao republica-
168 ESTUDOS HISTÓRlCOS-191l4/1< 
nismo histórico, em sua vertente civil 
e liberal. A fragilidade do Partido Re­
publicano por ocasião da Proclamação 
implicou a necessária aliança com os 
militeres, defendida pelo próprio 
Quintino. Na elaboração do mito de 
origem republicano, a presença militar 
é inegável, mas aparece como expres­
são de um processo histórico inevitá­
vel. Tal recurso tenta amenizar a im .. 
possibilidade de se apresentar a ação 
dos militares como um mero instru­
mento dos desígnios dos republicanos 
• • 
ClVIS. 
No dia seguinte, O Paiz comente os 
festejos, ressaltendo, ao lado da impor­
táncia do elemento militeI', sua har mo­
nia com o resto da sociedade. O jornal 
dedica suas duas primeiras páginas à 
rePOTtagem das comemorações, no re­
late fuais extenso da imprensa carioca. 
Os subtítulos guiam o leitor. "O présti­
to militeI''' C'foram os soldados da Re­
pública delirantemente saudados") re­
forçaa idéia do apoio popular. Segue ... e 
"No quartel do Primeiro" C'Foi ali na­
quele edificio para o qual convergiram 
todas as atenções; ali onde o último 
ministério da monarquia recolheu-se 
sitiado pelo exército e armada: ali ve­
rificou-se ontem o grande banquete da­
do às forças de terra e mar pelo governo 
da república. "), que, ao evocar um dos 
acontecimentos mais caros ao mito de 
origem, capitaliza-c em torno do espa­
ço do quartel, tornando-o lugar <k me­
mória da vitória republicana. Além 
disso, a ocupação do quartel pela festa 
.. � • • 'A nao so evoca como propicia a experlen-
cia da ocupação anterior (a tomada do 
poder), reafirlllando-a. 
Em "Aspectos da cidade", "Nos aua­
baldes", "Notas suburbanas" e "Festas 
da noite", o jornal constrói a imagem 
de uma cidade tomada pela festa. Se­
gundo O Paiz. a "afluência de pas$Bgei­
ros jamais vista antes" fez com que 
fossem duplicadas as viagens de trem. 
O jornal destaca a beleza dos enfeites 
e da iluminação, aftrlllando o caráter 
"imperdível" da festa. Apropriando-• 
nos dos termos cunhados por Kosel-
leck, diríamos que na República re­
cém-instaurada, a comemoração é o 
artificio da ação política na tentativa 
de fazer confluírem espaço <k experiê� 
cia e horizonte <k expectativa. O jornal 
O Pa;z contribui neste sentido: segun­
do ele, as ruas foram tomadas pelas 
"alegrias santas do povo que via na 
imagem da pátria avigorada as gran­
dezas de seu futuro e as promessas de 
sua felicidade", O discurso comemora­
tivo do jornal tem como elementos for­
tes a presença do povo e a iluminação 
da cidade. Resultado do progresso, 
marca da civilização, a luz elétrica 
atesta a concretização da expectativa, 
permite que a festa se torne o próprio 
espaço de experiência da promessa. 
Nas palavras de O Paiz. Assim como 
Das dos demAis jornais situacionistas, 
O 15 de novembro surge como um mar­
co incontestável. Indica o início de um 
novo tempo, este sim verdadeiramente 
legítimo. As luzes da festa atestam o 
progresso, a abertura do Congresso no 
próprio dia 15 marca a ordem-valores 
máximos deste tempo presidido pela 
"idéia vencedora de República".lO Aco­
memoração do 15 de novembro em 
1890 torna ... e a prova palpável da afir­
mação da República, "um resultado to­
tal, inegável, indiscutível", segundo a 
Gazeta <k Notfcias; 11 "uma verdade, 
um fato consumado", repete a Revista 
Illustrada.12 A Revista publica uma 
ilustração de página inteira em que, da 
sacada do palácio, Deodoro -tendo por 
trás seus companheiros de governo -
ergue em seus braços uma menina. que 
traz consigo a marca republicana do 
barrete frígio. 
Sobre as comemorações, a Gazeta 
comenta, em 16 de novembro: 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBUCA 169 
"Extraordinária massa de povo in­
vadiu a8 ruas ontem, apenas raiou 
-
o dia. ( ... ) As nove horas da manhã 
jã era difícil a passagem pela Praça 
da Aclamação, e impossível pela 
rua larga de São Joaquim, tão 
grande era a onda de povo que en­
chia literalmente estes dois pontos 
da cidade, onde as festas deviam 
ser I senão mais imponentes, pelo 
menos mais ruidosas." 
No dia seguinte, o fato de o Congres­
so Nacional ocupar o antigo palácio 
imperial da Quinta da Boa VISta serve 
como "gancho" para que O Paiz evoque 
8ua versáo, que se quer memória na­
cional: 
"( ... ) Foi ali ainda que o terror ou 
amor dos patriotas, vencidos pelas 
intrigas e ambições políticas, ren­
deu-se à fatalidade, para converter 
uma criança inconsciente e des· 
preocupada em instrumento e solu­
ção de uma crise temerosa, que Q 
razão, o saber e a experiência da 
potente geração de 1840 não tinha 
podido co�urar! Desde então aque­
la coluna pareceu inacessível às co­
moções nacionais. ( ... ) Nunca mais 
o povo subiu aos paços do Sr. D. 
Pedro 11 ( ... ). O imperador não com­
preendeu nunca a necessidade de 
. dar ao princípio monárquico a 
maior extensão democrática. ( ... ) 
Estã, pois, instalada ( ... ) a segunda 
assembléia constituinte do Brasil. 
É a soberania da razão e do direito, 
substituindo, na frase da mensa­
gem presidencial, a soberania da 
convenção. Vai começar a definiti­
va organização da República." 
Novamente o jornal revela o movi­
mento de expansão do patrimônio re­
publicano pela apropriação de um ou­
tro espaço. Nas páginas do jornal, o 
antigo palácio torna-se lugar de memó­
ria, espayo da experiência de uma tra­
dição de luta republicana. Experiência 
vitoriosa, a ocupação do palácio pelo 
Congresso representa o encaminha­
mento na direção do horizonte de expec­
tativa, encarnado nos ideais de demo­
cracia e de soberania da razão e do 
direito. Substituir a soberania da con­
venção pela da razão e do direito é um 
dos temas caros à ilustração brasileira. 
Aproxima r o pais nominal do pais real 
é a tarefa definidora do esforço refor­
mador do liberalismo clássico e do cien­
tificismo, informadores da mentalida­
de do grupo (Barros, 1959:191). 
Marchas e contramarchas da 
-comemoraçao 
Em algumas edições de novembro, a 
Gazeta de Notlcias publica partes da 
História da fundação da República no 
Brasil, do deputado Anfrisio FialhoP 
A convivência numa mesma página e a 
coincidência de conteúdo entre o traba­
lho historiográfico e as opiniões do jor­
nal parecem emprestar cientificidade, 
e logo, credibilidade, a estas últimas. 
Assim, no dia 15 a Gazeta afirma a 
idéia de uma Proclamação feita pacifi­
camente, graças a Deodoro, e luta con­
tra a idéia de um povo indiferente: 
"Há um ano a população desta ci­
dade, ao despertar, soube que ha­
via grande movimento de tropas, e 
supôs que se tra tava de mais uma 
fase da questão militar ( ... ). Pouco 
depois, do povo que se aglomerava 
no campo, saíam a espalhar-se pela 
cidade notícias do que ia suceden­
do. ( ... ) E, durante o trajeto, o povo 
dava vivas à república, esses vivas 
pouco antes corlSiderados sedicio-
80S pela polícia. ( ... ) Na massa geral 
170 ESTUDOS HISTÓRICOS - ,QIl4/'4 
da população, ninguém sabia ao 
certo o que ia suceder. O que toda 
a gente via, é que não havia desor· 
, 
dem pelas ruas. ( ... ) A noite soube­
se de uma ordem severa dada pelo 
general Deodoro para garantir a 
tranqüilidade pública, e viu-se -
com prazer - a cidade vigorosa· 
mente policiada." 
Na contramarcha da comemoração 
estão o sisudo Jornal do Commercio e 
o virulento A Tribuna. O Jornal do 
Commercio reporta os festejos do Rio 
de Janeiro e de outras cidades do país, 
a exemplo do que fazem os outros jor­
nais, porém em escala bem menor: náo 
mais que pequenas notas perdidas nas 
páginas do periódico. Preocupa-se 
mais em comentar a mensagem envia­
da por Deodoro ao Congresso - um 
"documento histórico", que publica na 
íntegra ''para ser alerido por quem te­
nha melhores padrões" que os seus. 
Não consegue, porém, deixar de cha­
mar a atenção dos leitores para alguns 
pontos. Entre outras coisas, põe em 
relevo - numa perspectiva crítica -os 
trechos em que Deodoro coloca ao 
Exército e a si próprio como udepositá­
rios" dos destinos do povo brasileiro. 
Também A Tribuna comenta as pa­
lavras de Deodoro, criticando especial­
mente a idéia -pela qual a Gazeta se 
esforçava -de que a República era algo 
já "encarnado" nos u14 milhões de al­
mas", por ocasião da Proclamação. Se­
guindo a praxe monarquista, A 'lhbu­
na fala da Proclamação como um le­
vante militar, alheio à vontade do povo, 
e' dá pouca importãncia à atuação dos 
políticos republicanos. H Provocativa, 
faz questão de referir-se ao "general 
Quintino Bocaiúva" e ao "general Rui 
Barbosa", aproveitando-se do ma.l--es­
tal' provocado entre os ministros quan­
to à febre de condecorações detonada 
por um decreto de Deodoro (Carone, 
1974:17). 
A 17 de novembro, A Tribuna diz 
recear o perigo da indiferença do povo 
pelos negócios do país. Na coluna"Con­
versemos" deste dia, a ditadura militar 
imposta pelo governo provisório é cul­
pada por causar tal indiferença e desi­
lusão. Enquanto O Paiz tece a imagem 
de um tranqüilo processo para a lega­
lidade ( "A bravura e a iniciativa do 
generalíssimo e dos membros do gover­
no provisório flZeram a República; a 
energia e a coragem cívica do congres· 
50 a or�nizará na liberdade e na 01'­
dem"), A 'll'ibuna nos dá a ler uma 
problemática abertura do Congresso. 
De fato, agravam-se as disputas inter­
nas na coalizão dirigente. Deodoro ha­
via falado em adiar a convocação de 
uma Constituinte. O Congresso, por 
sua ve� na inauguração, deixa claro o 
caráter temporário do cargo de Deodo­
ro e arroga-se o direito de examinar os 
atos de seu governo, no encaminha­
mento de sua tarefa primordial: firmar 
o regime na legalidade (Carone, 
1974:29-31). Eis o que diz o jornal mo­
narquista, que parece adivinhar a fu­
tura crise entre Deodoro e o Congresso 
em novembro de 1B91: 
"Ainda não se pode dizer o ex-pro­
rJisórw. ( ... ) o provisório compare­
ceu diante da representação 
nacional e declarou entregar a nev 
ção à nação. ( ... ) Depois da entrega 
da nação e de muita . frase bonita, 
retirou-se o provisório levando con­
sigo precisamente aquilo que ele 
disse viera entregar. O congresso 
recebeu a nação, mas o provisório 
continua tal qual era, de modo que 
havemos todos de convir que a coi­
S8 não passou de vistosa mistifica­
ção ( ... ) Continuamos, portanto, sob 
o regime da ditadura, que em bre­
ves dias despedirá o congresso, e 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚnUCA 171 
viverá desassombradamente, como 
tem vivido até hoje. Desiludamo­
nos - se é que nisto vai alguma 
desilusão," 
• 
As vésperas das comemorações do 
15 de novembro, o mesmo colunista 
comentava a celebração, empreenden­
do 11m trabalho de desconstrução do 
esforço republicano: 
"Parece, pois, que o glorioso aniver� 
sário da ditadura encontra a nação 
indiferente e apática. O povo con­
cOM'erá aos festejos se o governo 
festejar, mas não concorre para os 
mesmos festejos e não os promove. 
A festa é, pois, essencial e exclusi� 
vamente oficial. Quando as cores 
dos papelões pintados e a cola co­
meçarem a escorrer, borrando a 
pintura, pela ação do sereno ou da 
chuva, os jOl'nais serviçais e pagos, 
em longos e bombásticos artigos, 
espalharão pelo mundo que o Bra­
sil em peso levantou-se jubiloso pa­
ra felicitar o paternal governo 
provisório pelo ano de ditadura que 
nos deu e pelo favor que nos fez, 
rasgando o direito e a lei, amorda­
çando todas as liberdades, e impe­
dindo todas as manifestações de 
desagrado, frutos lógicos dos seus 
atos, impensados e funestos. Nos 
nefandos tempos houve, não há ne­
gá-lo, festas populares. O povo 
muitas vezes cotizou-se para le­
vantar arcos triunfais, por debaixo 
dos quais passavam, comovidos, o 
velho e idolatrado monarca e a san­
ta e querida ex-imperatriz. Das so­
mas despendidas, a maior cabia às 
subscrições populares. Nas festas 
que vai haver, o povo, quando mui� 
to, entrará como mero espectador. 
Se, no momento em que os raios da 
luz elétrica clarearem as ruas, em� 
prestarem brilho falso e efeito de 
cenografia aos papelões, alguém 
pudesse descobrir o coração do po­
vo, com certeza só encontraria nele 
dor e tristeza." 
Além dos festejos oficiais e da sole­
nidade de abertura do Congresso, uma 
manifestação de apoio a Rui Barbosa 
(então ministro da Fazenda), promovi­
da pelas indústrias cariocas no meio de 
novembro, parece tentar contribuir pa­
ra o esforço comemorativo dos republi­
canos. O anúncio da manifestação apa­
rece nos grandes jornais, mas não na 
Tribuna, que no dia 13 de novembro 
publica o editorial "Capitólio de pape­
lão", atacando os "encomendados im­
provisos". Assinado por Athos, o texto 
'Tiro ao alvo", do dia 15, satiriza o uso 
''fin-de-si.ecle'' das manifestações no 
convencimento das massas, anuncian� 
do a criação da "Companhia Manifes­
tação Nacional". Diz o texto: 
"Se os operários continuassem a 
negar a paternidade da idéia mãe 
de uma manifestação sogra ao sr. 
general que ocupa a pasta de mi­
nistro da Fazenda, a festa seria 
capaz de gorar, como o ovo que per­
deu a quentura da galinha choca, 
coitadinha!. .. Mas, não. De entre os 
30 mil, somente alguns deles terão 
a necessária coragem para dizer ao 
povo que não se assujeitaram à im­
posição dos promotores do pagode, 
nem com as ofertas de dinheiro ou 
melhor emprego, nem com as 
ameaças de serem postos no olho 
da rua. E, visto isso, quinta-feira 
teremos charangas, foguetes de lá­
grimas e assobio, bombas de dois 
ou mais tostões, etc., na grande 
passeata fin-de-siecle ( ... ) Aprovei­
tando a ocasião oportuníssima, ve­
nho participar aos meus amigos e 
aos inúmeros leitores da Tribuna 
que brevemente lançarei com as 
172 ESTUDOS HISTÓRICOS -1904/14 
mesmas boas intenções do Peixoto 
ao lançar-se às mulheres, uma 
campanha com o título pomposo, 
prometedor e também fin-de-siecle 
de Companhia Manifestação Na­
cional." 
o jornalista promete entáo "promo­
ver manifestações de agrado a n'im­
porte quoi: uma comédia engraçada ou 
um ato de patriotismo, por exemplo" 
mediante pagamento, podendo mesmo 
"mandar vir por contrabando alguns 
capoeiras e alguns ga tunos conhecidos, 
de Fernando de Noronha".lG 
o rumor da multidão 
Pensando o calendário republicano 
francês, Bronislaw Baczko (1984:40) 
destaca a representação da ruptura do 
tempo - a divisão em tempo antigo e 
tempo novo - como sendo um dos mo­
tores do imaginário revolucionário. Es­
ta representação é respaldada por todo 
um sistema de símbolos - tempo novo, 
JXlVO regenerado, cidade nova - que, 
agindo em cadeia, se reforçam e con­
vergem na promessa de um devir ou­
tro, promessa indefinida de uma vida 
nova, feliz e virtuosa, liberada de todos 
os males do passado. 
Na avaliação dos republicanos bra­
sileiros, o período decorrido entre no­
vembro de 1889 e novembro de 1890 é 
um tempo revolucionário, regenera­
dor. O leitor dos jornais republicanos 
deve experimentar a sensação de estar 
vivendo um momento histórico, no sen-
• 
tido mais denso da palavra. E exemplo 
disto o editorial de O Paiz do dia 15: 
"Um ano é curtíssimo tempo na 
vida de um povo, e à história mui­
tas vezes bastam algumas linhas 
para consignar os feitos desse pe-
rlodo. Na atividade revolucionária, 
porém, os doze meses de translada­
ção da Terra em torno do astro que 
a aquece e alumia, são períodos 
maiores do que a vulgar sucessão 
dos dias, das semanas que comple­
tam aquele movimento. Muitos fei­
tos se realizam então, maiores e 
mais decisivos impulsos se impri­
mem a uma nação. Assim, de 15 de 
novembro de 1889 a 15 de novem­
bro de 1890, vai um estágio que se 
nos aparece um longo decurso de 
tempo, pelas gl andes transforma­
ções nele operadas. Muitas dessas 
transfol"mações são radicais, ini­
ciais outras apenas, e todas elas 
capitais na evolução do povo brasi­
leiro. " 
Confolllle nos diz Roque Spencer 
Maciel de Barros (1959:25), há, entre a 
ilustração brasileira, a crença -apesar 
de reconhecerem-se as peculiaridades 
étnicas e culturais - na unidade da 
civilização: como se houvesse um pro­
cesso histórico único e as principais 
diferenças entre as nações fossem de 
fase e náo de natureza. Na esteira des­
te pensamento, o editorial da Gazeta de 
Notícias do dia 15 afu·ma ser a Repú­
blica a úruca forüm de governo compa­
tível com "o tempo que vivemos". O 
Império representa então um arcaís-
• • • mo e sua peI'manencm marcarIa o ana-
cronismo do país em relação ao "espí­
rito do tempo", suaexcltJsão da marcha 
civilizatória. Nestes termos, a Repúbli­
ca é fruto do rumo inevitável da histó­
ria, do progl esso da humanidade. Mais 
que isso, é o ponto onde a "vontade 
nacional"confunde-se com as tais "con­
quistas da civilização". 
A inadequação do Império é explo­
rada. por Erasmo, em sua "Crônica po­
lítica", na edição de O Paiz do dia 17 de 
novembro: 
, 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBUCA 173 
"O imperador era um general inex­
pugnável nessa praça, ou 11m poten­
tado da Idade Média, cujo castelo 
senhorial era vigilantementa guar­
dado pelos próprios servos oprimi­
dos e anulados. Col'leram 08 tem­
pos, e a política que concentrou nu­
ma 56 mão 08 destinos do Brasil, foi 
se tornando tanto mais incompati­
vel com as novas tendências do es­
pírito público, quanto mais odiosos 
se tornavam os contrastes das nos­
eM com as instituiçóee america­
Das." 
Sente ... e ecoar uma das principais 
linhas do Manifesto RepublicaJ'W de 
1870: "Somos da América e queremos 
ser americanos". Também a Revista 
Il/ustrado. fala do "caráter puramente 
americano" da República. Participar 
do "concerto das nações" é entendido 
como a inserção do Brasil na "democra-
. . " 17 el8 amerIcana . 
No entento, apesar da alegeção de 
que "o imperador não compreendeu 
nunca a necessidade de dar ao princi­
pio monárquico a maior dimensão de­
mocrática", na retórica republicana é 
mAis O progresso material, e não a ex· 
pansão do mundo político, que atesta a 
participação do Brasil na marcha civi­
lizatória. O primeiro ano do regime, 
para O Paiz, "promoveu a riqueza pela 
animação às indústrias e por novas 
aplicações da atividede e do trabalho 
hUlDano".18 
Através da imprensa partidária do 
• novo regtme, vemos que o prog1 e580 
republicano é lido segundo um tempo 
linear, cumulativo e ineversivel, refor­
çado pelo tempo cíclico que o calendá­
rio cívico instaura na vida da nação. 
Assim, a República, ponto culminante 
da linearidade histórica, deve ser fes­
tejada a cada ano como o tempo do 
progIessQ, da legalidede, da ordem, da 
liberdade e da democracia. 
Para as monarquista8, inversamen· 
te, a República reprElJenta um retlOC€O-
80. Nas considerações da ,]hbuna do dia 
3 de setembro, "a Proclamação de 15 de 
novembro ou é fruto da precipitação com 
que foi elabomda, entre os f1lmos da 
fácil vitória, ou é a lábia astuciosa da 
hipocrisia que disfarçou intuitos pouco 
confessáveis". 
O Jornal do Commercio, por sua 
vez, acusa os republicanos de violarem 
a "tradição brasileira" - um passado 
que representaria a alma genuína da 
nação - dizendo que "o atual governo 
tem mudado leis sem necessidade al­
guma e promulgado outras que decerto 
ferem as melhores tradições do povo 
b iI · .. 19 ras 811"0. 
O discurso da imprensa monarq1lis­
ta desenvolve uma relação de insatia­
fação com o devir histórico, que consis­
te em profetizar a fatalidade de 1Ima 
catástrofe inscrita na desordem repu­
blicana. 
Traz a 7nbuna, no dia 12 de novem­
bro: 
"É que no coração da pátria, além do 
constrangimento, produzido pela 
mudança das instituições, sem sua 
ciência, há fundadas apreensões de 
que o futuro que lhe está reservado 
trará terríveis tempestades." 
Os republicanos estáo cientes do va­
lor da tradição como suporte da ordem 
social que se quer manter no presente . 
A 15 de novembro, O Paiz comenta: 
"Quanto aos costumes, que são o 
maia frrme alicerce da obra repu­
blicana, o primeiro governo da Re­
pública muito pouco podia fazer, e 
, 
muito pouco fez. E dificil apreciar 
a nova orientação que lhes deu, 
porque este trabalho de fisiologia 
174 ESTUDOS IUSTÓRlCOS -1994j1{ 
Bocial não 58 opera nem se conclui 
em um ano." 
A República assinala a imposição 
jnstitucional de um novo, mas é es.sen­
cial, para a afirlilação de sua legitimi­
dade, f01jar as raízes dessa npvidade 
no pa88ado, inventando uma tradição 
repub/ieana para O país. O passado 
torna-se campo de batalha. De um la­
do, 08 monarquistas acentuam os se­
tenta anos de paz interna, unidade na­
cional, progresso, liberdade e prestígio 
internacional que o regime deposto ta­
ria garantido à nação. F'l-eqüentemen­
te referem-ee ao governo republicano 
apenas como "o provisório", ressaltan­
do a fragilidade da npva ordem. Do 
outro lado, os republicanos valorizam 
a lembrança de eventos que seriam 
precursores desta ordem, pondo em re­
levo a idéia de continuidade. 
A idéia de continuidade serve, ain­
da, para conter o "espírito revolucioná­
rio". Se o destaque da Pl\lClamação 
como marco iniciador da "renascença" 
brasileira é um dos motores do discur­
so republicano, também revela-ee ne­
cessário que este tenha um contrapon­
to: a ênfase na continuidade de um 
estado de ordem. Erasmo, em sua 
"Crônica política" do dia 3 de novembro 
em O Paiz, ch .. ma a atenção para a 
necessidade de procedimentos náo-re­
volucionári08, de um certo freio no "es­
pírito inovador". Caso contrário, escre 
ve ele, 88 "paixões populares" p0da­
riam ser acordadaa. 
A República, que havia mantido as 
hierarquias, 08 valores e as concepções 
de mundo da velha sociedade senhorial 
escraviata, tentava proteger estas per­
manênciAS, através do relevo da im­
portância da experiência pasSada. 
Também o mito de origem elaborado 
pelo grupo republicanp trabalhava 
contra o "espírito revolucionário". A 
idéia de que a República não havia 
matado o Império, pois este já estava 
morto, e a aftrmativa de uma Procla­
mação realizada na ordem, pacifIca­
mente, tentam assegurar ao mesmo 
tempo a mudança e seu limite. É neste 
sentido que a Gazeta publica, no dia do 
primeiro aniversário republicano: 
, 
"E preciso acompanhar o progresso, 
mas não atirar-se aos azares das 
inovações por isso que o dictame dos 
ato. do poder público deve inspirar­
se na s lições da experiência." 
Os limites do caráter "revolucioná­
rio" do tempo republicano revelam as 
fronteiras de seu caráter "democráti­
co", desvelam a (de)limitação do papel 
do indivíduo comum na nova ordem 
política, O projeto republicano é um 
projeto conservador, preocupa-se em 
reformular as relaçóes de poder, pre­
servando-as. Não prevê o cumprimen­
to da promessa dos republicanos radi­
cais de inclusão daa mass'lS populares 
no mundo político. O que diz A ,]ribuna. 
sobre as festas pode ser repetido sobre 
o dia-a-dja político da República: "o 
povo, quando muito, entrará como me­
ro espectador". 
O colunista Erasmo teme, já disse­
mos, que o "espírito inovador" acorde 
as "paixões populares". Na Gauta do 
dia 14 de novembro, a coluna "Meu 
jornal", A88inada por M. , refere-se ao 
período das comemorações como uma 
"estação cálida", em que têm lugar "es­
ses ajuntamentos populares, maçan­
tes e perigosos". 
Numa ordem política e social exclu­
dente, como se mostrou ser a República 
brasileira, os despoBBuídos raramente 
aP,Brecem - na retórica do grupo diri­
gente - como dignos de urna ação polí­
tica. Na maior parte das vezes são re­
tratados como incivilizados - a turba 
urbana, perigosa. in acionaI; ou como 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBUCA 175 
politiCAmente incapazes - bestiaJiza­
dos, apáticos, ignorantes. 
Durante as comemorações do pri­
meiro 15 de novembro, a imagem de 
uma população que assiste "bestiaJiza­
da" à Proclamação serve como artifício 
de ataque dos monarquistas e preocu­
pa aos republicanos. Estes argumen­
tem que tal apatia teria sido provocada 
pelo Império, e que a República, ao 
contrário, "chamou enfim este povo à 
vida política e à vida social, de que 
parecia ter saído de todo".20 Além dis­
so, a população teria apoiado a mudan­
ça, imediatamente após o ato da Pr0-
clamação. "O povo dava vivas à Repú­
blica", �creve a Gazeta. 
Assim, no discurso da imprensa re· 
publicana, a alegeda presença popular 
nas festas oficiais torna-se um dos ele­
mentos fortes da cena descrita. A "p0-
pulação densíssima", antes temida 
multidão, transforllla�e na �?cpressão 
da própria "alma da nação". 1 A "Crô­
nica da semana"da Gnuta de Notícias 
do dia 23 de novembro é exemplar: 
"Vem tarde o cronista para referir­
ee ao ceso; para dar sua impressão 
pessoal. Entretanto, por bem servir 
o oficio, e ainda que tão distanciado 
se ache, sempre dirá que viu duran­
te três dias o povo -o povo legítimo, 
puro, sem mistura, nem disfarce -
transitar por essas ruas, procuran­
do distrações, regozijando-se, que­
rendo manifestar seu contentamen­
to, pronto a consagrar por sua pre­
sença o faustoso advento da nova 
era. Não há neger que os festejos de 
15 de novembro recém-pas.ado. 
deixaram a perder de vista os anti­
gos dias de festa nacional ( ... ). Viu-se 
agora que mais alguma coisa tocava 
a alma popular; como que desperta­
ra a fibra do patriotismo, e durante 
três djAs, embora a inclemência do 
tempo, o povo - o Zé Povinho -veio 
à praça e à rua dizer claro que esta­
va alegre e contente. E não pareça 
que aqui se deixa expressa a opinião 
de que outrora impedia.ae a mAssa 
popular de vir a público manifestar­
se e festar, regozijando-se pelos seus 
grandes dias de festa, nacional... 
Não é isso; é que a República tem 
desses milaglbS, só ela produz esses 
resultados; e, liberdade por liberda­
de, sempre é melhor (assim com· 
preendeu o fluminense) festejá-la 
em regíme livre, a valer, do que fes­
tejá-Ia em regime livre ... para inglês 
ver. Isso, ou outro motivo, o fato 
inegável é que a capital federal mo­
veu.se durante aqueles dias; quepe­
la primeira vez os povos do mOITO do 
Nhéco e outros adjacentes desceram 
das suas alturas e vieram desfllar 
embasbacados por sob a brilhante 
abóbada dos globos de iluminação 
em que transforlllnam a rua larga 
de São Joaquim, aplaudir as luzes 
elétricas colocadas no campo da Pro­
clamação segundo uns, da Repúbli­
ca, segundo outros ( ... )." 
"As festas promovidas pela inten­
dência municipal são todas populares 
e públicas, não havendo convites espe­
ciais, nem distinção de classes para 
elas", avisa O Pai? Assim, espera-se 
que todos participem, "sem a preocu­
pação das condições que cada um re­
presenta ". 22 
Na comemoração do 15 de novem­
bro, opera-se a suspensão temporária 
das diferenças entre as classes, e a 
população torna-se uma entidade legí­
timadora da República, e, logo, da hie­
rarquia tradicional que persistirá, 
uma vez teI'minados os festejos. Na 
oposição, A 'lhbuna caracteriza a ma­
nifestação pró-Rui Barbosa como uma 
oportunidade para que os operários en­
carem frente a frente seu "inimigo", O 
ministro da Fazenda. A Tribuna evi-
176 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1911111. 
deneia a cisão Bocial que o discurso 
governista tenta ocultar. 
A referência da Tribuna aos capoei­
ras e "gatunos" que poderiam "animar" 
as ma nifestações nos faz pen""� no 
modo como o grupo dirigente arbitra 
sobre a ocupação do espaço público: 
esvaziam as ruas da desordem. man· 
dando os indesejáveia para Fernando 
de Noronha, e enchem·naa novamente 
para celebrar a ordem. Há, diríamos, 
um reconhecimento da força popular ­
força esta que o poder deseja adestrar, 
fazendo com que o público seja cada 
vez menos popular. 
A retórica republicana é marcada 
pela ambigüidade. Quanto à comemo­
ração, o povo é a desejada presença que 
se quer ver nas r'lJ8S, pois é ele o melhor 
juiz da causa republicana ("A justiça 
popular não prescreve nunca", aÍlrma 
O Pai?).23 Esta presença deve mesmo 
atestar que o novo regime é de fato na 
publica. No entanto, "Zé Povinho" de­
saparece das páginas dos jornais quan­
do o assunto é o mundo polltico. Os 
republicanos preocupam-se com o de­
sinteresse demonstrado por "Zé Pa­
gante" por ocasião da abertura do Con­
gresso - "deixou-se ficar no calor suave 
do seu at home ou foi para a praça 
ganhar dinheiro - ou perdê-Io, o que é 
mais provável"j24 mas têm reservas 
quanto à participaçlÍll política de "Zé 
Povinho". AÍlnal, trata-ee, este último, 
de um contingente despreparado, poli­
ticamente incapaz. ''Está na indole do 
povo a exploração de sua ingenuidade 
próNia", publica a Revista Illustrar da. Na mesma edição, a Revista cri­
tica lima greve dos cocheiros de bon­
des, tüburys e carroças. Os grevistas 
são descritos como "infelizes trabalha­
dores", cuja "boa fé" havia sido explo­
rada por "uns tantos tipos aproveitado­
res", "chefes do movimento", que 015 
haviam utilizado como ':joguetes ar­
ruaceiros" . Já não são, certamente, OI!I 
"que baba\ham honradamente", cuja 
"demonstração" de "estima e conside­
ração" engnmdecia Rui Barbosa, por 
OCAsião da ma nifestação patrocinada 
pelas indústrias, 
Ainda naRevistafllustrada, e ainda 
sobre a greve, parece surgir um outro 
tom, na coluna "De lDaromba", 8S'3iD8e 
da por Blondin: 
'"lbdos contemplavam a fisionomia 
desses revoltosos de ontem e muito8 
orgulhosos haviam de sentir quanto 
é importante na vida da sociedade 
esse elemento que paralisa pelo seu 
repouso 08 outros órgãos da vida 
social, Sente-ee como é grande essa 
massa do trabalho que pode alçar 
ombros quando abusam da sua edu­
cação e da sua ignorância para fazê­
la praticar O mal e quanto ela pede 
ao legislador uma contemplação de­
morada para a sua existência, que 
cada vez mais para o futuro há de 
tornar..ae dominante, e precisa po .... 
tanto 8er bem dirigida, como força 
notável que é." 
o "agudo choque da experiência", do 
qual nos fala E. P. Thompson 
(1978:164), transforma aos poucos a 
cultura política de um grupo, intJVdu­
zindo novos elementos. As greves e re­
voltas populares passadas proporcio­
nam a percepção da potencialidade das 
massas urbanas, em franco processo 
de expansão. A coluna "Meu jornal", 
escrita por M. na Gauta <k Notícias do 
dia 17 de novembro, atesta o aprendi­
zado da reivindicação como instru­
mento legítimo do cidadão, e Associa 
isso ao advento da República. Mas em­
bora a Revolta do Vmtém 26 pareça ser 
o precedente em questáo, o relato não 
chega a ser uma apologia das revoltas 
populares, nem chega a tocar no tema 
de uma efetiva ampliação do mundo 
político. Eis o que conta O colunista: 
• 
A IMPRENSA COMEMORA A REPUBUCA 177 
"Anteontem, depois de percol'ler o 
Campo de Santana para ver o aspec­
to geral das festas comemorativas 
do 15 de novembro, fui andendo até 
a praça Onze de Junho, onde esperei 
um bonde do Rio Comprido, que me 
conduzisse até a minha residência. 
Ao entrar neste bonde fui surpreen­
dido com a gritaria revolucionária 
dos passageiros. Protestavam por­
que o condutor cobrava 200 réis por 
passageiro até o largo do Bispo, 
quando o estabelecido por contrato 
com a intendência é a cobrança de 
100 réis apenas. Na minha qualide­
de de homem pobre, isto é, de ho­
mem que traz sempre toda a sua 
fortuna consigo, e ainde não conse­
guiu compreender a diferença entre 
um tostão ou dois tostões, surpreen­
deu-me a princípio que fizessem 
questão por tão pouco. A companhia 
pedia 200 réis, page"""m.lhe por 
conseguinte esses 200 réis, me pare 
cia a mim na minha lógica inocente 
de homem que não é capitalista, e 
que não distingue e não entende 
destes negócios de um tostão a mais 
no bolso do colete. Ma. os passagei­
ros continuavam a discutir o caso e, 
na estação do Mangue, foram enten­
der-ee com o chefe de mesma, a fim 
de protester contra um tal abuso. E 
eu então pus-me a refletir, e a achar 
que eles tinham razão e que essa era 
a mais bela apoteose feita ao 15 de 
novembro. Desapareceu do meu es­
pírito a idéia de um tostão apenas, e 
comecei tão somente a cogitar a 
idéia de direito. Lembrei-me então 
de lhering, que faz a apologis do 
povo alemão pela noção que ele tem 
do direito ( ... l. E reconheci que nós 
começávamos a ser um povo digno, 
a preparar o seu próprio bem_tar, 
desde que tinhamos assim gente 
que não fazia questão propriamente 
de 100 réis, mas que fazia questão 
de seus direitos ofendidos, desde 
que umaordem ilegal do gerente de 
companhia aproveitava a grande 
concorrência de uma festa populAr 
para dobrar os preços das passa­
gens, contra a letra expressa do con­
trato celebrado. Fazendo-me eco 
desses passageiros, e atendendo 08 
pedidos dos mesmos, aqui deixo o 
meu protesto, não para fazer reivin­
dicação de um tostão, mas para pro­
testar contra o agravo de um direi­
to." 
Igualmente significativo, quanto à 
percepção que os contemporâneos têm 
de sua própria cultura polltica, é o que 
escreve Blondin, ainda no mês de co-
-memoraçao: 
"( ... l temos necessidade de leis 
apoiadas pelo voto popular ou pelo 
menos feitas sob a invocação de sua 
vontade; porque, aqui entre nós, o 
povo é uma entidede a quem se liga 
muita importância eubjetivainente, 
mas de quem se faz muito pouco 
caso objetivamente. n 
A cidede real parece então tocar a 
cidede letrade. Os comentérios de M., 
na Gauta de 16 de novembro, eviden­
ciam a interseçáo entre o sonho de 
ordem e a experiência do real, viven­
ciade pelos intelectuais: 
"Festas! festas! festas! reduzidas a 
um glande ajuntamento popular, 
que dificulta o trânsito, que enche 
a rua do Ouvidor, que toma conta 
des confeitarias e toma conta do 
noticiário, para não deixar espaço 
para passear e para escrever. Noto . . -em mim mesmo umA lmpressao 
que é mais vulgar, entretanto, do 
que se pensa - um incômodo ex­
traordinério e um mal_ter geral, 
de se sentir no meio dos ajunta-
178 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1Q94Jl. 
mentos populares, uma má vonta­
de contra as multidões. Talvez haja 
aristocracismo neste modo de pen­
sar, talvez haja o sensibilismo 
doentio dessa gente fim de século, 
que vive a cultivar-se sensitiva· 
menta num sofrer doentio de epi­
dermes fáceis de arranhar. Seja o 
que for, eu odeio as multidões, não 
as posso suportar inconscientes e 
marulh06as como as vagas do ocea­
no a nos afogar, quando n6s outros 
bracejamos a natação perigosa de 
quem quer atravessar a rua do Ou­
vidor. E fico-me a cismar nesse m� 
do esquisito de sentir, que parece 
um não-senso para quem é bem 
democrata e vive a sonhar liberda­
des para todo o mundo, e alegrias e 
confortos para a humanidade intei­
ra." 
A retórica da imprensa revela a 
aventura interpretativa vivenciada 
por seus proÍlSSiona is. Movimentando­
se entre o tempo longo da história e o 
tempo curto do cotidiano, os jornalistas 
produzem uma leitura ambígua do seu 
próprio presente. Porque a escritura 
do presente é também escritura no pre­
sente, sofrendo, portanto, influências 
imprevistas. 
A desconfortável convivência entre 
o democratismo do jornalista e a ocu· 
pação popular da rua do Ouvidor, espa­
ço culto e chique do Rio de Janeiro 
fi,..tJe-si€cle, rua-patrimônio da inte­
lectualidade carioca, nos dá esta di-
-mensao. 
A festa cívica mostra-ee um momen­
to rico para a observação não só da 
cultura politica presente na retórica da 
imprensa, como também da relação es­
pecífica da atividade jornalística com a 
leitura do devir histórico. O jornal é 
uma escrita do tempo (Neves, 1988), 
que, diferente da história, guarda uma 
relação profunda de proximidade com 
o tempo vivido. A percepção das mu­
danças pelas quais passa a sociedade 
d�manda uma instância especializada 
de leitura do cotidiano. A imprensa 
toma um duplo caráter: ao mesmo tem­
po em que tenta aplacar a angústia 
sentida em face da aceleração da his­
tória, deixa 8urgir em 8Uas páginas 
uma atualidade desconcertante. As­
eim, enfatiza e dilata uma percepção 
histórica do presente, que 8ubstitui 
"uma mem6ria redobrada 80bre a he­
rança de sua própria intimidade" (No­
ra, 1984:XVIl1). 
O 1180 reincidente da expressão "fi,.. 
tJe-si€cle" revela a tentativa de, através 
da conceitualização da experiência 
temporal, construir um entendimento 
acerca da atualidade. A comemoração 
surge como um momento voltado espe­
cialmente à construção de uma inteli­
gibilidade. 
Tecendo os eventos para totalizá-los 
num sentido, a retórica comemorativa 
intervém como recurso contra a impre­
visibilidade da história. A comemora­
ção inscreve o presente num passado 
balizado, exorciza o futuro e sllieita o 
inesperado às regras de uma mem6ria 
nacional (Walter, 1983:13). 
No entanto, observando o 15 de no­
vembro de 1890 na imprensa, notamos 
que a tarefa de dar sentido ao devir não 
consegue ser absoluta. Primeiro, por­
que o desejo totalizante do gesto come­
morativo enfrenta a oposição monar­
quista. E se esquecermos a evidente 
luta ideol6gica entre os dois grupos, se 
olharmos para além da batalha das 
versões e dos trabalhos contrários de 
construção e desconstrução da imagem 
da festa enquanto acontecimento, ve­
remos que há por detrás do embate 
uma certa homogeneidade. 
Republicanos e monarquistas dis­
putam sobre qual época seria verda­
deiramente a da ordem, do progresso e 
popular. Ambas as facções fazem uso 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBUCA 179 
da mesma estratégia: tentam impor 
urna leitura do tempo - passado, pre 
sente, futuro - tendo como um de seus 
elementos forte5 a conveniente polisse­
mia da palavra povo. 
Relativizar a ruptura entre os dois 
lados é revelar o voluntarismo do grupo 
intelectual, detentor do saber hist6rico 
e da soberania da palavra, cuja produ­
ção de discurso pretende domesticar a 
experiênoia. Tendo a produção de dis­
curso como profissão, a imprensa adota 
a afirmAção de sua cientificidade como 
estratégia legitimadora. Acompanhan­
do a pretensão objetivante dos historia­
dores do século XIX - que pressupõe a 
concepção de fato-verdade -os jorna1is­
tas se posicionam ao lado destes, na 
função de iluminadores da sociedade. 
Mas enquanto as facções republica­
na e monarquista da imprensa comba­
tem pela hegemonia da produção de 
sentido, o gesto comemorativo enfren­
ta outra oposição: a da própria expe­
riência, que resiste a esta produção. A 
observação do mês de novembro de 
1890 desvela, então, os limites do es­
forço da cidade letrada em sua tarefa 
ordenadora. 
O "agudo choque da experiência" 
abre uma brecha no gesto comemora­
tivo. O sentido totalizante do projeto de 
ordem republicano é rompido pela per­
cepção de uma inadequação: a visão 
que os anfitriões têm de seUl! próprios 
convidados como uma multidão, como 
a imagem da desordem. 
Neste caso, atribui ... e à multidão as 
mesmas característicAs que llie daria 
Gustave La Bon tendo em mente a 
Comuna de Paris: de ser guiada pela 
paixão e não pela razão, de ser explosi­
va, inconstante, facilmente excitável 
por demagogo<!. 
Este contingente não 8e enquadra, 
portanto, no conceito de cidadão que a 
cidade letrada tinha em vista . O exem-
• • 
pio da Comuna parece pertubá-la. E 
ele que leva O Pa;z a opor-se, logo no 
início da República, à curta experiên­
cia de autonomia do Conselho de In­
tendência, referindo-se a ela como um 
sinal do perigo de surgir no Rio de 
Janeiro urna pequena "comuna", 1Ima 
"convenção" municipal, despótica e ti .. 
rinica como a convenção francesa. 
Segundo José Murilo de Carvalho, a 
desproporção entre a dimensão real do 
fato e a que lhe pretendeu dar o jornal, 
cOl1Íurando fantasmas da Paris revolu­
cionária de 1789 e 1871, é um indicador 
precioso da preocupação dos republica­
nos com o perigo da mobilização popu­
lar na capital (Carvalho, 1987:34 e 72). 
Na leitura ambígua que os jornalis­
tas têm da festa transparece a tensão 
entre o projeto da ordem e a experiên­
cia real A festa, que deveria ser justa­
mente um momento de enquadramen­
to da experiência, torna.ae urna "esta­
ção cálida", em que têm lugar os "ajun­
tamentos populares, maçantes e peri­
gosos", 
O jornalista choca-se com seu pró­
prio "aristocratismo", "que parece um 
nã<HIeDSo para quem é bem democra­
ta". Na verdade, sua angústia é sinal 
da incapacidade deste princípiodemo­
crático em deixar de ser um slogan da 
ação política e passar a realidade, re­
vela a distância entre o espaço de expe­
riência e o horwmu de expectativa, que 
a festa pretendia conjurar. 
Notas 
1. Gauta ckNotfci08, 15 e 16 de novem­
bro de 1890; Jornal do Commercw, 15 e 16 
de novembro de 1890; O Paiz, 16 e 17 de 
novembro de 1890. 
2. Sobre o Decreto 155-B, de 14 dejanei­
ro de 1890, que institui a comemoração 
180 ESTUDOS mSTÓRICOS - lgIl4/1� 
oficial do 15 de novembro, cf. Oliveira, 
1989. 
3. Embora reconheçamos que as lutas 
pela memória também tiveram lugar no 
interior do grupo republicano, conforme 
descrito por José Murilo d. Carvalho 
(1990), entendemos que, na primeira co­
memoração do 15 de novembro, a preocu­
pação central é com a sobrevivência do 
regime, e logo, com a oposição monarquia­
ta. Trabalhamos aqui com: O Pai", Gazeta 
de NotkiCJ1J, Revista Illustrada, Jornal do 
Commercio e A 'lhbuna. O grupo não re­
presenta, por certo, a totalidade da im­
prensa carioca. Mas, por serem alguns dos 
6rgãos de maior imporlância da época, ter­
nam-se significativos para o nosso prop6-
sito: observar a função da imprensa como 
instrumento dos grupos que lutam pelo 
poder; embate este que, no momento come­
morativo, transparece como luta pela me­
mória. Sobre a imprensa carioca no perío­
do, cf. Sodré, 1983:189-90, 212·3, 224·5, 
253-4; lperu>ma, 1967: 218, 237, 269; e 
Edmundo,1957. 
4. Quintino Bocaiúva substitui Rui Bar· 
bOBa na direção de O Paiz .m 1885. Como 
ministro des Relações Extariores do gover· 
no provisório, passou a freqüentar menos 
B redação do periódico, mas manteve seu 
cargo até o oomeço do século, continuando 
a Ber o "mentor do jornal", como o desCI e­
v.u Luiz Edmundo (id.m:929). 
6. A 7Hbuna Liberal (1888-9), dirigida 
por Carlos de Laet, é o primeiro jornal a 
Ber suspenso na República, em dezembro 
d. 1889. RessW1:" em julho do ano seguin· 
te, agora com o título encurtado pera A 
7Hbuna e . sob a direção de Antônio de 
Medeiros. E .mpestelade .m 29 de novem­
bro de 1890, lima semana ap6s a revogação 
de. leis repressivas de Deodoro. A reação 
é imediata. Os representantes dosjornaia 
do Rio de Janeiro reúnem .... no Jornal do 
Commercw e redigem uma nota, que sai 
publicade .m todos OB peri6dicos da cide­
de, com o título "Liberdede de imprt'Dsa". 
No Congresso, os parlam.ntares elÚgem a 
apuração dos fatos e a punição do. culpe­
dos. O ministério, coletivamente, pede de­
missão, O que depois é reconsiderado. Cf. 
Fons.ca, 1941:378; Sodré, idem: 253-4; • 
Carone, 1974:27-8. 
6. O Paiz, 30 de novembro de 1890. 
7. Revi8ta Illu8trada, dezembro de 
1890. 
8. O Paiz, 16 de nov.mbro de 1890. 
9. Segundo Magalhães J{mior, o panfle­
to A Qmferência dos Divinos, publicado 
pela primeira vez em 1867, anonimamen­
te, serviu de munição à campanha republi­
cana, tendo sido reproduzido em várioa 
jornais adeptos da CAusa. Cf. Magalhães 
Júnior, 1956. 
10. O Paiz, 15 de novembro d. 1890. 
•• 
11. Gazela de Not!cias, 15 de novembro 
de 1890. ' 
12. Revista Illu8trada, 15 de novembro 
de 1890. 
13. Anfrísio FiaJho foi 11m dos principais 
articula dores da campanha pela inderuza­
ção dos ex-proprietários de escravos. Foi 
também O 1 : sponsável pela edição comen­
tada do referido panfleto A Conferência dos 
Divinos em O Constitucional. O livro d. 
Anfrísio Fia1ho que a Gazela publica foi 
escrito em 1890. 
14. Sobre a batalha das versões em toro 
no da proclamação entre republicanos e 
monarquistas, cf. Oliveira, 1989. 
15. O Paiz, 16 d. nov.mbro de 1890. 
16. A 'J}ibuna, 15 de novembro de 1890. 
17. Reviata Illu8trada, 15 de novembro 
d. 1890. 
18. O Paio. 15 de nov.mbro d. 1890. 
19. Jornal do Commercio, 16de nov.m· 
bro de 1890. 
20. O Paiz, 15 de novembro d. 1890. 
21. O Paiz, 16 de novembro de 1890. 
22. O Paiz, 15 • 16 d. novembro de 
1890. 
23. O Paiz, 15 de novembro d. 1890. 
24. O Paiz, 16 de novembro de 1890. 
25. Revista Illuatrada, d.zembro d. 
1890. 
26. Cf. Grabam, 1991, e Pamplona, 
1990. 
A IMPRENSA COMEMORA A REPÚBUCA 181 
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(Recebido para publicação em julho do 1994) 
Carla Siqueira éjomalista e meetranda 
do Programa da Hist6ria Social da Cultura 
da PUC-RJ.

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