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RESUMO: RESPONSABILIDADE CIVIL CULPA PARTE I - Carlos Roberto Gonçalves. Vol. 4

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RESPONSABILIDADE CIVIL – CULPA (PARTE I)
Conceitos e comparações
Dolo é a violação intencional do dever jurídico (culpa em sentido amplo). Conduta nasce ilícita, pois a este se dirige. O juízo de desvalor dirige-se à conduta e ao resultado.
A culpa é sempre a violação de um dever de diligência ou violação a dever de previsão de fatos ilícitos e adoção de medidas para evitá-los, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever (culpa em sentido estrito ou culpa aquiliana). A conduta nasce lícita, mas se torna ilícita ao passo que se desvia dos padrões socialmente adequados. Juízo de desvalor dirige-se somente ao resultado. 
O critério para aferição da diligência exigível do agente é comparação com o comportamento do homo medius. 
Não se reclama se um ato danoso tenha sido querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de tão ter percebido seu ato e nem medido as consequências deste. 
Dever de cuidado
A responsabilidade é uma reação provocada pela infração a um dever preexistente. Em qualquer atividade, o homem deve observar a necessária cautela para que sua conduta não venha a causar danos a terceiros, ainda que ausente o animus laedendi. 
O ponto de partida da culpa (ratio essendi) é a violação de uma norma de conduta por falta de cuidado, sendo esta geral, quando contida em lei, e particular, quando contratual. A observância dessa norma é fator da harmonia social.
Previsão e Previsibilidade
Só é cogitada a culpa quando presente o elemento previsibilidade. Com isso não se quer dizer que o agente previu, mas que ele podia prever, estava na esfera da previsibilidade as consequências de dada conduta. 
Esse é o limite mínimo da culpa: a previsibilidade. 
Não havendo, cai-se no caso fortuito ou força maior, assim, o agente não pode ter dado causa ao fato, então, não há responsabilidade. 
Imprudência, Negligência e Imperícia.
Imprudência precipitação. Falta de cautela. Ação da qual o agente poderia abster-se. Ex. ingerir bebida alcoólica antes de dirigir.
Negligência inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade e discernimento. Conduta omissiva. Não tomar precauções necessárias. Ex. pessoa que faz queimada e se afasta do campo sem verificar se o fogo cessou.
Imperícia Inaptidão e falta de habilidade para a prática de um ato. Incapacidade técnica. Ex. Médico que desconhece os efeitos de um medicamento. 
Espécies de Culpa
Culpa grave, leve e levíssima:
Grave – não prever o que todos preveem, omitir os cuidados mais elementares ou descuidar da diligência mais evidente. A culpa decorrente de uma violação mais séria do dever de diligência que se exige do homem mediano. Equipara-se ao dolo nos seus efeitos (culpa lata dolus equiparatur). Ex. dirigir em velocidade excessiva. 
Leve – quando a falta puder ser evitada com atenção ordinária. A falta de diligência própria de um bom paterfamilia.
Levíssima: falta que é evitável somente com atenção extraordinária, com extremada cautela. 
No entanto, mede-se a culpa pela sua extensão e não pelo seu grau. In lege Aquilia et levíssima culpa venit. 
Provado o dano, deve ser ressarcido integralmente pelo seu causador. 
O montante da indenização nunca pode exceder ou ser menor que o valor dos danos causados ao lesado.
Art. 944, §U confere ao juiz o poder de agir equitativamente, facultando-lhe reduzir a indenização quando excessiva for a desproporção entre seu valor e o grau da culpa do responsável. 
Culpa contratual e extracontratual
A culpa será contratual ou extracontratual conforme for a natureza do dever violado. 
CONTRATUAL: Se tal dever se fundar em relação jurídica obrigacional preexistente, ter-se-á culpa contratual, respondendo o devedor por perdas e danos. Art. 389, CC02. Inverte-se o ônus da prova: ao devedor caberá provar a ocorrência de caso fortuito ou outra excludente de responsabilidade para ilidir a referida presunção. 
Se o dever violado for genérico (neminem laedere), a culpa será extracontratual. A prova, então, deverá ser produzida pela vítima. Art. 186, 927, §U, 933 e 938.
Culpa “in eligiendo”, “in vigilando”, “in custodiendo”, in comittendo” ou “in omittendo”
“in eligiendo” – má escolha do representante. Art. 933 e 932 – independe de culpa, respondem objetivamente.
“in vigilando” – ausência de fiscalização da pessoa que se encontra sob a responsabilidade do agente. Art. 933 e 932 – independe de culpa, respondem objetivamente pelos atos dos seus curatelados, tutelados, filhos...
“in custodiendo” – falta de cuidado na guarda de animal ou objeto. – presunção relativa de culpa, pois pode-se inverter o ônus da prova, permitindo-lhe provar a culpa exclusiva da vítima ou força maior... 
“in comittendo” – mediante comissão.
 “in omittendo” – mediante omissão.
Culpa Presumida
A concepção clássica é de que a vítima tem que provar a culpa do agente para obter a reparação. Para que se melhor amparasse os lesados, alguns novos instrumentos foram usados, e a presunção de culpa foi um deles.
Presunções juris tantum inverte-se o ônus da prova, não tendo que provar a culpa subjetiva ou psicológica do agente, mas, somente a relação de causa e efeito entre a conduta e o dano. Para livrar-se da presunção, o causador da lesão deve suscitar e provar excludentes de responsabilidade. EX. motorista que atropela transeuntes na calçada. – Entende-se que a culpa decorre do próprio fato – in re ipsa.
Culpa contra a legalidade
Essa teoria defende que a simples inobservância de lei ou regulamento serve para configurar culpa do agente, sem necessidade de outras indagações. Culpa tout cour.
Aplicar-se-ia aos acidentes de trânsito e teria como fundamento a experiência das autoridades de trânsito com os casos os quais recebem. 
Não está sendo recepcionado pela jurisprudência.
Verificou-se que, apesar de estarem violando regulamento de trânsito, quem dá causa ao acidente é quem não estava cometendo infração alguma. 
Tem sido usado em: infrações de trânsito com colisão na traseira de outro veículo, invasão de preferencial, invasão de contramão, velocidade excessiva e inadequada, pilotagem com embriaguez. 
O direito não pode assegurar ninguém a faculdade de abusar ou desenvolver velocidade superior ao normal.
É uma forma de presunção de culpa. 
Culpa Exclusiva e culpa concorrente
Exclusiva: quando a culpa é exclusivamente da vítima, o causador não passa de mero instrumento de vontade de acidente da vítima. Nesses casos, NÃO HÁ LIAME de causalidade entre a conduta do causador e o dano. Ex. atropelar sujeito que atravessa uma pista de alta velocidade embriagado. 
Concorrente: casos em que o dano decorre de mais de uma causa, concorrendo as condutas do autor e do causador do dano. Não é correto se falar em compensação, pois, se assim o fosse, extinguiria a obrigação, o que não acontece aqui.
Quando a culpa da vítima é parcial com a do causador, ambos contribuem para o resultado dano. Nesse caso, analisar-se-á a proporção da participação de cada um, repartindo as responsabilidades. A indenização poderá ser reduzida pela metade, como reduzida a ¼, 2/5, a depender do caso. 
Art. 945.
Culpa e Risco
O conceito tradicional de culpa apresentava-se, então, inadequado para servir de suporte à teoria da responsabilidade civil. Ônus da prova: obstáculo para ressarcimento justo.
Com isso, sobreviriam os processos Técnicos, segundo De Page, que tinham como função tornar possível a solução das novas espécies.
Por isso, restrição maior da responsabilidade aquiliana por via de responsabilidade contratual, especialmente em acidentes de trabalho e transportes; majoração das presunções de culpa; teoria do abuso de direito; admissão de responsabilidade objetiva.

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