Buscar

apostila contador de historias

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1Contador de histórias 1Contador de histórias
Contador
de histórias
2Contador de histórias
© Senac-SP 2012
Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo
Gerência de Desenvolvimento 3
Luciana Bon Duarte Fantini
Coordenação Técnica
Marcelo Dias Calado
Apoio Técnico
Cristina Aparecida Morselli
Elaboração do Recurso Didático
Patricia Ribeiro de Almeida
Diagramação e Produção
Globaltec Editora Ltda.
Versão 2013
3Contador de histórias
1. Introdução: Ao jovem narrador / 4
2. Por que contamos e ouvimos histórias? 
A narração nos dias de hoje / 6
3. A tradição oral/ 8
4. O narrador e seus saberes / 11
5. Para contar uma história... / 13
6. O tempo do conto / 15
7. Algumas referências do mundo todo / 16
8. O Brasil: terra cheia de lendas e histórias para contar / 18
9. Breve comentário sobre mitos e lendas / 21
10. Referências Bibliográfi cas / 22
Sumário
4Contador de histórias
Como a sabedoria se espalhou pelo mundo.
Há muito, muito tempo, quando o mundo ainda era novo, Kwaku Ananse, 
o Aranha, era considerado e , verdade seja dita, também 
se considerava o homem mais sábio de toda a Terra.
Entretanto, Kwaku Ananse era muito ganancioso e desejava guardar toda a 
sabedoria para si. Dia e noite, noite e dia, Kwaku Ananse, consumido por 
seu egoísmo, não compartilhava seus conhecimentos com ninguém, até que 
falou para a esposa:
– É muito difícil proteger minha sabedoria o tempo todo. 
Faça pra mim um grande pote de barro onde eu possa colocá-la 
e guardá-la com segurança.
Depois de o pote de barro ter secado no sol forte, Kwaku Ananse pegou 
toda a sabedoria, colocou-a ali e tapou com uma rolha 
de cortiça. 
O astuto Kwaku Ananse resolveu esconder o pote numa caverna 
na margem do rio oposta à de sua cabana, onde nenhum intrometido 
pudesse pôr os olhos.
Ele ergueu o pote e foi entrando na água com di� culdade. Infelizmente, as 
pedras do fundo do rio eram escorregadias, 
e o Aranha não se sentia muito � rme ao caminhar. 
Caiu dentro da água e o pote voou pelos ares.
Ao bater contra as pedras o pote partiu-se em centenas de pedaços, 
e toda a sabedoria do mundo foi levada rio abaixo.
O rio, repleto de novos saberes, correu para todos os grandes mares. 
E foi assim que a sabedoria se espalhou pelo mundo.
1. Introdução
5Contador de histórias
Caro(a) jovem contador(a),
Poderíamos dizer que arte de contar histórias, de certo modo, ao contrário 
do desejo do personagem Kwaku Ananse, nasce, exatamente, da necessidade 
humana de partilhar seus saberes, de aprender com as diversas características 
culturais e com as múltiplas formas de entender o próprio comportamento 
humano diante do mundo. 
Assim como as águas dos grandes mares do conto acima se espalham e 
alimentam com a sabedoria cada cantinho de nosso planeta, veremos que há 
muitos e muitos anos, os contos são conduzidos e partilhados por homens 
e mulheres das mais diversas culturas. Como verdadeiros rios de palavras, 
as narrativas caminham sempre na direção daqueles que estão prontos para 
ouví-las, alimentando-os com imagens fantásticas e sábios ensinamentos. 
Esta é uma apostila preparada especialmente para você, futuro narrador(a) de 
histórias! Esperamos que ela possa contribuir com sua formação de maneira 
lúdica e dinâmica, oferecendo-lhe as ferramentas necessárias para o pleno 
desenvolvimento deste seu novo percurso.
6Contador de histórias
Na atualidade, a arte de contar histórias se faz presente nos mais diversos 
espaços de convívio humano e possui alguns propósitos especí� cos. Contamos 
histórias para divertir, para acolher, para ensinar, para aprender, para curar, 
para relembrar... 
Hoje em dia, é bastante comum nos depararmos com pequenos espetáculos de 
narrações em festas infantis e nestas situações o principal objetivo da narração 
talvez seja entreter os convidados. Não existem histórias direcionadas apenas 
para o público infantil. Nas mais diversas culturas, encontramos narrativas 
capazes de alimentar o imaginário dos adultos por meio de símbolos e 
imagens que necessitam de determinadas bagagens para serem plenamente 
compreendidas, recursos que só o tempo pode ofertar. 
Nos ambientes escolares, a arte de contar histórias pode ser utilizada como 
uma potente ferramenta de ensino. As narrativas apresentam um caminho 
lúdico pelo qual o professor pode propor re� exões sobre os conteúdos que 
pretende mediar.
Nas últimas décadas, a quantidade de projetos que propõem narrações 
dentro de hospitais tem crescido signi� cativamente e este trabalho ganha 
cada vez mais credibilidade. Explorando a capacidade de nos transportar 
para lugares onde tudo é possível, para um tempo que ultrapassa as barreiras 
da realidade difícil em que os pacientes se encontram por meio do exercício 
da imaginação, os contadores de histórias transitam pelos corredores pouco 
aconchegantes das casas de saúde. Eles semeiam sonhos e futuros com a 
esperança e alegria que os contos são capazes de proporcionar. 
2. Por que contamos 
e ouvimos histórias? 
A narração nos dias de hoje.
7Contador de histórias
 Ao longo da linha que atravessa a humanidade marcando suas transformações, 
muitas são as � nalidades que podemos encontrar para a arte de contar 
histórias, entretanto, jamais devemos ignorar sua maior contribuição: ela 
revela a potência poética que atua em nossas vidas. Transpondo a fronteira 
do real, as histórias narram os con� itos e conquistas comuns aos homens 
e mulheres de todos os tempos e espaços. Isto, sempre apontando para a 
possibilidade de renovarmos a maneira como compreendemos nosso entorno. 
Como nos ensina Regina Machado, grande pesquisadora da potência dos 
contos de tradição oral na vida das pessoas, devemos sempre ter em vista que 
as histórias possuem uma função dentro de seu próprio território maravilhoso, 
e não podemos deixar que elas sejam empobrecidas e totalmente subjugadas 
aos propósitos de outras áreas . (MACHADO, 2004 ,pg 192). 
Neste sentido, a arte de contar histórias redobra seu valor pois é exatamente 
o intercâmbio com este espaço do maravilhoso que enriquece os múltiplos 
propósitos de� nidos pelas outras áreas da vida humana quando procuram as 
histórias.
8Contador de histórias
 No período em que se formaram as primeiras civilizações, os diferentes grupos 
desenvolveram maneiras próprias para registrar aquilo que valorizavam. Na 
história da antiguidade encontramos alguns exemplos de como e com qual 
� nalidade eram feitos os primeiros registros: os primeiros alfabetos egípcios, 
por exemplo, serviram para que os homens pudessem estabelecer o regimento
e a organização da comunidade. Eles narravam assuntos do cotidiano, os 
grandes feitos daqueles que eram considerados heróis e, sobretudo, serviam 
para que os sacerdotes pudessem registrar as mensagens e os ensinamentos 
dos deuses.
Entretanto, não apenas entre os egípcios, mas entre muitos outros povos 
espalhados por toda a extensão do planeta, durante muito tempo o 
processo de alfabetização foi restrito. Por questões � nanceiras, muitas vezes, 
apenas os homens considerados nobres tinham acesso aos estudos que os 
capacitavam para decodi� car a linguagem escrita. Em outras sociedades, 
por serem consideradas inferiores, as mulheres eram proibidas de aprender a 
ler e escrever. Em outros contextos, apenas os religiosos eram alfabetizados 
para que pudessem preservar e propagar o conteúdo daquelas que eram 
consideradas escrituras sagradas.
 Com o passar dos anos, a escrita tornou-se mais acessível e o principal veículo 
do saber e das informações. De acordo com o escritor malinês Amadou 
Hampatê Ba, no período moderno no qual a escrita têm precedência sobre 
a oralidade, (...) durante muito tempo julgou-se que povos sem escrita eram 
povos sem cultura.(HAMPATÉ BÂ, 1980, pg 181).
3. Atradição oral
9Contador de histórias
Entretanto, mesmo diante de tantas restrições morais, sociais ou religiosas, as 
pessoas de todas os cantos do mundo jamais deixaram de se comunicar por 
meio da fala e foi através dela que grande parte das especi� cidades culturais 
foi transmitida para as gerações seguintes e conservadas até os dias de hoje. 
De acordo com Hampaté Bâ, nas sociedades africanas a palavra falada sempre 
possuiu imensa importância. Nelas, o valor e a con� ança concedida ao relato 
não depende do meio pelo qual é veiculada, e sim de quem a veicula. 
Neste sentido, relatos escritos ou transmitidos oralmente possuem o mesmo 
exato valor e merecem a mesma con� ança que o homem que os escreve ou 
pronuncia. Entretanto, o mesmo autor nos lembra de que é a potência da 
oralidade que, na realidade, nos oferece a oportunidade de escrever. Isto, 
tanto ao longo da história quanto no próprio desenvolvimento individual. 
Antes da fala a escrita se torna impossível.
Esta hegemonia da palavra falada em relação à escrita impõe aos indivíduos 
pertencentes às sociedades de tradição oral o desenvolvimento de características 
peculiares. É fato que, na atualidade, a memória humana foi praticamente 
transferida para as máquinas. Até mesmo as boas e velhas agendas, os 
blocos de anotações e os cadernos já estão sendo substituídos por aparelhos 
eletrônicos que, por sua vez, são capazes de armazenar uma quantidade 
imensa de imagens visuais, dados e informações. Neste sentido, a função 
da memória humana parece ter sido transferida para aparelhos externos ao 
corpo.
Porém, nas sociedades que preservam a oralidade como principal meio de 
transmissão de informações e saberes, podemos observar que o lugar da 
memória é ainda garantido. Entre todos os povos do mundo, constatou--
-se que os que não escreviam possuíam uma memória mais desenvolvida. 
(HAMPATÉ BÂ, 1980, pg 214).
10Contador de histórias
Para citar um exemplo, ainda de acordo com Hampaté Bâ, a memória 
africana é capaz de relatar os acontecimentos com tal riqueza de detalhes que 
deveríamos ser incapazes até mesmo de comparar sua precisão á dos registros 
escritos. Existem relatos de guerras e outros acontecimentos históricos 
que preservam até mesmo as características das vestimentas daqueles que 
participaram deles.
Esta imensa potência da memória africana, que garante a autenticidade dos 
fatos narrados e a preservação da identidade cultural, pode ser atribuída ao 
imenso respeito que estes povos carregam pela palavra que, por sua vez, é 
considerada como um verdadeiro presente divino. Para algumas tradições 
africanas como as da savana sul do Saara (HAMPATÉ BÂ, 1980, pg 183), é 
por meio dela que o homem dá vida às forças contidas nas coisas do mundo. 
Por ser a palavra considerada uma verdadeira força divina, quando alguém 
pensa uma coisa e diz outra, separa-se de si mesmo, Rompe a unidade 
sagrada, re� exo da unidade cósmica, criando desarmonia dentro e ao redor 
de si. (HAMPATÉ BÂ, 1980, pg 187).
Neste contexto africano e em muitos outros onde a tradição oral prevalece, a 
arte de contar histórias é fortalecida, sobretudo, por ser um meio pelo qual as 
experiências mais distantes continuam sendo partilhadas. Isto, se pudermos 
entender que, ao escutar uma história, sempre encontramos em nós mesmos 
alguma vivência, sensação e sentimento comum aos dos personagens 
narrados, por mais fantásticas que as situações possam ser, por maior que 
seja a distância entre as nossas existências.
11Contador de histórias
Se pudermos reconhecer o valor da transmissão oral, das histórias, contos, 
fábulas, “causos” de todas as origens, que nos alcançaram e que constituem 
aquela que reconhecemos como a “grande história da humanidade”, não 
devemos deixar de atribuir o mesmo valor àqueles que trabalharam para 
que estes nossos “capítulos” permanecessem vivos: os narradores de todas 
as partes que, mesmo permanecendo no anonimato, contribuíram para que 
nossa imensa colcha reluzente de histórias fantásticas e reais pudesse ser tecida 
ao longo dos séculos!
Alimentados por experiências das mais diversas naturezas, vividas ou recebidas 
por meio de depoimentos de outros, os narradores mantêm a constância do 
movimento da roda que � a a continuidade da “grande história” partilhada 
pela humanidade.
Com o intuito de caracterizar os primeiros narradores, Benjamim aponta 
os marinheiros comerciantes e os camponeses sedentários como aqueles que 
compõem os dois principais grupos de representantes arcaicos da narração.
(BENJAMIM, 1994, pg 198).
 De acordo com o autor, estes dois estilos de vida propiciaram a transmissão 
oral das experiências. Os viajantes trocavam com aqueles que encontravam 
em suas paradas, deixando nestes lugares um pouco se duas vivências na 
mesma medida em que continuavam seus trajetos carregados de novas 
histórias. Já o segundo grupo, o dos sedentários, conservou o método oral na 
medida em que os saberes e os acontecimentos cotidianos eram transmitidos 
para as gerações posteriores.
4. O narrador e seus saberes
12Contador de histórias
Benjamim ainda destaca o sistema corporativo medieval como aquele que 
aperfeiçoou a arte de narrar. Nestes sistemas, mestres e aprendizes preservavam 
os mistérios de seus ofícios por meio da oralidade. Neste sentido, o autor 
reforça a fronteira que diferencia a transmissão de informações e as narrativas. 
O narrador não é aquele que apenas informa, e a � nalidade da narrativa 
não é apenas informar. Se a informação caracteriza-se pela partilha de fatos 
efêmeros, as narrativas partilham imagens e signi� cados que não perecem. 
Ao contrário disto, as narrativas, como formas artesanais de comunicação, 
fortalecem os sentidos das experiências justamente por terem sido geradas 
por elas.
13Contador de histórias
Regina Machado, arte-educadora e pesquisadora da arte de contar histórias 
desde o início da década de 1980, nos ensina sobre os recursos que o narrador 
possui e sobre os caminhos que podem contribuir com a sua formação. 
A narração de histórias é fruto de um verdadeiro encontro entre o narrador e o 
conto. Um estudo minucioso do conto, como se ele esse fosse uma verdadeira 
locomotiva composta por várias partes ou vagões, pode ajudar o narrador 
a conhecer os diferentes movimentos, climas e situações que compõem o 
desenvolvimento da narrativa. (MACHADO, 2004, pg 44).
Sobre os climas e os ritmos que regem o conto, a autora nos ensina a percebê-
-los não apenas por meio dos adjetivos que apresentam o contexto onde a 
história acontece, mas, sobretudo, através de uma investigação daquilo 
que ressoa dentro de nós mesmos quando conhecemos uma narrativa pela 
primeira vez. 
Neste sentido, o narrador pode lançar mão de suas próprias lembranças 
pessoais, de suas experiências, sensações e sentimentos para melhor 
compreender a história que deseja contar. Uma sincera “conversa com o conto” 
é também fundamental para que o narrador possa conhecer as características 
dos personagens e apropriar-se bem delas no momento da narração. 
5. Para contar uma história...
14Contador de histórias
É este processo de apropriação da história que confere características próprias 
a cada narrador. Assim como cada indivíduo realiza elaborações pessoais a 
partir de suas trocas com o mundo, uma mesma história pode ser contada 
por diversas pessoas de maneiras muito diferentes. Para que essa diversidade 
seja garantida juntamente com a própria identidade de cada pessoa que 
deseja narrar, Machado propõe que estes estudos do conto sejam criadores 
(MACHADO, 2004. pg 44) e isto signi� ca também que a qualidade de 
presença do narrador deve ser preservada muito antes do encontro com seus 
ouvintes.
A atenção com as experiências cotidianas, os pequenos acontecimentos, a 
observação das pessoas e dos efeitos que seus diferentes temperamentos nos 
causam, a percepçãoe o registro das nossas próprias reações diante de todas as 
experiências que nos atravessam aumentam nossos recursos e ampliam nosso 
repertório sensível. É no coração e na mente do indivíduo que a interação 
entre o interno e o externo acontece e, portanto, é preciso estar atento aos seus 
movimentos se queremos garantir a qualidade de nossa presença, atributo tão 
fundamental para o narrador de histórias.
 Para além de todos os exercícios e jogos de preparação que vocês poderão 
aprender ao longo deste curso, é importante que aprendam que o melhor 
exercício que um narrador pode aprender e realizar é o de sua própria 
curiosidade, é a manutenção constante de seu desejo de conhecer o mundo 
e a si mesmo cada vez melhor. Isto, sem esquecer que a imaginação criadora 
oferece caminhos muito enriquecedores para essas práticas.
 
15Contador de histórias
Machado de� ne o tempo para o qual somos conduzidos ao ouvirmos uma 
história por meio de uma análise da mais conhecida introdução dos contos 
de fadas: Era uma vez... Esta é a adaptação da versão inglesa do “Once 
upon a time” cuja a tradução mais precisa seria “uma vez acima, ou além 
do tempo” (MACHADO, 2004, pg 22). Este lugar ou este tempo acima ou 
além do tempo é o espaço inaugurado pela imaginação quando contamos ou 
ouvimos uma história. É como se, neste momento, quando acompanhamos 
a chegada de um conto, a linha que amarra os instantes cotidianos fosse 
superada, rompida e reatada por uma organização pessoal que parece unir em 
nós mesmos experiências e imagens ao mesmo tempo inéditas e conhecidas. 
De acordo com Machado, “Era uma vez” quer dizer que a singularidade 
do momento da narração uni� ca o passado mítico – fora do tempo – 
com o presente único – no tempo – daquela pessoa que a escuta e a 
presenti� ca. É a história dessa pessoa que se conta pra ela por meio do 
relato universal (MACHADO, 2004, pg 23).
6. O tempo do conto
16Contador de histórias
A narradora mais famosa do mundo talvez seja a sábia Sherazade, personagem 
do Livro das Mil e uma Noites. Este livro é, na realidade, uma coletânea de 
contos originados em diversas áreas do Oriente Médio, organizados dentro 
de uma outra história que narra como a nossa sábia narradora conseguiu 
escapar da morte. Ela havia se casado com um rei que, para vingar-se de 
uma antiga traição feminina, havia prometido casar-se a cada noite com uma 
mulher diferente e ser o assassino de todas elas na manhã que sucedesse a 
cerimônia. A jovem Sherazade teve que se casar com ele. Para evitar a própria 
morte, entretém o rei, a cada noite, com suas histórias 
intermináveis. Para saber a continuação da história, ele a mantém viva por 
mais uma noite... 
 O Pantchatantra é um livro que reúne contos tradicionais indianos. Foi 
originalmente escrito em Sânscrito e posteriormente foi traduzido por árabes, 
persas, gregos, chineses e muitos outros povos que se encantaram com seu 
conteúdo. 
As fábulas são histórias com conteúdo moral nas quais os personagens 
são, geralmente, animais, forças da natureza ou objetos que assumem 
características e temperamentos humanos. Esopo foi um homem que viveu 
na antiga Grécia e � cou conhecido como um grande fabulista. Séculos mais 
tarde, La Fontaine retomou as fábulas herdadas de nossos antigos amigos 
gregos e tornou-se o principal representante do gênero no mundo. A famosa 
fábula “ A Tartaruga e a Lebre” é um texto atribuído a Esopo, porém, La 
Fontaine também apresenta este mesmo conto, fazendo uma espécie de 
releitura. 
7. Algumas referências 
do mundo todo
17Contador de histórias
Ainda na Europa, não podemos deixar de mencionar Charles Perrault, que foi 
um dos primeiros coletores de contos de fadas que se tem notícia. Seguindo o 
exemplo deste, os irmãos Grimm, mais tarde, começaram a recolher contos 
de fadas com amigos, familiares e, posteriormente, com as mais diversas 
pessoas em todos os cantos da Europa. 
Idries Shah foi um importante mestre da tradição Su� , e um grande autor 
de livros através dos quais reuniu muitos contos de ensinamentos. Muitos 
contos vividos pelo personagem da tradição Su� , o famoso Nasrudim, foram 
também reunidos por Shah.
18Contador de histórias
A criação da noite
No princípio, não havia noite. Só existia o dia. 
A noite estava guardada no fundo das águas.
Aconteceu, porém, que a � lha da Cobra Grande se casou 
e disse ao marido:
– Meu marido, estou com muita vontade de ver a noite.
– Minha mulher, há somente o dia – respondeu ele.
– A noite existe, sim! Meu pai guarda-a no fundo do rio. Mande seus 
criados buscá-la.
Os criados embarcaram em uma canoa e partiram em busca da noite.
Chegando a casa da Cobra Grande, transmitiram-lhe o pedido da 
� lha. Receberam, então, um coco de tucumã com o seguinte aviso:
- Muito cuidado com este coco. Se ele abrir, tudo � cará escuro 
e todas as coisas se perderão.
No meio do caminho os criados ouviram, dentro do coco, 
um barulho assim: xé-xé-xé.... tém-tém-tém... Era o ruído dos sapos 
e grilos que cantam durante a noite. Mas os criados não sabiam 
disso e, cheios de curiosidade, abriram o coco de tucumã. 
Nesse momento, tudo escureceu.
8. O Brasil: terra cheia de lendas 
e histórias para contar
19Contador de histórias
A moça, em sua casa, disse ao marido:
– Seus criados soltaram a noite. Agora, não teremos mais dia 
e todas as coisas se perderão.
Então, todas as coisas que estavam na � oresta se transformaram 
em animais e pássaros, e as coisas que estavam espalhadas 
pelo rio transformaram-se em peixes e patos.
O marido da � lha da Cobra Grande � cou espantado 
e perguntou à esposa:
– Que faremos? Precisamos salvar o dia!
A moça arrancou então um � o de seus cabelos, dizendo:
– Não tenha receio. Com este � o, vou separar o dia e a noite. 
Feche os olhos... Pronto! ... Agora pode abrir os olhos. 
Repare: a madrugada já vem chegando. Os pássaros cantam, 
alegres, anunciando o sol.
Quando os criados voltaram, a � lha da Cobra Grande � cou furiosa. 
E os transformou em macacos como castigo pela sua in� delidade.
Assim nasceu a noite. 
(lenda extraída do livro “Lendas e Mitos do Brasil” organizado por 
� eobaldo Miranda Santos)
20Contador de histórias
Comparada a muitas culturas do mundo, poderíamos dizer que a cultura 
brasileira leva uma imensa vantagem, principalmente por reunir in� uências 
de origens tão distintas: a cultura européia, a indígena e a africana. Outra 
especi� cidade que faz do Brasil um país culturalmente rico e variado é a 
extensão de nosso território. Nosso país é composto pelas mais variadas 
condições climáticas que, por sua vez, propiciaram o surgimento de estilos 
de vida que variam de acordo com cada região.
Para nós, narradores, tudo isso signi� ca que a imensa variedade da cultura 
brasileira nos alimenta com milhares de histórias para serem contadas!
Nossa terra foi o berço não apenas de autores importantes que enriqueceram 
nossa literatura com ótimas histórias como o Guimarães Rosa e Machado de 
Assis, como também aninhou, em cada um de seus cantos, pessoas anônimas 
e muito preciosas, que contribuíram para que o nosso repertório de causos e 
lendas fosse mantido e se tornasse grandioso. 
O folclore brasileiro ou a reunião de histórias, lendas e mitos que atravessam 
as gerações tecendo o que conhecemos por cultura popular, costuma ser 
bastante difundido não apenas pelas manifestações festivas e religiosas, mas 
também nos ambientes escolares.
Entre as � guras folclóricas mais populares estão o Saci-Pererê, a Mula sem 
cabeça, a Iara ou A mãe d’água que, por sua vez reaparece em diversas 
partes do mundo por meio da imagem da sereia, o Boitatá, o Curupira e o 
Lobisomem.
21Contador de histórias
Os mitos e lendas são balaios de naturezas distintas que reúnem centenas 
de narrativas. As narrativas mitológicas nasceram dastentativas, feitas 
por homens antigos, esclarecer os mistérios que envolvem temas como 
o surgimento do mundo, os fenômenos da natureza e até os padrões 
encontrados nos temperamentos humanos, muito antes da ciência ter surgido 
como um método pelo qual podemos conhecer as coisas. Muitos mitos estão 
relacionados com determinadas religiões e por este motivo é muito comum 
encontrarmos, nestas narrativas, o tema do envolvimento entre deuses e seres 
humanos. 
A lenda é uma narrativa transmitida por meio da oralidade cujo teor é uma 
verdadeira mistura entre acontecimentos reais (ou pelo menos plausíveis) 
e outros, absolutamente � ctícios. Nasce dos saberes e do imaginário 
característico de cada povo.
Por estarem sempre vinculadas às particularidades dos contextos aos quais 
pertencem, podemos entender que as lendas e os mitos representam um rico 
caminho para aquele que deseja aproximar-se de determinada cultura sem 
que esta tenha sido fragmentada por qualquer tentativa de hierarquização 
dos campos distintos do conhecimento.
9. Breve comentário sobre 
mitos e lendas
22Contador de histórias
BENJAMIM. Walter. “O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolay 
Leskov”. In: Magia e técnica, arte e política – Obras Escolhidas vol.1. 
Tradução Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994.
HAMPATÉ BÂ, Amadou. “A Tradição Viva”. In: J KIZERBO, História 
Geral da África. Vol. 1 – Metodologia e pré-história da África. São 
Paulo/Paris: Ática/UNESCO: 1980.
MACHADO, Regina S. B. Acordais: Fundamentos Teórico-poéticos da 
Arte de Contar Histórias, São Paulo: DCL, 2004.
PHILIP, Neil. Volta ao Mundo em 52 Histórias. São Paulo: Cia das Letras, 
2012.
SACRANIE, Magdalene. O amuleto perdido e outras lendas africanas. São 
Paulo: Panda Books, 2010.
SANTOS, � eobaldo Miranda. Lendas e Mitos do Brasil. São Paulo: 
Companhia Editora Nacional, 2004.
10. Referências Bibliográfi cas
23Contador de histórias
24Contador de histórias 24Contador de histórias
Contador
de histórias

Outros materiais