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1
ÍNDICES DE PREÇOS 
Definições Conceituais, Cálculo do 
 IPC, Índices de Preços Brasileiros, Deflação, 
 Indexação 
 
 
Redação inicial: Bruno Pereira Rezende e Michael William Dantas Lima 
 Revisão e adendos: F. R. Versiani 
 
1. Introdução 
Na segunda unidade do curso estudamos a determinação de preços, pela interação da 
oferta e procura; vimos como o preço de determinado bem pode tender ao aumento ou à 
redução, sob certas circunstâncias. Por exemplo: se um artigo fica na moda, a demanda por ele 
aumenta, e seu preço tenderá a subir. Mas sabemos que os movimentos de preços podem 
também ocorrer de forma generalizada, ao longo do tempo, havendo períodos de alta geral de 
preços (o que caracteriza uma inflação) e, menos comumente, períodos de queda conjunta de 
preços (uma deflação). Essas alterações gerais de preços podem afetar profundamente os agentes 
econômicos: a inflação onera o orçamento dos assalariados, pode levar à falência, pelo aumento 
de custos, quem tenha se comprometido a produzir algo por um valor fixo, etc. Isso ressalta a 
importância de medir as variações gerais de preços. Esse é o propósito dos índices de preços. 
2. Definições Conceituais 
2.1 Índices de Preços 
Um índice de preços é um indicador da variação média de um conjunto de preços, entre um 
período tomado como base e o período considerado. Atribui-se ao período-base o índice 100; o valor do 
índice para o outro período indicará a porcentagem de aumento ou redução média de preços, nesse 
intervalo de tempo. 
Por exemplo: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (definido abaixo), tendo como base 
dezembro de 1993 (INPC=100), foi, em fevereiro de 2009, igual a 3.003,43. Considerando que o INPC do 
mês anterior fora 2.994,15, conclui-se que o aumento de preços, medido por esse índice, foi de 0,31%, 
entre janeiro e fevereiro de 2009. 
Ou seja, o aumento percentual de preços em fevereiro, em relação a janeiro (a taxa de inflação de 
fevereiro), medida pelo INPC, foi: 
 2
 ÍNDICE DE PREÇOS (FEV.) – ÍNDICE DE PREÇOS (JAN.) 
TAXA DE INFLAÇÃO (FEV.) = --------------------------------------------------------------- X 100 
 ÍNDICE DE PREÇOS (JAN.) 
 
 Não há uma única taxa de inflação, pois há várias maneiras possíveis de construção de um 
índice de preços, dependendo do uso que se pretenda fazer desse instrumento de medida. 
2.2 Os Índices de Preços ao Consumidor 
 A classe de índices mais conhecida é a dos Índices de Preços ao Consumidor (IPCs), também 
chamados de Índices do Custo de Vida, que expressam a variação de preços dos bens e serviços 
consumidos por uma unidade familiar típica. 
 O cômputo de um índice de preços baseia-se num sistema de ponderação, que define a 
importância relativa de cada bem ou serviço no conjunto de preços considerado. No caso do IPC, utiliza-se 
o peso relativo de cada item no dispêndio do consumidor. Obviamente, a variação no preço de um item 
que constitui boa parte da despesa mensal de um consumidor (como aluguel, ou gastos de alimentação) 
terá efeito mais importante, em seu orçamento, do que a de um artigo que pesa pouco em seus gastos 
(caixas de fósforos, por exemplo). Assim, os IPCs são médias ponderadas da variação de preços que afeta 
um consumidor típico. 
 Como se define o consumidor “típico”? Isso vai depender do objetivo que preside a elaboração de 
cada IPC. Por exemplo: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vinculado ao Ministério do 
Planejamento, produz dois IPCs: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice Nacional de 
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O INPC se destina a medir a variação de preços para famílias, com o 
chefe assalariado, de renda mais baixa (que são geralmente as famílias mais afetadas pela inflação), 
procurando cobrir cerca de metade daquelas famílias. Assim, baseia-se atualmente numa amostra de 
famílias com o rendimento familiar mensal de 1 a 6 salários mínimos (na amostragem definida em 2003). Já 
o IPCA procura medir o movimento geral de preços no mercado varejista, e assim considera famílias com 
renda, de qualquer fonte, entre 1 a 40 salários mínimos (excluindo, dessa forma, famílias de rendas muito 
baixas ou muito altas, cujos hábitos de consumo são em geral menos uniformes). As famílias nessa faixa de 
renda representam mais de 90% do total de famílias brasileiras. 
A determinação das ponderações, nos IPCs, é feita por meio de uma Pesquisa de Orçamento 
Familiar (POF), aplicada a uma amostra de famílias do nível de renda escolhido. A POF determina o 
percentual da despesa mensal, nas famílias da amostra, correspondente a cada bem ou serviço; esse 
percentual define o peso a ser aplicado à variação do preço respectivo, no cálculo do índice. No caso do 
IBGE, a última POF foi feita em 2002-2003, e sua ponderação implantada em 2006. 
 3
 A coleta de preços, feita periodicamente (nos principais IPCs, semanalmente) é outra etapa 
fundamental. Essa coleta objetiva determinar o preço médio a que cada bem ou serviço é 
comercializado, em uma dada localidade. 
 
Há vários outros IPCs calculados no Brasil; por exemplo, índices de cobertura regional ou local. 
Além disso, outras entidades que não o IBGE, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Fundação Instituto 
de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE-USP), produzem também seus índices. Essa 
multiplicidade de indicadores de preços se relaciona com o longo e intenso processo inflacionário por que 
passou a economia brasileira, até o Plano Real, em 1994. Nos dez anos anteriores a 1994, raramente o 
aumento de preços mensal foi menor do que 10%, e muitas vezes excedeu 20%. Nesse regime de alta 
inflação, há grande interesse por parte da população em saber como variam os preços, pois isso define a 
evolução do valor real dos rendimentos de cada um (se meu salário não varia e os preços dobram, meu 
poder de compra se reduz à metade). Esse interesse estimulou o surgimento de diversos IPCs, na busca de 
indicadores que refletissem, da forma mais acurada possível, a variação de preços (e da renda real) para 
determinadas parcelas da população. IPCs eram amplamente utilizados, naquele período, como evidência 
da perda de poder de compra dos salários, o que embasava reivindicações de aumentos nos salários 
nominais que compensassem tais perdas. 
 2.3 Outros índices 
Além de consumidores, outros grupos têm também interesse no acompanhamento de 
variações de preços (especialmente quando a inflação é muito alta). Assim, o Índice de Preços por 
Atacado (IPA), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mede a variação média dos preços 
de matérias-primas (relevante, por exemplo, para grandes empresas). O IPA é também uma média 
ponderada, mas o sistema de ponderação é diferente do usado nos IPCs. O Índice Nacional de 
Preços da Construção Civil (INCC), calculado também pela FGV, mede, como o nome indica, a 
variação dos preços que incidem sobre o custo de construção, ponderados pela incidência relativa 
no custo total de uma obra típica (há subíndices para diferentes tipos de obras). E existem 
também índices abrangentes, como o Índice Geral de Preços (IGP) e o Deflator Implícito do PIB, 
que serão discutidos abaixo. 
Veremos abaixo um panorama mais detalhado dos índices de preços mais importantes. 
Antes, porém, vamos examinar mais de perto a forma de cálculo de um IPC. Isso nos ajudaráa 
compreender melhor a significação desse índice. 
 
 4
 
3. Cálculo do Índice de Preços ao Consumidor 
O cálculo do IPC pode se dar, em princípio, de diferentes formas, de acordo com a 
metodologia e a ponderação adotadas. 
Ponderação. Existem duas maneiras básicas de ponderar os preços dos diversos bens e 
serviços, no cálculo de um índice de preços: ou se toma, para ponderação, a estrutura de consumo 
do período-base (o que os estatísticos chamam de “critério de Laspeyres”), ou a estrutura de 
consumo do ano atual (“critério de Paasche”). A literatura técnica discute as vantagens e 
desvantagens teóricas desse critérios (e de outros que têm sido propostos); na maioria das vezes, 
no entanto, considerações de ordem prática (em particular, a complexidade e custo de realização 
das Pesquisas de Orçamento Familiar), fazem com que se adote uma ponderação com base no 
passado. Enquanto não se faz uma nova POF — o que pode levar vários anos —, mantêm-se as 
ponderações derivadas da POF anterior. (No caso do IBGE, por exemplo, as últimas POFs foram 
feitas em 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003). 
Em situações concretas, portanto, os cálculos têm características comuns. A 
compreensão de como é calculado o IPC para uma pequena cesta hipotética de consumo, com 
dois ou três bens apenas, facilita o entendimento desses cálculos. Vamos supor um índice 
calculado por ponderação a partir do ano-base, o que será apresentado a seguir. 
 
Considere as seguintes informações a respeito do consumo de uma cesta de bens 
simplificada de um consumidor típico, em 2008 e 2009: 
 
 
2008 2009 
Preço Quant. Preço Quant. 
Refrigerante 2,00 7 2,50 4 
Batata Frita 3,00 6 2,00 9 
Sanduíche 4,00 2 4,00 3 
 
 
 
Tomando 2008 como o ano-base, vamos utilizar para ponderação as quantidades 
consumidas nesse ano. Percorremos, então, os passos que se seguem: 
 5
1) Cálculo da despesa com cada bem da cesta de consumo, em 2008. 
2) Cálculo do percentual da despesa total correspondente a cada bem, em 2008 (o 
que define a ponderação). 
3) Cálculo dos índices parciais (variação percentual no preço de cada bem). 
4) Cálculo do IPC: média ponderada dos índices parciais. 
 
2008 2009 
Preço 
(R$) 
Quant. Preço 
(R$) 
Quant. Despesa 
em 
2008 
(R$) 
Pesos 
(participação 
de cada bem 
na despesa 
total em 
2008) 
 
Índices de 
preço 
parciais 
(2008=100) 
Cálculo do 
IPC (média 
ponderada 
dos 
índices 
parciais) 
Refrigerante 2,00 7 2,50 4 14,00 0,35 125 43,75 
Sanduíche 3,00 6 2,00 9 18,00 0,45 66,7 30,00 
Batata Frita 4,00 2 4,00 3 8,00 0,20 100 20,00 
Totais 40,00 1,00 93,75 
 
Siga os passos no quadro acima. 
1º passo. Primeiramente, calculamos a despesa do consumidor com cada bem. Isso 
pode ser feito multiplicando-se as colunas “preço” e “quantidade” no ano-base (2008). A despesa 
com refrigerante, portanto, é igual a 7 x R$2,00 = R$14,00, e assim sucessivamente. Está 
terminada a primeira etapa do cálculo do IPC. A segunda etapa refere-se ao cálculo do peso de 
cada bem na cesta. 
2º passo. Para calcular o peso do bem na cesta, basta dividirmos a despesa individual 
do bem pelo somatório de todas as despesas. Somando-se R$14 + R$18 + R$8, temos uma 
despesa total de R$40. Assim, os pesos de cada bem podem ser calculados dividindo-se a despesa 
com esse bem por 40. Para o refrigerante, por exemplo, o peso será igual a: 14/40 = 0,35. 
Devemos fazer o mesmo para os demais bens. 
3º passo. Agora, devemos calcular a variação do preço de cada bem da cesta de 2008 
para 2009 (ou seja, os índices de preço parciais). Para fazer isso, devemos dividir o preço do bem 
em 2009 pelo preço do bem em 2008 e multiplicar o valor resultante por 100. Para o refrigerante, 
teremos: 100 x 2,50/2,00 = 125. Fazendo isso para os demais bens, agora só resta calcularmos a 
média ponderada desses índices parciais. 
 6
4º passo. O IPC, ou seja, a média ponderada dos índices parciais, é obtido 
multiplicando-se cada um desses índices (obtidos no 3º passo) pelo respectivo peso (obtido no 2º 
passo), e somando esses produtos. Assim, para o refrigerante teremos: 0,35 x 125 = 43,75. 
Procedendo da mesma maneira para os demais bens, e somando os resultados, chegamos ao 
número final, mostrado na célula inferior da última coluna, na tabela acima: o valor do IPC em 
2009 é igual a 43,75 + 30 + 20 = 93,75. 
O que isso significa? Nosso IPC passou de 100, em 2008, para 93,75, em 2009. O 
consumidor típico gastaria, em 2009, uma quantia menor (6,25% menor), para comprar a mesma 
cesta de consumo que comprava em 2008. 
De fato, no entanto, nosso consumidor típico em geral não compraria as mesmas 
quantidades que antes: ele tenderia a reduzir seu consumo do que ficou mais caro, e comprar 
mais do que ficou mais barato, como indicado na curva de demanda usual (o que é exemplificado 
na tabela acima). Com os dados da tabela poderíamos também calcular um IPC utilizando a 
ponderação dada pelas quantidades consumidas no ano presente (2009); os passos a seguir 
seriam inteiramente análogos. Quem se der ao trabalho de segui-los, verá que o resultado será 
inferior ao obtido acima: o IPC calculado pelo “critério de Paasche” (ponderação pelo ano 
corrente) é, em números redondos, 85,1 (em vez de 93,75). Isso é o que geralmente acontece, 
justamente por causa do efeito da variação de preços sobre a quantidade demandada: os bens 
que aumentaram de preço (e tiveram redução na quantidade demandada) tenderão a ter 
ponderação maior, pelo critério do ano-base (quando eram mais demandados). Costuma-se dizer 
que a ponderação pelo ano-base tende a exagerar aumentos de preços (e a ponderação pelo ano 
corrente tende a mascará-los). 
Esse tipo de consideração leva os estatísticos a discutirem os prós e contras da 
ponderação pelo ano-base ou pelo ano corrente (ou de outras metodologias possíveis), no 
cômputo de um IPC. Mas isso não precisa nos preocupar aqui. Pois, como se disse acima, nos 
casos concretos se usa, quase sempre, a ponderação a partir de uma dada POF, pela maior 
praticidade e menor custo. Ou seja: a generalidade dos IPCs se baseia numa ponderação passada. 
 
Para quem gosta de fórmulas, o cálculo pelas duas ponderações pode ser 
representado como se segue: 
Ponderação pelo ano-base: 
 
IPCb = x 100 
Σ (pc x qb) 
 
Σ (pb x qb) 
 7
 Ponderação pelo ano corrente: 
 
 IPCc = x 100 
 
 Os resultados do cômputo das fórmulas serão, evidentemente, os mesmos obtidos a partir 
dos passos indicados acima. Mas atenção: caso se peça que você mostre o peso relativo de 
cada bem na cesta, você deve fazer o cálculo passo a passo, para determinar essas 
ponderações. 
 
4. Problemas e limitações dos índices de preços 
Como a maioria dos métodos e ferramentas utilizados em ciências sociais, o IPC 
apresenta alguns problemas e limitações. Cabe indicar aqui três dessas limitações. 
Dois deles envolvem a questão da ponderação utilizada. Como visto acima, os IPCs em 
geral trabalham, durante certo período, com uma cesta fixa de consumo, determinada por uma 
Pesquisa de Orçamento Familiar. Disso decorrem problemas: a substituição de itens de consumo, 
consequente à variação de preços, e a introdução de novos bens na cesta de consumo. 
Em primeiro lugar, como dito acima, mudanças de preços tendem a provocar uma 
substituição de itens de consumo por outros: quanto maior o preço de um bem, maior será a 
procura por bens mais baratos que possam substituí-lo, na cesta de consumo (caso existam esses 
substitutos próximos). Baseado em cesta de consumo fixa, um IPC pode apontar uma variação de 
preços que distorce a realidade.Por exemplo: se ocorre um grande aumento no preço do arroz, é 
possível que os consumidores diminuam o consumo desse artigo e aumentem, por exemplo, suas 
compras de macarrão. Nesse caso, pode-se dizer que o efeito do aumento do preço do arroz sobre 
o bem-estar do consumidor será exagerado, quando se usa um índice baseado no consumo de 
arroz no ano-base. 
Em segundo lugar, a introdução de novos bens pode também trazer distorções. O IPC 
baseado numa Pesquisa de Orçamento Familiar de anos atrás não medirá o gasto dos 
consumidores com bens que foram introduzidos desde então. Enquanto não houver uma nova 
POF, o IPC ficará defasado, especialmente em períodos que presenciam grandes inovações na 
composição do consumo da família típica. A comparação entre as duas últimas POFs feitas pelo 
IBGE (a de 2002-2003 e a de 1995-1996) ilustra isso: verificaram-se alterações significativas na 
estrutura de consumo, em todas as faixas de renda, com o aumento de importância, por exemplo, 
de gastos com telefones celulares, computadores, locadoras de vídeo, lan houses, etc. 
Σ (pc x qc) 
 
Σ (pb x qc) 
 8
Em terceiro lugar, deve-se notar que os IPCs não indicam mudanças de qualidade. Um 
produto pode, com o passar dos anos, manter o mesmo preço mas ter seu valor de uso 
substancialmente aumentado, ou gerar um fluxo maior de serviços, como resultado de 
incrementos de qualidade. Ou o preço pode subir, sem que de fato isso decorra de um processo 
inflacionário, já que a qualidade também aumentou. Se um artigo é mais caro, mas tem maior 
durabilidade, envolvendo menores gastos de conserto e reposição, no fim das contas pode 
resultar mais barato; mas isso não será refletido no IPC, como habitualmente computado. O 
contrário também é válido: quedas de qualidade não são, igualmente, detectadas. 
Além dos três problemas supracitados, relacionados ao IPC, o uso de índices de preços 
pode também envolver outros tipos de problemas, derivados, por exemplo, de características de 
seu cálculo. Nesse sentido, a metodologia de cálculo do Índice Geral de Preços, da Fundação 
Getúlio Vargas, muito utilizado em nós (e sobre o qual falaremos a seguir), tem sido criticada 
recentemente por vários economistas; ver, sobre isso os textos de Roberto Macedo e Paulo 
Rabello de Castro, disponíveis na página do curso de Introdução de Economia (pasta “Material 
Complementar”). 
 
5. Índices gerais de preços 
 
 O Índice Geral de Preços (IGP). A Fundação Getúlio Vargas, instituição fundada em 
1944, produz desde aquela época vários índices de preços, destacando-se um IPC (inicialmente 
restrito ao Rio de Janeiro e agora com cobertura nacional), o Índice de Preços por Atacado (IPA) e 
o Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC), já mencionados acima. Com base nesses 
três índices, a FGV elabora o Índice Geral de Preços, como um indicador-síntese da inflação no 
País. O IGP é uma média ponderada do IPA (com peso de 60%), IPC (peso de 30%) e INCC (peso de 
10%). Estabelecidas em 1950, período em que a produção de estatísticas econômicas era ainda 
incipiente no Brasil, essas ponderações pretendiam representar, grosso modo, a importância 
relativa, no PIB, do valor adicionado nas atividades ligadas à produção e comercialização por 
atacado (IPA), no comércio de varejo e serviços de consumo (IPC), e na construção civil (INCC). É 
evidente que tais proporções, ainda que fossem aproximadamente corretas naquele período, 
perderam desde muito uma relação próxima com as Contas Nacionais. A aplicação, ainda hoje, 
desse critério original de ponderação está muito associada à ampla utilização do IGP, desde os 
anos iniciais de seu cômputo, como indicador da inflação (especialmente na correção de valores 
em contratos de obras públicas e de aluguéis, e em transações financeiras). Dado esse uso 
 9
generalizado, uma mudança no cálculo do IGP poderia afetar, num dado momento, usuários do 
índice em vários setores da economia. De certa forma, a manutenção de uma mesma 
metodologia, por mais de meio século — embora sem nenhuma lógica econômica —, é vista pelo 
mercado como um fator de credibilidade do IGP. 
Por outro lado a correção monetária pelo IGP pode trazer distorções, em certos casos. 
A grande ponderação atribuída ao IPA torna o IGP muito sensível a variações na cotação do dólar, 
pois muitas matérias-primas têm seu preço diretamente relacionado ao preço no mercado 
internacional. Com isso, o IGP pode se afastar consideravelmente de outros indicadores, como o 
INPC, em períodos de grande desvalorização (ou valorização) do real. Essa é o foco de críticas que 
têm sido dirigidas ao IGP, como as mencionadas nos textos citados acima. 
A FGV computa duas séries de IPAs, que dão origem a dois IGPs: a série 
“disponibilidade interna” e a série “oferta global”. A primeira (a mais usada) exclui alguns 
produtos que são basicamente de exportação. 
O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). Os resultados mensais do IGP, assim 
como da maioria dos índices de preços, são divulgados nos primeiros dez dias do mês 
subsequente. Assim, a correção monetária de um valor feita no final de um determinado mês (o 
que é comum em certos contratos, como os de aluguel) teria que usar o índice do mês anterior; no 
período de alta inflação, antes de 1994, isso causava problemas. A FGV passou então a calcular um 
novo índice, que em lugar de se basear no levantamento de preços do primeiro ao último dia do 
mês, parte do cotejo de preços apurados entre o dia 20 de um mês e o mesmo dia do mês 
seguinte. Dessa forma, o índice relativo a março, por exemplo (na verdade, relativo ao período de 
20 de fevereiro a 20 de março), estará disponível já no final de março. Esse novo índice é o IGP-M, 
amplamente usado, até hoje, no mercado financeiro. 
O Deflator Implícito do PIB. O cômputo do Produto Interno Bruto, como parte da 
elaboração das Contas Nacionais pelo IBGE, tem como subproduto um índice geral de preços da 
economia: o Deflator Implícito do PIB. O PIB é calculado inicialmente a preços correntes; em 
seguida, procede-se ao cálculo da variação real da produção em relação ao ano anterior 
(descontada a inflação), setor a setor da economia, com a utilização de índices de preços setoriais, 
o que converge na determinação do PIB a preços constantes. 
A relação entre o PIB nominal (a preços correntes) e o PIB real (a preços constantes) 
define o Deflator Implícito do PIB: 
 
 Deflator Implícito do PIB = x 100 PIB Nominal 
PIB Real 
 10
O Deflator Implícito é, assim, uma média da variação de preços de todos os bens e 
serviços produzidos no país, ponderada pela participação relativa, no PIB, do valor adicionado por 
cada um desses setores produtivos. Nesse sentido, pode ser considerado o índice de preços mais 
abrangente da economia. 
 
6. Os índices de preço brasileiros: visão de conjunto 
O Brasil se destaca internacionalmente pelo considerável número de índices de preços, 
particularmente IPCs, calculados no País; como vimos, isso é uma herança de nosso passado 
inflacionário. Mesmo após o fim da alta inflação, manteve-se essa multiplicidade de indicadores, 
pois continuou a haver demanda do público por eles. Algumas mudanças intempestivas na 
metodologia dos índices oficiais de inflação, anos atrás, despertaram em alguns a desconfiança de 
que houvesse uma manipulação deliberada desses índices, por parte do governo. Mesmo que 
ninguém ponha em dúvida, hoje em dia, a correção técnica dos índices do IBGE, permanece a 
preferência de certos usuários por índices elaborados por instituições independentes. As mais 
importantes dessas são a FGV e a FIPE-USP, já mencionadas, e o Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). 
 
 Instituto Brasileiro de Geografia e Eestatística - IBGE 
 Como vimos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice de Preços ao 
Consumidor Amplo (IPCA) são os principais índices elaborados pelo IBGE. Ambos têm os dados 
coletados em onze regiões metropolitanas: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, 
São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e do município de Goiânia. 
 Para ilustrar a diferença entre esses dois índices, a tabela a seguir compara as ponderações 
em que se baseia o cômputo do INPC e do IPCA, no que se refere aos principais itens de despesa 
(segundo a última Pesquisa de Orçamento Familiar, feita em 2002-2003). Como visto acima, o 
INPC toma como base a estrutura de consumo de famílias com renda entre 1 e 6 salários mínimos, 
enquanto o IPCA se baseia no orçamento de famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos. 
Pode-se notar, por exemplo, que no primeiro caso os gastos de alimentação e habitação absorvem 
quase metade da renda das famílias (46%), proporção que se reduz a 35,4%, quando se incluem 
famílias de maior renda. 
 Cabe lembrar que o IPCA é de fundamental importância para a definição da política 
monetária no Brasil. Todos os anos, o Conselho Monetário Nacional estabelece uma meta de 
 11
inflação, medida pelo IPCA; e o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central agirá, 
então, alterando periodicamente os juros, como forma de possibilitar o alcance de tal meta. 
 
Tipo de Gasto Peso (% do Gasto Total) 
 INPC (1 a 6 SM) IPCA (1 a 40 SM) 
Alimentação 29,8 22,1 
Habitação 16,2 13,3 
Transportes 16,2 20,8 
Saúde e cuidados pessoais 9,2 10,5 
Vestuário 7,5 6,2 
Artigos de residência 6,6 5,5 
Despesas pessoais 6,4 9,2 
Educação 3,0 6,6 
Comunicação 5,0 5,9 
Total 100,0 100,0 
 
Fonte: IBGE. Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor; Estruturas de Ponderação a partir da Pesquisa de Orçamentos 
Familiares 2002-2003. Rio de Janeiro, 2005. 
 
 Fundação Getúlio Vargas - FGV 
 Além dos índices citados acima (IPC, IPA, INCC, IGP), que se desdobram em vários 
subíndices, a Fundação Getúlio Vargas produz ainda numerosos índices de preços setoriais, como 
os de produtos e insumos agrícolas, de custos referentes a vários setores produtivos, etc. 
 
 Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP - FIPE 
 O IPC da FIPE mede a variação dos preços ao consumidor na cidade de São Paulo, tomando 
por base consumidores que ganham de um a vinte salários mínimos. De modo geral, a ponderação 
é similar à utilizada pelo IBGE. O período de pesquisa das variações de preços vai do primeiro ao 
último dia útil de cada mês, e a publicação dos dados ocorre normalmente entre os dias dez e 
vinte do mês seguinte. 
 É o mais tradicional indicador da evolução do custo de vida no Brasil, sendo publicado 
continuamente desde janeiro de 1939. 
 Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconômicos – DIEESE 
 O Índice de Custo de Vida (ICV) do DIEESE, medido na cidade São Paulo, tem como 
população-alvo famílias com renda média de até trinta salários mínimos, e tem como principal 
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objetivo prover a diversos sindicatos dados visando informar negociações salariais. É calculado 
desde 1958. 
 
 Comparações entre os índices 
 Baseando-se em cestas de consumo e ponderações distintas, os vários índices mostram, 
naturalmente, resultados diferentes, no curto prazo. Para exemplificar, a medida da inflação em 
fevereiro de 2009, segundo os seis principais índices, revelou um amplo leque de variação relativa: 
+0,55% (IPCA); +0,31% (INPC); +0,27% (IPC-FIPE); +0,21% (IPC-FGV); +0,02 (ICV-DIEESE); e –0,13% 
(IGP: uma redução de preços, ou deflação). Ao longo de um período maior, no entanto, em geral 
os índices tendem a convergir, especialmente os índices de preços ao consumidor. Para o ano de 
2008, por exemplo, os índices acima mostraram os seguintes resultados: +5,9% (IPCA); +6,5% 
(INPC); +6,2% (IPC-FIPE); +6,1% (IPC-FGV); +6,5% (ICV-DIEESE); e +9,1% (IGP); e a variação do 
Deflator Implícito do PIB foi de +5,9%.1 Em prazos mais longos, a convergência é mais acentuada, 
como mostra o gráfico a seguir, que compara a evolução do IGP (disponibilidade interna) e do 
IPCA, para os anos desde 1980. 
 
Ou seja: a inflação tem várias medidas, e não é surpreendente que um indivíduo possa 
julgar, em certo momento, que um dado índice não representa adequadamente a variação de 
preços que ele ou ela enfrenta: “como posso acreditar que a inflação foi só X%, se minha conta no 
supermercado aumentou tanto?”, dirá alguém. Mas é que, a rigor, cada pessoa teria que ter seu 
próprio índice de preços, para medir precisamente o impacto da inflação sobre sua cesta 
particular de consumo. Os índices referidos acima são médias para grupos de consumidores (ou 
 
1
 Fonte dos percentuais: Ipeadata (http://www.ipeadata.gov.br). 
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para setores da economia), e devem ser vistos como tais, e não como medidas exatas, de 
aplicabilidade geral. 
Dados acerca dos índices acima mencionados, e outros índices brasileiros, podem ser 
facilmente encontrados na internet, nos endereços: 
http://www.ipeadata.gov.br/ 
http://www.ibge.gov.br/ 
http://www.fipe.org.br/ 
http://fgvdados.fgv.br/
http://www.dieese.org.br/ 
Índices de preços, deflacionamento, indexação. 
 Deflacionando valores nominais. Uma utilização importante dos índices de preços é na 
determinação do valor real de uma grandeza econômica, em distinção a seu valor nominal. 
Suponhamos que se saiba que o salário mensal de João da Silva foi R$ 1.000,00 em 2007, e R$ 
1.100,00 em 2008. Essa informação não nos autoriza a dizer que João poderia consumir em 2008 
10% a mais do que consumia em 2007 (supondo que consuma sempre toda sua renda), pois não 
sabemos como variaram os preços do que ele compra. 
 A pergunta que interessa responder é: com seu salário de 2008, João poderia consumir 
mais ou menos do que em 2007? Qual o poder de compra de seu novo salário, em comparação 
com o de 2007? Para comparar o poder de compra em dois períodos, temos que manter os preços 
constantes. Suponhamos que o índice de preços relevante para a faixa de renda de João tenha 
variado de 100, em 2007, para 104, em 2008. Podemos estabelecer a seguinte proporção (regra de 
três): 
 
 
 
 onde X representa o poder de compra do salário de João em 2008, ao nível de preços de 
2007. 
 1.100 x 100 
 X = ——————— ≈ 1.058 
 104 
 
 Ou seja: o salário real de João em 2008, aos preços de 2007, é aproximadamente 
R$1.058,00 (para um salário nominal de R$1.100,00). O valor de R$1.058 pode ser comparado 
diretamente com o salário de João em 2007, pois ambos os valores se referem a um mesmo 
regime de preços. Assim, podemos dizer que o poder de compra de João passou de R$1.000, em 
2007, para próximo de R$1.058, em 2008, aumentando cerca de 5,8%. 
Índice de preços Salário 
100 X 
104 1.100,00 
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 Generalizando: para transformar um valor nominal em real, num dado período, basta 
dividir o valor nominal pelo índice de preços do período, e multiplicar o resultado por 100. 
 
 Mais precisamente, temos: 
 
 
 VN t2 x 100 
 VR t2/t1 = ————————— 
 IP t2/t1 
 
 onde VR t2/t1 é o valor real no período t2, aos preços do período t1; 
 VN t2 é o valor nominalno período t2; e 
 IP t2/t1 é o índice de preços no período t2 com base no período t1 
 
Indexação. A indexação consiste na correção de valores nominais de uma cifra 
monetária, buscando compensar os efeitos da inflação. Se um determinado contrato, assinado no 
valor de R$1.000,00, estiver indexado a um índice de preços, isso significa que, para uma dada 
variação sofrida pelo índice, o valor nominal do contrato também será alterado. Se o índice indicar 
um aumento de 15% nos preços, o novo valor nominal do contrato será 15% maior (ou seja, 
R$1.150,00), mantendo inalterado seu valor real. 
No período de alta inflação, antes de 1994, era amplamente difundida a indexação de 
contratos, salários, impostos, tarifas públicas, etc., pois todos procuravam se defender da perda 
de poder de compra decorrente do constante aumento nos preços. Se era favorável, do ponto de 
vista individual (reduzindo, por exemplo, a corrosão do valor real dos salários pela inflação), a 
indexação, assim generalizada, trouxe um efeito macroeconômico muito desfavorável, 
contribuindo para tornar crônico o processo inflacionário — como veremos mais tarde, em outra 
unidade do curso. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos responsáveis pela política 
econômica no País, em suas tentativas de debelar a inflação, foi justamente a prática quase 
universal da indexação, na economia brasileira, naquele período.

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