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Realismo na obra Machadiana

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“REALISMO NAS OBRAS MACHADIANAS “QUINCAS BORBA E MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS”
	Walter Ap. Gonçalves
wgoncalves67@gmail.com
Este ensaio tem por objetivo traçar um paralelo das obras Machadiana, mais especificamente “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”. Buscaremos compreender os argumentos postos pelo autor, relativos ao romantismo e o humanismo nas obras citadas.
Quanto ao romantismo, podemos dizer que ele foi formalizado por dois grandes acontecimentos históricos de grande importância: primeiro foi as Revolução Industrial Francesa. A vida social estava desconexa entre a burguesia industrial, e o aparecimento da classe operária, ou seja os proletariados.
A burguesia ganhava poder e o capitalismo se desenvolvia cada vez mais, enquanto os impérios feudais e a aristocracia que defendia deles encontrava-se em situação de calamidade. Era o fim do absolutismo na Europa causado pelos dois movimentos revolucionários citados anteriormente e o início da industrialização que se espalhou por toda a Europa. A Revolução Francesa tinha por ideal de liberdade, equidade e fraternidade, que posteriormente alcançou a América Latina, e foi um marco para um período de independência nas colônias da Espanha e Portugal. Assim, houve a independência de: Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Peru, México, Brasil, América Central, Bolívia e Uruguai.
Na literatura a fase romântica rompeu com a tradição e cultura clássica, imposta pelo períodoárcade, e apresentou novas concepções literárias, dentre as quais podemos apontar: as condições do estado de alma, das emoções, da liberdade, desabafos sentimentais, valorização do índio, a manifestação do poder de Deus através da natureza afável do homem, a temática voltada para o amor, para a saudade, o subjetivismo.[1: Designação comum a sociedades literárias dos sXVII-XVIII que cultivavam o classicismo e cujos membros adotavam nomes de pastores na simbologia poética. Dicionário Eletrônico Houaiss 2009.]
Na obra “Quincas Borba”, Machado de Assis deixa de lado a liberdade formal que havia empregado em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, romance este que é o marco inicial do Realismo no Brasil. Desta vez, ele elegeu por expor os fatos em terceira pessoa, ou seja, o narrador não toma parte daquilo que relata. Ao oposto mante-se longe, apenas observando os acontecimentos. 
De alguma forma, há uma pequena analogia entre “Quincas Borba” e o romance que o antecedeu, o humanitismo, filosofia essa, que Quincas Borba, enquanto personagem das “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, aventura a atrelar, antes de morrer, em seu enfermeiro Rubião, na cidade mineira de Barbacena, para onde havia se mudado.
Professor primário provinciano e enfermeiro do rico filósofo, Rubião torna-se herdeiro e vai para a Corte, no Rio de Janeiro, para desfrutar da nova vida. O humanitismo é exposto fundamentalmente no romance Quincas Borba e de uma forma secundária em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Podemos observar no trecho do livro Quincas Borba, no qual ele explica sua filosofia ao personagem Rubião:
— Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, ode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.   
— Mas a opinião do exterminado?    
— Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias(Assis,1994, p.06).
	Para muitos críticos, o humanismo estabelece a ideia do império da lei do mais forte, do mais rico e do mais esperto. Candido (1995), escreveu que a essência do pensamento machadiano é “a transformação do homem em objeto do homem, que é uma das maldições ligadas a falta de liberdade verdadeira, econômica e espiritual.”
	Conforme discussões em sala de aula, percebemos que o humanitismo de Machado de Assis, não passa de uma chacota ao Positivismo, e ao Cientificismo do século XIX e a teoria de Charles Darwin acerca da seleção natural. Desta forma, a teoria do “ao vencedor, as batatas” seria uma paródia da ciência da época de Machado de Assis e sua divulgação forte”, uma forma de desnudar ironicamente o caráter desumano e antiético da “lei do mais forte.”[2: Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857) que se propõe a ordenar as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas; comtismo. Dicionário Eletrônico Houaiss 2009.][3: Concepção filosófica de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia metafísica etc.), por ser a única capaz de apresentar benefícios práticos e alcançar autêntico rigor cognitivo. Dicionário Eletrônico Houaiss 2009.]
Deve-se lembrar que o cachorro é um elemento curioso na obra. Pode-se dizer que o título refere-se a ele, num mecanismo que engana o leitor – o livro não é, na verdade, sobre o homem Quincas Borba. Pode-se, também, ver no animal uma extensão, dentro dos próprios ditames do Humanitas, do princípio do antigo dono. Tanto que algumas vezes o Rubião tinha preocupações com suas ações imaginando que o mestre havia sobrevivido na criatura. É uma observação que faz sentido, tanto no aspecto “espiritualista” como na própria estrutura literária da obra, pois o cão fica como uma suposta consciência do filósofo, a incomodar Rubião.
	A filosofia de Quincas Borba afirma que a substância da qual decorrem e para a qual convergem todas as coisas é Humanitas, e que a cobiça não passa do nobre sentimento de contemplação, nos outros, das qualidades de Humanitas. O Humanitismo, distingue a guerra como forma de seleção dos mais hábeis. Humanitas se lança por meio de quatro etapas: [4: Humanitas é um substantivo que significa a natureza humana, a civilização, e bondade. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Humanitas>Acesso em:10 de maio de 2013.]
A estatelada, anterior a criação;
A expansiva, início das coisas;
A dispersiva, surgimento do homem; a contrativa, absorção do homem na substância original.
	A filosofia exclui o sexo e o sofrimento, considerando o Cristianismo uma “moral de fracos” (clara intertextualidade às teorias de Nietzsche), a mulher um ser inferior, e tudo no mundo como algo bom,sendo a única coisa ruim o não nascer.
	No capítulo 157 de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o Humanitismo se proclama a única verdade, negando a verdade essencial do Budismo, Bramanismo, Islamismo, Cristianismo e todos os sistemas e crenças da história da humanidade. Vejamos o referido capítulo:
— Sublime és tu, bradei eu, lançando lhe os braços ao pescoço. Com efeito, era impossível crer que um homem tão profundo chegasse à demência; foi o que lhe disse após o meu abraço, denunciando-lhe a suspeita do alienista. Não posso descrever a impressão que lhe fez a denúncia; lembra-me que ele estremeceu eficou muito pálido. Foi por esse tempo que eu me reconciliei outra vez com o Cotrim, sem chegar a saber a causa do dissentimento. Reconciliação oportuna, porque a solidão pesava-me, e a vida era para mim a pior das fadigas, que é a fadiga sem trabalho. Pouco depois fui convidado 
por ele a filiar-me numa Ordem Terceira; o que eu não fiz sem consultar o Quincas Borba: — Vai, se queres, disse-me este, mas temporariamente. Eu trato de anexar à minha filosofia uma parte dogmática e litúrgica. O Humanitismo há de ser também uma religião, a do futuro, a única verdadeira. O cristianismo é bom para as mulheres e os mendigos, e as outras religiões não valem mais do que essa: orçam todas pela mesma vulgaridade ou fraqueza. O paraíso cristão é um digno êmulo do paraíso muçulmano; e quanto ao nirvana de Buda não passa de uma concepção de paralíticos. Verás o que é a religião humanística. A absorção final, a fase contrativa, é a reconstituição da substância, não o seu aniquilamento, etc. Vai aonde te chamam; não esqueças, porém, que és o meu califa. E vede agora a minha modéstia; filiei-me na Ordem Terceira de, exerci ali alguns cargos, foi essa a fase mais brilhante da minha vida. Não obstante, calo-me, não digo nada, não conto os meus serviços, o que fiz aos pobres e aos enfermos, nem as recompensas que recebi, nada, não digo absolutamente nada. Talvez a economia social pudesse ganhar alguma coisa, se eu mostrasse como todo e qualquer prêmio estranho vale pouco ao lado do prêmio subjetivo e imediato; mas seria romper o silêncio que jurei guardar neste ponto. Demais, os fenômenos da consciência são de difícil análise; por outro lado, se contasse um, teria de contar todos os que a ele se prendessem, e acabava fazendo um capítulo de psicologia. Afirmo somente que foi a fase mais brilhante da minha vida. Os quadros eram tristes; tinham a monotonia da desgraça, que é tão aborrecida como a do gozo, e talvez pior. Mas a alegria que se dá à alma dos doentes e dos pobres, é recompensa de algum valor; e não me digam que é negativa, por só recebê-la o obsequiado. Não; eu recebia-a de um modo reflexo, e ainda assim grande, tão grande que me dava excelente ideia de mim mesmo. (ASSIS, 1994, p. 137).
Entendemos portanto, que o Humanitismo como um conceito surgido no Renascimento que coloca o homem como o centro de interesse e, portanto, em torno do qual tudo acontece. No entanto o Humanitismo na obra Machado, busca recriminar as correntes filosóficas da época, ou seja não passa de ironia em que o autor ironiza para desmascarar a natureza humana.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ASSIS, Machado de, Quincas Borba, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1994.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Rio De Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1994.
CANDIDO, Antonio, Rosenfeld, Anatol, A Personagem de Ficção, São Paulo
CHIAPPINI, Ligia, O Foco Narrativo, São Paulo: Ed. Ática, 2002.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2009. 
NUNES, Benedito, O Tempo Na Narrativa, São Paulo: Ed. Ática, 2003.

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