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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM Ádrea Alvarenga da Silva Mariana Raimunda de Souza Marianne Ferraz Silva Flores Natália Barcelos de Lima AIDS NA TERCEIRA IDADE: uma revisão da literatura Governador Valadares 2009 1 ÁDREA ALVARENGA DA SILVA MARIANA RAIMUNDA DE SOUZA MARIANNE FERRAZ SILVA FLORES NATÁLIA BARCELOS DE LIMA AIDS NA TERCEIRA IDADE: uma revisão bibliográfica Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem apresentada à Área de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce. Orientadora: Profª. Ms. Ana Carolina de O. Martins Moura Governador Valadares 2009 2 ÁDREA ALVARENGA DA SILVA MARIANA RAIMUNDA DE SOUZA MARIANNE FERRAZ SILVA FLORES NATÁLIA BARCELOS DE LIMA AIDS NA TERCEIRA IDADE: uma revisão da literatura Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem apresentada à Área de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce. Governador Valadares, 23 de novembro de 2009. Banca Examinadora: ___________________________________________________________ Profª. Ms. Ana Carolina de Oliveira Martins Moura – Orientadora Universidade Vale do Rio Doce ___________________________________________________________ Profª. Andréia Eliane Silva Barbosa Universidade Vale do Rio Doce ___________________________________________________________ Profª. Patrícia Carvalho do Canto Universidade Vale do Rio Doce ___________________________________________________________ Profª. Patrícia Malta Pinto Universidade Vale do Rio Doce 3 Este trabalho é dedicado aos nossos familiares, amigos e professores que contribuíram para o nosso crescimento intelectual, a todos os profissionais que se dedicam ao cuidar. 4 AGRADECIMENTOS Agradecimentos serão, nesse momento, nossa pequena contribuição àqueles que de forma direta ou indireta nos ajudaram a construir este trabalho; pequena pelo fato de que este trabalho é, para nós, mais que um trabalho de conclusão de curso a que os estudantes são submetidos. É o resultado de uma formação acadêmica intensa e gratificante. Agradecemos a Deus pela oportunidade e pelo privilégio que nos foi dado, o de concluir este trabalho, por ter nos ajudado nesta conquista, ter estado conosco em todos os momentos, e não ter deixado as dificuldades nos abalar. Às nossas famílias, pela fé e confiança demonstrada; pelo incentivo e colaboração, principalmente nos momentos de dificuldade. Aos professores do curso que exigiram de nós a dedicação aos estudos e que nos fizeram compreender o real valor do conhecimento não só para a realização profissional mas também para a vida. À nossa Orientadora Prof. Ana Carolina pelo incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização deste trabalho de Conclusão de Curso, pelo seu espírito inovador e empreendedor na tarefa de multiplicar seus conhecimentos, Aos nossos colegas pelas palavras amigas nas horas difíceis, pelo auxílio nos trabalhos e dificuldades e, principalmente, por estarem conosco nesta caminhada tornando-a mais fácil e agradável, pelos momentos de aprendizagem constante e pela amizade solidificada, que, certamente, se eternizará. A vocês o nosso “muito obrigado!” 5 “Envelheço quando me fecho para as novas idéias e me torno radical... quando o novo me assusta e minha mente insiste em não aceitar... quando me torno impaciente, intransigente e não consigo dialogar... quando meu pensamento abandona sua casa e retorna sem nada acrescentar... quando muito me preocupo e depois me culpo por não ter tido motivos para me preocupar... quando penso demasiadamente em mim mesmo e consequentemente, dos outros, completamente me esqueço... quando tenho a chance de amar e daí o coração se põe a pensar: “Será que vale a pena correr o risco de me dar? Será que vai compensar?" quando permito que o cansaço e o desalento tomem conta de minha alma e ponho a me lamentar... quando penso em ousar e já antevejo o preço que terei que pagar pelo ato, mesmo que os fatos insistam em me contrariar!” (Autor Desconhecido) 6 RESUMO Este trabalho tem como objetivo estudar a vulnerabilidade dos idosos ao HIV/AIDS, conhecer o perfil epidemiológico e a incidência do HIV/AIDS na terceira idade no Brasil desde o ano de 1985 a 2008; com intuito de contribuir nas elaborações futuras de medidas de prevenção ao HIV. Apesar da epidemia do HIV/AIDS estar inserida em todas as camadas sociais, observa-se que tem havido aumento no número de casos em idosos. Os idosos são o grupo populacional que mais cresce fazendo com que hoje o envelhecimento seja considerado um proeminente fenômeno mundial. Com o crescente aumento da expectativa de vida, das oportunidades sociais, da disponibilização de medicamentos para disfunção erétil, tem impulsionado a vida sexual do idoso, tornando estes vulneráveis a adquirir HIV/AIDS. Outro fator importante que expõem esta população ao HIV/AIDS é a carência de informações sobre a doença, o preconceito contra o uso de preservativos, diagnósticos tardios e falta de ações preventivas voltadas para esse grupo como também falta de capacitação profissional. O aumento no número de pessoas contaminadas por HIV/AIDS em mais de 60 anos emerge como um grande desafio para o Brasil exigindo o estabelecimento de políticas públicas e estratégias que possam garantir qualidade de vida a essas pessoas. As estratégias para a prevenção do HIV/AIDS são caracterizadas pela identificação dos comportamentos envolvidos na transmissão destas doenças, análise das determinantes dos comportamentos nos diferentes grupos sociais e intervenções comportamentais para induzir e manter as alterações do comportamento. Os enormes progressos do conhecimento e da técnica não esvaziaram os desafios da prevenção, uma vez que tais avanços não chegaram a alterar substantivamente os determinantes da vulnerabilidade ao HIV/AIDS da população da terceira idade. Faz-se necessário que a Enfermagem desenvolva seu senso crítico, sistemático, holístico, reflexivo e humanizado. Dito de outra forma há necessidade de se associar a teoria à prática, para transformar a atividade em práxis, que vai validar o conhecimento. A metodologia utilizada foi uma revisão sistemática da literatura, tendo como ferramenta norteadora, material já publicado sobre o tema; livros, artigos científicos, publicações periódicas e materiais na Internet disponíveis nos seguintes bancos de dados: DATA SUS, SCIELO, MINISTÉRIO DA SAÚDE, BIREME. Conclui-se que o estudo identificou algumas das evidências que levam os idosos a tornarem-se susceptíveis e vulneráveis ao HIV/AIDS, tais como: carência de informações, preconceito ao uso de preservativos, diagnósticos tardios, políticas de prevenção e capacitação profissional; podendo este ser uma ferramenta útil para os profissionais de saúde repensarem a sua prática e direcionarem investimentos nesta área do conhecimento. Palavras Chave: HIV. AIDS. Terceira idade. 7 ABSTRACT This work aims to studythe vulnerability of the elderly to HIV / AIDS, knowing the epidemiological profile and the incidence of HIV / AIDS in the elderly in Brazil since 1985 to 2008, in order to contribute in future elaborations of preventive measures to HIV. Despite the epidemic of HIV / AIDS be included in all social strata, it is observed that there has been increase in the number of cases in the elderly. The elderly are the group's fastest growing population causing aging today is considered a preeminent worldwide phenomenon. With increasing life expectancy, social opportunities, provision of drugs for erectile dysfunction, has driven the sex life of the elderly, making them vulnerable to acquiring HIV / AIDS. Another important factor that expose this population to HIV / AIDS is the lack of information about the disease, the bias against the use of condoms, delayed diagnosis and lack of preventive actions aimed at this group as well as lack of professional training. The increase in the number of people infected by HIV / AIDS in more than 60 years emerged as a major challenge for Brazil demanding the establishment of public policies and strategies that can guarantee quality of life for these people. Strategies for prevention of HIV / AIDS are characterized by identifying the behaviors involved in the transmission of these diseases, analysis of the determinants of behavior in various social and behavioral interventions to induce and maintain behavioral changes. The enormous advances in knowledge and technology are not emptied the challenges of prevention, since such advances not to significantly alter the determinants of vulnerability to HIV / AIDS population of seniors. It is necessary that nursing develop their critical thinking, systematic, holistic, reflective and humane. In other words there is need to link theory with practice, to transform the activity in practice, which will validate the knowledge. The methodology used was a systematic review, with the guiding tool, material already published on the subject, books, papers, periodicals and materials on the Internet available in the following databases: DATA SUS SCIELO, MINISTRY OF HEALTH, BIREME. We conclude that the study identified some of the evidence that lead the elderly to become susceptible and vulnerable to HIV / AIDS, such as lack of information, bias towards condom use, delayed diagnosis, prevention policies and professional training, may this is a useful tool for health professionals to rethink their practice and directing investments in this area of knowledge. Keywords: HIV. AIDS. Elderly. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 9 2 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................... 11 2.1 AIDS NA ATUALIDADE................................................................................. 11 2.2 TERCEIRA IDADE......................................................................................... 15 2.3 SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE............................................................... 18 2.4 VULNERABILIDADE À AIDS NA TERCEIRA IDADE................................... 21 2.5 EVOLUÇÃO DA AIDS NA TERCEIRA IDADE.............................................. 24 2.6 MEDIDAS PREVENTIVAS............................................................................ 29 2.7 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA PARA ENFERMAGEM............................ 32 3 METODOLOGIA.............................................................................................. 36 3.1 TIPO DE ESTUDO........................................................................................ 36 4 CONCLUSÃO.................................................................................................. 38 REFERÊNCIAS................................................................................................... 42 9 1 INTRODUÇÃO O crescimento da população idosa no Brasil e no mundo é algo presente nas estatísticas demográficas, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, o que corresponderá a 15% da população brasileira (aproximadamente 30 milhões de pessoas). Um número significativo que representa um crescimento três vezes maior que a adulta (BRASIL, 2006). O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade, mas também é um dos nossos grandes desafios. O envelhecimento global causará um aumento das demandas sociais e econômicas em todo o mundo, no entanto, as pessoas da terceira idade, que de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) pessoas acima de 60 anos de idade, são geralmente ignoradas como recurso, quando, na verdade constituem recurso importante para a estrutura das nossas sociedades (CASSIANO et al., 2005). Neste contexto emerge a AIDS, cuja tendência sugere que o número de idosos contaminados pelo HIV será ampliado (ARAÚJO; SALDANHA, 2006). Segundo Brasil (2005), a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença caracterizada por disfunção grave do sistema imunológico do indivíduo infectado pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), sendo este transmitido por contato direto e/ou troca de sangue bem como fluidos corporais de uma pessoa já infectada. A epidemia pelo HIV/AIDS é hoje, no Brasil, um fenômeno de grande magnitude e extensão. Entre os homens, a expansão foi de 98% na última década. Sobre a parcela feminina idosa, a epidemia avança como um rolo compressor; houve um crescimento de 567% entre 1991 e 2001. A doença avança sobre uma parcela da população fisicamente fragilizada e de abordagem mais complexa: os idosos. O número de casos confirmados de AIDS, na terceira idade, cresce no Brasil como em nenhuma outra faixa etária, de acordo com dado do Ministério da Saúde (2007), o número de casos entre os idosos já supera o índice da doença entre os adolescentes de 15 a 19 anos (CALDAS; GESSOLO, 2007). A associação do aumento da longevidade, melhoria na qualidade de vida das pessoas idosas, juntamente com as descobertas científicas para aumentarem a 10 atividade sexual e a resistência dos mesmos ao uso do preservativo, tornam esta população susceptíveis/vulneráveis em adquirir o HIV/AIDS (ARONSON; BRITO; SOUSA, 2006). A AIDS vem se confirmando como uma ameaça à saúde pública e a tendência sugere que, em pouco tempo, o número de idosos contaminados pelo HIV será ampliado significativamente, principalmente devido à vulnerabilidade física e psicológica, pouco acesso a serviços de saúde, além da invisibilidade com que é tratada sua exposição ao risco, seja por via sexual ou uso de drogas ilícitas. Além disso, a falta de campanhas destinadas aos idosos faz com que esta população esteja geralmente menos informada sobre o HIV e menos consciente de como se proteger (ARAÚJO; SALDANHA, 2006). Essa ampliação da AIDS entre os idosos pode estar diretamente ligada a uma falha nos esforços de prevenção com este grupo de idade, a prevenção é algo muito complexo, representando um desafio para as atuais políticas de saúde pública, já que as campanhas de prevenção concentram-se sua atenção na população jovem. Desta forma, objetivar campanhas para a faixa etária idosa é fundamental. Contudo, somente o conhecimento não é suficiente para mudar o comportamento, de maneira que o indivíduo seja capaz de adotar práticas seguras, a fim de evitar a infecção, mas é necessário enfocar aspectos sócio-culturais para se reduzirem os riscos e as vulnerabilidades, já que na visão da sociedade a concepção arraigada de que sexo é prerrogativada juventude contribui para manter desassistida essa parcela da população da terceira idade (ARONSON; BRITO; SOUSA, 2006). A elevada incidência da infecção por HIV/AIDS na população idosa nos despertou o interesse em elaborar o trabalho. Baseado nessas evidências, surgiu a pergunta que norteou a construção do mesmo: “O que leva os idosos a se tornarem vulneráveis à infecção pelo HIV?”. Diante do exposto, temos como objetivo conhecer a evolução da AIDS na terceira idade. A busca desse conhecimento permitiu visualizar em que contexto esta população se torna vulnerável, oferecendo assim, subsídios aos profissionais enfermeiros para o planejamento de suas ações de prevenção e promoção à saúde considerando o cenário atual. 11 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 AIDS NA ATUALIDADE A AIDS não é só uma doença, mas um fenômeno social de grandes proporções que causam impacto nos princípios morais, religiosos e éticos, procedimentos de saúde pública e de comportamento privado, nas questões relativas à sexualidade, ao uso de drogas e moralidade conjugal (FONTES et al., 2008). Identificada em 1981, a síndrome da imunodeficiência adquirida, habitualmente conhecida como AIDS, tornou-se um marco na história da humanidade. A epidemia da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e da AIDS representa um fenômeno global, dinâmico e instável, cuja forma de ocorrência nas diferentes regiões do mundo depende, entre outros determinantes, do comportamento humano individual e coletivo (GOMES; SILVA, 2008). Por seu caráter pandêmico e sua gravidade, a AIDS representa um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade. Estima-se atualmente no mundo, 33,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV/AIDS, com alto índice de letalidade, matando desde o seu surgimento em 1981, 25 milhões de pessoas. A África Subsaarina é a região mais afetada no mundo, concentrando 68% do total mundial – 22,5 milhões de pessoas vivendo com o vírus - a maioria (61%) de mulheres. De todos os países do mundo a África do Sul é o país que tem o maior número de infecções por HIV (ZORNITTA, 2008). De acordo com Brasil (2009), o país acumulou cerca de 205 mil mortes por AIDS até junho de 2007. Até meados da década de 1990, os coeficientes de mortalidade eram crescentes. Hoje, o índice se mantém estável com cerca de 11 mil óbitos anuais desde 1998. Após a introdução da política de acesso universal ao tratamento antirretroviral, a mortalidade caiu e a sobrevida aumentou. Dourado et al. (2006) relata que na América Latina, o Brasil, é o país mais afetado pela epidemia de AIDS em números absolutos. Estima-se que 1,8 milhões de pessoas vivem com HIV nessa Região, e um terço delas encontra-se no Brasil. 12 Segundo Brasil (2009), no país, desde a identificação do primeiro caso em 1980 até junho de 2008, já foram identificados, aproximadamente, 506 mil casos da doença. Do total de notificações, cerca de 80% estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul. Nesses estados, atualmente, observa-se um lento processo de estabilização desde 1998, acompanhado mais recentemente pelo Centro-Oeste. As regiões Norte e Nordeste mantêm a tendência de crescimento do número de casos. A atual situação da epidemia no Brasil é resultado das desigualdades da sociedade brasileira, revelando uma epidemia de múltiplas dimensões que vem, ao longo do tempo, sofrendo transformações em seu perfil epidemiológico (GOMES; SILVA, 2008). Um dos aspectos mais atuais da epidemia é o surgimento de uma nova população vulnerável: os idosos. Segundo Brasil (2006), o número de casos de AIDS, em pessoas idosas, notificados ao Ministério da Saúde, na década de 80, eram apenas 240 em homens e 47 em mulheres. Na década de 90, verifica-se um total de 2.681 homens e 945 mulheres. Do primeiro caso, nessa população até junho de 2005, o total de casos passou para 4.446 em homens e 2.489 em mulheres, caracterizando uma mudança no perfil epidemiológico da AIDS, já que o número de casos confirmados de AIDS na terceira idade no Brasil cresce como em nenhuma outra faixa etária, superando a ascensão do número de casos da doença entre os adolescentes de 15 a 19 anos. Segundo Aronso; Brito; Sousa et al. (2006), o número de casos entre os idosos já supera o índice da doença entre os adolescentes de 13 a 19 anos (gráfico 1). Casos de AIDS no Brasil (faixa etária de 13 a 19 anos e > de 60 anos) - 1985 a 30/06/2008 10400 10600 10800 11000 11200 11400 11600 11800 12000 12200 12400 fr e qu ên c ia > 60 anos de idade 13 a 19 anos de idade Gráfico 1 - Casos de AIDS no Brasil (faixa etária de 13 a 19 anos e maiores que 60 anos de idade) período de 1985 a 30/06/2008. Fonte: Brasil (2009). 13 Apesar da epidemia estar inserida em todas as camadas sociais, observa- se que tem havido aumento no número de casos em idosos. O aumento expressivo no número de pessoas com mais de 60 anos emerge como um grande desafio para o Brasil exigindo o estabelecimento de políticas públicas e estratégias que possam garantir qualidade de vida a essas pessoas. A AIDS é uma doença emergente, que representa um dos maiores problemas de saúde da atualidade em virtude de seu caráter pandêmico e gravidade (BRASIL, 2005). A AIDS caracteriza-se pela destruição progressiva e gradativa das células CD4+ pelo vírus HIV, a imunodeficiência resultante predispõe o cliente às infecções oportunistas, aos cânceres incomuns e a outras anormalidades distintas (BOUNDY et al., 2004). Segundo Brasil (2005), sua evolução é marcada por três fases: infecção aguda, infecção assintomática e infecção evolutiva; sendo que, a infecção aguda pode surgir semanas após a infecção inicial, com manifestações variadas, que podem se assemelhar a um quadro gripal ou mesmo a uma mononuclease. Nessa fase, os sintomas são autolimitadas e quase sempre a doença não é diagnosticada, devido à semelhança com outras doenças virais; infecção assintomática: de duração variável por alguns anos; e, fase evolutiva: é a doença sintomática, da qual a AIDS se manifesta sob a forma mais grave. É definida por diversos sinais e sintomas, tais como: febre prolongada, diarréia crônica, perda de peso importante superior a 10% do peso anterior do indivíduo, sudorese noturna, astenia, adenomegalia, tuberculose, toxoplasmose cerebral, candidíase e meningite por criptococos. O vírus da AIDS é transmitido através de contato direto e/ou troca de sangue bem como de fluidos corporais de uma pessoa já infectada, ou seja, através da atividade sexual sem proteção, do compartilhamento de agulhas, da transfusão de sangue contaminado e de mãe para filho, por meio de quatro vias: via placentária, durante o primeiro trimestre de gravidez; no momento do parto e durante a amamentação. Sendo o diagnóstico de HIV/AIDS pautado no exame físico, na história clínica do paciente, na confirmação dos fatores de risco, nos sintomas e, por fim, na identificação laboratorial (BARE; SMELTZER, 2002). Segundo Brasil (2007), os dois testes mais utilizados para o diagnóstico da AIDS são Elisa e o Western Blot. O teste Elisa é utilizado inicialmente. Ele procura no sangue do indivíduo os anticorpos que, de forma natural, são desenvolvidos pelo corpo em resposta à infecção pelo HIV. O resultado deste teste é 14 rápido, mas, ocasionalmente, pode surgir um falso positivo. Por isso, caso o resultado seja positivo, aconselha-se repetir o Elisa e, em seguida fazer o teste Western Blot para que não restem quaisquer dúvidas. Por ser custoso e trabalhoso esse último método só é utilizado como confirmatório dos resultados obtidos em testes imunoenzimático (ELISA). Além disso, é mais sensível e define, com mais precisão, a presença de anticorpos anti-HIV no sangue. Para sua realização utiliza antígenos doHIV, obtidos em cultura de linhagem celular, separados eletroforeticamente em bandas distintas, posteriormente transferida para membrana de nitrocelulose. A reação ocorre entre antígenos em contato com os anticorpos, presentes no soro ou no plasma de indivíduos infectados. De acordo com Boundy et al. (2004) até o momento não existe cura para a AIDS. Entretanto o tratamento inclui agentes retrovirais. Esses fármacos são usados em diversas combinações e tem como função inibir a replicação viral do HIV. Os agentes imunomoduladores reforçam o sistema imune, enquanto os fármacos antiinfecciosos e antineoplásicos combatem as infecções oportunistas e cânceres associados. A utilização dos medicamentos geram para o paciente um elevado gasto, o que contribuiu para a dificuldade a aderência ao tratamento. Sendo assim, no Brasil, em novembro de 1996, foi promulgada a lei Federal nº. 9.313, de 13/11/96, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que dispõe sobre a obrigatoriedade do acesso universal e gratuito aos medicamentos antiretrovirais no sistema público de saúde (BRASIL, 2003). Diante de uma doença com alta taxa de letalidade, no ano de 2003 foi iniciado um estudo realizado pelo Exército Americano com o governo da Tailândia, participaram voluntários de ambos os sexos: homens e mulheres, num total de 16 mil participantes não portadores de HIV, com faixa etária de 18 a 30 anos de idade, que viviam em regiões de altas taxas de infecção pelo HIV. Todos, antes de participarem, receberam aconselhamento sobre a prevenção do vírus HIV. Metade dos voluntários recebeu a vacina e a outra metade recebeu um placebo. Entre os voluntários que receberam a vacina, o risco de infecção pela AIDS foi 31,2% menor do que entre os que tomaram o placebo. Ao todo, 125 pessoas foram contaminadas durante os testes, 74 no grupo dos que tomaram placebo, e 51 no grupo dos que tomaram vacinas (BRASIL, 2009). 15 Essa pesquisa representa uma conquista muito importante para a comunidade científica e para a humanidade, depois de muitos anos de pesquisa, com repetidos insucessos, uma vacina, ou melhor, uma combinação de duas vacinas, se mostrou eficaz contra a AIDS. A vacinação experimental, testada na Tailândia, reduziu o risco de infecção da AIDS em 31,2%. Embora pareça ser um índice relativamente baixo de proteção contra a doença que atinge 33 milhões de pessoas no mundo, a experiência abre uma nova perspectiva para os pesquisadores e traz esperanças de que um produto mais eficaz seja desenvolvido mais rapidamente. A vacina é uma combinação da vacina Alvac, do laboratório Sanofi- Pasteur, e Aidsvax, desenvolvida por uma empresa de San Francisco chamada VaxGen (GIGLIOTTI, 2009). 2.2 TERCEIRA IDADE O critério mais utilizado para definir o “idoso” é o limite etário. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera 60 anos para os que vivem em países em desenvolvimento; e 65 anos para quem vive em países desenvolvidos. No Brasil a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003) consideram como idosos todos os que compõem a população de 60 anos e mais (CURIONI; PEREIRA; VERAS, 2003). Brasil (2006) define envelhecimento como um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. A grande problemática do envelhecimento, no entanto, encontra-se situada justamente no avanço de tecnologias da sociedade capitalista que, centrada no aumento de produção e na exacerbada competitividade, acaba por excluir pessoas com idade avançada das relações de trabalho e, perifericamente, das relações sociais de maneira geral (VALENTINI; RIBAS, 2003). 16 Os idosos são o grupo populacional que mais cresce fazendo com que hoje o envelhecimento seja considerado um proeminente fenômeno mundial. Para o ano 2050, estima-se que haverá cerca de dois bilhões de pessoas com sessenta anos e mais no mundo; a maioria delas vivendo em países em desenvolvimento (ZORNITTA, 2008). Valentini e Ribas (2003) relatam que o aumento da população idosa vem acompanhado de evolução científica que, de certa forma, garante longevidade e melhores condições para uma velhice saudável. Segundo Barbosa e Soler (2000), o envelhecimento é um processo natural da vida humana, trazendo consigo uma série de modificações biopsicossociais, que alteram a relação do homem com o meio no qual está inserido, que juntamente com o desgaste progressivo de tecidos, órgãos e da capacidade física e cognitiva, tende a buscar o isolamento, quer por vontade própria, quer por indução social, acentuando o processo de perdas que desencadeia turbulências emocionais e psíquicas que ocasionam profunda infelicidade e diminuem a qualidade de vida de maneira agressiva. Essas mudanças biopsicossociais mais visíveis com o avanço da idade são: dificuldade de adaptação a novos papéis; desmotivação e dificuldade de planejar o futuro; necessidade de trabalhar perdas e adaptar-se a mudanças; alterações psíquicas, depressão, hipocondria, somatização, paranóia, suicídios e, por fim, baixa auto-estima e auto-imagem. Esse estágio da velhice vem acompanhado de associações a sentimentos destrutivos de inutilidade e perda, situação essa que agrava ainda mais a condição existencial do idoso, pois acirra conflitos internos relacionados a tais conceitos. Com o declínio gradual das aptidões físicas, quer dizer, com o impacto do envelhecimento, o idoso tende a ir trocando seus hábitos de vida e rotinas diárias por atividades e formas de ocupação pouco ativas (VALENTINI; RIBAS, 2003). O envelhecimento populacional vem ocorrendo nos países em desenvolvimento num espaço de tempo mais curto do que no de países desenvolvidos. Esse descompasso se dá devido à redução da mortalidade, redução da fecundidade e migração. Este crescimento será bem mais evidenciado no Terceiro Mundo, onde, possivelmente no ano 2025, as maiores populações de idosos pertencerão aos países em desenvolvimento, sendo que o Brasil será o sexto país com maior numero de idosos, isto é, com mais de 30 milhões de idosos. O 17 Brasil era uma nação de jovens, agora, caminha para tornar-se um país de idosos (BARBOSA; SOLER, 2000). De acordo com o último censo demográfico realizado no Brasil, a população idosa cresceu 35% nos últimos 10 anos e representava, no ano 2000, 8,56% da população do país (BRASIL, 2007). Mattos e Nakamura (2007) expõe que ainda há uma grande desvalorização e preconceito em relação à terceira idade, o idoso geralmente é atribuído pela sociedade como inválido e incapaz crônico. Zornitta (2008) aponta que nos dicionários emocionais da população, velhice é sinônimo de decadência, de decrepitude, de perda, de dignidade e que enquanto o idoso se deixar considerar um problema social e não parte de uma solução política cultural, não haverá reconhecimento e a velhice será tida apenas como fim da existência. Envelhecer é um processo geralmente considerado de maneira extremamente desagradável pela sociedade, pois o indivíduo começa a sentir que, em muitas habilidades biológicas e sociais, não consegue se desenvolver como costumava ser, devido a isso, chega-se a pensar na velhice como sinônimo de doença, fraqueza e improdutividade, invalidez. O envelhecimento deve ser tratado como um processo natural do desenvolvimento humano, numa perspectiva de que cada fase da vida implica transformações, adaptações, aceitação e construção (VALENTINI; RIBAS, 2003). No caso dos idosos, é necessário fazê-los perceber, aceitar e aprender a conviver com a manifestaçãode suas emoções, convivendo com seus limites e reciclando seus hábitos para poderem criar novos projetos e perspectivas de vida. O ser idoso deve estar ativo e adaptar-se com as novas limitações reais, continuando a perseguir finalidades, que dêem sentido a vida, não havendo a necessidade de tornar esse período razão de angústia (MATTOS; NAKAMURA, 2007). Envelhecer não significa enfraquecer, ficar triste ou assexuado. Entretanto, em nossa cultura, diversos mitos e atitudes sociais são atribuídos às pessoas com idade avançada, principalmente os relacionados à sexualidade, dificultando a manifestação desta área em suas vidas (CAETANO, 2008). Há poucos anos, envelhecer acarretava, na maioria dos casos, em uma diminuição da velocidade do pensamento e articulação motora, acompanhado de doenças típicas e comuns a essa parcela da população, como no caso das diabetes, 18 hipertensão arterial, etc. recentemente, uma das patologias que vem se apresentando, de forma cada vez mais frequente nessa população, é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou AIDS (WENDT, 2009). A sexualidade dos idosos tem sido negada, historicamente, ao longo das construções de estereótipos negativos. Entretanto, o registro crescente do número de pessoas contaminadas pelo HIV, nas faixas etárias mais velhas, traz à tona a sexualidade dos idosos (ZORNITTA, 2008). 2.3 SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE O termo sexualidade é muito amplo e refere-se à integração dos impulsos biológicos e da fisiologia com o auto conceito e a expressão sexual. Pode ser afetada por fatores sociais, culturais e religiosos, além da estrutura física, do funcionamento e da aparência (CAETANO, 2008, p.8). Rodrigues et al. (2008) define sexualidade como uma energia que nos motiva a procurar amor, contato, ternura, intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental. A sexualidade é uma necessidade fundamental do ser humano, cuja dinâmica e riqueza deve ser vivida plenamente. Esta nasce, cresce e evolui com o ser humano, sendo por isso necessária para a realização plena, como pessoa, de todo o indivíduo. O amor e prazer que daí se retira não terminam com o envelhecimento (VALLESCAR, 2006). Para compreender a sexualidade do idoso, é preciso levar em conta que o comportamento sexual é definido por vários princípios: cultura, religião e educação, estes valores influenciam intensamente o desenvolvimento sexual, determinando como se irá vivenciá-lo e lidar com ele por toda a vida. Dessa forma, o bem estar do idoso é resultado do equilíbrio entre as diversas dimensões da sua capacidade funcional e social. Assim, quanto mais ativo o idoso, maior sua satisfação, consequentemente melhor a sua qualidade de vida (CAETANO, 2008). 19 Até bem pouco tempo parecia impossível uma pessoa acima de 60 anos ser sexualmente ativo, pois era considerada velha para tal. Hoje, com os avanços da medicina, e o aumento da expectativa de vida, a realidade é outra. Acredita-se cada vez mais, que a sexualidade não esteja vinculada à idade cronológica e pode ser exercida pelo chamado idoso sem necessidade de abstinência (SOUZA, 2009). Para Mattos e Nakamura (2007) a atividade sexual em qualquer idade é demonstração de um estado de boa saúde, tanto física, como mental, estes são uns dos aspectos da sexualidade mais importante no processo de envelhecimento. De acordo com Barbosa e Soler (2000) encarar a sexualidade idosa como saudável e natural está longe de ser compreendido e aceito pela sociedade. O sexo na terceira idade está envolto em preconceitos, delírios de grandeza, complexos e frustrações, mas a terceira idade não é necessariamente uma barreira para uma vida sexual ativa. Questões que envolvem sexualidade são consideradas, muitas vezes, como tabus pela sociedade. Esta postura faz com que os indivíduos encontrem grandes dificuldades em expor suas dúvidas e angústias. Ao nos referirmos a sexualidade na terceira idade, nos defrontamos com uma série de preconceitos e tabus ainda existentes, a sexualidade nem sempre é tratada com abertura; fazendo com que a idéia de que os idosos são seres assexuados influenciando de forma negativa a vida do idoso (MATTOS; NAKAMURA, 2007). Sabe-se que as questões sexuais sofrem influências marcantes em cada cultura, essas influências podem forçar o indivíduo a ficar à margem de informações importantes para o desenvolvimento de sua sexualidade. Apesar da abertura social que há para discussão de assuntos desse âmbito, a maioria da população ainda apresenta-se constrangida para discutir tais assuntos, principalmente quando questões relacionadas à sexualidade na terceira idade (BARBOSA; SOLER, 2000). Até os profissionais de saúde, e em especial os médicos, do clínico geral ao geriatra, não valorizam as queixas sexuais do paciente idoso. Evitam tocar nesse assunto, seja por medo de não saberem lidar com ele, seja por não saberem o que fazer com as respostas que as pessoas podem dar. As pessoas idosas, nas quais ainda é intenso o desejo sexual, experimentam por essa razão, um sentimento de culpa e de vergonha (BRASIL, 2006). 20 De acordo com Caetano (2008), na terceira idade a freqüência das atividades sexuais é menor e menos intensa, mas mais sensível. Passa-se do domínio essencialmente físico para um domínio mais afetivo. E ao contrário do senso comum os idosos mantêm uma vida sexual ativa. Segundo Brasil (2006), estudos mostram que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm vida sexual ativa após os 60 anos. A identificação de disfunção nessa área pode ser indicativa de problemas psicológicos, fisiológicos ou ambos. Muitas das alterações sexuais que ocorrem com o avançar da idade podem ser resolvidas com orientação e educação. Atualmente, são muitos os fatores que estimulam o prolongamento da atividade sexual desse grupo populacional: maior expectativa de vida saudável, incremento da vida social e, conseqüentemente, da vida sexual, em decorrência de novas drogas para a disfunção erétil, medicamentos que minimizam os efeitos da menopausa, lubrificantes vaginais, próteses, correção e prolongamento peniano, cirurgias plásticas estéticas, os exames preventivos de câncer de próstata e câncer de colo uterino, fazendo com que os homens e mulheres frequentem mais os serviços de saúde. A crescente difusão da prática de exercícios físicos (musculação, hidroginástica, yoga etc.), turismo direcionado para esse segmento, dentre outros recursos, vem permitindo que os homens e as mulheres idosos prolonguem ainda mais o exercício de sua sexualidade (BRASIL, 2006). A sexualidade é um importante componente da vida das pessoas mais idosas. Ao longo da velhice, a sexualidade abrange mais do que ter a capacidade física para ter uma relação sexual. É um sentimento, atratividade e desejabilidade ao sexo oposto e por parte deste, podendo ser a vida sexual do idoso mais satisfatória se houver informações e compreensão de que algumas mudanças podem ocorrer, nenhum momento da vida é igual ao outro, há de se redescobrir a sexualidade e dar novo sentido a ela, pois é isto que muda; não o desejo, mesmo que o idoso tenha suas limitações, a sexualidade não pode ser esquecida e levada a um segundo plano em sua existência, pois como dizem os teóricos, tanto o homem ou a mulher, tem prazeres sexuais até a idade avançada (MATTOS; NAKAMURA, 2007). O preconceito aliado à falta de informação reforça o esteriótipo da velhice assexuada, determinando atitudes e propensões comportamentais que exacerbam a vulnerabilidade do idoso, que os expõem a riscos, dentre eles de contrair uma DST, entre elas a AIDS.Apesar da AIDS ser considerada uma enfermidade que pode 21 acometer indivíduos de uma sociedade como um todo, segundo Figueiredo; Provinciali (2006), um grupo específico da população vem sendo negligenciado, tanto em termos de acesso à informação quanto ao suporte social e serviços de referência especializados no tratamento de HIV/AIDS – os idosos. Neste contexto, emerge a vulnerabilidade dos idosos em contrair HIV/AIDS. 2.4 VULNERABILIDADE À AIDS NA TERCEIRA IDADE A vulnerabilidade pode ser entendida como diferentes graus e naturezas de suscetibilidade de indivíduos e coletividades à infecção, adoecimento e morte pelo HIV, segundo particularidades formadas pelo conjunto dos aspectos sociais, programáticas e individuais (FONTES et al., 2008). A vulnerabilidade individual propõe que todos os indivíduos que não são portadores do vírus apresentam um grau potencial de vulnerabilidade ao HIV/AIDS, que pode variar em função dos valores pessoais e das formas de dispor ou não de medidas de proteção (SALDANHA; VASCONCELOS, 2008). Para Saldanha e Vasconcelos (2008) a vulnerabilidade social sugere que esta deve ser calculada tomando por base indicadores das condições socioeconômicos e culturais dos diferentes países, como: acesso à informação; despesas com saúde; acesso ao tratamento; índice de liberdade humana; índice de desenvolvimento humano, dentre outros. A vulnerabilidade programática, por sua vez, diz respeito à elaboração de programas nacionais destinados à prevenção, com a finalidade de educar e proporcionar informações de forma abrangente, sustentada e coerente. Fontes et al. (2008) acrescentam ainda, que o indivíduo vulnerável não tem meios para se proteger, nem acesso aos cuidados com sua saúde, acesso à educação, nem ao trabalho, à fonte de renda ou à moradia, além de não ser alguém livre para escolher ou propor. Nesse sentido, a noção de vulnerabilidade compreenderia a inter-relação entre as práxis sociais, político-institucionais e comportamentais, as quais estariam associadas às diferentes suscetibilidades de indivíduos e grupos populacionais, bem como às consequências do HIV/AIDS. 22 A possibilidade de uma pessoa idosa ser infectada pelo HIV parece ser invisível aos olhos da sociedade e dos próprios idosos, visto que a sexualidade, nesta faixa etária, ainda é tratada como tabu tanto pelos idosos quanto pela sociedade em geral (FONTES; SILVA, 2004). Saldanha e Vasconcelos (2008) ressalta que os idosos estão vulneráveis a adquirir HIV/AIDS devido a algumas questões culturais que ainda permanecem como a infidelidade e multiplicidade de parceiras adquiridas na trajetória da vida dos homens que hoje tem mais de 60 anos, e não praticam sexo seguro porque isso nunca fez parte da vida deles. Seguindo esta linha de raciocínio Prilip (2004) destaca que os próprios idosos se consideram imunes ao vírus. Pouco ou quase nada se fala a respeito de uma possível disseminação da epidemia entre esse grupo de pessoas. Para muitos, a idéia de contrair HIV/AIDS em uma idade avançada não existe, porque a informação sobre prevenção é direcionada quase exclusivamente aos jovens e a consciência sobre fatores de risco para idosos é baixa. A percepção de que os amigos são mais vulneráveis a contrair HIV/AIDS apresenta-se como fator de vulnerabilidade para os idosos, principalmente quando tal percepção é associada ao preconceito com relação a AIDS, fato que é potencializado pelo baixo nível de escolaridade e pouca informação adequada. Além disso, a percepção de vulnerabilidade e o preconceito, decorrentes de crenças equivocadas, apontam para as esferas sociais, político-institucionais e comportamentais associadas às diferentes suscetibilidades dos indivíduos, demandando a necessidade de ações em saúde pública específicas para essa categoria social (FONTES et al., 2008). Com o crescente aumento da expectativa de vida, das oportunidades sociais, da disponibilização de medicamentos para disfunção erétil, tem impulsionado a vida sexual do idoso, tornando estes vulneráveis a adquirir HIV/AIDS (FONTES; SILVA, 2004). Prilip (2004) ressalta que aliado aos tratamentos hormonais, às próteses e aos avanços da indústria farmacêutica, que estão ampliando a vida sexual da população idosa, outro fator importante que expõem esta população ao HIV/AIDS, é a carência de informações sobre a doença, o preconceito contra o uso de preservativos, e falta de ações preventivas voltadas para esse grupo. Segundo Brasil (2006), do ponto de vista da AIDS, não é a sexualidade 23 que torna os vulneráveis ao HIV/AIDS, mas as práticas sexuais que são realizadas de forma desprotegida, e este é um pressuposto válido para todas as idades. Quanto à prevenção, a falta de campanhas direcionadas à AIDS na terceira idade, faz com que esta população esteja geralmente menos informada sobre HIV e menos consciente da vulnerabilidade (FONTES; SILVA, 2004). Fonseca; Castilho e Scwarcwald (2000) relata que os idosos tendem a ver as camisinhas primeiramente como uma medida contraceptiva, não preventiva, de modo que as mulheres que já não temem uma gravidez não-desejada podem não insistir em seu uso. Estas também sofrem as mudanças físicas da idade, que afetam sua vulnerabilidade ao HIV. Um dos desafios da prevenção do HIV/AIDS entre os idosos é a crença errônea de que estes não estão em risco de contrair HIV ou outras doenças sexualmente transmissíveis. Também a falta de consciência dos profissionais de saúde é uma barreira à educação dos idosos sobre os riscos do HIV (GOMES; SILVA, 2008). Mesmo em programas voltados à terceira idade a dificuldade de organizadores e de participantes em abordar o tema sexualidade impede que as informações sobre a prevenção atinjam essa população (ZORNITTA, 2008). Menezes (2005) aponta que existe uma precariedade em programas de orientação de DST's e AIDS na terceira idade. E por preconceito e constrangimento em usar e adquirir os seus preservativos, a terceira idade é o grupo de maior risco para doenças sexualmente transmissíveis. Quanto ao governo, percebe-se certa falta de prioridade e ausência de políticas públicas. A proposição de políticas demanda conhecimento de causa e há muito pouca preocupação com questões da terceira idade. Há, sim, políticas públicas emergenciais, assistenciais, localizadas, e nada de caráter preventivo (VALENTINI; RIBAS, 2003). Segundo Fontes e Silva (2004), várias são as causas responsáveis pelo aumento de casos de AIDS entre os idosos, como por exemplo: as notificações tardias; o número de pesquisas insuficientes na área; dificuldades no diagnóstico e resistência para aderir ao tratamento. Com o surgimento dos medicamentos antiretrovirais, a AIDS passa para o grupo das doenças crônicas, contribuindo para o envelhecimento das pessoas 24 soropositivas que contraíram o vírus na fase adulta, e passam, dessa forma a fazer parte do quadro epidemiológico da AIDS na velhice (ZORNITTA, 2009). Outro fator contribuiu para o aumento do número de casos de idosos infectados pelo HIV/AIDS: transfusão sanguínea. Prilip (2004) relata que até meados dos anos 80, quando os métodos para seleção de doadores e controle de sangue não eram tão rigorosos, a transfusão sanguínea representava o principal fator de risco para a aquisição do vírus HIV entre os idosos, chegando a ser apontada como responsável pela maioria das contaminações ocorridas em pessoas com 60 anos ou mais. Atualmente, observa-se que a maioria dos casos de AIDS nos pacientes nesta faixa etária pode ser atribuída ao contato sexual ou ao uso de drogas injetáveis. Até o diagnóstico da doença é um tanto complexo entre os idosos. Primeiramente pelo fato de que muitos profissionais raramente consideram doenças sexualmente transmissíveis - HIV/AIDS- na velhice, seja por julgamentos próprios, ou por concepções errôneas, em função de crenças sobre a sexualidade e a vulnerabilidade ao HIV nesta faixa etária (FIGUEIREDO; PROVINCIALI, 2006). O crescimento da população idosa e a vulnerabilidade a que esta população está exposta a contrair o HIV/AIDS, a invisibilidade que são tratados pelos profissionais de saúde e a ausência de políticas públicas voltadas à prevenção, impulsiona o aumento dos números de casos confirmados de AIDS na terceira idade, alterando o perfil epidemiológico da AIDS na terceira idade na população brasileira na atualidade. 2.5 EVOLUÇÃO DA AIDS NA TERCEIRA IDADE No Brasil, o ano de 1980 foi marcado pela identificação do primeiro caso de AIDS no país, à epidemia atingiu diversas classes sociais, apresentando até os dias atuais oscilações no seu perfil epidemiológico. Na década de 80, a epidemia atingiu principalmente os usuários de drogas injetáveis, homossexuais, assim como os indivíduos que receberam transfusão de sangue e hemoderivados. Já nos últimos anos da década de 1980 e início dos anos 1990, a epidemia assumiu outro perfil. A transmissão heterossexual passou a ser a principal via de transmissão do HIV, a qual vem apresentando maior tendência de crescimento em anos recentes, 25 acompanhada de uma expressiva participação das mulheres na dinâmica da epidemia. Nos últimos anos, a epidemia passou dos estratos sociais de maior escolaridade para os menos escolarizados. Um dos aspectos mais atuais da epidemia é o surgimento de uma nova população vulnerável: os idosos, já que, o número de casos confirmados de AIDS na terceira idade no Brasil cresce como em nenhuma outra faixa etária, superando a ascensão do número de casos da doença entre os adolescentes de 15 a 19 anos (BRASIL, 2009). Segundo dados do Ministério da Saúde (2009), de 1985 à 30/06/2008 foram diagnosticados 505.760 casos de AIDS no Brasil, sendo 12.141 casos na população de idosos, representando 2,4 % (Gráfico 2). Casos de AIDS identificados no Brasil - população total/maiores que 60 anos de idade (ano 1985 á 30/06/2008) 505760 (97,6%) 12141 (2,4%) 0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 fr e qu ên c ia população total idosos Gráfico 2 - Número de casos de AIDS identificados no Brasil da população total e entre idosos no período de 1985 a 30/06/2008. Fonte: Brasil (2009). Essa ampliação da AIDS entre os idosos pode estar diretamente ligada a uma falha nos esforços de prevenção com este grupo de idade, a prevenção é algo muito complexo, representando um desafio para as atuais políticas de saúde pública, já que as campanhas de prevenção concentram-se sua atenção na população jovem (GODOY et al., 2008). Dentre os casos de AIDS diagnosticado na terceira idade, a maioria concentra-se no sexo masculino, representando 8.035 casos (66%) e 4.106 no sexo feminino (34%) (Gráfico 3). 26 Casos de AIDS no Brasil segundo sexo ( > que 60 anos de idade) de 1985 a 30/06/08 8035 4106 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 fr eq u ên ci a sexo masculino sexo feminino Gráfico 3 - Número de casos de AIDS na terceira idade segundo o sexo, no período de 1985 a 30/06/2008. Fonte: Brasil (2009). O fato do número de AIDS em maiores de 60 anos de idade se concentrar em maior quantidade no sexo masculino pode ser justificado pela fala dos autores Fontes; Saldanha; Araújo (2008, p.5) “os homens recorrem com maior frequência aos serviços de profissionais do sexo e utilizam recursos farmacológicos para aumentar a atividade sexual”. Quanto à distribuição dos casos notificados entre os idosos, segundo as regiões do país (Tabela 1), houve predomínio dos casos na região Sudeste com 7.491casos (61,7%), seguido pelas regiões Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte (Tabela 1). Tabela 1– Distribuição do número de casos de AIDS diagnosticados no Brasil em indivíduos com idade > 60 anos, segundo a região. (1985 a 30/06/2008). Região Nº % Sudeste 7491 61,7 Sul 2407 19,8 Nordeste 1248 10,2 Centro Oeste 649 5,3 Norte 346 3 Total 12141 100 Fonte: Brasil 2009 A AIDS tem prevalecido nas regiões mais desenvolvidas do país. No período de 1985 a 30/06/2008 foi encontrado maior número de casos diagnosticados nas regiões Sudeste e Sul, estas duas regiões totalizaram 9.898 (81,5%) casos diagnosticados. 27 Segundo Saldanha e Vasconcelos (2008), a tendência mais recente de estabilização da incidência da AIDS em todas as faixas etárias no Brasil não foi confirmada na população com 60 anos ou mais. Além disso, algumas questões merecem maior discussão, como, por exemplo, as diferenças entre a disponibilidade de serviços de saúde em cada região e também o preparo das pessoas que realizam a notificação, uma vez que o sistema é o mesmo. Os dados apontam que a população branca representa a maior parte dos registros 32%, seguida da população parda 12%, negra 5,5%. A porcentagem de casos entre amarelos e índios são os menores representando 0,4 e 0,2% do total respectivamente (Tabela 2). Tabela 2 – Distribuição do número de casos de AIDS diagnosticados no Brasil em indivíduos com idade > 60 anos, segundo Raça e cor (1985 a 30/06/08). Raça/cor Nº % Branca 3893 32 Negra 670 5,5 Amarela 45 0,4 Parda 1447 12 Indígena 17 0,2 Ignorado 6069 49,9 Total 12141 100 Fonte: Brasil (2009). A escolaridade tem sido utilizada como uma variável auxiliar, na tentativa de se traçar o perfil socioeconômico dos casos notificados, embora ainda seja elevado o percentual de casos com escolaridade ignorada. Entre os casos com escolaridade reconhecida, observou-se que 18,5% dos casos possuíam de 1 a 3 anos de estudo, 7,5% são analfabetos e apenas 6,7% têm mais de 12 anos de estudo (Tabela 3). Tabela 3 – Distribuição do número de casos de AIDS diagnosticados no Brasil em indivíduos com idade> 60 anos, segundo escolaridade. (1985 a 30/06/2008) Escolaridade Nº % Nenhum 903 7,5 1 a 3 anos 2251 18,5 4 a 7 anos 2111 17,4 8 a 11 anos 1069 8,8 12 ou mais 819 6,7 Ignorado 4998 41,1 Total 12141 100 Fonte: Brasil (2009). 28 A constatação de que o número de casos aumentou nos estratos de menor escolaridade remetem à condição de pior cobertura dos sistemas de vigilância e de assistência médica entre os menos favorecidos economicamente (GOMES; SILVA, 2008). A exposição é uma das variáveis de detecção dos riscos para contaminação da população ao HIV/AIDS (Tabela 4). Tabela 4 – Distribuição do número de casos de AIDS diagnosticados no Brasil em indivíduos com idade > 60 anos, segundo a categoria de exposição. (1985 a 30/06/08) Categoria de exposição Nº % Homossexual 828 6,8 Bissexual 836 6,9 Heterossexual 5888 48,4 Usuário de drogas injetáveis 141 1,2 Hemofílico 13 0,1 Transfusão 137 1,2 Ignorado 4298 35,4 TOTAL 12141 100 Fonte: Brasil (2009). O grupo dos heterossexuais representa 48,4% dos casos. Observou-se um elevado número de casos de exposição ignorados representando 35,4%. Outro grupo que apresenta um crescimento significativo é o dos homossexuais e bissexuais com 6,8 e 6,9% respectivamente; o presidente da ONG Ações Cidadãs em Orientação Sexual (ACO), Jacques Jesus (2008), afirma que o número de casos de AIDS em heterossexuais está diretamente relacionado à homofobia, apontando-o como principal fator de infecção, porque leva a pessoa não apenas a ter práticas arriscadas, mas também a negar sua identidade, vivendo um comportamento heterossexual. De acordo com os dados encontrados na pesquisa, a transmissão do HIV em hemofílicos e em indivíduos quereceberam transfusão sanguínea vem diminuindo ao longo dos anos, representando 0,1 e 1,2% respectivamente, essa queda é conseqüência do rigoroso controle do sangue e hemoderivados, adotado principalmente a partir da disponibilidade dos testes laboratoriais para detecção de anticorpos anti-HIV. Por outro lado, observa-se uma ascensão importante no grupo dos usuários de drogas injetáveis no total de 1,2% dos casos, atribuindo a estes casos o compartilhamento de agulhas e seringas para uso de drogas injetáveis. 29 Frente à evolução da epidemia da AIDS na população da terceira idade, se faz necessário a realização de medidas preventivas a fim de reduzir o número de casos de HIV/AIDS entre os idosos. 2.6 MEDIDAS PREVENTIVAS A detecção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS, passaram ser objetivo de preocupação dos serviços de saúde, as ações na área da prevenção a tais doenças caminham lentamente, implicando em vários desafios para a promoção de atitudes preventivas para população em geral (BARBOZA; PACCA, 1999). As estratégias para a prevenção do HIV/AIDS são caracterizadas assim, pela identificação dos comportamentos envolvidos na transmissão destas doenças, análise das determinantes dos comportamentos nos diferentes grupos sociais e intervenções comportamentais para induzir e manter as alterações do comportamento. O objetivo principal da prevenção do HIV/AIDS não é mudar o comportamento de todos, mas modificar os comportamentos dos que contraem e disseminam o HIV/AIDS (CARDOSO, 2000). Brasil (2008) atenta que as medidas preventivas em HIV/AIDS têm como prioridade reduzir a transmissão do vírus e a vulnerabilidade dos indivíduos aos fatores de risco associados. Para isso, devem ser promovidas políticas e estratégias dirigidas tanto para a população geral como para as especificidades de segmentos populacionais, considerando seu grau de maior ou menor vulnerabilidade e risco de infecção pelo HIV. No entanto, as medidas preventivas não podem ser vistas como um conjunto de regras. A epidemia da AIDS potencializou a reflexão sobre o modelo de atenção à saúde e a definição de ações de prevenção nos diferentes níveis de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o contexto de desigualdade social e de acesso aos serviços de saúde. Para Barboza e Pacca (1999), por ser a AIDS uma doença transmissível e, até o momento, incurável, cujos índices vêm aumentando no mundo inteiro, deve-se considerar que os componentes efetivos para o seu controle e prevenção são a informação e a educação. Dessa forma, torna-se imprescindível pensar na AIDS 30 como uma doença cada vez mais presente nas instituições de saúde, sendo indispensável aos profissionais de saúde, particularmente aos enfermeiros dispor de conhecimentos e habilidades pedagógicas em atividades com vistas à educação, ao controle e à prevenção da transmissão do HIV. Assim, as alternativas educacionais com vistas à sua prevenção devem estar pautadas em orientações cuja essência seja a valorização da vida e a construção das alternativas de prevenção num clima de liberdade, responsabilidade e solidariedade humana. Brasil (2008) relata que o desenvolvimento das ações de prevenção junto aos idosos deve privilegiar a construção coletiva das estratégias, valorizando a participação dos idosos nesse processo, de forma que eles se reconheçam como responsáveis pela promoção da saúde. A discussão de temas como cidadania, relação de gênero, sexualidade, uso de drogas, etnia e direitos humanos favorecem a construção de valores e atitudes saudáveis, promovendo o desenvolvimento da autonomia e do senso de responsabilidade individual e coletivo. A prevenção às DST/AIDS entre os maiores de 60 anos é algo muito complexo e representa um desafio para as atuais políticas de saúde pública que concentra sua atenção na população jovem (entre os 20 a 34 anos). Os programas de prevenção do HIV devem considerar também aspectos psicológicos, socioeconômicos e culturais que interferem na vulnerabilidade deste grupo etário, antes e depois da infecção. Para haver maior alcance de suas ações, os programas devem desenvolver-se nos locais frequentados por estes (centros de dia, centros recreativos, etc.) e utilizar uma linguagem especifica para este grupo (CALDAS; GESSOLO, 2007). Campanhas de prevenção contra a AIDS em idosos devem ser organizadas, para cumprimento do Artigo 10 do capítulo IV da Política Nacional do Idoso instituída através da Lei n.º 8.842, de 04/11/94, que tem como objetivo proteger esse segmento da população, garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde, além de prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante programas e medidas profiláticas (BRASIL, 2003). Não é fácil mudar as concepções das pessoas idosas, principalmente no tocante as suas crenças e suas atitudes. Mas através de políticas públicas de saúde claras e eficientes, e que compreendam a magnitude e a transcendência do problema, direcionando a prevenção especialmente aos idosos com relação à 31 contaminação pelo HIV/AIDS, voltados principalmente à vivência saudável e plena na sexualidade na terceira idade, eliminando mitos e preconceitos com relação ao idoso (MIGUEL, 2009). Deve-se enfatizar que o idoso deve ser acolhido sem discriminação, independente de sua condição, atividade profissional, orientação sexual ou estilo de vida. Partindo destes pressupostos, seria importante a constante ampliação e atualização da estrutura de apoio clínico e psicológico para portadores da infecção pelo HIV/AIDS. O atendimento desses enfermos é sempre complexo e exige uma estrutura integrada, ampla e multidisciplinar (GOMES; SILVA, 2008). Machado et al. (1999) ressalta que a educação ao público é considerada uma das medidas mais efetivas para reduzir a disseminação da AIDS, favorecida principalmente por relações sexuais com pessoas infectadas ou por exposição a sangue e seus derivados contaminados pelo HIV. Ação educativa é um processo de capacitação de indivíduos e de grupos para assumir a solução de problemas de saúde, processo este, que inclui o crescimento dos profissionais de saúde, através de reflexão conjunta sobre o trabalho que desenvolvem e suas relações com a melhoria das condições de saúde da população (CALDAS; GESSOLO, 2007). Machado et al. (1999) afirma que não basta simplesmente oferecer informações, pois "estar informado não significa necessariamente conhecer; estar ciente não significa necessariamente tomar medidas, decidir a tomar medidas não significa necessariamente fazer". Portanto, é necessário desenvolver o senso de responsabilidade individual e grupal; só esse compromisso pode conduzir às mais efetivas e aceitas mudanças de comportamento, uma vez que se baseia em aceitação e não em obrigação. As campanhas educativas, além da habitual conscientização sobre a epidemia, formas de transmissão do HIV e da evolução para a AIDS, devem abordar também aspectos como comunicação com o parceiro, sexualidade saudável em casais sorodiscordantes, luta contra o preconceito e encorajamento à aceitação do soropositivo pela família e sociedade. Além das campanhas que abordam uma ampla faixa etária, é interessante realizar campanhas educativas específicas para os adultos maiores de 50 anos e idosos, visto que o direcionamento das ações pode levar a uma maior conscientização (KULKAMP; BERTONCINI; MORAES, 2008). 32 A falta de consciência dos profissionais de saúde também é uma barreira para a educação dos idosos sobre os riscos da doença. Seria importante a realização de ações de prevenção e capacitação dos profissionais de saúde, o que possibilitaria que um maior número de pessoas idosas fosse orientado sobre o assunto,diminuindo assim a crescente disseminação desta doença nessa faixa etária (SALDANHA; VASCONCELOS, 2008). Outras medidas são incorporadas como estratégias de prevenção do HIV/AIDS como a redução de danos aos usuários de drogas injetáveis ilícitas tais como, orientação individual e coletiva; evitar o compartilhamento de seringa entre os usuários de drogas; a utilização do preservativo consistentemente, masculino ou feminino nas relações sexuais são medidas que impedem o contágio do HIV/AIDS e de outras DST’s (DUARTE, 2007). De acordo com Gomes e Silva (2008), outra estratégia importante para prevenir o HIV está em aumentar o número de pessoas que realizam o teste anti- HIV, pois é importante ressaltar que mais da metade das infecções são transmitidas por indivíduos que não sabem que estão infectados. Além disso, quando as pessoas se tornam conscientes de sua infecção, normalmente querem tomar medidas para proteger os seus parceiros. 2.7 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA PARA ENFERMAGEM Na atualidade estamos vivenciando um novo cenário do crescimento populacional. Nas últimas décadas, vemos um crescimento notável da população acima dos 60 anos de idade, está em curso um novo e revolucionário capítulo da ciência da longevidade. O envelhecer, nos dias atuais, não significa adoecer e morrer, essa nova geração, ao contrário das anteriores, tem vivido mais e com qualidade de vida. Essa melhoria da qualidade de vida é resultante dos progressos tecnológicos, como a descoberta das vacinas, condições sanitárias, a invenção dos antibióticos e dos recursos para combater doenças como o diabetes, os males cardíacos e alguns tipos de câncer. Todos esses avanços resultaram na adição de anos na expectativa de vida da população. 33 O que se procura é proporcionar qualidade de vida e uma existência feliz a população que está vivendo mais. E é nessa busca da qualidade de vida dessa população que desenvolvemos essa pesquisa, para contribuir com o processo de uma longevidade sadia e da capacitação do profissional Enfermeiro e das demais categorias de assistência à saúde. A Enfermagem é a profissão que se dedica ao cuidado integral do ser humano, a fim de atender as necessidades humanas básicas, uma ciência em constante processo evolutivo que vêm há algum tempo reelaborando seu conhecimento no intuito de aprimorar o cuidado e contemplar as mais diversas dimensões do ser humano. Dentro desse contexto, este estudo constitui um elemento importante, para um aprimoramento da assistência de enfermagem, uma vez que possui influência marcante sobre o comportamento humano. A AIDS na terceira idade surge como um desafio do cuidar de enfermagem, sendo necessário aos profissionais enfermeiros repensarem estratégias e direcionar as ações, objetivando formas mais eficientes de desenvolver o cuidado. É de fundamental importância que ainda nas universidades os acadêmicos elaborem um conhecimento amplo que vai além do aspecto biológico da doença e no tratamento da parte afetada. É indispensável que se ampliem o olhar de forma que visualizem o ser humano como um todo contextualizado social e historicamente. Xavier et al. (1997) afirmam que, na enfermagem brasileira, o saber acadêmico deriva de teorias que não contemplam a realidade social do país, acentuando com isso o distanciamento entre a academia e o serviço. Dessa maneira, continuam o saber produzido na academia, tomando-se impossível sua operacionalização. Devido a esse pensamento, as universidades, em sua formação acadêmica, têm que lançar profissionais ao mercado de trabalho que estejam capacitados, preparados, reflexivos e críticos para acolher essa nova clientela, compreendendo esses idosos soropositivos dentro de sua totalidade, psicobiológico, psicossocial e psicoespiritual. É necessário aos profissionais e acadêmicos de enfermagem repensarem suas condutas, quanto formadores de opinião, que estes se sensibilizem em acolher os pacientes da terceira idade portadores de HIV/AIDS de forma mais humanizada e desenvolva políticas de saúde voltadas para prevenção e conscientização da 34 disseminação do vírus, para que essa nova clientela que a cada dia mais se expõem ao risco de contrair um HIV/AIDS, por serem tão vulneráveis, criem um vínculo com os profissionais, esclarecendo acerca do assunto, conhecendo cada vez melhor a sua realidade, as formas de contaminação e de prevenção, conferindo certo poder e respeito que permitem conduzir o paciente ao exercício de sua autonomia. Este estudo propõe uma nova atuação dos profissionais da enfermagem para esse problema grave e urgente que é a AIDS na terceira idade, doença epidêmica desencadeada não somente pelo vírus da imunodeficiência humana, mas também pelos preconceitos, discriminações e injustiça social. Espera-se modificação no comportamento dos profissionais. O medo de assistir o paciente soropositivo, preconceito de uma velhice assexuada, precisam ser dissipados dessa categoria. Destacamos quão imprescindível é a conscientização e mudança no comportamento, não só da equipe de enfermagem, mas de todas as pessoas envolvidas na área da saúde, que trabalham com o portador de HIV/AIDS. O profissional enfermeiro deve perceber o mundo como uma totalidade complexa, e caracterizar o conhecimento também como realidade complexa. Como totalidades, mundo, conhecimento, saber e paradigma podem relacionar-se interdisciplinarmente. Porém, é fundamental gritar bem alto que o combate eficiente à difusão da AIDS nessa, faixa etária, começa com a preocupação com a vida e com os ideais de justiça. Acima de tudo, depende da nossa capacidade de construir uma política de solidariedade dentro de uma sociedade democrática. Por isso, é preciso que a Enfermagem desenvolva seu senso crítico, sistemático, holístico, reflexivo e humanizado, sendo necessário associar a teoria à prática, para transformar a atividade em práxis, validando assim o conhecimento. Os enfermeiros são considerados fontes confiáveis de informação sobre saúde e, comumente, as pessoas se sentem bastante à vontade com eles para discutir questões íntimas de sua pessoa, desfrutando de uma posição privilegiada, dentre outros profissionais, para educar as pessoas sobre as formas de reduzir o risco de transmissão do HIV. Por isso, os espaços de tratamento também precisam ser pensados simultaneamente como espaços de prevenção. Talvez a estratégia mais sensível para detectar contextos vulnerabilizadores e possibilidades de construção de respostas sociais. 35 É interessante destacar a importância de se considerar ainda a presença conhecida de pessoas vivendo com AIDS, é extremamente relevante ao profissional enfermeiro o trabalho de conscientização dessas pessoas de não estarem disseminando o vírus. Já que os soropositivos não vivem em outro mundo, seus contextos de interação intersubjetiva permanecem muito pouco alterados em relação à situação em que se infectou; especialmente se recebem uma atenção à saúde que se limita ao tratamento medicamentoso, deixando de lado o cuidado com a qualidade de vida, de forma mais ampla. São inúmeros os desafios encontrados. A epidemia evolui rapidamente com suas interfaces, sendo necessário a atualização constante para a assistência de enfermagem e a prática profissional, que constitui a aplicação de ações e de informações científicas com objetivo da prevenção e tratamento, em equipe multidisciplinar de assistência, um processo que envolve o aprendizado individual e coletivo, motivador da compreensão e da consciência para o estabelecimento de estratégias fundamentadas no conhecimento. Portanto, esperamos que este trabalho alcance os profissionais e acadêmicos de enfermagem, sensibilizando-os a tomarem iniciativas de prevenção e promoção de informações de forma que atingemesta população tão vulnerável que são os idosos, trabalhando sua reinserção social, compreensão dos seus valores e o seu papel na sociedade, direcionando campanhas e movimentos destinados a eles. 36 3 METODOLOGIA O estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica, considerando a relevância do tema, buscando conhecer sob o olhar de alguns autores, a vulnerabilidade da população da terceira idade em contrair o HIV/AIDS, identificando perfil epidemiológico desta população no Brasil desde o ano de 1985 a 2008, levantamento realizado no bando de dados do DATASUS, intervenções educativas de enfermagem, contribuição da pesquisa ao profissional enfermeiro, e assim atender aos objetivos propostos. A revisão bibliográfica, segundo Fogliatto (2007), é aquela que reuni idéias oriundas de diferentes fontes, visando construir uma nova teoria ou uma nova forma de apresentação para um assunto já conhecido. Para o desenvolvimento da pesquisa e melhor compreensão do tema, este Trabalho de Conclusão de Curso foi elaborado a partir dos registros, análise e organização dos dados bibliográficos, instrumentos que permite uma maior compreensão e interpretação crítica das fontes obtidas, foram realizadas coletas de dados no banco de dados do DATASUS, que norteou na classificação do perfil epidemiológico da população da terceira idade no Brasil no período de 1985 a 2008. A elaboração da pesquisa teve como ferramenta embasadora, material já publicado sobre o tema; livros, artigos científicos, publicações periódicas e materiais na Internet disponíveis nos seguintes bancos de dados: DATASUS, SCIELO, MINISTÉRIO DA SAÚDE, BIREME. Para a organização do material, foram realizadas as etapas e procedimentos do Trabalho de Conclusão de Curso onde se busca a identificação preliminar bibliográfica, fichamento de resumo, análise e interpretação do material, bibliografia, revisão e relatório final. 3.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo de revisão sistemática de literatura científica, na modalidade denominada revisão integrativa. A escolha desse método foi por 37 oportunizar um embasamento científico que permitisse através de pesquisas já realizadas, compreender o universo da vulnerabilidade dos idosos ao HIV/AIDS, tendo como benefício, permitir a síntese de estudos publicados; possibilitar conclusões gerais a respeito de uma área de estudo; proporcionar uma compreensão mais completa do tema de interesse, produzindo assim, um saber fundamentado e uniforme para a realização do cuidado de enfermagem diferenciado. Segundo Cooper (1989), esse tipo de revisão é caracterizado como um método que agrega os resultados obtidos de pesquisas primárias sobre o mesmo assunto, com o objetivo de sintetizar e analisar esses dados para desenvolver uma explicação mais abrangente de um fenômeno específico. Ainda segundo o autor, a revisão integrativa é a mais ampla modalidade de pesquisa de revisão, devido à inclusão simultânea de estudos experimentais e não-experimentais, questões teóricas ou empíricas. Diante disso, permite maior entendimento acerca de um fenômeno ou problema de saúde. Justifica-se a revisão sistemática através de sua definição como sendo uma aplicação de estratégias científicas que limitam o viés da seleção de artigos, onde se avalia com espírito crítico os artigos e se sintetizam todos os estudos relevantes em um tópico específico (PERISSÉ, 2001). Em relação à sua importância, estudiosos afirmam que esse recurso pode criar uma forte base de conhecimentos, capaz de guiar a prática profissional e identificar a necessidade de novas pesquisas (MANCINI, 2007) e, segundo Hek (2000), constitui-se em um método moderno para a avaliação simultânea de um conjunto de dados. 38 4 CONCLUSÃO Juntamente com o crescimento da população de idosos no Brasil e no mundo devido ao aumento da expectativa de vida, cresce também o número de infecções pelo HIV/AIDS em pessoas com 60 anos ou mais, resultando na mais nova característica da epidemia. Em decorrência do progressivo aumento do número de casos de HIV/AIDS nessa faixa etária, observa-se a necessidade de estudar este novo contexto, com intuito de fornecer subsídios para avaliação do desempenho profissional no atendimento prestado e para a elaboração de medidas efetivas visando promover melhor atendimento a essa população e seus familiares. Apesar das mudanças culturais ocorridas nas últimas décadas e do advento de novas tecnologias para prolongar a vida sexual, o esteriótipo do idoso assexuado permanece arraigado na sociedade, influenciando não só as representações dos próprios idosos, como também as políticas públicas e programas de investigação. A AIDS é uma doença que envolve não somente aspectos fisiológicos, mas também relações com as pessoas, afetos e valores nas ações do cotidiano. Por este fato deve estar mais associado à vida. Apesar da significância deste aspecto, esse tem sido sistematicamente negligenciado. O estigma e o preconceito representam obstáculo na luta pela prevenção e combate ao HIV/AIDS, colocando as pessoas HIV+ em difícil posição frente à vida. Na velhice, a AIDS apresenta-se através de visões estigmatizadas e equivocadas e o impacto da doença nesse grupo etário não está apenas no diagnóstico, mas também, no fato de desvelar os hábitos até então não revelados, como a sexualidade, na qual a manifestação do desejo sexual é traduzido, muitas vezes, pelo preconceito. Sexo e DST/AIDS na terceira idade ainda representam um tabu para a população em geral e também para os profissionais de saúde, que apresentam dificuldades em abordar essas questões em seus atendimentos, ou mesmo supor que essas doenças não possam acometer as pessoas desta faixa etária. Viver mais e melhor, com qualidade de vida, somado à resistência ao uso do preservativo e às questões culturais, tornou o indivíduo idoso mais vulnerável ao 39 HIV/AIDS e a vulnerabilidade biológica e social, torna o gênero outro fator que ratifica a disseminação do vírus HIV nesta população. Para conhecer a vulnerabilidade e a exposição do idoso ao HIV/AIDS é preciso compreender o contexto em que ele vive e os fatores que os deixam susceptíveis a adoecer. O estudo identificou algumas das evidências que levam os idosos a tornarem-se susceptíveis e vulneráveis ao HIV/AIDS, assim como, a falta de percepção desses sobre sua vulnerabilidade. Tais evidências têm a intenção em auxiliar no planejamento futuro de medidas eficazes para o controle, tornando-se necessário a criação de políticas públicas voltadas para a promoção de saúde dos idosos e campanhas de prevenção a DST/AIDS, visto as limitações encontradas pelos mesmos quanto ao uso do preservativo, e com isto, proporcionar melhor qualidade de vida para essa população. Diante da confirmação das atividades sexuais nos idosos, torna-se imprescindível que as políticas de prevenção às DST/AIDS contemplem esse grupo etário, considerando suas particularidades, para que os objetivos sejam alcançados com eficiência. Todo o desenvolvimento da indústria farmacêutica, medicamentos, injeções e até próteses foram criados para resolver problemas de disfunção erétil nos homens. Aliadas a isso, as terapias de reposição hormonal, também para mulheres, visam oferecer uma vida sexual mais cheia de estímulos, com muito prazer e liberdade pelo maior período de vida possível. Porém, em propagandas desses produtos não se tem uma campanha que alerte os idosos sobre os riscos de contrair AIDS pela via sexual. Ficou evidente que os recursos utilizados para realização do trabalho forneceram um panorama epidemiológico
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