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Popper e críticas ao dogmatismo: contribuições à Ciência e aos processos de conhecimento e de ensino e aprendizagem. Prof. Dr. Antonio Carlos Jesus Zanni de Arruda Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP GEPE – Grupo de Estudo e Pesquisa: Epistemologia e Filosofia - USC e-mail: antonio.arruda@usc.br Prof. Ms. Jackson Valentim Bastos Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP e-mail: jackson.bastos@usc.br GEPE – Grupo de Estudo e Pesquisa: Epistemologia e Filosofia - USC Fernando Kendi Noda Universidade do Sagrado Coração, Bauru/SP e-mail: kendi.noda@gmail.com GEPE – Grupo de Estudo e Pesquisa: Epistemologia e Filosofia - USC Pôster Eixo 7- Educação e psicologia Aspectos psicoeducacionais envolvidos nos processos educativos com ênfase nas relações entre desenvolvimento e aprendizagem. Pesquisa concluída RESUMO EXPANDIDO Palavras-chave: Educação, conhecimento científico, Psicologia, Filosofia da Ciência Introdução Karl Popper (1902 - 1994) foi um dos filósofos da ciência contemporânea mais influentes no movimento e no pensamento científico, principalmente no século XX. Popper propõe todo um questionamento sobre o modo de se pensdar e de se praticar a ciência. Dizia ele que a ciência atual se desligou ou deliberadamente se afastou de seu principal papel: o de colocar todas as teorias em xeque, através de refutações que promovam todo um pensar sobre o mundo. Metodologia A pesquisa, por ser de caráter teórico, foi realizada fundamentalmente através de análise estrutural de textos. Dentro da tradição filosófica há uma maneira clássica de interpretação de textos, que busca a ordem interna das razões levantadas pelo autor. Na análise do texto, busca-se atingir as justificações que um autor dá de seu próprio sistema (ordem das razões levantadas por ele). Portanto, nossa maneira de “ler” o texto busca atingir esta ordem interna das razões, isto é, interpretar um texto recorrendo, quando possível, ao original. Portanto, a metodologia adotada é a de interpretação do texto buscando reapreender, conforme a intenção do autor, a ordem das razões e sem jamais separar as teses dos movimentos que a produziram (conforme a intenção de seu autor). Neste sentido, utilizaremos o que chamamos de “interpretação dogmática ”4, não no sentido de se adotar uma postura fechada, intransigente, mas no aspecto de que este tipo de interpretação nos apresenta uma revelação de um conjunto de teses, podendo ser um método científico e sempre 4 Godschmit, Victor – “Tempo histórico e tempo lógico na Interpretação dos sistemas filosóficos”. In : A Religião de Platão , Difusão européia do livro, 139 a 143; 1963. instrutivo, buscando as causas e se arriscando a explicar o sistema além ou por cima da intenção do autor”. Com isso ultrapassaremos teses ligadas umas às outras numa ordem por razões, reaprendendo a ordem dessas razões sem jamais abandonar o referencial que se têm em mãos. Explicitamos que por essa metodologia “doutrina e método de investigação não são elementos separados; pois o método se encontra em ato nos próprios movimentos de pensamento filosófico e a principal tarefa do intérprete é restituir a unidade indissolúvel deste pensamento que inventa teses, praticando um método”6 , ou seja que a pesquisa em filosofia é um corpo. É claro que este posicionamento nos remete a um “tempo lógico”, ou seja de um método que possui pretensões a um valor universal e o tempo onde se desenvolve esse percurso, mas que compreendendo o valor e a importância deste caminho não exclui a originalidade e a independência de quem os interpreta, pois o caminhar filosófico não revelará “a verdade” em bloco e de uma só vez, mas de maneira sucessiva e progressiva, unindo teses e movimentos de maneira indissolúvel. Discussão Karl Popper (1902 - 1994) abandona a tese de que qualquer afirmação que fazem supor que as teorias podem ser estabelecidas como verdadeiras ou provavelmente verdadeiras à luz da evidência observativa. As teorias são interpretadas como conjecturas especulativas ou suposições criadas livremente pelo intelecto humano no sentido de superar problemas encontrados por teorias anteriores. Uma vez propostas, as teorias especulativas devem ser rigorosa e inexoravelmente testadas por observação e experimento. Teorias que não resistem a testes de observação e experimentais devem ser eliminadas e substituídas por conjecturas especulativas ulteriores. Neste sentido, a ciência progride por tentativa e erro, por conjecturas e 6 Idem refutações. Apenas as teorias mais adaptadas sobrevivem. Embora nunca se possa dizer legitimamente de uma teoria que ela é verdadeira, pode-se confiantemente dizer que ela é a melhor disponível, que é melhor do que qualquer coisa que veio antes. Diante deste quadro, perguntamo-nos: qual seria então o verdadeiro papel do cientista? Segundo Popper, um cientista do ponto de vista ético teria duas missões: 1) Elaborar teorias com experimentos ( do contrário tais conhecimento serão “apenas filosofias”, com discursos tá somente abstrato e pouco científico), que tentem dar conta do mundo o máximo possível, levando em conta que a verdade nunca será atingida, nem enquanto objeto, nem tampouco como linguagem. 2) Após elaborar essas teorias, criar testes que tentem derrubar a mesma, e quanto a teoria passar por testes e resistir, mas ela será falseável e portanto científica, até chegar ao ponto em que a mesmas já não mais resistindo aos testes, entra em crise e aí faz-se necessário a troca de teoria. Neste sentido, toda Ciência e todo cientista deve ser um revolucionário, não se apegando a valores pessoais ou excusos, que o fazem a permanecer centro de uma mesma teoria por quase toda a sua vida. Para ele, não há sentido em se fazer Ciência se não fôr desse modo. Para ilustrar seus argumentos, no texto “Conjecturas e Refutações”, Popper cita como determinados campos da Ciência se tornaram dogmáticos, ao permanecerem dentros de seus nixos teóricos, defendendo valores e até trabalhando com “previsões”, já que quando se torna dogmático, o cientista só consegue enxergar o mundo de acordo com aquilo que professa, não permitindo críticas: são os casos da Astrologia, do Marxismo e até de uma área da Psicologia: a Psicanálise: Diz Popper: As duas teorias psicanalíticas pertencem a outra categoria, por serem simplesmente não “testáveis” e irrefutáveis. Não se podia concebert um tipo de comportamente humano capaz de contradizê-las. Isso não significa que Freud e Adler estivessem de todos errados. Pessoalmente, não duvido da importância de muito do que afirmam e acredito que algum dia essas informações terão um papel importante numa ciência psicológica “testável”. Contudo, as “observações clínicas”, da mesma maneira que as confirmações diárias encontradas pelos astrólogos, não podem mais ser consideradas confirmações da teoria, como acreditam ingenuamente os analistas. Quanto à epopéia freudiana do Ego, Superego e Id, não se pode reivindicar para ela um padrão científico mais rigoroso do que as estórias de Homero sobre o Olimpo. Essa teorias descrevem fato, mas à maneira de mitos:sugerem fatos psicológicos interessantes, mas não de maneira “testável”. (K. R. Popper, Conjectures and Refutations (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1969), p.67. Considerações finais Neste sentido, Popper contribui com a educação e, particularmente coma educação científica, em criticarmos não somente nossas didáticas, mas em como ensinamos nosso aluno a ser ativo. Incentivamos de fato, para que o mesmo não seja dogmático, como muitas vezes o somos, em olhar para o mundo somente do modo com nós o enxergamos? Será que a próprias questões psicoeducacionais e ou psicopedagógicas quando enxergam o aluno somente através de uma teoria não estão limitando nossa compreensão do desenvolvimento e aprendizagem do nosso aluno, somente porque pensamos e encaramos a realidade educacional como uma busca de mágicas, previsões ou receitas de bolo? Pensemos, e porque não dizer critiquemos, porém com qualidade! Referências ARRUDA, A.C.J.Z. A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO ESPACIAL, SEGUNDO A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET. UNESP: Bauru. Dissertação de Mestrado. 2004, 223 folhas. Disponivel em http://www2.fc.unesp.br/BibliotecaVirtual/ArquivosPDF/DIS_MEST/DIS_MEST2 0040930_ARRUDA%20ANTONIO%20CARLOS%20JESUS%20ZANNI%20DE. pdf. ARRUDA, A.C. J.Z. INTELIGÊNCIA E ENSINO DE CIÊNCIAS: UM ESTUDO FUNDAMENTADO NA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET. UNESP: Bauru. Tese de Doutorado. 2009, 154 folhas. Disponivel em http://www2.fc.unesp.br/BibliotecaVirtual/ArquivosPDF/TES_DOUT/TES_DOUT 20090703_DE%20ARRUDA%20ANTONIO%20CARLOS%20JESUS%20ZANN I.pdf CHALMERS, ALAN F. O QUE É CIÊNCIA AFINAL?Tradução: Raul Filker. Editora Brasiliense, 1993.64 K. R. Popper, Conjectures and Refutations (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1969), p.67. 4 Godschmit, Victor – “Tempo histórico e tempo lógico na Interpretação dos sistemas filosóficos”. In : A Religião de Platão , Difusão européia do livro, 139 a 143; 1963. POPPER, K.S. A lógica da pesquisa científica. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1975 PRIGOGINE, I. O Fim das Certezas. São Paulo: Unesp, 1996.
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