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1 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Ciências Econômicas Departamento de Ciências Contábeis Disciplina Sustentabilidade Financeira e Empresarial Prof. Hudson Soares Athayde Moreira SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA E EMPRESARIAL 2014 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 6 1 SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA ................................................................................................... 7 1.1 Insucesso corporativo ............................................................................................................................. 7 1.1.1 Razões de insucesso corporativo ....................................................................................................... 8 1.2 Perfil do insucesso das empresas brasileiras ..................................................................................... 14 2 ÉTICA......................................................................................................................................................... 14 2.1 Conceitos................................................................................................................................................ 15 2.2 Ética organizacional .............................................................................................................................. 15 2.3 Ética em finanças .................................................................................................................................. 16 2.4 Ética em recursos humanos ................................................................................................................. 17 2.5 Ética em negócios globais .................................................................................................................... 17 2.6 Códigos de ética .................................................................................................................................... 18 3 ASPECTOS AMBIENTAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS ...................................................................... 18 3.1 Triple Bottom Line.................................................................................................................................. 19 3.2 Crédito de carbono ................................................................................................................................ 20 4 O MODELO DE HART E MILSTEIN ....................................................................................................... 21 5 MODELO DE SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA.............................................................................. 25 5.1 Fatores externos que trazem impactos para a criação de valor........................................................ 26 5.1.1 Desempenho econômico ................................................................................................................... 26 5.1.2 Eficiência governamental................................................................................................................... 28 5.1.3 Infraestrutura....................................................................................................................................... 28 5.2 Fatores Internos que trazem impactos para a criação de valor ........................................................ 29 5.2.1 Governança corporativa..................................................................................................................... 29 5.2.2 Gestão financeira ............................................................................................................................... 29 5.2.3 Gestão de marketing .......................................................................................................................... 29 5.2.4 Gestão de produção........................................................................................................................... 30 5.2.5 Gestão de tecnologia e processos.................................................................................................... 30 5.2.6 Gestão de pessoas ............................................................................................................................ 30 5.3 A criação de valor com sustentabilidade financeira............................................................................ 31 5.4 A formatação final do modelo de sustentabilidade ............................................................................. 31 3 5.4.1 Dimensão interna curto prazo: gestão financeira de capital de giro .............................................. 32 5.4.2 Dimensão interna de longo prazo: gestão financeira humana, sucessão e aspectos comportamentais.......................................................................................................................................... 33 5.4.3 Dimensão externa de curto prazo: imagem, responsabilidade social e ambiental....................... 34 5.4.4 Dimensão externa de longo prazo: competitividade e geração de valor....................................... 36 6 ESTUDO DE CASO.................................................................................................................................. 37 6.1 Primeiro Quadrante ............................................................................................................................... 37 6.1.1Empréstimo para capital de giro......................................................................................................... 37 6.1.2 Capital de giro para ofertas e aumento nas vendas........................................................................ 37 6.1.3 Gestão inadequada do capital de giro .............................................................................................. 38 6.2 Segundo Quadrante .............................................................................................................................. 38 6.2.1 Risco de mercado e risco operacional.............................................................................................. 38 6.2.2 Imagem e responsabilidade social e ambiental ............................................................................... 39 6.3 Terceiro Quadrante ............................................................................................................................... 40 6.3.1 Missão, Visão e os Valores da empresa .......................................................................................... 40 6.3.2 Separação do patrimônio pessoal do empresarial – Terceiro quadrante...................................... 40 6.3.3 Planejamento formal da sucessão – Terceiro quadrante ............................................................... 41 6.4 Quarto Quadrante.................................................................................................................................. 41 6.4.1 Planejamento estratégico .................................................................................................................. 41 6.4.2 Vantagem competitiva........................................................................................................................ 42 6.4.3 Fatores que implicam a competitividade .......................................................................................... 43 6.4.4 Resumo das percepções levantadas................................................................................................ 43 6.5 Grau com que os empreendedores aplicamações empreendedoras no cotidiano da sua vida empresarial ................................................................................................................................................... 44 6.5.1 Dimensão: interna de curto prazo – gestão de capital de giro ....................................................... 44 6.5.2 Dimensão: externa de curto prazo – riscos à imagem e aspectos ambientais e sociais............. 46 6.5.3 Dimensão: interna de longo prazo – sucessão e aspectos comportamentais.............................. 47 6.5.4 Dimensão: externa de longo prazo – geração de valor e competitividade.................................... 49 7 CAPITAL DE GIRO................................................................................................................................... 51 7.1 Fundamentos da gestão do capital do giro ......................................................................................... 51 7.2 Fontes de financiamento para capital de giro ..................................................................................... 52 7.2.1 Fornecedores...................................................................................................................................... 53 7.2.2 Impostos e obrigações sociais .......................................................................................................... 53 7.2.3 Salários e encargos............................................................................................................................ 54 7.2.4 Adiantamento a clientes..................................................................................................................... 54 7.3 Gestão do valor no capital de giro ....................................................................................................... 54 4 7.4 Aspectos comportamentais na gestão do capital de giro................................................................... 55 7.4.1 Aspectos comportamentais na gestão do crédito............................................................................ 55 7.4.2 Aspectos comportamentais na gestão do estoque.......................................................................... 56 7.4.3 Aspectos comportamentais na gestão dos financiamentos............................................................ 56 7.4.4 Aspectos comportamentais na gestão da tesouraria ...................................................................... 57 7.4.5 Aspectos comportamentais na gestão dos tributos......................................................................... 57 8. CRIAÇÃO DE VALOR EM LONGO PRAZO ......................................................................................... 57 8.1 Gestão da estrutura de capital de longo prazo ................................................................................... 57 8.1.1 Estrutura de capital............................................................................................................................. 58 8.1.2 Alavancagem ...................................................................................................................................... 59 8.1.3 Escolhas de financiamento................................................................................................................ 59 8.1.4 As teorias sobre estrutura de capital ................................................................................................ 60 8.1.4.1 Static Trade-off Theory ................................................................................................................... 60 8.1.4.2 Teoria das informações assimétricas e o Pecking Order ............................................................ 60 8.1.4.3 Teoria dos custos de agência ........................................................................................................ 60 8.1.4.6 Teoria baseada em fatores organizacionais ................................................................................. 61 8.1.4.5 Teoria do controle corporativo ....................................................................................................... 61 8.1.5 Ponto ótimo de estrutura de capital .................................................................................................. 62 8.1.6 Estrutura de capital das empresas brasileiras ................................................................................. 63 8.2 Gestão do valor financeiro em longo prazo......................................................................................... 64 8.2.1 Estratégias para criação de valor...................................................................................................... 65 8.2.2 Direcionadores de valor ..................................................................................................................... 65 8.2.3 Geração de valor pelas estratégias de melhorias internas............................................................. 66 8.2.4 Geração de valor pelas melhorias externas..................................................................................... 67 8.2.4.1 Fusões.............................................................................................................................................. 68 8.2.4.2 Cisões............................................................................................................................................... 68 8.2.5 Geração de valor pelas decisões de financiamento........................................................................ 69 8.2.6 Geração máxima de valor.................................................................................................................. 69 9. GESTÃO EMPRESARIAL SÓCIO AMBIENTAL .................................................................................. 70 9.1 Ações empresariais sustentáveis......................................................................................................... 70 9.1.1 Adequação à legislação ambiental ................................................................................................... 70 9.1.2 Uso de tecnologias limpas gerenciais .............................................................................................. 71 9.1.3 Uso de tecnologias limpas operacionais .......................................................................................... 72 9.2 Outras ações empresariais para a sociedade..................................................................................... 73 9.2.1 Filantropia empresarial....................................................................................................................... 73 5 9.2.2 Cidadania empresarial ....................................................................................................................... 73 9.3 Responsabilidade social e marketing societário ................................................................................. 73 10 SUCESSÃO ............................................................................................................................................ 74 10.1 Conceitos e características da empresa familiar .............................................................................. 75 10.2 Características da empresa familiar .................................................................................................. 77 10.3 Vantagens e desvantagens inerentes à empresa familiar ............................................................... 78 10.3 Sucessão em empresas familiares .................................................................................................... 79 10.3.1 Sucessão profissional ......................................................................................................................81 10.3.1.1 Vantagens e desvantagens da sucessão profissional ............................................................... 82 10.3.2 Sucessão familiar ............................................................................................................................. 82 10.3.2.1 Vantagens e desvantagens da sucessão familiar ...................................................................... 82 10.4 Planejamento do processo sucessório .............................................................................................. 84 11 CONSIDERACOES FINAIS................................................................................................................... 85 REFERÊNCIAS............................................................................................................................................ 86 6 INTRODUÇÃO O objetivo principal da empresa deve ser maximizar o seu valor no longo prazo. Definir a missão da organização possibilita uma série de reflexões nas áreas de finanças, economia, sociologia, direito e política, possibilitando a geração de valor a todos os interessados pela organização. Partindo do pressuposto que hoje a organização precisa valer mais do que ontem, grandes são os desafios e atividades do administrador financeiro, dentre os quais se destacam os principais: orçamento de capital, estrutura de capital e administração do capital de giro, que. Os administradores, além de gerenciar os recursos da organização, devem dirigir suas funções à sustentação e perpetuidade da organização, conforme o principio da continuidade em que toda organização foi criada para durar. A duração de uma empresa é consequência de uma aposta no futuro de todos os seus integrantes, portanto, é fundamental a atenção com o porvir e o estabelecimento de um plano de contingência prevendo as estratégias a serem usadas para assegurar condições de continuidade das atividades, evitando assim perdas decorrentes de riscos de mercado e riscos operacionais. A contabilidade considera a organização como fonte contínua de geração de valor, criada para existir indefinidamente, salvo exceções de formação de empresas com fins específicos, onde a sustentabilidade não é o principal objetivo. Gerar valor é o objetivo principal da empresa, porém o problema é como fazê-lo. Criar valor não se traduz apenas no retorno para sócios ou acionistas, é muito mais abrangente e inclui o retorno à sociedade por meio da geração de emprego; da aquisição de serviços a seus fornecedores; da melhoria dos índices de conforto aos seus clientes, em suma, traduz a geração de riqueza para a comunidade também. Nesse sentido, as forças que compõem o desenvolvimento sustentável empresarial são os elementos ambientais, sociais e econômico-financeiros, os quais formam o conceito do triple bottom line – TBL (Desenvolvido pela empresa de consultoria inglesa Sustain Ability). O modelo usual do desenvolvimento sustentável enfoca aspectos econômicos, sociais e ambientais, com maior destaque a esse último. Dessa maneira visou-se elaborar um modelo com enfoque na sustentabilidade empresarial, já que o valor da organização é avaliado pela perpetuidade, ou seja, os fluxos de caixa futuros trazidos a valor presente. A insolvência de uma empresa é altamente prejudicial não apenas aos sócios e acionistas, mas a todos os seus stakeholders. A empresa interessa aos empregados porque é a sua fonte de subsistência e crescimento como pessoas; aos acionistas porque possibilita um retorno adequado aos riscos incorridos pelos capitais investidos de sua poupança; aos governos pela geração de impostos; e à sociedade pela produção de bens e serviços essenciais para o seu funcionamento como entidade econômica. Portanto, a quebra de empresas traz sérias consequências para a região ou país onde está localizada. Conforme Geus (1998), a expectativa média de vida de uma empresa multinacional é de quarenta e cinco anos, o autor indica que um terço das 500 maiores empresas constantes na revista Fortune em 1983 havia desaparecido, tendo sido adquiridas fundidas ou simplesmente se desintegrado. Ainda de acordo com Geus (1998), a expectativa média de vida de todas as empresas, independente do porte, medida no Japão e em grande parte da Europa, é de apenas 12,5 anos. Portanto, a busca pela sustentabilidade empresarial não significa que as empresas 7 devam viver eternamente; porem, a distância entre a expectativa de vida média e máxima que se pode concluir que muitas empresas tem morte precoce. Entretanto, ainda existem algumas empresas prósperas as quais continuam em funcionamento por algumas centenas de anos, como exemplo a Stora, uma empresa de capital aberto sueca, grande fabricante de papel, celulose e produtos químicos em atividade há mais de 700 anos. Outro exemplo é o grupo japonês Sumitomo, o qual teve origem em 1590 como uma fundição de cobre. No Reino Unido há várias empresas longevas. Dados que estas mantem sua própria associação comercial, o Tercentenarians Club, que só aceita empresas-membro com mais de trezentos anos de idade. Nesse sentido, exemplos como esses sugerem que o tempo médio de vida de uma empresa deveria ser de dois ou três séculos. Segundo pesquisa do SEBRAE (2011) no período de três anos, entre 2000 a 2002, houve o fechamento de mais de 772 mil empresas no Brasil. Somado a este fato, o estudo estima que houve a perda de 2,4 milhões de ocupações que contribuíram para o crescimento das taxas de desemprego e da atividade informal. Além disso, pressupõem-se desperdícios potenciais da ordem de R$ 19,8 bilhões de inversões na entidade econômica, decorrentes do encerramento das atividades empresariais. Considerando um aspecto de suma importância as organizações se perpetuarem ao longo do tempo, a sustentabilidade organizacional precisa ser observada em todos os departamentos da empresa de maneira conjunta para que não haja a destruição de valor na soma dos resultados. Neste sentido essa disciplina dá ênfase à sustentabilidade financeira, a qual está presente em todos os setores organizacionais e em todos os portes de empresas, de micro empresas às corporações, sendo ponto-chave da longevidade empresarial. A sustentabilidade financeira pode ser definida como a capacidade do prestacionista (credor) cobrir todos os seus custos, inclusive os de oportunidade e os de transação e ainda conseguir permanecer no mercado em longo prazo (MATIAS, 2007a). 1 SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA Para entender a sustentabilidade corporativa e a importância da sustentabilidade financeira, é fundamental entender as causas do insucesso corporativo. Ressalta-se que uma das grandes questões que são levantadas em relação aos temas sociais e ambientais é se estes afetam a competitividade das empresas. Segundo a visão clássica da empresa, incorporar as questões sociais e ambientais além da obrigação legal eleva os custos e reduz o lucro. O debate sobre o conteúdo e extensão da responsabilidade social nos negócios é intenso, no sentido de contrapor o desempenho econômico ao social e ambiental. Serão estudadas as razões do insucesso corporativo, ou seja, suas causas financeiras e também de outros setores que impactam na área financeira e impedem a perpetuidade empresarial, a fim de conhecer o perfil das empresas que fracassam. Assim, entender as causas de insucesso empresarial ajuda a compor a consciência sobre a sustentabilidade corporativa e quebrar tabus e preconceitos históricos. 1.1 Insucesso corporativo Falência é o processo de execução coletiva, decretado por sentença judicial, contra o comerciante devedor, com o objetivo de satisfazer o crédito dos credores. Devido à incapacidade de liquidar o passivo por falta de disponibilidade financeira, pode-se iniciar o processo de recuperação judicial e ou falência.No art. 1º do decreto-lei 7.661 há a descrição de falência, em que “considera-se falido o comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitime a ação 8 executiva” (DEL, 2006). Na falência, normalmente a empresa para de funcionar e uma pessoa é designada pelo juiz para arrecadar o patrimônio disponível, verificar os créditos, liquidar os ativos e pagar o passivo em sistema de rateio. São muitos os prejuízos causados ao país com a morte de uma empresa, principalmente onde as empresas privadas são responsáveis por uma parte significativa da infraestrutura deste país, sendo que: a comunidade ligada àquela empresa se desintegra; as pessoas perdem seus empregos, ficando à deriva, sem uma comunidade de trabalho; a dívida que a empresa tem para com suas gerações passadas, que deram suas vidas em prol do seu futuro, não pode mais ser saldada; e, os clientes e os fornecedores da empresa ficam órfãos. 1.1.1 Razões de insucesso corporativo Uma empresa madura dificilmente desaparecerá de repente, pois não se trata de um processo pontual. Ao longo das fases de sua vida, vão ocorrendo várias situações para que haja a falência de uma empresa. Nesse sentido, muitas são as empresas importantes que quebraram e que poderiam em algum momento de sua vida ativa, ser descritas como modelos de como alcançar o sucesso. As principais causas para a empresa ser fechada ou deixar de funcionar são: falta de capital de giro; falta de crédito; problemas financeiros; inadimplência; falta de clientes; concorrência muito forte; instalações inadequadas; ponto inadequado; carga tributária elevada frente a concorrência com mercados com menor carga tributária; falta de mão de obra qualificada; falta de conhecimentos gerencias; recessão econômica do país. Os principais motivos que podem levar ao fracasso da pequena empresa são: falta de experiência anterior no ramo de negócio; falta de conhecimento de instrumentos de administração; falta de recursos e dificuldades na obtenção de créditos e financiamentos; falta de profissionais qualificados e treinados; falta de profissionalização na relação com os sócios; manutenção de maus pagadores na carteira de clientes; Burocracias legais, dificuldade em atender aos procedimentos legais, fiscais e tributários; imposição de preços por parte de grandes fornecedores e grandes clientes; não distinção entre empresa e empresário, mistura-se os bens e as contas. baixo nível de escolaridade do empreendedor; capacidade empreendedora pouco desenvolvida; baixa qualidade do produto e/ou serviço; 9 baixa inovação de produtos e serviços (diferenciação). São estas as causas essenciais que acabam conduzindo as empresas malsucedidas a estes problemas Quadro 1. Classificação dos fatores contribuintes para a mortalidade. 1. O Empreendedor 2. O Negócio 3. O Ambiente Externo Acesso ao crédito Burocracia legal, fiscal. Mão-de-obra qualificada Competição dos concorrentes Experiência no ramo Planejamento estratégico Demanda de clientes Nível de escoralidade Suporte jurídico contíbil e fiscal Qualidade dos produros ou serviços Carga de impostos e tributos Inovavação dos produtos ou serviços Competência na gestão empresarial Profissionalização da relação com sócios Fornecedores, representantes, distribuidores e parceiros. Aspectos econômicos, políticos tecnológicos, sociais e ambientais Fonte: Matias (2007) Em suma, a habilidade na gestão empresarial por parte do empreendedor para definir um planejamento estratégico, estabelecer metas e objetivos é fator primordial para que a empresa busque a sustentabilidade financeira. Muitas empresas fracassam por questões internas, externas ou pela interação das duas dimensões. Os principais fatores externos são: mudanças tecnológicas; novos sistemas regulatórios; perfis demográficos diferentes; medidas macroeconômicas envolvendo taxas de juros, câmbio, impostos; maior abertura de mercado; maior competição baseada em escala de produção; flutuações nas matérias-primas e commodites; novos entrantes, com produtos substitutos ou maior capacidade de produção em escala; mudança nos hábitos do consumidor. . Os principais fatores internos são: fase do ciclo de vida em que se encontra a empresa; porte da empresa; ramo do negócio e ciclo do produto; cultura organizacional; sucessão; qualidade na relação com os stakeholders (fornecedores, clientes, governo e sociedade); mudança na estrutura acionária; diversificação fora do core-business (negócio principal); investimentos inadequados e arriscados. 10 As quebras de empresas são basicamente consequência de algumas armadilhas financeiras como: insuficiência de capital inicial; escassez de capital para crescimento e expansão; dependência de endividamento; planejamento financeiro deficiente; administração deficiente do capital; preferência pelo volume do investimento, à causa de seu rendimento; descuido da relação risco-retorno; retirada excessiva de capitais da empresa; confusão entre entradas de caixa e lucro líquido; relacionamento bancário ruim; excessiva liberação de crédito; sistema de faturamento deficiente; gerenciamento inadequado das contas a pagar; sistema contábil ineficiente, o qual não gera informações adequadas para a tomada de decisão. Dentre tudo o que foi levantado como causa de insucesso empresarial, as quatro armadilhas financeiras mais comuns que causam a maior parte das quebras das empresas são: a insuficiência de capital, o sistema contábil ineficiente, a não retenção de lucros (não fazer caixa) e as excessivas retiradas de capital da empresa (retirada de dinheiro pelos sócios). a) Insuficiência de capital Um dos erros mais graves que se comete ao empreender um negócio é iniciá-lo com capital insuficiente. O dinheiro é necessário para comprar equipamentos e instalações, integrar o capital e cobrir situações imprevistas. É frequente que o capital utilizado para iniciar uma empresa seja insuficiente e não dê ao empresário alguma margem de erro ou tempo suficiente para reaver o crédito oferecido aos clientes. As empresas em maior parte iniciam pequenas e por não terem uma estrutura para negociar ações na bolsa de valores, dependem essencialmente de capital próprio e de empréstimos bancários. Apesar de o empréstimo constituir uma maneira aceitável de captação de recursos, este pode ter um alto custo financeiro, e à medida que o endividamento aumenta, representa um perigo para a estabilidade financeira da empresa. É comprovado por inúmeras pesquisas que o período mais crítico na vida de uma empresa são os seus primeiros anos de existência. É preciso planejar de maneira prudente a necessidade de capital, principalmente no início das atividades e nos primeiros anos. b) Sistema contábil ineficiente É comum o pequeno empresário não dar atenção aos registros contábeis e não perceber os efeitos dessa atitude negligente. É comum o profissional de contabilidade não dar a atenção necessária ao pequeno empresário, elaborando relatórios consistentes, estimulando seu uso e em muitos casos, até mesmo ensinando o empreendedor a utilizá- los e analisa-los. Há casos em que os empreendedores aumentam seus gastos o máximo possível para que seu lucro seja diminuído e assim pagar menos impostos. Porém, esta prática, ao criar uma impressão de prejuízo, pode afastar possíveis credores. 11 Manter registros contábeis adequados, que reflitam a realidade econômica e financeira da empresa é essencial para dirigir as operações da empresa, conhecer a atividadee informar corretamente o público interessado para que possam ser tomadas as melhores decisões. c) Não retenção de lucros (não fazer caixa) A retenção do lucro é a principal fonte de crescimento das pequenas empresas, além de servir como base de garantia para obtenção de empréstimo e financiamentos. Os lucros retidos (neste item traduzidos em caixa) devem ser administrados com cautela e seu reinvestimento deve ser bem planejado. Um erro comum entre os pequenos empresários é investir a maior parte dos lucros em ativos permanentes, como máquinas e novas instalações, sem deixar recursos suficientes para capital de giro. Ao invés de empatar recursos financeiros com bens permanentes, o empreendedor tem a opção de utilizar outros procedimentos de financiamento, como o leasing, e assim liberar recursos para outros fins, notadamente financiar o capital de giro necessário. Fazer caixa pode ser uma medida de contingência financeira para eventuais prejuízos decorrentes do risco operacional, como o de falhas de equipamentos, sistemas, pessoas, processos ou mesmo eventos externos. Um bom gerenciamento desse risco, prevendo estratégias a serem usadas pode assegurar condições de continuidade das atividades e limitar as perdas. d) Retirada excessiva de capitais da empresa A retirada excessiva de capitais da empresa, principalmente para uso pessoal do empresário, é um erro frequente e perigoso. É importante que haja separação entre o capital da empresa e o dos sócios e que a retenção de lucros proporcione o desenvolvimento da organização. A administração de uma empresa não é uma tarefa acessível a qualquer pessoa, pois requer tempo e dinheiro, além de aptidões gerenciais. O empreendedor deve ter autodisciplina e disposição, para renunciar em alguns momentos possíveis recompensas futuras é fundamental para o sucesso financeiro da empresa. Já em 1978, Abdelsamad e Kindling classificaram as causas de quebra de pequenas empresas como gerenciais ou comportamentais e citaram as possíveis causas, sendo: Excesso de otimismo Os pequenos empresários costumam ser tão otimistas que não se notificam dos problemas a tempo de buscarem uma solução. Dessa maneira, quando está passando por uma nítida queda de vendas, o empresário acredita que se trata de algo passageiro e que as coisas por si só irão melhorar. Esse empresário jamais espera encontrar problemas em seu planejamento. É importante que o pequeno empresário elabore um planejamento e considere três resultados possíveis: um otimista, outro moderado (possivelmente o mais realista) e um pessimista. Deve também estudar as consequências de uma possível disparidade entre os fatos reias e o planejado. Diretoria inadequada Em toda empresa, seja ela pequena ou grande, sociedade limitada ou anônima, a diretoria é um órgão vital. Neste departamento pode e deve se concentrar os talentos que uma boa administração necessita; porém muitos empresários cometem o erro de formar a diretoria com amigos, parentes e homens incondicionalmente obedientes. A harmonia é importante e 12 a rebeldia sistemática é negativa, mas um grupo de diretores submissos pode causar muitos danos à organização. Para ser útil, uma diretoria deve contar com pessoas conhecedoras dos aspectos de produção, comércio, finanças e planejamento geral da empresa. Também é muito importante a presença de pessoas bem relacionadas com círculos financeiros e o mercado de capitais. O empreendedor da pequena empresa deve se preparar, para, na devida escala, atender à todas as áreas de gerenciamento necessárias para o sucesso da empresa. Nepotismo Uma prática comum nas pequenas empresas é empregar parentes. Ainda que esta prática tenha muitas vantagens, pode desmoralizar os outros colaboradores que não pertencem à família do empreendedor, os quais têm a sensação de que os principais cargos estão reservados aos parentes do dono, nem sempre preparados para assumi-los. A política de abertura de recursos humanos alheios à família aumenta a possibilidade de atrair colaboradores capacitados e que desejam ao mesmo tempo obter sucesso pessoal. Se de alguma forma é necessário a incorporação de membros da família na empresa, estes devem ser competentes no que fazem, disciplinados e empenhados tão quanto ou mais que os demais funcionários, para que sejam exemplos de comportamento e eficiência. Incapacidade para delegar O empreendedor tem muita dificuldade em delegar funções, assim ele acaba desempenhado várias atividades pessoalmente, mas é preciso que ele aprenda a formar bons colaboradores e conferir-lhes autoridade e responsabilidade para não ficar sobrecarregado de trabalho. Portanto a delegação de funções é essencial para a sobrevivência da empresa. Para que uma empresa tenha sustentabilidade e cresça, seu proprietário deve aprender a delegar. Não é possível ele desenvolver várias atividades de forma eficiente. Para ser um gestor eficaz, o dono deve dedicar mais da metade do seu tempo para planejar as ações da empresa e criar sistemas e modelos de operação. As tarefas administrativas devem absorver a maior parte do seu tempo de trabalho, considerando que as funções rotineiras devem ser delegadas. Negligência em formar colaboradores A pequena empresa por não possuir muitos empregados, normalmente tem um empregado ou pouco mais para cada tipo de atividade, esse fato a torna vulnerável. O problema se torna ainda mais grave devido ao proprietário não dedicar um tempo para formar novos colaboradores. Dessa forma, quando sai um empregado importante para a empresa, esta passa por sérios problemas até que se consiga um substituto. O empreendedor deve analisar todos os postos de trabalho e verificar se eventualmente perder um empregado, terá como substituí-lo até que se possa contratar outro sem que a empresa fique prejudicada. Sabe-se que o custo para se formar e capacitar empregados substitutos é alto, mas deve-se avaliar o custo benefício desta medida. Tal custo deve ser considerado como um seguro, cujo pagamento evita prejuízos maiores. Incapacidade para reconhecer a natureza do próprio negócio É indispensável que a direção e os funcionários da empresa compreendam claramente a finalidade dos negócios empreendidos. Para que a pequena empresa sobreviva, é necessário avaliar os bens e serviços que oferece ao mercado e identificar tanto seus pontos fortes quantos os fracos. 13 O pequeno empresário deve se perguntar periodicamente o que os seus clientes compram e a intensidade que sua empresa satisfaz as necessidades destes clientes. A cordialidade e o tratamento diferenciado são razões principais para que o pequeno empreendimento mereça ter muitos clientes, portanto é importante que o cliente avalie o produto vendido e o serviço prestado, para isso pode ser muito útil utilizar breves questionários que permitam aos clientes apontar o seu grau de satisfação e os principais motivos de seu vínculo com a empresa. Subestimação dos efeitos econômicos Muitas empresas são intensamente afetadas pelas flutuações da economia, pois seus custos fixos são elevados e não dependem do volume da operação. Quanto mais altos são estes custos, mais vulnerável é a empresa. Se a maioria dos custos é variável, estes podem reduzir quando diminui a atividade. Antes de adquirir ativos permanentes e expandir operações, o empresário deve analisar os efeitos destas decisões sobre os custos fixos e a rentabilidade em condições econômicas adversas. Deixar-se absorver pelas tarefas agradáveis Um erro comum entre os proprietários-gerentes com formação técnica é concentrar-se nas tarefas de que mais gostam e ignorar ou esquecer-se das outras. Não e conveniente o dono de uma empresa atribuir atenção demasiada a uma área operacional e esquecer-se de outras. Todo especialista que se transforma em gerente de sua própriaempresa deve conduzi-la com equilíbrio para aumentar suas probabilidades de sucesso. Em busca desse equilíbrio, o empresário deve elaborar um breve registro diário de seu tempo. Uma vez por mês, precisa resumir e analisar o tempo dedicado a cada uma das áreas chaves da empresa. Deverá então perguntar-se qual delas absorveu mais tempo, se a destinação do tempo foi equilibrada, se é possível delegar alguns destes trabalhos e se dedicou demasiado tempo à sua especialidade. Caso o empresário não seja capaz de deixar o hábito de ser atraído pela área de sua maior experiência ou especialidade, é preciso que contrate alguém para administração geral. Falta de adaptação ao crescimento da empresa O sucesso tem seus problemas. Quando uma empresa cresce, o seu dono deve crescer com ela. Caso o dono esteja acostumado a ocupar-se pessoalmente de todos os assuntos, terá dificuldade, porque com o crescimento da empresa, já não poderá participar de todos os detalhes e terá que se conformar a delegar funções e conhecer menos detalhadamente o que ocorre na empresa. O proprietário deve ocupar-se cada vez menos das atividades operacionais e prestar atenção crescente no planejamento. Deve desenvolver suas aptidões e não cessar de aperfeiçoá-las. Essas aptidões adquirem importância muito maior à medida que a empresa cresce, tornando-se vitais. Com o crescimento os problemas se multiplicam. Os pequenos empresários devem assistir a palestras e participar de cursos, deve informar- se sobre todos os aspectos do negócio e planejar as atividades da empresa para que esta esteja preparada para possíveis mudanças. Má escolha de sócios A escolha errada de sócios certamente trará consequências desagradáveis. Nós negócios, como no casamento, a má escolha será fonte de problema. 14 Os sócios são eleitos, entre outras razões, pelo capital ou pela experiência que podem aportar na empresa. Também é recomendável que o empresário analise suas próprias aptidões, determine suas carências e busque sócios capazes de supri-las. Falta de disposição para o sacrifício A minoria das empresas cresce sem sacrifícios de seus proprietários. Para ser empreendedor e não ter patrão, é preciso estar disposto a dedicar várias horas diariamente ao seu negócio. Deve renunciar a altos salários e muitos finais de semana com a família. Por sua vez, esta deve apoiá-lo e privar-se de algumas comodidades pelo bem da empresa. O empresário deve ser capaz de suportar, além de várias horas de trabalho, a solidão. Muitas vezes, o empreendedor não tem amigos em sua empresa para conversar sobre os problemas da organização. Falta de verificação dos resultados e ausência de medidas corretivas É frequente às vezes em que os pequenos empresários aleguem falta de tempo para avaliar resultados. Esta omissão pode impedir-lhes de conhecer os problemas a tempo de definir estratégias que possam corrigi-los. A análise financeira dos resultados visa avaliar os progressos realizados, comparando-os com os planos estabelecidos, esses esforços são necessários e podem servir de alerta. É importante sempre determinar a situação da empresa, comparar a realidade com o que foi planejado e analisar os possíveis desvios e problemas, e quando necessário, fazer mudanças em busca das metas pré-estabelecidas e do objetivo desejado. 1.2 Perfil do insucesso das empresas brasileiras O perfil das empresas tem relação direta entre o tempo de abertura da empresa e a sua mortalidade, sendo que este número se reduz com o passar dos anos, até que aproximadamente na faixa dos 30 a 40 anos de vida empresarial, ocorre um novo período de mortalidade, quando várias empresas quebram por erros no planejamento sucessório. Também se considera a analogia porte versus fracasso, onde semelhantemente à idade, quanto maior o porte, menor deve ser a taxa de falência. Estes dados estão relacionados à existência de mercado que a empresa adquire ao longo de sua existência e de sua expansão. O porte da empresa também facilita o seu acesso ao crédito, pois esta pode ampliar o seu patrimônio abrindo o seu capital na bolsa de valores ou então negociar melhores taxas de juros em instituições financeiras. Nesse contexto as empresas deveriam ser constituídas, passar pelo processo de amadurecimento e pelo processo sucessório, vencendo a cada dia a incerteza sobre a viabilidade econômica de seus negócios. Mas conforme várias pesquisas feitas sobre as empresas brasileiras, apenas 20% delas ultrapassam a primeira geração (SEBRAE, 2011). Este fato pode ser atribuído à troca gerencial, ou seja, o processo sucessório mal planejado. A sucessão requer alguém capaz de assumir, mas a realidade dos sucessores não só no Brasil, mas também no mundo é a falta de preparo para assumir a direção e suceder o líder anterior. Portanto, o planejamento da sucessão é vital para a continuidade das empresas. 2 ÉTICA A sociedade contemporânea necessita resgatar comportamentos que possibilitem o cultivo de relações éticas, pois são frequentes as queixas e notícias sobre a ausência de ética na sociedade, política, indústria e até mesmo nos meios esportivos, culturais e religiosos. 15 Diante desse contexto, a abordagem do tema é relevante para a formação de profissionais conscientes de suas responsabilidades e deveres, não apenas como profissionais, mas também como cidadãos. 2.1 Conceitos Primeiramente, julga-se necessário uma breve definição dos termos ética e moral, bem como a relação existente entre ambos os conceitos. Diversos estudos relatando a origem, significado e aplicação dos termos são encontrados na literatura. Moraes e Benedicto (2003) relatam que o termo ética é originado do vocábulo grego ethos, o qual possui significado de costume, índole, modo de agir habitualmente. Os autores afirmam que o termo ética apresenta sentido semelhante ao termo latino mos, moris, do qual a palavra moral é derivada. Tradicionalmente, a palavra ética pode ser compreendida como aquilo que se considera adequado e moralmente correto, ou seja, um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade (HOUAISS, 2001). A palavra moral, muito utilizada na explicação de ética, está relacionada aos costumes. Segundo definição de Houaiss (2001), a moral denota bons costumes e boa conduta, considerando os preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado grupo social. Quando aplicada à definição de ética, portanto, a moral está relacionada à honestidade e atitudes corretas. A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas cristalizadas pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as prescrições e proibições do tipo “não matarás”, “não roubarás”, de cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e sociais. Portanto, ética é a ciência da moralidade. A palavra ética, nesse sentido, refere-se à aplicabilidade de princípios, preocupando-se com a conduta. Dessa forma, tem-se que o indivíduo ético se preocupa com o que ele é e faz. Ética tem a ver com relações dos indivíduos entre si, com a sociedade, em geral. A ética seria então uma espécie de teoria sobre a prática moral, uma reflexão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral. Assim, pode-se concluir que ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital na produção da realidade social. 2.2 Ética organizacional Atualmente, tem-se observado crescente interesse da sociedade pelas questões éticas que envolvem as instituições públicas e privadas. A ideia de que ética deve ser incorporada nas avaliações e nas decisões econômicastem sido crescentemente reclamada e difundida. Um dos campos mais carentes quanto à aplicação da ética é o do trabalho e o exercício profissional. Apesar do comportamento ético representar um valor da sociedade moderna, existem falhas no comportamento ético dos indivíduos, das organizações e das sociedades. A competitividade existente nas organizações incita os indivíduos a disputarem posições e fatias de mercado. Com a competitividade, todos os desvios possíveis e conhecidos do comportamento humano podem estar presentes nas organizações, sejam elas empresas, sejam organizações não governamentais, seja o próprio Estado. O ser humano por ser a maior e incalculável riqueza 16 de uma sociedade deve e precisa ter a vivência irrestrita dos valores éticos tanto no campo dos negócios públicos e privados, sempre voltados para pra o bem estar da coletividade. Ao contrário, os aspectos relacionados à conduta ética de gestores, administradores ou não, tem sido motivo de repulsa para a sociedade em geral, quanto às suas práticas empresárias como: desfalque em empresas e fundos de pensão, pirataria, biopirataria, falsificações, adulterações, de pesos e medidas, informações privilegiadas, propinas, sonegação, tráfico de influências, desvio de verbas, furtos, doações para campanhas eleitorais, dentre tantas outras. A instituição necessita definir como deseja desenvolver-se, de tal forma que a postura ética, a conduta moral, os seus valores e crenças essências se tornem parte da cultura da organização. Pode-se definir a ética empresarial como o conjunto de princípios, valores e padrões que regulam o comportamento das atividades da empresa do ponto de vista do bem e do mal. A ética é necessária para nortear a condução de negócios empresariais. Agir eticamente nos negócios é premissa básica para conquistar confiança, fidelizar consumidores. Fatores importantes para a competitividade e geração de valor quanto à imagem da organização. A cultura ética de uma empresa se nota por seus valores, pelas virtudes das pessoas que integram a organização e pelos seus bons produtos e serviços que chegam à sociedade. Bons negócios dependem essencialmente do desenvolvimento e manutenção de relações de longo prazo. Esse é o novo posicionamento voltado para o longo prazo que faz com que as organizações e seus profissionais busquem equilibrar três fatores principais: os lucros da empresa, os desejos do consumidor e os interesses da sociedade. 2.3 Ética em finanças Tradicionalmente, a função financeira das empresas objetiva à contribuição para a maximização da riqueza dos proprietários, sócios ou acionistas. No entanto, se a empresa quiser competir com sucesso nos mercados nacional e mundial, será importante manter uma sólida reputação de comportamento ético. Dessa forma, uma atuação ética na condução dos negócios pode ser fonte de lucros; ações éticas ou antiéticas podem adicionar valores ou custos às transações empresariais e por isso merecem uma atenção especial dos gestores ou administradores das empresas. O individualismo extremo, muitas vezes associado à falta de ética pessoal, tem levado alguns profissionais a defender seus interesses particulares acima dos interesses das empresas em que trabalham, colocando-as em risco. Os casos de corrupção e investimentos duvidosos nas empresas públicas e privadas são os maiores exemplos. Em relação à gestão financeira, tem-se a questão da lavagem de dinheiro. O termo significa dar ao dinheiro obtido ilicitamente uma aparência de dinheiro lícito. A lavagem de dinheiro consiste, portanto, em transformar os recursos provenientes de atividades ilegais em moeda utilizável, eliminando-se os indícios da sua origem. Caccese (1997) indica algumas possíveis razões para o crescente interesse por ética tanto em finanças como em outras empresas voltadas para o lucro: pressão dos consumidores; melhora na produtividade (ser ético é uma estratégia de marketing); mudanças nos valores da sociedade (pessoas primeiro, lucro depois); e temor de dano monetário e na reputação por procedimento não ético. A missão social da organização deve ser a de realizar tanto lucro quanto for possível, mas sempre em conformidade com as regras estabelecidas pela sociedade. 17 2.4 Ética em recursos humanos .À medida que a sociedade moderna se torna mais complexa, ela exige conhecimento cada vez mais especializado, treinamento avançado e desenvolvimento de serviços que implicam habilidades cada vez mais específicas. Portanto, deve-se atentar à questão da formação de recursos humanos, pois os indivíduos atuantes na organização constituem a base de qualquer tentativa de iniciar o resgate da ética nas empresas e nas relações de trabalho. É comum os programas de treinamento, educação e desenvolvimento de recursos humanos atribuírem ênfase excessiva aos assuntos técnicos, esquecendo por completo os aspectos éticos, essenciais para a dinâmica de qualquer atividade profissional. A implantação e manutenção da conduta ética organizacional dependem mais de seus administradores e da liderança destes, dando exemplos e tomando decisões éticas. Algumas empresas já estão se preocupando em mostrar posturas coerentes, bem como valores e políticas convergentes. Os empregados são os primeiros a sentir se o discurso ético está alinhado à prática e se as relações formais e contratos psicológicos são democráticos. Diante da necessidade de mais profissionalização e criatividade, as empresas criam um aumento de expectativa e capacidade por parte dos empregados, que, com razão, desejam ser tratados como adultos, com critério próprio, capazes de conduta empreendedora, autônoma, flexível e comprometida com valores. Com isso o ambiente organizacional moderno aponta favoravelmente para perfis profissionais qualificados em relacionamento humano, maturidade emocional e valores humanistas e espirituais. A administração revisada requer também um administrador mais consciente do seu papel numa sociedade carente de profissionais e de cidadãos. 2.5 Ética em negócios globais .A ética nos negócios vem sendo tratada normativamente, com especial ênfase nas empresas privadas, prescrevendo-se os limites para as ações das organizações. A diversificação internacional é uma estratégia que não pode ser desvinculada do aspecto cultural-ético. A inovação tecnológica tem provocado a internacionalização dos negócios e todos os níveis de empregados acabam se envolvendo com a interação cultural. Com isso a necessidade de uma ética global fica evidente quando se trata da solução de problemas que requerem, para além dos interesses particulares, uma base comum de normas e valores reconhecida de forma global, a partir da qual os conflitos possam ser resolvidos de uma forma aceitável por todos. É preciso desenvolver estratégias de marketing internacional, funções e processos que levem em consideração fatores ambientais poderosos e interdependentes, como a polícia, a economia, as leis, a tecnologia, a cultura e, sobretudo a ética em relação às noções hospedeiras. Há organizações que adotam as normas de cada país em que atuam e, na sua ausência, as do país de origem, e há casos de organizações que adotam apenas o código legal existente no país em que estejam operando. Neste sentido, é valido que os gestores atuantes em países estrangeiros recebam treinamento para lidar melhor com as diferenças provenientes do mundo com as pessoas de cada região executam seus acordos. Do ponto de vista ético, os efeitos da cultura sobre funções gerenciais específicas aparecem quando um executivo tenta impor seus próprios valores e sistemas a outra sociedade. 18 2.6 Códigos de ética Conforme exposto anteriormente, a ética deve nortear as ações das organizações na condução de suas atividades. Geralmente, as empresas têm elaborado manuais e códigosde ética empresarial que direcionam e normatizam as ações dos indivíduos nas organizações. Programas éticos em empresas vêm sendo implementados visando desestimular desvios de conduta e contribuir para a excelência administrativa, pois atitudes antiéticas podem prejudicar seriamente um empreendimento, gerando punições legais, má publicidade e irreparáveis danos nas relações com a clientela. Em geral, é possível imaginar que as organizações acreditam na importância e necessidade de incluir, em seus projetos políticos empresariais, códigos de conduta ética e que, para implementá-los, seja necessário investir em treinamento de seus empregados. Esses códigos vêm sendo utilizados como indicadores da preocupação ética das organizações. Os códigos de conduta são utilizados pelas organizações como forma de regular as ações dos agentes e alinhar a sua conduta com a dos acionistas. A conduta ética dos gestores e administradores torna-se fundamental, pois as organizações têm grande interesse em manter uma boa imagem e para isso devem ter mecanismos reguladores de conduta para que não se abram espaços para o individualismo, que poderá levar as pessoas a trabalhar em benefício próprio, resultando numa prática que invariavelmente termina em: propaganda enganosa, tramas, difamações, tentativa de reduzir a concorrência roubando-lhe a clientela a qualquer preço, entre outras mais. É preciso haver coerência entre o que se prega e o que se pratica, daí a importância de desenvolver um projeto forte, coeso e claro, abrangendo políticas e procedimentos que, efetivamente funcionam no sentido de promover a consolidar a conduta ética das pessoas que participam da empresa. Para isso é preciso difundir seu código de conduta entre os empregados, fornecedores e consumidores, pois os indivíduos precisam saber como a empresa vê a ética. Assim, mais importante do que ter, é estabelecer o código de ética com a participação de todos os níveis da organização. Para que o código de ética seja cumprido é preciso estabelecer um programa construído por: treinamento de implantação e reciclagem dos conceitos constantes no código; prática de um sistema de revisão e verificação do efetivo cumprimento; criação de um canal de comunicação destinado a receber e a processar relatos de pessoas (empregados ou não) sobre eventuais violações; tomada de atitudes corretivas ou punitivas em caso de constatação de violação; e, luta clara contra os concorrentes antiéticos, inclusive em juízo, se necessário, com divulgação interna das ações e resultados. 3 ASPECTOS AMBIENTAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS Atualmente, os aspectos ambientais, sociais e econômicos são importantes determinantes para o sucesso e sustentabilidade empresarial em longo prazo. Nesse sentido, sustentabilidade pode ser caracterizada de forma ampla como “[...] toda ação no meio empresarial que possua preocupação com a perpetuidade de suas atividades, isto é, atividades que sejam garantidas também no longo prazo, ou que não se esgotem e se degradem com o decorrer do tempo” (ADUEGAWA; SOUZA, 2010, p.2). Logo a sustentabilidade empresarial se consolida como uma abordagem de gestão, fazendo com que as empresas mensurem seus impactos, inovem seus processos e produtos, dialoguem e prestem contas a seus usuários. A questão que se levanta é a de que, para uma empresa se manter sustentável social e ambientalmente, ela deve estar 19 financeiramente sadia. Para a melhor compreensão da importância dos aspectos socioambientais e econômicos na geração de valor, competitividade e o sucesso de forma sustentável, serão apresentados os conceitos de Triple Bottom Line (TBL) e de crédito de carbono. 3.1 Triple Bottom Line A expressão Triple Bottom Line foi criada por John Elkington em 1994 e tornou-se de conhecimento do público em 1997, com a publicação do livro Cannibals With Forks: The Triple Bottom Line of 21 st Century Busines, de John Elkington. E desde então mais organizações, tais como o GRI (Global Reporting Initiative) e a AA (AccountAbility) vêm promovendo o conceito e o seu uso em corporações de todo o mundo. O TBLreflete um conjunto de valores, objetivos e processos que uma organização deve focar para criar valor em três dimensões: econômica, social e ambiental. O intuito de John Elkington foi o de acrescentar à medida econômica dos lucros, outras duas medidas: a dimensão pessoas, que expressa a responsabilidade social da empresa, e a dimensão planeta que expressa a responsabilidade ambiental da empresa. Assim, lucro, pessoas e planeta devem ser igualmente importantes nas operações de uma empresa que entende que a sustentabilidade empresarial e a longevidade de suas operações exige a melhoria do meio no qual está inserida. A sustentabilidade empresarial passa pela sistematização da gestão da qualidade, do meio ambiente, da saúde e segurança ocupacional e pela responsabilidade social. Surge então a discussão sobre os aspectos relativos aos fatores econômicos, a necessidade de proteção ambiental e desenvolvimento social. Estes três fatores interdependentes dão sustentação e garantia da proteção ambiental, do social e do desenvolvimento econômico, denominados em conjunto de Triple Bottom Line, conforme apresentado abaixo. Figura: Representação do Tripé da Sustentabilidade. Fonte: Adaptado de Dias, 2011. Sem nenhuma pretensão de discriminação à questão ambiental, é válido ressaltar que sustentabilidade não se restringe a fatores de preservação ambiental, na verdade, a sustentabilidade possui dimensões que devem estar integradas para verdadeiramente alcançar perpetuidade. 20 Isso significa que a dimensão econômica é real e de importância substancial, uma vez que o mundo se mostra cada vez mais capitalista, não podendo se desprezar que fatores monetários são meios de se efetivar projetos sociais e de preservação, recuperação e sustentabilidade ambiental. No índice de sustentabilidade empresarial (ISE)1 é exposto que as empresas sustentáveis baseiam-se neste três pilares, ou seja, no conceito do Triple Bottom Line, sendo que no ISE foram incorporados mais dois grupos de indicadores: (a) critérios gerais e de natureza do produto (que questiona, por exemplo, a posição da empresa perante acordos globais, se a empresa publica balanços sociais, se o produto da empresa acarreta danos e riscos à saúde dos consumidores, entre outros); e (b) critérios de atendimento a governança corporativa. Em outro ângulo, a visão de sustentabilidade corporativa, de acordo com o índice Dow Jones de Sustentabilidade2, significa gerar valor de longo prazo aos acionistas, agregando oportunidades e gerenciando riscos advindos do desenvolvimento econômico, ambiental e social. A ideia de sustentabilidade vem sendo representada pela elevação de expectativas em relação ao desempenho social e ambiental, e tem sido definida como a habilidade para satisfazer às necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações para satisfazerem suas necessidades. 3.2 Crédito de carbono O crédito de carbono pode ser definido como certificados passíveis de comercialização entre os países que precisam reduzir, obrigatoriamente, a emissão de gases poluentes e os países que não têm essa obrigação, embora reduzam. A figura dos créditos de carbono surgiram a partir do protocolo de Kyoto. O protocolo de Kyoto, firmado em 11 de dezembro de 1997, consiste em um acordo que busca melhorar o clima do planeta por meio de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa por parte dos países desenvolvidos. Este tratado estabeleceu que os países desenvolvidos devem reduziras emissões de gases que provocam o efeito estufa (gás carbônico, metano e outros). É neste contexto que surgiram mecanismos de flexibilização através dos quais os países desenvolvidos promovem a redução fora dos seuslimites territoriais, comprando certificados de ações redutoras da poluição de países menos desenvolvidos como contraponto as suas 1 O ISE é uma ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na BM&FBOVESPA sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. Também amplia o entendimento sobre empresas e grupos comprometidos com a sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível de compromisso com o desenvolvimento sustentável, equidade, transparência e prestação de contas, natureza do produto, além do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira, social, ambiental e de mudanças climáticas. Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br/indices/ResumoIndice.aspx?Indice=ISE&idioma=pt-br 2 Aos poucos o mundo vem despertando para a necessidade de combater os problemas sociais e ambientais. Com essa finalidade criou-se o Índice Dow Jones de Sustentabilidade que disponibiliza listas de empresas que aderem às causas sociais e ambientais.O Dow Jones Sustainability Index analisa as práticas adotadas pelas empresas que tem ações na bolsa de valores, identificando seus resultados e classificando-as como sustentáveis ou não, assim os compradores saberão se estão adquirindo ações de empresas com responsabilidade ambiental e social e quais as vantagens de adquiri-las. O Dow Jones Index é o índice econômico mundial mais importante, sendo assim, estar em sua publicação como Empresa Sustentável faz valorizar as ações da empresa, uma forma de incentivá-la a dar continuidade às práticas sustentáveis e ainda incentivar outras empresas a adotá-las. É uma maneira de induzir as empresas a se preocuparem com o meio ambiente e a sociedade, dando a elas maior credibilidade e valor. Fonte: http://www.atitudessustentaveis.com.br/sustentabilidade/indice-dow-jones- de-sustentabilidade-empresas-sustentaveis/. Site oficial: http://www.sustainability-indices.com/. 21 atividades potencialmente poluidoras. Dentre os mecanismos adicionais de implantação de metas definidos no protocolo de Kyoto, existem três que permitem essa flexibilização, sendo: comercio de emissões pelo qual um país potencialmente poluidor (países desenvolvidos) que tenha reduzido suas emissões para um nível inferior às suas metas pode negociar essa redução com um outro país desenvolvido que não tenha conseguido atingi-las; implementação conjunta de um projeto no qual um país desenvolvido pode implementar projetos que reduzem emissão em um outro país industrializado, onde os custos de redução sejam mais baixos; e o Mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). Este instrumento, previsto no Protocolo de Kyoto, estabelece que os países desenvolvidos, caso não consigam ou não desejem cumprir suas metas de redução de emissão de gases, possam comprar dos demais países títulos conhecidos como crédito de carbono. Visando ao desenvolvimento sustentável e particularmente a redução da emissão de gases de efeito estufa no planeta, criou-se um mercado extremamente inovador e complexo. Neste mercado são transacionados créditos de carbono que, no caso de países em desenvolvimento como o Brasil, são lastreados em projetos de energia, eficiência energética, dentre outros, devidamente aprovados de acordo com as etapas estabelecidas no Protocolo de Kyoto (GRA, 2005). Os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) são apresentados pelo Protocolo como forma alternativa aos países desenvolvidos que, por razões internas, ainda não conseguiram se adequar aos limites definidos. Pelo MDL, cada tonelada de gás carbônico (CO2) que deixar de ser emitida ou for removida da atmosfera por um país em desenvolvimento, como o Brasil, poderá ser negociada no mercado mundial, através da venda dos chamados certificados de emissões reduzidas (CERs), validada por entidades acreditadas pela ONU e por estruturas locais, como a Autoridade Nacional Designada no Brasil (AGROSOFT, 2007). Assim, tem-se que o Protocolo de Kyoto está sendo um grande impulsor de projetos ambientais, dentro deste mecanismo denominado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Desta forma, segundo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, países desenvolvidos cooperam financeiramente com países em desenvolvimento para que todos possam, em um futuro próximo, se beneficiar do desenvolvimento sustentável global. 4 O MODELO DE HART E MILSTEIN Hart e Milstein (2004) desenvolveram um modelo que propõe uma lógica estratégica para a busca do valor sustentável em uma organização, conforme apresentado na figura abaixo. Em seguida, discute-se no texto cada uma das dimensões deste modelo. Figura: Dimensões-chave do valor ao acionista. 22 Fonte: Adaptado de Matias (2007b). A justaposição desses dois eixos produz uma matriz com quatro dimensões distintas do desempenho crucial para a geração de valor ao acionista. O 1º quadrante foca os aspectos do desempenho que são essencialmente internos e semelhantes em natureza: redução de custos e riscos. Crescimento trimestral de ganhos e redução da exposição a passivos legais e outras perdas potenciais são importantes motivadores para a criação de riqueza. De maneira clara, a menos que a empresa consiga operar eficientemente e reduzir seus riscos proporcionalmente a seus retornos, o valor ao acionista será destruído. O 2º quadrante também foca as dimensões de desempenho semelhantes em natureza, mas é ampliado para incluir stakeholders externos a empresa – fornecedores e clientes na cadeia de valor imediata, bem como órgãos de regulação, comunidades, ONGs e a mídia. Sem a inclusão acertada dos interesses desses stakeholders, o direito de operar da empresa pode ser questionado. Uma inclusão criativa desses interesses pode estimular uma posição diferenciada para a empresa, levando a um aumento de reputação e a uma legitimidade crucial para a preservação e o crescimento do valor ao acionista. No 3º quadrante do modelo, observa-se que a empresa deve não apenas ter um desempenho eficiente nos negócios atuais, mas também estar constantemente preocupada com a criação de produtos e serviços do futuro. Internamente, isso significa desenvolver e adquirir as habilidades, competências e tecnologias que posicionam a empresa para o crescimento futuro. Sem esse foco em inovação, torna-se difícil para a empresa criar um novo fluxo de produtos e serviços necessários para aumentar a probabilidade de prosperidade no futuro. Assim, a criação de valor ao acionista depende da habilidade que a empresa tem para destruir criativamente suas capacidades em favor das inovações de amanhã. Finalmente, o 4º quadrante foca as dimensões externas associadas ao desempenho futuro. Expectativas plausíveis de crescimento futuro são a chave para a geração de valor ao acionista; o que depende da capacidade da empresa em articular uma clara visão sobre a qual será seu caminho e sua trajetória de crescimento. Uma trajetória de crescimento 4º Quadrante 3º Quadrante 1º Quadrante 2º Quadrante AMANHÃ HOJE INTERNO EXTERNO VALOR AO ACIONISTA Caminho de crescimento & trajetória Reputaçaõ e Legitimidade Inovação & Redução de custos e riscos Reposicionamento 23 convincente exige que a empresa ofereça novos produtos para os consumidores atuais ou que explore mercados ainda não explorados. A trajetória de crescimento oferece uma orientação e uma direção para o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos. As empresas devem apresentar bom desempenho em todos os quatro quadrantes do modelo. O que deve ocorrer em uma base contínua, caso as organizações queiram maximizar o valor ao acionista ao longo do tempo. Ainda de acordo com o modeloproposto por Hart e Milstein (2004) existem quatro conjuntos de motivadores para a sustentabilidade global, sendo: Um primeiro conjunto de motivadores relaciona-se com a crescente industrialização e suas consequências, como consumo de matérias-primas, poluição e geração de resíduos. A atividade industrial cresceu a ponto de ter agora efeitos irreversíveis sobre o ambiente global, incluindo impactos sobre o clima, a biodiversidade e a função do ecossistema. Os problemas do consumo de matérias-primas, dos resíduos e da poluição associados à industrialização, representam uma oportunidade para as empresas diminuírem os custos e os riscos graças ao desenvolvimento de habilidades e potenciais de combate à poluição e de ecoeficiência. De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o desenvolvimento Sustentável (CEBDS, 2006), ecoeficiência é o uso mais eficiente de matérias e energia, a fim de reduzir os custos econômicos e os impactos ambientais. Ou seja, consiste em saber combinar o desempenho econômico e o ambiental, reduzindo os impactos ambientais; usando racionalmente matérias-primas e energia; reduzindo os riscos de acidentes e melhorando a relação da organização com as partes interessadas (stakeholders). Para o CEBDS (2006), os elementos da ecoficiência são: reduzir o consumo de matérias com bens e serviços; reduzir o consumo de energia com bens e serviços; reduzir a dispersão de substâncias tóxicas; intensificar a reciclagem de materiais; maximizar o uso sustentável de recursos renováveis; prolongar a durabilidade dos produtos; e agregar valor aos bens e serviços. O combate à poluição está focado na melhoria da eficiência ambiental de produtos e processos de hoje, ou seja, na redução de resíduos e emissões de operações atuais. Menor volume de resíduos significa melhor utilização dos insumos, resultando em custos mais baixos de matérias-primas e de depósito de resíduos. Um combate eficiente da poluição requer um envolvimento intenso dos empregados, acompanhado de um bom desenvolvimento de potenciais para melhorias continuas e para o controle da qualidade. Esse combate à poluição pode levar a uma diminuição de custos e a uma redução dos riscos ao obter produtos ou serviços mais vendáveis por unidade de insumo. Sistemas de gestão do meio ambiente (por exemplo, ISSO 14.000) dependem de princípios de qualidade total que fornecem uma orientação para o desenvolvimento de processos sistemáticos, voltados para a remoção de resíduos e diminuição de riscos nas operações das empresas. Um segundo conjunto de motivadores relaciona-se à proliferação e interligação dos stakeholders da sociedade civil; 24 Atualmente, as organizações não governamentais (ONGs) e outros grupos da sociedade civil têm assumindo o papel de monitores e, em alguns casos, de aplicadores de padrões sociais e ambientais. Ao mesmo tempo, a disseminação da internet e das tecnologias de informação têm contribuído para que esses grupos se comuniquem entre si de formas inimagináveis até os anos 2000. . Ao engajar construtivamente os stakeholders, as empresas elevam a confiança externa em sua intenções e atividades, ajudando a otimizar a reputação corporativa e a catalisar a disseminação de outras práticas sustentáveis dentro do sistema de negócios como um todo. As empresas podem realizar muitas ações a fim de elevar o valor ao acionista por meio de gerenciamento de produto. O marketing relacionado a uma causa apela para os desejos dos consumidores a fim de associar suas ações (compras) a produtos com benefícios sociais e ambientais. Um terceiro conjunto de motivadores relaciona-se com as tecnologias emergentes. Estas tecnologias oferecem soluções poderosas revolucionárias que podem tornar obsoletas as bases de muitas das atuais indústrias que usam energia e matérias-primas de forma intensiva. Genoma, biomimética, nanotecnologia, tecnologia da informação e energia renovável têm o potencial para reduzir drasticamente as pegadas do homem sobre o planeta, tornando quase obsoletos os problemas da rápida industrialização. Assim, em vez de simplesmente buscar reduzir os impactos negativos de suas operações, as empresas esforçam-se para solucionar problemas sociais e ambientais por meio do desenvolvimento ou da aquisição de novas capacitações, as quais se direcionam para os desafios da sustentabilidade. As competências sustentáveis que se originam da busca por tecnologias limpas são centrais aos esforços da empresa para reposicionar seu conjunto de habilidades internas para o desenvolvimento e exploração de mercados futuros.Ao que tudo indica o futuro crescimento econômico será conduzido por empresas capazes de desenvolver tecnologias revolucionárias que atendam às necessidades da sociedade. Há evidências cada vez mais claras de que empresas que deixam de desenvolver e comercializar essas tecnologias estão cada vez mais distantes de tomar parte na economia do futuro. Finalmente o quarto conjunto de motivadores relaciona-se com o aumento da população, da pobreza e da desigualdade social associada à globalização. Levou-se milhares de anos para a população alcançar a marca de 1 bilhão de habitantes e esse número saltou para 6 bilhões em menos de 100 anos. Esse rápido crescimento populacional tem levado a migração em massa da zona rural para as cidades e ao crescimento das desigualdades de renda. Em 2007, bilhões de pessoas sobreviviam com menos de US$1.500,00 por ano. A combinação entre crescimento populacional e aumento da desigualdade vem contribuindo com a acelerada decadência social, o caos político e o terrorismo. O desenvolvimento social e a criação de riqueza em uma escala de massa, especialmente entre os quatro bilhões mas pobres do mundo, parece ser essencial para o desenvolvimento sustentável. Contudo, tal desenvolvimento precisa seguir um curso completamente diferente caso se queira evitar o colapso ecológico. Na figura abaixo, apresenta-se o modelo dos grupos motivadores da sustentabilidade. 25 Figura: Grupos motivadores da sustentabilidade. Fonte: Adaptado de Matias (2007b), com base no modelo de Hart e Milstein (2004). Considerando em conjunto, como em um portfólio, tais estratégias e práticas têm o potencial de reduzir custos e riscos, elevar a reputação e a legitimidade da empresa, acelerar a inovação e o reposicionamento e cristalizar caminhos e trajetórias de crescimento – todos de vital importância para a criação de valor ao acionista. Nesse sentido, o principal desafio da empresa consiste em decidir quais ações e iniciativas perseguir, bem como o melhor modo de administrá-las. A criação de valor sustentável requer que as empresas considerem cada um dos quatro conjuntos motivadores, podendo criar valor ainda: reduzindo o nível de poluição associado com a rápida industrialização; ao operar com níveis mais amplos de transparência e responsabilidade; por meio de desenvolvimento de novas e revolucionárias tecnologias que tenham o potencial para reduzir as pegadas do homem sobre o planeta; e ao atender às necessidades daqueles localizados no extremo inferior da pirâmide de renda do mundo. Em suma, a sustentabilidade global é um conceito complexo e multidimensional, que não pode ser equacionado por meio de uma única ação corporativa. 5 MODELO DE SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA Para o desenvolvimento de um modelo de competitividade e sustentabilidade financeira, identificaram-se por meio da literatura os fatores que trazem impactos para a criação de valor, tanto a partir da dimensão macro da competitividade, o país, como a partir da divisão micro, a empresa. Esses fatores são divididos em fatores externos (país) e fatores internos (setor). Os fatores externos são agrupados em três grandes grupos: Desempenho econômico;
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