Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 1 � Itens específicos do último edital que serão abordados nesta aula →→→ PESSOA NATURAL: conceito, capacidade e incapacidade, começo e fim. Direitos da personalidade. SUBITENS →→→ Pessoa Natural. Personalidade: Início, Individualização (nome, estado e domicílio civil) e Extinção (morte e ausência). Direitos da Personalidade. Capacidade: classificação. Incapacidade. Emancipação. �Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: arts. 1° até 39 (Pessoas Naturais) e 70 até 78 (Domicílio). Sumário 1. PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL ........................................... 02 1.1 Início ......................................................................................... 02 1.1.1 Nascituro ............................................................................. 06 1.1.2 Direitos da Personalidade .................................................... 10 1.2 Individualização ......................................................................... 16 1.2.1 Nome ................................................................................... 16 1.2.2 Estado ................................................................................. 20 1.2.3 Domicílio ............................................................................. 20 1.3 Fim da Personalidade ................................................................. 24 1.3.1 Morte Real ........................................................................... 25 1.3.2 Morte Presumida ................................................................. 25 1.3.3 Comoriência ......................................................................... 29 2. CAPACIDADE CIVIL .......................................................................... 31 2.1 Absolutamente Incapazes .......................................................... 33 2.2 Relativamente Incapazes ........................................................... 35 2.3 Capacidade Plena ....................................................................... 39 3. EMANCIPAÇÃO ................................................................................. 40 4. REGISTRO E AVERBAÇÃO ................................................................. 44 RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ........................................................ 46 Bibliografia Básica ............................................................................... 49 EXERCÍCIOS COMENTADOS .................................................................. 50 Aula 01 Pessoas Naturais DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 2 MEUS AMIGOS E ALUNOS Após a análise da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (que não faz parte do Código Civil, mas está previsto expressamente em nosso edital), hoje vamos abordar o tema “PESSOAS”, que é o primeiro ponto da Parte Geral do Código Civil. Genericamente, podemos conceituar PESSOA como sendo todo ente físico ou jurídico, suscetível de direitos e obrigações; é sinônimo de sujeito de direitos. No Brasil temos duas espécies de pessoas: as naturais e as jurídicas. Ambas possuem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Hoje veremos somente as PESSOAS NATURAIS. Elas também são conhecidas como Pessoas Físicas. No entanto a expressão “Pessoa Natural”, além de ser mais técnica, é a preferida em concursos. Abordaremos os três aspectos da pessoa natural e seus desdobramentos: a) personalidade; b) capacidade; e c) emancipação. Na próxima aula veremos as Pessoas Jurídicas. PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL Personalidade é o conjunto de caracteres próprios da pessoa, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, sendo a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. É atributo da dignidade do homem. Prevê o art. 1° do Código Civil que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Assim, o conceito de pessoa inclui homens, mulheres e crianças. Ou seja, qualquer ser humano sem distinção de idade, saúde mental, sexo, cor, raça, credo, nacionalidade, etc. Por outro lado exclui os animais (que gozam de proteção legal, mas não são sujeitos de direito), os seres inanimados, etc. Observação. Os examinadores, nas questões das provas, muitas vezes usam a expressão “personalidade civil” (é assim que está no art. 2°, CC); algumas vezes preferem a expressão “personalidade jurídica”; e outras vezes usam somente o termo “personalidade”. No entanto convém esclarecer que todas elas são usadas em concursos como expressões sinônimas. ���Concluindo: pessoa natural (ou física) é o próprio ser humano. INÍCIO DA PERSONALIDADE Há muita polêmica doutrinária envolvendo o início da personalidade civil. As três principais teorias são: DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 3 a) Teoria Natalista: a personalidade jurídica começa com o nascimento com vida. A adoção desta teoria de forma absoluta leva à conclusão de que o nascituro não é considerado pessoa, portanto, tem apenas expectativa de vida e de direitos. b) Teoria Concepcionista: a personalidade tem início desde a concepção. Ou seja, no momento em que o óvulo fecundado pelo espermatozoide se junta à parede do útero. A partir desse momento o nascituro já é considerado como pessoa, e, como tal, tem todos os direitos resguardados pela lei, sendo considerado sujeito de direitos. c) Teoria da Personalidade Condicional: o nascituro possui personalidade jurídica desde o momento da concepção, no entanto isso é condicionado ao nascimento com vida. Nascendo com vida a personalidade retroage ao momento de concepção do nascituro, conferindo a ele uma tutela jurídica que atinge o passado. Essa corrente defende que o nascituro possui direitos, entretanto estes estariam subordinados a uma condição suspensiva que seria o próprio o nascimento com vida. Se não nascer com vida não houve personalidade. No Brasil a doutrina se manifesta de forma divergente, pois, se por um lado a lei estabelece que a personalidade civil tem início com o nascimento com vida, o mesmo dispositivo, logo a seguir assegura ao nascituro (falaremos sobre essa expressão mais adiante) direitos desde sua concepção. Na doutrina brasileira há ferrenhos defensores de todas as teorias. No concurso como eu faço? Em uma prova objetiva o aluno deve se limitar ao texto expresso da lei (Art. 2°, CC: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro). A teoria natalista ainda é a mais aceita nos concursos. Já em uma prova dissertativa cite as três teorias, expondo que no Brasil há ferrenhos defensores principalmente da teoria da concepção e da natalidade, abordando os aspectos mais relevantes de cada uma. Lembrem-se: a tendência atual é proteger, cada vez mais, o nascituro e seus direitos desde a concepção. Em uma aula mais adiante (no meio do curso), vamos fornecer uma bateria de exercícios específicos da banca FUNDATEC. E posso adiantar que uma prova para Advogado do Conselho Regional de Farmácia do RioGrande do Sul (CRF/RS) caiu uma questão em que ficou bem claro que esta banca se posicionou pela teoria natalista. Outra coisa que se indaga é se o nascituro possui “personalidade jurídica formal ou material”. Neste tópico tem-se acolhido o que leciona a professora Maria Helena Diniz. Para ela a personalidade jurídica se classifica em: DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 4 Personalidade jurídica formal: é a aptidão para ser titular de “direitos da personalidade” (ex.: direito à vida, direito à gestação saudável, etc.); em relação a esta o nascituro tem desde a concepção. Personalidade jurídica material: é a aptidão para ser titular de “direitos patrimoniais”; quanto a essa o nascituro só a adquire a partir do nascimento com vida. Concluindo: pelos gabaritos oficiais dos últimos concursos, chega-se à conclusão de que o nascituro possui apenas os requisitos formais da personalidade civil. Para muitos autores o Supremo Tribunal Federal teria adotado a corrente natalista, quando apreciou a ADI 3510, considerando constitucional o art. 5° da Lei n° 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) que trata do uso de células- tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos. Na longa ementa, destaca-se o seguinte trecho: “O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de todo e qualquer estágio da vida humana um autonomizado bem jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva (teoria "natalista", em contraposição às teorias "concepcionista" ou da "personalidade condicional"). E quando se reporta a "direitos da pessoa humana" e até dos "direitos e garantias individuais" como cláusula pétrea está falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa, que se faz destinatário dos direitos fundamentais "à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade", entre outros direitos e garantias igualmente distinguidos com o timbre da fundamentalidade (como direito à saúde e ao planejamento familiar)”. Analisando a Lei Pelo Código Civil, podemos afirmar que a personalidade da pessoa natural ou física inicia-se com o nascimento com vida, ainda que por poucos momentos. Esta é a primeira parte do art. 2° do CC. Se a criança nascer com vida, ainda que por um instante, já adquire a personalidade. 1. Nascimento: quando a criança é separada do ventre materno (parto natural ou por intervenção cirúrgica), mesmo que ainda não tenha sido cortado o cordão umbilical (isso significa a separação da criança do corpo da mãe e não o nascimento em si). 2. Com vida: há nascimento e há parto quando a criança, deixando o útero materno, tenha respirado. Segundo a Resolução n° 01/88 do Conselho Nacional de Saúde, nascer com vida significa repirar e ter batimentos cardíacos (funcionamento do aparelho cardiorrespiratório). É nesse momento que a personalidade civil terá início em sua plenitude, com todos os efeitos subsequentes, conforme veremos. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 5 Para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se já nasceu morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno, que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se flutuar é sinal que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada e, portanto, nasceu com vida; se afundar, é sinal que não chegou a respirar e, portanto, nasceu morta, não recebendo e nem transmitindo direitos. No entanto, atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes para tal constatação (ex.: ultrassom). ���Não caiam em pegadinhas ��� Apesar de polêmica, esta questão tem sido muito comum em concursos. Geralmente o examinador coloca uma alternativa dizendo que a personalidade se inicia somente com a concepção (gravidez) da mulher. Ou que a criança somente teria personalidade se nascer com “forma humana” (ou seja, não tenha anomalias ou deformidades). E até mesmo que a personalidade somente teria início com o “corte do cordão umbilical ou quando desprendida a placenta”. Nenhuma dessas hipóteses foram aceitas pelo nosso Direito. Outra opção que não foi acolhida pelo nosso Direito é a teoria da viabilidade. Para essa teoria, não basta que a criança nasça com vida para adquirir a personalidade... é necessária, também, a viabilidade. Ou seja, só se atribui a personalidade se a criança for viável (que é a perfeição orgânica suficiente para continuar com vida após o nascimento: perspectiva de sobrevivência). O exemplo clássico é o da criança anencéfala. Apesar do plenário do Supremo Tribunal Federal recentemente ter decidido (8x2) que não pratica o crime de aborto tipificado no Código Penal a mulher que decide pela “antecipação do parto” em casos de gravidez de feto anencéfalo, se a mulher decidir a levar a gravidez até o fim e se a criança nascer com vida, ela teve personalidade. Ainda que morra momentos após o nascimento. Nesse curto espaço de tempo ela teve personalidade, com todos os seus efeitos, conforme veremos adiante. Curiosidade Vejamos o que diz o art. 29 completo da Resolução n° 01/88 do CNS: Art. 29 Além dos requisitos éticos genéricos para pesquisa em seres humanos, as pesquisas em indivíduos abrangidos por este capítulo conforme as definições que se seguem, devem obedecer as normas contidas no mesmo. 1. Mulheres em idade fértil: do início da puberdade ao inicio da menopausa; 2. Gravidez: período compreendido desde a fecundação do óvulo até a expulsão ou extração do feto e seus anexos; 3. Embrião: produto da concepção desde a fecundação do óvulo até o final da 12a semana de gestação; 4. Feto: produto da concepção desde o início da 13a semana de gestação até a expulsão ou extração; DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 6 5. Óbito fetal: morte do feto no útero; 6. Nascimento vivo: é a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta; 7. Nascimento morto: é a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, não respire nem tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta; 8. Trabalho de parto: período compreendido entre o início das contrações e a expulsão ou extração do feto e seus anexos; 9. Puerpério: período que se inicia com a expulsão ou extração do feto e seus anexos até ocorrer a involução das alterações gestacionais (aproximadamente 42 dias); 10. Lactação: fenômeno fisiológico da ocorrência de secreção láctea a partir da extração do feto e de seus anexos. NASCITURO O termo nascituro significa “aquele que há de nascer”. É o ser que já foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu, embora tenha vida intrauterina e natureza humana. Tecnicamente (teoria natalista), ele não tem personalidade, pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Apesar de não ter personalidade jurídica, a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção. Trata-se da segundaparte do art. 2°, CC. Na realidade o nascituro tem uma expectativa de direito. Ex.: o nascituro tem o direito de nascer e de viver (o aborto é considerado como crime: arts. 124 a 127 do Código Penal, salvo raríssimas exceções previstas em lei). Proteção ao nascituro. Apesar de juridicamente ainda não ser considerado como pessoa, pode-se dizer que o nascituro: é titular de direitos personalíssimos tais como vida, honra, imagem, proteção pré natal, etc. pode ser contemplado por doação (art. 542, CC) ou por testamento (herança ou legado) e de seu quinhão hereditário (art. 1.798, CC), sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão e de ser nomeado um curador para a defesa de seus interesses (art. 877 e 878, CPC). Além disso, o art. 8° do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90 – ECA) e a Lei n° 11.804/08 determina que a gestante tem condições de obter judicialmente os alimentos para garantia do bom desenvolvimento do feto (alimentos gravídicos), adequada assistência pré- natal, como consultas médicas, remédios, etc., pois não é justo que a genitora suporte todos os encargos da gestação sem a colaboração econômica do seu companheiro. Finalmente entende-se plenamente cabível o exame de DNA para se determinar a paternidade, como decorrência da proteção que lhe é DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 7 conferida pelos direitos da personalidade. Estabelece o parágrafo único do art. 1.609, CC que o reconhecimento do filho “pode preceder o seu nascimento ou ser posterior ao seu falecimento se ele deixar descendentes”. Na realidade o principal direito do nascituro é o de ter direito à sucessão. Se ele já foi concebido no momento da abertura da sucessão (morte do de cujus) legitima-se a suceder de forma legítima (conferir arts. 1.784 e 1.798, CC). Também se legitimam a suceder por testamento “os filhos ainda não concebidos de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão” (art. 1.799, I, CC). Por tal motivo, tendo já tantos “direitos”, é que está crescendo a teoria concepcionista, considerando o nascituro como sendo uma Pessoa Natural. Justifica-se esta posição porque somente uma pessoa pode ser titular de direitos... e o art. 2°, CC afirma que o nascituro tem direitos... logo, tendo direitos, ele já poderia ser considerado como tendo personalidade. A situação fica ainda mais definida (segundo os seguidores desta teoria) com o art. 542, CC que estabelece: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal”. Ainda assim, será uma “doação condicional”, pois somente se concretizará se o nascituro nascer com vida. Isso ocorrendo, receberá o direito, no entanto, as obrigações acompanham esse direito. Ou seja, ficará obrigado ao pagamento de impostos, como o da transmissão do bem (ITCMD, IPTU, etc.). Assim, mesmo sendo recém-nascido, houve o fato gerador (transmissão o bem), passando, a partir daí a ser sujeito passivo de obrigação tributária. Polêmicas à parte, o que se pode afirmar, sem medo de errar, é que o nascituro é titular de um direito eventual. Exemplo: homem falece deixando a esposa grávida. Não se pode concluir o processo de inventário e partilha enquanto a criança não nascer. O nascituro, nesta hipótese, tem direito ao resguardo à herança. Os direitos assegurados ao nascituro estão em estado potencial, sob condição suspensiva: só terão eficácia se nascer com vida. A representação do nascituro se dá por intermédio de seus pais. Nascendo com vida, as expectativas de direito se transformam em direitos subjetivos, retroagindo ao momento de sua concepção. � Mas há um problema, de ordem filosófica, religiosa e jurídica envolvendo o nascituro. Isto devido ao avanço da medicina, com as técnicas de fertilização in vitro. Indaga-se: qual o momento em que podemos usar o termo nascituro de uma forma técnica? Uma corrente afirma que a vida tem início legal no momento da penetração do espermatozoide no óvulo, mesmo que fora do corpo da mulher. Para outra corrente a vida somente teria início com a concepção no ventre materno (embora ainda não se possa considerar como sendo uma pessoa). Isto porque é com a nidação (fixação do óvulo fecundado DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 8 no útero) que se garante eventual gestação e o nascimento. Portanto somente será considerado como nascituro, o óvulo fecundado que for implantado no útero materno. Assim, o embrião humano congelado não poderia ser tido como nascituro, embora tenha proteção jurídica como pessoa virtual, com uma carga genética própria. Com o objetivo de regulamentar o art. 225, §1°, inciso II da CF/88, foi editada inicialmente a Lei n° 8.974/95, proibindo e considerando como crime a manipulação genética de células humanas, a intervenção em material genético humano e a produção, guarda e manipulação de embriões humanos destinados a servir como material biológico disponível. No entanto foi aprovada a Lei n° 11.105/05, dividindo opiniões: trouxe esperança para alguns e indignação para outros. Pela nova lei é permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro, desde que: a) sejam inviáveis, ou estejam congelados há três anos ou mais; b) haja consentimento dos seus genitores. �Importância de se nascer com vida � Como vimos, o nascituro tem expectativa de vida, sendo imprescindível que ele nasça vivo, nem que seja por um segundo. Se nascer vivo, adquire personalidade. Será um sujeito de direitos e obrigações. No entanto, caso nasça morto, nenhum direito terá adquirido e/ou transmitido. Observem. Demonstração Ordem de vocação hereditária 1. Descendentes (em concorrência com o cônjuge sobrevivente): filhos, netos, bisnetos, etc. 2. Ascendentes (em concorrência com o cônjuge sobrevivente): pais, avós, bisavós, etc. 3. Cônjuge sobrevivente. 4. Colaterais até o 4° grau: irmãos, sobrinhos, tios, primos, etc. Levando em consideração o quadro demonstrativo acima, suponhamos que X comprou um apartamento e a seguir se casou com Y pelo regime de separação parcial de bens. Faleceu um ano depois, deixando viúva grávida, pais vivos e apenas aquele apartamento para ser partilhado. Para saber quem será o proprietário do imóvel devemos aguardar o nascimento de Z. Não se pode fazer a partilha antes de seu nascimento. Vejamos as situações que podem ocorrer a partir daí. A B X Y Z DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 9 Situações 1) Se Z (filho de X - descendente) nascer morto, o apartamento irá para A e B, que são os pais (ascendentes) de X (observe o quadro da ordem de vocação hereditária). Neste caso Y (que é o cônjuge sobrevivente) também terá direitos sucessórios, pois atualmente é considerado herdeiro necessário e concorre com os ascendentes do falecido. 2) Se Z (descendente) nascer vivo, herdará o imóvel, em concorrência com sua a mãe Y, pois como vimos atualmente o cônjuge é considerado herdeiro necessário e também concorre na herança com os descendentesdo falecido. Observem que neste caso os pais de X nada herdarão. 3) Se Z nascer vivo e logo depois morrer, os bens irão todos para sua mãe. Isto porque inicialmente Z herdará parte dos bens de seu pai; no instante em que nasceu vivo, ele foi um ‘sujeito de direito’. Morrendo a seguir, transmite tudo o que recebeu a seus herdeiros. Como não tinha descendentes e nem cônjuge (até porque era recém-nascido) e seu pai já havia falecido, seu único herdeiro será o ascendente remanescente, ou seja, sua mãe. Neste caso A e B nada herdarão. É necessário dizer ainda, que todo nascimento deve ser registrado, mesmo que a criança tenha nascido morta ou morrido durante o parto. Se for natimorta, o assento será feito no “Livro C Auxiliar". Neste livro irá constar apenas: “o natimorto de Dona Fulana...”. Ou seja, pela nossa lei não se dá nome ao natimorto. No entanto, parte da doutrina entende que o “natimorto tem humanidade” e por isso teria direito a um nome. Sobre o tema, esclarece o Enunciado 01 da I Jornada de Direito Civil do STJ: “A proteção que o Código confere ao nascituro alcança o natimorto, no que concerne aos direito da personalidade, tais como o nome, imagem e sepultura”. Por outro lado, é inquestionável que se a criança nasceu viva e logo depois morreu (chegou a respirar), serão feitos dois registros: a) nascimento (constando o nome da criança, pois naqueles poucos segundos a criança teve personalidade); b) óbito. Observações 01) Durante nosso curso, às vezes, vamos mencionar a expressão “Jornadas do STJ”. Na realidade estas “jornadas” foram encontros de pessoas ligadas ao Direito Civil, promovidas pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, sob os auspícios do Superior Tribunal de Justiça em que foram aprovados alguns enunciados, que têm sido acolhidos pelo mundo jurídico. Quando nos referirmos a elas, vamos mencionar que jornada foi essa e o número do enunciado (como fizemos acima). DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 10 02) Segundo a doutrina, nascituro é uma expressão mais ampla do que feto, pois este seria o nascituro somente depois que adquiriu a forma humana. 03) É importante salientar que a expressão natimorto não é considerada juridicamente técnica. O vocábulo é composto pelas palavras latinas natus (nascido) e mortus (morto), não tendo previsão no Código Civil. Possui um duplo sentido. Os dicionários jurídicos conceituam o natimorto como sendo "aquele que nasceu sem vida (morreu dentro do útero) OU aquele que veio à luz, com sinais de vida, mas, logo morreu (morreu durante o parto)". Portanto, qualquer uma dessas situações está correta para conceituar natimorto. DIREITOS DA PERSONALIDADE (arts. 11 a 21, CC) Os direitos da personalidade são atributos inerentes ao ser humano. Adquirindo personalidade (aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações), o ser humano já adquire os chamados direitos da personalidade, ou seja, o direito de defender o que lhe é próprio, como sua integridade física ou corporal (vida, corpo, órgãos, voz, imagem, liberdade, identidade, alimentos, etc.), intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística e intelectual, etc.), moral (honra, segredo pessoal ou profissional, privacidade, imagem, opção religiosa, sexual, etc.). Os direitos da personalidade são subjetivos e seu titular pode exigir de todos que sejam respeitados. Por isso dizemos que eles são erga omnes (ou seja, extensíveis e oponíveis contra todos). Observem que a relação dos direitos da personalidade não é taxativa, mas apenas exemplificativa. Lembrem-se: a dignidade é um direito fundamental, previsto em nossa Constituição, que também prevê que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente dessa violação (confiram também o art. 5°, inciso X, CF/88). É interessante deixar claro uma nuance: os direitos fundamentais foram criados para proteger os indivíduos do Estado; tem origem e finalidade na necessidade de criar limites ao poder político na sua capacidade para ofender a pessoa como indivíduo e cidadão. Já os direitos da personalidade foram criados para proteger os indivíduos de si mesmos e de terceiros; são reconhecimentos da dignidade da pessoa. Estabelece o art. 11, CC que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Assim, nem mesmo o agente pode renunciar a estes direitos, colocando-se em uma situação de risco e renunciando expressamente qualquer indenização futura decorrente de uma DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 11 lesão a estes direitos. No entanto neste caso, levando-se em consideração o art. 945, CC, pode haver uma redução no valor da indenização. Sobre o tema, vejamos o Enunciado 04 da I Jornada de Direito Civil do STJ: “Art. 11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. Apesar do Código fazer referência a apenas três características a respeito do direito da personalidade (intransmissibilidade, irrenunciabilidade e impossibilidade do seu exercício sofrer limitação voluntária) a doutrina lhe dá maior extensão, afirmando que eles também são: • Inatos: os direitos da personalidade já nascem com o seu titular e acompanham até sua morte; alguns direitos ultrapassam o evento morte (honra, memória, imagem, direitos autorais, etc.). • Absolutos: são oponíveis contra todos (erga omnes), impondo à coletividade o dever de respeitá-los. • Intransmissíveis: pertencem de forma indissolúvel ao próprio titular. Neste tópico, cabe uma observação: embora estes direitos sejam intransmissíveis em sua essência, os efeitos patrimoniais dos direitos da personalidade podem ser transmitidos. Ex.: a autoria de uma obra literária é intransmissível; porém podem ser negociados os direitos autorais sobre esta obra. Outro exemplo: cessão da imagem mediante retribuição financeira. • Vitalícios: acompanham a pessoa desde seu nascimento até a morte. • Indisponíveis: não podem ser cedidos, a título oneroso ou gratuito a terceiros. • Irrenunciáveis: não podem ser abandonados nem abdicados; nem mesmo o seu titular pode abrir mão deles. • Imprescritíveis: valem durante toda vida, não correndo os prazos prescricionais; podem ser reclamados judicialmente a qualquer tempo; não se extinguem pelo não uso ou inércia de seu titular nem pelo decurso de tempo. • Impenhoráveis: se não podem ser objeto de cessão ou venda, também não pode recair penhora sobre os mesmos. • Inexpropriáveis: ninguém pode removê-los de uma pessoa, nem ser objeto de usucapião. ���Atenção ��� Já vi provas de concursos em que foram colocadas algumas das expressões acima nas alternativas e a afirmação foi considerada como errada. Isto porque apesar de serem consideradas corretas pela doutrina, não estavam previstas expressamente na lei. Portanto, cuidado... leiam bem o DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr12 cabeçalho da questão e comparem bem as alternativas. Se houver ambiguidade, fique com o texto expresso da lei. Vamos acompanhar os próximos dispositivos a respeito O art. 12 e seu parágrafo, CC prevê a possibilidade de exigir que cesse a ameaça ou a lesão a direito da personalidade, por meio de ação própria, sem prejuízo da reparação de eventuais danos materiais e morais suportados pela pessoa. Observem: cessar a ameaça ou lesão e perdas e danos. A lei prevê também a possibilidade de defesa do direito do morto, por meio de ação promovida por seus sucessores, ou seja, pelo cônjuge sobrevivente (embora não mencionado na lei, estende-se esse direito também aos companheiros), parentes em linha reta (descendentes ou ascendentes) e os colaterais até quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos, etc.). Percebe- se, assim, que os direitos da personalidade se estendem desde a concepção, para além da vida da pessoa natural, tutelando a personalidade do morto. Os parentes dele podem pedir indenização em nome próprio, se provarem que os efeitos do ato ilícito repercutiram também em suas pessoas. Ou seja, o ato envolve determinada pessoa (que no caso já faleceu), mas também pode causar sofrimento a outras pessoas a ela ligadas por estreitos laços de parentesco que não foram diretamente atingidas. É o que se chama de dano reflexo (ou por ricochete). O corpo, como projeção física da individualidade humana, é inalienável. O art. 13 e seu parágrafo único, CC prevê o direito de disposição de partes, separadas do próprio corpo em vida para fins de transplante, ao prescrever que, “salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. A interpretação deste dispositivo, a contrário senso, permite concluir que o ato de disposição que não acarreta diminuição permanente da integridade física e não atenta contra os bons costumes é permitido, como a disposição (ainda que onerosa) de cabelo e unhas (segundo fiquei sabendo o famoso “Zé do Caixão” leiloou suas unhas). Acrescente-se, ainda, a doação de sangue e leite materno. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial (conferir com o art. 199, §4°, CF/88). Em hipótese alguma será admitida a disposição onerosa de órgãos, partes ou tecido do corpo humano. É possível, também, com objetivo científico ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, podendo essa disposição ser revogada a qualquer momento (art. 14 e seu parágrafo único, CC). DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 13 Resumindo. A disposição sobre o próprio corpo: a) é proibida quando importar diminuição permanente da integridade física (salvo por exigência médica), ou contrariar os bons costumes; b) é válida se não importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes; c) é válida com o objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, ou, em vida, para fins de transplante. Lembrando que o Código Civil adotou o chamado princípio do consenso afirmativo (termo usado pela doutrina e que caiu em alguns concursos), segundo o qual o titular do direito pode manifestar sua vontade em ser doador de órgãos, mas a qualquer tempo pode revogar esta intenção. ���OBSERVAÇÃO��� A Lei 9.434/97 (regulamentada pelo Decreto 2.268/97 e posteriormente alterada pela Lei 10.211/01) trata do assunto, estabelecendo as regras para transplantes. Permite-se a doação voluntária nas seguintes hipóteses: a) órgãos duplos (rins) e b) partes recuperáveis de órgão (fígado) ou de tecido (pele, medula óssea), sem que sobrevenham mutilações ou deformações. O art. 15, CC trata do direito do paciente, proibindo que uma pessoa seja constrangida a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Trata-se do princípio da autonomia do paciente (ou consentimento esclarecido). Não há mais a chamada supremacia do interesse médico-científico, que se invocava em nome da coletividade, em face ao interesse individual. Atribui-se à pessoa a opção ao tratamento médico ou intervenção cirúrgica para corrigir ou atenuar determinado mal ou doença. Todo procedimento médico deve ser precedido de esclarecimentos e concordância do paciente. O direito não pertence ao médico, à ciência, ou à família, mas, exclusivamente, ao paciente que após ser informado do seu estado de saúde e das alternativas terapêuticas, decidirá se se submete ou não ao tratamento ou à intervenção cirúrgica. Mesmo que saiba ou tenha consciência de que isso abreviará a sua expectativa da vida. Excetuam-se algumas hipóteses (ex.: a pessoa não consegue expressar a sua vontade) em que o direito se desloca para a família do enfermo. E em situações extremas, à presença do estado de necessidade, em evidente risco de vida, pode o médico realizar a intervenção necessária sem o consentimento de quem de direito. Notem agora que os artigos de 16 a 19 do Código Civil tutelam o direito ao nome (falaremos sobre ele logo adiante, em um item especial) e contra o atentado de terceiros, expondo-o ao desprezo público, ao ridículo, acarretando dano moral ou patrimonial. O art. 20, CC tutela, de forma autônoma, o direito à imagem e os direitos a ele conexos. Esse direito é tão importante que a própria Constituição Federal também trata do tema, assegurando a inviolabilidade da imagem e prevendo indenização para o caso de violação (art. 5°, incisos X e XXVIII, letra DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 14 “a”, CF/88). Divide-se em: a) imagem-retrato: é a representação física da pessoa, implicando o reconhecimento de seu titular por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura, interpretação dramática, cinematográfica, televisiva, sites, etc.; b) imagem-atributo: refere-se ao conjunto de caracteres e qualidades cultivadas pela pessoa, como a habilidade, competência, lealdade, etc.; é a repercussão social da imagem. A redação do dispositivo é um pouco confusa. E os examinadores aproveitam isso para exigir questões sobre o tema. Por isso, vamos aprofundar. O direito à imagem se refere ao direito de ninguém ver seu rosto estampado em público ou comercializado sem seu consenso e o de não ter sua personalidade alterada, material ou intelectualmente, causando dano à sua reputação. Como normalmente ocorre, há certas limitações ao direito de imagem, com dispensa da anuência para sua divulgação. Vejamos algumas situações: a) pessoas famosas (ex.: artistas, políticos, etc.), pois elas têm sua imagem divulgada em razão de sua atividade; mas mesmo assim, não pode haver abusos, pois a sua vida íntima deve ser preservada; b) necessidade de divulgação da imagem por questões de segurança pública (ex.: publicação da fotografia de um perigoso marginal procurado pela polícia); c) quando se obtém uma imagem, mas a pessoa é tão somente parte do cenário, pois o que se pretende divulgar é o acontecimento em si (ex.: um congresso, uma exposição de objetos de arte, a inauguração de uma obra pública, um hotel ou um restaurante, reportagens sobre tumultos, enchentes, shows, etc.). Há diversas decisões de que não cabe direito de imagem em fotografia de acontecimento carnavalesco, pois a pessoa que deleparticipa, de certa forma, “renuncia a sua privacidade”. Na prática todas estas questões são delicadas. Caberá ao Juiz, diante de um caso concreto, decidir se houve abuso e se há direito à indenização. Recomendamos o aluno, para fins de concurso, novamente se ater ao texto legal. O titular de um direito de personalidade, quando este for violado, poderá pleitear reparação de danos morais e patrimoniais. E se ele já for falecido o direito será exercido pelo cônjuge, ascendente ou descendente (trata-se do art. 20, parágrafo único, CC). Ficou famoso um caso em que uma empresa elaborou um “álbum de figurinhas” estampando a fotografia de jogadores de futebol. Como no caso havia o intuito de lucro da empresa e não houve o consentimento dos atletas, concluiu-se que foi uma prática ilícita, sujeita à indenização. Súmulas à esse respeito: Súmula 221 do STJ: ”São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação”. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 15 Súmula 403 do STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. Finalmente, no art. 21, CC, nossa legislação tutelou o direito à intimidade (art. 5°, X, CF/88), prescrevendo que a vida privada da pessoa natural é inviolável (ex.: inviolabilidade de domicílio, de correspondência, bancário, conversas telefônicas, etc.), prevendo a possibilidade de se requerer medidas visando a proteção (impedir ou fazer cessar) dessa inviolabilidade. ���OBSERVAÇÕES��� 01) Recomendamos o aluno uma atenção especial comparativa entre os arts. 12 e 20, CC. Observem que o art. 12 é mais genérico (direitos da personalidade em geral) e o art. 20 é específico em relação ao direito de imagem, sendo que neste os colaterais foram excluídos. Além disso, embora o dispositivo não especifique, entende a doutrina que o companheiro(a) também é parte legítima. 02) O Código Civil não exauriu a matéria referente aos direitos da personalidade. O tratamento é bem genérico e a enumeração exposta é meramente exemplificativa, deixando margem para que se estenda a proteção a situações não previstas expressamente, acompanhando, assim, a rápida evolução dos costumes do mundo atual. 03) Segundo a jurisprudência do STJ, se houver violação aos direitos da personalidade (intimidade, imagem, honra, etc.) é devida indenização também por danos morais, pois estes são presumidos (não é necessária a prova do dano moral) pela simples violação ao bem jurídico tutelado. Exemplo clássico: a inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro de proteção ao crédito implica violação a direito da personalidade, uma vez que tem maculada sua honra e imagem perante a sociedade. O dano moral, nesse caso, é presumido e, portanto, não precisa ser provado. No entanto, é de se acrescentar que um mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ele se dirige. 04) Embora agora não seja o momento de aprofundar, mas é interessante deixar claro que a Pessoa Jurídica também pode ser titular de direitos da personalidade no tange à honra, imagem e nome, pois o art. 52, CC estabelece que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 16 INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL Individualiza-se a pessoa natural de três formas: nome, estado e domicílio. Vejamos cada um deles. A) NOME Desde os primórdios da humanidade, o nome serve como sinal exterior identificador, pelo qual se designa e se reconhece uma pessoa, apresentando peculiaridades nos diferentes povos, influenciando diretamente a vida de cada pessoa desde seu nascimento até o fim da personalidade, inclusive com reflexos após a morte. É pelo nome que ela fica conhecida no seio da família e da comunidade em que vive. O nome é regulado pelo Código Civil e pela Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). Prevê o art. 16, CC que toda pessoa tem o direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome. Trata-se de direito inalienável (não pode ser vendido), imprescritível (não correm prazos prescricionais) e personalíssimo, essencial para o exercício de direitos e cumprimento das obrigações. Há uma proteção especial da lei em relação ao nome, mediante as ações judiciais. A lei protege a honra da pessoa, proibindo que o seu nome seja usado ou empregado em situações agressivas à intimidade de quem se vê exposto à veiculação pública que provoque depreciação ética, moral ou jurídica, mesmo que a intenção na publicação ou representação não revele intuito difamatório (art. 17, CC). O nome é um direito da personalidade. Trata-se de matéria de ordem pública (o Ministério Público intervém em todos os procedimentos judiciais ou administrativos), que também é conferido às pessoas jurídicas, pois estas também têm direito ao nome. Relevância Para os cidadãos: em suas relações intraparticulares. Para o Estado: necessidade de particularizar os indivíduos da sociedade. Elementos constitutivos do nome • Prenome é o nome individual, próprio da pessoa, que pode ser simples (ex.: João, José, Rodrigo, Laura, Aparecida, etc.) ou composto (ex.: José Carlos, Antônio Pedro, Ana Maria, etc.). Tratando-se de gêmeos com o mesmo nome, a lei de registros públicos exige que seja um prenome composto diferenciado. • Patronímico ou Sobrenome (nome de família ou apelido de família) identifica a procedência da pessoa, o tronco familiar do qual provém, indicando sua filiação ou estirpe, podendo também ser simples ou composto. Atualmente, pelo princípio constitucional da igualdade, não há uma ordem rigorosa na colocação do sobrenome (pode ser primeiro do pai ou da mãe). DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 17 • Agnome é o sinal distintivo entre pessoas da mesma família com nomes iguais, que se acrescenta ao nome completo (ex.: Júnior, Filho, Neto, Sobrinho, II, III, etc.). O pseudônimo (que significa em latim “nome falso”) ou codinome consiste no nome atrás do qual se abriga um autor de obra cultural ou artística, para o exercício desta atividade específica (ex: cantor, ator, autor de um livro, etc.). Um exemplo clássico é o de Malba Tahan, famoso escritor de contos, lendas e costumes árabes. Quem não leu “O Homem que Calculava”? E as “Lendas do Deserto”? ... Muitos pensavam que ele era árabe de tanto que conhecia e escrevia sobre o tema. Mas ele foi “brasileiríssimo”; era um professor de matemática chamado Júlio César de Mello e Souza, que usava este pseudônimo. A lei de direitos autorais já consagrava o pseudônimo como um direito moral do autor. Agora consta, de forma expressa, como um direito inerente à personalidade do autor (art. 19, CC), gozando da mesma proteção que se dá ao nome, quando usado para finalidades lícitas. Lembrando, que no exercício livre damanifestação do pensamento, veda-se o anonimato (art. 5°, inciso IV da CF/88). Questão interessante é a do heterônimo. Esta é uma palavra de origem grega que indica “outros nomes”. Conceitualmente é diferente de pseudônimo, pois o heterônimo indica diversas personalidades de uma mesma pessoa. O exemplo clássico é de Fernando Pessoa (Fernando Antônio Nogueira Pessoa), que usou diversos heterônimos, como Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alexander Search (que só escrevia em inglês) entre outros, cada um com uma espécie de abordagem e maneira de escrever, com tendências e características distintas e peculiares. Fernando Pessoa também chegou a criar semi-heterônimos (quando o heterônimo tem características semelhantes ao seu próprio criador) como Bernardo Soares, Barão de Teive, Vicente Guedes, José Pacheco, Pero Botelho, Antônio Mora, entre outros. Coisa de gênio... Em relação ao nome há outros elementos facultativos como: a) nome vocatório: designação pela qual a pessoa é conhecida (ex: Aghata Cristie no lugar de Dame Agatha Mary Clarissa Miller Cristie Mallowan; Pontes de Miranda no lugar de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, etc.); b) axiônimo: designação que se dá à forma cortês de tratamento ou à expressão de reverência (ex: Excelentíssimo, Professor, Doutor, ou que representam os títulos de nobreza ou eclesiásticos: Duque, Visconde, Bispo, Monsenhor, etc.); c) alcunha (ou epíteto) é o apelido, geralmente tirado de uma particularidade física, moral ou de uma atividade (ex.: Tiradentes, Zé do Caixão, etc.). Vocês sabiam que o nome correto do Cazuza é Agenor de Miranda Araújo Neto?; d) hipocorístico: são os diminutivos (ex.: Zezinho, Glorinha, Cidinha, etc.). Não tenho visto estas expressões caírem em concursos. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 18 ���Já caiu em concurso: a proteção do pseudônimo de autor de obra artística, literária ou científica necessita de registro? Resposta: Não! Primeiro porque o art. 19, CC não faz esta exigência. Segundo porque a própria Lei de Direitos Autorais (Lei n° 9.610/98) estabelece em seu art. 18 que: “A proteção aos direitos de que trata esta lei independe de registro”. Em regra o nome é imutável. No entanto o princípio da inalterabilidade do nome sofre diversas exceções em casos justificados. A lei e a jurisprudência admitem a retificação ou a alteração de qualquer dos seus elementos. No entanto na prática há um maior rigor quanto à modificação do prenome e um menor rigor em relação ao sobrenome. A propósito, vejam a alteração que a Lei n° 9.708/98 fez na Lei de Registros Públicos (LRP – Lei n° 6.015/73), em especial no art. 58: “O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”. O parágrafo único deste mesmo dispositivo estabelece outra possibilidade: “A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de Juiz competente, ouvido o Ministério Público”. Outro exemplo é o previsto no art. 56 da própria LRP que permite que o interessado, no primeiro ano, após completar a maioridade civil, altere seu nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa (trata-se da única hipótese legal em que a alteração do nome não precisa ser motivada). No entanto o art. 57 determina que qualquer alteração posterior de nome, somente será feita por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, e por sentença do Juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração na imprensa. Vejamos outras situações: • quando expuser seu portador ao ridículo ou situações vexatórias. • quando houver evidente erro gráfico (ex.: Nerson, Osvardo, etc.). • quando causar embaraços comerciais e/ou morais trata-se da homonímia (ou homônimo). • com uso prolongado e constante de um nome diverso do que figura no registro admite-se a alteração do nome adicionando-se o apelido ou alcunha (ex.: Edson Pelé Arantes do Nascimento, Luiz Inácio Lula da Silva, etc.). • com o casamento – atualmente o art. 1.565, §1°, CC permite que qualquer dos nubentes acrescente ao seu, o sobrenome do outro. • com a união estável a lei permite que os conviventes adotem o patronímico de seus parceiros, desde que haja concordância recíproca. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 19 • acréscimo de sobrenome de padrasto ou madrasta (art. 57, §8° LRP: parágrafo inserido pela Lei n° 11.924/09 – “Lei Clodovil Hernandez”): depende de autorização judicial e deve haver o consentimento do padrasto ou madrasta. Importante: a pessoa que modificou o seu nome, para acrescer o do padrasto ou madrasta, continua a ser filho de seus pais, de quem irá suceder e reclamar alimentos e demais efeitos jurídicos. O fundamento do dispositivo legal é o afeto entre as partes. • adoção, reconhecimento de filho, divórcio, serviço de proteção de vítimas e testemunhas (sentença do juiz, após ouvir o Ministério Público: coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime), tradução de nomes estrangeiros, etc. Um fato muito interessante e atual tem sido o caso do transexual. Uma pessoa pode ter a forma de um sexo (ex: masculino), mas a mentalidade de outro (feminino). Notem que esta é uma situação diferente da do homossexual, pois este se sente atraído pela pessoa do mesmo sexo, mas não tem intenção de mudar de sexo. A jurisprudência vem acompanhando as modificações havidas nesta área. Atualmente há a possibilidade de cirurgia para a mudança de sexo em nosso País. Chama-se de transgenitalização a cirurgia para adaptar o corpo (sexo biológico) à mente (sexo psíquico) da pessoa. Atualmente há inúmeras decisões judiciais garantindo o direito dos transexuais de realizar a cirurgia de transgenitalização pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O Conselho Federal de Medicina reconhece o transexualismo como um “transtorno de identidade sexual” e a cirurgia como uma solução terapêutica. Para tanto, editou a resolução 1652 autorizando as cirurgias de mudança de sexo, mas isto depende muito de caso para caso e de um acompanhamento médico e psicológico multidisciplinar. A cirurgia traz reflexos na possibilidade de retificação do assento de nascimento. Não só no que diz respeito ao nome (prenome), mas também no que concerne ao sexo (pois se trata de um estado individual, informado pelo gênero biológico). Em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu deve ser expedida uma nova certidão civil, sem que nela conste qualquer anotação sobre a decisão judicial e nem mesmo o termo “transexual”. Isto porque tais observações na certidão significariam na continuidade da exposição da pessoa a situações constrangedoras e discriminatórias. No entanto, a informação de que o nome e o sexo foram alterados judicialmente deve ser mantida nos livros cartorários, para não induzir terceiro de boa-fé em erro quando da habilitação de eventual e futuro casamento. Há quem sustente que nem esta informação deve ser mantida. Pergunta-se: e se o transexual casar sem revelar o fato de ser operado? O casamento será realizado da mesma forma, mas poderá ocorrer a anulação do casamento em razão do erro quanto à pessoa. Hipoteticamentefalando, teríamos uma possibilidade de caracterização do erro quanto à pessoa do cônjuge. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 20 A propósito, sobre o tema, recentemente vi cair em um exame da OAB do Distrito Federal a seguinte assertiva, sendo a mesma considerada como verdadeira: “aquelas pessoas portadoras de uma incontrolável compulsão pela amputação de um membro específico de seu corpo, em razão do desconforto de estarem presos em um corpo que não corresponde à verdadeira identidade física que gostaria de ter, denominam-se wannabes”. Tenho para mim que esta expressão deve derivar do inglês “wanna” (to want = querer) e “be” (to be = ser). Ou seja, querer ser algo que não é. Confesso que nunca tinha visto ou ouvido esta expressão anteriormente. Aprendi resolvendo a questão. Vivendo e aprendendo... B) ESTADO O estado é definido como sendo o modo particular de existir, ou seja, a soma de qualificações de uma pessoa na sociedade. Apresenta três aspectos: Individual (ou físico) refere-se às características pessoais: idade, sexo, saúde mental e física, altura, peso, etc. Familiar indica a situação que a pessoa ocupa na família: a) quanto ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado); b) quanto ao parentesco consanguíneo (pai, mãe, filho, avô, irmão, primo, tio, etc.); c) quanto à afinidade (sogro, sogra, genro, nora, cunhado, etc.). Político identifica a pessoa a partir do local em que nasceu ou de sua condição política dentro de um País: nacional (nato ou naturalizado), estrangeiro, apátrida. Obs.: já vi cair em concurso o termo heimatlos. Trata-se de uma expressão de origem alemã que significa apátrida (pessoa que não é considerado nacional por qualquer País). O estado é regulado por normas de ordem pública. É irrenunciável, pois não se pode renunciar aquilo que é uma característica pessoal. É uno e indivisível, pois ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e menor, etc. Por ser um reflexo da personalidade, é inalienável, não podendo ser objeto de comércio. Trata-se de um direito indisponível (não se transferem as características pessoais) e imprescritível (o decurso de tempo não faz com que se percam as qualificações pessoais). As ações tendentes a afirmar, obter ou negar determinado estado, também são chamadas de ações de estado (ex.: investigação de paternidade, divórcio, etc.), sendo consideradas personalíssimas. C) DOMICÍLIO O conceito de domicílio (domus, em latim, significa casa) surge da necessidade legal que se tem de fixar as pessoas em determinado ponto do território nacional, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Exemplo: vou ingressar com uma ação judicial! Onde essa ação DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 21 será proposta? Resposta: em regra no domicílio do réu. E se uma pessoa morre, onde deve ser proposta a ação de inventário? Resposta: no último domicílio do “de cujus” (falecido). E assim por diante... O conceito de domicílio está sempre presente em nosso dia-a-dia, mesmo que não percebamos. Inicialmente, devemos fazer a seguinte distinção: a) Moradia ou habitação: é o local onde a pessoa se estabelece provisoriamente, sem ânimo de permanecer; é uma relação bem frágil entre uma pessoa e o local onde ela está (ex: alugar uma casa de praia por um mês, aluno que ganha uma bolsa de estudos por três meses na França, casa usada apenas para ficar nos fins de semana, feriados ou férias, etc.). b) Residência: é o lugar em que o indivíduo se estabelece habitualmente, com a intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente; trata-se de uma situação de fato. c) Domicílio: é a sede da pessoa, tanto física como jurídica, onde se presume a sua presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. É o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo de permanecer (art. 70, CC), convertendo-o, em regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade pessoal; trata-se de um conceito jurídico. Por isso está previsto em diversos dispositivos esparsos em nossa legislação. Vejamos alguns: art. 7°, LINDB: A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. art. 327, CC: o pagamento, de uma forma geral, deve ser feito no domicílio do devedor (se o contrário não estiver previsto no contrato). art. 1.785, CC: a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. art. 94, Código de Processo Civil: a ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. O domicílio possui dois elementos a) Objetivo: é o estabelecimento físico da pessoa; a fixação da residência. b) Subjetivo: é a intenção, o ânimo de ali permanecer em definitivo (a doutrina chama isso de animus manendi). Se uma pessoa viajou de férias para a praia, evidentemente que seu domicílio não foi alterado, pois falta a intenção de permanecer definitivamente neste local. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 22 ���Regra Básica: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a residência com ânimo definitivo (art. 70, CC). É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida (art. 72, CC). Outras Regras A) Domicílio Familiar: uma pessoa pode residir em mais de um local, tomando apenas um como sendo o centro principal de seus negócios; este local então será o seu domicílio. Mas se a pessoa tiver várias residências, onde alternadamente viva, sem que se possa considerar uma delas como sendo o seu centro principal, o domicílio pode ser qualquer delas →→→ o Brasil adotou o sistema da pluralidade domiciliar (art. 71, CC). B) Pode ocorrer que uma pessoa não tenha uma residência habitual; ela não tem um ponto central de negócios. O exemplo clássico é o dos circenses e ciganos que a cada momento estão em uma localidade diferente (a doutrina os chama de adômidas). O domicílio destas pessoas então será o lugar onde elas forem encontradas (art. 73, CC). É o chamado domicílio aparente ou ocasional. Trata-se de uma ficção jurídica, uma hipótese de aplicação da Teoria da Aparência, pois todo sujeito necessita de um local para ser encontrado e ter um domicílio. C) Domicílio profissional: o art. 72, CC considera como domicílio para efeitos profissionais o lugar onde a atividade é desenvolvida: “É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem”. D) Mudança de domicílio: muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar (art. 74, CC). Esta intenção pode ser aferida por alguma conduta da pessoa: matricular o filho e um novo colégio, abertura de conta bancária com novo endereço,transferir linha telefônica e assinatura de TV a cabo, etc. Observação: como se percebe a pessoa natural pode possuir duas modalidades de domicílio: o familiar e o profissional. E, diante da pluralidade domiciliar, ela pode ter dois domicílios familiares, ou dois profissionais, ou um familiar e outro profissional, ou um familiar e dois profissionais, etc. ESPÉCIES DE DOMICÍLIO 1) Domicílio Voluntário escolhido livremente pela própria vontade do indivíduo e por ele pode ser modificado (geral: art. 70, CC) ou estabelecido conforme interesses das partes em um contrato (especial: art. 78, CC). DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 23 2) Domicílio Legal (ou necessário) é o que decorre da lei em razão da condição ou situação de certas pessoas. Deixa de existir a liberdade de escolha do domicílio. Observem o art. 76, CC. Assim: Incapazes (qualquer tipo de incapacidade): os incapazes têm por domicílio o de seus representantes legais (pais, tutores ou curadores). A doutrina costuma chamar de domicílio de origem aquele que o filho adquire ao nascer ou enquanto ele estiver sob o poder familiar. Servidor Público: seu domicílio é o lugar onde exerce permanentemente sua função (cuidado: não se aplica ao servidor público de função temporária). Militar em serviço ativo: o domicílio do militar do Exército é o lugar onde está servindo; o da Marinha ou da Aeronáutica é a sede do comando a que se encontra imediatamente subordinado. Aplica-se este dispositivo, por analogia, também aos Policiais Militares estaduais (cuidado: se o militar está reformado (aposentado) não tem mais domicílio necessário por este motivo). Preso: é o lugar onde a pessoa cumpre a sentença (cuidado: não se aplica ao preso provisório; é necessário que haja uma decisão condenatória). Marítimos (são os oficiais e tripulantes da marinha mercante, chamados de “marinheiros particulares”): marinha mercante é a que se ocupa do transporte de passageiros e mercadorias. O domicílio legal é no lugar onde o navio estiver matriculado (cuidado: os examinadores gostam de colocar como alternativa errada: “lugar onde o navio estiver ancorado”). ��� Observações ��� 01) Para quem gosta de processos de memorização: PIS-M² (preso, incapaz, servidor, militar e marítimo). 02) O art. 77, CC ainda traz uma situação especial para o Agente Diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alega extraterritorialidade, sem indicar seu domicílio no país. Neste caso poderá ser demandado no Distrito Federal ou no seu último domicílio. O domicílio voluntário especial merece um destaque à parte. Segundo a doutrina ele pode ser subdividido: a) domicílio contratual (art. 78, CC): local especificado no contrato para o cumprimento das obrigações dele resultantes; b) domicílio (ou foro) de eleição ou cláusula de eleição de foro (previsto no art. 111 do Código de Processo Civil): escolhido pelas partes para a propositura de ações relativas às obrigações. Quando se tratar de ação que verse sobre imóveis a competência é a da situação da coisa. Há uma forte corrente jurisprudencial negando o foro de eleição nos contratos de DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 24 adesão, “quando constitui um obstáculo à parte aderente, dificultando-lhe o comparecimento em juízo”. Trata-se de uma orientação do STJ, que entende ser cláusula abusiva, pois ela prejudica o consumidor, uma vez que o obriga a responder ação judicial em local diverso de seu domicílio (“é nula a cláusula que não fixar o domicílio do consumidor”). Lembrando que contrato de adesão (ou por adesão) é aquele que já está pronto, elaborado de forma unilateral. Ou você assina (adere) o contrato da forma como que ele foi redigido ou o mesmo não sai. Não é possível ficar discutindo cláusulas contratuais. Por tal motivo a tendência é não ser possível colocar o foro ou domicílio de eleição no contrato (até porque ele não foi eleito; foi imposto por uma das partes). Domicílio Pessoa Natural – Resumo Regra = lugar onde estabelecer residência com ânimo definitivo (muda-se o domicílio transferindo a residência). Quando possui diversas residências = qualquer delas será o domicílio. Quanto às relações concernentes à profissão = lugar onde a profissão é exercida. Quanto às relações concernentes à profissão em lugares diversos = cada um deles constituirá domicílio. Sem residência habitual = lugar onde for encontrada. Agente diplomático do Brasil citado no estrangeiro = poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve. Domicílio Necessário Incapaz = representante ou assistente. Servidor público = onde exercer permanentemente suas funções. Militar (em geral) = onde servir. Militar da Marinha ou Aeronáutica = sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado. Marítimo = onde o navio estiver matriculado. Preso = onde estiver cumprindo a sentença. FIM DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL Como vimos o início da personalidade se dá com o nascimento com vida, acompanhando o indivíduo durante toda a sua vida. E termina com o fim da DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 25 existência da pessoa natural, ou seja, com a morte (art. 6°, CC). Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigações de natureza personalíssima (ex.: dissolução do vínculo matrimonial, relação de parentesco, etc.). Já os direitos não personalíssimos (em especial os de natureza patrimonial) são transmitidos aos seus sucessores. Num sentido genérico podemos dizer que há três espécies de morte: a) real; b) civil; c) presumida. A doutrina acrescenta também a hipótese da Lei n° 9.140/95 que reconheceu como mortos, para todos os efeitos legais (morte legal), os “desaparecidos políticos”. MORTE REAL A personalidade civil termina com a morte física, deixando o indivíduo de ser sujeito de direitos e obrigações. A morte, portanto, é o momento extintivo da personalidade. A morte real se dá com o óbito comprovado da pessoa natural. Tradicionalmente isso ocorre com a parada total do aparelho cardiorrespiratório. No entanto, a comunidade científica mundial, assim como o Conselho Federal de Medicina, tem afirmado que o marco mais seguro para se aferir a extinção da pessoa física é a morte encefálica, inclusive para efeito de transplante (Lei n° 9.434/97 – Lei de Transplantes). Isso porque a morte encefálica é irreversível. Inicialmente exige-se um atestado de óbito (para isso é necessário o corpo) que irá comprovar a certeza do evento morte, devendo o mesmo ser lavrado por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina. Na ausência deste, a Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) permite que a declaração de óbito possa ser feita por duas testemunhas. Com este documento é lavrada a certidão de óbito, por ato do oficial do registro civil de pessoa natural, sendo esta a condição para o sepultamento. MORTE CIVIL A morte civil era a perda da personalidade em vida. A pessoa estava viva, mas era tratada como se estivesse morta. Geralmenteera uma pena aplicada a pessoas condenadas criminalmente, em situações especiais. Atualmente, pode-se dizer ela não existe mais. No entanto, há resquícios de morte civil. Ex.: exclusão de herança por indignidade do filho, “como se ele morto fosse” (observem esta expressão no art. 1.816, CC); embora viva, a pessoa é ignorada para efeitos de herança. MORTE PRESUMIDA Ocorre quando não se consegue provar que houve a morte real. Nosso direito prevê duas formas distintas para os casos em que não há a constatação fática da morte (ausência de corpo): Art. 6°, CC: morte presumida com declaração de ausência. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 26 Art. 7°, CC: morte presumida sem declaração de ausência. A) Art. 6°, CC É uma situação mais complexa, pois exige a declaração de ausência, que está prevista nos arts. 22 a 39, CC. Ausência é o desaparecimento de uma pessoa do seu domicílio. A pessoa deixa de dar notícias de seu paradeiro por um longo período de tempo, sem nomear um representante (procurador) para administrar seus bens (art. 22, CC). Os efeitos da morte presumida são patrimoniais (protege-se o patrimônio do ausente) e alguns pessoais (ex.: o estado de viuvez do cônjuge do ausente). A ausência só pode ser reconhecida por meio de um processo judicial composto de três fases: a) curadoria de ausentes; b) sucessão provisória; c) sucessão definitiva. Vejamos cada uma delas. PRIMEIRA FASE: DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA. Art. 22, CC. Ausente uma pessoa, qualquer interessado na sua sucessão (e até mesmo o Ministério Público) pode requerer ao Juiz a declaração de ausência e a nomeação de um curador, obedecendo a ordem do art. 25, CC. Trata-se do velho exemplo do sujeito que saiu de casa para comprar um maço e cigarros ou foi pescar e não voltou mais... Ele pode ter morrido mesmo... como pode simplesmente ter “fugido de casa”. Ele deixou esposa, filhos, alguns bens em seu nome, contas para pagar... E agora? Não se pode deixar tudo e aberto... A solução é ingressar com essa medida judicial. Trata-se da curadoria dos bens do ausente. Seus bens são arrecadados e entregues a um curador apenas para os mesmos sejam administrados (não há efeitos pessoais). Durante um ano (no caso do ausente não deixar representante ou procurador) ou três anos (na hipótese em que ele deixou um representante) devem-se expedir editais convocando o ausente para retomar a posse de seus haveres. Com a sua volta opera-se a cessação da curatela, o mesmo ocorrendo se houver notícia de seu óbito comprovado. Não retornando ao lar nestes prazos, passamos para a fase seguinte. SEGUNDA FASE: SUCESSÃO PROVISÓRIA. Art. 26, CC. Se o ausente não comparecer no prazo (um ou três anos, dependendo da hipótese), poderá ser requerida e aberta a sucessão provisória e o início do processo de inventário e partilha dos bens. No processo de ausência a sentença do Juiz é dada logo no início do processo, para que se inicie a sucessão provisória. Mas esta sentença determinando a abertura da sucessão ainda não produz efeitos de imediato. O art. 28, CC prevê uma cautela a mais. Ou seja, concede um prazo de mais 180 dias para que o ausente reapareça e tome conhecimento da sentença que determinou a abertura da sucessão provisória de seus bens. Assim, a sentença somente irá produzir efeitos 180 dias após sua publicação na imprensa. Trata-se, digamos, de uma “última chance” que se dá ao ausente. Após este prazo, a ausência passa a ser presumida. Nesta fase cessa DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 27 a curatela dos bens do ausente. É feita a partilha dos bens deixados e agora são os herdeiros (e não mais aquele curador), de forma provisória e condicional que irão administrar os bens, prestando caução (ou seja, dando garantias de que os bens serão restituídos no caso do ausente aparecer). Se estes herdeiros forem descendentes, ascendentes ou cônjuge do ausente, não precisam prestar caução. Nesta fase os herdeiros ainda não têm a propriedade; exercem apenas a posse dos bens do ausente. Apenas se antecipa a sucessão, sem delinear definitivamente o destino dos bens desaparecido. Por isso os sucessores ainda não podem vender os bens. Os imóveis somente podem ser vendidos com autorização judicial. A sucessão provisória é encerrada se o ausente retornar ou se comprovar a sua morte real. Convém acrescentar que o descendente, o ascendente e o cônjuge (herdeiros necessários) que forem sucessores provisórios do ausente e estiverem na posse dos bens terão direito a todos os frutos e rendimentos desses bens. Ex.: Uma pessoa foi considerada “ausente”; era proprietário de duas casas e uma fazenda. Seu filho entrou na posse dos bens: mora em uma das casas, alugou a outra e tornou a fazenda extremamente produtiva. Se seu pai retornar posteriormente, o filho não será obrigado a restituir os aluguéis que recebeu com a casa e nem o que lucrou explorando a fazenda. Já os demais sucessores (ex.: irmãos, tios, sobrinhos, etc.) terão direito somente à metade destes frutos ou rendimentos. TERCEIRA FASE: SUCESSÃO DEFINITIVA. Art. 37, CC. Após 10 (dez) anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória, sem que o ausente apareça, será declarada a morte presumida. Nesta ocasião converte-se a sucessão provisória em definitiva. Os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo a propriedade plena (ou o domínio) e a disposição dos bens recebidos. Porém esta propriedade é considerada resolúvel. Isto é, se o ausente retornar em até 10 (dez) anos seguintes à abertura da sucessão definitiva terá direito aos bens, mas no estado em que se encontrarem. Ou então terá direito ao preço que os herdeiros houverem recebido com sua venda. Se regressar após esse prazo (portanto após 21 anos do início do processo), não terá direito a mais nada. É interessante acrescentar que o art. 38, CC possibilita se requerer a sucessão definitiva provando-se que o ausente conta com 80 anos de idade e que de cinco datam as últimas notícias dele. É nesta fase (na sucessão definitiva, ou seja, até 10 anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória) que também se dissolve a sociedade conjugal, considerando-se rompido o vínculo matrimonial. É o que prevê o art. 1.571, §1° do CC. Neste caso o cônjuge será considerado viúvo (torna-se irreversível a dissolução da sociedade conjugal), podendo se casar novamente. DIREITO CIVIL – AUDITOR TRIBUTÁRIO (ICMS/DF) AULA 01 – PESSOA NATURAL PPPrrrooofff... LLLaaauuurrrooo EEEssscccooobbbaaarrr 28 No entanto este cônjuge não precisa esperar tanto tempo para se casar novamente. Mesmo antes de ser considerado viúvo ele pode ingressar com um pedido de divórcio. Até porque, com a edição da Emenda Constitucional n° 66/2010, tudo ficou muito mais simples, sem a necessidade de se ingressar primeiro com a separação judicial e aguardar prazos. E, divorciada, a pessoa já está livre para convolar novas núpcias. Resumindo a) Ausência (curadoria dos bens do ausente): 01 ou 03 anos, dependendo da hipótese (com ou sem representante), arrecadando-se os bens que serão administrados por um curador. b) Sucessão Provisória: é feita a partilha
Compartilhar