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Aulas 04, 05, 06,7,8- TEORIAS DO DISCURSO

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Aula 04: Relações de sentido entre as palavras III
Ao final desta aula, você será capaz de:
1.Estudar as informações implícitas e explícitas em um texto. 
2. Compreender a diferença entre pressuposição e acarretamento. 
3. Aprender o que são a ambiguidade lexical e a ambiguidade sintática. 
4. Distinguir homonímia de polissemia. 
5. Compreender os conceitos de heteronímia e hiponímia. 
6. Analisar propagandas e charges, de modo a compreender a significação nesses textos.,
As informações explícitas e implícitas no texto: A pressuposição
A efetiva construção da linguagem para a comunicação depende de quem fala, de que lugar (posição) se fala e com que intenção este texto oral ou escrito é produzido, ou seja, seus usos sociais. Vimos, nos exemplos anteriores, que os fatores linguísticos não são escolhidos aleatoriamente.
	Observamos que diferentes gêneros textuais vão apresentar propósitos comunicativos distintos. Assim, identificar que temos uma carta de amor, uma bula de remédio, um anúncio acaba sendo importante para construirmos o sentido de um texto. Além disso, não podemos esquecer que há muitas informações que não são apresentadas linguisticamente, mas que podem ser extraídas dos elementos linguísticos, ou seja, elas são PRESSUPOSTAS.
Pode-se concluir que, mesmo quando usamos apenas a linguagem verbal, é possível haver em nossa mensagem um conteúdo implícito. Por exemplo:
Se estamos em uma sala muito fria e dizemos para alguém sentado próximo ao controle do ar condicionado “-Nossa! Como está frio!”, embora não tenhamos pedido a essa pessoa, provavelmente, ela irá se oferecer para alterar a temperatura do aparelho.	
É a compreensão leitora que nos permite interpretar corretamente as informações contidas em um texto. Leia o texto a seguir e pense no pressuposto que ela instaura.
As noções de acarretamento e pressuposição lógica
Hiperônimo é o termo englobante, ou seja, é uma palavra que apresenta um significado mais abrangente que o hipônimo, termo englobado. Conforme o exemplo apresentado por Muller e Viotti (2003:129) ‘animal’ é o hiperônimo e engloba insetos, répteis etc. ‘Insetos’ será hiperônimo se você considerar que ele engloba baratas, formigas etc.
Vamos praticar?
A- O Juca ouviu um homem cantando ------------ B- O Juca ouviu uma pessoa cantando
	A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se Juca ouviu um homem cantando, ele ouviu uma pessoa cantando. (homem = pessoa)
	O Juca não ouviu uma pessoa cantando. (Se negamos essa sentença, a primeira sentença também se torna falsa, pois se ele não ouviu uma pessoa cantando, não pode ter ouvido uma pessoa cantando).
Análise as frases a seguir e avalie, com base nos testes sugeridos, se temos acarretamento, depois confira o gabarito:
A - João e Maria são casados. ---------- B- O João é casado com a Maria.
	Não há acarretamento. A sentença (a) é ambígua: Ela tanto pode significar que o João é casado com a Maria, como pode significar que o João e a Maria são casados, mas não um com o outro. Portanto, a verdade de (a) não segue necessariamente a verdade de (b).
Quando consideramos o acarretamento, o que á pressuposição lógica? Vejamos um exemplo:
A - Foi a Maria que tirou 10 na prova ------- B- Alguém tirou 10 na prova.
• Segundo Muller e Viotti (idem), no gabarito do exercício (pág. 254), entre essas duas sentenças tanto há acarretamento, quanto pressuposição.
• A pressuposição lógica é uma relação entre duas sentenças em que a primeira sentença trata a verdade da segunda sentença como indiscutível.  Segundo as autoras, a pressuposição se mantém na negação.
Teste: “Não foi a Maria que tirou 10 na prova.” Ainda assim (B) pode ser verdadeira: outro aluno pode ter tirado 10 na prova. Desse modo, sabemos que (A) pressupõe (B). Poderíamos dizer que (A) também acarreta (B)? Sim.
A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se ‘Maria’ tirou 10, ‘alguém’ tirou 10.
A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Sim. Se ‘Maria’ tirou 10, ‘alguém’ tirou 10.
Vamos analisar mais um exemplo?
A - Só o João sabe o caminho para a casa de Marcelo. 
B - Ninguém mais sabe o caminho para a casa do Marcelo.
Teste para acarretamento:
A verdade da primeira sentença garante a verdade da segunda? Não. 
(se o primeiro teste falha, já sabemos que não há acarretamento).
Teste para pressuposição: 
A pressuposição se mantém na negação? Dizer ‘Não é verdade que só o João sabe o caminho para a casa do Marcelo’ significa que ninguém mais saiba o caminho? Não.
O Fenômeno da ambiguidade
Temos dois tipos de ambiguidade:
A ambiguidade lexical é um fenômeno linguístico em que a ambiguidade acontece devido ao significado de uma palavra. Esse tipo de ambiguidade é frequente em piadas. Observem os exemplos a seguir:
Ilari (2002:12), em Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras, apresenta-nos a piada a seguir, baseada na ambiguidade lexical. 
- Como você ousa dizer palavrões na frente da minha esposa? 
- Por quê? Era a vez dela?
Ambiguidade sintática ou estrutural. Esse tipo de ambiguidade ocorre quando:
A - A sentença aceita duas análises sintáticas diferentes.
Exemplo: Os pais e os professores empenhados farão um Senado mais digno. (não se sabe se “empenhados” modifica pais e professores ou apenas professores.)
B - Um mesmo pronome aceita dois antecedentes.
Exemplo: Ele gosta da sua casa. (dependo do referente mencionado anteriormente, não se sabe se o pronome “sua” refere-se ao interlocutor ou a algum referente já mencionado).
Vamos fazer um exercício? Discuta a ambiguidade no diálogo a seguir retirado de Ilari (2002:12), em Introdução ao estudo do léxico: Brincando com as palavras.
Indivíduo A
- Não deixe sua cadela entrar em minha casa. Ela está cheia de pulgas.
Indivíduo B
- Fifi, não entre nessa casa. Ela está cheia de pulgas.
POLISSEMIA
Gabarito:  O uso do substantivo ‘coroa’ que tanto pode significar a coroa de flores enviada para funerais, quanto uma mulher de mais idade. 
Mas por que o substantivo ‘coroa’ gerou esse duplo sentido? Porque ‘coroa’ é um substantivo polissêmico. Vejamos, a seguir, o que é ‘polissemia’.
A- Pregar: Um sermão; Uma bainha de roupa; Um prego.
B - Cabo: Militar; Parte de instrumento.
A linguagem humana é polissêmica: Os signos, sendo arbitrários e ganhando seu valor nas relações com outros signos, sofrem alteração de significado de acordo com o contexto. A polissemia depende do fato dos signos serem usados em contextos diferentes. Vejamos a charge a seguir:
Observando-a, temos o uso polissêmico do verbo ‘andar’ na estrutura ‘andei pensando’ e a ironia na fala da secretária, motivada pela interpretação, separadamente, dos verbos ‘andar’ e ‘pensar’.
Atenção! Platão e Fiorin em Lições de texto:
	Leitura e redação comentam que “Um texto pode ter várias leituras, bem como pode jogar com leituras distintas para criar efeitos humorísticos. Entretanto, o leitor não pode atribuir-lhe o sentido que bem entender. Ele contém marcas de possibilidades de mais de um plano de significação. A primeira são as palavras com mais de um significado. Elas são chamadas relacionadores de leituras, pois apontam para mais de um plano de sentido.” (2001:129)
	
Homonímia (Grego homónymos = que tem o mesmo nome)
“Propriedade de duas ou mais formas inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação; Exemplo: Um homem são; São Jorge; São várias as circunstâncias [...]” (Bechara: 2000,403)
Rocha Lima: “A rigor, só deveriam ser consideradas como tais, aquelas palavras que, tendo origem diversa, apresentassem a mesma forma, em virtude de uma coincidência na sua evolução fonética.” (1998, 36ªed.: 487)
Atenção: Há homônimos que apesar de terem os mesmos fonemas se escrevem de forma diferente.
Exemplos: Espiar e expiar; coser e cozer; sessão, seção ecessão etc.
A homonímia opera no plano do significante: Coincidência de significantes de palavras com significados distintos.
Critério: etimologias diferentes (explicação diacrônica). Apesar de terem origens diversas, apresentam a mesma forma por coincidirem na evolução fonética. No entanto, sincronicamente o critério etimológico é considerado irrelevante. Exemplos: Sonorização de /k/ em /g/ - passaram a ter significantes idênticos.
Bechara (2000: 403) nos apresenta os seguintes critérios para distinguir polissemia (Uma palavra com dois ou mais significados) e homonímia (Duas palavras distintas com idênticos fonemas):
Aula 5: A coerência textual
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Conhecer os conceitos de coesão textual e de coerência textual; 
2. Compreender a relação entre coesão e coerência; 
3. Distinguir os tipos de coesão; 
4. Conhecerá os fatores de coerência.
Pensando nos conceitos de coesão e de coerência, leia a poesia “A pesca”, de Affonso Romano de Sant’Anna:
A Pesca
o anil
o anzol
o azul
o silêncio
o tempo
o peixe
a agulha
GABARITO
Segundo Kock e Travaglia (2001:12), embora no texto não haja elementos coesivos, é possível estabelecer a coerência. Esta é a explicação dos autores para um texto de estrutura semelhante: “Apesar de o texto ser uma lista de palavras sem ligação qualquer ligação sintática e sem a explicitação de qualquer relação entre elas, quem lê tende a perceber nesta sequência linguística uma unidade de sentido que permite estabelecer uma relação entre seus componentes [...]”.
Entendendo a noção de texto
Como já pudemos entender, o texto é uma forma de nos manifestarmos, quando queremos nos comunicar. É frequente o uso de linguagem verbal e não verbal, por exemplo, em propagandas, sejam elas veiculadas na televisão ou em veículos impressos como jornais, revistas, outdoors, nos quais, geralmente, precisamos associar o texto à imagem para depreender seu real sentido.
Coesão e coerência textuais
Koch e Travaglia (2001), no livro A coerência textual, afirmam que coesão e coerência constituem fenômenos distintos:
Coerência - Opera no nível macrotextual, ou seja, ela é o resultado da organização dos componentes do texto somada a processos cognitivos que atuam entre o usuário e o produtor do texto.
Coesão - Opera no nível micrototextual, ou seja, atua na organização da sequência textual.
Segundo os autores, o processo de coesão envolve mecanismos de relação entre os elementos que constituem a superfície textual: a coesão revela-se através de marcas linguísticas, organizando a sequência do texto. Os mecanismos coesivos se baseiam numa relação entre os significados de elementos da superfície do texto.
Já a coerência não se encontra no texto, uma vez que é construída pelo leitor com base em seus conhecimentos. Teremos um texto coerente quando for possível aos interlocutores construir um sentido para o texto.
Segundo Koch e Travaglia (2001:43), os conceitos de coesão e coerência estão relacionados: somente a coesão não é suficiente nem necessária para que haja um texto porque “(...) há muitas sequências linguísticas com pouco ou nenhum elemento coesivo, mas que constituem um texto porque são coerentes e por isso têm o que se chama de textualidade”.
Apesar de os exemplos acima possuírem elementos coesivos, não é possível estabelecer a coerência entre seus períodos, o que atesta não ser a coesão suficiente para que enunciados se constituam em textos.	
A coesão textual
Koch (2001), em A coesão textual, afirma que os mecanismos coesivos são os responsáveis pelo modo como as sequências textuais se integram. Segundo a autora, a coesão textual estabelece uma relação entre um elemento do texto e algum outro elemento fundamental para a sua interpretação. Podemos perceber alguns tipos de coesão:
1- Coesão lexical ou referencial. 
Segundo Koch (2001), nesse tipo de coesão temos “[...]. um componente da superfície do texto que faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual”. (p. 30)
2- Coesão sequencial.
 Kock (2001) afirma que essa coesão “[...] diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados, partes de enuncidados, parágrafos e mesmo sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto progredir.” (p. 49) Nesse tipo de coesão entram elementos como a ordem dos vocábulos, dos conectores, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos, de expressões de valor temporal.
3) Coesão recorrencial. 
 Fávero (1995), em Coesão e coerência textuais, nos apresenta esse conceito afirmando que: 
“A coesão recorrencial se dá quando, apesar de haver retomada de estruturas, itens ou sentenças, o fluxo informacional caminha, progride; tem, então, por função levar adiante o discurso. Constitui um meio de articular a informação nova (aque­la que o escritor/locutor acredita não ser conhecida) à velha (aquela que acredita ser conhecida ou porque está fisicamente no contexto ou porque já foi mencionada no discurso) (Brown e Yule, 1983, p. 154).”  
Coerência textual
Quando lemos um texto ou ouvimos alguém dizer “Isso não tem coerência”, do que estamos falando? Geralmente, algo nesse texto faz com que não o entendamos. O mecanismo de coerência é o responsável por sermos capazes de relacionar os elementos do texto, construindo um significado para ele.  É a coerência que faz com que percebamos uma sequência linguística como um texto.
Dimensão semântica - Caracteriza-se por uma interdependência semântica entre os elementos constituintes do texto.
Dimensão pragmática - É fundamental, no estabelecimento da coerência, o nosso conhecimento de mundo, e esse conhecimento é acumulado ao longo de nossa existência, de maneira ordenada.
Deve-se ter sempre em mente que ao escrevermos ou falarmos um texto, temos uma intenção comunicativa. O indivíduo que recebe nosso texto precisa ativar seu conhecimento de mundo e projetar esse conhecimento de modo a que o texto faça sentido para ele.
Para Beaugrande e Dressler (apud Koch e Travaglia, 2001:46):
 A coerência é definida em função da continuidade de sentidos e para, esses autores, há textos incoerentes. 
“Sequências linguísticas incoerentes seriam aquelas em que o receptor não consegue descobrir qualquer continuidade de sentido, seja pela discrepância entre os conhecimentos ativados ou pela inadequação entre esse conhecimento e seu universo cognitivo”. Para que um texto faça sentido, é muito importante que o conhecimento de mundo seja partilhado pelo produtor e receptor do texto. Do contrário, se a quantidade de informação for nova em sua maioria, a tendência é que o leitor o veja como incoerente, porque esse não fará sentido para ele.
Charolles (apud Koch e Travaglia, 2001:47):
Considera que a coerência é algo que se estabelece na interlocução, ou seja, na interação de dois usuários, numa dada situação comunicativa e que não há textos incoerentes em si. Em função disso, ele afirmou que a coerência seria a qualidade que têm os textos de serem reconhecidos como bem formados pelos falantes. Assim, a coerência é colocada como princípio de interpretabilidade e tem a ver com a “boa formação” do texto, determinando a possibilidade de se estabelecer o sentido do texto. Todavia, ele admite a incoerência local, ou seja, sequências nas quais não há nenhuma marca de relação entre os enunciados e nas quais a relação entre o conteúdo dos enunciados não é aparente.
A coerência não é nem característica do texto, nem dos usuários do mesmo, mas insere-se no processo que coloca texto e usuário em relação numa situação. A coerência está, pois, ligada à: Compreensão. Possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escrever. Assim, a coerência é decorrente do sentido contido no texto,para quem ouve ou lê. Uma simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance, novela, poema...), uma conversa animada, o discurso de um político ou do operário, um livro, uma canção etc., enfim, qualquer comunicação, independentemente de sua extensão, precisa ter sentido, isto é, precisa ter coerência.
A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar:
Conhecimento do mundo e o grau em que esse conhecimento deve ser ou é compartilhado pelos interlocutores;
Domínio das regras que norteiam a língua: isto vai possibilitar as várias combinações dos elementos linguísticos;
Os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, as suas intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto.
Fatores de coerência
Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, deve-se dizer que a ele se acrescentam as informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode se tornar incoerente, devido à não familiaridade do ouvinte/leitor com essa massa desconhecida de informações.
Coerência semântica - Diz respeito à combinação dos significados da sequência linguística. Quando os sentidos não combinam, a sequência torna-se contraditória. 
Exemplo:
Ele comprou um carro novo. Esse veículo de comunicação é muito veloz.
O sintagma ”carro novo” pode ser retomado pela palavra ”veículo”, mas não pelo sintagma ”veículo de comunicação”.
Coerência sintática - Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos, pronomes etc.
Exemplo: Ele comprou um carro novo, mas continua sem carro novo.
Coerência estilística- Um texto deve manter um estilo uniforme, ou seja, deve-se evitar a mistura de registros. Ainda que ela não prejudique a interpretabilidade de um texto, ela deve ser evitada, a menos que seja usada propositalmente, como um recurso estilístico.  Esse uso proposital ocorre, muitas vezes, quando dizemos “Não sou contra, nem a favor, muito pelo contrário”.
Coerência pragmática - Quando pertencemos a um determinado grupo social, somos capazes de perceber uma série de ”deixas” em termos de usos da língua. 
Imagine a seguinte situação. Estamos em uma sala com o ar condicionado ligado e dizemos a uma pessoa sentada próxima ao aparelho “Nossa, como a sala está gelada”. Ainda que não tenhamos feito um pedido de forma direta, provavelmente, esse indivíduo irá nos perguntar algo como “Quer que eu altere a temperatura?”.
1- Elementos linguísticos
 Koch e Travaglia (2001) afirmam que somente as palavras não são suficientes para apreender o sentido de um texto, mas são muito importantes para o estabelecimento da coerência.
2- Conhecimento de mundo
É determinante no estabelecimento da coerência.  Koch e Travaglia (2001) estabelecem que “[...] a representação do mundo pelo texto nunca coincide exatamente com o “mundo real”, porque há sempre a mediação dos conhecimentos de mundo [...]” (p. 60). Os autores também afirmam que “o conhecimento de mundo é visto como uma espécie de dicionário enciclopédico do mundo e da cultura arquivados na memória”. (p.61)
Koch e Travaglia (2001:62) observam ainda que o conhecimento pode ser de dois tipos:
conhecimento enciclopédico.  Representa tudo o que se conhece e que está arquivado na memória de longo termo;
conhecimento ativado. Trazido à memória presente (operacional e/ou temporária).
O conhecimento de mundo é adquirido à medida que vivemos e vamos armazenando os fatos que experienciamos. Ele é arquivado na memória em blocos que denominam modelos cognitivos. Os modelos cognitivos são culturalmente determinados e aprendidos através de nossa vivência em dada sociedade. Há diversos tipos de modelos cognitivos:
3-Conhecimento partilhado.
Ao produzir um texto, o indivíduo parte do pressuposto de que seu leitor compartilha informações com ele. Quanto maior for o conhecimento por eles partilhado, ou seja, quanto maior a quantidade da informação velha, menos explícito precisará ser o texto já que o receptor pode preencher lacunas através de inferências.
4. Fatores de contextualização ou fatores pragmáticos
Koch e Travaglia (2001:67) afirmam que “Os fatores de contextualização são aqueles que ’ancoram’ o texto em uma situação comunicativa determinada”. Como fatores de contextualização temos elementos como a situação comunicativa, o grau de informatividade do texto, a intertextualidade, entre outros. 
Aula 6: A linguagem em uso
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Compreender a diferença entre semântica e pragmática.
2. Distinguir frase e enunciado.
3. Aprender alguns aspectos da enunciação: Os dêiticos, os performativos, o uso de conectores e significados da negação.
4. Conhecer a teoria dos atos de fala proposta por Austin.
5. Distinguir afirmações constativas de afirmações performativas.
6. Compreender os atos locucionários, ilocucionários e perlocucionários.
7. Conhecer os performativos implícitos dos performativos explícitos.
	Até agora, estudamos das aulas 1 até 4, a Semântica; Nossa aula 5 tratou de aspectos concernentes à Linguística Textual.
	 Esta aula tratará da Pragmática e vocês devem estar se perguntando: O que é pragmática.
Nesta aula, estudaremos a pragmática e compreenderemos a diferença entre ela e a semântica. Veremos que a pragmática é uma ciência cujo objetivo é analisar a linguagem em uso, ou seja, ela tenta compreender o que fazemos quando nos comunicamos, e como veiculamos significados diferentes, dependendo do ambiente que nos cerca.
	Veremos também a diferença entre frase, união de significantes e significados, e enunciados, os significados adquiridos pelas frases de acordo com o contexto. Veremos também as noções de enunciação, inferência e instrução, além de conhecermos a teoria dos Atos de Fala de John Austin e sua influência na mudança dos estudos linguísticos.
	
O que é PRAGMÁTICA?
A pragmática começa quando termina o trabalho de Saussure. Ele não estudou o uso da língua. Ele pegava uma frase e analisava sua estrutura. Essa é uma análise estrutural da língua. Quando a Pragmatica aparece, vai dizer que o que importa não é a lingua e sim a fala, ou melhor, o discurso (que é a fala aplicada a um determinado contexto).
	Só pela leitura desse verbete, ainda não conseguimos saber exatamente o que é Pragmática, mas já percebemos que ela se diferencia tanto da Sintaxe quanto da Semântica porque considera o falante e seu papel na construção do significado. Francis Jaques (apud Armengaud: 2006,11) afirma que “A pragmática aborda a linguagem como fenômeno simultaneamente discursivo, comunicativo e social.”
	Como nosso interesse nesta aula é tratar das relações de significado, vamos nesse primeiro momento tentar distinguir duas áreas que lidam com o significado:
Semântica x Pragmática
A Semântica trata da relação significante / significado.
Extraímos do enunciado aquilo que é possível depreender a partir da estrutura formal (morfossintática). (É o que você ouve). É o contexto. “Alguns teóricos diziam que a pragmática era a lata de lixo da semântica, porque explica tudo que a gramática não conseguia explicar. Isso não é verdade.”
A Pragmática trata do significado literal + fatores extralinguísticos (aquilo que não está dito) e estuda:
- como a representação semântica se associa a uma série de fatores, ligados ao contexto da comunicação e ao conhecimento prévio existente na memória do falante e do ouvinte.
 
 Enunciados reais (estudo de uso ao invés de significado)
 O desempenho e não a competência. 
O processo de compreensão envolve 2 etapas:
1ª etapa: Semântica (significado literal) - extraímos do enunciado aquilo que é possível depreender com base na  estrutura formal (morfossintática).
2ª etapa: Pragmática (significado final) – A  representação semântica se associa a uma série de fatores ligados ao contexto da comunicação e ao conhecimento prévio existente ( ou pressuposto como tal) na memória do falantee do ouvinte.
O que acontece quando ouvimos frase simples, como a que temos a seguir?
Frase e enunciado
Você sabe que horas são?
 
Significado literal: pergunta com resposta sim ou não.
Significado final: o falante deseja saber a hora porque está sem relógio ou seu relógio está com problemas.
Frases são unidades abstratas independentes de contexto: não estão vinculadas a nenhum tempo ou espaço particular: são unidades do sistema linguístico a que pertencem.
O enunciado é dependente do contexto e sua compreensão depende:
 
de com quem estamos nos comunicando; 
daquilo que sabemos;
daquilo que acreditamos que nosso interlocutor também saiba.
No capítulo A linguagem em uso, Fiorin nos apresenta a frase ‘Está chovendo!’
Quantos significados ela pode adquirir?
Se você for uma mulher, um homem ou uma criança, podemos ter diferentes enunciados:
‘Ai! Vou ter que tirar a sandália e colocar um sapato fechado!’
• ‘Fiz uma escova e ela vai desmanchar!’
• ‘Vou trocar a saia pela calça comprida!’
• ‘Vou ter que parar de brincar na chuva!’
• ‘Vou tirar a roupa da corda!’
A frase “Está chovendo” pode adquirir vários significados que podem variar de acordo com o seu ENUNCIADO.
Depois dessa discussão, vamos ler um trecho do livro A Pragmática, de Françoise Armengaud. Na Introdução, Rudolf Carnaf nos diz sobre essa jovem ciência:
“[...] que fazemos quando falamos? O que dizemos exatamente quando falamos? Por que perguntamos a nosso vizinho de mesa se ele pode? Quem fala, e para quem? Quem você acha que sou para me falar desse modo? Precisamos saber o que, para que uma ou outra frase deixe de ser ambígua? [...] Podemos confiar no sentido literal de uma frase? Quais são os usos da linguagem?” (2006:9, grifos do autor)
Como a Pragmática vai se diferenciar da semântica? Rudolf Carnaf nos apresenta três conceitos que ele trabalha:
O conceito de ato. “Falar é agir.” Quando dizemos um simples ‘OI!’ executamos um ato, interagimos com alguém e esperamos uma resposta; Se contamos uma história, esperamos que quem nos ouve, acredite no que dizemos. Essas são formas de interagir, de usar a linguagem para agir sobre os outros.
O conceito de contexto. Passou-se a avaliar a situação em que a comunicação ocorre de tal modo, que a inserção do contexto se torna indispensável.
O conceito de desempenho. Considera-se o papel do falante e seu conhecimento acerca da língua.
Por que a introdução da pragmática é importante nos estudos linguísticos? Vejamos em primeiro lugar a enunciação.
Atos de fala – John Austin
John L. Austin considerava “[...] que a linguística se deixava levar por uma ilusão descritiva[...]”
Nem todas as sentenças podem ser julgadas apenas em termos de verdade e falsidade.
Por isso ele cria a Teoria dos Atos de Fala para discutir a realidade da ação da fala, ou seja, a relação entre o que se diz e o que se faz.
Exemplo. 
(a) A blusa é verde. (Constatação de um fato)
(b) Eu aceito casar com ele. (Ação dependente da enunciação de ‘aceitar’) 
Afirmações constativas – são descrições de estados de coisas que podem ser:
 
Exemplo. A blusa é verde.	
Essa afirmativa é verdadeira se a blusa for verde e falsa se não existe o estado de coisas que descrevem.
Exemplo 2. ‘Eu jogo futebol’. 
Ainda que eu não fale para ninguém, meu ato de ‘jogar futebol’ continua a existir. Isso é a simples constatação de um fato.
Essa seria a ‘ilusão descritiva da linguística’: como ficam todas as outras ocorrências na língua que não constatam um fato?
Afirmações performativas – não são descrições de estados de coisas, mas executam atos que podem ter sucesso ou fracassar. Para Austin, são verbos que executam AÇÕES e que para acontecer precisa de uma série de condições. Além disso:
Para Austin:
- elas ocorrem na forma afirmativa, na 1ª pessoa do singular, no presente indicativo e na voz ativa afirmativa
- não descrevem nada e, por isso, não podem ser verdadeiros ou falsos. Correspondem à execução de uma ação.
Exemplos.
Eu me desculpo pelo que aconteceu.
Eu aceito casar com você.
Aposto dez reais que ele vai se atrasar.
Condição de sucesso para os performativos
Segundo Austin, para que os performativos se executem há 4 condiçoes. 
Circunstâncias de enunciação adequadas: deve haver um procedimento convencional com um efeito convencional. 
Exemplo. “Aceitar’ é um verbo performativo. Em um casamento, é necessário que os noivos enunciem ‘eu aceito’, para que o ato de casar seja consumado. Se o irmão da noiva e não o noivo diz ‘aceito’ na cerimônia de casamento o performativo é nulo.
 (que as pessoas sejam as pessoas adequadas)
A enunciação deve ser executada corretamente pelos participantes: a fórmula incorreta torna nulo o performativo.
Exemplo. O Padre não pode dizer no batismo ‘Eu te perdoo’ em lugar de utilizar a fórmula correta “Eu te batizo’. 
 
A enunciação deve ser realizada integralmente pelos participantes: há performativos que exigem outro para que sejam realizados.
Exemplo. Se eu digo “Aposto dez reais como vai chover.” é preciso que a pessoa com quem esteja falando diga “Aceito.” para que o meu performativo seja realizado.
 
Quando a enunciação exige que o falante tenha certos sentimentos e intenções, é preciso que ele os tenha de fato. 
Exemplo. Desculpe-me pelo atraso.
Juro que vou pagar o que devo.
 
Caso você não deseje se desculpar ou não pretenda pagar a dívida, há um ato verbal puro, vazio. 
Há outras formas de realização dos performativos?
O verbo pode ser performativo, mas expressar um enunciado do tipo constativo quando ocorre fora do formato 1ª pessoa, singular, indicativo, voz ativa, afirmativa.
Ele ordenou que ele saia 
Performativo que vira constativo: sai do formato 1ª pessoa 
 São constativos que descrevem a realização de um performativo por uma outra pessoa ou pelo próprio falante em um tempo passado.
Ordeno que ele saia.
(Performativo: só existe a ordem se eu proferir ‘ordeno)
O verbo ORDENO só é performativo quando está na 1ª pessoa. Entretanto, quando eu digo: “O padre ordenou que ele saísse.” O verbo passou a ser CONSTATIVO. Está constatando um fato.
Verbo performativo e enunciado constativo
Curva perigosa. (Performativo de advertência)
Há um ‘eu’ responsável pela advertência
Performativo implícito Performativo explícito
 
Saia. = Ordeno que você saia.
Eu virei amanhã. = Prometo que virei amanhã.
É proibido fumar. = Eu proíbo fumar.
 	 (Há um ‘eu’ responsável pela proibição)
O que se faz quando se diz alguma coisa
Ato locucionário: é o que realiza enunciando uma frase; 
 É o ato linguístico de dizer.
Locucionar [do lat. Locutione, ‘locução’ + -ar] – dizer, pronunciar
Ato ilocucionário: i ( = em) - é o que se realiza NA linguagem; 
 tem um aspecto convencional, pois está marcado na linguagem ( o verbo vai dar a ideia que você precisa); 
 reflete a posição do locutor em relação ao que ele diz
Ato perlocucionário: Per (= pela) - é o que se realiza PELA linguagem e produz certos efeitos. Pela linguagem como a pessoa sentiu minha mensagem?
Ato locucionário: “Eu estarei em casa hoje.”
(Meu ato linguístico foi enunciar essa frase) O que eu disse.
Ato ilocucionário: “Eu estarei ...”
Ato de fazer uma declaração, oferta, promessa, etc. Uma sentença tem uma força convencional associada a ela. 
O que se realiza NA linguagem: promessa? Simples afirmação? Como ele marcou na linguagem? Fazendo uma afirmação? Uma promessa? com um verbo? A frase é que vai dizer como a pessoa marcou na linguagem.
( Reflete a posição do locutor em relação ao que ele diz)
Como eu marquei isso? Tenho um verbo no futuro
Ato perlocucionário: quem recebeu minha mensagem ficou feliz? Sentiu-se ameaçado?
Esses efeitos sãocausados por conta das circunstância envolvidas.
Somente o que disse - Ato locucionário
Para o que está marcado na linguagem (como eu disse que marcou a lingugem, ou seja, qual foi a INTENÇÃO) - Ato ilocucionário
E a sensação despertada no outro - Ato perlocucionário
Análise dos atos de fala nas tiras de Mafalda
Realmente, os reis capricharam!
Quanta coisa linda...
Vou ser como a mamãe Tenho com o que passar, lavar, costurar. Fazer comidas deliciosas. Enfim, tudo o que é necessário para brincar de ser medíocre.
Ato locucionário – ato linguístico de dizer.
Ato ilocucionário – marcado na linguagem; reflete o que o locutor pensa.
Ato perlocucionário – efeito causado em quem recebe a mensagem
Resumindo ....
A Semântica trata da relação significante / significado.
Extraímos do enunciado aquilo que é possível depreender a partir da estrutura formal (morfossintática).
A Pragmática trata do significado literal + fatores extralinguísticos e do estudo.
A representação semântica se associa a uma série de fatores, ligados ao contexto da comunicação e ao conhecimento prévio existente (ou pressuposto como tal) na memória do falante e do ouvinte.
John Austin e a Teoria dos Atos de Fala: falar é agir.
Constativos x performativos.
 Ato locucional, ato ilocucional, ato perlocucional.
EXERCÍCIO
Questão 1. Leia as afirmativas a seguir em relação à Pragmática: 
 
I. As oposições fônicas e semânticas do sistema linguístico e as regras combinatórias são suficientes para explicar todos os fatos linguísticos.
 
II. Enquanto Saussure considerava que o objeto de estudo de estudo da linguística deveria ser a língua, a Pragmática acredita que língua e linguagem estão intimamente relacionadas.
 
III.John L. Austin acredita que a língua tem uma função de agir. 
 
Somente I está correta.
As afirmativas II e III estão corretas.
Todas as afirmativas estão corretas.
Somente II está correta.
As afirmativas I e III estão corretas.
 
Questão 2. Qual das afirmativas a seguir está INCORRETA no que se refere ao pensamento de Austin sobre os atos de fala?
a) Austin concebe a linguagem como construída pelo/as interlocutores/as, ou seja, a linguagem não é só descrição do mundo, também é ação.
b) A enunciação deve ser executada corretamente pelos participantes. O uso da fórmula incorreta torna nulo o performativo.
c) Na sequência dos acontecimentos, o falante que executou um performativo não precisa adotar o comportamento implicado pelo ato de enunciação.
d) Austin não considera que haja um teste puramente linguístico para determinar a existência de um performativo, pois ele é a realização, ao enunciar, de um ato do falante. Esse pensamento encontra respaldo na existência de performativos de advertência através de símbolos.
e) Afirmações constativas são descrições de estados de coisas que podem ser verdadeiras (se existe o estado de coisas que descrevem) ou falsas (quando não existe o estado de coisas que descrevem).
RESPOSTA: C. O falante que executou um performativo precisa adotar o comportamento implicado pelo ato de enunciação.
Aula 7: A teoria dos atos de fala e seus desdobramentos
	Na aula 6, estudamos os atos de fala propostos por John  Austin. Começaremos esta aula conhecendo John Searle e sua ampliação da teoria dos atos de fala. Esse estudioso, além de ter proposto uma nova tipologia com a descrição de cinco atos – assertivos, diretivos, expressivo, comissivos e declarativos - distinguiu ato ilocutório, também chamado ato proposicional e força ilocutória ou ilocucional, o que também contribuiu para ampliar a visão discursiva dos atos de fala. 
Veremos que a teoria interacionista e a teoria das faces nos proporcionam novos olhares sobre o discurso e a forma como ele acontece. Além disso, você perceberá que as máximas propostas por Grice possibilitam uma nova compreensão dos atos de fala, haja vista terem sido propostos como princípios que regem a conversação.
John Searle: Uma nova visão da teoria dos atos de fala - (Pronuncia Serle)
	Na aula 6, vimos a teoria dos atos de fala, conforme proposta por John Austin. Considera-se que a teoria dos atos de fala, proposta por Austin foi um importante avanço na maneira como se estudam os atos linguísticos.
Faz parte do saber científico, a ampliação de uma teoria proposta e, por isso, John Searle, em Speech Acts, desenvolve vários aspectos da teoria de Austin.
	Para tratar do trabalho de Searle, vamos, primeiramente, partir do capítulo de Victoria Wilson, Motivações Pragmáticas, publicado no livro Manual de Linguística. Nele, a autora se utiliza de exemplos retirados do Jornal do Brasil e nos explica cinco atos definidos por Searle.
	
Atos assertivos. Há um compromisso por parte de quem fala. (Wilson: 2010,94). É uma afirmativa.
Exemplo. “O boomerangue é o ícone do consumo responsável.” 
A pessoa é responsável pelo que está dizendo. A pessoa faz uma inserção.
Atos diretivos. Há tentativas de levarmos as pessoas a fazerem o que queremos e são conselhos, convites, sugestões etc. (grifo da autora). Direcionar o comportamento do outro.
Exemplo. “Se beber, não dirija. Volte de táxi ou com o amigo da vez.”
Atos expressivos. Temos a expressão de sentimentos e atitudes como agradecimentos, desculpas etc. expressar um sentimento. Temos a manifestação de sentimentos: podemos nos desculpar, agradecer, dar boas vindas.
Exemplo. “É de cortar o coração saber que tantas mães não têm notícias de seus filhos, que desapareceram por várias razões, algumas desconhecidas. (trecho de carta)”
Atos comissivos. O objetivo desse ato é produzir uma mudança através do que é dito. 
“A cultura toma o poder. Neste domingo, o caderno B estará nas mãos de um novo editor.” (grifos da autora)
Tentativa de influenciar o outro. Incentiva uma mudança de OPINIÃO e não de atitude como o diretivo.
O locutor se responsabiliza por uma ação futura: uma promessa, uma garantia.
Atos declarativos. Relacionam-se a situações extralinguísticas “[...] baseadas em instituições ocupadas por falantes e ouvintes.” São atos como o de batizar alguém, fazer uma sentença judicial etc.
Você estará em um determinado ambiente e esse ambiente fará com que você faça uma determinada declaração.
Um pai de santo, padre, pastor no seu terreiro batiza alguém. O juiz, advogado, promotor no seu ambiente de trabalho faz uma determinada declaração. Temos a produção de uma situação externa nova: batizar, demitir, condenar.
Ex. Eu os declaro casados
 Eu os declaro culpado
	Além dessa separação inicial, Searle distinguiu ato ilocutório, também chamado ato proposicional e força ilocutória ou ilocucional. Segundo ele, ao proferir uma frase, realiza-se um:
Ato ilocutório ou ato proposicional. Representa o conteúdo comunicado, ou seja, representa ações a serem executadas.  (Proposição = aquilo que se propõe; proposta.)
Força ilocutória ou ato ilocucional. Ato que se realiza na linguagem e demonstra a diferença entre, por exemplo, uma afirmação e uma pergunta. Assim, enunciados que têm força ilocucional diferente podem exprimir a mesma proposição.
Uma proposição (frase) pode assumir forças diferentes:
Ana comprou um carro.
Ana comprou um carro!
Ana comprou um carro?
Ana, compre um carro.
	Segundo Searle, muitas vezes, os falantes utilizam atos de fala indiretos como forma de minimizar a força da ordem etc.
A1. (Forma direta) Desculpem-me pelo atraso.
A2. (Forma indireta) O trânsito está terrível.
B1. Quero um cigarro. (Pedido feito de forma direta)
B2. Você tem cigarro? 
	
Embora tenhamos uma pergunta sob a ótica tradicional, temos outra possibilidade de análise sob a ótica da pragmática: temos um pedido feito sob a forma de uma interrogação.
	Searle introduz outra separação quando distingue ato ilocucionário de verbo ilocucionário.
Os atos ilocutórios podem ser expressos de forma direta ou indireta.
Verbos ilocucionários. Verbos ou seus substantivos derivados tais como ordenar/ordem,interrogar/interrogação etc.
	Teoria Interacionista
A teoria interacionista deriva dos atos de fala indiretos. (É você interagir, conviver bem socialmente, sem impor suas vontades nem provocar desavenças)
Lembram-se desse exemplo da aula?
Imagine uma situação em que você quer assistir a um filme e alguns amigos de seu filho estão fazendo barulho. Qual seria sua escolha?
 
a) Calem a boca! Quero assistir ao filme.
b) Vocês não querem brincar lá fora?
Você optou por (a) ou (b)? O que seria menos indelicado e, talvez, mais eficiente?
Teoria da Polidez Linguística ou Teoria da Faces
Lembram-se do vídeo da aula em que temos uma discussão entre João Kleber e Theo Becker ? Eles evitaram conflitos? As pessoas sempre evitam conflitos?
A teoria da polidez está relacionada à auto-imagem dos indivíduos, conhecida como ‘processo de elaboração de face’.
Considera-se que, durante a interação, haja tendência à cooperação.
Ervin Goffman e a noção de face
A face é construída pelo indivíduo.
 Há um esforço por parte das pessoas em prol da preservação da face e essa busca pela preservação seria condição de interação. 
Há um esforço por parte das pessoas em prol da preservação da face e essa busca pela preservação seria condição de interação.
A elaboração da face é duplamente orientada:
- face defensiva: uma prática defensiva, que procura salvar a própria face;
- face protetora: procura salvar a face do outro por meio do respeito, da polidez, da discrição e da cortesia. 
Conclusão. a preocupação com a própria face implica a preocupação com a face do outro. 
Os atos de fala indiretos ajudam na ‘polidez linguística’: não se dá uma ordem direta; exprime-se um desejo. 
Se quisermos pedir algo ameaçamos a face porque invadimos a privacidade do outro. 
Estratégia: fazer o pedido de forma indireta.
Polidez positiva – busca-se produzir e reforçar atos valorizadores da face.
Polidez negativa – procura-se evitar e minimizar os atos ameaçadores da face para que o falante não pareça hipócrita ou bajulador. ( Num momento em que alguém é grosseiro não se deve tecer elogio, pois pode soar como hipocrisia)
George Lakoff e a Teoria da Polidez
Não imponha. Regra ligada à polidez positiva. Quando consideramos não impor nossa presença estamos, na verdade, avaliando, a proximidade e o contexto em que nos encontramos.
Exemplo. Você precise de uma resposta de alguém hierarquicamente superior para realizar uma tarefa em seu trabalho; já enviou um e-mail expondo seu problema; ainda não obteve resposta.
Como você abordaria essa pessoa?
(a) Olha aqui! Já mandei um e-mail dizendo que preciso de autorização para fazer essa pesquisa e você não me deu resposta! Depois não reclama!
 (b) Não quero parecer chata, mas o senhor já teria uma resposta ao meu e-mail. Peço desculpas por incomodar, mas os prazos são apertados.
	(2) Dê opções. Outra regra ligada à polidez positiva e que baseia no fato de que devemos tentar deixar nosso interlocutor à vontade. Vejamos o exemplo a seguir.
“Oi, Maria!
Tudo bem? Amanhã, vou ao Rio, como anda sua vida? Será que podemos almoçar?
Aguardo ansiosa.
Beijos.
Ana”
Faz-se o convite por meio de uma pergunta, o que faz com que o interlocutor sinta-se à vontade para aceitar o convite ou não.
(c) Faça “A” sentir-se bem; seja amigável. 
Diferentemente da regra ‘Não imponha’, temos agora o que Wilson (2010:99) chama de ‘regra da camaradagem’: “[...] grau alto de intimidade, o que leva ao uso de uma linguagem bastante espontânea [...]”.
Exemplo.
“E aí, Maria! Tudo bem!
Ando morta de cansada! Trabalhando pra burro!
Depois de tanta confusão, finalmente, vou tirar férias. Posso ir para o Rio ficar com você? Ah, diz que sim, vai...
Como sei que você não vai deixar essa sua amiga desamparada, já vou arrumar as malas! Rsrsrsrs
Beijos.
Ana.”
Brown e Levinson
Face = amor-próprio do sujeito.
Face positiva – 	boa imagem que o sujeito tem de si mesmo; necessidade de ser apreciado, reconhecido.
Face negativa – 	necessidade de defender o ‘eu’; busca da privacidade. 
Atos ameaçadores da face negativa do interlocutor - ‘ordem’, ‘conselho’, crítica, ‘ameaça’ são invasões de território. 
(A face negativa é você ser ameaçado, criticado)
 
A polidez linguística tem por efeito diminuir os efeitos negativos dos atos ameaçadores.
Atos ameaçadores da face positiva do interlocutor – crítica, reprimenda
Máximas de Grice
Máxima da quantidade: o falante deve dar sempre a informação mais forte. Fiorin (2002:177)), no capítulo A linguagem em uso afirma sobre essa máxima que é preciso
 
“que sua contribuição contenha o tanto de informação exigida;
que sua contribuição não contenha mais informação do que é exigido.”
 
Se dissermos “O casaco de Ana é azul”, quem nos ouve imagina que o casaco possua uma única cor, ou seja, que o casaco seja inteiramente azul.
Para Grice (pronuncia Graice) a informação deve ser correta, completa. Se a blusa é vermelha. Diz que é vermelha. Se a blusa é vermelha com listras, diz que é vermelha com listras.
Máxima da qualidade (da verdade): o falante deseja que o interlocutor creia em suas palavras mesmo que não sejam verdadeiras. 
Atenção. Mentir é uma das propriedades da linguagem.
A exploração da máxima da qualidade em metáforas, ironias etc. é uma estratégia discursiva bastante utilizada. 
 Exemplo. João é um leão!
Máxima da relação (da pertinência): rege a coerência da conversação; indica como se encadeiam os assuntos e como se faz para mudar de assunto.
 
Exploração da máxima da relação
 
Duas pessoas conversando:
A pessoa 1 diz à pessoa 2:
_ A mulher de João o está traindo.
(Chega uma 3ª pessoa)
_ Onde você comprou essa camisa?
 
(Implicatura: mudemos de assunto)
Máxima da maneira ou do modo: seja claro. Fiorin (2002:177) nos fala a respeito dessa máxima: 
“ “evite exprimir-se de maneira obscura; 
evite ser ambíguo; 
seja breve; 
fale de maneira ordenada; 
respeite os turnos de fala.”
 
Exemplo. Essa loja vende roupas boas e baratas.
Implicatura: o falante está dizendo que já foi lá.
Críticas a Grice: concepção idealista da comunicação humana:
 
a) imagina a troca verbal como um evento harmonioso ignorando litígios, discórdias e oposições presentes em tantos atos de comunicação.
b) é normativa já que pretende ditar regras para a comunicação humana.
 
ERRADO: As máximas não são um corpo de princípios a ser seguido e sim uma forma de interpretar os enunciados.
 Os conflitos não são ignorados por Grice.
 
Ele considera que, para divergir, é preciso que os parceiros da comunicação interpretem adequadamente os enunciados produzidos.
Grice: implicatura e implicação
Implicação só pode ser provocada por uma expressão linguística.
Exemplo. Ele continua a fumar.
Implicatura pode ser provocada por expressões linguísticas, pelo contexto ou pelo conhecimento prévio do falante.
Exemplo. Ele é aluno de Matemática, mas escreve muito bem.
A implicatura se divide em:
Implicatura convencional – precisa de elementos linguísticos; embora não precise de elementos contextuais para ser feita, relaciona-se ao conhecimento de mundo do falante.
Exemplo. Ele é aluno de Matemática, mas escreve muito bem.
Implicatura conversacional – Pode advir da significação da frase, mas o conhecimento prévio do interlocutor somado ao contexto tem que ser obrigatoriamente usado.  (Fiorin: 2002: 177)
Exemplo. A defesa da tese de Mário correu bem, não o reprovaram. 
Resumindo
Aula 6: Semântica x Pragmática;
 Frase x enunciado
 A Teoria dos Atos de Fala
Aula 7: Searle e sua visão dos atos de fala
 Ato ilocutório e força proposicional
 Searle e os atos de fala indiretos
 Teoria Interacionista 
 Teoria da polidez linguística: 
 Ervin Goffman, 
 George Lakoff, 
 Brown e Levinson 
 Máximas de Grice
Aula 8 – Análise da Conversação
Conteúdo Programático destaaula
A conversação como uma atividade linguística básica;
O que é conversação;
A conversação natural e uma conversação artificial;
Os componentes centrais de uma conversação.
A análise da conversação é uma teoria linguística. A Análise da Conversação tem como material de estudo as conversações naturais, ou seja, aquelas produzidas em situações naturais de comunicação.
O QUE É A CONVERSAÇÃO
Começando nossa aula:
Lembram-se da Teoria da Interação e da Polidez Linguística?
Observem que a interação pode não acontecer face a face.
Exemplos. Conversas telefônicas; conversas em ambientes virtuais.
Definindo o que é a conversação: “Uma interação verbal centrada, que se desenvolve durante o tempo em que dois ou mais interlocutores voltam sua atenção visual e cognitiva para uma tarefa comum”.
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA CONVERSAÇÃO 
Marcuschi (1986:15) apresenta cinco características básicas constitutivas da conversação:
 
interação entre pelo menos dois falantes;
ocorrência de pelo menos uma troca de falantes;
presença de uma sequência de ações coordenadas;
execução de uma identidade temporal;
envolvimento numa “interação centrada”.
POR QUE ESTUDAR A CONVERSAÇÃO? 
Dionísio (2001:71): razões que justificam o estudo da conversação. 
 prática social mais comum do ser humano;
 desempenha um papel privilegiado na construção de identidades sociais e relações interpessoais;
“exige uma enorme coordenação de ações que exorbitam em muito a simples habilidade linguística dos falantes”, (Marcuschi, 1986);
COMO ANALISAR A CONVERSAÇÃO 
Conversação natural: 
é o objeto de estudo da análise da conversação;
os interlocutores constroem em conjunto; 
a conversação é uma atividade coprodução.
Ela é o nosso objeto de estudo. 
Conversação artificial:
segue um planejamento discursivo previamente elaborado;
é uma simulação das interações reais.
Exemplos. Roteiros de filmes, peças de teatros etc.
 permite que se abordem questões envolvendo “a sistematicidade da língua presente em seu uso e a construção das teorias para enfrentar essas questões”, (Marcuschi, 1998).
ELEMENTOS NÃO VERBAIS DA CONVERSAÇÃO (STEINBERG:1988) 
Paralinguagem: sons emitidos pelo aparelho fonador, mas que não fazem parte do sistema sonoro da língua usada (como por exemplo, assobios, sons onomatopaicos, altura exagerada);
Cinésica: movimentos do corpo como gestos, postura, expressão facial, olhar e riso;
Proxêmica: a distância mantida entre os interlocutores;
Tacêsica: o uso de toques durante a interação;
Silencia: a ausência de construções linguísticas e de recursos da paralinguagem. (momento em que a pessoa silencia numa conversa)
A TRANSCRIÇÃO DOS DADOS ORAIS
Sons (início da gravação)
L2 (então pra) começar até falar que a gente vai falar sobre esse assunto não sei se você vai lembrar disso
[ 
L1 tá
[
L2 éh::: cê fez uma palestra cê deu uma palestra no Sesc Pompéia
[
L1 ahn
[
L2 pro projeto Alta Voltagem ... que era u:ma palestra em São Pa:ulo ... aí tinha
uma mulecada ali na choperi:a ... aí eu até te f/ eu tava lá por acaso
[
L1 ahn
(http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/anagrama/article/viewFile/6258/5674)
EXEMPLOS DE NORMAS PARA TRANSCRIÇÃO
Essas normas podem variar ligeiramente.
Sons 	 ( ) Incompreensão de palavras ou segmentos.
(hipótese) - 	 Hipótese do que se ouviu
/ 	Truncamento
MAIÚSCULA 	 Entonação enfática
::: 	Prolongamento de vogal ou consoante.
- - 	 Silabação (a-d-o-r-e-i)
? 	 Interrogação
... 	 Qualquer pausa.
[ 	 Superposição, simultaneidade de vozes. (duas ou mais pessoas falando ao mesmo tempo)
( ...) 	A fala foi tomada ou interrompida 
“ ” Citações literais de textos. 
A NOÇÃO DE ‘TURNO’
Regra básica para a conversação: “fala um de cada vez”. 
Turno: “aquilo que um falante faz ou diz enquanto tem a palavra, incluindo aí a possibilidade do silêncio” (Marcuschi, 1986:18). (Tuno é o momento de fala de alguém.)
Turno: um dos componentes centrais de uma conversação, que tem como operação básica a tomada de turno.
Importante: Mantemos esse respeito ao turno quando discutimos? Não 
Há normas aceitas por todos para que a conversação seja feita com sucesso. 
Quando os participantes se esquecem do respeito aos turnos, é comum ouvirmos comentários do tipo: “um de cada vez, senão ninguém se entende”; “quando um fala, o outro escuta” etc. 
 
O que ocorre em uma discussão? 
A tomada de turno, que acontece naturalmente em uma conversa normal, na discussão, é feita de modo caótico, pois todos os envolvidos na conversação querem falar ao mesmo tempo. Numa discussão o turno se perde.
MANUTENÇÃO DO TURNO
Estratégias de gestão de turno: a troca de falantes no momento da conversação pode acontecer tranquilamente quando um dos falantes entrega o turno de forma explícita ou de modo consentido.
Para assegurar nosso direito à voz, evitamos:
pausas longas;
preenchemos o silêncio alongando as vogais e consoantes finais;
corrigimos alguma coisa que tenhamos dito;
repelimos ou incorporamos a correção do interlocutor.  
ASSALTO AO TURNO
Assaltos ao turno. (Dionísio:2001:82) “[...] invasão de um dos falantes ao turno do outro.”
O assalto pode ser com ou sem deixa. 
Assalto com deixa. Pausas, hesitações, alongamentos, entonação descendente produzidas por um dos falantes favorecem o “assalto” ao turno. 
Assalto sem deixa. Casos em que há intervenções bruscas, provocando sobreposições de vozes, que, de acordo com Marcuschi (1986), provocam um “colapso” na interação
01) L2 a Escola de Belas Artes já tem professor pronto... quer dizer...
L1 se fosse de interesse... o:... eles oferecem para a escola... quer dizer...
com um grupo mínimo de cem... eh...
(NURC/SP 335, linhas 9-12)
(02) L1 exatamente... em outros campos de aplicação de dinheiro... eu acho...
todo o dinheiro que eu ganhar... eu primeiro aplicaria sempre em obra de arte... eu
adoro aplicar em obra de arte mas não tê-las... mas que eu pudesse apli/...
L2 por falar nisso ganhei uma gravura do A. hoje...
(NURC/SP 335, linhas 488-492)
ALOCAÇÃO DE TURNOS
Passagem consentida do turno: esta é uma entrada não conflitiva na corrente da fala. O locutor pode nos passar a palavra, através do olhar ou de expressões tais como “e você, o que pensa disso?”.
Vejamos o exemplo...
L1 a nossa conversa é sobre impostos... não é? ((risos)) e nós professores eh perdemos o direito de: ou imposto de renda que nós tínhamos o benefício de não recolhê-lho... nós... os jornalistas e os juízes... os magistrados... e a legislação vem sendo alterada... alterada até de... de uns cinco anos pra cá... se não erro aí... Mais ou menos uma meia dúzia de anos pra cá... os professores passaram
L2 acho que dez anos já... já deve ter mais de anos... já... já tem mais de anos já...
(NURC/SP 335, linhas 794-802)
(http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_linguisticos/pfd_linguisticos/083.pdf
CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA FALADA
a) Ausência de uma etapa nítida de planejamento.
b) Existência de um espaço comum partilhado entre os interlocutores.
c) Envolvimento dos interlocutores entre si e com o assunto da conversação.
Marcadores discursivos: elementos que têm por função:
assinalar as relações interpessoais e o envolvimento entre os interlocutores;
situar o tópico ou assunto da conversação no contexto partilhado pelos interlocutores e no contexto pessoal de cada um deles;
articular e estruturar as unidades da cadeia linguística. (essa a característica mais importante)
(http://www.filologia.org.br/revista/artigo/7(20)05.htm)
MARCADORES DISCURSIVOS
Marcadores conversacionais (MCs). Ao finalizar seus turnos, um falante pode fazer uso de elementos como “não é?”, “sabe?”, “entendeu?” etc. Outro, ao mostrar que participa da interação, pode utilizar algumas expressões estereotipadas como “é exato”,“certo” etc. 
Alguns exemplos de marcadores
(1) Marcadores finais de turno
Méd: os efeitos [do El Niño] são muito diferentes né? (BP-1).
En: a senhora conseguiu ser... uma intelectual no poder?
Et: de jeito nenhum... e nem pretende (...) (RV-2).
Os marcadores discursivos tem o papel de organizar a nossa fala. Entretanto, quando ele é excessivo, torna-se um problema. Sendo assim, cabe a cada um se policiar.
2) Marcadores conversacionais de tomada de turno. 
Med: bem estamos de volta com Roda-viva hoje entrevistando... o senador Pedro Simon (RV-1).
Deb: ah... antes pegando um gancho aqui do nosso embaixador... eu diria que o Brasil não pode ter pretensões hegemônicas (BP-2).
(3) MCs de envolvimento do ouvinte. 
En: o senhor acredita no Fernando Henrique?
Et: olha eu não sei se eu acredito... se eu rezo... (como o senhor quer)... mas eu acho que o Fernando Henrique... não pode deixar de lado o social (RV-1)
E para terminar ...
RESUMINDO
O que é conversação (teoria da interação, teoria da polidez linguística);
Características da conversação;
Elementos não verbais presentes na conversação;
Como se transcrevem dados orais;
A noção de turno;
Assalto ao turno com deixa;
Assalto ao turno sem deixa;
Marcadores discursivos.
Aula 9 – Análise de Discurso de Linha Francesa (Aula 1)
Profª. Márcia Dias
A Análise de Discurso de Linha Francesa olha a ideologia que existe por trás de qualquer texto.
Texto é tudo que comunica alguma coisa: tirinha, pintura, propaganda...
A análise do discurso vai dizer que viver em sociedade significa assimilar discursos que muitas vezes não são nossos.
Distinção entre linguagem e discurso.
A visão do fenômeno linguístico apresentada por Saussure é considerada pela AD como redutora. 
Saussure: a linguagem humana é composta por langue (língua) e parole (fala) e à Linguística interessaria estudar a língua por representar aquilo que é sistemático e social entre os fatos da linguagem. 
Saussure julgasse que língua e fala são interdependentes, ele acreditava que deveriam ser analisadas separadamente, isto é, haveria uma linguística da língua e uma linguística da fala. 
Saussure dizia que não podia estudar a fala porque ela é heterogênea.
A AD como ruptura
A AD nos apresenta uma nova maneira de olhar o processo de comunicação: afasta-se do esquema elementar da comunicação (emissor – receptor; referente-mensagem-código). 
Essa ruptura acontece porque a AD considera que ao nos comunicarmos fazemos mais que simplesmente transmitir informação. 
Orlandi (2002:21): a comunicação não é resultado de um processo linear: “[...] não há essa separação entre emissor e receptor, nem tampouco eles atuam em sequência em que primeiro um fala e depois o outro decodifica etc.” 
 A análise do discurso diz que temos que estudar o discurso, ou seja, a fala agindo em sociedade.
A AD não é uma teoria sobre a gramática da língua: 
busca tratar do sentido, da leitura;
as palavras não têm sentido por si só;
as palavras significam somente quando consideramos quem foi seu autor, para quem ele escreveu, em que condições etc.;
não há sentido óbvio para um dado texto: ao texto, agrega-se uma formação ideológica que atuará em seu significado.
A AD critica a Linguística porque considera o discurso um objeto sócio-histórico e por trabalhar com a língua fechada nela mesma. 
Para a AD, a linguagem deve ser estudada como formação ideológica (FI) e como formação discursiva (FD). 
A AD considera o discurso um objeto sócio-histórico e critica a linguística porque ela trabalhar com a língua fechada nela mesma. (grifo meu)	
O plano da expressão e o plano do conteúdo
Uma tira é um texto: deve ser considerada unindo-se o plano da expressão ao plano do conteúdo 
Discini: no plano do conteúdo está o discurso e no plano da expressão está a “manifestação do sentido” estabelecida pela união da linguagem verbal e da linguagem não-verbal. (2005:57)
 
Plano da expressão = aspecto concreto da mensagem (sonoro e/ou visual).
Plano do conteúdo (discurso) = assunto da mensagem; estratégias do sujeito para expor um ponto de vista (demonstração de uma ideologia, ou seja, de uma FI). É a ideologia.
Pechêux. o enunciado está inserido em um determinado contexto – social, histórico e ideológico – e, portanto, apresenta um significado que é produto desse ambiente
O discurso é um objeto sócio-histórico. 
Pechêux - o lado social da língua e o lado histórico da fala unem-se no discurso.
A linguagem é uma prática não porque efetua atos, mas porque pratica sentidos, intervém no real.
Formação ideológica
Qual a relação entre a AD e a ideologia? A AD tem uma noção discursiva de ideologia: 
as ideologias têm existência material e devem ser analisadas através da linguagem;
as visões de mundo não se desvinculam da linguagem, porque a ideologia transparece na linguagem. 
Revejam as tiras e a charge dos eslaides 7, 8 e 9 e analisem essa relação entre linguagem e ideologia.
A AD vem a ideologia como algo palpável e se materializa através da linguagem. 
Formação discursiva
Discurso = fala + social + histórico + sistema + realização (formação discursiva)
		 = processo e produto.
 
Discurso = Palavra em movimento, prática de linguagem.
 Observa-se o homem falando. 
Discurso - toda produção de linguagem.
Discurso é a palavra em movimento, é prática de linguagem de modo que quando pensa em discurso pensa em toda produção de linguagem que o homem exerce. (grifo meu)
O conceito de Formação Discursiva (FD) foi utilizado a partir de Michel Foucault (1969) e “[...] determina o que pode deve ser dito a partir de um determinado lugar social.” (apud Mussalim: 2001, 119)
Uma tirinha é a junção do plano da expressão ao plano do conteúdo, ou seja, unimos o aspecto concreto da mensagem (sonoro e/ou visual) ao assunto da mensagem. 
Formação Discursiva e Formação Ideológica
A ideologia transparece na linguagem.
A formação discursiva diz o que pode e deve ser dito a partir de certo lugar social
Um estudo linguístico das condições de produção do enunciado e como a língua funciona para a produção de sentidos, ou seja a relação linguagem-pensamento-mundo.
Os esquecimentos 1 e 2
Esquecimento número 1. De natureza inconsciente: o sujeito acredita que suas idéias, aquelas que aparecem em seu discurso, são realmente suas. Ele não percebe a ideologia que permeia seu discurso e que já existia antes dele, ou seja, o indivíduo não percebe que é afetado pela ideologia. 
Esquecimento número 2. Atua no nível pré-consciente, pois o sujeito considera seu discurso como parte da relação entre pensamento, linguagem e mundo. Para o sujeito, a relação entre as palavras que escolheu e o discurso proferido é uma relação natural: o indivíduo não percebe que “[...] o modo de dizer não é indiferente aos sentidos.” (Orlandi:2002, 35) 
Resumindo
A AD não é uma teoria sobre a gramática da língua: busca tratar do sentido, da leitura. 
 A AD não acredita que as palavras tenham sentido por si só e sim que essas palavras significam somente quando consideramos quem foi seu autor, para quem ele escreveu, em que condições etc.
 Para a AD não há sentido óbvio para um dado texto: ao texto, agrega-se uma formação ideológica que atuará em seu significado.
A AD francesa rompe com a visão estruturalista que via a língua apenas como um veículo para a comunicação. 
Na AD procura-se compreender a língua fazendo sentido, como parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história.
A AD tem uma noção discursiva de ideologia e acredita que as ideologias tenham existência material e devam ser analisadas através da linguagem.
Segundo a AD, o discurso reflete aspectos simbólicos, políticos, os sujeitos envolvidos, a ideologia etc. 
Quando se pensa em discurso, a AD considera os enunciados que os sujeitos produzem atuando em situações sociais, nas quais esses indivíduos assumem posições.
Aula 10– Análise de Discurso de LinhaFrancesa (Aula 2)
Conteúdo Programático desta aula
A noção de sujeito para a AD.
- Imagem segundo a AD.
- Memória de acordo com a visão da AD.
- Condição de produção.
- Formação Discursiva e Formação Ideológica.
	Relembrando a Formação Discursiva e a Formação Ideológica
Orlandi (2002:43) 
FD “[...] se define como aquilo que numa formação ideológica dada – ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada – determina o que pode e deve ser dito.” 
Ideologia. “Quando nascemos os discursos já estão em processo. Eles não se originam em nós. Isso não significa que não haja singularidade na maneira como a língua e a história nos afetam. Mas não somos o início delas. Elas realizam em nós sua materialidade.” (2002:35)
A ideologia transparece na formação discursiva e essa formação discursiva está no desenho animado, na novela, na propaganda.
A AD como ruptura
A noção de formação discursiva possibilita romper com a visão estruturalista de língua. 
Através dela, percebemos que o discurso é uma prática que reflete uma ideologia, uma prática que interage para constituir os sujeitos e os sentidos. 
Um discurso reflete uma ideologia
A noção de sujeito para a AD
Somos ‘sujeitos’ e desempenhamos diferentes papeis de acordo com as diferentes posições que ocupamos no espaço interdiscursivo.
Nosso discurso se enuncia a partir de um lugar social, que pode ser o lugar social de médico, professor, aluno, mãe etc.. 
O sujeito não tem controle sobre o que diz: está afetado diretamente pela ideologia.
O sujeito é atravessado pela linguagem e pela história: está sujeito à língua e à história para poder constituir-se e produzir sentidos. 
Segundo Orlandi (2003, p. 49), ele é assim determinado, pois, se não sofrer os efeitos do simbólico, ou seja, se ele não se submeter à língua e à história, não se constitui, não fala, não produz sentidos.
Esse sujeito discursivo deve ser entendido e visto como posição, como um lugar que ocupa para ser sujeito do que diz e não como uma forma de subjetividade. 
A maneira como o sujeito ocupa seu lugar – posição – não é acessível a ele, que não possui acesso direto à exterioridade – interdiscurso – que lhe é constitutiva.
O conceito de imagem para a AD
IMAGEM. Em nossa formação social, podemos considerar:
a imagem que o paciente tenha do que seja um médico;
a imagem que um eleitor tenha do que seja um político;
a imagem que o cidadão tenha do que seja um juiz;
etc.
Vejamos alguns exemplos
A condição de produção para a AD
Orlandi (2002:30) afirma que a condição de produção compreende os sujeitos e a situação, ou seja, envolvem o mecanismo de colocação dos protagonistas e do objeto do discurso. 
Segundo a autora, a condição de produção dá-se em sentido estrito e em sentido amplo. No primeiro caso, tem-se o contexto imediato, ou seja, as circunstâncias de enunciação enquanto no segundo tem-se o contexto sócio-histórico (ideológico). 
As condições de produção possuem:
- um lado material, já que envolvem a língua e a historicidade; 
- um lado institucional, ou seja, a formação social, em sua ordem; 
- o mecanismo imaginário que produz imagens dos sujeitos, assim como do objeto do discurso:
a imagem da posição do sujeito locutor (quem sou eu para lhe falar assim);
a imagem da posição do sujeito interlocutor (quem é ele para que me fale assim, ou para que eu lhe fale assim);
a imagem do objeto do discurso (do que eu estou falando, do que ele me fala).
A mémoria (interdiscurso) para a AD
MEMÓRIA (INTERDICURSO). Todos os discursos têm uma “função citativa”, ou seja, na medida em que um discurso é determinado pelas formações ideológicas, o discurso cita outros discurso. 
Para a AD, a memória, ou melhor, a maneira como a memória aciona as condições de produção é fundamental para a produção do discurso. A
AD trata a memória como interdiscurso definido em Orlandi (2000) como “[...] aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente [...] é todo conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos [...] o interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam o modo como o sujeito significa em uma situação discursiva.
Conversando sobre ‘Admirável Gado Novo’
Admirável Mundo Novo (1932, Aldous Huxley). O livro trata de um futuro em que as pessoas seriam condicionadas biologicamente e psicologicamente a viver conformadas com as regras sociais. 
 No livro há duas sociedades, uma primitiva e outra evoluída: só que é na evoluída que temos essas pessoas condicionadas.
Na música, composta em 1979, temos uma crítica ao sistema capitalista, às formas de vida escravizada que esse sistema capitalista gera,.
O gado é marcado; as pessoas também: temos cpf, identidades etc.
RESUMINDO
Que tal um resumindo diferente? 
Sobre o que conversamos ao longo de nossas 10 aulas?
Semântica. 
Pragmática.
Análise da conversação.
Análise do Discurso de Linha Francesa.

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