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RESUMO: RESPONSABILIDADE CIVIL - Ideias Gerais - Carlos Roberto Gonçalves, vol. IV

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RESPONSABILIDADE CIVIL – IDEIAS GERAIS
Responsabilidade é um aspecto de responsabilidade social. 
Destina-se a restaurar o equilíbrio moral e patrimonial provocado pelo autor do dano. 
Ideia de Restauração. Restaurar status quo ante. 
Responsabilidade jurídica e responsabilidade moral
Depende do fato que configura a infração, que pode ser proibido por lei moral ou religiosa ou pelo direito. 
Responsabilidade moral e religiosa atuam no campo da consciência individual. 
Distinção entre obrigação e responsabilidade
Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. 
Uma relação de natureza pessoa, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. 
Obrigação deve ser cumprida livre e espontaneamente. Uma vez não cumprida a obrigação, surge a responsabilidade. 
Obrigação sem responsabilidade: dívidas prescritas e dívidas de jogo. 
Responsabilidade sem obrigação: fiança. 
Obrigação: dever jurídico originário
Responsabilidade: dever jurídico sucessivo, consequente à violação do primeiro. 
Importância do Tema
“Todo o direito se assenta na ideia da ação, seguida da reação, de restabelecimento de uma harmonia quebrada”.
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, pois, a principal consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação, do autor, de reparar o dano. 
Fontes da obrigação: vontade humana (contratos) e vontade do Estado (lei). Obrigações dos atos ilícitos se constituem por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente. 
A indenização deve ser integral e completa, por maior que seja o prejuízo, independente do grau de culpa. Pode acontecer de alguém atropelar um chefe de família e ter que fornecer pensão àqueles quem o defunto sustentava. Para se remediar a situação de um, arruína-se a do outro. Solução: contrato de seguro. 
Dever jurídico originário e sucessivo
Um dos pressupostos da responsabilidade: violação do dever jurídico e o dano. 
Todo aquele que violar direito e causar dano a outrem, comete ato ilícito. Art. 186, CC
Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Art. 927.
Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro. 
Numa primeira fase, a reparação era condicionada à condenação criminal. Depois, o princípio da independência da jurisdição civil e criminal. 
O código de 16 adotou a teoria subjetiva, que exige prova de culpa ou dolo do causador do dano para que seja obrigado a repará-lo. Em poucos casos, presumia-se a culpa do lesante. 
A responsabilidade é encarada sob o aspecto objetivo: o operário, vítima de acidente de trabalho, tem sempre o direito à indenização. O patrão indeniza porque é dono dos instrumentos de trabalho que provocaram o infortúnio. 
Aquele que lucra com a situação, deve responder pelo risco e pelas desvantagens dele resultante. Quem aufere cômodos, deve suportar os incômodos. 
Duas faces da R.C.: a teoria do risco e a teoria do dano objetivo. 
A realidade é que se tem procurado fundamentar a responsabilidade na ideia de culpa, mas, sendo esta insuficiente para atender às imposições do progresso, tem o legislador fixado os casos especiais em que deve ocorrer a obrigação de reparar, independente daquela noção.
O CC02 mantém o princípio da responsabilidade com base na culpa. Art. 927. Exceções: arts. 936,937, p. ex. 
Fundamentos
Em princípio, todo dano deve ser indenizado. 
O fundamento da responsabilidade civil deixou de ser buscado somente na culpa, podendo ser encontrado no fato da coisa e no exercício de atividades perigosas, que multipliquem o risco de dano. O que mostra que houve mudança de ótica: foge-se da preocupação em julgar a conduta do agente para a preocupação de julgar o dano em si mesmo, a sua ilicitude e injustiça. 
O ato ilícito é praticado com infração a um dever de conduta, por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas doa gente, das quais resulta dano para outrem.
Sem prejuízo, não há indenização, desimportante é a culpa/dolo, etc. 
A obrigação pode resultar de atos lícitos, ex. praticados em estado de necessidade. 
Fundamento se encontra no dano, mais no injustamente sofrido do que no causado com ilicitude. 
Pretensão de justiça – devolver ao lesado a plenitude ou integralidade do que gozava antes. 
Além do fato culpa, os fatores: risco, segurança ou garantia;
Tendência do século XXI – sistema de cobertura social de todos os danos. Nova Zelândia.
Culpa de Responsabilidade
Conceitos de culpa: a) inexecução de um dever que o agente podia conhecer e observar (subjetivo); b) critério do homem médio (objetivo), paterfamilias, ou seja, se o dano derivou de uma imprudência, imperícia ou negligência, nos quais não incorreria o home médio, caracteriza-se culpa. 
Só se pode falar em culpa quando houver previsibilidade. 
O código pressupõe sempre a existência de culpa lato sensu, que abrange o dolo, e a culpa stricto sensu ou aquiliana (violação de um dever que o agente podia conhecer e observar, segundo os padrões de comportamento médio).
A imprevidência do agente causador do dano pode ser:
Negligência: art. 186; é amplo, abrange a ideia de imperícia, pois possui um sentido lato de omissão ao cumprimento de um dever. É a falta de atenção, a ausência de reflexão necessária, uma preguiça psíquica, onde o agente deixa de prever o previsível.
Impudência: sujeito que age sem cautela, que implica e pequena consideração pelos interesses alheios. 
Imperícia: inaptidão técnica, ausência de conhecimento para a prática de um ato, ou omissão de providência que se fazia necessária. É a culpa profissional.
A culpa deve ser apreciada no caso concreto, não havendo critério geral. 
A previsibilidade da culpa se mede pelo grau de atenção exigível do homem médio, pelo grau de diligência considerado normal, com base na sensibilidade ético-social.
Imputabilidade e responsabilidade
Para que o agente tenha livre-determinação de vontade, é necessário que este seja imputável. Para que alguém pratique ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento. elemento imputabilidade, art. 186, CC02. 
 8.1. A responsabilidade dos amentais.
A concepção clássica considera que, sendo o amental inimputável, ele não é responsável civilmente. Se ele cometer dano, o ato se equipara a caso fortuito e força maior. Se a responsabilidade não puder ser atribuída ao encarregado de sua guarda, a vítima ficará irresarcida. 
Há muitas críticas a isso, por exemplo:
Se um louco rico causar prejuízo a um pobre. 
A conduta do agente deve ser analisada em abstrato, com base em circunstâncias externas e objetivas, e não em conformidade com a sua individualidade interna, subjetiva. Se um dano é objetivamente lícito, é ressarcível, pouco importando que o seu agente seja inimputável. A culpa é noção social, o objetivo não é descobrir o culpado, mas assegurar a reparação de um prejuízo. 
O CC02 substituiu o princípio da irresponsabilidade absoluta da pessoa privada de discernimento pelo princípio da responsabilidade mitigada e subsidiária. Art. 928. Ou seja, se a indenização não vier de quem possui a guarda do louco, a indenização sairá do patrimônio deste, desde que não o prive e nem aos que dele dependem do necessário. Nesse último caso, a vítima fica irresarcida. 
O mesmo aqui é cabível para os opiômanos, os cocainômanos mis morfinômanos e os usuários de maconha e psicotrópicos.
 8.2. A responsabilidade dos menores 
No CC16, o menor entre 16 e 21 anos, equiparava-se ao maior com as obrigações oriundas de ato ilícito. Se este possuísse bens, seria responsabilizado sozinho ou solidariamente ao seus pais, se sobre tutela, tutor. O menor impúbere (<16), não eram responsáveis, mas os seus pais que teriam a sua guarda. A vítima não ficaria de modo algum irressarcida. 
O CC02 reduz o limite da menoridade para 18 anos. Hoje, se o responsávelpelo dano não dispuser de meio de pagamento, quem responde é o seu responsável. Não terá lugar a indenização se privar o menor ou o seu responsável do necessário. AQUI, a responsabilidade independe de culpa (dos pais). Se os filhos forem emancipados, permanece o disposto, a não ser que a emancipação se dê por casamento ou outras causas previstas no art. 5º, §U, que não sejam voluntariamente.
Espécies de Responsabilidade
9.1. Responsabilidade Civil x Responsabilidade Penal
Tudo, inclusive a compensação pecuniária, não passavam de uma pena ao causador do dano. A Lex Aquilia começou a fazer uma leve distinção: embora a responsabilidade continuasse sendo penal, a indenização pecuniária passou a ser a única forma de sanção nos casos de atos lesivos não criminosos.
No caso de responsabilidade penal, a lei infringida é de direito público; o sujeito atingido é a sociedade. No caso de responsabilidade civil, direito privado, e o prejudicado poderá pleitear ou não a reparação, o que não acontece com aquela. 
Um dano pode trazer essas duas responsabilidades, assumido o agente causador do dano duas obrigações. 
A responsabilidade penal é pessoal e intrasferível. A cível é patrimonial, é o patrimônio do devedor que responde suas obrigações. 
A tipicidade é requisito do crime. Para configurá-lo, é necessário que a conduta se encaixe perfeitamente a um tipo penal. Na esfera cível, qualquer ação ou omissão pode gerar responsabilidade, desde que gere prejuízo ou viole direito de outrem. 
Na esfera cível, não importa o grau da culpa, a obrigação de indenizar é certa (“aquilia et levíssima culpa venit”). N esfera penal, nem toda culpa comina em condenação, depende do grau.
Na esfera penal, só maiores de 18 anos são responsáveis. Na esfera cível, menores de 18 podem ser responsabilizados. 
9.2. Responsabilidade contratual x Responsabilidade extracontratual
Exemplos de responsabilidade contratual: a) uma pessoa que pega um ônibus, celebra, tacitamente, um contrato de adesão, no qual a empresa de transporte se obriga a levar o passageiro, são e salvo, ao seu destino. Se ocorre um acidente, e o passageiro ficar ferido, dá-se o inadimplemento contratual, que acarreta a responsabilidade de indenizar em perdas e danos, nos termos do art. 389, CC02; b) comodatário que não devolve a coisa, por esta ter perecido por sua culpa. 
Responsabilidade extracontratual é aquela que, por óbvio, não se origina de um contrato (também chamada de aquiliana). 
CC02: a) responsabilidade contratual: 389 e seguintes. 395 e seguintes; b) responsabilidade extracontratual: 186 a 188, 927 a 954.
A responsabilidade contratual deriva-se de uma avença, estendendo-se ao inadimplemento ou mora de qualquer obrigação. A responsabilidade extracontratual deriva de deveres gerais de abstenção ou omissão, como os que correspondem aos direitos reais, aos direitos da personalidade ou aos direitos do autor. 
Teoria monista: critica essa divisão, pois, diz que não interessa essa divisão, uma vez que as consequências jurídicas, para ambas, são iguais. 
Teoria dualista: pode ser chamada de clássica. Majoritária. Divide a responsabilidade civil em contratual e extracontratual, devido aos aspectos privativos de cada uma. 
Tabela de diferenciação entre R. Contratual e R. Extracontratual. 
	Critérios
	RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL
	RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL
	Quanto ao ônus da prova (onus probandi)
	O credor só está obrigado a provar que houve o descumprimento. O devedor só não será condenado se suscitar as excludentes: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior.
	O autor da ação reparatória é quem fica com o ônus de provar que o fato se deu por culpa do agente.
	Quanto às fontes das quais promanam
	Origem na convenção
	Origem na inobservação do dever genérico de não lesar e de não causar dano a ninguém (neminem laedere) Art. 186, CC02.
	Quanto à capacidade do agente causador do dano
	A convenção exige agentes plenamente capazes ao tempo de sua celebração, sob pena de nulidade e de não produzir efeitos indenizatórios. Logo, tem capacidade jurídica mais restrita.
	a obrigação derivada de um delito exige que ato de incapaz dê origem À reparação por aqueles que são encarregados deste. Em caso de impossibilidade dos responsáveis, o incapaz pode ser responsabilizado, desde que tenha patrimônio para tal, e a indenização não o prive do necessário. 
	Quanto à gradação de culpa
	Varia de acordo com cada caso. 
	in et Aquilia et levissima culpa venit. Ainda que a culpa seja levíssima, haverá responsabilidade. 
 9.3. Responsabilidade Objetiva x Responsabilidade Subjetiva
Subjetiva A culpa do agente é pressuposto necessário para do dano indenizável. Somente se configura a responsabilidade se houver culpa ou dolo. 
Objetiva a lei impõe. Também chamada de legal. A responsabilidade se satisfaz apenas se presentes dano e nexo de causalidade, dispensada a culpa. Essa teoria é chamada de teoria do risco ou teoria objetiva. Esteia-se na ideia de que todo o dano é indenizável e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independente de culpa. 
Os casos de culpa presumida se encaixam na responsabilidade subjetiva, pois, ainda que presumida, a culpa é necessária para a configuração da responsabilidade.
Uma teoria que busca justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do risco, a qual sustenta que toda pessoa que exerce uma atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. Fala-se em “risco-proveito” – é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi ônus). 
A culpa é insuficiente para regular todos os casos de responsabilidade. 
O CC brasileiro adotou como REGRA a responsabilidade civil subjetiva, trazendo os casos em que se aplicará os casos de responsabilidade objetiva. Encontra-se, também, a responsabilidade objetiva em leis esparsas, como: Lei de Acidentes de Trabalho e Código Brasileiro de Aeronáutica.
A responsabilidade subjetiva não substitui a subjetiva, mas fica circunscrita aos seus limites. Elas não brigam, mas se conjugam e dinamizam. 
 9.4. Responsabilidade Extracontratual por atos lícitos e ilícitos (fundada no risco e decorrente de fatos permitidos em lei). 
Via de regra a obrigação de indenizar é oriunda de um ato ilícito. Pode emergir de uma atividade perigosa, como o dono de uma máquina que, em atividade, decepou o braço de alguém (Acidente de trabalho); nesse caso, ele não é obrigado a indenizar porque causou o dano, mas porque ofereceu o risco para que o dano acontecesse. Pode, também, emergir de ato lícito, como no caso de estado de necessidade (ato lícito, vide art. 188, II, CC02), que obriga o autor indenizar o dano da coisa, vide art. 929. 
Pressupostos da Responsabilidade Civil
Ação ou omissão: 
A responsabilidade pode derivar de (análise do art. 186):
Ato próprio: calúnia, injúria e difamação. Demanda de pagamento de dívida não vencida ou já paga; abusos de direito. 
Ato de terceiro: pais responsáveis pelos seus filhos, os tutores pelos tutelados, os curadores pelos curatelados, empregadores pelos empregados, farmacêuticos por seus prepostos, educadores pelos seus educandos e hoteleiros e estalajadeiros pelos seus hóspedes. 
Danos causados por animais ou coisas que lhe pertençam: via de regra, responsabilidade objetiva. Se dá de tal forma tendo em vista o grande desenvolvimento de máquinas industriais e aumento de número de acidentes e vítimas que não podem ficar sem ressarcimento.
Culpa ou dolo do agente:
Dolo: “ [...] ação ou omissão voluntária [...]”. 
Culpa: “ [...] negligência ou imprudência [...]”.
Culpa lata ou grave: falta imprópria ao comum do homem. 
Culpa leve: falta evitável de atenção ordinária.
Culpa levíssima: é a falta evitável, com atenção extraordinária, com especial habilidade ou conhecimento singular. 
A culpa ainda pode ser:In elegendo: decorre de má escolha.
In vigilando: decorre da ausência de fiscalização. 
In comittendo: decorre de uma ação.
In omittendo: decorre de uma omissão.
In custodiendo: decorre da falta de cuidado na guarda de um animal ou objeto. 
Relação de Causalidade:
É a relação de causa e efeito entre a ação ou o0missão do agente e o dano. 
Se um motorista de um ônibus atropela alguém que se jogou em frente ao seu veículo, com intenção de se suicidar, ele não pode ter causado o acidente, na verdade, ele foi mero instrumento da vontade da vítima, a qual é responsável, exclusivamente, pelo evento.
Dano:
Sem o dano, a reparação perde objeto. Não há reparação sem dano. 
O dano pode ser material ou moral. 
Ex. se um motorista incorrer em várias infrações e não atropelar ninguém, ou não bater o veículo, malgrado a ilicitude, não deve nenhuma indenização por falta do elemento dano.

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