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Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 1 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar 7. PETIÇÃO INICIAL (art. 798 do NCPC) A petição inicial no processo de execução de título extrajudicial tem a função de manifestar a vontade do exequente em obter a tutela jurisdicional que consiste na satisfação do crédito retratado no título executivo. É ela, como qualquer outra petição inicial, que romperá a inércia da jurisdição e dará início ao processo1, que não se inicia de ofício. A petição inicial deverá ser dirigida ao juízo competente a ser identificado com base no art. 781 do NCPC, preenchendo os requisitos legais e necessários e instruída com: � o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1o a 3o do NCPC; (identificação completa do(s) credor(es) e do(s) devedor(es)) � o título executivo extrajudicial e seus adendos complementares (a exemplo da prova da cessão de crédito, sub-rogação etc,); (existência do título, sua materialidade, certeza) � o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução de quantia certa (o demonstrativo deve observar as exigências do parágrafo único do art. 798: o demonstrativo do débito deverá conter: I - o índice de correção monetária adotado; II - a taxa de juros aplicada; III - os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; V - a especificação de desconto obrigatório realizado. (Liquidez) � quando se tratar de obrigação específica, indicar e descrever com precisão a obrigação estabelecida no título executivo extrajudicial, bem como demais encargos e eventuais multas por descumprimento e indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível; (Exigibilidade) � a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; (Exigibilidade) � a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a 1 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 489. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 2 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente. (Exigibilidade) � o valor da causa, que deve corresponder ao conteúdo econômico da pretensão. Compete, ainda, ao exequente, conforme previsão legal do art. 799 do NCPC, quando necessário, no início ou no curso do processo, promover a intimação de determinadas pessoas (terceiros interessados) que mantém vínculo de direito real com os bens sujeitos à execução ou a serem indicados para penhora: I - credor pignoratício (bem penhorado), hipotecário (bem hipotecado), anticrético (bem sob anticrese), ou fiduciário (alienação fiduciária); II – titular do usufruto, uso ou habitação; III – promitente comprador IV - promitente vendedor; V – do superficiário, enfiteuta ou concessionário; VI – do proprietário do terreno com regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso. VII – a sociedade no caso em que o exequente pretende penhorar quotas sociais ou ações para que seus sócios possam exercer o direito de preferência com relação a eventual adjudicação. As intimações previstas no art. 799 do NCPC são necessárias para garantir a eficácia da alienação dos bens em relação as pessoas constantes do rol previsto nos incisos I a VII do referido dispositivo legal. A petição inicial no processo de execução é submetida a análise prévia do magistrado. Também aqui é correto identificar um juízo de admissibilidade positivo, um neutro e um negativo. Ao processo executivo aplica-se subsidiariamente a parte geral do NCPC, especialmente, neste caso, as normas previstas no art. 321 que trata dos requisitos da petição inicial. O juízo de admissibilidade positivo é aquele que o magistrado faz recebendo a petição inicial, dando prosseguimento normal e regular ao processo, determinando a citação, pois verifica que preencheu os requisitos legais e necessários. O juízo e admissibilidade neutro é aquele no qual o magistrado verifica que a petição Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 3 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar inicial precisa de emenda e a determina, devendo indicar ao exequente o que está incompleto na inicial ou quais os documentos indispensáveis estão faltando. O juízo de admissibilidade negativo é o indeferimento da petição inicial ou a improcedência liminar do pedido quando entender que há prescrição ou decadência que deverá ser feita, após a oitiva obrigatória do exequente (contraditório do exequente), não poderá ser de plano (art. 332)2. Em suma: FATO PROVIDÊNCIA Se a petição inicial não preencher os requisitos legais e necessários. Aqui se inclui a legitimidade das partes. Determina-se a emenda à inicial especificando o que está incompleto e precisa ser emendado, inclusive os documentos indispensáveis que estão faltando. Prazo de 15 dias. (arts. 801 e 321, NCPC) Se o exequente, intimado, não prover a emenda à inicial. Indefere-se a petição inicial na forma do art. 330 e art. 924, I, NCPC. Se a petição preenche todos os requisitos legais Despacha-se ordenando a citação (art. 802) que interrompe a prescrição (que retroagirá à data do protocolo da petição inicial – art. 312) Se for verificada a ocorrência da prescrição ou decadência, ou outra causa extintiva ou impeditiva do direito Despacha-se determinando que o exequente se manifeste sobre o que foi verificado e não havendo manifestação do exequente (silêncio) ou manifestação que não desconstitua o que foi verificado, profere-se decisão de improcedência liminar do pedido (art. 332). 8. DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO (arts. 806 a 813) Nossa didática de apresentação desta matéria será de uma forma mais prática, esquematizada, tentado alcançar o nosso objetivo, com mais rapidez e eficiência. Será da seguinte forma e disposição: 1) espécie de execução; 2) requisitos da petição inicial; 3) despacho; 4) citação, observando-se a especificidade de cada espécie de execução. O CPC de 2015 divide com clareza, como já fazia, também, o CPC/1973, a disciplina procedimental do processo de execução de acordo com a sua modalidade obrigacional. 8.1 Execução para entrega de coisa É dividida em duas subespécies: a) execução para entrega de coisa certa; b) execução para entrega de coisa incerta. A diferença entre ambas reside no direito material, e deverá constar já na petição inicial, sua distinção fundamental é o objeto da execução: se a entrega 2 BUENO op. cit. p. 491. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 4 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar de coisa certa ou incerta. 8.1.1 Execução para entrega de coisa certa Faz-se necessário irmos até o Código Civil (direito material) para conceituarmos a obrigação de entregar coisa certa (arts. 233 a 242). a) Conceito Entregar coisa certaconsiste na entrega de coisa móvel ou imóvel que esteja individualizada ao credor. Exemplo: Obrigação: entregar o imóvel descrito no contrato de promessa de compra e venda. Esta modalidade pode se manifestar de três formas distintas: 1) Obrigação de transferir - ocorre quando o devedor transfere a propriedade do bem, como por exemplo, no contrato de compra e venda de imóvel. 2) Obrigação de entregar - ocorre quando o devedor transfere ao credor somente a posse, não o direito real de propriedade, como, por exemplo, quando faz a locação de um imóvel urbano ou o dá em comodato; 3) Obrigação de restituir – é o inverso da obrigação de entregar. No início do contrato, o devedor recebe o bem para, depois, no prazo estabelecido, restituí-la ao credor. Como exemplo, citamos o contrato de locação de imóvel urbano, em que o locador passa a ser o credor porque a coisa passa a ser devolvida para ele. O locatário será o devedor, pois deverá restituir a coisa certa ao locador. b) Requisitos da petição inicial A petição inicial deverá preencher os requisitos do art. 319, naquilo que lhe for aplicável e observará o disposto no art. 798 do NCPC, será dirigida ao juízo competente a ser identificado com base no art. 781 do NCPC. Como se trata de coisa certa, a petição inicial deverá indicá-la com precisão e de acordo com o estabelecido no título executivo extrajudicial. c) Despacho e citação Proferido o juízo positivo de admissibilidade da inicial, o magistrado determinará a citação do executado, fixará os honorários advocatícios devidos caso haja satisfação da obrigação e poderá, desde logo, fixar multa por dia de atraso no cumprimento da ordem de entrega, que pode ser alterada para mais ou para menos, conforme a necessidade que o caso concreto apresente (art. 806, §1º). Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 5 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar Todas as formas de citação previstas no CPC são admitidas na execução, inclusive a por carta, que não era admitida na legislação anterior. Sendo feita por mandado, se houver sus- peita da ocultação do devedor, far-se-á com hora certa. Antiga corrente doutrinária negava a possibilidade de citação com hora certa na execução, mas está superada (Súmula 196, do STJ).3 O executado será citado para, em quinze dias úteis, satisfazer a obrigação, isto é, entregar a coisa tal qual identificada na petição inicial (art. 806). O executado terá o mesmo prazo de 15 dias úteis para, querendo, oferecer embargos à execução, nos termos do art. 915, do NCPC. Quando a citação foi feita pelo oficial de justiça, já constará no mandado ordem para imissão na posse (em se tratando de bem imóvel) ou busca e apreensão (em se tratando de bem móvel), cujo cumprimento se dará logo que se verifique que o executado não cumpriu a ordem que lhe foi dirigida, no prazo que lhe foi estabelecido. Quando a citação foi feita pelos Correios deverá constar na redação da carta que, caso o executado deverá cumprir a ordem no prazo de 15 (quinze) dias úteis, sob pena de expedição de ordem de imissão na posse (em se tratando de bem imóvel) ou de busca e apreensão (em se tratando de bem móvel), cujo cumprimento se dará logo que se verifique que o executado não cumpriu a ordem que lhe foi dirigida, no prazo que lhe foi estabelecido. Merece sua atenção: Conforme previsão legal constante do §3º, do art. 231 do NCPC, caso o ato processual tenha de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, independentemente de intermediação por representante judicial (como se dá, por exemplo nas obrigações de fazer e não fazer, entregar coisa certa e incerta, de pagar quantia certa), o dia do começo do prazo será o da data que o executado foi citado, tornando-se irrelevante a data da juntada da comprovação da citação/intimação4. Portanto, no processo executivo, a contagem dos prazos para a finalidade prevista no do §3º, do art. 231 do NCPC, será da data da efetiva citação e ou intimação, não se levando em conta a data da juntada do comprovante da citação e/ou intimação. A maioria dos doutrinadores seguem esse entendimento. Para Humberto Theodoro Júnior, há uma distinção entre o termo inicial da contagem do prazo para cumprir a obrigação e para oposição de embargos. Segundo ele, como o mandado de citação não retorna aos autos senão depois de ultrapassado o prazo de cumprimento da obrigação pelo executado, o termo inicial é o da data da citação e como a oposição dos embargos depende da intermediação por representante judicial, o termo inicial é o da juntada do mandado aos autos, ou seja, da data do retorno do mandado de citação. 3 GONÇALVES, op. cit. p. 767. 4 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas. 2015. p. 139. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 6 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar d) Condutas possíveis ao executado depois da citação 1ª. conduta Se o executado fizer a entrega da coisa no prazo de 15 (quinze) dias úteis, a obrigação estará satisfeita, mas a execução, ainda não poderá ser extinta, na forma do art. 924, II, do NCPC, visto que, segundo o art. 807 do NCPC, após a entrega do bem “será lavrado o termo respectivo e considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se o processo na forma de execução de quantia certa para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver”, razão pela qual, antes de ser extinta a execução, o exequente deverá ser intimado para se manifestar a respeito do bem oferecido. Mesmo que não haja motivo para percepção de frutos ou ressarcimento de prejuízos, a execução prosseguirá na forma de quantia certa para a cobrança das custas e despesas processuais, somente havendo extinção da execução quando, além da entrega da coisa, o executado, também, realizar o pagamento das despesas processuais e verbas honorárias sucumbenciais.5 2ª. Conduta Se o executado optar pela oposição de embargos à execução, poderá oferecer em depósito a coisa, cumprindo assim uma das exigências contidas no art. 919, §1º, do NCPC para a concessão do efeito suspensivo aos embargos6. Nos embargos, o executado poderá alegar qualquer matéria em sua defesa. Tem par- ticular importância a possibilidade de ele alegar que, de boa-fé, fez benfeitorias necessárias e úteis, o que lhe dá direito de retenção (art. 917, IV). Nesse caso, ele deverá opor os embargos pedindo ao juiz que suspenda o cumprimento do mandado de busca e apreensão ou imissão na posse, com fundamento no direito de retenção. Verificando o juiz que há nos autos elementos indicativos da existência desse direito, ele o fará, preservando o bem em mãos do executado, até que haja o ressarcimento das benfeitorias.7 Se não houver embargos, ou eles forem julgados improcedentes, a busca e apreensão ou a imissão na posse tornar-se-ão definitivos. 3ª. Conduta Se o executado não entregar a coisa, caso em que se cumprirá, de imediato, a ordem de imissão na posse, se o bem for imóvel, ou de busca e apreensão, se móvel, que já constava do mandado de citação. O juiz pode, ainda, valer-se da multa como meio de coerção, quando 5 NEVES, op. cit. p. 1.138. 6 NEVES, op. cit. p. 1.134. 7 GONÇALVES, op. cit. p. 768. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 7 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar verificar, por exemplo,que o devedor oculta o bem.8 Caso a entrega da coisa torne-se impossível, por perecimento, deterioração ou qual- quer outra razão, haverá conversão em perdas e danos, com liquidação incidente, para apuração do quantum debeatur. Se alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido o mandado contra o terceiro adquirente. 8.1.2 Execução para entrega de coisa incerta Faz-se necessário irmos até o Código Civil (direito material) para conceituarmos a obrigação de entregar coisa incerta (arts. 243). a) Conceito A "coisa incerta" a que alude a lei não é a ignorada ou desconhecida. Mas a que é determinável pelo gênero e pela quantidade. Exemplo: Obrigação: entregar 500 kg de grãos de milho. O art. 244 do CC dispõe que "nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigada a prestar a melhor". b) Procedimento Quando se tratar de coisa incerta – coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, conforme se infere do art. 811 do NCPC, em harmonia com o art. 243 do CC -, é obrigatório verificar, à luz da lei aplicável ou do que foi ajustado pelas partes, a quem compete a escolha: se ao credor ou ao devedor. Se ela couber ao devedor/executado, ele será citado para entrega-la individualizada. Se a escolha couber ao credor/exequente, a escolha deverá ser feita na petição inicial (art. 811, parágrafo único, NCPC).9 Quando nem do título executivo nem da petição inicial constar a quem cabe a escolha, caberá ao credor fazê-lo. Segundo o art. 812 do NCPC, qualquer uma das partes (credor ou devedor), em quinze dias, poderá impugnar a escolha feita pela outra, seguindo-se de decisão, com ou sem dilação probatória (inclusive pericial), se for necessário. A única particularidade no procedimento da execução para entrega de coisa incerta é a necessidade de individualização da coisa. Superada essa fase de individualização da coisa incerta 8 Idem. 9 BUENO, op. cit. p. 493. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 8 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar (genérica), o procedimento da execução é o mesmo observado na entrega da coisa certa (art. 812, NCPC). 8.1.3 Execução das obrigações de fazer ou de não fazer 8.1.3.1 Disposições Gerais O art. 814 do NCPC prevê a possibilidade de cominação de multa periódica (pode ser por hora, diária, mensal) para compelir o executado a fazer ou não fazer, cabendo ao magistrado fixá-la desde o recebimento da petição inicial, estipulando, ademais, a data a partir da qual será ela devida. Se o valor da multa prevista no título executivo for excessivo, o magistrado poderá reduzi-la, consoante prevê o parágrafo único, do art. 814, do NCPC10. Com base na atipicidade dos meios executivos, derivada do inciso IV, do art. 139, do NCPC, além da aplicação de multa periódica (astreintes), há a possibilidade da utilização pelo magistrado de medidas de apoio[indutivas, coercitivas mandamentais ou sub-rogatórias] adequadas ao caso concreto, a fim de assegurar o cumprimento da ordem judicial. As obrigações de fazer e não fazer distinguem-se das obrigações de dar, porque nestas o interesse do credor não está no fazer, propriamente dito, mas na coisa. O que interessa ao credor é a restituição da coisa, não a conduta do devedor. Já nas obrigações de fazer, o interesse concentra-se na atividade dele, e suas qualidades pessoais podem adquirir grande im- portância11. São aplicáveis ao processo de execução das obrigações de fazer e não fazer fundado em título executivo extrajudicial o disposto nos arts. 536 e 537, do NCPC (regras do cumprimento de sentença das obrigações específicas). 8.1.3.2 OBRIGAÇÃO DE FAZER Faz-se necessário irmos até o Código Civil (direito material) para conceituarmos a obrigação de entregar coisa incerta (arts. 243). a) Conceito As obrigações de fazer são aquelas em que o devedor se compromete a realizar uma prestação, consistente em atos ou serviços, de natureza material ou imaterial. Exemplo: Obrigação: realizar terraplanagem em um terreno. Esta modalidade pode se manifestar de duas formas distintas: 10 Idem. 11 GONÇALVES, op. cit. p. 769. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 9 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar 1) Obrigação de fazer fungível – é aquela que, embora assumidas pelo devedor, podem ser cumpridas por qualquer pessoa, inclusive pelo credor às expensas do devedor, pois não levam em conta as qualidades pessoais dele. Exemplo: A demolição de uma cerca que impede o direito de passagem. 2) Obrigação de fazer infungível – é aquela personalíssima, que só o devedor pode cumpri-la, pois leva em conta suas qualidades pessoais. Exemplo: O show de um cantor famoso. b) Procedimento obrigação de fazer fungível (art. 815 e ss) O juiz determinará a citação do devedor para que, no prazo estabelecido no título, satisfaça a obrigação. Se o título não indicar prazo, o juiz o fixará. Com a citação, correrão dois prazos independentes, cuja contagem far-se-á na forma do art. 231 do CPC: � O estabelecido para o cumprimento da obrigação – que é aquele assinalado no título ou o fixado pelo juiz, para que a obrigação seja cumprida. Mesmo que seja fungível, é possível que o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, fixe multa periódica, para o não cumpri- mento. Não sendo eficazes os meios de coerção, e persistindo o inadimplemento, o credor pode optar entre a execução específica por sub-rogação ou a conversão em perdas e danos, que exigirá prévia liquidação incidente;12 � O de quinze dias para o devedor opor embargos, que corre independentemente de ele cumprir ou não a obrigação. d.1) Execução específica por sub-rogação A execução específica por sub-rogação é opção do credor; se ele acha que o procedi- mento é trabalhoso ou excessivamente oneroso, pode requerer a utilização dos meios de coerção, e se forem ineficazes, a conversão em perdas e danos. O procedimento da execução de obrigação de fazer fungível por meio de sub- rogação deve seguir o roteiro previsto no art. 815 e ss. NCPC a seguir descrito: • Se o devedor não cumprir a obrigação fungível, o credor poderá requerer que outra pessoa a cumpra no seu lugar e às suas expensas. O juiz nomeará pessoa idônea que possa prestar 12 GONÇALVES, op. cit. p. 770. DIFERENÇAS ENTRE OBRIGAÇÕES DE FAZER FUNGÍVEIS INFUGÍVEIS Usa meios de coerção (a exemplo da multa) Usa meios de coerção (a exemplo da multa) Usa meios de subrogação Não usa meio de sub-rogação Autorizam prestação de terceiro às expensas do devedor. Dispensam a participação do devedor. Não autorizam prestação de terceiros Não dispensam a participação do devedor, exigem a sua colaboração Podem ser convertidas em perdas e danos. Podem ser convertidas em perdas e danos Não se extingue com a morte do devedor. Extingue-se com a morte do devedor, mas converte-se em perdas e danos. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 10 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar o fato às custas do devedor. A nomeação é livre, podendo o juiz determinar que o credor forneça indicações. O terceiro apresentará proposta para realização do serviço, que será examinada pelo juiz, depois de ouvidas as partes. Se acolhida, o exequente anteciparáas despesas. • Depois que o serviço for prestado, as partes serão ouvidas no prazo de dez dias, se, se não houver impugnações procedentes, se dará por cumprida a obrigação, passando-se à execução do devedor, pela quantia que o credor teve de pagar ao terceiro. • Se o serviço não for prestado pelo terceiro, ou o for de maneira incompleta, o credor poderá pedir ao juiz que o autorize a concluir a obra, à custa do terceiro, no prazo de 15 dias. • Caso o próprio credor queira realizar o serviço, terá direito de preferência sobre os outros, que deverá ser exercido no prazo de cinco dias. c) Procedimento obrigação de fazer infungível Como não há possibilidade de uso dos meios de sub-rogação, o juiz utilizará os de coerção, para pressionar a vontade do devedor a cumprir, ele próprio, a obrigação. Para tanto, poderá valer-se dos meios previstos no art. 536, § 1°, do CPC. Mas, se todos resultarem ineficazes e o devedor persistir na recusa, só restará a conversão em perdas e danos.13 8.1.3.3 OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER a) Conceito Tratando-se das denominadas obrigações de não fazer, se faz indispensável fazer a seguinte e importantíssima consideração: não existe mora nas obrigações de não fazer, uma vez que são obrigações negativas e não há como cogitar de atraso no descumprimento. Em ver- dade, o que pode haver é o inadimplemento, o qual ocorrerá quando o devedor praticar ato que estava obrigado a se abster de realizar. Será, então, o caso de se buscar, judicialmente, o desfazimento daquilo que não poderia ter sido feito (o que é uma prestação positiva). Con- clui-se, então, que a execução de obrigação de não fazer é, a rigor, uma execução da obrigação de desfazer o que não poderia ter sido feito.14 Exemplo: Obrigação negativa: Abstenção de fazer “grafite” em determinado muro. Execução Judicial (determina uma ação positiva): Pintar o muro, apagando as imagens produzidas pelo grafitismo. 13 Idem. 14 CÂMARA, op. cit. p. 376. Novo CPC: Prática de Secretaria de Vara, Cumprimento de Sentença e Execução de Título Extrajudicial 11 Facilitadora: Jacilene Vieira de Alencar O art. 822 do NCPC estabelece que “[se] o executado praticou ato a cuja abstenção estava obrigado por lei (legal) ou por contrato (convencional), o exequente requererá ao juiz que assine prazo ao executado para desfazê-lo. b) Procedimento O magistrado determinará a citação do executado para que, no prazo adequado ao cumprimento da obrigação (a critério do magistrado), realize o desfazimento do que não poderia ter sido feito. Se o executado cumprir a determinação no prazo estabelecido, deverá ser extinta a execução, após o pagamento das custas e honorários advocatícios. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa do devedor (aplicando-se, no que for aplicável, o sistema estabelecido para a prestação do serviço pelo terceiro contratado previsto para a execução das obrigações de fazer), conforme dispõe o art. 823 do NCPC. Mesmo assim, o executado, ainda, responderá por perdas e danos.15 Tornando-se impossível o desfazimento do ato, a obrigação se resolverá em perdas e danos e, depois de promovida a liquidação, o processo se converterá em uma execução por quan- tia certa (art. 823, parágrafo único, NCPC). Exemplo: Obrigação de não fazer: Abster-se de publicar determinado vídeo nas re- des sociais. Execução Judicial: conversão em perdas e danos, pois uma vez lançado o vídeo na rede mundial de computares, não há como desfazer, pois, se prolifera (“viraliza”) e fica sem con- trole. 15 Idem.
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