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aula 4 interpretação contrato

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Interpretação dos contratos
 
Conceito e extensão
 Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para que se saiba o seu significado e alcance. O contrato origina-se de ato volitivo e por isso requer sempre uma interpretação.
Nem sempre o contrato traduz a exata vontade das partes. 
Muitas vezes a redação mostra-se obscura e ambígua, malgrado o cuidado quanto à clareza e precisão demonstrado pela pessoa encarregada dessa tarefa, em virtude da complexidade do negócio e das dificuldades próprias do vernáculo.
 
Por essa razão não só a lei deve ser interpretada, mas também os negócios jurídicos em geral.
Interpretar o negócio jurídico é, portanto, precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade.
Pode-se dizer que as regras de interpretação dos contratos previstas no Código Civil dirigem-se primeiramente às partes, que são as principais interessadas em seu cumprimento. 
Não havendo entendimento entre elas a respeito do exato alcance da avença e do sentido do texto por elas assinado, a interpretação deverá ser realizada pelo juiz, como representante do Poder Judiciário.
Diz-se que a interpretação contratual é declaratória quando tem como único escopo a descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do contrato; 
e construtiva ou integrativa, quando objetiva o aproveitamento do contrato, mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas partes.
A integração contratual preenche, pois, as lacunas encontradas nos contratos, complementando-os por meio de normas supletivas, especialmente as que dizem respeito à sua função social, ao princípio da boa-fé, aos usos e costumes do local, bem como buscando encontrar a verdadeira intenção das partes, muitas vezes revelada nas entrelinhas.
 Princípios básicos
Nos contratos e demais negócios escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz, em regra, à descoberta da intenção dos pactuantes. 
Parte-se, portanto, da declaração escrita para se chegar à vontade dos contratantes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação.
O art. 112 do Código Civil declara que, nas 
“declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.
 
 O acréscimo, ora verificado, da expressão “nelas consubstanciada”, inexistente no art. 85 do Código Civil de 1916, correspondente ao dispositivo supratranscrito do novo diploma, mostra que se deve atender à intenção manifestada no contrato, e não ao pensamento íntimo do declarante.
Conforme assinala Arnoldo Wald, 
“ Os processos e as técnicas de fixação do sentido da lei, como os processos literal, histórico, sociológico, sistemático e lógico, são utilizados, além de outros, na interpretação contratual, em que também se atende à finalidade econômica da operação, à boa-fé presumida e ao comportamento passado das partes, ao conteúdo real do ato, independentemente da terminologia utilizada, às circunstâncias peculiares do caso, aos usos sociais e locais e à equidade”.
Dois princípios hão de ser sempre observados, na interpretação do contrato:
O da boa-fé e o da conservação do contrato. 
No Principio da Boa-fé deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a proposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e deviam eles entender razoavelmente, segundo a regra da boa-fé (CC, art. 422).
Deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a proposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e deviam eles entender razoável, segundo a regra da boa-fé
É comum, nos contratos em que se caracteriza a superioridade intelectual, econômica ou profissional de uma parte, e principalmente nos contratos de adesão, 
“a necessidade de invocar-se o princípio da boa-fé para a eventual suspensão da eficácia do primado da autonomia da vontade, a fim de rejeitar-se cláusula abusiva ou imposta sem o devido esclarecimento de seus efeitos, principalmente no tocante à isenção de responsabilidade do estipulante ou à limitação de vantagens do aderente”.
O segundo princípio, o da conservação ou aproveitamento do contrato: 
se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes tenham celebrado um contrato carecedor de qualquer utilidade.
Prescreve o art. 114 do Código Civil que
 “os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente”. 
Benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma liberalidade: somente um dos contratantes se obriga, enquanto o outro apenas aufere um benefício.
 A doação pura constitui o melhor exemplo dessa espécie. Devem ter interpretação estrita porque representam renúncia de direitos.
Regras esparsas
 Além dos dispositivos já mencionados, há outros poucos artigos esparsos no Código Civil e em leis especiais, estabelecendo regras sobre interpretação de determinados negócios: 
Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423); 
a transação interpreta-se restritivamente (art. 843); 
a fiança não admite interpretação extensiva (art. 819); 
sendo a cláusula testamentária suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 1.899).
Interpretação dos contratos no Código de Defesa do Consumidor
 O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) dedicou um capítulo ao contrato de adesão, conceituando-o da seguinte forma, no art. 54: 
“Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”.
Por sua vez, proclama o art. 47:
 “As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”.
 A excepcionalidade decorre de previsão específica do rol dos direitos fundamentais, como disposto no art. 5º, XXXII, combinado com o art. 170, V, da Constituição Federal.
O Código de Defesa do Consumidor ainda avança ao dispor, no seu art. 46, que os contratos que regulam as relações de consumo deixam de ser obrigatórios se ao consumidor não for dada oportunidade de conhecer previamente o seu conteúdo, ou forem redigidos de forma a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
 Trata-se de norma que constitui, ao mesmo tempo, regra de interpretação e de garantia do prévio conhecimento e entendimento do conteúdo do contrato por parte do consumidor.
Critérios práticos para interpretação dos contratos
 
Algumas regras práticas podem ser observadas no tocante à interpretação dos contratos: 
a) a melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual o vinham executando, de comum acordo; 
b) deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor (in dubiis quod minimum est sequimur);
c) as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais; 
d) qualquer obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois, podendo ser claro, não o foi (ambiguitas contra stipulatorem est); 
e) na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exequível (princípio da conservação ou aproveitamento do contrato).
Interpretação dos contratos de adesão
 
O novo Código Civil estabeleceu duas regras de interpretação dos contratos de adesão
 A primeira consta do art. 423, que assim dispõe:
 “Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente”.
Será “ambígua a cláusula que da sua interpretação gramatical for possível a extração de mais de um sentido, como, por exemplo, o prestador
de serviços que se compromete a trocar dois pneus de dois carros; 
há ambiguidade na medida em que não é possível determinar se a troca versa sobre dois pneus de cada carro, ou seja, quatro pneus, ou um pneu de cada um dos dois carros, totalizando dois pneus. 
De outro lado, há contradição se o conteúdo das cláusulas foi inconciliável, tal como dispor que o mútuo é celebrado sem vantagens para o mutuante e estabelecer cobrança de juros”
A segunda regra vem expressa no art. 424 do mencionado diploma, que proclama:
 “Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio”.
 O legislador teve em mira proteger especialmente os direitos correlatos que na prática comercial são comumente excluídos por cláusulas-padrão, como a de não reparação pelos danos decorrentes de defeitos da coisa ou pela má prestação de serviços, não indenizabilidade de vícios redibitórios, evicção etc.
Pactos sucessórios
 Dispõe o art. 426 do Código Civil:
 “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”.
 
O nosso ordenamento só admite duas formas de sucessão causa mortis: a legítima e a testamentária. 
O dispositivo em questão afasta a sucessão contratual. 
Apontam os autores, no entanto, duas exceções:
 
a) é permitido aos nubentes fazer doações antenupciais, dispondo a respeito da recíproca e futura sucessão, desde que não excedam a metade dos bens (CC, arts. 1.668, IV, e 546); 
b) podem os pais, por ato entre vivos, partilhar o seu patrimônio entre os descendentes (CC, art. 2.018).
Interpretação dos contratos
 
Funções:
 
A interpretação dos contratos exerce função objetiva e subjetiva.
Nos contratos escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz à descoberta da intenção das partes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação. 
O Código Civil deu prevalência à teoria da vontade sobre a da declaração (art. 112).
Princípios básicos
 
a) Boa-fé. Deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade, pois a boa-fé se presume (arts. 113 e 422). 
b) Conservação do contrato. Se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito.
Regras Interpretativas
 
— Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423). 
— A transação interpreta-se restritivamente (art. 843).
 — A fiança não admite interpretação extensiva (art. 819). 
— Prevalecerá a interpretação da cláusula testamentária que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 1.899).
Pactos Sucessórios
 
Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva, dispõe o art. 426 do Código Civil, afastando a sucessão contratual.
 O nosso ordenamento só admite duas formas de sucessão causa mortis: a legítima e a testamentária.
 No Código de 2002, somente a partilha inter vivos, permitida no art. 2.018, pode ser considerada exceção à norma do art. 426.
Resumo
Funções
A interpretação dos contratos exerce Funções objetiva e subjetiva. 
Nos contratos escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz à descoberta da intenção das partes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação. 
O Código Civil deu prevalência à teoria da vontade sobre a da declaração (art. 112).
Princípios básicos
Boa-fé. Deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade, pois a boa-fé se presume (arts. 113 e 422). 
Conservação do contrato. Se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito.
Regras interpretativas
— Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423). 
— A transação interpreta-se restritivamente (art. 843).
 — A fiança não admite interpretação extensiva (art. 819). 
— Prevalecerá a interpretação da cláusula testamentária que melhor assegure a observância da vontade do testador (art. 1.899).
Pactos Sucessórios
Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva, dispõe o art. 426 do Código Civil, afastando a sucessão contratual. 
O nosso ordenamento só admite duas formas de sucessão causa mortis: a legítima e a testamentária.
No Código de 2002, somente a partilha inter vivos, permitida no art. 2.018, pode ser considerada exceção à norma do art. 426.

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