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1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Departamento de Mecânica e Materiais Engenharia Mecânica Disciplina: Processos de Fabricação Mecânica RELATÓRIO DE FUNDIÇÃO São Luís – MA 2016 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Departamento de Mecânica e Materiais Engenharia Mecânica Disciplina: Fundição Prof.: Dr. Waldemir Passos Martins Gleydson Hiago Sousa Oliveira EM1021012-21 Vania Maria Costa Sousa EM1211017-21 RELATÓRIO DE FUNDIÇÃO Relatório elaborado para obtenção de nota complementar da disciplina Fundição. São Luís – MA 2016 2 SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................3 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................4 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................4 3. OBJETIVO.....................................................................................................17 4. MATERIAIS UTILIZADOS.............................................................................17 5. MÉTODOS, RESULTADOS E DISCUSSÕES..............................................18 6. CONCLUSÃO................................................................................................29 REFERENCIAS.................................................................................................30 3 RESUMO O trabalho descreve as etapas realizadas do processo de fundição em areia, desde a confecção do molde para o preenchimento com metal líquido, a fusão do material, vazamento, ensaio metalográfico e de microdureza realizado em três amostras de uma peça de alumínio. Os detalhes do desenvolvimento e procedimentos utilizados no preparo do corpo de prova para a posterior análise da microestrutura serão expostos. O objetivo da análise é ter uma ideia aproximada do comportamento da estrutura antes e após o ataque químico e avaliar características quantitativas quanto à resistência e deformação. Palavras-chave: Fundição. Alumínio. Ensaio Metalográfico. 4 1 INTRODUÇÃO Fundição é o processo de fabricação de peças metálicas que consiste basicamente no preenchimento de moldes (com as dimensões e formato da peça desejada) com metal em estado líquido A fundição pode ser considerada como um processo inicial, pois pode-se obter (além de peças praticamente acabadas) lingotes, tarugos e placas, os quais são conformados mecanicamente para a obtenção de perfis, chapas, laminados, etc. O processo de fundição é conhecido pelo homem desde aproximadamente 3.000 AC. Os primeiros metais a serem fundidos foram o cobre e o bronze. O desenvolvimento de fornos de fundição com temperaturas de trabalho mais altas e utensílios capazes de conter o ferro fundido permitiu que as primeiras fundições de ferro fundido se desenvolvessem a partir de 1.340 D.C. Atualmente os processos de fundição buscam o controle das propriedades e microestruturas das ligas. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 ETAPAS DA FUNDIÇÃO Genericamente, pode-se resumir o processo de fundição às seguintes etapas: a) Confecção do modelo: com o formato da peça a ser fundida, servirá para a construção do molde. Suas dimensões devem prever a contração do metal e o para posterior usinagem, se for o caso. b) Confecção do molde: dispositivo que recebe o metal fundido para a obtenção da peça. Consiste basicamente de uma cavidade deixada em um material pelo modelo da peça a ser fundida. c) Confecção dos machos: dispositivos com a função de formar vazios, furos e reentrâncias na peça. São colocados nos moldes antes de seu fechamento para receber o metal líquido. d) Fusão do metal: para vazamento nos moldes. 5 e) Vazamento: enchimento do molde com o metal líquido. f) Desmoldagem: retirada da peça do molde após a solidificação do metal. g) Rebarbação: retirada dos canais de alimentação, alimentadores, massalotes ou rebarbas existentes. h) Limpeza: pode ser necessária para eliminação de resíduos, dependendo do processo. 2.2 CARACTERISTICAS DO PROCESSO DE FUNDIÇÃO 2.2.1 CARACTERÍSTICAS DAS PEÇAS FUNDIDAS • Acréscimo de sobremetal para posterior usinagem; • Furos pequenos, reentrâncias e detalhes não são, em geral, reproduzidos satisfatoriamente (dificultam o processo), sendo obtidos posteriormente por usinagem; • Arredondamento de cantos para facilitar o preenchimento do molde e evitar trincas. 2.2.2 DEFEITOS COMUNS NO PROCESSO • Inclusão de grãos de areia do molde nas paredes da peça (no caso da fundição em moldes de areia) – abrasivos, causam defeitos na peça submetida a posterior usinagem além de reduzir a vida útil das ferramentas de corte; • Vazios ou rechupes; • Porosidade devido ao desprendimento de gases, comprometendo as características mecânicas ou o acabamento superficial. 2.2.3 VANTAGENS DO PROCESSO • Em geral, os processos de fundição envolvem custos baixos; • As peças podem apresentar desde formas mais simples até as mais complexas, até mesmo impossíveis de serem obtidas por outros processos; • As peças podem apresentar dimensões ilimitadas; 6 • O processo permite alto grau de automatização, adequando-se à produção em série • Podem ser reproduzidas peças com diversos padrões de acabamento e tolerância. 2.2.4 DESVANTAGENS DO PROCESSO • Em geral, limitado quanto ao grau de acabamento; • Peças com menores limites de resistência mecânica quando comparadas às peças produzidas por outros processos, devido ao resfriamento lento do metal fundido nos moldes, o que propicia o surgimento de estruturas com granulação grosseira; • Necessidade de sempre se possuir um molde, o que pode ser desvantajoso no caso de moldes destrutíveis, já que implica na confecção de um molde para cada peça a ser produzida, tornando oneroso um volume de produção mais elevado; • Equipamentos de grande porte são necessários; • Alto consumo de energia. 2.3 FUNDIÇÃO EM AREIA O processo de fundição em areia consiste basicamente na compactação, mecânica ou manual, de uma mistura refratária plástica (areia de fundição) sobre um modelo montado em uma caixa de moldar. A areia de fundição consiste de uma mistura de um elemento refratário granular (areia) com um elemento aglomerante 2.3.1 CARACTERÍSTICAS DOS MOLDES PARA FUNDIÇÃO EM AREIA A fim de assegurar a qualidade das peças fundidas, algumas características do molde devem ser observadas: a) resistência: para suportar a pressão do metal líquido e a ação erosiva deste durante o escoamento nos canais e cavidades de molde; b) mínima geração de gás: a fim de evitar a contaminação do metal; 7 c) permeabilidade: para possibilitar a saída dos gases gerados durante o processo de solidificação; d) refratariedade: para suportar as altas temperaturas de fusão do metal; e) desmoldabilidade: o molde deve permitir que a peça solidificada seja desmoldada com relativa facilidade; f) estabilidade dimensional: deve ser alta o suficiente para não interferir nas tolerâncias dimensionais da peça; g) colapsabilidade: os machos devem colapsar sob as tensões causadas pela contração volumétrica do metal durante a solidificação, de forma a evitar trincas e o surgimento de tensões internas nas peças fundidas. 2.3.2 CARACTERÍSTICASDAS AREIAS DE FUNDIÇÃO Se a qualidade dos moldes depende das características observadas no item anterior, estas dependem das características das areias de fundição. a) resistência: a qual depende principalmente do elemento aglomerante utilizado para manter as partículas do material refratário coesas; b) permeabilidade: à passagem dos gases; c) refratariedade: a areia moldada deve ser capaz de resistir às altas temperaturas de fusão dos metais sem que os grãos se fundam ou que o elemento aglomerante perca sua capacidade de manter as partículas coesas; d) teor de umidade: o qual afeta a permeabilidade (maior umidade, menor permeabilidade), a resistência (maior umidade, menor resistência) e a formação de gases (maior umidade, maior geração de gases); e) fluidez: a qual afeta a moldabilidade, ou seja, a capacidade de fluência para o preenchimento de cavidades, reentrância e detalhes. 8 2.3.3 MATERIAIS UTILIZADOS PARA A MISTURA DAS AREIAS DE FUNDIÇÃO Elemento refratário Geralmente utilizam-se areias silicosas, podendo ser: a) areias naturais: areia lavada (retirada de rios) ou saibro; b) areias semi-sintéticas: mistura de areias naturais e aditivos para a correção das propriedades; c) areias sintéticas: a granulação e a composição são controladas para otimização das propriedades. a) Quanto ao uso, as areias podem ser: a) de enchimento: com granulometria mais grosseira e de menor custo, utilizado no enchimento das caixas de moldar; b) de faceamento: de granulometria mais refinada e de maior custo, ficam em contato com as faces do modelo de modo a propiciar um melhor acabamento; c) de macho: utilizadas na confecção dos machos. Elemento aglomerante Irá conferir coesão às partículas do elemento refratário de forma a conferir resistência mecânica ao molde. Podem ser orgânicos, inorgânicos ou minerais. a) minerais: argilas ou cimentos; b) orgânicos: óleos secativos2 e semi-secativos (óleos de linhaça, milho, oiticica, mamona), farinhas de cereais (dextrina3, mogul4) e resinas (breu); c) inorgânicos: bentonita. 9 2.3.4 VARIANTES DOS PROCESSOS DE FUNDIÇÃO EM AREIA Dependendo dos processos de conformação dos moldes e os materiais utilizados, os processos em areia apresentam as seguintes variantes: a) fundição em areia verde; b) fundição em areia seca (ou estufada); c) fundição em areia com cimento; d) processo CO2. 2.4 SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS São os seguintes os fenômenos que ocorrem durante a solidificação dos metais. • Cristalização; • Contração de volume; • Concentração de impurezas; • Desprendimento de gases. Estes fenômenos tendem a influir negativamente no processo de fundição, e são comuns a todas as variantes dos processos de fundição, em maior ou menor grau. 2.5 CRISTALIZAÇÃO Durante a solidificação dos metais há o surgimento de estruturas cristalinas sendo que o crescimento destas estruturas se dá de maneira não uniforme. O crescimento das estruturas num processo de fundição é limitado e influenciado pelas paredes dos moldes. Como as paredes dos moldes estão a uma temperatura inferior à do metal fundido, surge no interior do molde preenchido com metal fundido um gradiente de temperatura que favorece o crescimento das estruturas em uma direção perpendicular às paredes do molde (crescimento dendrítico – Fig. 1). 10 Figura 1 crescimento dendrítico Em moldes com cantos vivos, o crescimento de grupos colunares de cristais em paredes contíguas pode ocasionar o surgimento de planos diagonais, comprometendo as propriedades mecânicas da peça. Em geral, as peças tendem a ser mais frágeis na região destes planos, a qual é mais suscetível a fissuras e trincas (Fig. 2). Figura 2 efeitos dos cantos na cristalização: cantos arredondados e cantos vivos 2.6 CONTRAÇÃO DE VOLUME Pode ser de três tipos: • Contração líquida: causada pelo aumento da densidade à medida que o metal líquido é resfriado; • Contração de solidificação: causada pela cristalização durante a Solidificação • Contração sólida: causada pelo resfriamento do metal solidificado, desde a temperatura de solidificação até a temperatura ambiente. 11 A contração é expressa em porcentagem de volume ou, no caso da contração sólida, em porcentagem de contração linear, a qual depende do material (Tabela 1). Tabela 1 - Porcentagem de contração linear para alguns materiais metálicos: Material %Contração linear Aço (0,35%C) 2,4 Alumínio 5,7 Cobre 7,3 Estanho 1,5 Ferro fundido branco 1,3 ~1,4 Ferro fundido cinzento 1,0 Ferro fundido maleável 1,2 ~1,3 Magnésio 5,8 Zinco 4,1 A contração dá origem a um defeito conhecido como “vazio” ou “rechupe”, causado pela contração que se inicia na periferia do molde (temperatura mais baixa) e avança até o centro (temperatura mais alta), o qual se solidifica por último (Fig. 3). Figura 3 formação de rechupe Outros efeitos indesejáveis da contração volumétrica • Surgimento de trincas; • Tensões residuais; • Alterações nas dimensões das peças. 12 O controle destes efeitos é obtido com o adequado projeto das peças ou tratamentos térmicos para alívio de tensões . Os vazios ou rechupes podem ser eliminados através do provimento de metal fundido às peças ou lingotes através de massalotes ou alimentadores. 2.7 CONCENTRAÇÃO DE IMPUREZAS Nos processos de fundição, os metais (ou suas ligas) vazados nos moldes possuem impurezas, as quais não puderam ser completamente eliminadas. Observe-se, por exemplo, as impurezas presentes em uma liga de ferro-carbono: Ligas de Fe-C Impurezas: Fósforo (P); Enxofre (S); Manganês (Mn); Silício (Si). Como algumas impurezas são menos solúveis no estado sólido, durante a solidificação estas acompanham o metal líquido, buscando maiores regiões de maiores temperaturas (onde são mais solúveis), acumulando-se desta forma na última parte a se solidificar. A concentração de impurezas nestas regiões constitui num defeito conhecido como segregação. A principal conseqüência da segregação é a heterogeneidade na composição do material, conforme a seção considerada, com conseqüentes alterações nas suas propriedades mecânicas. A segregação pode ser atenuada com o controle rigoroso da composição química das ligas ou o controle da velocidade de resfriamento. 13 2.8 DESPRENDIMENTO DE GASES Ocorre principalmente nas ligas de ferro-carbono, onde o oxigênio dissolvido no metal tende a combinar-se com o carbono, formando CO (monóxido de carbono) e CO2 (dióxido de carbono). Durante a solidificação estes gases ficam retidos no interior das peças, na forma de bolhas. Estas bolhas também podem chegar à superfície da peça, causando imperfeições no acabamento das peças. As bolhas podem ser evitadas com a adição de elementos desoxidantes (Si, Mn, Al) ao metal líquido. Ao combinar-se com o oxigênio, estes elementos formarão óxidos, os quais se precipitarão (SiO2, MnO2, Al2O3). A rigor, as bolhas não constituem maior problema nos aços de baixo carbono, se após a fundição os mesmos forem submetidos a processos de laminação. Durante a deformação causada por tais processos, as paredes das bolhas acabam por unir-se por um processo semelhante aos processos de soldagem (caldeamento). Porém, em aços de alto carbono, os quais possuem baixa soldabilidade, as bolhas devem ser evitadas. Além do oxigênio, também o hidrogênio (H2) e o nitrogênio (N2) podem ser liberados durante a solidificação, causando porosidades, fissuras internas e alterações nas características mecânicas do material. 2.9 FUNDIÇÃO EM AREIA VERDE Dentre os processos defundição é o mais simples e o de menor custo, sendo também o mais utilizado. A areia de fundição é composta de uma mistura de aproximadamente 75% de areia silicosa, 20% de argila e 5% de água (composição média – varia conforme o tipo de areia e da argila utilizada). A mistura recebe o nome de “areia verde” porque mantém sua umidade original, não sendo necessária sua secagem em estufas. Os componentes da areia de fundição são misturados 14 secos com o auxílio de misturadores, seguindo-se da adição, aos poucos, de água até a completa homogeneização da mistura. A moldagem é realizada manualmente, com soquetes, ou mecanicamente, com auxílio de máquinas de compressão, impacto, vibração ou projeção centrífuga. A areia utilizada pode ser reaproveitada, chegando-se a obter índices de recuperação da ordem de 98%. Os moldes em areia verde se prestam à fundição de metais ferrosos e não-ferrosos com rapidez e economia, adequando-se à produção em série. 2.9.1 FUSÃO O processo de fusão tem de ser capaz de providenciar material fundido não só à temperatura apropriada, mas também à quantidade desejada, com qualidade aceitável e custo razoável. Ao vazar o metal o cadinho deve estar o mais perto possível da bacia de vazamento, visto que esta está localizada dentro do molde. A temperatura do metal fundido é determinada pela espessura do fundido. Para fundidos de alumínio muito espessos o metal deverá estar a ≈677ºC e para espessuras finas a 760ºC. 2.9.2 FUNDIÇÃO COM ALUMÍNIO Seu peso específico é de 2,7 g/cm³ a 20ºC, seu ponto de fusão corresponde a 660ºC. Apresenta estrutura cristalina CFC, é não magnético, tem boa condutibilidade térmica e baixo coeficiente de emissão térmica. Essas características fazem com que o alumínio seja um metal de grande importância após o ferro. As peças fundidas de alumínio têm suas principais aplicações na área automotiva e de transportes, que representam cerca de 60% do consumo do alumínio neste segmento. Como exemplo, podem-se citar blocos de motor, caixas de câmbio, carcaça de motores e rodas para automóveis e veículos pesados, entre outros. 15 O baixo ponto de fusão, aliado a um elevado ponto de ebulição (cerca de 2000ºC) e a uma grande estabilidade a qualquer temperatura, torna a fusão e a moldagem do alumínio muito fácil. Na fundição de peças de alumínio, pode-se utilizar os métodos de fundição em areia, fundição sob pressão e de precisão. As ligas de alumínio para fundição são classificas em ligas binárias (com um único elemento de liga adicionado) e ligas complexas (dois ou mais elementos de ligas adicionados). 2.9.3 VAZAMENTO O fator mais importante que afeta a fluidez do metal fundido é a temperatura de vazamento ou a quantidade de sobreaquecimento, embora a temperatura e o intervalo de arrefecimento sejam também fatores importantes que afetam a fluidez. Quanto mais alta for a temperatura de vazamento, mais elevada é a fluidez. Contudo, a uma temperatura excessivamente alta, as reações do metal são aceleradas e a penetração em pequenos vazios é possível, entre as partículas da areia no molde, que deixará partículas embutidas na peça de fundição, traduzindo-se num defeito mecânico. A técnica de vazamento tem de ser projetada para introduzir o metal fundido no molde. Têm de ser tomadas precauções para a liberação do ar e dos gases no molde antes do vazamento e aqueles que são gerados pela seção do metal quente que entra no molde. O metal fundido pode então encher completamente a cavidade, produzindo um fundido de qualidade, visto que é denso e não tem defeitos. 2.10 METALOGRAFIA Metalografia é o estudo da morfologia e estrutura dos metais. Para a realização da análise, a amostra deve ser submetida a procedimentos que sejam capazes de facilitar o estudo da estrutura do metal. Para tanto o material é cortado, lixado, polido e atacado com reagente químico, de modo a revelar com o auxílio do microscópio de alta ampliação, as interfaces entre os diferentes constituintes que compõe o metal como a granulação, o teor de carbono no, a forma e dentre outras. 16 Ligas do sistema Al-Si são as mais importantes entre as ligas fundidas de alumínio, principalmente por sua alta fluidez, baixa contração nos fundidos, elevada resistência à corrosão, boa soldabilidade, fácil brasagem e seu baixo coeficiente de expansão térmica (Kori; Murty; Chakraborty, 2000). As ligas de alumínio com 5-20% de Si (em porcentagem em peso) são as mais comuns e as mais usadas na indústria. A característica marcante destas ligas é que elas consistem de uma fase primária, de alumínio ou de silício, e de uma estrutura eutética composta por esses 2 elementos. Dependendo da quantidade de Si, as ligas podem ser divididas em: a) ligas hipereutéticas, as mais comuns, encontram-se na faixa de 13 - 20% de Si; b) liga eutética com 12,6% de Si em peso; e c) ligas hipoeutéticas com teor de Si menor que da liga eutética. As ligas hipoeutéticas são formadas por uma fase primária de alumínio com morfologia dendrítica constituídas por ramos secundários, terciários e até de maior ordem. Os vazios entre esses ramos dendríticos são preenchidos por fases intermetálicas e por uma estrutura eutética (Grugel, 1993). A estrutura eutética no estado não-modificado exibe a fase Si com morfologia acicular na forma de grandes plaquetas. No entanto, essa morfologia pode ser controlada em seu crescimento por modificadores (Na, Sr) que permitem um refino da estrutura eutética e pode melhorar a ductilidade das peças fundidas. A adição de modificadores diminui a temperatura de nucleação e de crescimento na interface sólido/líquido, em razão do refino da estrutura eutética, o que força a fase Si a adotar uma morfologia fibrosa e irregular (Chadwick, 1972). Por outro lado, um refino da estrutura das ligas metálicas também é obtido usando elevadas taxas de resfriamento mediante processos de solidificação rápida, onde podem ser conseguidas taxas de resfriamento na ordem de 104-108K/s, contrariamente às fundidas convencionalmente, onde são conseguidas taxas na ordem de 10-2 a 102K/s (Anantharaman; Suryanarayama, 1987). Ligas solidificadas rapidamente caracterizam-se por 17 apresentar estruturas refinadas, homogêneas sem segregações, fases em estado metaestável ou amorfo, o que as torna materiais interessantes com excelentes combinações de propriedades físicas e mecânicas. 3 OBJETIVO O objetivo do presente trabalho é colocar em prática o que foi aprendido em teoria sobre o processo de fundição em areia, visando a obtenção de uma peça com bom acabamento e minimizando defeitos. Além disso, outros conhecimentos adquiridos em outras matérias serão colocados em prática, como a realização da metalografia da peça obtida, utilizando microscopia óptica, e ensaios de microdureza Vickers para averiguar a resistência da peça. 4 MATERIAIS UTILIZADOS • Modelo de cano de PVC; • Lixas de granulometria (Nº80, 120, 220, 360, 400, 600, 1200); • Baquelite; • Sucata de liga de alumínio; • Serra de corte; • Areia; • Cadinho; • Peneira; • Alumina 0,3µ; • Balança de precisão Bioscale; • Forno de alta temperatura QUIMIS Q-318D24; • Reagente químico(1 mL Ácido Fluorídrico com 200 mL deágua). • Microscópio óptico Nikon Eclipse LV100; 18 5 MÉTODOS, RESULTADOS E DISCUSSÕES Primeiramente ficou decidido iniciarmos a construção da caixa de moldagem. Um projeto foi feito em computador para que pudéssemos ter noção das dimensões necessárias e assim providenciar as chapas e soldas para a confecção da caixa. Após o projeto pronto, a construção da caixa foi feita utilizando placas de aço SAE 1020, conforme projeto abaixo: Figura 4 projeto da caixa de areiaFigura 5 simulação da caixa de areia 19 A areia utilizada foi obtida no próprio departamento e é uma areia reutilizada, conforme percebido por outros trabalhos similares feitos pouco tempo antes. O modelo a ser feito para a obtenção do molde baseou-se na simplicidade, visto que o tempo para a confecção do mesmo seria curto então optamos por um modelo (tubo) feito de PVC. O modelo é responsável por dar a forma no local (molde) onde será depositado o alumínio em estado líquido. Com o modelo (tubo) feito de PVC, a etapa de moldagem foi iniciada, na própria caixa construída para fundição, a qual seria preenchida com a areia úmida peneirada. Iniciamos pelo projeto de posicionamento do modelo na caixa para obtenção do molde: E então passamos à execução das tarefas propostas. Primeiramente começamos com a compactação de certa quantidade de areia na caixa, onde após essa primeira camada o modelo foi posicionado e mais areia foi depositada de acordo, sendo compactada continuamente para a obtenção de um molde firme. Figura 6 simulação do modelo Figura 7 simulação do modelo dentro da caixa Figura 8 simulação do modelo dentro da caixa 20 Figura 9 modelo dentro da caixa Após finalizada essa etapa, virou-se a caixa para retirar o modelo. Para melhor retirada do modelo de sobre o molde, foi aplicado um desmoldante de grafite, pois sem o mesmo poderiam haver danos ao molde impresso na areia. O alimentador e canal de vazamento foram posicionados na parte superior da caixa, e logo após mais areia foi compactada ao redor. Após o molde já bem compacto, os modelos foram retirados e a caixa fechada, colocando cada parte sobre a outra e mantendo-as presas aos encaixes. Após a caixa fechada com o molde pronto a ser utilizado, então partimos para a fase de preparação do fundido utilizando sucatas de liga de alumínio. Os lingotes obtidos foram cortados pela serra de fita do DMM, para acomodação dos pedaços no cadinho (Fig. 11). Em seguida o cadinho foi colocado dentro do forno de alta temperatura (Fig. 12) para fundir o alumínio a 900ºC. O metal em estado líquido foi despejado pelo canal de vazamento do molde, onde após uma espera de 1 hora para retirada da peça solidificada. Por último foi realizada a inspeção visual, onde as rebarbas do material desmoldado foram aparadas e a peça final ficou no formato desejado (Fig. 13). Figura 10 molde pronto para vazamento 21 Figura 11 alumínio dentro do cadinho Figura 12 cadinho dentro do Forno QUIMIS Q-318D24. Figura 13 peça final 22 5.1 ANÁLISE METALOGRÁFICA Com a peça pronta, passamos ao próximo passo do nosso roteiro que é a análise metalográfica. Para a obtenção de amostras satisfatórias para análise, iniciamos pelo corte de certas áreas da peça; as áreas escolhidas foram: pequena fração próxima ao canal de vazamento, pequena fração no meio da peça e pequena fração na singularidade (“cotovelo do L”) da peça, totalizando assim 3 amostras para análise. As áreas citadas foram cortadas com serra e lixadas para nivelamento. Após as peças escolhidas serem devidamente niveladas, partimos para o embutimento, onde utilizamos baquelite na Embutidora Fortel Digital 40. Para maior rapidez e economia de material, optamos por embutir as 3 peças numa mesma área. Figura 14 serragem das amostras Figura 15 lixamento das amostras Figura 16 embutimento das amostras Figura 17 embutidora 23 A partir da amostra pronta, passamos para a fase de lixamento e polimento, para obtenção de uma superfície livre de riscos para posterior ataque e observação ao microscópio. As lixas utilizadas foram lixas d’água nº 80, 120, 220, 360, 400, 600, 1200. Para isto, começou-se por lixar a amostra em lixas de granulação cada vez menor, mudando de direção (90°) em cada mudança de lixa até desaparecerem os traços da lixa anterior. De acordo com a dureza da amostra, da pressão do trabalho e da velocidade de lixamento surgem deformações plásticas de toda a superfície por amassamento e um aumento de temperatura. Estes fatores devem ser evitados ao máximo, pois podem dar origem a uma imagem falseada. Inclusões duras se desgastam menos; após um certo tempo são arrancadas da superfície e a depressão resultante é preenchida com pó ou então exageradamente ampliada Terminada a fase de lixamento, passamos ao polimento. O polimento consiste na obtenção de uma superfície isenta de risco, do modo a se obter uma imagem clara ao microscópio. Para isto, inicia-se por polir a amostra com material de granulação cada vez menor. O polimento realizado consistiu no uso de materiais abrasivos, como a alumina e pasta de diamante e do pano especial de polimento. Por fim, realizou-se o ataque químico na peça, de acordo com norma ASTM E407-2011, de forma a revelar as fases; tal ataque foi feito com nital (solução de álcool e ácido nítrico) por 15 segundos com posterior lavagem da amostra. Por fim, obtemos uma amostra pronta a seguir para microscopia óptica. Figura 18 amostras embutidas: nº 1: amostra de região próxima ao canal de vazamento, nº2: amostra da singularidade, nº3: amostra de região do meio da peça 24 A análise ao microscópio das 3 peças da amostra resultaram em imagens satisfatórias, com microestrutura similar. A primeira imagem, abaixo, foi capturada da amostra referente ao meio da peça, aumentada 75x. A microestrutura é formada basicamente por dendritos de α-Al (fase clara) e por um eutético binário Al-Si entre os ramos dendríticos contendo Si acicular (fase escura). Figura 19 microscopia meio da peça, 75x O eutético, do tipo facetado/não-facetado, ocorre por não apresentar arranjo ordenado das fases e por elas geralmente exibirem diferentes taxas de crescimento. Essa estrutura irregular está relacionada com fatores como a grande diferença entre os pontos de fusão entre o Al e o Si, a diferença na proporção relativa de tais constituintes (88,5% da fase α-Al e 11,5% de Si) e a diferença na entropia de fusão de ambos (1,35 para Al e 7,15 J.mol-1K-1 para Si) (Fisher; Kurz, 1980). Em razão da elevada entropia de fusão da fase facetada, o Si nucleia e cresce antes que o Al inicie a solidificação no eutético. A próxima figura foi capturada da amostra retirada da singularidade, aumentada 750x. Pode-se perceber as inclusões de Si em meio à matriz. 25 Figura 20 microscopia singularidade, 750x A figura abaixo refere-se à amostra retirada próxima ao canal de alimentação, aumentada em 75x. Observa-se que a região interdendrítica é constituída por uma estrutura eutética fibrosa contendo estruturas complexas de Si. A formação da morfologia fibrosa é favorecida pela redução da tensão superficial do alumínio, o que altera a energia superficial interfacial entre o Al e o Si e influencia tanto na nucleação como no crescimento. De acordo com Magnim et al. (1991), os modificadores dificultam o crescimento do Si pelo mecanismo de maclação, onde átomos de Sr no líquido são absorvidos nos entalhes das maclas, reduzindo a taxa de aderência dos átomos de Si nesses locais de crescimento, suprimindo assim a formação de plaquetas de Si primário. 26 Figura 21 microscopia canal de alimentação, 75x 5.2 DUREZA VICKERS O valor da dureza com a Pirâmide de Diamante de Vickers é a carga aplicada (em kgf) dividida pela área da superfície da indentação (em mm2). Onde: F= é a carga em kgf d = é a media aritmética das duas diagonais , d1 e d2 em mm HV = é a dureza Vickers A Pirâmide de Diamante Vickers tem a forma de uma pirâmide quadrada com 1360 entre faces. Para calcular o valor da dureza de Pirâmide dediamante Vickers, ambas as diagonais da endentação são medidas, e a média destes valores é usada na fórmula acima para a determinação do valor HV. Os testes de microdureza foram realizados em todas as 3 amostras coletadas, e foram feitas séries de 5 testes para cada amostra. Cada amostra 27 foi submetida a uma carga de 980 mN por 15 segundos em cada teste. Os resultados são expostos a seguir: Figura 22 ensaio de microdureza Vickers Figura 23 ensaio de microdureza Vickers Figura 24 resultado ensaio de microdureza Vickers Figura 25 resultados da primeira rodada de testes microdureza Vickers 28 AMOSTRA DUREZA HV L1 L2 singularidade 71,5 51,12 50,71 60,4 54,53 56,26 70,9 48,02 54,22 62,6 51,68 57,11 75,3 47,74 51,45 média 68,14 canal 30 77,89 79,32 52,6 61,69 56,99 80,6 46,55 49,34 66 53,04 52,94 62 53,12 56,22 média 58,24 meio 37 69,79 71,69 58,9 55,87 56,28 52,4 58,51 60,38 55,1 56,76 59,15 43,6 60,44 61,72 média 49,4 Os resultados obtidos na microdureza expõem fatos já averiguados em outros estudos, onde a microdureza diminui desde a superfície até o centro, como podemos observar frente à comparação da dureza média da amostra do canal com a da amostra do meio da peça. Isso ocorre devido à microestrutura superficial ser mais refinada devido à maior extração de calor. É possível ainda observar que a resistência mecânica é inversamente proporcional ao tamanho de grão, quanto menor o tamanho de grão maior é a resistência mecânica do material (CALLISTER, 2008). 29 Outro fato interessante se dá na singularidade da peça, onde a microdureza média apresentou o maior valor das 3 amostras. Devido a um aumento na turbulência do fluxo na presença de singularidade, além da perda de carga inerente à singularidade, faz com que haja um acúmulo de material nessa região, favorecendo o aumento da dureza nessa área em particular. 6 CONCLUSÃO Com o desenvolvimento do presente trabalho pudemos colocar em prática vários conhecimentos teóricos obtidos em sala de aula. A prática se mostra parte integral e fundamental do processo de aprendizado, colaborando assim para o desenvolvimento do aluno. O processo de fundição em areia verde ocorreu como planejado, iniciando-se pelo projeto e execução da caixa de areia, moldação, fusão do metal e vazamento. Após obtenção da peça, amostras foram retiradas de áreas pré-selecionadas para serem embutidas e observadas em microscópio, revelando em sua microestrutura a presença de uma liga de Al – Si. Os ensaios de microdureza foram realizados, mostrando resultados satisfatórios e já previstos, com diminuição da microdureza no centro da peça e aumento da microdureza da mesma na presença de singularidade. 30 REFERÊNCIAS ANANTHARAMAN, T. R.; SURYANARAYAMA, C. Rapidly solidified metals – A technological overview. Suíça: Trans Tech, 1987. BACKERUD, L.; CHAI, G.; TAMMINEN, J. Solidification characteristics of aluminum alloys – Foundry alloys. Suécia: AFS/Skanaluminium, 1990. v. 2. CALLISTER, William. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. LTC, 2008. CHADWICK, G. A. Metallography of phase transformations. Londres: Butterworth, 1972. FISHER, D. J.; KURZ, W. A theory of branching limited growth of irregular eutectics. Acta Metallurgica, v. 28, p. 777, 1980. GRUGEL, R. N. Secondary and tertiary dendrite arm spacing relationships in directionally solidified Al-Si alloys. J. Materials Science, v. 28, p. 677, 1993. KORI, S. A.; MURTY, B. S.; CHAKRABORTY, M. Development of an efficient grain refiner for Al–7Si alloy and its modification with strontium. Materials Science and Engineering, v. A283, p. 94-104, 2000. MAGNIM, P.; MASON, J. T.; TRIVEDI, R. Growth of irregular eutectics and the Al-Si system. Acta Metallurgica. Mater., v. 39, n. 4, 1991. MASSALSKI, T. B.; OKAMOTO, H.; SUBRAMANIAM, P. R.; KACPRZACK, L. Binary alloy phase diagrams. Materials Park, OH: ASM, v. 1, 1990. O ensaio metalográfico no controle da qualidade. Disponível em http://www.spectru.com.br/ensaio_metal.pdf. Acesso em 18 de julho de 2016. SILVA, Jaques Jonas Santos. Processos de fabricação III. UERJ – Rio de Janeiro, 2009.
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