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Sucessão Hereditária e Ordem de Vocação

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4 – VOCAÇÃO HEREDITÁRIA: SUCESSÃO LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA. ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Se a pessoa falece sem testamento, é a lei quem diz quem serão chamados a herdar. Trata-se da ordem da vocação hereditária.
Art. 1.829, CC - A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
OBS. – A referência ao art. 1640, parágrafo único constante do inciso I do art. 1.829 está incorreta. A menção correta é a do art. 1.641, que descreve as hipóteses de casamento sob regime de separação obrigatória de bens.
Art. 1.641, CC - É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
II - da pessoa maior de sessenta anos;
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
A ordem de vocação hereditária fixada na lei vem beneficiar os membros da família, pois o legislador presume que aí residam os maiores vínculos afetivos do autor da herança.
O testamento serve pra o autor da herança alterar a vontade do legislador. Coexistem, assim, as duas formas de sucessão: a legítima e a testamentária.
Os chamados herdeiros necessários são aqueles que não podem ser afastados totalmente da sucessão. São eles os descendentes e os ascendentes, bem como o cônjuge, desde a vigência do Código Civil de 2002.
Art. 1.845, CC - São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
De acordo com esse dispositivo, aos herdeiros necessários, pelo menos, lhes fica assegurado metade dos bens da herança (legítima dos herdeiros necessários). A outra metade fica livre para o testador deixar pra quem quiser.
NOTA - O herdeiro é sucessor universal, o legatário sucessor singular.
4.1 - SUCESSÃO EM LINHA RETA: SUCESSÃO DOS DESCENDENTES
A vocação dos herdeiros faz-se por classes (descendentes, ascendentes, cônjuge, colaterais e Estado). Importante destacar que o CC 2002 estabeleceu a herança concorrente do cônjuge com descendentes e ascendentes.
A chamada dos herdeiros é sucessiva e excludente, isto é, só serão chamados os ascendentes na ausência de descendentes, só será chamado o cônjuge sobrevivente isoladamente, na ausência de ascendentes, a assim por diante.
A regra geral é que, existindo herdeiros de uma classe, ficam afastados os das classes subseqüentes.
Na classe dos descendentes, há o direito de representação, que funciona como uma forma de igualar a atribuição da herança às estirpes existentes (descendentes de cada filho do morto).
4.2 – DIREITO DE REPRESENTAÇÃO: REPRESENTAÇÃO NA CLASSE DOS DESCENDENTES
A regra geral reside no fato de que na mesma classe, os parentes de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto: assim, na regra geral, existindo filhos do morto, são eles os chamados.
Ocorre, porém, principalmente na linha descendente, que às vezes são chamados a suceder determinados netos, juntamente com os filhos do autor da herança. É o chamado direito de representação, que ocorre por força do art. 1.851 do CC/2002.
Art. 1.851, CC - Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
Assim, na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.
Art. 1.835, CC - Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.
Essa representação diz respeito ao direito que o herdeiro tem de receber o quinhão de seu ascendente (pai ou mãe) pré-morto.
PRIMEIRO CASO: Pai pré-morto ao falecimento do Avô (autor da herança). Como ficaria a sucessão de um patrimônio adquirido conjuntamente de R$100.000,00 com o falecimento do avô, ocorrido na data de 23 de outubro de 2012? O Autor da herança era casado no Regime de Comunhão Parcial de Bens.
Os netos, portanto, em segundo grau na linha descendente recebem a porção da herança que caberia a seu pai falecido (art. 1851, CC). 
SEGUNDO CASO: Pai e tios pré-morto ao falecimento do Avô (autor da herança). Como ficaria a sucessão de um patrimônio de R$100.000,00 com o falecimento do avô, ocorrido na data de 15 de fevereiro de 2013? O Autor da herança era casado no Regime de Comunhão Parcial de Bens?
Questão importante é saber se a cônjuge supérstite concorre ou não e para isso há que se interpretar o inc. I do art. 1.829 do Código Civil. Para quem defende a tese de que, casada sob o Regime de Comunhão Parcial de Bens, não concorre porque já é meeira, retirada do patrimônio essa meação, o montante restante seria dividido por cabeça entre 3 filho, sendo que um deles será representado pelos filhos (netos) 3 netos. Para quem defende que a cônjuge, ainda que seja meeira, também concorre, por força do art. 1.832, terá direito em concorrência há ¼ do patrimônio, não havendo o que se falar do art. 1.832 do Código Civil.
Se não houver diversidade de graus, isto é, os descendentes vivos mais próximos estiverem no mesmo grau, não haverá representação: a herança é dividida por cabeça. Assim, se o falecido deixou só netos, não havendo filhos, a herança é dividida pelo número exato de netos, não importando quantos tenham sido os filhos. Se existem 5 netos, sendo três gerados por um filho e um para cada dos outros dois filhos, a herança será dividida em cinco partes iguais atribuídas aos cindo netos, não sendo levada em conta sua estirpe. Questão importante é saber se a cônjuge supérstite concorre ou não e para isso há que se interpretar o inc. I do art. 1.829 do Código Civil.
Para quem defende a tese de que, casada sob o Regime de Comunhão Parcial de Bens, não concorre porque já é meeira, retirada do patrimônio essa meação, o montante restante seria dividido por cabeça entre 5 netos.
Para quem defende que a cônjuge, ainda que seja meeira, também concorre, por força do art. 1.832, terá direito em concorrência aos netos com ¼, sendo o restante divididos por 5 netos.
Na herança por estirpe, trata-se de direito de representação. Só existe representação na sucessão legítima, na testamentária não.
Art. 1.832, CC - Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
4.3 - SUCESSÃO DOS ASCENDENTES
Não existindo descendentes, em qualquer grau, são chamados a suceder os ascendentes. A partir da vigência do CC 2002, os ascendentes são chamados a concorrer na herança juntamente com o cônjuge sobrevivente.
NOTA – Não há representação para os ascendentes.
IMPORTANTÍSSIMO - No tocante ao cônjuge, sua herança será de 1/3 da universalidade se concorrer com ascendente de primeiro grau, sendo a metade se concorrer com um só ascendente, ou se maior for o grau.
Art. 1.837, CC - Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.
Art. 1.836, CC - Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente.
§ 1o Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas.
§ 2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.
De acordo com o atual Código Civil, então, a herança será dividida em três partes iguais se o cônjuge sobrevivente concorrer com sogro
e sogra. Se houver apenas o sogro ou sogra vivo ou se os herdeiros ascendentes forem de grau mais distante, o cônjuge receberá sempre a metade da herança. 
NOTA – Essa situação não se aplica à união estável que possui regra própria
EXEMPLO: Havendo um avô paterno e dois avós maternos, deduzida a metade do cônjuge, o restante da herança é dividido novamente ao meio, para o avô paterno e para os dois outros avós.
4.4 – SUCESSÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE
O cônjuge vinha, no direito anterior, colocado em terceiro lugar na ordem de vocação hereditária, após os descendentes e ascendentes. Não era herdeiro necessário e podia ser afastado da sucessão pela via testamentária.
A meação do cônjuge não é herança. Quando da morte de m dos consortes, desfaz-se a sociedade conjugal e os bens comuns devem ser divididos. A meação é avaliada de acordo com o regime de bens que regulava o casamento.
Portanto, com o falecimento de uma pessoa casada, há que se separar do patrimônio comum (condomínio) o que pertence ao cônjuge sobrevivente, não porque seu esposo morreu, mas porque aquela porção ideal do patrimônio já lhe pertencia. Excluída a meação, o que não for patrimônio do viúvo ou da viúva compõe a herança, para ser dividida entre os descendentes ou ascendentes, ou cônjuge, conforme o caso.
Como meação não se confunde com herança, se o sobrevivente do casal deseja atribuí-la a herdeiros, tal atribuição se constitui num negócio jurídico entre vivos, com o recolhimento de imposto.
IMPORTANTE – Não existe renúncia à meação!
6.1 – LEGITIMIDADE DO CÔNJUGE PARA SUCEDER
A legitimidade do cônjuge para suceder está estipulada no art. 1.830 do Código Civil.
Art. 1.830, CC - Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente.
O problema hermenêutico deste artigo situa-se no fato de que ele prevê certos fatos que devem ser comprovados, trazendo discussões no caso concreto.
Assim, pode-se concluir o seguinte:
1 - Se o casal estava judicialmente separado e/ou divorciado na época do falecimento do “de cujus”, não há que se falar em sucessão do sobrevivente;
2 – Também não haverá direito sucessório do supérstite se estava o casal separado de fato há mais de dois anos, a não ser que a culpa fosse do falecido;
NOTA – Toda discussão sobre a legitimidade do cônjuge será decidida em processo autônomo, paralisando-se o inventário.
6.2 – UNIÃO ESTÁVEL. DIREITO SUCESSÓRIO DOS COMPANHEIROS;
As Leis 8.971/94 e 9.278/96 trouxeram uma radical alteração a proteção da união estável.
Até a promulgação da Constituição Federal, dúvidas não havia de que o companheiro ou companheira não eram herdeiros. A nova Carta reconheceu a união estável do homem e da mulher como entidade a ser protegida, entretanto, tal proteção não atribuiu direito sucessório à companheira ou companheiro.
Art. 226, CF/88 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
Foi através da Lei 8.971/94 que inseriu o companheiro na ordem da vocação hereditária.
A Lei mais recente, a 9.278/96, que trouxe a tona o direito real de habitação ao companheiro, sendo que o atual Código Civil em seu art. 1.831, somente menciona o cônjuge.
Art. 1.831, CC - Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.
A conclusão é que ambas as leis não somente coexistiram como também é aplicada em alguns casos eis que o CC de 2002 não o revogou expressamente.
O atual CC de 2002 somente dispõe sobre o companheiro ou companheira em seu art. 1.790.
Art. 1.790, CC - A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
NOTA – O legislador criou a figura do participante que não pode ser outra pessoa que não o herdeiro.
Em primeiro lugar, destaca-se que o art. 1.790 do CC diz que devem ser separados os bens do companheiro com aqueles que entram na herança, justamente para daí se retirar a meação do companheiro que em nada sofreu modificação, sendo igual à fórmula adotada com relação ao cônjuge meeiro.
IMPORTANTE – O companheiro, para receber mais do que tem direito, somente se for beneficiado por testamento.
CASOS CONCRETOS:
1) Referente ao inciso I do art. 1.790 do Código Civil.
Problema: João e Maria são conviventes. João morre e deixa 4 filhos comuns. Os bens adquiridos onerosamente por João e Maria perfazem R$360.000,00. 
Pergunta-se: De quanto é a meação de Maria, seu quinhão hereditário e o dos 4 filhos que teve em comum a João?
2) Referente ao inciso II do art. 1.790 do Código Civil.
Problema: João e Maria são conviventes. João possui 4 filhos só dele e ao morrer e deixa um patrimônio adquirido onerosamente junto a Maria que perfaz a quantia R$360.000,00. 
 
Pergunta-se: De quanto é a meação de Maria, seu quinhão hereditário e o dos 4 filhos exclusivos de João?
Resposta – Maria recebe a metade de cada filho. Assim, cada filho é representado pelo número 2 e Maria pelo número 1. Divide-se o monte pela soma das representações numéricas, o que equivale a 9, chegando-se ao valor de R$20.000,00. Assim, para cada filho, multiplica-se o valor por 2, recebendo cada qual R$40.000,00 e Maria por 1, recebendo R$20.000,00 como “participante” da herança.
3) Referente ao inciso III do art. 1.790 do Código Civil.
O legislador privilegiou muito o parentesco consanguíneo. Assim, a convivente terá direito a terça parte da totalidade do patrimônio do de cujus, não somente dos bens adquiridos onerosamente por ambos.
4) Não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Nessa hipótese o companheiro terá direito a todo o patrimônio do falecido e não somente aos bens adquiridos onerosamente por ambos.
Glosário
Descentente 
Ascendente
Colaterias
Estirpes
Comunhão Parcial de Bens
Comunhão Universal de Bens
Separação de Bens
Concorrentes
Sobrevivente
Quarta Parte
Onerosamente

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