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TEORIA DA LITERATURA III - AULAS 2, 3 ,4,5, 6,7

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A CONSCIÊNCIA ESTRUTURAL EM SAUSSURE E LEVI STRAUSS
de Joyce160683 | trabalhosfeitos.com
AULA 2 - A CONSCIÊNCIA ESTRUTURAL EM SAUSSURE E L EVI-STRAUSS
A teoria estrutural como base científica fundamental
A língua é um sistema que só conhece a sua própria ordem.
Ferdinand de Saussure
 Na aula anterior, vimos que o sistema fonológico serviu como elemento determinante na transição do método formal à semiologia de Saussure, quando deslizamos da construção estética formalista marcada pelo ritmo, rimas, aliterações, assonâncias e paralelismos à sonoridade dos eventos inconscientes da fala, ao fixar o signo como o elemento intermediário entre a esfera psíquica individual e o campo social.
 Além de precursor da linguística moderna, Ferdinand de Saussure foi quem lançou as bases para a consciência semiológica e a teoria estruturalista as quais influenciariam as ciências no ocidente, tal como a antropologia e a psicanálise. Em sua investigação das estruturas inconscientes e sobre a linguagem, ao compreender que a língua é um sistema de valores puros, ele considerou dois elementos: as ideias e os sons.
 O fato é que a linguagem é indissociável do pensamento, já que sem ela as ideias seriam dispersas, amorfas e caóticas, sem qualquer delimitação, ordenação ou possibilidade de expressão. Enfim, de que outro modo seria possível tanger o pensamento sem o advento da linguagem, enquanto ela tem a função de formalizar o informe? Além disso, estrutura e ordena as ideias no pensamento a partir dos signos, tomados como elementos referenciais. Mais, ainda, ao constatar a formalidade e a funcionalidade da língua como elemento estruturador do pensamento, é justamente em sua dimensão fonológica que consiste a mediação do inconsciente buscada por Saussure, ao considerar que: 
 “O papel característico da língua frente ao pensamento não é criar um meio fônico material para expressão das ideias, mas servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais que uma união conduza necessariamente a delimitações recíprocas de unidades. O pensamento, caótico por natureza, é forçado a precisar-se ao se decompor.” (SAUSSURE, 2002, P. 131)
 Para Saussure, embora a língua seja instituída socialmente por um sistema de signos, é a espessura fonológica da fala que atingirá a estrutura inconsciente quando subverte a norma, expande a língua para além de sua objetividade. Isso, mesmo que o uso da língua esteja subjacente aos princípios normativos mínimos de conscientização e comunicação do indivíduo em sua sociedade. Saussure constatou então que a língua fecha-se em si mesma, ao considerar que o signo é determinado por uma dupla acepção que envolve o significante (imagem acústica) e o significado (conceito).
 Segundo o próprio linguista, um signo isolado constitui apenas um paradigma denotativo (referencial), de modo que, se o colocarmos em relação com outros em um sintagma (frase), sua significação poderá sofrer alterações. Logo, ainda que o sentido primordial denotativo do signo seja reprimido e ganhe nova conotação ao alinhar-se com outros, esse mesmo signo sempre remeterá a outras tantas significações possíveis no âmbito da própria língua, e jamais fora dela.
Mas, como estabelecer um sistema fonológico da fala? Como é possível investigar, compreender seu funcionamento? E segundo que leis reguladoras esse sistema opera em nosso pensamento?
Para responder a estas questões, Saussure estabeleceu uma teoria baseada em princípios universais que dirigissem o uso da linguagem a uma metodologia governada por conceitos que fundamentassem o signo dentro de uma estrutura psíquica e sua representação concreta, ou seja, a escrita.
 
 Embora a língua e a escrita constituam dois sistemas distintos de signos, segundo Saussure, a escrita só tem sentido devido à língua. E esta só existe devido à fala, pois é senso comum que a língua seja oriunda de uma tradição oral. Porém, sem o registro concreto de sua fluência, a língua estaria fadada ao desaparecimento ao longo do tempo.
Segundo Saussure:
“Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro; o objeto linguístico não se define pela combinação da palavra escrita e da palavra falada; esta última, por si só, constitui tal objeto. Mas a palavra escrita se mistura tão intimamente com a palavra falada, da qual é a imagem, que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar mais importância à representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se acreditássemos que, para conhecer uma pessoa, melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o rosto.”(SAUSSURE, 2002,P.34).
Para Saussuri, o objeto linguístico é a fala.
Claude Levi-Strauss 
O mais importante neste programa foi que Saussure passou a fornecer as bases para o desenvolvimento da teoria estrutural que influenciou o pensamento científico do ocidente. Isto se comprovou com a antropologia estrutural de Claude Levi-Strauss, quando tentou investigar a matriz cultural das tribos primitivas, através da aproximação das narrativas pertencentes à tradição oral.
A linguística de Saussure valorizou a importância da escrita para o estudo da linguagem, ao considerar seu valor como registro ortográfico e também como materialização da oralidade. Ao concretizá-la de modo formal e palpável, evitava-se a abstração e o desaparecimento da língua pelo isolamento da fala, caso esta sofresse pela ausência de registro ou representação gráfica.
 Saussure defendeu o prestígio do sistema escrito com base em quatro pontos:
1- As imagens gráficas constituem a unidade da língua através dos tempos, de modo mais sólido e permanente que os sons.
2- As impressões visuais são mais nítidas e duradouras que as impressões acústicas.
3- A língua literária constitui volume documental da língua através das gramáticas, dicionários, textos e livros que são regulamentados como código e utilizados como instrumento de ensino.
4- Quando houver desacordo entre a língua e a ortografia, é a forma escrita que se legitima como preponderante sobre o caráter volátil da fala.
 
 Todavia, a língua e suas modulações passaram a ser estudadas pelo registro literário como um sistema escrito, e este era o elemento básico da teoria estrutural. 
Quando nos referimos à palavra estrutura, este termo que vem do latim structura sugere a ideia de “construção”, em que cada um de seus elementos possui uma função determinada pela relação compartilhada por todos, seja ela de equivalência ou oposição.
Em termos literários, o conceito de estrutura se aplica ao texto tal qual um sistema verbal regido por um conjunto de elementos ordenados e encadeados entre si, constituindo uma totalidade dinâmica. O texto é visto como um sistema constituído de signos e sintagmas, ou seja, palavras e frases, onde cada signo é parte integrante de um sintagma, que, por sua vez, constitui uma unidade funcional.
 Lembremos que, para o método formal, o texto era um sistema estático e imanente em suas relações formais intrinsecamente estéticas. Já o método estrutural ultrapassa os limites do formalismo estético e amplia suas interpretações para a dimensão semiológica, onde o signo é colocado sob a perspectiva psíquica e social.
Com a contribuição da antropologia moderna estrutural de Claude Levi-Strauss, esta relação entre o inconsciente e o social atinge uma dimensão cultural, mediada pela linguagem. Isso ocorrerá se considerarmos o fato de todo ser humano possuir uma competência narrativa desenvolvida desde a infância, como modo de organização do pensamento pela matéria fônica.
Sob esta perspectiva, ao analisarmos a estrutura narrativa tradicional, partimos do princípio de que ela possui uma organização interna regida por elementos que se inter-relacionam em suas respectivas funções, como o foco narrativo, o enredo, o conflito, os personagens, o tempo, o espaço, o clímax e o desfecho, por exemplo.
Vladimir ProppApós os estudos de Vladimir Propp que você viu na primeira aula, a gramática ou teoria da narrativa passa a ser constituída por esferas de ação ouenunciados que, além de formarem a malha estrutural da narrativa, determinam o curso da trama, operando de modo integrado.
Então, veremos a seguir, com Claude Levi-Strauss e suas pesquisas junto às sociedades primitivas, de que modo ele estabeleceu seu método estrutural ao estudar as culturas aborígenes e sua tradição oral, a partir do método formal de Propp e da fonologia de Saussure e Jakobson.
Vladimir Propp: foi um académico estruturalista russo que analisou os componentes básicos do enredo dos contos populares russos visando identificar os seus elementos narrativos mais simples e indivisíveis. Foi um dos expoentes da narratologia.
A Antropologia Estrutural de Claude Levi-Strauss
“Tanto em linguística quanto em antropologia, o método estrutural consiste em descobrir formas invariantes no interior de conteúdos diferentes.”
Claude Levi-Strauss
Claude Levi-Strauss foi o precursor da Antropologia estrutural, e sua carreira de etnólogo teve início no Brasil, quando foi convidado a lecionar na Universidade de São Paulo em 1934. Lamentavelmente, ao retornar à França em 1939, precisou fugir neste mesmo ano, em decorrência da ocupação nazista.
Durante o período de exílio nos Estados Unidos, ele começou uma amizade com Roman Jakobson, que lecionava fonologia estrutural. Foi a partir desse encontro intelectual e afetivo com o linguista, que Levi-Strauss fundamentou suas pesquisas, dando origem à antropologia moderna.
Suas experiências com as sociedades primitivas visavam à natureza inconsciente dos fenômenosculturais segundo os princípios da linguagem, que serviram como eixo inteligível dessa investigação do pensamento autóctone.
Suas pesquisas estavam fundamentadas cientificamente pelo modelo linguístico estrutural de Saussure e direcionadas ao estudo das sociedades primitivas. Levi-Strauss pretendia estudar o modo pelo qual os sistemas sociais e culturais primitivos estavam entronizados inconscientemente nos indivíduos, partindo da intermediação da linguagem como estrutura imanente a eles, ou seja, segundo o estudo das narrativas aborígenes e sua tradição oral.
Importante afirmar que, ao estudar os sistemas culturais indígenas, o modelo antropológico estrutural de Levi-Strauss acenou para uma perspectiva universalista que rompeu radicalmente com o modelo antropológico naturalista, baseado no evolucionismo ou no determinismo essencialmente biológico e racista, além de superar a metodologia tradicional, estritamente funcional e utilitarista.
Os estudos de Levi-Strauss foram imprescindíveis para a humanidade. Pois a título de exemplo, imaginemos que, se uma tribo tenha sido exterminada por uma peste ou dizimada em batalha por outra tribo adversária, sem que se houvesse conservado qualquer registro escrito de seu falar, suas canções, seus mitos, seus costumes e suas crenças rituais, o que teria acontecido com esta cultura? Ela estaria então condenada ao desaparecimento para todo o sempre.
 Para Levi-Strauss, ao pesquisar a relação entre a infraestrutura inconsciente e social das culturas primitivas, era necessário fundamentar suas propostas sob bases cientificamentecomprovadas, como a fonologia desde Saussure, Jakobson até Trubetzkoy que, segundo Levi-Strauss, foi quem melhor definiu o método fonológico, ao resumi-lo em quatro procedimentos essenciais:
1- Em primeiro lugar, a fonologia passa do estudo dos fenômenos linguísticos conscientes para o de sua infraestrutura inconsciente;
2-Recusa-se a tratar os termos como entidades independentes, tomando por base de sua análise, ao contrário, as relações entre os termos;
3- Introduz a noção de sistema – (...)
4- Finalmente, ela visa à descoberta de leis gerais, descobertas ou por indução, ou por deduzidas logicamente, o que lhes dá um caráter absoluto.” (STRAUSS, 2008, p. 60)
Ao final da última seção, vimos que a narrativa é uma competência desenvolvida pelo ser humano desde a infância e ao longo da história da humanidade, ao operar como meio de estruturação dos fatos no tempo e no espaço, à medida que o pensamento é ordenado pela matéria fônica e transmitido através de uma sequência lógica, linear e progressiva pelo falante.
Ao investigar os índios, Levi-Strauss estabeleceu como objeto as narrativas míticas e observou que os indivíduos partilhavam o mito como um sistema simbólico e elemento integrador da estrutura inconsciente individual e coletiva. Ele descobriu que o mito fornecia subsídios para a investigação não apenas de um sistema de pensamento, mas para uma cadeia significante e um universo simbólico no qual se revelava uma cultura estruturada pelo sonho e pela dimensão mágica do espírito humano.
Ao aproximar sua investigação do método fonológico, ele passou a estabelecer um sistema de análise das sociedades primitivas a partir de um novo método, criado e denominado por ele de SISTEMA DE PARENTESCO.
“Os ‘sistemas de parentesco’, assim como os ‘sistemas fonológicos’, são elaborados pelo espírito no estágio do pensamento inconsciente; e por fim, a recorrência em regiões afastadas do mundo e em sociedades profundamente diferentes, de formas de parentesco, regras de casamento e atitudes igualmente prescritas entre certos tipos de parentes etc. leva a crer que, num caso como no outro, os fenômenos observáveis resultam da operação de leis gerais, mas ocultas. O problema pode, portanto, ser formulado do seguinte modo: numa outra ordem de realidade, os fenômenos de parentesco são fenômenos do mesmo tipo que os fenômenos linguísticos. (Ibidem, p. 61)
Ao tomar uma narrativa mítica como um sistema fonológico em potencial, ele passou a analisar as unidades mínimas elementares que constituíam tal sistema, denominando-as mitemas, que estão para o sistema mítico, assim como os fonemas estão para o sistema fonológico.
Para tanto, Levi-Strauss retomou a morfologia formalista de Vladimir Propp, ao comparar os contos de fadas com os mitos indígenas, no ensaio A estrutura e a forma, e constatou que, enquanto o método formal valorizou apenas o elemento material da linguagem, o método estrutural ultrapassou-o até atingir sua abstração simbólica, ao relacionar as formas invariantes existentes entre as culturas autóctones e a respectiva infraestrutura inconsciente de seus indivíduos, coletiva e individualmente.
Ao retornar à análise morfológica de Propp como paradigma em sua pesquisa sobre as culturas autóctones, contrastou o método formalista dos contos de fada e o método estrutural das relações de parentesco entre os mitos indígenas, e os respectivos modelos de análise narrativa:
“Que nos seja permitido insistir neste ponto, que resume toda a diferença entre formalismo e estruturalismo. Para o primeiro, os dois domínios devem ser absolutamente separados, pois somente a forma é inteligível, e o conteúdo não é senão um resíduo desprovido de valor significante. Para o estruturalismo, esta oposição não existe: não há, de um lado, o abstrato e, de outro, o concreto. Forma e conteúdo são de mesma natureza, sujeitos à mesma análise. O conteúdo tira sua realidade da estrutura, e o que se chama forma é a ‘estruturação’ das estruturas locais que constituem o conteúdo.” (STRAUSS, 1993, p. 137-8)
Deste modo, o estudo das culturas passou pelo estudo dos mitos familiarizados por uma série de tribos, e esse sistema mítico constituiu a infraestrutura inconsciente e social das respectivas culturas como uma espécie de gênese partilhada, unidade fundante, desdobrada e diferenciada segundo cada tribo. Uma gênese respectivamente identificada segundo suas relações de familiaridade com outras através do sistema mítico, sendo logo reconhecidas pelo sistema de parentesco de Claude Levi-Strauss.
Isto porque, segundo Levi-Strauss, a análise de um sistema de parentesco não é determinada pelos laços objetivos de filiação ou consanguinidade entre os indivíduos, pois que “ele só existe na consciência dos homens, é um sistemaarbitrário de representações, e não o desenvolvimento espontâneo de uma situação de fato”.
Mas, por que os mitos?
Porque, como já antecipamos, a importância do mito se deve pelo fato de sua matriz constituir-se por uma estruturação simbólica dinâmica e irredutível, já que essa matriz movimenta uma miríade de versões e expansões sem que se perca sua identidade. O mito ultrapassa qualquer cientificidade inteligível e racional, pelo fato de estar à margem de qualquer determinismo ou manipulação exterior, além de servir de campo fidedigno para a investigação das estruturas mais elementares e profundas do inconsciente e doespírito humano. Consideremos então que a linguística fonológica foi apenas um meio de representação e materialidade simbólicas deste universo.
Para o índio o mito é sua razão, sua lei, sua religiosidade, enfim, é o suporte de sua consciência, considerando que o universo mágico e transcendente faz parte de seu cotidiano e sua cultura, desde seus mais remotos ancestrais. Em comum entre o pensamento ‘civilizado’ e o ‘selvagem’, Levi-Strauss revelou que o pensamento mítico é tão ou mais integrado que o pensamento científico.
Fundamental é perceber que Levi-Strauss revelou o universo mítico como uma cadeia significante e uma espécie de estrutura catalisadora das relações naturais, ambientais e sociais, em torno de uma estrutura mágica que se coloca à margem de uma realidade referencial, ao fundar as bases naturais da cultura, sob a magnitude de um sistema irredutível que é o mito.
Ao defender o prestígio do sistema escrito, Saussure teve como base quatro pontos. Com relação a essas afirmações, marque V ou F nos itens abaixo:
(v )As imagens gráficas constituem a unidade da língua através dos tempos, de modo mais sólido e permanente que os sons.
( f )As impressões visuais são menos nítidas e duradouras que as impressões acústicas.
(v )A língua literária constitui volume documental da língua através das gramáticas, dicionários, textos e livros que são regulamentados como código e utilizados como instrumento de ensino.
( v)Quando houver desacordo entre a língua e a ortografia, é a forma escrita que se legitima como preponderante sobre o caráter volátil da fala. 
AULA 2 – SLIDES
A Linguística estrutural forneceu aos críticos literários uma importante base conceitual e metodológica. As dicotomias Saussureanas língua e fala, significado e significante; sintagma e paradigma, foram adaptadas à reflexão acerca da Literatura. Dessa forma, os estruturalistas literários desenvolveram ampla investigação em direção à construção de uma gramática estrutural da narrativa. 
A Linguística estrutural forneceu aos críticos literários uma importante base conceitual e metodológica. As dicotomias Saussureanas língua e fala, significado e significante; sintagma e paradigma, foram adaptadas à reflexão acerca da Literatura. Dessa forma, os estruturalistas literários desenvolveram ampla investigação em direção à construção de uma gramática estrutural da narrativa. 
O estruturalismo literário prosperou na década de 1960 com o propósito de aplicar à literatura os métodos e interpretações de Ferdinand de Saussure, fundador da linguística estrutural moderna. A publicação de seu trabalho, intitulado Curso de Linguística - “Cours de linguistique général” Geral - só se deu em 1916, três anos depois de sua morte. 
A linguística de Saussure baseava-se no estudo da estrutura da língua e do uso coletivo, comum a todos os falantes, desprezando o individual, por considerar que a língua é homogênea e dinâmica, enquanto a fala é mutável. O estruturalismo de Ferdinand Saussure ocupou-se do estudo sincrônico da língua e, mesmo não tendo usado a nomenclatura Estruturalismo, deixou valioso estudo sobre a estrutura da língua a que chamou de sistema.
A linguagem para ele era um sistema de signos. Em seus estudos, Saussure divide o estudo da linguagem em sincrônico e diacrônico. 
Sincronicamente, estudado como sistema completo num determinado momento do tempo. 
Diacronicamente, em seu desenvolvimento histórico, que se concentra nas mudanças da língua através do tempo. É o estudo da linguística histórica analisando a relação de um fato com seus anteriores e posteriores. A diacronia pode ser dividida em duas vertentes: história externa e interna.
história externa está ligada ao estudo das relações existentes entre fatores socioculturais e evolução linguística. 
história interna se concentra na evolução estrutural, fonológica e morfossintática. 
Em 1890, chegou ao nosso país o Leite Moça. O leite condensado da Suíça tinha a marca “La Laitière” (vendedora de leite).
Em 1921, primeira fábrica em Araras-SP, optou pela designação criada pelo consumidor. Mudou de “Leite Condensado Marca Moça” para “Leite Condensado Moça”.
Depois para “Moça – leite condensado”, surgiu a marca Leite Moça. 
Hoje, é apenas “Moça”.
Para Saussure, o que é prioritário é o estudo sincrônico, porque o falante nativo não tem consciência da sucessão dos fatos da língua no tempo. Para o indivíduo que usa a língua como veículo de comunicação e interação social, essa sucessão não existe. A única e verdadeira realidade palpável que se lhe apresenta de forma imediata é a do estado sincrônico da língua. 
A sincronia é o eixo das simultaneidades, no qual devem ser estudadas as relações entre os eventos existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema linguístico, que pode ser tanto no presente quanto no passado. 
A análise sincrônica de um dado é estática e descritiva. Estuda o funcionamento da língua e sua constituição como fonemas, gramática e palavras. É o estudo do objeto em si, imóvel no tempo, e das relações existentes no sistema da língua no presente ou no passado. 
Sincronia é sinônimo de descrição, de estudo do funcionamento da língua. 
Um exemplo sincrônico é o emprego de certas palavras no tempo e a modificação que as mesmas sofrem ao passar dos anos. 
Ex. O substantivo romaria significava: “peregrinação a Roma para ver o Papa”. 
Hoje é usado para indicar “peregrinação religiosa em geral”. 
A diacronia é o eixo das sucessividades; o linguista tem por objeto de estudo a relação entre um determinado fato e outros anteriores ou posteriores que o precederam ou sucederam. E Saussure lembra que tais fatos (diacrônicos) não têm relação alguma com os sistemas, apesar de os condicionarem. 
Diacronia - desenvolvimento histórico.
Entre as principais dicotomias abordadas nos estudos de Saussure, tais como semiologia/linguística, signo: significante/significado, arbitrariedade/linearidade, linguagem: língua/fala, sincronia/diacronia, sintagma/paradigma, entre outras, temos a relação entre língua (Lange) e fala (parole).
Fundamenta-se na oposição entre o social e o individual, postulada pela escola sociológica de Durkheim: a língua é da esfera social, ao passo que a fala é da esfera individual.
Para ele, linguagem é a faculdade que o indivíduo tem de falar uma língua.
“a língua é para nós a linguagem menos a fala. É o conjunto dos hábitos linguísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender”. (Saussure)
A língua é, simultaneamente um acervo linguístico, uma instituição social e uma realidade sistemática e funcional.
Como acervo linguístico, a língua é uma realidade psíquica formada de significados e imagens acústicas. A língua traz em si toda a experiência histórica acumulada pelos povos que nela se expressam.
“mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos”. (Saussure)
A língua como instituição social: “é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”. (Saussure)
“Ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade”. (Saussure)
A fala, em oposição à língua (homogênea), para Saussure: “é um ato individual de vontade e inteligência,no qual convém apontar:
 1) as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento pessoal; 
2) o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações”. (Saussure) 
Língua e fala “se implicam mutuamente”. “A língua é necessária para que a fala seja inteligível”. E a fala “é necessária para que a língua se estabeleça”. (Saussure)
“É a fala que faz evoluir a língua: são impressões recebidas ao ouvir os outros que modificam nossos hábitos linguísticos”. (Saussure)
Todo signo deve ser visto como um significante (um som-imagem ou equivalente gráfico) e um significado (o conceito ou significado). 
Significante é o signo, o elemento perceptível na forma gráfica ou sonora.
Significado é a tradução do significado, seu sentido e os conceitos ele traz quando enunciado.
A união do significado com o significante dá origem ao que pode-se chamar de signo.
Os quatro tipos: “g” – “a” – “t” – “o” são um significante que evocam o significado: “gato” e está relação entre o significante e o significado é arbitrária, pois não qualquer razão para que essas quatro marcas devam nomear “gato”. A única explicação é a convenção cultural e histórica.
Em francês seria: “chat”; em inglês: “cat”. 
A arbitrariedade do signo” é o primeiro dos princípios gerais da linguística saussuriana. (O segundo é o caráter linear do significante.) Ele nos aponta que “o laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer que: o signo linguístico é arbitrário”, pois “temos as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas diferentes”. (Saussure)
Sintagma é para Saussure como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguístico superior”, e aparece a partir da linearidade do signo. Ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele contrasta com outro elemento.
Paradigma é o "banco de reservas" da língua que faz com que suas unidades se oponham, pois uma exclui a outra. 
Na frase, em nível sintático, quanto na palavra, em nível morfológico, podem ser determinadas relações sintagmáticas e paradigmáticas. Geralmente, costuma-se colocar o sintagma como um eixo horizontal e o paradigma como um eixo vertical, pois há um eixo horizontal sobre o qual se dispõem os elementos linguísticos combinados em um sintagma, e há eixos verticais, para cada posição do sintagma, sobre o qual se dispõem os elementos linguísticos que podem, por meio de relações paradigmáticas, ocupar essa posição. 
Paradigma
Pedro ama Carolina sintagma
Maria odeia Paulo sintagma 
As relações paradigmáticas quanto às sintagmáticas ocorrem em todos os níveis da língua: o dos sons, o dos morfemas, o das palavras. Podemos notar que os elementos linguísticos só adquirem essas relações dentro do nível a que pertencem: sons relacionam-se paradigmática e sintagmaticamente com sons, morfemas com morfemas, palavras com palavras.
 
AULA 3 - Do inconsciente desejante à escrita automática
As Borboletas, Vladimir Kush
O que significa a psicanálise?
A psicanálise é um ramo da Psicologia criado por Sigmund Freud cuja base fundamental é o processo de análise científica do universo psíquico, conforme o próprio termo assinala: ‘psicoanálise’.
No entanto, embora Freud seja o primeiro referencial da psicanálise, é o nome de Jacques Lacan que destacaremos aqui pela sua contribuição ao pensamento estrutural pelo seu interesse por Saussure e, principalmente, por seu encontro com Lévi-Strauss, ao tratarem do inconsciente como um universo estruturado simbolicamente, segundo as respectivas abordagens. Pretende-se aqui aproximar a psicanálise e a linguagem literária sob o método teórico estrutural. Em seguida, veremos a aproximação de Jacques Lacan com a arte contemporânea, através da exploração do inconsciente pela linguagem poética surrealista pelo método Escritura automática, durante o início do século XX, juntamente à eclosão das manifestações e experimentações artísticas das Vanguardas Modernas na Europa.
Antes de Claude Lévi-Strauss destacar o mito como objeto de pesquisa sobre a dimensão inconsciente - em sua investigação sobre as culturas primitivas através das narrativas oralizadas -, foi Sigmund Freud quem primeiro utilizou a estrutura mítica para explicar o funcionamento do inconsciente, ao final do século XIX, paralelamente ao Curso de Lingüística Geral de Saussure.
Sabemos que a psicanálise de Freud apropriou-se do mito clássico de Édipo, de Sófocles, para explicar e formalizar a estrutura do inconsciente que passou a ser visto a partir desse momento como a nova perspectiva do sujeito moderno.
A Psicanálise e o Estruturalismo em Lacan
Segundo Freud, quando o menino é separado do corpo da mãe - ao qual esteve unido desde a gestação - logo após o período de amamentação, passa a nutrir desejo por ela e a rivalizar com o pai, ao ser reprimido pela autoridade paterna que se coloca entre ele e a mãe. Inversamente, segundo ele, é a menina que nutre desejo pelo pai e passa a rivalizar com a mãe, para ser então reprimida pela autoridade materna. Para ele, o indivíduo é essencialmente regido por impulsos prazerosos e libidinosos, mas, ao crescer, ele passa a tomar consciência dos limites impostos pela autoridade social das leis e da moral que tentam controlá-lo e modulá-lo através das instituições sociais representadas desde a família, até a escola, a igreja, o trabalho, etc.
Em outras palavras, ao nascermos sob o princípio de prazer, logo somos reprimidos pelo princípio de realidade imposto pelas instituições sociais que operam na modulação da consciência do sujeito. Como afirma Terry Eagleton, sobre o complexo de Édipo, em seu capítulo sobre a psicanálise:
“Não se trata apenas de mais um complexo: ele é a estrutura das relações pelas quais chegamos a ser os homens e as mulheres que somos. É o ponto em que somos produzidos e constituídos como sujeitos, e um dos problemas que ele nos cria é o de ser sempre, de alguma forma, um mecanismo parcial e incompleto. Ele indica a transição do princípio de prazer e o princípio de realidade; do âmbito fechado da família para a sociedade em geral, já que passamos do incesto para as relações extrafamiliares; (...)” (EAGLETON, 2003, p. 216)
Assim, postergamos a felicidade ao sacrificarmos o prazer imediato em nome de uma sociedade equilibrada, igualitária e uma realidade ideal. Consequentemente, ao invés do bem-estar, estabilidade e felicidade prometidas, a impossibilidade de realização deste ‘ideal’ pode desencadear em nós a frustração, a insegurança, a instabilidade, a angústia, e em alguns casos isso se agrava até as depressões, neuroses, psicoses e esquizofrenias.
A investigação freudiana do inconsciente era feita por meio dos sonhos, das pulsões, dos instintos, atos falhos, lapsos, mas, sobretudo da oralidade, como parte determinante no tratamento psicanalítico.
A psicanálise freudiana utilizava a técnica da transferência, quando o paciente revelava o inconsciente por meio da fala, deixando de ser apenas uma teoria da mente humana para uma prática de tratamento psíquico.
Desse modo, a transferência assemelha-se a uma forma ficcional à medida que o paciente se projeta através da linguagem numa narrativa de si, ao passo que o analista faz a ‘leitura interpretativa’ da estrutura profunda e inconsciente revelada simbolicamente pela oralidade, numa tentativa de materializar o sujeito pela sua alteridade radical, ao mesmo tempo desejante e reprimida pela consciência.
Nós já vimos, inclusive, que esta valorização do inconsciente pela espessura fonológica da fala (oralidade) foi objeto das pesquisas de Saussure e, logo em seguida, apropriada por Lévi-Strauss ao investigar a estrutura inconsciente dos índios. Por sua vez, este também assumiu tersido influenciado pelos estudos de Freud e seu método da transferência, segundo ele mesmo reconheceu em entrevista a François Dosse: “Li na época, entre 1925 e 1930, tudo o que estava traduzido de Freud, que desempenhou, portanto, um importante papel na formação de meu pensamento”. In.: DOSSE, François. História do estruturalismo. São Paulo: Edusc, 2007. p. 164.
No entanto, foi Jacques Lacan quem estabeleceu a aproximação entre a psicanálise e o método estrutural, ao retomar Freud, Saussure e Lévi-
-Strauss, pois, quando falamos da influência de Lévi-Strauss em Lacan, ela se estabeleceu a partir do momento em que este se apropriou do método estrutural daquele, ao reconhecer que o inconsciente é regido pela função simbólica das trocas entre o eu e o outro.
“Pela simbiose que ele realiza com a obra levi-straussiana, Lacan também tem por ambição fazer participar os avanços da psicanálise no projeto antropológico global de reflexão sobre a sutura natureza/cultura. Daí a importante temática do Outro em Lacan, reflexão sobre a alteridade, sobre o que escapa à razão, sobre o lugar da falta, sobre a descentralização do desejo, sobre sua errância.” 
(DOSSE, 2007, p. 171-2)
Segundo François Dosse, ao apropriar-se de Lévi-Strauss, Lacan o faz na tentativa de estabelecê-lo como modelo de cientificidade para seu discurso psicanalítico, ao fundamentar a alteridade inconsciente do sujeito, pela simbiose entre a etnologia, a linguística e a psicanálise.
Além da base científica estrutural, é importante registrar o contato de Lacan com a arte de vanguarda. Esta aproximação ocorreu a partir de seus encontros com os surrealistas, ao interessar-se pela Escritura Automática, como meio de exploração simbólica do inconsciente. Segundo François Dosse, ao referir-se a Lacan em A história do estruturalismo, ele afirma que: 
“(...), seu modo extremamente singular de escritura, o seu estilo, deve-se sobretudo ao interesse pelos meios surrealistas, por ele freqüentados com assiduidade. Amigo de René Cravel, relaciona-se com André Breton, saúda em Salvador Dalí uma renovação surrealista e, em 1939, passa a viver com a primeira mulher de (George) Bataille, Sylvia, com quem se casará em 1953.” (DOSSE, p. 140)
Do Significante Lacaniano à Escritura Automática Surrealista
Creio na resolução futura desses dois estados, aparentemente tão contraditórios, tais sejam o sonho e a realidade, em uma espécie de realidade absoluta, de super-realidade se assim se pode chamar. 
André Breton
A psicanálise de Jacques Lacan é marcada pelo retorno ao estado pré-edipiano da formação do sujeito. Ao considerar que no complexo edipiano a identidade da criança é constituída pela família, pela diferença sexual, pela exclusão, pela ausência e pela autoridade confrontada, Lacan diz que é durante esta fase que a criança passa a ter contato com a linguagem, ao expressar o seu desejo através de imagens ou signos referenciais.
Em outras palavras, ao mesmo tempo em que a linguagem expressa substitui o objeto a que a criança se refere, ela só o faz no momento em que percebe a ausência deste mesmo objeto, considerando que só é possível desejarmos aquilo que nos falta.
Enquanto para Freud o inconsciente era mensurado pela repressão da libido por parte das instituições sociais, para Lacan a estrutura inconsciente evidenciou-se pelo desejo e ausência, sob a dimensão social da linguagem, ou seja, a partir do desejo afirmativo do inconsciente a linguagem se torna sua representação simbólica, ao cumprir a função de representar o objeto que falta.
“Ao ganhar acesso à linguagem, a criança pequena inconscientemente aprende que um signo só tem significação porque se difere de outros signos, e aprende também que o signo pressupõe a ausência do objeto que significa.” (EAGLETON, 2003, p. 229)
Segundo Lacan, esta representação simbólica constitui-se como uma cadeia de significantes que ordena o pensamento pré-consciente. Durante esta fase, o pensamento é estruturado por signos imagéticos, o que já constitui propriamente uma linguagem.
Podemos citar os sonhos e os pesadelos como reflexos do funcionamento deste universo simbólico. Após esta fase, o pensamento da criança passa a ser estruturado pela linguagem falada e em seguida pela escrita, quando ela passa a inscrever-se como signo ao manifestar-se através da linguagem propriamente social.
Para Jacques Lacan, o lugar do sujeito deixa de ser apenas um receptáculo social da consciência reativa e reprimida de Freud para ser marcado pela dimensão inconsciente das trocas simbólicas com o outro, ou seja, é um novo sujeito moderno marcado pelo signo afirmativo do desejo e designado pelo outro como um significante e não mais como um sujeito que expressa sua subjetividade.
Isso quer dizer que o sujeito é visto como um significante pelos outros sujeitos (também significantes), o que afirma a preponderância deste sistema de significantes da linguagem sobre nossa estrutura inconsciente profunda, pois, se perguntamos ‘quem é aquele’ (sujeito)? Ele será imediatamente designado por um significante, seja pelo nome próprio ou sobrenome, seja por apelido ou profissão, cidade natal, por uma característica diferencial, como ‘o José’, ‘o Assis’, ‘o Zé’, ‘o bombeiro’, ‘o Pará’, ‘aquele do chapéu’, ‘aquele de óculos’, ‘aquele de bigode’, e não por um traço da subjetividade.
Se para Lacan o sujeito é um signo, ele não  é no sentido de Saussure, como um signo puramente linguístico, e sim como um signo desejante e dinâmico, na forma de um ‘significante desejante’ que se retira constantemente para dar lugar a outros significantes que demandam sua existência enquanto sujeito. Para ele, o sujeito moderno cartesiano é descentralizado (de sua razão e autossuficiência) pelo desejo, e passa a ser reconhecido somente a partir de sua relação com o outro – conceito apropriado de Lévi-Strauss -, para o qual o inconsciente era o lugar social das trocas simbólicas com o outro.
Sendo que a dimensão real, segundo ele, é inapreensível pelo simbólico da linguagem e está para além do desejo. Ele considera que o real é a dimensão que está sempre a escapar, seja da razão, da forma ou de qualquer definição, e pode ser exemplificada pelo gozo, como sendo algo que só é possível atingir pela troca com o outro.
Em termos literários, esta aproximação do inconsciente como espaço imaginário e desejante das trocas com o outro pode ser exemplificada pelo poema de Stéphane Mallarmé, Um lance de dados (Um coup de dês), ainda no século XIX, e mais tarde pela eclosão do surrealismo e sua Escritura automática, no início do século XX.
Em Um lance de dados, Mallarmé subverteu tanto a forma tradicional versificada e lírica, quanto o modo de leitura contemplativa da obra, ao transpor seu objeto para a própria linguagem literária e exigir do leitor algo além da mera contemplação do objeto.
Ao privilegiar a materialidade dos signos na espacialidade da página, focalizou-se a linguagem segundo suas formas tipográficas e a sintaxe espacial do texto, ao desvalorizar a versificação, a métrica, a rima, e consequentemente delegar ao leitor a produção do sentido ou da significação ao acaso da leitura participante, e em detrimento da figura (ex) dominante do sujeito autor.
Segundo ele, o texto literário se assemelha tal e qual a um jogo de dados que está sempre a revelar ao acaso o resultado numérico final. Assim, a significação de um texto literário só será possível a partir da efetiva ressignificação dos signos pelo leitor, como se o texto fosse um jogo que se joga com palavras. Em outras palavras, é preciso que o leitor jogue com os signos até extrair um sentido que, por sua vez, jamais permanecerá, pelo fato de escapar - tal e qual o real lacaniano - a qualquer atribuição definitiva.
Num jogo de dados, embora os números sejam sempre os mesmos, jamais saberemos de antemão qual será a combinação numérica ao lançarmos os dados, assim como o próprio título Um lance de dados e seu epíteto ‘jamais abolirá o acaso’ apontam metaforicamente o valor lúdico de ‘jogarmos’ como significado dos mesmos significantes no texto poético.
É como se o pensamento funcionasse deste modo, sempre ‘jogando ao acaso’ com os signos que o estruturam em inconstante estabilidade, ao produzir a significação variável e contingente. Entretanto, muito embora o inconsciente seja a manifestação natural dos nossos impulsos, instintos, desejos, lapsos de memória, atos falhos e sonhos, sua realidade só foi ‘aceita e reconhecida’ pela comunidade científica a partir do momento em que Freud o ‘descobriu’, através de suas pesquisas.
No início do século XX, após a ‘descoberta’ de Freud, alguns artistas de vanguarda criaram seus manifestos literários e romperam absolutamente com os modelos institucionais. O que eram as vanguardas e o que elas pretendiam?
O termo vanguarda vem da expressão francesa ‘avant garde’ (contrária à expressão ‘arret garde’, em português ‘retaguarda’ ou o que vem atrás) e significa aquele destacamento de soldados que vêm ‘à frente’ de todos os outros.
O termo foi apropriado pelos artistas devido à atmosfera bélica daquele período, já que muitos deles lutaram ou foram vítimas das batalhas e guerras, seja da Primeira Grande Guerra ou da Revolução Russa.
Os artistas de vanguarda inauguravam o espírito moderno e revolucionário do século XX e propunham a revolução social e cultural através da revolução artística. Este ímpeto revolucionário cultivava a fusão das linguagens estéticas e a livre experimentação técnica e formal, além da oposição radical e da crítica bem humorada ao academicismo, à mentalidade materialista e utilitarista do homem civilizado na era industrial moderna.
Eram as Vanguardas Europeias do início do século XX, e as de maior impacto foram: o expressionismo, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo. Clique em cada imagem e veja quem são esses artistas e quais suas principais obras.
A arte de vanguarda do início do século XX colocava em xeque a lógica industrial da modernidade, diante da Primeira Guerra Mundial em 1914 e da Revolução Russa de 1917, quando os artistas e intelectuais romperam com as instituições acadêmicas e os modelos ortodoxos, que já estavam bastante desgastados e impertinentes diante daquela realidade bélica,  sinalizando a crise do homem civilizado em meio aos avanços científicos e tecnológicos da sociedade moderna industrial.
Os artistas valorizavam a liberdade de experimentação técnica, pela valorização da realidade fantástica, onírica e maravilhosa do espírito imaginário e sonhador, pelo retorno ao ludismo da infância. Enfim, pretendiam expandir a consciência tão limitada pelo objetivismo ordinário da vida moderna através da arte, além do uso de entorpecentes e do misticismo como meio de transcendência.
No Brasil, sabemos que as vanguardas foram determinantes para o nosso modernismo, quando Mário de Andrade, afirmou, inclusive, que sua obra prima Macunaíma foi escrita sob a experimentação do método automático surrealista, além de subverter a sintaxe e a linearidade narrativa pela fragmentação e valorização do elemento lúdico, mítico e maravilhoso. Além dele, muitos outros artistas absorveram o espírito radical surrealista, como o poeta Murilo Mendes.
	
Aula 04: Estruturalismo e Psicanálise
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Verificar a relação entre o prazer da linguagem e o poder do discurso, entre a linguística e a psicanálise na semiologia de Roland Barthes;
2. abordar a valorização do leitor e do texto como espaço social das trocas, em detrimento do autor e da obra, segundo Roland Barthes.
Análise Estrutural e Semiológica em Roland Barthes
A literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso. Por um lado, ele permite designar saberes possíveis – insuspeitos, irrealizados: a literatura trabalha nos interstícios da ciência. Roland Barthes
Vimos anteriormente que o método estrutural consiste em identificar as partes que integram e compõem a estrutura do texto literário enquanto um sistema, ao reconhecer seus níveis, suas relações e condições de funcionamento.
Vimos também que não há um modelo canônico de análise estrutural estabelecido, uma vez que, ao levantar os elementos estruturais e a lógica de funcionamento de um texto, busca-se revelar não apenas seus elementos invariantes, mas seus desvios e possibilidades significativas que variam segundo as múltiplas abordagens e leituras.
Sabemos que a análise estrutural das narrativas iniciou-se com a linguística de Truzbetskoy, Saussure e Jakobson, ao fornecer as bases para Vladimir Propp identificar as esferas nucleares de ação dos contos fantásticos russos para em seguida influenciar o método de Levi-Strauss em seus estudos etnográficos sobre as narrativas primitivas.
Em Roland Barthes, a análise estrutural da narrativa ultrapassou o nível da linguagem e atingiu o nível do discurso, ao objetar-se para além da estrutura linguística e funcional, e almejar a estruturação do enunciado e da enunciação do texto. Para ele, a compreensão de um texto evidencia-se pelos níveis funcionais das ações que determinam o curso da narração, e não apenas pela linearidade e encadeamento dos episódios, segundo uma progressão sequencial.     
Em seu texto Introdução à análise estrutural da narrativa, Barthes estabeleceu uma espécie de desenvolvimento da ciência ou teoria das narrativas, cujo método apresentado por ele sintetizou praticamente todos os analistas da narratologia, desde os formalistas até A. J. Greimas, Emile Bienveniste, Claude Brémond, Tzvetan Todorov e Gérard Genette. O delineamento deste conteúdo está presente na apostila impressa, em capítulo integral retirado do livro Análise estrutural da narrativa. (BARTHES, Roland et alii. Análise estrutural da narrativa. 6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009).
Em seguida, verificamos que os índices pertencem ao campo da significação, e funcionam como elementos ‘indicadores’ da personagem ou do ambiente, como uma significação a ser preenchida pelo leitor. Já os informes são dados objetivos, diretos e imediatos das personagens, como informações fornecidas prontamente ao leitor.
Vejamos como modelo, este parágrafo da narrativa
A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa In.: ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. (p. 32-7)
“Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.” (ROSA, 1969, p. 33)
O núcleo está na ação “Nosso pai não voltou”, e a catálise em “Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, nunca mais.” 
O índice está em “A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia.” Enquanto o informe está em “Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.” 
Logo, mais do que um método literário, a consciência estrutural implica em distinguir em um texto literário - seja em uma frase, um parágrafo ou em um capítulo - o que é determinante e o que é complementar, o que é nuclear e o que é adjacente.
A diferença é que o método de Barthes propõe a passagem da análise estrutural para a análise textual, que pode igualmente ser chamada de análise semiológica, ao colocarmos os signos em sua perspectiva social, ou seja, ao explorar o texto como espaço das trocas inconscientes. 
Pois é justamente pela natureza simbólica do texto, e por ser o texto um sistema coerente de signos linguísticos, é que Barthes propõe a criação de novos códigos e modelos de análise da linguagem literária, ao considerar que o texto enquanto sistema possui uma inteligibilidade autônoma, própria, conforme a pluralidade de significações que podem ser veiculadas pelaprópria escritura.
Novamente segundo Orlando Pires, Barthes propõe em sua análise textual a investigação de sua estruturação e não de sua estrutura, ou seja, ao considerar a narrativa enquanto um texto gerador de sentidos, sem se afastar do texto significante. 
Assim, Barthes estabelece o modo pelo qual um texto pode ser desconstituído em sua pluralidade de sentidos ao dividir o texto em lexias (unidades de leitura, como uma frase ou trecho de frase, pequeno grupo de frases ou até mesmo uma palavra) e em seguida reorganizá-lo segundo os códigos (campos associativos) possíveis. 
PIRES, Orlando. Manual de teoria e técnica literária. Rio de Janeiro: Presença, 1985. (p. 169-170)
Clique no ícone PDF e conheça os códigos.
Segundo Roland Barthes, em O prazer do texto, o leitor é um espaço impalpável, intangível e indecifrável, é a ficção de um indivíduo estranho, contraditório e misteriosamente humano, além de ser um espaço crítico irredutível e impessoal. Ele trafega no texto ao nível orgânico do desejo e da sensibilidade, pois, como ele próprio diz “o desejo é mais forte que sua interpretação”. Seja o desejo por aquilo que falta, ou talvez, o desejo de ser surpreendido.
O texto, o leitor e o prazer
 
A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa.
Roland Barthes
A análise textual e semiológica de Barthes concentra-se inicialmente em seus dois ensaios A morte do autor e Da obra ao texto, quando ele desarticula a concepção tradicional da literatura ao desconstruir os conceitos de autor e obra, privilegiando, respectivamente, o leitor e o texto literário, a leitura e a escritura. In.: BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
Para ele o conceito de autor é oriundo de uma lógica cartesiana e uma psicologia romântica, onde a realidade gira e é produzida em torno do Eu. Assim, a literatura ficou restrita a uma origem pessoal e intransferível da figura do sujeito autor que prevalece sobre a obra como se esta fosse somente possível de ser ‘explicada’ pela sua existência. Ou ainda, como se a obra fosse uma projeção da interioridade e experiência pessoal do autor, sendo este, então, o revelador de suas confidências.
Barthes demonstra que o domínio do autor sobre o texto é fruto de nossa sociedade moderna, já que, segundo ele, mesmo nas sociedades primitivas, as narrativas míticas jamais estiveram atreladas a uma pessoa, a uma autoralidade humana, mas pertenceram à tribo, e jamais foram assumidas “por uma pessoa, mas por um mediador, xamã ou recitante, de quem, a rigor, se pode admirar a ‘performance’ (isto é, o domínio do código narrativo), mas nunca o ‘gênio’.”   Ibidem, p. 58.
“O autor é uma personagem moderna, produzida sem dúvida por nossa sociedade na medida em que, ao sair da Idade Média, com o empirismo inglês, o racionalismo francês e a fé pessoal na Reforma, ela descobriu o prestígio do indivíduo ou, como se diz mais nobremente, da ‘pessoa humana’. Então é a lógica que, em matéria de literatura, seja o positivismo, resumo e ponto de chegada da ideologia capitalista, que tenha concedido a maior importância à ‘pessoa’ do autor.” (BARTHES, 2004, p. 58)  
Neste ensaio, Barthes afirma que a moderna poesia ocidental teve seu marco determinante com Mallarmé no poema Um lance de dados, quando o poeta francês desumanizou o foco literário e o transferiu para a linguagem, ao revelar o texto em sua espacialidade dinâmica, lúdica, dos significantes na página em branco, e exigir a intervenção do leitor sobre a escritura.
Em seguida, no mesmo ensaio, ele cita o Surrealismo e a Escritura automática como sendo outra ‘sacudida’ no império do autor, já que a escrita automática derrubava a consciência racional ao mesmo tempo em que revelava outra esfera do pensamento, anterior à razão e à lógica, como a manifestação de nossa realidade inconsciente materializada através da linguagem.
Com estas demonstrações, Barthes ressaltou que é a escritura que deve ser valorizada na dinâmica literária, e não o autor, já que este desaparece no próprio ato literário, pois quando começa a escrever ocorre um ato de desligamento com toda a origem pessoal, social, afetiva ou histórica do autor.
Isto significa que o texto literário jamais é uma confissão, mas sim uma ficção impessoal, uma criação produzida segundo certa linguagem estilizada de modo que esta escritura, esta matéria verbal, comunique-se com outros leitores segundo a marca de sua humanidade impessoal, ao permitir ser relida, recriada e ressignificada múltiplas vezes, em diversos momentos, por diversas pessoas, em diversos lugares da cultura.  
Logo, para Barthes, se de um lado desconstrói-se a individualidade e humanidade do sujeito autor, por outro se desconstrói a convenção reducionista do conceito de obra, ao referir-se ao livro, ao texto, ou à escritura. Se o autor é um sujeito, uma razão, ou um discurso, então ele é um domínio, um poder, uma anterioridade, ou até mesmo um lugar ideológico. Ou seja, ele é um lugar determinado por sua discursividade, sua sociedade, sua história, sua consciência, suas ações e demandas. Barthes conclui que o autor é apenas aquele que escreve e diz ‘eu’, uma vez que a linguagem conhece ‘um sujeito’, um pronome, mas não uma pessoa.
De modo semelhante, o conceito de obra tornou-se bastante reducionista à medida que a obra é sempre concebida como um produto acabado, pronto para o consumo, ou como um objeto que está na prateleira da estante, seja da livraria, biblioteca ou da própria casa. Em suma, tal como o conceito de autor, a obra é reduzida a uma mera função social.
Em contrapartida, para Barthes, a literatura deixa de ser ‘obra’ quando é lida, percorrida, explorada, comparada e ressignificada em sua multiplicidade, diversidade e expansão de significações. Sejam pelas referências, citações, paródias, ecos e intertextualidades, ou pelos ruídos, sons, silêncios, cores, luzes, temperaturas e vozes, entre substâncias heterogêneas, entre planos que se revezam ou superpõem-se, o texto é esse espaço aberto, dinâmico, irredutível e não computável. É isto que sua análise textual e semiológica propõe: sair do nível da linguagem para o do discurso.
Segundo Barthes, o texto é plural, é um campo de signos aberto às trocas sociais, ou seja, é esse grau zero, esse espaço neutro onde giram os saberes e sujeitos, onde prevalece este sistema de signos operados em rede, e deve ser trazido à tona pela sua tessitura constituída de múltiplas dimensões, pela irredutível permeabilidade de seu tecido, pela multiplicidade de camadas que se interpenetram e compõem sua escritura.  
Deste modo, ao afastar o autor de sua imperiosa posição de origem, de seu status de sujeito dominante na literatura, Barthes substitui a relação consagrada entre o autor e a obra por uma nova perspectiva, na abertura de um novo espaço configurado pela relação entre o texto e o leitor.
Para Barthes, a literatura é - pelo prazer e subversão do código linguístico - um lugar fora do poder, e por isso utópica. Enquanto a linguagem é um topos, a literatura faz girar seus limites, e torna-se esse espaço aberto, múltiplo, intangível, impossível, incomputável, incapturável e, contudo, social.
A escritura literária é um modo de desarticulação do poder, por se inscrever à margem dos discursos instituídos na linguagem, por fora dos lugares consagrados, ao ecoar nas brechas, fendas e interstícios do poder, seja ele oriundo da gramática, da ciência, da religião ou da ideologia.
Seja como uma espécie de jogo erótico que se estabelece com o texto, que se deixa entrever, sem revelar-se inteiramente, ao jogar com o desejo do leitor em ir até o fim, pelo que falta e jamais é preenchido.
Além disso, a literatura é considerada utópica por alojar--se entre a linguagem cotidiana e a linguagem estilística, dentro da perspectiva semiológica que envolve o psíquico e o social através do signo e da lógica das formas no espaço, quando Barthes retomou Saussure.
Ao afirmar que a literaturadeve ser vista sob a perspectiva da busca pelo prazer e gozo, pelo desejo daquilo que falta, da troca com o outro no espaço do texto, ele apropria-se do pensamento de Lacan, quando a utopia da linguagem está no ato de desejar justamente esse espaço real e impossível.
Logo, o prazer do ato literário é uma necessidade, uma ética, e está presente tanto no impulso desejante da escritura quanto no ato da leitura, ao considerar o desejo como marca deste novo sujeito leitor (mais uma vez sob a influência de Lacan), enfim, daquele que busca na leitura uma experiência vivencial movida pelo prazer e gozo. Para Barthes, “Esse homem seria a abjeção de nossa sociedade: os tribunais, a escola, o asilo, a conversação, convertê-lo-iam em um estrangeiro: quem suporta sem nenhuma vergonha a contradição? Ora este contra-herói existe: é o leitor de texto; no momento em que se entrega a seu prazer.” (BARTHES, 2002, p. 8)
Contudo, enquanto o estruturalismo criou uma espécie de sintaxe funcional (ou gramática das narrativas) ao sistematizar os elementos formais e estruturais para além das ações e funções que compõem a matriz narrativa, até o nível profundo da linguagem social e inconsciente, Barthes foi ainda mais adiante, ao analisar o texto literário em sua dimensão semiótica e semiológica, segundo o desejo e o prazer que só a literatura pode proporcionar ao leitor.
1- De acordo com  o professor Orlando Pires, o método de análise literária de Roland Barthes divide-se em duas abordagens. Marque a opção que representa a resposta correta.
Análise estrutural e a análise textual.
Análise textual e análise literária. 
Análise estrutural e análise indicativa.
Resposta: letra a 
2- De acordo com o texto, os índices pertencem ao campo da significação, e funcionam como elementos...
Indicativos.
Pensativos.
Avaliativos.
Resposta: indicativos
SLIDES 
A teoria psicanalítica ocasionou impacto nos estudos literários como modalidade de interpretação e como uma teoria sobre a linguagem, a identidade e o sujeito. O maior impacto da psicanálise ocorreu a partir do trabalho de Jacques Lacan, psicanalista francês que montou sua própria escola retornando Freud. Afirmava que os pós-freudianos haviam se desviado, propondo um retorno a Freud. No período pós-freudiano, antes de Lacan, as inquietações na área se reduziam, salvo algumas exceções, a formas obsessivas de evitar qualquer ação. A psicanálise devia se manter no pensamento, ou pior, na demonstração dos sentimentos, ou seja, no eixo imaginário.
Para isso, utiliza-se da linguística de Saussure e posteriormente de Jakobson e Benveniste e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo. 
Lacan descreve o sujeito como um efeito da linguagem e enfatiza a importância do que Freud chamou de transferência, colocar o analista no papel de figura de autoridade do passado.
Ou seja, a maneira como analista e paciente são apanhados na representação de um cenário decisivo vindo do passado do paciente. Esta reorientação torna a psicanálise uma disciplina pós-estruturalista em que a interpretação é uma reapresentação de um texto que ela não domina. 
Podemos notar que a evolução da moderna teoria literária é muito mais que uma relação entre a agitação política e ideológica do século XX, pois essa agitação não é apenas uma questão de guerras, desesperanças econômicas e revoluções, uma vez que é sentida por aqueles que nela estão envolvidos de modo intensamente pessoal. Logo, ela é tanto uma crise das relações humanas e da personalidade humana, quanto uma convulsão social.
“A motivação da sociedade humana é, em última análise, econômica” (Freud)
Para ele o que tem dominado a história humana até agora é a necessidade de trabalhar, e essa dura necessidade significa que precisamos reprimir algumas de nossas tendências ao prazer e à satisfação. 
Repressão do “princípio do prazer” em favor do “princípio da realidade”.
Para alguns de nós, e possivelmente para sociedades inteiras, a repressão pode se tornar excessiva e nos transformar em doentes.
Aceitamos a repressão desde que ela nos ofereça alguma coisa em troca, mas se as exigências são excessivas, provavelmente, adoecemos. São as neuroses.
É importante ver que essa neurose é parte daquilo que em nós é criativo, enquanto raça, mas também é parte das causas de nossa infelicidade. Para Freud, uma maneira pela qual podemos enfrentar os desejos que temos condições de satisfazer é “sublimando-os”, dirigindo-os para uma finalidade de maior valor social. Como por exemplo, podemos encontrar uma saída inconsciente para a frustração sexual na construção de pontes ou catedrais. Será em virtude de sublimação que a própria civilização irá surgir, pois ao desviar os instintos para esses objetivos superiores a própria história cultural é criada.
Podemos notar que enquanto Marx analisou as consequências de nossa necessidade de trabalhar em termos de relações sociais, classes sociais e formas de política, Freud estudou as suas implicações para a vida psíquica. 
A contradição está no fato de que somos o que somos devido a uma repressão maciça dos elementos que participaram de nossa criação. É claro que não temos consciência disto, pois o lugar onde exilamos os desejos que não somos capazes de satisfazer é denominado “inconsciente”.
O complexo de Édipo tem uma enorme relevância na obra de Freud, já que não é simplesmente mais um complexo. Ele, na verdade, é a estrutura das relações pelas quais chegamos a ser os homens e mulheres que somos, ou seja, é o ponto em que somos produzidos e constituídos como sujeitos. 
Ele é para Freud o início da moral, da consciência, do direito e de todas as formas de autoridade social e religiosa. O sujeito humano que surge desse processo é um sujeito dividido, separado de modo precário em consciente e inconsciente. 
A estrada para o inconsciente são os sonhos que, para Freud, são as realizações dos desejos do inconsciente e se vestem de forma simbólica. Ao dormir, o inconsciente disfarça, ameniza e deforma seus significados e os sonhos se tornam textos simbólicos que precisam ser decifrados. O inconsciente pode condensar uma série de imagens em uma “frase”, por exemplo, ou deslocar a forma de um objeto para outro a ele associado. Desse modo, o sonho pode transferir os sentimentos negativos que temos por alguém para um animal que tem o mesmo nome.
Essa condensação e deslocamento do significado equivale ao que Jakbson identificou como as duas operações primordiais da linguagem humana: 
Metáfora - condensação de significados em conjunto. 
Metonímia – deslocamento de um para outro.
Isso levou ao comentário de Lacan de que “o inconsciente se estrutura como uma linguagem”.
A obra de Lacan é uma tentativa de “reescrever” o freudianismo de modo relevante para todos os que se interessam pela questão do sujeito humano, seu lugar na sociedade e, principalmente, sua relação com a linguagem. Esta preocupação com a linguagem é que torna Lacan interessante para os teóricos de literatura.
Ele procura em seus “escritos” reinterpretar Freud à luz das teorias estruturalistas e pós-estruturalistas do discurso. 
Lacan partiu do princípio de que o inconsciente é formado por aquilo que foi contido pelo sujeito, surgindo através do discurso do “sujeito” na experiência analítica. O conteúdo inconsciente se conserva latente até quando é transformado em conteúdo manifesto a partir dos mecanismos de metáfora e metonímia, unidos com a dinâmica dos significantes. Os termos “significante” e “significado”, de Saussure, o ajudaram a formalizar os processos de metáfora e metonímia no inconsciente e analisar como os indivíduos entram na linguagem e se tornam “sujeitos”. 
Metáfora, para ele, é um processo de seleção vertical - a substituição das palavras na cadeia significante do discurso, ou seja, um meio criativo que reduz, restitui e inventa novas palavras na cadeia em determinado momento no tempo, em uma dimensão sincrônica.Metonímia, é um processo horizontal de combinação das palavras na cadeia significante, no qual um significante desloca para outro, em uma dimensão diacrônica, ou seja, uma cadeia de eventos sucessivos. 
O Eu fixo e estável, é uma ficção romântica na visão de Lacan. Ele é constituído de linguagem, uma linguagem que nunca é sua própria, mas sim sempre de outra pessoa, sempre já em uso. O sujeito só tem consciência de si a partir do “Outro”. 
A linguagem, o inconsciente, os pais, a ordem simbólica; na obra de Lacan esses termos não são propriamente sinônimos, mas estão ligados intimamente. Ele, às vezes os menciona como “Outro”, o que é sempre anterior a nós, como a linguagem, e sempre nos escapará. Para ele, o nosso desejo é, de certa forma, sempre recebido do “Outro”.
Nesta aula, demonstramos a correspondência simbólica entre o indivíduo e a sociedade, através da relação entre o inconsciente e a linguagem, considerando, a partir de Saussure e de Levi Strauss, o inconsciente como estrutura constituinte do outro, das trocas e relações sociais.
Abordamos a tentativa da Psicanálise de Sigmund Freud e de Jacques Lacan de explicar o modo de funcionamento do inconsciente pelo desejo e sua repressão.
Demonstramos o modo pelo qual a civilização se baseia na permanente subjugação dos instintos humanos, subvertendo a energia sexual do indivíduo para o trabalho, e o seu desejo, para o consumo. 
AULA 5- DA RECEPÇÃO AO EFEITO ESTÉTICO
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Abordar o método de análise literária da Estética da Recepção;
2. verificar a continuidade do método teórico-analítico da Recepção a partir da Teoria do Efeito Estético.
A Estética da Recepção, de Hans Robert Jauss
“A experiência primária de uma obra de arte realiza-se na sintonia com seu efeito estético, isto é, na compreensão fruidora e na fruição compreensiva.” Hans Robert Jauss
A Estética da Recepção foi uma corrente literária de origem alemã, criada por Hans Robert Jauss e que teve sua linhagem prolongada mais tarde pela Teoria do efeito estético, por Wolfgang Iser e Hans Gumbrecht.
Origem da corrente literária
Inicialmente, a Estética da Recepção surgiu como uma reação à perspectiva impressionista focada no autor e à escola semiológica francesa na literatura, representada por Roland Barthes.
O manisfesto de Hans Robert Jauss
Entretanto, foi através de um manifesto intitulado A história literária como desafio à ciência literária, de Hans Robert Jauss, que se evidenciou sua focalização hermenêutica, onde se privilegiou a importância do domínio histórico e social na interpretação do texto literário pelo receptor ou leitor.
A Teoria da Recepção
A Teoria da Recepção se estabeleceu pela investigação das possibilidades interpretativas do leitor sobre o fato literário, ao delimitar os sentidos despertados pelo texto literário segundo uma verificação hermenêutica, situada entre o horizonte das leituras de um passado histórico em relação às leituras do presente.
Metodologia da obra
Esta teoria estabeleceu como metodologia eliminar a valorização humanista do autor sobre o fato literário com o propósito investigativo de rastrear de que modo a herança cultural (histórica e social) do leitor poderia influenciar em sua expectativa e interpretação, além do efeito estético provocado pela obra.
“A estética da recepção comporta uma distinção básica entre um estudo da recepção propriamente dita e uma análise do chamado efeito ou impacto que um texto pode provocar. Estas duas perspectivas correspondem a aspectos diferentes de um mesmo problema. A recepção diz respeito ao modo como os textos têm sido lidos e assimilados nos vários contextos históricos. Procurando mapear as atitudes que determinaram certo modo de compreensão dos textos numa situação histórica específica, o estudo da recepção depende, de forma quase exclusiva, das evidências disponíveis. A perspectiva recepcional visa, portanto, a identificar claramente as condições históricas que moldaram a atitude do receptor num dado período da história, numa determinada circunstância à qual juízos sobre literatura foram transmitidos. Assim, o objetivo primordial deste tipo de estudo consiste na reconstrução das condições históricas responsáveis pelas reações que a literatura, tomada em seu sentido amplo, podia provocar.” (ROCHA, 1999, p. 2)
	Ao romper com a visão tradicional da produção e representação da obra literária, a Estética da Recepção instaurou um novo momento na literatura moderna, ao estabelecer a literatura enquanto um sistema triádico entre: a produção (o autor), a recepção (o leitor) e a comunicação (e a obra). Consequentemente, a literatura passou a ser vista sob uma dupla perspectiva em seu ato de leitura, considerado pela dimensão da obra, e pela projeção de um leitor como produto de sua sociedade.
	A Estética da Recepção reconheceu que a obra não admitia mais o caráter tradicional de monumentalidade absoluta, mas concebia o texto literário como um sistema em que se constituem diversas intencionalidades interpretativas, de modo que os signos despertem e possibilitem uma consciência do leitor determinada pela sua focalização crítica, dentro da relação dinâmica entre autor, obra e leitor.
Entretanto, a Estética da Recepção, como o próprio termo ‘recepção’ sugeriu, privilegiou o leitor como objeto de sua teoria literária hermenêutica, ao recusar a figura autoral de origem humanista e impressionista - onde só era possível colher impressões subjetivas sobre o fato literário, e, por isso, foi denominada como crítica ‘impressionista’ -, e por considerar que este método se aplicava a partir de três momentos, que seriam:
A leitura imediata que visa à assimilação espontânea e compreensão inicial.
A leitura reflexiva que visa à mediação e interpretação retrospectiva. 
A leitura investigativa que visa à pesquisa do horizonte histórico, desde a gênese até o efeito da obra no leitor, ao confrontar, analisar e aplicar os horizontes do passado e presente, além de todas as outras interpretações possíveis.
Desse modo, o sistema metodológico de Jauss propôs o fato literário como um objeto constituído tanto por uma visão formal do texto literário, quanto pela sua visão de uma consciência legitimada como resposta à expectativa do leitor. A metodologia da Estética da Recepção fundamentou sua aplicação a partir de dois conceitos: TEMA E HORIZONTE.
O Tema é a ideia central ou unidade lógica que constitui a consciência do texto literário e que estará sempre emoldurado por um Horizonte, implicando na apreensão de uma localização ou visibilidade possível, sempre condicionado ao processo hermenêutico do observador, que o tornará pertinente e visível na medida em que o insere dentro de um contexto, assim chamado Horizonte.
Evidentemente que todo Horizonte é, antes de qualquer apreensão, uma delimitação temporal, ou seja, uma colocação do Tema em uma perspectiva histórica. Porém, se o desejo do leitor for uma investigação histórica do objeto literário, é o tempo que se constituirá como Tema da obra em foco. Entretanto, tais conceitos (Tema e Horizonte) tornam-se dinâmicos e variáveis por fundirem as etapas da leitura (compreensão e interpretação) como atos complementares, como acena Jauss em seu ensaio O texto poético na mudança de horizonte da leitura.
Desse modo, percebe-se que a recepção da obra implica em uma relação dialógica entre o leitor e a obra, o que proporcionará no leitor um Horizonte de expectativa e uma resposta, ao fundir o horizonte da interpretação (presente) com o horizonte referido na obra (passado), legitimando-o como um quadro de referências dadas e experiências transformadas em significados a partir do diálogo com tal quadro.
Em suma, a efetiva leitura de um texto literário ocorre pela fusão do horizonte contido no texto com o horizonte proporcionado no leitor, durante o ato de leitura.
Segundo este método, se o horizonte de expectativa pode ser medido e localizado pelo público receptorsob uma perspectiva histórica, resta saber de que maneira é possível horizontalizar tal público historicamente sem que se leve em consideração a diversidade entre os sujeitos que compõem determinado público, seja ela pela experiência familiar, econômica, social, cultural, ou pelo seu desejo, segundo considerou Roland Barthes, por exemplo.
“Interpretar um texto literário como uma resposta deveria incluir as duas coisas: sua resposta a expectativas formais, como a tradição literária as determinava antes do surgimento do referido texto, e a resposta a questões de significado como poderiam ter surgido no mundo histórico dos primeiros leitores. Contudo, a reconstrução do horizonte de expectativa original recairia no historicismo, se a interpretação histórica não pudesse servir também para transformar a pergunta: ‘o que diz o texto?’ em ‘o que o texto me diz e o que eu digo sobre o texto?’.”(Ibidem, 312-13)
Do Efeito Estético de Wolfgang Iser às Comunidades Interpretativas de Stanley Fish
“A interpretação não é a arte de entender, mas sim a arte de construir.” Stanley Fish
Mesmo dentro de uma determinada sociedade e tempo histórico, uma obra pode ser lida e compreendida de diversas maneiras, uma vez que os leitores possuem suas próprias experiências, expectativas, anseios e imaginações. Logo, ao considerar a efetiva participação do leitor como elemento recriador de novos sentidos sobre a obra em foco, surge então este impasse, que será determinante para a transição entre a Teoria (ou Estética) da Recepção e a Teoria do Efeito.
Embora as duas correntes estejam interligadas, uma vez que a Teoria da recepção mantém seu eixo sobre o leitor e a Teoria do Efeito o mantém sobre o texto, como seria possível emergir sobre o texto literário uma nova interpretação alheia à dimensão social e histórica, à herança cultural e à experiência empírica?
Ao perceber tal impasse, na medida em que a análise da recepção ficou comprometida pelo lastro histórico, houve então a necessidade de deslocamento de foco do leitor para o texto, ou seja, da recepção para o efeito estético da obra sobre o leitor, considerando este como o ponto de transição entre as duas supracitadas teorias, da recepção e do efeito estético, dentro da relação dialética entre ambas. Segundo Jauss e Iser:
“(...): para a análise da experiência do leitor ou da ‘sociedade de leitores’ de um tempo histórico determinado, necessita-se diferençar, colocar e estabelecer a comunicação entre os dois lados da relação texto leitor. Ou seja, entre o efeito, como o momento condicionado pelo texto, e a recepção, como o momento condicionado pelo destinatário, para a concretização do sentido como duplo horizonte – o interno ao literário, implicado pela obra, e o mundivivencial (lebensweltlich), trazido pelo leitor de uma determinada sociedade. Isso é necessário a fim de se discernir como a expectativa e a experiência se encadeiam e para se saber se, nisso, se produz um momento de nova significação. No entanto, o estabelecimento do horizonte de expectativa interna ao texto é menos problemático, pois derivável do próprio texto, do que do horizonte de expectativa social, que não é tematizado como contexto de um mundo histórico.” (JAUSS, 1979, P. 72)
“Entretanto, o que tinha apenas uma relevância secundária na perspectiva da recepção adquire importância crucial no tocante ao efeito estético e às reações potenciais que este efeito é capaz de suscitar nos leitores. Daí a necessidade de se analisar o efeito estético como relação dialética entre texto e leitor, uma interação que ocorre entre ambos. Tem sido utilizado o termo ‘efeito estético’ porque, ainda que se trate de um fenômeno desencadeado pelo texto, a imaginação do leitor é acionada, para dar vida ao que o texto apresenta, reagir aos estímulos recebidos. (...) Neste sentido, uma teoria do efeito estético (theory of aesthetic response) é complementar a uma estética da recepção (aesthetics of reception), e ambas as vertentes conjugadas correspondem à realização plena do reader-response criticism. Se o estudo da literatura provém do nosso interesse por textos, não se pode negar a importância do que sucede a nós, leitores, no próprio ato de leitura desses textos. Por isso, a obra literária não deve ser considerada um registro documental de algo que existe ou já existiu, mas antes uma reformulação de uma realidade identificável, reformulação que introduz algo que não existia antes. Na melhor das hipóteses, a obra de arte seria uma realidade virtual.” (ROCHA, 1999, P. 20-21)
Diante deste quadro, Wofgang Iser propôs tal deslocamento de focalização, afirmando que a Teoria da Recepção de Jauss era complementada pela Teoria do efeito estético, ao considerar que a obra literária é em si uma realidade virtual que se constitui pelo efeito estético/crítico provocado no imaginário do leitor durante o ato da leitura. Em outras palavras, por mais que se tente imprimir uma delimitação sobre a interpretação do texto literário, a fim de evitar o abstracionismo impressionista da crítica, o ato de leitura ficcional sempre dependerá da subjetividade imaginária do leitor e das relações públicas que ele tece na experiência cotidiana e ao longo de sua existência.
No entanto, em função desta evidência, e embora Iser tenha plena consciência da importância social e histórica como horizonte de recepção, ele optou por privilegiar o aspecto estético da obra, deslocando o foco do leitor e seu horizonte histórico social como elemento determinante da interpretação e análise literária, para a o efeito estético produzido pela obra no seu imaginário.
Contudo, ainda na mesma linha, o crítico americano Stanley Fish vai mais além do que Iser, ao admitir que a interpretação não deve ser focalizada somente a partir da bagagem social ou da anterioridade histórica do leitor, tampouco alinhar os efeitos que o texto nos proporciona de um modo determinante, homogêneo ou estratificado.
Segundo Stanley Fish, em seu texto Como reconhecer um poema ao vê-lo, a interpretação é uma operação de construção do objeto a partir de estratégias interpretativas, em que somos também inseridos e reconstruídos permanentemente: “A conclusão a que chegamos, pois, é que todos os objetos são construídos e não descobertos, e que são construídos através das estratégias interpretativas que colocamos em funcionamento. Isto, no entanto, não implica a subjetividade, pois os meios através dos quais os objetos são construídos são sociais e convencionais. Ou seja, o ‘eu’ que realiza o trabalho interpretativo que dá vida a poemas, indicações de leituras e listas é um eu público e não um indivíduo isolado. (...), porque as operações mentais que podemos realizar são limitadas pelas instituições dentro das quais já estamos inseridos. Estas instituições são anteriores a nós, e é apenas habitando-as, ou sendo por elas habitados, que temos acesso aos sentidos públicos e convencionais que elas têm. Assim, embora seja correto dizer que criamos poesia (tal qual criamos indicações de leitura e listas), nós o fazemos através de estratégias interpretativas que em última análise não são nossas, porém têm sua origem em um sistema de inteligibilidade que é público. Na medida em que o sistema (neste caso o sistema literário) nos limita, ele também nos dá forma, provendo-nos de categorias de entendimento com as quais nós, em contrapartida, damos forma às entidades para as quais podemos, então, nos voltar. Em resumo, à lista de objetos feitos ou construídos temos que acrescentar nós mesmos, pois somos, tanto quanto os poemas e as indicações de leitura que vemos, produtos de estruturas de pensamento sociais e culturais.” (FISH, 1993, P. 162)
Stanley Fish considera que a experiência do leitor é dinamicamente motivada tanto pela imanência social da língua, quanto pela imaginação, além do fato de estarmos inseridos dentro de uma institucionalização da literatura que vai desde a Universidade e seus cânones até a demanda do mercado editorial e a pré-fabricação de modelos segundo a pré-fabricação

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