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1 CONTEÚDO N2 DE HISTÓRIA DO DIREITO DIREITO NA ALTA IDADE MÉDIA 1. Alta Idade Média A alta Idade Média é entendida como o período de tempo compreendido entre os anos 476 e 1000; que no Direito marcam, respectivamente, a queda do Império Romano e o início de uma certa reorganização dos institutos jurídicos. A desordem política e a disseminação do cristianismo foram dois fatores que, somados às Invasões Bárbaras, foram responsáveis pela crise do Império Romano. Esse processo de ocupação foi realizado pelos bárbaros, povos que eram assim chamados pelos romanos por viverem fora dos territórios do Império e não falarem latim, ou seja, bárbaros eram todos que não eram romanos. Foi com a introdução das tradições dos bárbaros, também chamados germânicos, que o mundo feudal ganhou suas primeiras feições. O período pode ser divido em três fases: a) 476 a 506 - invasões bárbaras e primeiras tentativas de sua incorporação à cristandade. b) 506 a 654 - início de uma certa “codificação” legislativa dos povos bárbaros, buscando sua origem em fragmentos da antiga legislação romana. c) 654 a 1000 - segunda tentativa de cristianização dos povos bárbaros. Nesse período, há o quase total desaparecimento da importância da cultura jurídica para a vida dos povos. Importância que volta a existir somente a partir do século XI. São os juristas e comentadores, que aí surgem, que começam a repensar o Direito, com formulações que irão marcar o milênio seguinte. 1.2. Invasões Bárbaras As invasões bárbaras, que irão ganhar força por volta do século III, irão ocorrer ao mesmo tempo das tentativas de codificação do Direito Romano pelos imperadores. Os bárbaros eram nômades, com uma organização social grupal, sem experiência de vida urbana. Ao contrário, a sociedade e o Direito romanos estavam fundados sobre noções do sedentarismo e da vida urbana. Particularmente foram chamados de bárbaros os povos de origem germânica (celtas, visigodos, etc) que, entre 409 e 711, nas migrações dos povos bárbaros, invadiram o Império Romano do Ocidente, causando sua queda em 476 d.C., por conta disso o período também é chamado de Direito Germânico. Parte dos povos bárbaros foram convertidos ao cristianismo pelos cristãos ariano, que possuíam dogmas distintos do cristianismo romano. Nos anos +- 300 dc os Cristãos arianos eram contrários aos Cristãos católicos de Roma. Os Arianos não acreditavam na santíssima Trindade. Nos anos 450 o inicio da queda do império Romano, teve grande importância a participação dos Cristãos Arianos ao lado dos vândalos e passaram a atacar a Roma. Essas diferenças, aliadas à convivência desses povos com as populações romanizadas da Europa, do Antigo Império Romano, construiu a noção de Pessoalidade da Lei; isto é, as populações respondiam a um conjunto de normas segundo sua etnia, onde “ordenamentos” distintos conviviam em uma mesma área. A manutenção desse esquema era garantida pela proibição de casamentos mistos. A noção de Territorialidade da Lei somente irá nascer mais tarde, uma vez que nem mesmo os romanos a conheciam. 2 1.3. Regressão Civilizatória As invasões ocorreram dentro de uma situação de “tríplice barbárie”: a) decadência acentuada do Império Romano; b) existência, dentro das fronteiras do Império, de inúmeras populações que ainda não haviam sido romanizadas, que ainda resistiam ao poder central, e c) as invasões bárbaras propriamente ditas. Isso, aliado ao modo de vida desses novos povos, provocou uma regressão em todos os sentidos: redução da vida urbana, redução das atividades agrícolas e várias regiões, volta da violência descontrolada etc. No campo religioso também houve um retorno ao paganismo, com vários povos abandonando o cristianismo. 1.4 Direito dos Reinos Bárbaros 1.4.1 Direito Costumeiro Os Francos, os Ostrogodos e os Visigodos passaram a dividir o território do que hoje se chama de Europa Ocidental. Seu Direito, quando já instalados nas novas regiões, acabou resultando em uma consolidação de costumes das diversas tribos desses povos. Um exemplo dessas leis, e uma das poucas que acabou sendo preservada, foi a Lei Sálica (511): a aceitação de uma consolidação dos costumes primitivos dos Francos. Nela, a violência individual era reprimida ou de forma pecuniária, ou, na maioria das vezes, sob a forma de castigos, todos eles muito violentos, entendidos quase como uma vingança. Esse direito dava um valor exorbitante à propriedade e aos bens de produção. 1.4.2. Direito Romano Barbarizado Os reinos bárbaros, ao lado do direito costumeiro, adotou uma legislação romana modificada. Menos que uma verdadeira importância jurídica, a adoção dessa legislação tinha um grande importância política, uma vez que nos novos territórios dominados habitavam populações romanizadas. Em 496, o rei Clóvis, dos Francos, converte-se ao cristianismo romano, abandonando o arianismo. Da mesma forma, adotou uma espécie de Direito Romano mitigado, para, dessa forma, fazer frente aos vizinhos Visigodos. Processos semelhantes provocaram o surgimento de várias legislações “bárbaro-romanas”: “Lei Romana Wisigothorum” (506), Código de Rescinvinduu (654) etc. 2. Papel da Igreja Esse momento assiste a um profundo vazio político, se comparado à estrutura política do Império Romano. Não havia, em nenhum dos reinos que surgiram nesse período, a existência de um projeto de completude política. Esse vazio político foi preenchido pela Igreja sobreviveram alguns elementos do antigo Estado Romano, e de sua tendência globalizante. Isso fica claro na constante preocupação em converter os imperadores e os líderes dos povos bárbaros. 3 A Igreja Católica, usou sua influencia religiosa para se transformar em poder politico, as vezes até como órgão supranacional, ou seja, poder máximo. Conciliadora das elites dominantes, contornando os problemas das rivalidades internas da nobreza feudal. A Igreja católica tornou-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental. Nesta época terra era a base da riqueza. Apesar dessa preocupação, a Igreja não era ainda uma estrutura plenamente centralizada e monárquica. Estava montada sobre uma espécie de “federação de igrejas”, cujos líderes reuniam-se periodicamente nos Concílios. Esses encontros passaram a ser o fórum privilegiado de discussão da vida pública durante a Alta Idade Média. O papa não tinha interferência direita nos concílios só se pronunciava quando provocado. A racionalização posterior dos cânones, os documentos dos concílios, fez surgir uma certa institucionalização e o surgimento de um proto Direito Canônico. O DIREITO NA SOCIEDADE MODERNA OCIDENTAL As alterações na História e sua relevância para o Direito. Direito é fruto de uma construção histórica, de uma sucessão de fatos e necessidades. Não há como afastar o contexto histórico. O contexto histórico mais relevante da História do Direito na Civilização Ocidental inicia-se com a queda e fragmentação de Roma, iniciando no período entre 600 e 1.500, na Idade Média até Idade Moderna. Fatos – modo de produção feudal, com o cerco das propriedades e proteção do império (castelos). O senhor feudal, dono da terra detinha todo o poder político, econômico e inclusive o jurídico. Progressivamente nasce uma composição de direitos e deveres. Caro manter escravos, então eram “servos da gleba”. E os senhores feudais com os reis era vassalagem.Exerciam um direito costumeiro porque com a queda de Roma inexistia uma fonte formal de Direito. Nobreza, clero e direito: o poder do reifundamentou-se na teoria do Direito Divino, porque a Igreja Católica apoiava a monarquia. Para valer o monopólio religioso a Igreja. Primórdios dos direitos declarados: law of the land. Início com as explorações reais aos barões da terra que exigiam a aplicação do direito costumeiro, o commow law. Eles pretendiam era a sujeição do rei ao império de direito, um governo limitado com igualdade aos cidadãos. Especial Magna Carta de 1215, um rol de garantias e direitos que futuramente constituiria a base do direito inglês, com previsão de limitação do poder real como o crivo de juiz para um julgamento, a graduação da pena, 1.Common Law O Common Law é o sistema jurídico elaborado na Inglaterra a partir do Século XII, em que o Direito se desenvolveu por meio das decisões dos tribunais, e não mediante atos legislativos ou executivos como no Sistema Romano-Germânico. O Common Law é o Direito criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num caso depende das decisões adotadas para casos anteriores e afeta o direito a ser aplicado a casos futuros. Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o direito, estabelecendo um precedente. O conjunto de precedentes é chamado de common law e 4 vincula todas as decisões futuras. O precedente judicial (sentença-padrão), fundado no princípio de dever haver julgamento similar quando análogos forem os casos (ride ofprecedeni), é a fonte principal do Direito em que a lei (statute law) desempenha papel secundário. Um precedente e vinculará os tribunais futuros com base no princípio do stare decisis. Esse é o cerne de todos os sistemas de common law. O sistema de common law foi adotado por diversos países do mundo, especialmente aqueles que herdaram da Inglaterra o seu sistema jurídico, como o Reino Unido, a maior parte dos Estados Unidos e do Canadá e as ex-colônias do Império Britânico. Os séculos XV e XVI marcam o começo de um período histórico chamado Idade Moderna, que se estende até o final do século XVIII. Os grandes acontecimentos se destacam nesse período são: a Expansão Marítima, o Absolutismo Monárquico o Renascimento, a Reforma Protestante, o Novo Cristianismo e Jusnaturalismo. CAPITALISMO MODERNO E A ORDEM NORMATIVA BURGUESA: O SURGIMENTO DO ESTADO. Concomitante a este momento surge a burguesia que muda os rumos da civilização ocidental com o capitalismo. O enriquecimento dos burgueses fez surgir os primeiros maquinários e associações comerciais. Desenvolveu-se então a fase do chamado capitalismo comercial. O crescimento e o aumento do número de cidades favoreceram o desenvolvimento de relações mercantis e propiciaram a diversificação e a mobilidade social até então praticamente inexistentes Mas o sistema capitalista só iria se consolidar definitivamente no século XVIII, com a substituição da manufatura pelas máquinas a vapor, iniciadas nas indústrias têxteis da Inglaterra. A mecanização imprimiu um novo ritmo à produção de mercadorias, e o trabalhador que antes produzia sua mercadoria individualmente e de modo artesanal agora ia para as linhas de produção, onde se reunia a centenas de outros operários que se tornaram assalariados. É esse período representaram a verdadeira Revolução Industrial, trazendo profundas transformações sociais e econômicas dos associados. Nasce assim o proletariado e a briga com a burguesia. Essa dicotomia entre sociedade civil liderada pela burguesia e a sociedade política detentora do poder de legislação fez surgir o Estado Nacional, porque a burguesia buscava representação. Ela não fez uma Revolução Democrática, para entregar o poder nas mãos do povo, mas sim para afastar o absolutismo como regime político e alcançar representação. A burguesia nunca foi contra a monarquia, ela só buscou representação. A estabilidade dos governos e uniformização das sociedades na Europa fez surgir o Estado (estar firme) Nacional e pouco depois consubstanciado na imposição de um pacto de legitimação, o constitucionalismo. A POSITIVAÇÃO DO DIREITO: O ESTADO DE DIREITO E O CONSTITUCIONALISMO. Estado de Direito é aquele em que o poder exercido é limitado pelo ordenamento jurídico. É enfim uma fórmula prestigiosa usada para definir a própria imagem da civilização ocidental e para contrapô-la às outras civilizações, por isso mesmo, é vista por várias culturas, principalmente as 5 orientais como uma pretensão universalística de inspiração neocolonial. O Estado, assim, não poderá impor suas vontades que não tiverem fixado em lei, e nem poderá atuar contra as leis existentes. Dessa forma, o Estado deverá, além de acatar as leis, proteger sua população, concedendo-lhe segurança, e sendo eficiente na busca do bem comum. O constitucionalismo, ou movimento político constitucionalista, teve como objetivo dotar todos os Estados de constituições escritas, com a formulação jurídica da separação dos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e, principalmente, da técnica da liberdade, pela qual é ―assegurado aos cidadãos o pleno exercício de seus direitos individuais e, ao mesmo tempo, coloca o Estado em condições de não os poder violar. Ainda como antecedente histórico, podemos citar o desenvolvimento constitucional na Inglaterra, que tem como o mais relevante fato a célebre Magna Carta de 1215, que limitou em plena Idade Média, os poderes reais e confirmou a liberdade individual e a inviolabilidade da propriedade privada. É importante registrar que os ingleses levaram quatro séculos no aprimoramento das práticas constitucionais, cujo desfecho foi a votação pelo Parlamento, do Bill of Right em 1688 (Declaração de Direitos do Povo Inglês), restringindo os poderes do rei em matérias como a aplicação, execução e suspensão das leis, a cobrança de impostos e a manutenção de exército permanente sem autorização do Parlamento, estabelecendo, assim, a monarquia constitucional inglesa, submetida à soberania popular. O Constitucionalismo foi um movimento dos séculos XVIII e XIX, que tinha como cerne o jusnaturalismo e as aspirações burguesas de limitar o poder absoluto do Estado e de seus governantes, através de um documento escrito que delineava os Direitos Fundamentais das pessoas. Esses direitos, uma vez inseridos em uma Constituição, tornam-se indisponíveis, não podendo ser colocados de lado pelo governante, seja por ação, seja por omissão, cabendo ao Estado defender, exigir o cumprimento ou dar efetividade aos Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais do Homem. Daí a afirmativa de que o Constitucionalismo foi a pedra de toque para a positivação e subjetivação dos Direitos Humanos, ou seja, foi a grande vitória dos cidadãos na luta contra o perigo de maiores abusos por parte dos governantes e do Estado. As primeiras Constituições escritas do mundo moderno foram a dos Estados Unidos da América (1787) e a Francesa (1791), ambos já consagravam a doutrina do Contrato Social, as teses iluministas do séc. XVIII e as teorias expostas por Montesquieu. EUA foi a supremacia da CF. Longe da monarquia porque significava concordar com a política colonialista. Figura do presidente igual a figura do rei. França a garantia de direito e separação de poderes. Cerne eram as liberdades públicas. Proteger o homem contra atos do governo. Codificação - Ela é uma necessidade de ordenações que reúna os preceitos vigentes, possui muitos significados paralelos e aceitáveis: pode ser a globalidade ordenada que contém o núcleo, até a generalidade, das regras jurídicas. Já na Antiguidade, quando a sociedade era menos complexa e os problemas sociais de menor alcance, manifestava-se a necessidade de ordenaçõesque reunissem os preceitos vigentes. Assim foi que surgiu o Código de Hamurabi, a Legislação Mosaica, a Lei das XII Tábuas e vários outros. Com o passar dos tempos o poder de fazer leis passa progressivamente dos senhores e das cidades para os soberanos e depois para a nação. A partir dos séculos XV e XVI, a maior parte das cidades (salvo na Alemanha) e numerosos senhores perdem, no todo ou em parte, o poder de legislar. O poder legislativo torna-se um atributo dos soberanos, reis ou grandes príncipes territoriais. 6 A intervenção dos governados não fica, em todo o lado, completamente excluída; corpos representativos das ordens políticas e sociais (nobreza, clero, burguesia) reunidos em Estados Gerais (França, Países Baixos), Parlamento (Inglaterra) ou Cortes (Espanha) atuam sobre os governantes, designadamente no domínio fiscal. Na Inglaterra, o Parlamento adquire definitivamente o papel principal na atividade legislativa a partir do fim do século XVII. Na França, o poder legislativo passado rei para a Nação na sequência da Revolução de 1789. Desde então, em todo o Ocidente, a soberania nacional e a democracia tendem a sobrepor-se ao poder pessoal dos reis e príncipes. Assim, a lei tornou-se, rios séculos XIX e XX, a expressão da vontade nacional; é formulada por órgãos chamados legislativos, escolhidos pelos cidadãos do Estado. Cada Estado tem o seu próprio sistema jurídico, baseado em leis adoptadas pelos órgãos do poder. O direito tornou-se nacional: quantos Estados, quantos sistemas jurídicos. Codificação do Direito Público- segundo os ideais dos filósofos iluministas, o liberalismo e as Declarações de Direitos surge no século XVIII a Codificação do Direito Público, principalmente com as Constituiçães Americana de 1787 e a Francesa, de 1791. Constituição dos Estados Unidos da América (1787) - aprovada na Convenção de Filadélfia, não continha inicialmente uma declaração dos Direitos Fundamentais do Homem, o que motivou a exigência de varias ex-colônias, transformadas em Estados-membros, de só ratificarem a Constituição com a introdução de uma Carta de Direitos, em que se garantissem os Direitos Fundamentais do Homem. Imposição atendida segundo o enunciado elaborado por Thomas Jefferson e James Madison, dando origem às dez primeiras Emendas à Constituição Americana (Bill of Rights do povo americano). Entre estes direitos podemos destacar: - EC); - Inviolabilidade da pessoa, da casa, de papéis e posse de objetos (4ª EC); - Direito de defesa e de um julgamento por juiz natural e de acordo com o devido processo legal, isto é, com garantias suficientes (5ª EC); - Garantia do direito de propriedade; e - Violação de exigências de fiança e multas excessivas, bem como de penas cruéis ou inusitadas (8ª EC) etc. Codificação do Direito Privado – Para completara chamada era da Codificação e atender, principalmente, a necessidade de se garantir a unidade política dos Estados foram criados códigos, para promover a unificação do Direito, aumentando os vínculos sociais e morais dentro do território. Os Primeiros Códigos Modernos O primeiro O Código Civil formulado em base científica, foi o Código Civil da Prússia, que entrou em vigor em 01.06.1794 e o segundo foi Código Civil Francês ou Código Napoleão de 1804, que viria a ser considerado o mais importante do mundo. a) – Código de Napoleão de 1804, entrou em vigor em 21/03/1804, traduziu uma aspiração nacional. Com a Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte no poder, iniciou-se, em 1800, o trabalho de elaboração do código, marco da era da codificação, não apenas por seu significado histórico, mas também por seu valor intrínseco. A redação do código coube a uma comissão de quatro juristas: Tronche, Bigot de La Préameneu, Maleville e Portalis. O projeto foi discutido no Conselho de Estado, com a participação de Napoleão Bonaparte que não se limitou a constituir a Comissão, mas acompanhou os seus estudos e participou de algumas discussões, sobretudo quando os assuntos eram de interesse do Estado. ―Através dos ensinamentos desses mestres do pensamento jurídico francês, nos séculos XIX e XX, o Código de Napoleão, explicado, comentado, 7 criticado passou a ser, em todo o mundo civilizado, o ponto de convergência de atenção dos legisladores e juristas, que lhe sofrem a irresistível atração, ainda os que se apartaram de sua técnica e do seu espírito. b) Código Civil Alemão de 1896 O Código Civil alemão (Burgertich Gesetzbuch, abreviadamente BGB), promulgado em 1896, entrou em vigor no dia 1° de janeiro de 1900. O BGB, que tanto inspirou o nosso Código Civil de 1916 divide-se em duas partes: uma geral e a outra especial. A parte geral compreende o direito das pessoas, dos bens, e os negócios jurídicos, em preceitos comuns a todo o Direito Civil. A parte especial distribuiu-se em quatro livros, na seguinte ordem: direito das obrigações; direitos reais; direito de família; direito hereditário. Concomitantemente ao BGB elaborou-se uma Lei de Introdução, que compreende preceitos de Direito Privado internacional, normas sobre as relações entre o Código Civil e as leis nacionais, o direito local, e as disposições transitórias. HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO. O Contexto Político da Colonização: A União Ibérica Período em que Portugal e sua colônias foram controlados pela Espanha. A União Ibérica foi a União da Coroa Portuguesa com a Coroa Espanhola, dominação que durou de 1580-1640. Com a morte do Rei Português Dom Sebastião I, o Cardeal Dom Henrique assumiu o governo de forma provisória. De idade já avançada Dom Henrique também morreria logo em seguida deixando Portugal numa crise sucessória. O parente mais próximo do falecido monarca lusitano era o também monarca Felipe II da Espanha. D. Catarina, duquesa de Bragança, e Dom Antônio, Prior do Crato também se candidataram ao cargo de regente mas nada puderam fazer quando as tropas espanholas invadiram Lisboa afim de intimidar aqueles que eram contrários a nomeação de Felipe II como novo governante português. Felipe II foi considerado legítimo herdeiro de Dom Sebastião, conquistando o direito de sentar no trono lusitano. Em Portugal o Rei Espanhol passou a ser chamado de Felipe I. Em 1580 Felipe II assumiu a Coroa Portuguesa tornando-se senhor de um vasto território que passou a englobar também o recém descoberto Continente Americano. A Espanha não estava em guerra somente com a Holanda mas sim com quase todos os países europeus que adotaram religiões protestantes. Toda a riqueza ouriunda das Américas foi gasta para a criação de um exército que tinha como principal arma uma Esquadra Naval que ficou conhecida como Invencível Armada Espanhola. Assim como a Espanha, Portugal foi arrastado a uma crise econômica originada dos altos gastos que os espanhóis faziam para o esforço de guerra. Cansados dessa situação os portugueses se rebelaram contra o dominação espanhola. Em 1640 a União Ibérica chegaria ao fim com ascensão da Dinastia de Bragança ao poder português, tendo D. João IV como o primeiro Rei desta Dinastia. Isso retrata a política de colonização voltada para pura exploração, eis que desligada de qualquer tipo de preocupação com estrutura social ou jurídica. O Direito era homogeneizado trazido de fora para dentro e a figura do Estado era transferida para particulares, que se apropriavam. 8 A FORMAÇÃO DO SISTEMA JURÍDIO NO BRASIL NO REGIME DA COLÔNIA: AS FONTES DO DIREITOS E AS ORDENAÇÕES FILIPINAS O período historicamente denominado Brasil Colônia – em que o Brasil esteve sob domínio de Portugal – compreende os anos de 1500 até 1822. Cabia ao rei a administração da justiça.Em muitos documentos e leis, a justiça é considerada a primeira responsabilidade do rei. O ordenamento e toda a estrutura jurídica portuguesa estavam reunidos nas Ordenações, que recebiam o nome dos respectivos reis: Dom Afonso - Ordenações Afonsinas, que vigoraram de 1446 a 1521. Dom Manoel - Ordenações Manoelinas, fruto da revisão das Afonsinas e da recompilação das leis extravagantes, que vigoraram de 1521 a 1569 Dom Sebastião - Código Sebastiânico, de leis extravagantes até 1595. Rei Filipe II - Ordenações Filipinas, em 1595, somente impressa e entrada em vigor em 1605. As Ordenações Filipinas são a de maior importância. O foco das Ordenações Filipinas eram casos concretos reduzidos a escrito, isto é, essa legislação estava muito distante do tipo de consolidação que se deu na França no início do século XIX, como conseqüência da Revolução Francesa, na qual se baseiam os nossos atuais códigos, que buscam sanar as contradições, repetições e lacunas - as consolidações da época mal tinham uma parte geral, com regras abstratas. Além disso, como não era intenção de Filipe I e Filipe II, castelhanos que circunstancialmente governavam Portugal, impor novas leis a esse povo, aproveitaram-se das normas já existentes, optando por não corrigir as contradições e lacunas anteriormente existentes. A norma editada seguia a estrutura dos Decretais de Gregório IX, dividindo-se em cinco livros que continham títulos e parágrafos: (I) Direito Administrativo e Organização Judiciária; (II) Direito dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e dos Estrangeiros; (III) Processo Civil; (IV) Direito Civil e Direito Comercial; (V) Direito Penal e Processo Penal. Destaca-se o livro II, que demonstra a principal característica dos direitos do Antigo Regime, ou seja, a existência de normas especiais para cada uma das castas que compunham a sociedade daquele período. Como os costumes que imperavam à época eram muito variados e locais, a regra que vigorava nos julgamentos era, sempre que possível, seguir a jurisprudência do mais alto tribunal do Reino - a Casa de Suplicação. Construía-se, assim, uma forma de buscar uniformidade nas decisões e, em última instância, fortalecer o poder central em detrimento dos vários poderes locais. Nos casos a serem julgados e que não estivessem previstos nas Ordenações Filipinas, casos omissos da legislação nacional, aplicavam-se subsidiariamente (i) o direito romano (Código de Justiniano), a partir das glosas (interpretações) de Acúrsio e das opiniões de Bártolo ou (ii) o direito canônico. Este último invocado quando estivesse em voga o pecado, como nos casos de crimes de heresia ou sexuais. Portanto, para julgar os casos que a eles chegassem, os tribunais deveriam ter à sua disposição o texto das Ordenações, o Corpus Iuris Civilis de Justiniano (glosas de Acúrsio) e os textos de Bártolo. Na falta de qualquer solução a partir dessas fontes, e não fosse o caso passível de ser avaliado pelos tribunais eclesiásticos, deveria ser remetido ao rei. A decisão proferida pelo rei passava a valer como lei para outros feitos semelhantes. As penas previstas nas Ordenações Filipinas eram consideradas severas e bastante variadas, destacando-se o perdimento e o confisco de bens, o desterro, o banimento, os açoites, morte atroz 9 (esquartejamento) e morte natural (forca). Mas, como típica sociedade estamental da época, não poderiam ser submetidos às penas infamantes ou vis os que gozassem de privilégios, como os fidalgos, os cavaleiros, os doutores em cânones ou leis, os médicos, os juízes e os vereadores. É de salientar que a aplicação do direito no vasto espaço territorial do Brasil-Colônia não fazia parte das preocupações portuguesas, já que o objetivo da Metrópole era principalmente assegurar o pagamento dos impostos e tributos aduaneiros, mas mesmo assim as Ordenações Filipinas foram a base do direito no período colonial e também durante a época do império no Brasil. Foi a partir da nossa Independência, em 1822, que os textos das Ordenações Filipinas foram sendo paulatinamente revogados, mas substituídos por textos que, de certa forma, mantinham suas influências. Primeiro surgiu o Código Criminal do Império de 1830, que substituiu o Livro V das Ordenações; em seguida foi promulgado, em 1832, o Código de Processo Criminal, que reformou o processo e a magistratura; em 1850 surgiram o Regulamento 737 (processo civil) e o Código Comercial. Os Livros I e II perderam a razão de existir a partir das Revoluções do Porto em 1820 e da Proclamação da Independência brasileira “O livro que ficou mais tempo em voga foi o IV, vigorando durante toda a época do Brasil Império e parte do período republicano, com profundas influências no nosso atual sistema jurídico. As Ordenações, portanto, tiveram aplicabilidade no Brasil por longo período e impuseram aos brasileiros enorme tradição jurídica, sendo que as normas relativas ao direito civil só foram definitivamente revogadas com o advento do Código Civil de 1916. O estudo do texto das Ordenações Filipinas é salutar para a compreensão de boa parte dos nossos atuais institutos jurídicos.” JOSÉ FÁBIO RODRIGUES MACIEL INÍCIO DA JUSTIÇA NO BRASIL COLÔNIA Nas Capitanias Hereditárias Em 1530 chega ao Brasil a primeira expedição colonizadora, chefiada por Martim Afonso de Sousa. Foi-lhe concedido plenos poderes, tanto judiciais quanto policiais; assim como aos donatários das capitanias hereditárias, que também gozavam dos mesmos poderes. Devido a abusos nas funções judiciais que alguns cometiam, houve uma estruturação do judiciário (que iniciou-se em 1549, com a instalação do Governo-Geral, por Tomé de Sousa). Cada capitania tinha um Ouvidor da Comarca, que solucionava as pendengas jurídicas nas vilas. Caso alguém se sentisse prejudicado com alguma decisão do Ouvidor da Comarca, poderia recorrer ao Ouvidor-Geral, que ficava na Bahia. Devido à complexidade e especificidades das funções judiciais da época (as funções judiciais confundiam-se com as funções administrativas e também com as funções policiais) haviam outros responsáveis pela efetivação das atividades jurisdicionais nas comarcas: chanceleres, contadores e vereadores, que formavam os Conselhos ou Câmaras Municipais. Na Bahia surgiram os Juízes do Povo, que eram eleitos pela população. Com o tempo o Corregedor passou a ter mais poderes sobre os ouvidores e juízes, tornando-se a autoridade judiciária superior nas Comarcas. ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO NO BRASIL COLÔNIA Com a chegada da corte real ao Brasil, vieram, também, os juízes, que eram chamados de ouvidores do cível e ouvidores do crime (o nome variava conforme a especialidade que julgavam). Estes juízes formaram o que denominou-se Casa da Justiça da Corte. Além das Ordenações, as fontes normativas utilizadas pelo judiciário da época eram: 10 (i) Lex Romana Wisigothorum – direito comum dos povos germânicos; (ii) Privilégios – direitos assegurados aos nobres pelos reis; (iii) Forais – leis particulares locais, asseguradas pelos reis. Com a expansão do reino pela reconquista do território da península ibérica aos mouros, e a uniformização das normas legais, consolidadas nas Ordenações do Reino (Afonsinas de 1480, Manoelinas de 1520 e Filipinas de 1603), foram surgindo outras figuras para exercerem a função judicante e aplicarem as diversas formas normativas: (i) Juízes da Terra (ou juízes ordinários) – eleitos pela comunidade, não sendo letrados, que apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada pelo bastão vermelho que empunhavam (2 por cidade). (ii) Juízes de Fora(figura criada em 1352) – nomeados pelo rei dentre bacharéis letrados, com a finalidade de serem o suporte do rei nas localidades, garantindo a aplicação das ordenações gerais do Reino. (iii) Juízes de Órfãos – com a função de serem guardiões dos órfãos e das heranças, solucionando as questões sucessórias a eles ligados. (iv) Provedores – colocados acima dos juízes de órfãos, para o cuidado geral dos órfãos, instituições de caridade (hospitais e irmandades) e legitimação de testamentos (feitos, naquela época, verbalmente, o que gerava muitos problemas). (v) Corregedores – nomeados pelo rei, com função primordialmente investigatória e recursal, inspecionando, em visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, como se dava a administração da Justiça, julgando as causas em que os próprios juízes estivessem implicados. (vi) Desembargadores - magistrados de 2ª instância, que apreciavam as apelações e os recursos de suplicação (para obter a clemência real). Recebiam tal nome porque despachavam ("desembargavam") diretamente com o rei as petições formuladas pelos particulares em questões de graça e de justiça, preparando e executando as decisões régias. Aos poucos, os reis foram lhes conferindo autoridade para tomar, em seu nome, as decisões sobre tais matérias, passando a constituir o Desembargo do Paço. A Casa da Justiça da Corte passou, então, a se chamar Casa da Suplicação, mudando também sua função, constituindo-se um tribunal de apelação. A Casa da Suplicação era formada por duas mesas, uma cívil (do Cívil) e uma criminal (do Crime), também conhecida como “casinha” e formalmente chamada de Desembargo do Paço (julgava as apelações criminais onde a pena imputada fosse a pena de morte, podendo ser agraciada, ou não, com a concessão da clemência real. Em 1521 o Desembargo do Paço transformou-se em corte independente e especial. Em 1532 foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para resolver os casos jurídicos e administrativos que contavam com foro privilegiado, que eram os que referiam-se às ordens militar-religiosas: Ordem de Cristo, Ordem de Avis e Ordem de Santiago. Com o tempo a Mesa de Consciência e Ordens excedeu suas funções e passou a julgar as causas eclesiásticas que envolviam os clérigos do reino. Com a instituição dos Tribunais de Relação como cortes de 2ª instância, a Casa da Suplicação passou a ser a Corte Suprema para Portugal e as Colônias. “Assim, a Casa da Suplicação passou a ser o intérprete máximo do direito português, constituindo suas decisões assentos que deveriam ser acolhidos pelas instâncias inferiores como jurisprudência vinculante.” (MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução Histórica da Estrutura Judiciária Brasileira. Revista Jurídica Virtual, Brasília, v. 1, n. 5, set. 1999. Disponível 11 em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_05/evol_historica.htm>.) O Corregedor ou o Provedor é quem decidia o que podia ser considerado como instância última (a indicação das instâncias recursais variava pelo valor da causa) e, conforme o valor, a apelação poderia ser direta para o Tribunal de Relação. Os primeiros Tribunais no Brasil Colônia surgiram nas principais províncias da Bahia e no Rio de Janeiro e já no fim do período colonial, o Brasil possuía seus tribunais e magistrados próprios, porém as instâncias recursais superiores encontravam-se em Portugal. Com a vinda da família real ao Brasil em 1808, a Relação do Rio de Janeiro foi transformada em Casa da Suplicação para todo o Reino, com 23 desembargadores (Alvará de 10 de maio de 1808), criando-se, então, as Relações do Maranhão, em 1812, e de Pernambuco, em 1821. A VINDA DA FAMÍLIA IMPERIAL AO BRASIL. Contexto No início do século XIX, a Europa estava agitada pelas guerras. Inglaterra e França disputavam a liderança no continente europeu. Em 1806, Napoleão Bonaparte, imperador da França, decretou o Bloqueio Continental, proibindo que qualquer país aliado ou ocupado pelas forças francesas comercializasse com a Inglaterra. O objetivo do bloqueio era arruinar a economia inglesa. Quem não obedecesse, seria invadido pelo exército francês. Portugal viu-se numa situação delicada. Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe regente D. João, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, enlouquecera. D. João não podia cumprir as ordens de Napoleão e aderir ao Bloqueio Continental, pois tinha longa relação comercial com a Inglaterra, por outro lado o governo português temia o exército francês. Sem alternativa, Portugal aceitou o Bloqueio, mas, continuou comercializando com a Inglaterra. Ao descobrir a trama, Napoleão determinou a invasão de Portugal em novembro de 1807. Sem condições de resistir à invasão francesa, D. João e toda a corte portuguesa fugiram para o Brasil, sob a proteção naval da marinha inglesa. A Inglaterra ofereceu escolta na travessia do Atlântico, mas em troca exigiu a abertura dos portos brasileiros aos navios ingleses. A corte portuguesa partiu às pressas de Lisboa sob as vaias do povo, em 29 de novembro de 1807. Na comitiva vinha D. João, sua mãe D. Maria I, a princesa Carlota Joaquina; as crianças D. Miguel, D. Maria Teresa, D. Maria Isabel, D. Maria Assunção, D. Ana de Jesus Maria e D. Pedro, o futuro imperador do Brasil e mais cerca de 15 mil pessoas entre nobres, militares, religiosos e funcionários da Coroa. Trazendo tudo o que era possível carregar; móveis, objetos de arte, jóias, louças, livros, arquivos e todo o tesouro real imperial. Após 54 dias de viagem a esquadra portuguesa chegou ao porto de Salvador na Bahia, em 22 de janeiro de 1808. Lá foram recebidos com festas, onde permaneceram por mais de um mês. Seis dias após a chegada D. João cumpriu o seu acordo com os ingleses, abrindo os portos brasileiros às nações amigas, isto é, a Inglaterra. Eliminando em parte o monopólio comercial português, que obrigava o Brasil a fazer comércio apenas com Portugal. Mas o destino da Coroa portuguesa era a capital da colônia, o Rio de Janeiro, onde D. João e sua comitiva desembarcaram em 8 de março de 1808 e onde foi instalada a sede do governo. Na chegada ao Rio de Janeiro, a Corte portuguesa foi recebida com uma grande festa: o povo aglomerou-se no porto e nas principais ruas para acompanhar a Família Real em procissão até a Catedral, onde, após uma missa em ação de graças, o rei concedeu o primeiro "beija-mão". 12 A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro provocou uma grande transformação na cidade. D. João teve que organizar a estrutura administrativa do governo. Nomeou ministros de Estado, colocou em funcionamento diversas secretarias públicas, instalou tribunais de justiça e criou o Banco do Brasil (1808). Era preciso acomodar os novos habitantes e tornar a cidade digna de ser a nova sede do Império português. O vice-rei do Brasil, D. Marcos de Noronha e Brito cedeu sua residência, O Palácio dos Governadores, no Lago do Paço, que passou a ser chamado Paço Real, para o rei e sua família e exigiu que os moradores das melhores casas da cidade fizessem o mesmo. Duas mil residências foram requisitadas, pregando-se nas portas o "P.R.", que significava "Príncipe Regente", mas que o povo logo traduziu como "Ponha-se na Rua". Prédios públicos, quartéis, igrejas e conventos também foram ocupados. A cidade passou por uma reforma geral: limpeza de ruas, pinturas nas fachadas dos prédios e apreensão de animais. As mudanças provocaram o aumento da população na cidade do Rio de Janeiro, que por volta de 1820, somava mais de 100 mil habitantes, entre os quais muitos eram estrangeiros – portugueses, comerciantes ingleses, corpos diplomáticos – ou mesmo resultado do deslocamento da população interna que procuravanovas oportunidades na capital. As construções passaram a seguir os padrões europeus. Novos elementos foram incorporados ao mobiliário; espelhos, bibelôs, biombos, papéis de parede, quadros, instrumentos musicais, relógios de parede. Com a Abertura dos Portos (1808) e os Tratados de Comércio e Navegação e de Aliança e Amizade (1810) estabelecendo tarifas preferenciais aos produtos ingleses, o comércio cresceu. O porto do Rio de Janeiro aumentou seu movimento que passou de 500 para 1200 embarcações anuais. A oferta de mercadorias e serviços diversificou-se. A Rua do Ouvidor, no centro do Rio, recebeu o cabeleireiro da Corte, costureiras francesas, lojas elegantes, joalherias e tabacarias. A novidade mais requintada era os chapéus, luvas, leques, flores artificiais, perfumes e sabonetes. Para a elite, a presença da Corte e o número crescente de comerciantes estrangeiros trouxeram familiaridade com novos produtos e padrões de comportamento em moldes europeus. As mulheres seguindo o estilo francês; usavam vestidos leves e sem armações, com decotes abertos, cintura alta, deixando aparecer os sapatos de saltos baixos. Enquanto os homens usavam casacas com golas altas enfeitadas por lenços coloridos e gravatas de renda, calções até o joelho e meias. Embora apenas uma pequena parte da população usufruísse desses luxos. Sem dúvida, a vinda de D. João deu um grande impulso à cultura no Brasil. A presença de artistas estrangeiros, botânicos, zoólogos, médicos, etnólogos, geógrafos e muitos outros que fizeram viagens e expedições regulares ao Brasil – trouxe informações sobre o que acontecia pelo mundo e também tornou este país conhecido, por meio dos livros e artigos em jornais e revistas que aqueles profissionais publicavam. Foi uma mudança profunda, mas que não alterou os costumes da grande maioria da população carioca, composta de escravos e trabalhadores assalariados. Com a vitória das nações europeias contra Napoleão em 1815, ficou decidido que os reis de países invadidos, pela França deveriam voltar a ocupar seus tronos. D. João e sua corte não queriam retornar ao empobrecido Portugal. Então o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves (uma região ao sul de Portugal). O Brasil deixava de ser Colônia de Portugal, adquiria autonomia administrativa. Essa dinâmica retrata o progresso das instituições que não ficaram tão dependentes de Portugal, contudo, toda a função pública foi exercida em troca de favores, o Direito foi gerado sempre para “agraciar” alguém em troca de algo e não para anseios populares ou estruturação legislativa e jurídica. 13 Trata-se de patrimonialismo. O patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Foi comum em praticamente todos os absolutismos. No Brasil, o patrimonialismo fora implantado pelo Estado colonial português, quando o processo de concessão de títulos, de terras e poderes quase absolutos aos senhores de terra legou à posteridade uma prática político-administrativa em que o público e o privado não se distingue perante as autoridades. Assim, torna-se "natural" desde o período colonial (1500 - 1822), perpassando pelo período Imperial (1822 - 1889) e chegando mesmo à República Velha (1889 - 1930) a confusão entre o público e o privado. Não se buscava fazer justiça na colônia, mas somente precaver-se de ameaças ao poder estatal e garantir o pagamento de impostos, admitindo que seus magistrados protegessem os seus próprios interesses e os dela, preterindo os direitos do povo e privilegiando um estrato social específico, representado pelo poder elitista do patriciado e pela nobreza, partícipes da administração burocrática do Estado partrimonial. O estado reflete, assim, um quadro sóciopolítico de dominação, exploração e injustiça, permeado por uma cultura elitista. Em 1820, houve em Portugal a Revolução Liberal do Porto, terminando com o Absolutismo e iniciando a Monarquia Constitucional. D. João deixava de ser monarca absoluto e passava a seguir a Constituição do Reino. Lembrar do Estado de Direito com origem na Revolução Francesa e Americana. Dessa forma, a Assembleia Portuguesa exigia o retorno do monarca. O novo governo português desejava recolonizar o Brasil, retirando sua autonomia econômica. Em 26 de abril de 1821, D. João VI cedendo às pressões, volta a Portugal, deixando seu filho D. Pedro como príncipe regente do Brasil. BRASIL IMPÉRIO A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO OUTORGADA. Com a nossa Independência em 1822, passamos a enfrentar, entre outros, o problema da nossa estruturação jurídica. Em maio 1823, temos a primeira medida concreta, a convocação de uma Assembleia Constituinte, que logo elaborou um Projeto de Constituição, o qual teve como principal redator Antônio Carlos, um dos irmãos Andradas (Jose Bonifácio, Martins Francisco e Antônio Carlos). Em novembro de 1823, D. Pedro em conflito com a Constituinte (principalmente com os irmãos Andradas), que acusava o Poder Imperial de limitar os trabalhos dos constituintes, avocando o direito de julgar a dignidade ou não da Constituição. (tais como a Confederação do Equador (Frei Caneca)). O Imperador tomou uma drástica medida dissolvendo a Assembleia e nomeando a chamada Comissão dos Dez para elaborar um novo Projeto de Constituição que foi outorgada em 25 de março de 1824 pelo Imperador. Foi uma Constituição outorgada pela “Santíssim a Trindade”: “afim de salvar o Brasil dos perigos que lhe estavam iminentes...Hei por bem, como Imperador e defensor perpetuo do Brasil, dissolver a mesma assembleia, e convocar já uma outra na forma das instruções feitas para convocação desta, que agora acaba, a qual deverá trabalhar sobre o projeto de constituição que eu lhe hei de em breve apresentar, que será duplicadamente mais liberal do que a extinta assembleia acabou de fazer. Os meus ministros e secretários de estado de todas as diferentes repartições o tenham assim entendido, e façam executar a bem da salvação do império. Paço, dose de novembro de mil oitocentos e vinte e três, segundo da independência e do império – com a rubrica de sua Majestade Imperial. Clemente Ferreira França. José de Oliveira Barbosa”. 14 Tinha 179 artigos e apresentava as seguintes peculiaridades: Poder Moderador, exercido pelo Imperador que tinha a faculdade de dissolver a Câmara dos Deputados; Poder Executivo, exercido pelo Imperador e seus Ministros de Estado; Poder Legislativo, composto da Câmara dos Deputados (eletiva e temporária) e do Senado (vitalício e nomeado pelo Imperador); Poder Judiciário, formado de tribunais, juízes singulares e jurados; Conselho de Estado, nomeados pelo Imperador. A Constituição do Império de 1824 trazia no art. 179 (último da Constituição) estabelecia: “A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. Seguem-se 35 parágrafos dedicados aos direitos e garantias individuais. Origem do “cidadão evadiu-se”. Contudo, limitava o poder de voto para homens livres, acima de 25 anos e com renda mínima anual de 200 mil réis. Senadores, entre os três mais votados o Imperador o escolheria. Juízes poderiam ser suspensos pelo Imperador, que não estava sujeito a responsabilidade alguma. Dicotomia da escravidão com a extinção de penas cruéis. Tivemos a escravidão por mais tempo. Em resumo poderíamos dizer que a Constituição do Império era impregnada de um centralismo autocrático que investia o Imperadorde poderes absolutistas a ponto de Itaboraí ter dito que aqui ―o Rei reinava, governava e administrava, ao contrário do sistema inglês, onde vigia e vige o princípio de que o Rei reina, mas não governa. Em 1831 D. Pedro abdica para seu filho. O Império enfrentou com rigor todos os movimentos sociais e separatistas e conseguiu preservar o território. MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS NO BRASIL IMPERIAL: A LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS. Contexto: A época denominada “Brasil Imperial” ocorreu entre 1822, após a “Independência” do Brasil (07/09/1822), e perdurou até a Proclamação da República (15/11/1889). Esse período durou aproximadamente 67 anos, e teve como sistema político a monarquia parlamentar. O “Brasil Imperial” também é conhecido como “Brasil Império” e “Brasil Monárquico”, e foi dividido em dois períodos: o Primeiro Reinado, que se iniciou em 07/09/1822 e teve por fim quando D. Pedro I abdicou em 07 de abril de 1831; e o Segundo Reinado, que se iniciou com a aclamação de D. Pedro II como imperador (1840) e perdurou até a Proclamação da República (1889). Após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, seu filho, Pedro de Alcântara (D. Pedro II), de apenas cinco anos de idade, herdou o trono imperial. Mas como o herdeiro do trono era apenas uma criança, o Brasil foi governado, então, por regentes, que conduziram o governo até que o herdeiro atingisse a maioridade e assumisse o trono (fato que ocorreu quando D. Pedro II tinha 14 anos em 1840). O governo dos regentes (1831 a 1840) inaugurou uma nova fase da história do “Brasil Império”, marcada pela eclosão de inúmeras rebeliões provinciais. Principalmente durante o período regencial ocorreram várias revoltas nas províncias brasileiras contra o Império, pois alguns revoltosos não aceitavam o governo dos regentes, e outros, mais radicais, viam nesse momento uma oportunidade de transformar sua província numa república independente do restante o Brasil. As principais revoltas dessa época foram a “Cabanagem”, ocorrida na província do Pará entre 1835 e 1840, a “Guerra dos Farrapos”, que eclodiu no Rio Grande do Sul e se estendeu até Santa Catarina entre os anos de 1835 e 1845, a revolta denominada “Sabinada” na Bahia de 1835 a 1838, e a “Balaiada” ocorrida no Maranhão entre 1838 e 1841. 15 Movimentos Revolucionários: Durante o “Brasil Imperial”, especialmente durante o “Período Regencial”, houve várias revoltas nas províncias, dentre elas destacando-se quatro: “Cabanagem”, “Guerra dos Farrapos”, “Sabinada” e “Balaiada”. Referidos movimentos revolucionários representaram uma resposta extremada, um último recurso capaz de garantir as liberdades e os direitos que os revoltosos julgavam haviam sido violados pelos regentes, atingindo as revoltas um impacto político-social de grande magnitude. 1) CABANAGEM A Cabanagem foi a revolta ocorrida na província do Pará entre os anos 1834 a 1840. A maior parte da população era formada por indígenas, negros e mestiços, que viviam em cabanas miseráveis à beira dos rios. Essas pessoas eram conhecidas como cabanos. A maioria da população da província do Pará era antilusitana, ou seja, eram contra os portugueses, também chamados de caramurus, pois alegavam serem os responsáveis pela miséria em que se encontrava as pessoas daquela região. Os cabanos, insatisfeitos com essa situação de miséria, se organizaram para o levante e conseguiram tomar o poder rapidamente em 1984. Em seguida o governo imperial sediado no Rio de Janeiro retomou o poder, mas por pouco tempo, vindo os cabanos a voltar ao governo em 1835. Entretanto, em 1836, chegou ao Pará uma poderosa esquadra que esmagou os revoltosos. Ao todo os cabanos permaneceram no poder por aproximadamente 9 meses. A Cabanagem foi um movimento nitidamente popular, com a participação preponderante e ativa das camadas mais baixas da sociedade, chefiados por elementos da classe média que se caracterizavam pela radicalização de suas posições. O levante causou aproximadamente 30 mil mortos e representou não só uma luta contra os governos impostos pelo Rio de Janeiro, mas uma verdadeira luta de classes. Os cabanos lutavam pela liberdade, especialmente dos escravos, pela divisão da terra e o conseqüente fim da miséria. A Cabanagem foi o mais notável movimento popular no Brasil Imperial e o único em que as camadas mais inferiores da população conseguiram ocupar o poder de toda uma província durante um certo tempo. 2) GUERRA DOS FARRAPOS A Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha, teve início em 1835 e envolveu as províncias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, findando-se em 1845. O nome “farrapos” se deve ao fato dos revoltosos não usarem uniforme, ao contrário das tropas imperiais. Foi a mais duradoura revolução ocorrida no período imperial e se originou pelo descontentamento dos estancieiros produtores de charque com a política tributária imposta pelo governo imperial. As propriedades rurais da região sul produziam principalmente o charque, uma carne salgada que era a alimentação básica da população mais pobre. Embora produzido por escravos, o charque brasileiro custava mais caro que o produzido por trabalhadores assalariados no Uruguai e na Argentina. Para os estancieiros sulistas, o elevado custo do sal e os baixos impostos cobrados sobre o charque importado impediam a concorrência dos produtores estrangeiros. Alegavam ainda que essa era uma política do império para proteger os interesses dos fazendeiros de outras províncias do Brasil, que conseguiam alimentar seus escravos importando charque a um preço mais baixo. 16 Assim, os estancieiros das províncias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina exigiam que o governo imperial aumentasse os impostos cobrados sobre o charque importado e diminuísse os impostos sobre o charque nacional. O império não atendeu as reivindicações dos estancieiros e em 1835 teve início a guerra. Acontece que nem todos os farrapos tinham o mesmo projeto político. Alguns desejam apenas o aumento dos impostos do charque estrangeiro, outros queriam ir mais além, e que as províncias do sul se tornassem independente do Brasil e formasse um país novo. Após aproximadamente 10 anos de lutas armadas com vitórias de ambas as partes, em 1845 terminou a Revolta dos Farrapos com assinatura de um acordo denominado “Paz de Ponche Verde”, tendo os revoltosos conquistado muitas vantagens, dentre elas: anistia aos rebeldes, integração dos oficiais rebeldes às tropas imperiais, liberdade aos escravos que participaram da guerra, aumento do charque importado, e direito dos farrapos indicarem o presidente da província. 3) SABINADA A Sabinada foi uma revolução ocorrida na província da Bahia iniciada em 1837, e seu nome está relacionado ao médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Diferentemente de outros movimentos desse período, a Sabinada não mobilizou a população mais pobre e nem os proprietários de terras e de escravos, mas sim contou com a participação de trabalhadores urbanos. A revolta teve início com a fuga de Bento Gonçalves para o Rio Grande do Sul, que estava preso em Salvador. Sob a liderança do médico Francisco Sabino, os sabinos expulsaram o presidente da província baiana e assumiram o controle de Salvador por quatro meses, proclamando a República Bahienese, que deveria durar até que Pedro de Alcântara, o príncipe herdeiro, assumisse o trono brasileiro. Na época da revolta o povo baiano estava descontente com o Império pois a província estava despojada de seus recursos pela Capital que os gastava mal, ou seja, a província baiana estava sendo humilhada e sacrificada a favor dos interesses do centro brasileiro. Além disso, opovo baiano não tinha a necessária participação no poder público. Assim evocando o exemplo dos Estados Unidos, desejavam o regime republicano como modelo a seguir. Ao mesmo tempo, propagavam-se idéias que sugeririam a separação da Bahia e a formação de um estado livre. No início de 1838, as tropas regenciais chegaram à Bahia e, após o bloqueio terrestre e marítimo de Salvador, as forças do governo imperial invadiram e incendiaram a cidade, obrigando os sabinos rebeldes a saírem de seus esconderijos, vindo a serem massacrados pelas tropas imperiais. Os líderes foram condenados à morte, pena posteriormente comutada a degredo no interior do país. 4) BALAIADA Ocorrida nas províncias do Maranhão e do Piauí entre os anos de 1838 a 1841, a Balaiada leva esse nome em decorrência do vendedor de balaios Manuel Francisco dos Anjos. Essa revolução era contrária ao poder imperial e aos aristocratas rurais que, até então, dominavam aquela região. No século XIX, a economia maranhense atravessava uma forte crise, em grande parte decorrente da concorrência do algodão norte-americano no mercado internacional. Além disso, o estabelecimento da Lei dos Prefeitos – que concedia ao governador o privilégio de nomear os prefeitos municipais – causou outro tipo de atrito onde o mandonismo político acirrou as relações do povo com as instituições governamentais. Raimundo Gomes, um dos primeiros líderes da revolta, mobilizou um grupo de escravos, vaqueiros e artesãos logo depois de libertar um grupo de vaqueiros aprisionados em Vila da Manga, a mando de um opositor político do patrão daqueles mesmos trabalhadores. 17 O artesão Manoel dos Anjos Ferreira, conhecido como Balaio, começou a lutar contras as autoridades provinciais depois de acusar o oficial Antônio Raymundo Guimarães de ter abusado sexualmente de suas filhas. Após conquistar vários adeptos, os revoltosos conseguiram controlar a cidade de Caxias, um dos maiores centro comerciais da época. A natureza popular desse movimento em muito ameaçou a estabilidade dos privilégios econômicos daqueles que detinham o poder na época. Naquele mesmo ano, o negro Cosme Bento de Chagas, contou com o apoio de aproximadamente 3 mil escravos fugidos. O grande número de negros envolvidos na revolta deu traços raciais à questão da desigualdade ali colocada. Em resposta aos levantes, o coronel Luis Alves de Lima e Silva foi nomeado para controlar a tensa situação da província. Em 1841, com farto armamento e um grupo de 8 mil homens, Luis Alves obteve sucesso na contenção dos revoltosos e, por isso, recebeu o título de Conde de Caxias. A desarticulação entre os vários braços revoltosos da Balaiada e a desunião em torno de objetivos comuns, facilitou bastante a ação repressora estabelecida pelas forças governamentais. Conclusão: Principais motivos das revoltas: miséria, fome, discriminação, injustiça, latifúndio e escravidão. Principal conquista dos revoltosos: Decreto Imperial de 1840 que concedeu anistia política aos envolvidos em crimes políticos em todo o país. Províncias do Brasil Império: CODIFICAÇÃO DAS LEIS ORDINÁRIAS. A Primeira Constituição utilizando-se do instituto da recepção mandou aplicar no Brasil, como nosso Direito Positivo, as Ordenações Filipinas, e determinou em seu art. 179, nº XVIII, que se organizasse, quanto antes, um Código Civil e um Código Criminal, fundado na justiça e na eqüidade. 18 Código Criminal do Império concluído em 16 de dezembro de 1830, passando o novo estatuto a vigorar nesse mesmo ano, revogando as Ordenações Filipinas, no tocante em matéria penal. O Código Criminal de 1830, no dizer de Nélson Hungria, foi “o primeiro Código autônomo da América Latina. É inegável que, dentro de sua época, foi obra notável de legislação, devendo notar- se que, como assinala o ilustre penalista Ladislau Thot, exerceu influência sobre quase toda a legislação penal latino-americana, através dos Códigos espanhóis de 1848, 1850 e 1870, que em muitos pontos se inspiraram no padrão brasileiro e, por sua vez, serviram de modelo, em torna- viagem, aos códigos dos países de língua espanhola da América. É importante registrar que o Código Criminal do Império se forjou nas melhores ideias difundidas à época da sua elaboração. Das quais, devemos destacar o princípio basilar de que ―não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (nullum crimen sine lege, nulla poena sine praevia lege) e manteve o princípio da proporcionalidade entre o crime e a pena, tornando-a exclusiva do condenado e, portanto, só a ele endereçada. Código de Processo Criminal do Império. Com a vigência do Código Criminal do Império, tornou-se necessário a criação das normas processuais, necessárias à aplicação da matéria penal material. Em 29 de novembro de 1832 revogou-se a matéria processual das Ordenações Filipinas e promulgou-se o Código de Processo Criminal de Primeira Instância de autoria de Manuel Alves Branco, reformado pela Lei nº 216 de 3 de dezembro de 1841, com o nome de Código de Processo Criminal do Império. O legislador do Código de Processo Criminal, inspirado nos processos inglês e francês, criou um sistema misto, combinando o sistema acusatório dos ingleses com o sistema inquisitório dos franceses. Código Comercial do Império do Brasil foi promulgado pela Lei n º 556 em 25 de junho de 1850, cujo projeto foi de José Clemente Pereira, para atender as necessidades resultantes da criação da Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. O Código Comercial e os Regulamentos de nº 737 e 738 encerram o ciclo das grandes codificações do Império. O Regulamento nº 737 disciplinou o processo, a execução e os recursos e o Regulamento nº 738 dispôs sobre os Tribunais de Comércio e o processo das falências. O Código de 1850, embora já bastante mutilado, principalmente depois da revogação de sua Parte Primeira pelo Código Civil de 2002, ainda está em vigor. A longevidade desse Estatuto prova o seu adiantamento notável. Pela técnica jurídica utilizada pelo nosso legislado ele serviu de modelo a vários códigos sul-americanos, notadamente o da Argentina de 1862 e o do Uruguai de 1865. Código Civil Brasileiro. As tentativas foram muitas, mas a demora foi mais longa do que o esperado. De fato, em que pese termos editado o Código Criminal em 1830 e o Código Comercial em 1850, a nossa codificação civil virou uma verdadeira ―via crucis e um complicado cipoal, levando o Barão de Penedo, em 1845, afirmar no Instituto da Ordem dos Advogados que a ―situação em que se encontrava o nosso país, ainda regido pelas Ordenações e leis posteriores estabelecidas em Portugal, por leis denominadas extravagantes promulgadas no Brasil, após a Independência, formando um emaranhado indigesto e obscuro. ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA NO IMPÉRIO. O Poder Judiciário Na história constitucional brasileira, verifica-se a existência de um Estado unitário, sob a égide da Constituição política do Império, outorgada por D. Pedro I em 1824, reconhecendo em seu artigo 2º 19 a divisão e a harmonia dos poderes políticos, explicita em seu artigo 10: ―Os poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império do Brasil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo e o Poder Judicial. Estabelecia, concernente ao Judiciário uma tríplice divisão, que se manteve com a reforma judiciária de 1832, introduzindo apenas algumas modificações, que apresentavam as seguintes características: 1º) considerava-se um duplo grau de jurisdição, sendo a primeira instância constituída de juízes singulares e a segunda por juízes colegiados. 2) A tricotomiacompletava-se com um órgão jurisdicional superior ou também chamado tribunal de cúpula, esta organização dava a ideia da existência de uma terceira instância, mas não era, tendo em vista a expressa vedação na própria Constituição vigente a época. Com a outorga da Constituição Imperial de 1824, o Judiciário ficou formalmente independente, porém, em relação aos seus membros, a independência era relativa, pois seus cargos eram perpétuos, mas não gozavam da prerrogativa da inamovibilidade e ainda podiam ser suspensos pelo Imperador. FUNDAÇÃO DOS CURSOS JURÍDICOS. Como já o sistema jurídico brasileiro foi instituído por nossos colonizadores, passamos um longo período sob a égide de um ordenamento jurídico alienígena que instituía e delimitava poderes daqueles que viviam aqui explorando nas capitanias hereditárias e depois na instalação do governo geral. Nestes períodos, como já é conhecido, a justiça era praticada exclusivamente por leigos exercendo os cargos de ouvidor, juiz de fora e outros. Devido à distância de Portugal e da falta de infra-estrutura que existia na nova colônia, não despertava interesse de vir ao Brasil estudiosos ou bacharéis em direito egressos da universidade de Coimbra, desde então um direito eurocentral, distante da nossa realidade. O inicio do desenvolvimento de um sistema jurídico efetivamente praticado em solo brasileiro aconteceu com a instalação da corte no país, em 1808. Mas, foi no ano de 1827 que surgiram no Brasil as primeiras escolas jurídicas no Brasil, sendo uma instalada em Olinda e posteriormente Recife responsável por um ensino mais clássico voltada a formação de doutrinadores e intelectuais à área do direito, e outra em São Paulo conhecida por formar verdadeiros burocratas eram jovens que buscavam formação com intenções de ascensão política. Os primeiros alunos formaram-se em 1832, e era composto por jovens de diversas províncias do Brasil e também de Portugal e Angola. Escola de Olinda e sua vertente intelectual Fundada em 1827 por lei do imperador D. Pedro I em Olinda, a escola de direito funcionava em parte do convento de São Bento cedida pelos monges beneditinos, sendo que em 1854 foi transferida para Recife. As aulas da escola de Olinda iniciaram em dois de junho de 1828 e lá surgiram grandes correntes filosóficas, voltadas não só a ciências jurídicas, mas também as letras, artes e política, tendo grandes nomes de destaques no cenário artístico, jurídico e político do país. Da escola nordestina saíram muitos nomes conhecidos como exemplo Teixeira de Freitas, jurista, Epitácio Pessoa, presidente da república, Nilo Peçanha, presidente da república, Pontes de Miranda, jurista, Clóvis Beviláqua, criador do código civil de 1916, Tobias Barretos, poeta e jurista, entre outros. Escola de São Paulo: Formação de burocratas Fundada concomitantemente com a Escola de Olinda pelo Imperador Dom Pedro I a Escola de São Paulo visava à formação de governantes e burocratas, ainda destacava-se pela formação de pessoas 20 que se dedicariam ao jornalismo, a crítica política e a literatura. Em 1934 a Escola de Direito de São Paulo foi integrada a USP, e também, é conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Da escola paulista saíram alguns presidentes, governadores, prefeitos, banqueiros, escritores e muitos outros, entre eles Washington Luis, Janio Quadros, Julio Prestes, Lafayette Rodrigues Pereira, Castro Alves, Olavo Bilac, Oswald de Andrade, Rui Barbosa e outros. LIBERALISMO E BACHARELISMO NO BRASIL O Liberalismo foi uma filosofia política ou visão do mundo fundada sobre ideais que pretendem ser os da liberdade e do igualdade. O Liberalismo começou a se fortalecer em meados do século XIX, após as décadas de 1830-1840, teve sua maior representação na França, e seus desdobramentos no constitucionalismo. No Brasil, as idéias liberais chegaram no início do século XIX, tendo maior influência a partir da Independência de 1822. Para Costa (1999), o liberalismo brasileiro só pode ser entendido com referência à realidade brasileira. Os principais adeptos foram homens interessados na economia de exportação e importação, muitos proprietários de grandes extensões de terra e escravos. Ansiavam por manter as estruturas tradicionais de produção, libertando-se do jugo de Portugal e ganhando espaço no livre-comércio. Esta elite tencionava manter as estruturas sociais e econômicas. Após a independência, os liberais tencionavam ampliar o poder legislativo em detrimento do poder real. Durante o período Imperial teremos a formação de dois grupos políticos distintos no Brasil: liberais e conservadores. Os primeiros defendiam um sistema de educação livre do controle religioso, uma legislação favorável à quebra do monopólio da terra e favoreciam a descentralização das províncias e municípios. Os conservadores opunham-se a essas ideias. Todo o período imperial foi marcado por tensões e conciliações entre os dois grupos. Vários conservadores passaram para o lado liberal e como também vários liberais foram responsáveis por fundar o Partido Republicano no final deste período. Ainda para Costa (1999), os liberais brasileiros foram incapazes de realizar os ideais do liberalismo pois estes transcendiam a política. Nenhuma das reformas que os liberais realizaram eliminou o conflito entre a retórica liberal e o sistema de patronagem. As reformas defendiam apenas os seus interesses comerciais e a manutenção da exploração do trabalho. Após a independência, o liberalismo acabou tornando-se a proposta de progresso e modernização que viria a superar o colonialismo. Trouxe bases ideológicas para a modificação do status colonial. Nesse sentido, o liberalismo tornou-se um componente indispensável na vida cultural brasileira durante o Império, como também na formação de bases essenciais de organização do estado e de integração da sociedade nacional. No entanto o liberalismo não encontrou no Brasil o mesmo cenário que havia na Europa. O Brasil era praticamente comandado por uma elite agrária e arraigado por uma desigualdade social que se comprova com a existência da escravidão. Portanto a prática do liberalismo no Brasil não era exatamente o que se pregava em sua teoria. Apesar de seus aspectos conservadores, individualistas, antipopulares e não democráticos, o liberalismo deve ser analisado também por seu profundo aspecto “juridicista”, pois foi na junção de individualismo político e formalismo legalista que se chegou ideologicamente ao principal perfil de nossa cultura jurídica: o bacharelismo liberal. No entanto, diferente do que ocorreu no mundo europeu ocidental, na sociedade brasileira a profissionalização da política não foi acompanhada pela democratização da sociedade. Pode-se 21 perceber que a natureza juridicista do liberalismo brasileiro é responsável pela formação desses intelectuais e pelo processo de profissionalização da política. “A implantação dos dois primeiros cursos de Direito no Brasil, em 1827, um em São Paulo e outro em Recife, refletiu a exigência de uma elite, sucessora da dominação colonizadora, que buscava concretizar a independência político-cultural, recompondo ideologicamente, a estrutura de poder e preparando nova camada burocrático-administrativa, setor que assumiria a responsabilidade de gerenciar o país”.( Wolkmer, 1995:80). “Desde cedo, os cursos jurídicos nasceram ditados muito mais pela preocupação de se constituir uma elite política coesa, disciplinada, devota às razões do Estado, que se pusesse à frente dos negócios públicos e pudesse, pouco a pouco, substituir a tradicional burocracia herdada da administração joanina, do que pela preocupaçãoem formar juristas que produzissem a ideologia jurídico-política do Estado Nacional emergente”.( Abreu, 1988:236) A REPÚBLICA Proclamação da República em 1889. Inicia com os Marechais (Deodoro e Floriano) até as Oligarquias Rurais de São Paulo (cafeicultores) e de Minas Gerais (leite), que ficou conhecida como a política do Café com Leite. Trata-se de uma política idealizada por Campos Salles com o domínio dos “Coronéis”. O Nível local: Coronéis garantem os governadores (nível estadual) e do governo federal. Ocorria o predomínio oligárquico ligado à manipulação do processo eleitoral, no qual uma grande rede de favores e compromissos era estabelecida entre “patrão” e empregados, processo conhecido como curral eleitoral. Constituição de 1891. A Constituição de 1891 é conhecida como a nossa primeira Constituição republicana ou Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada no dia 24/2/1891. Estabeleceu um sistema de governo presidencialista e adotou a federação como forma de Estado, passando às antigas províncias a condição de Estados autônomos, formadores da União perpétua e indissolúvel do nosso território. A grande figura da Constituinte foi o jurista Rui Barbosa a quem faltou sensibilidade política e sociológica para pressentir que um arcabouço formal baseado no modelo constitucional norte- americano, completado com disposições das Constituições Argentina e Suíça não atenderia a nossa cultura, pois lhe faltava vinculação com a nossa realidade. Foi abandonada a divisão quadripartida vigente no Império, de inspiração do francês Benjamin Constant e adotada a doutrina tripartida de Montesquieu, estabelecendo no art 15 como ―órgão da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo, e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si. Firmara a autonomia dos Estados-Membros o que resultou na ―política dos Governadores e conseqüentemente no coronelismo, que dominou e foi uma das principais causas da queda da Primeira República. Previa foro especial para militares, grande número de nepotismo. Floriano não deveria ser Presidente porque a regra era que em caso de vacância em menos de dois anos, nova eleição. Hoje é igual: Art. 81 da CF a) se for nos primeiros 2 anos: ocorre eleição direta em 90 dias, onde será eleito um novo Presidente e um novo Vice, somente para completar o mandato restante; b) se for nos últimos 2 anos: haverá eleição indireta feita pelo Congresso Nacional, em 30 dias, nomeando um novo Presidente e um novo Vice para completar o mandato. 22 Voto livre para homens com 21 anos de idade e alfabetizados. Excluindo parte imensa da população brasileira. Voto era aberto, não era secreto, falar em voz alta. Prudente de Morais 290 mil votos para 15 milhões. A Constituição de 1891 abria a seção II do Título IV, enunciando uma Declaração de Direitos, onde assegurava aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança e à propriedade. Em 1926 a Constituição foi emendada, para adequá-la à realidade com mais poderes ao Presidente para enfrentar o regionalismo o que não impediu a revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas. Elaboração do Código Civil Brasileiro de 1916. No início da República, pelo decreto de 1890, o Ministro da Justiça Campos Salles, incumbia o jurista Coelho Rodrigues, antigo professor da Faculdade de Recife, de preparar um projeto, que como os demais, não foram convertidos em lei. Campos Salles, já Presidente da República designou seu antigo colega de Congregação da Faculdade de Direito de Recife, Clóvis Beviláqua, professor de Direito Comparado, para elaborar um novo projeto aproveitando tanto quanto possível o de Coelho Rodrigues. No mesmo ano de 1899 o eminente jurisconsulto apresentou o seu projeto, o qual, depois de 15 anos de debates, se converteu na Lei nº 3.071 de 1º de janeiro de 1916. - O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO -, promulgado a 1º de janeiro de 1916, entrou em vigor em 1º de janeiro de 1917. De fato, merecem registro as emendas de Ruy Barbosa e o debate intelectual que ele travou com Carneiro Ribeiro. A REVOLUÇÃO DE 1930. Antes da Revolução de 1930, o Brasil era governado pelas oligarquias de Minas Gerais e São Paulo. Através de eleições fraudulentas, estas oligarquias se mantinham no poder e conseguiam alternar, na presidência da República, políticos que representavam seus interesses. Esta política, conhecida como “café-com-leite”, gerava descontentamento em setores militares (tenentes) que buscavam a moralização política do país. Nas eleições de 1930, as oligarquias de Minas Gerais e São Paulo entraram em um sério conflito político. Era a vez de Minas Gerais indicar o candidato a presidência, porém os paulistas apresentaram a candidatura de Júlio Prestes (fluminense que fez carreira política em São Paulo). Descontentes, muitos políticos mineiros apoiaram o candidato de oposição da Aliança Liberal, o gaúcho Getúlio Vargas (governador do RS). Causas da Revolução - Nas eleições de 1930, venceu o candidato Júlio Prestes, apoiado pela elite de São Paulo. Com vários indícios de fraude eleitoral, Getúlio Vargas e os políticos do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba ficaram muito insatisfeitos. - Em julho do mesmo ano, o candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas, o paraibano João Pessoa, foi assassinado. O fato gerou revolta popular em várias regiões do Brasil. Estes conflitos eram, principalmente, entre partidários da Aliança Liberal e defensores do governo federal. - A Crise de 1929, também conhecida como “A Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque” espalhou uma forte crise econômica pelos quatro cantos do mundo. Esta crise atingiu fortemente a economia brasileira, gerando desemprego e dificuldades financeiras para o povo brasileiro. Este fato contribuiu para o clima de insatisfação popular com o governo de Washington Luiz. 23 - O clima de conflitos e forte insatisfação popular em várias regiões do Brasil gerou preocupação em setores militares de alto comando, que enxergavam a possibilidade de uma guerra civil no Brasil. O Golpe de 1930 A situação do presidente Washington Luiz era crítica, porém o mesmo não pretendia renunciar ao poder. Então, chefes militares do Exército e Marinha depuseram o presidente, instalaram uma junta militar que, em seguida, transferiu o poder para Getúlio Vargas. Getúlio Vargas governou o Brasil de forma provisória entre 1930 e 1934 (governo provisório). Em 1934, foi eleito pela Assembleia Constituinte como presidente constitucional do Brasil, com mandato até 1937. Porém, através de um golpe com apoio de setores militares, permaneceu no poder até 1945, período conhecido como Estado Novo. A Constituição de 1934 - liberal Com a revolução de 1930, Getúlio Vargas (1930 – 1946) chega ao poder como líder civil do movimento, investido na função de Presidente Provisório da República. Dissolve o Congresso e passa a governar por Decretos, intervém nos Estados, liquidando a política dos governadores” e procura afastar a influência dos coronéis. Vargas inclina-se para a questão social criando os Ministérios do Trabalho, Educação e Saúde, Industria e Comércio. Designa Francisco Campos para a pasta da Educação, que a muito estava entorpecida e desalentada e Lindolfo Color para a do Trabalho, época em que foi criada a base de nossa Legislação Trabalhista. Reforma o sistema eleitoral e institui a Justiça Eleitoral para julgar a validade das eleições. Pelo decreto de 3/5/1932 Getulio
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