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CURSO DE CAPACITAÇÃO EAD EM MÓDULO 2: ELABORAÇÃO DE PROJETOS CURSO DE CAPACITAÇÃO EAD EM MÓDULO 2: ELABORAÇÃO DE PROJETOS Realizado a partir de parceria formada entre o Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV) da UFRGS e a Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI) e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Centro de Estudos Internacionais sobre Governo. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Planejamento e Investimen- tos Estratégicos. Curso de Capacitação EAD em Planejamento Estratégico Municipal e Desenvolvimento Territorial – Módulo 2: Elaboração de Projetos. Caderno de Estudos 73 páginas 1. Brasil 2. Estado, federalismo e planejamento 3. Planejamento municipal 4. Plano pluria- nual 5. Políticas públicas 6. Planejamento e finanças – orientações. Normalização bibliográfica Centro de Estudos Internacionais sobre Governo Caderno de Estudos do Curso de Capacitação EAD em Planejamento Estratégico Municipal e Desenvolvimento Territorial - Módulo 2: Elabora- ção de Projetos Termo de Cooperação UFRGS-MP 24/2013 Coordenador do Projeto Pedro de Almeida Costa Equipe Técnica Ivaldo Gehlen Alberto Bracagioli Neto Daniela Oliveira Bruna Cruz de Anhaia Débora Wobeto Matheus Machado Hoscheidt Thiago Borne Ferreira Editoração e Diagramação Joana Oliveira de Oliveira Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV) Campus do Vale, prédio 43322 Av. Bento Gonçalves, 9500 CEP: 91.509-900 – Porto Alegre – RS Fone: (51) 3308-9860 / (51) 3308-3272 www.ufrgs.br/cegov Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP) Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI) Esplanada dos Ministérios, Bloco K – 3º andar CEP: 70.040-906 – Brasília – DF Fone: (61) 2020-4080 www.planejamento.gov.br/spi Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão Miriam Belchior Secretaria-Executiva Eva Maria Cella Dal Chiavon Secretária de Planejamento e Investimentos Estratégicos Esther Bermerguy de Albuquerque Diretor do Departamento de Gestão do Ciclo do Planejamento José Celso Cardoso Júnior Diretor do Departamento de Planejamento Dênis Sant’anna Barros Coordenação-Geral de Gestão Estratégica Leandro Freitas Couto APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA PROJETOS 1. FUNDAMENTOS E CONCEITOS 2. ESTRUTURA DE UM PROJETO 3. RELAÇÃO ENTRE PROJETO, ATOR E REALIDADE 3.1 O lócus de ação dos atores sociais: relação entre Projeto e Realidade 4. DIAGNÓSTICO E PROBLEMA PARA PROJETOS 4.1 Princípios do diagnóstico 4.2 Ferramentas do diagnóstico 5. O PROBLEMA UNIDADE 2: OBJETIVOS E METODOLOGIA 1. FORMULAR OBJETIVOS, JUSTIFICATIVAS, AÇÕES, METAS E INDICADORES 1.1 Objetivos 1.2 Justificativas 1.3 Ações/Atividade 1.4 Metas e Indicadores 2. METODOLOGIA 2.1 Princípios 2.2 Marco Lógico 2.3 Método ZOPP 2.4 Árvore de Problemas 2.5 Árvore de Objetivos 2.6 Análise SWOT ou FOFA UNIDADE 3: RECURSOS E ORÇAMENTO 1. TIPOS DE RECURSOS 2. FONTES DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS 2.1. Principais fontes de captação de recursos para municípios 3. RECURSOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 3.1 Tipos/Formas de Transferências 3.2 Legislação que regula Convênios e Contratos 4. SISTEMAS DE SOLICITAÇÃO DE RECURSOS E GERENCIAMENTO DE PROJETOS COM A UNIÃO 4.1 SICONV 4.2 Como apresentar Projetos e Propostas? 4.2 Ministério da Educação 4.3 Ministério da Saúde 4.4 Ministério das Cidades 4.5 Ministério da Educação 5. RECURSOS DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL CONSIDERAÇÕES FINAIS APÊNDICE SUMÁRIO 10 10 13 15 18 19 21 22 26 05 07 32 32 32 33 33 34 37 38 41 42 43 46 47 50 50 51 52 52 52 55 57 57 59 63 63 64 65 66 71 72 05 APRESENTAÇÃO A sociedade brasileira tem passado por transformações profun- das nas últimas décadas, consolidando uma democracia e uma economia estáveis e promovendo um processo revolucionário e massivo de inclusão social. Mesmo com esses avanços – ou talvez mesmo como consequência deles –, há ainda demandas fundamentais e legítimas por desenvolvimen- to e melhoria da condição de vida. Essas demandas se apresentam acom- panhadas do desejo por maior participação social e cobrança crescente por mais transparência e eficácia na administração pública. A presente capacitação, resultado de uma atividade de coopera- ção entre a Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Centro de Estu- dos Internacionais sobre Governo (CEGOV), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), insere-se no esforço que o Estado Brasileiro faz para se organizar e se qualificar para o atendimento desse anseio da sociedade. Para tanto, apostou-se na atividade de Planejamento como ferramenta de gestão capaz de otimizar os recursos físicos, humanos e fi- nanceiros do Estado para essa missão. Nesse contexto, os Planos Pluarianuais (PPAs), instrumentos téc- nico-políticos instituídos como obrigatoriedade constitucional das dife- rentes esferas federativas na democracia brasileira, também devem estar comprometidos com essa tarefa de transformação social, na medida em que são poderosas ferramentas para apoiar os gestores públicos a plane- jar, executar, acompanhar e avaliar as políticas públicas. O presente curso corresponde a um segundo módulo de capaci- tação, de um total de três previstos nessa cooperação, e tem por objetivo sensibilizar e capacitar os alunos para a Elaboração de Projetos. Essa eta- pa é fundamental para a organização das ações da administração pública, e é nela que se consolida a possibilidade de captação de recursos para executar o que foi planejado. Desejamos a todos e todas bons estudos! 07 O termo projeto é herdado do latim projectu, que significa “lança- do para frente”. Daí decorrem outros termos como projeção, projetar, isto é, previsão de uma situação futura. Nesse sentido, elaborar um projeto é uma criação, é “trazer” para o presente uma realidade futura (projetada, imaginada). Podemos pensar e imaginar o futuro de várias formas, porém sempre será como probabilidade, nunca como certeza. Sempre iniciamos um projeto a partir de constatações, a partir de diagnóstico, sobre uma re- alidade que no nosso entendimento precisa ser modificada, transformada. Chamamos de situação problema, pois pode ser expressa por perguntas, como: “o que será?”, “onde se chegará?”, “o que pode vir a ser?”. Um projeto dialoga com as diferentes concepções sobre a reali- dade, estimulando pensamentos criativos e ações inovadoras sobre o que essa mesma realidade pode vir a ser e de certa forma ajusta às condições objetivas das possibilidades, em base aos recursos e à capacidade de mo- bilização. Portanto, as projeções, cenários ou sonhos e utopias fertilizam as esperanças, agregam confiança de uma possível mudança. O projeto racionaliza, pela previsão, o caminho a trilhar. Por isso, este guia e o conteúdo ministrado neste módulo são de fundamental importância para qualificar agentes públicos, priorizando o desenvolvimento de capacidade criativa e de habilidades, para garantir que os objetivos e as ações propostos constituam respostas eficazes à re- alidade diagnosticada e a ser modificada. Para isto, o aprendizado deste módulo oferecerá ferramentas conceituais e técnicas para imaginar ou criar, analisar e propor projetos de desenvolvimento territorial local. Par- te-se do pressupostode que o proponente tenha clareza do que quer para formular toda a sequência ou fluxo de um projeto, articulados de forma coerente. A coerência interna de um projeto constitui um ingrediente cen- tral para quem o analisa. Alguns atributos, quase pressupostos, de todo projeto, ajudam a entender a sua importância de mérito e de forma – ou seja, sua apre- sentação na linguagem e estrutura coerente. Pode-se falar que o projeto implica em uma pedagogia do processo e se apresenta de forma didática. INTRODUÇÃO 08 O termo pedagogia, do grego antigo paidagogós, era inicialmente composto por paidos (“criança”) e gogía (“conduzir” ou “acompa- nhar”). Outrora, o conceito fazia portanto referência ao escravo que levava os meninos à escola. Atualmente, a Pedagogia é considerada como sendo o conjunto de saberes que compete à educação enquanto fenômeno tipicamente social e especificamente humano. Trata-se de uma ciência aplicada de caráter psicossocial, cujo objeto de estudo é a educação. A Peda- gogia recebe influências de diversas ciências, como a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a História e a Medicina, entre outras. É importante distinguir a Pedagogia como sendo a ciência que estu- da a educação e a didática, como sendo a disciplina ou o conjunto de técnicas que facilitam a aprendizagem. Como tal, pode-se dizer que a didática é apenas uma disciplina dentro da Pedagogia. Disponível em: <http://conceito.de/pedagogia>. Acesso em: 17 fev 2014. Além dessas características, é fundamental apresentar objetivos bem definidos, ações ou atividades bem delimitadas, tarefas claras, recur- sos humanos, materiais e financeiros definidos e ajustados, duração ou cronograma adequado. Ter presente que todo projeto, ao mesmo tempo em que apresenta garantias de sucesso, também carrega incertezas. Esta incerteza serve como fascínio, como motivação e baliza. Este Caderno de Estudos e o conteúdo do módulo priorizarão al- guns aspectos da estrutura geral de um projeto. Isto porque os demais já o foram ou serão desenvolvidos. A primeira unidade apresenta uma síntese conceitual sobre projeto e retoma dois itens fundamentais: o diag- nóstico e a formulação do problema. A segunda unidade constitui-se na parte principal deste módulo que é a definição de objetivos, justificati- vas, as ações ou atividades e metas e indicadores. Segue uma parte sobre abordagem metodológica, trazendo diferentes ferramentas, como o Mar- co Lógico, o ZOOP (Planejamento de projetos orientados por objetivos), e o método que parte da árvore de problemas e de objetivos para propor mudanças da realidade. A terceira unidade apresenta aspectos relativos a recursos e orçamento, apresentando detalhes sobre a captação de re- cursos para viabilizar projetos de desenvolvimento territorial. Na sequên- cia, temos as considerações finais e apêndices com materiais que podem auxiliar você no processo de elaboração de projetos e na continuidade de seus estudos. 09 INTRODUÇÃO Todo projeto objetiva gerar mudanças, transformações da realidade e gerar ou acumular aprendizagem. Por isso um bom projeto precisa ser escrito e apresentado com estilo que priorize a clareza, concisão, objetividade, equilíbrio entre as partes e, sobretudo, coerência rigo- rosa. É importante prever como os resultados, sejam quais forem, serão devolvidos ou retornarão aos beneficiários: relatório, uso de meios de comunicação, reuniões, etc. Isto é importante para evitar repetições, garantindo o avanço dos processos e do conhecimento daquela realidade e também da clarificação de conceitos. Os Projetos possuem uma linguagem específica (conceitos criados ou adotados). Por isso é necessário assimilar, elaborar as definições conceituais referentes às etapas que compõe o ciclo no qual um projeto está inserido: plano, programa, projeto, avaliação, monitora- mento, planejamento e indicadores. Todo projeto de desenvolvimento se orienta pela perspectiva hu- manista, ou seja, de melhorar as condições de nossa existência (in- clui-se nesta ótica os demais seres da terra). Por isso, está umbilical- mente articulado com o conceito de sociedade e com um projeto de sociedade. Queremos diminuir a desigualdade social? Queremos valorizar as identidades socioculturais? Pois bem, os projetos de de- senvolvimento que produzimos ou dos quais participamos estarão necessariamente imbuídos desses pressupostos valorativos ou polí- ticos. Jamais um projeto é totalmente neutro socialmente ou po- liticamente. Vamos embarcar nesta pequena e desafiante viagem!VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM lembre-se Para os gestores municipais, o instrumental aqui disponibilizado é de capital importância para a formulação e formatação de projetos tanto para garantir eficácia nas ações que visam mudar a realidade, quanto na facilitação de obtenção de recursos e financiamentos. No âmbito das res- ponsabilidades compartilhadas para o desenvolvimento ou melhorias lo- cais, organizações públicas e privadas disponibilizam recursos, sobretudo financeiros, via editais. Existem diversas fontes de financiamento aptas a analisar e apoiar bons projetos de desenvolvimento territorial. Porém, sem dúvida o que mais falta são bons projetos e para isto é vital a qualificação de pessoas, sobretudo de gestores públicos. Talvez este seja o desafio de continuidade para cada um dos que estão realizando esta formação. 10 FUNDAMENTOS E CONCEITOS Antes de compreender as partes que compõem um projeto, algu- mas definições são importantes. Primeiramente, devemos salientar que, no processo de construção de um projeto, três fases são imprescindíveis e estão intrinsecamente conectadas: o planejamento, a implementação e a avaliação (CURY, 2001). Os processos de implementação (monitoramento) e avaliação serão discutidos em outro módulo. Planejar é romper com o improviso ou, ao menos, restringi-lo ao mínimo possível. Quando planejamos, estamos exercitando nossa capaci- dade de pensar o futuro a partir de análises da realidade presente. Portan- to, é fundamental interpretar a realidade presente, avaliar as experiências passadas e saber para onde se deseja ir. Em geral, as organizações que promovem intervenções no meio social o fazem a partir de princípios gerais e fundamentais. O que signifi- MÓDULO 2 : PROJETOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Nesta unidade você irá: • Aprender os fundamentos e conceitos envolvidos nas diferentes etapas que compõem um projeto; • Relembrar a importância de contemplar a diversidade de atores e realidades em seu projeto; • Retomar o tema do diagnóstico e aprender novas técnicas para fazê-lo; • Aprender a identificar e definir um problema. 1 UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM 11 UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS ca dizer que não se atua sem antes compreender e definir o que funda- mentará tais ações. A esse princípio fundamental denominamos política. É comum que as organizações, estatais ou não, deixem evidente qual a sua política de atuação. Isto permite identificar a partir de quais parâmetros essas organizações pretendem ser reconhecidas e a base de formulação de suas ações. Por exemplo, a política que fundamenta as ações do Minis- tério da Agricultura é diferente daquela do Ministério do Desenvolvimen- to Agrário e, obviamente, esta diferença está refletida nos projetos que desenvolvem e apoiam. Nesse sentido,política se refere a uma orientação geral que estará informando determinadas ações. Essas ações são meios para se atingir um determinado fim, por- tanto, em um processo de planejamento são “os meios que irão justificar os fins” e não o contrário. Para construir os “meios” adequados aos “fins” que projetamos, algumas questões são basilares: como? Com quê? O quê? Para quê? Para quem? As respostas a estas questões apontam tanto para a parte do pla- nejamento que é mais operacional quanto para aquela que é mais estra- tégica ou política. Assim, o operacional é o planejamento do “como” e do “com que”, incluindo a pormenorização do “o que”; trata dos meios; aborda cada as- pecto isoladamente; dá ênfase às técnicas, instrumentos; busca a eficiên- cia; limita-se ao curto prazo; tem o projeto, às vezes o programa como expressão maior. Por sua vez, o político é o planejamento do “para quem”, “para que” e “o que” mais abrangente; trata dos fins; é globalizante; dá ênfase à criatividade, às abordagens gerais; busca a eficácia; realiza-se no médio e no longo prazo; tem o plano como expressão maior” (GANDIN, 1994, p.36, ênfases acrescentadas). Dessa afirmação é possível depreender que há uma “hierarquia” em termos de amplitude com relação às partes que compõem um proces- so de planejamento. Do mais amplo para o mais restrito, temos o plano, programa e projeto. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM lembre-se O planejamento político nutre-se na ideologia, na filosofia, nas ciências, enquanto o operacional baseia-se na técnica. O primeiro busca estabe- lecer o rumo, firmar a missão da instituição, do grupo ou do movimento que está em planejamento; o segundo busca encaminhar o fazer, para a realização, a vivencia de tal rumo e tal missão (GANDIN, 1994, p.37). O plano estabelece as grandes linhas definidoras dos rumos de um planejamento. Nele deve estar delineado o referencial político e teóri- co e os traços que delimitam os contornos das estratégias e das diretrizes que embasarão a elaboração dos programas e projetos. No plano é onde se define as prioridades gerais (os objetivos e metas), se organiza os gru- pos temáticos e sua abrangência territorial. O Plano Plurianual é o exem- 12 plo mais claro deste instrumento. A partir de um diagnóstico detalhado do território, ele define macro objetivos e metas para a administração pública que serão perseguidos e acompanhados durante a execução do mesmo. Estes são pontos de partida para a construção de programas e projetos que viabilizarão a concretização das grandes diretrizes de governo. O programa é, grosso modo, “um aprofundamento do plano, o detalhamento por setor das políticas e diretrizes do plano” (CURY, 2001, p. 41). As prioridades definidas no plano consistirão nos objetivos gerais do programa. O programa se subdivide em vários projetos que se orien- tarão pelos mesmos objetivos. Como exemplo, podemos citar o Programa Bolsa Família, que é um desdobramento do Plano Brasil Sem Miséria, o qual conta ainda com programas na área de saúde, educação e assistência social. O projeto se constitui na parte mais elementar dentro da lógica do planejamento. É nele em que se definirão os detalhes do processo de intervenção direta na realidade social, objetivando produzir alguma forma de benefício para o meio em que será implementado. O projeto é uma via adequada para se conjugar a necessidade da ação frente à escassez de recurso e de tempo. Isto é feito a partir da articulação coerente entre as diversas partes e etapas que compõem um projeto e a partir da concate- nação de diferentes atividades. O projeto expressa, portanto, o momento mais operativo do processo de planejamento, é através dele que se pene- tra na realidade para executar ações que sejam eficientes na transforma- ção dessa realidade. No quadro a seguir, é possível termos uma visão sintética da dife- renciação e complementaridade entre estes diferentes níveis hierárquicos. Importante salientar que para obtenção dos resultados espera- dos em um plano ou projeto é necessário que ocorra uma formalização e documentação de todos os processos decisórios, também a responsabili- zação de todos os envolvidos no planejamento. Um projeto apenas se completa com a sua ação efetiva, existindo dados do contexto de atuação que fogem ao controle do ator que planeja. Assim, é preciso acompanhar e monitorar as ações a serem desenvolvidas diante de mudanças, surpresas e imprevistos. Um sistema de gestão es- tratégico deve estar composto de um sistema de constituição de agenda, sistema de cobrança e prestação de contas e um sistema de gestão ope- racional. Busque informações sobre o Plano Brasil Sem Miséria e seus Programas no site do Ministério do Desenvolvimento So- cial. Disponível em: <http://www.mds. gov.br/>. Acesso em: 11 mar. de 2014. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM 13 CONTEÚDO ABRANGÊNCIA PRAZO EXEMPLOS PLANO O plano delineia as decisões de caráter geral, as suas grandes linhas políticas, suas estratégias e suas diretrizes. Amplo Longo prazo Plano Nacional de Mobilidade Urbana. PROGRAMA O programa é, basicamente, um aprofundamento do plano: os objeti- vos setoriais do plano irão constituir os objetivos gerais do programa. É o documento que detalha por setor, a política, diretrizes, metas e medidas instrumentais. É a setorização do plano. Mais específico Medio Prazo Programa de Infraestrutura de Transporte e Mobilidade Urbana Pró-Transporte PROJETO O projeto é o documento que siste- matiza e estabelece o traçado prévio da operação de uma unidade de ação. É, portanto, a unidade elementar do processo sistemático da racionalização de decisões. Delimitado Curto Prazo Projeto de Im- plantação do Aeromóvel. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM lembre-se “Quanto maior o âmbito e menor o detalhe, mais o documento se ca- racteriza como um plano; quanto menor o âmbito e maior o grau de de- talhamento, mais ele terá as características de um projeto” (CURY, 2001, p.42). ESTRUTURA DE UM PROJETO A estrutura de um projeto é composta de uma série de etapas que devem responder a determinadas perguntas-chave. Estas perguntas têm um ordenamento e devem ter pertinência e coerência entre si. A conexão entre as partes traz atenção para que quando seja elaborado um projeto, não adianta dividir tarefas e realizá-las de forma isolada e independente. Quando o projeto for concluído, suas diferentes partes devem demonstrar um todo harmônico e consistente. Muitas organizações têm seu próprio formato para apresentação de projetos. Por vezes, existem conceitos e terminologias diferentes, mas de maneira geral, todos obedecem a um formato básico comum. As questões chave a serem respondidas em um projeto e a sua correspondência com a estrutura do projeto podem ser visualizadas no quadro a seguir: 2 UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 14 Perguntas chave Estrutura do projeto Qual o nome do nosso projeto? Título Como está a situação atual? Diagnóstico O que queremos? Objetivos Por que queremos? Justificativa Onde faremos? Localização Para quem faremos? Público alvo Quem somos e com quem contamos? Instituições envolvidase parcerias Onde queremos chegar? Metas Como faremos? Metodologia O que precisamos fazer? Atividades Do que precisamos? Recursos Quanto custa? Orçamento Quando faremos? Cronograma O que faremos depois que acabar os recursos? Continuidade das ações O que mais temos para mostrar? Anexos • TÍTULO Na abertura do projeto, normalmente consta uma capa com o título, dados da organização (logotipo), local e data. O título do projeto deve traduzir, de forma sintética, o tema central que será trabalhado. Em alguns casos, na abertura, é apresentado um resumo onde de- vem ser salientados os pontos mais importantes do projeto. Mesmo sendo um componente inicial do projeto, por vezes sua redação torna-se mais clara quando elaborarmos os outros itens. • DIAGNÓSTICO Como a pergunta chave esclarece, o diagnóstico procura descre- ver a situação problemática na qual se quer intervir. Devem ser expostos dados da situação atual que permitirão ilustrar a situação desejada que são os objetivos. • OBJETIVOS Normalmente, existem dois níveis de objetivos: o objetivo geral e o objetivo específico. O objetivo geral expressa de forma ampla qual é a contribuição que o projeto deverá fazer. O objetivo específico do projeto descreve a ação de maneira mais particular e menos genérica, apontando para resultados concretos do projeto. Neste nível, é possível observar as ações a serem desenvolvidas com a população alvo. O objetivo geral é apenas um, enquanto que os específicos dificilmente são apenas um. 15 EXEMPLO (fictício) Título do projeto: Mais Belo Verde Diagnóstico: A Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Belo Verde aponta que 52% dos resíduos recicláveis produzidos pela po- pulação não recebe o destino e o processamento adequado (galpões de reciclagem e reciclagem de material), somando-se aos demais re- síduos não recicláveis e agravando o quadro dos aterros sanitários da cidade, cuja vida útil está se esgotando. Consultas realizadas à população em geral indicam, ainda, que a falta de coleta seletiva por parte da prefeitura e de campanhas sensibilizadoras para a separa- ção do lixo podem influenciar na existência do problema. Objetivos: • Objetivo geral: Ampliar o aproveitamento de resíduos sólidos recicláveis descartados na cidade de Belo Verde. • Objetivos específicos: (a) aumentar a capacidade de coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis; (b) ampliar a rede de gal- pões de reciclagem; (c) desenvolver campanhas educativas am- bientais; e, (d) desenvolver ações articuladas com outros municí- pios da região para a criação ou ampliação de aterros sanitários comuns, visando a destinação de resíduos orgânicos. RELAÇÃO ENTRE PROJETO, ATOR E REALIDADE1 Nesta abordagem, quando falamos em atores sociais nos referi- mos principalmente aos cidadãos que compõem a chamada sociedade civil. Porém, um projeto pode ter outros atores, como, por exemplo, insti- tuições, empresas ou órgãos públicos. Um projeto pode, ainda, ter como foco questões relacionadas ao meio natural, plantas, animais, clima, etc. Contudo, mesmo neste casos, a maioria dos projetos já está de alguma forma voltada ao cidadão. Podemos utilizar dois conceitos para identificar os atores de um projeto: o de cidadania e o de identidade sociocultural. O texto que segue é uma espécie de guia para introduzir esta te- mática, sobre a qual muito já se discutiu e se escreveu, principalmente nos últimos 150 anos. Todos nós, indistintamente, nos movemos e nos orien- tamos na vida cotidiana por esses dois sistemas de valores ou por essas duas dimensões de referência: a da cidadania orientada por valores éticos e da identidade, orientada por valores culturais. Podemos não ter cons- 1 O texto que segue se baseia, com modificações, em: Atores Sociais (GEHLEN, 2009). 3 UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 16 ciência desta realidade, mas ela existe afeta a todas as pessoas. Portanto, não podemos considerar as pessoas ou os atores sociais como se fossem uma unidade simples. Somos complexos. Esta análise influi quando cria- mos projetos de mudanças da realidade, pois nosso olhar precisa estar co- nectado com esta complexidade e levá-la em consideração ao construir um projeto ou executar ações que interferem no desenvolvimento local. No conceito de cidadania estão incluídos todos aqueles que fa- zem parte de uma determinada totalidade, assim, tratam-se dos residen- tes ou nascidos em um Município, estado ou País. Nesta perspectiva, reco- nhecem-se por interesses sociais, econômicos, políticos, culturais, além de outros, comuns, via de regra expressos formalmente, legitimados geral- mente por normas públicas: leis, estatutos, regimentos, etc. Sempre que se refere a desigualdade / igualdade social, é desta condição – de cidada- nia – que se está falando. Apresentam-se situações em que a expressão de interesses coletivos se expressa através de ações não legais, porém legíti- mas, como por exemplo, mobilizações e movimentos sociais. Cidadania é de direito público, universal, gerido por contrato en- tre o indivíduo e o Estado, que representa a totalidade. O compromisso do cidadão, além dos deveres éticos, é de exercer uma atividade socialmente reconhecida (desportista, ator, escritor, mecânico, bancário, comerciante, etc.). Esse compromisso com a sociedade corresponde à liberdade indivi- dual, pública e privada, no âmbito do território, da totalidade de perten- cimento, que normalmente corresponde à Nação ou a uma fração. Alguns direitos universalizam-se, como acesso ao saber, à alimentação, à saúde, à moradia, à liberdade política. O cidadão moderno de direito, no território Nação, é, portanto, uma construção histórica. A participação política é vista como uma atividade ocasional, por vezes desagradável, que é necessária para assegurar que o gover- no respeite e apoie a liberdade das pessoas para se entregarem aos seus projetos e interesses pessoais. O pressuposto de que a po- lítica é primariamente um meio para proteger e promover a vida privada está subjacente à maior parte das perspectivas modernas da cidadania. Esta atitude reflete o empobrecimento da vida pú- blica de hoje, em contraste com a cidadania ativa da antiga Grécia (KYMLICKA, 1998, p. 3). O conceito de identidade sociocultural inclui os mesmos cidadãos acima descritos, porém diferenciados pelas formas de convívio, de segu- rança, de bem-estar. O pertencimento a esta totalidade é legitimado pelos valores de adesão que orientam as condutas das pessoas. Não há regras escritas. Todos sabem reconhecer-se e sentem-se iguais. Habitualmente, esses valores são legitimados pela tradição, pelos costumes e todos sa- bem como agir nos ambientes privados de vida com os seus, independen- temente das posições sociais que cada um ocupa na estratificação social. A identidade sociocultural remete-nos à condição de existência privada, no sentido de referir-se à totalidade cultural à qual têm pertenci- mento. Cada um se define na relação pela semelhança, pelos gostos, pelo cheiro, pelos hábitos, validados pelo mesmo sistema de valores sociocul- 17 turais. Não há normatização burocrático-legal, não há normatização escri- ta. Pertencer a uma identidade não é uma concessão, nem uma questão de direito formal, mas de vida, de opção a ser renovada ao longo da exis- tência. Na América Latina, muitas identidades socioculturais, sobretudo as de indígenas e as de africanos escravizados, foram massacradas pela imposição, por parte dos colonizadores europeus, dos valores da ci- dadania acima descrita, em substituição aos valores identitários. Em nome dessa civilização ocidental cristã, impôs-se aquela cidadania, subjugando essas identidades como se de per si ocupassem posição inferior na estratificação social. De fato, a civilização colonizadora impôs o não-pertencimentoou a não-adesão aos valores civis ou identidades socioculturais dos colonizadores como critério de des- qualificação social, ou seja, de desigualdade social. Portanto, neste caso, adotar orientação de uma conduta privada do sistema de valo- res socioculturais não somente significa ser diferente, mas também constitui um critério de desigualdade social. Os valores de cidadania se sobrepuseram, numa tentativa autoritária, higienizadora e geno- cida de construir uma única referência identitária universal. Há gru- pos identitários específicos que não se constituem em identidade territorializada ou comunitária, mas se referenciam culturalmente, por valores comuns que orientam suas condutas, embora dispersos difusamente. Atualmente, adquirem bastante visibilidade os que se organizam e se expressam em movimentos sociais, que congregam várias identidades em relação a vivências sexuais, às opções religio- sas, à adoção de costumes coletivos, sobretudo entre jovens, a um patrimônio cultural historicamente construído, como, por exem- plo, os quilombolas. Sempre que valores políticos ou de cidadania se sobrepõem de forma absoluta e destrutiva a valores culturais ou religiosos, desrespeitando as diversidades socioculturais, geram-se regimes de governo autoritários, ditatoriais, em geral sanguinários (GEHLEN, 2011). Em muitas situações, ocorre imposição dos valores de cidadania, civilizatórios, sobre os identitários socioculturais. Vem carregada de vio- lência, com forte carga moral, como por exemplo em relação aos indíge- nas, aos afro na colonização, aos ciganos, etc. Outro recurso utilizado para a sobreposição da cidadania à identidade, principalmente em sociedades que se consideram democráticas, é a criação e difusão de preconceitos raciais, culturais ou religiosos. Esses preconceitos aos poucos são natura- lizados e se transmutam em estigma, como mostra Gehlen (1998, p. 138): O estigma (GOFFMAN, 1976) atribuído aos excluídos transforma as vítimas nos primeiros responsáveis pelo seu fracasso. A socieda- de culturalmente dominante estabelece os atributos (“naturais”), UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 18 que assumem normatividade de conduta, “consensuais”, estabe- lecendo categorias e hierarquias sociais. Estigmatizando algumas categorias, afirma-se a ordem social dominante. Responsabilizam- se essas categorias sociais estigmatizadas, excluídas, pela própria condição, culpabilizando-as pela incapacidade de resposta ao mo- delo, ou ao trabalho, no caso dos caboclos. Com isso, o processo social excludente apresenta as diferenças sociais como naturais, invertendo a percepção do real. O convívio entre pessoas que se auto definem pertencentes a identidades socioculturais específicas, é sempre tenso e exige um esforço de aceitação e respeito, a começar pelo reconhecimento do outro. A cria- ção de políticas inclusivas ou compensatórias específicas para determina- dos grupos sociais faz-se necessária para a superação dessa condição. Essa estratégia vai além do respeito à dignidade humana, pois promove mobi- lidade social, diminuindo a desigualdade social. Vale a pena aguçar o olhar para perceber que vivemos numa sociedade não somente marcada pela desigualdade social, mas fundada numa complexidade de identidades, que ao expressarem suas especificidades contribuem com o desenvolvi- mento local sustentado. O LOCUS DE AÇÃO DOS ATORES SOCIAIS: RELAÇÃO ENTRE PROJETO E REALIDADE Quando nos referimos ao local, como locus, o identificamos tanto por suas características de cidadania quanto pela presença ou mesmo pre- dominância de identidades específicas, definidos territorialmente. Frente à globalização do consumo de bens materiais e culturais e da cidadania, as identidades também têm algumas oportunidades de afirmar e publicizar seus conteúdos específicos, podendo constituir uma melhor referência para o sentido do cotidiano das pessoas. As conquistas tecnológicas podem propiciar oportunidades de dominação pelo contro- le ou de liberação pelas oportunidades de comunicação, de informação de chances de superar os limites do espaço-tempo. Contraditoriamente, as tecnologias possibilitam recriar condições de interação intra e interi- dentidades abrindo-se para o reconhecimento público e afirmação social. A construção do desenvolvimento sustentável tem por base o lo- cal e o patrimônio sociocultural dos atores sociais expresso pelas identi- dades socioculturais e pelas organizações sociais da sociedade. Por isso, o local é o território onde se desenvolve uma determinada economia lo- cal, com suas relações específicas, superando determinismos, como por exemplo rural versus urbano. É o território da diversidade e da cidadania, ambiente propício para promover mudanças que apontem para um de- senvolvimento sustentável. 3.1 19 DIAGNÓSTICO E PROBLEMA PARA PROJETOS2 O termo diagnóstico provém do adjetivo grego diagnostikós, que significa “capaz de distinguir”. Assim, podemos entender o diagnóstico como sendo o conhecimento necessário para discernir ou distinguir. Um dos primeiros passos do diagnóstico consiste em compre- ender os sinais / sintomas que estão sendo manifestados pela realidade. Por exemplo, percebe-se que numa determinada localidade há evasão de jovens, principalmente do sexo feminino. Nesse caso, o diagnóstico aju- da a encontrar indicadores ou eventualmente causas da evasão. Pode ser como uma fotografia, mas, também pode ser como um filme, que detecta causas históricas e estruturais. O diagnóstico capta o conjunto de proces- sos que geraram evasão e as interações que ocorreram. No mesmo exemplo, o diagnóstico pode identificar os diferentes grupos, por estratos de gênero, de idade ou de ocupação, entre outros, em que se verificou evasão. Pode ter ocorrido com maior ou menor intensida- de segundo estrato. É básico no diagnóstico identificar os atores envolvidos (estado, instituições, organizações, etc.) e de seu papel em relação às ações que poderão ser preconizadas pelo projeto. Importante pensar também nos atores “novos” que desempenham papel relevante, como por exemplo, novas organizações com atuação local, redes informais de poder e de so- lidariedade, entre outros. O tempo a ser considerado para diagnosticar, bem como o tempo para sua realização depende do que se quer com o diagnóstico e do que se quer do ponto de vista de intervenção na realidade. O importante é coletar e sistematizar as informações de que precisamos. Às vezes, apre- sentam-se dificuldades que nos desanimam. Contudo, melhor realizar um diagnóstico com alguma deficiência, como por exemplo, com dados faltantes cuja obtenção exigiria “outro diagnóstico”, do que desanimar e, assim, não ter os elementos necessários para produzir projetos. Diagnós- ticos demasiado detalhistas podem desmotivar os participantes e gerar uma infinidade de informações que torna a análise demorada e complexa. 2 O texto que segue se baseia, com modificações, em: Elaboração de Proje- to (BRACAGIOLI, 2010). 4 VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM lembre-se O objetivo de um diagnóstico é conhecer a realidade de um lugar ou de uma situação. Iniciar um projeto sem conhecer a realidade e a popula- ção que se quer pesquisar pode levar a graves erros. Por isso, é indispen- sável dispor de um diagnóstico adequado ao tempo e aos recursos de que se dispõe ao projeto que se quer implementar. UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 20 Outro ponto fundamental é a escolha dos métodos de trabalho a serem utilizados para desenvolver o diagnóstico. O mais adequado é uti- lizar métodos flexíveis e adaptados à realidade local e à capacidadedos executores. As metodologias participativas podem fornecer informa- ções de interesse, principalmente na percepção dos atores envolvidos no diagnóstico. É fundamental definir e identificar claramente a população alvo a ser beneficiada com o(s) projeto(s). “Quem?” e “o quê?” dependerão do contexto e das ações com que se pretende intervir. Contudo, alguns as- pectos estão presentes em todo processo de diagnóstico, dentre os quais: • o contexto local, nacional e internacional e suas diferentes di- mensões (social, econômica, política, cultural e comportamental); • o problema: situação ou situações; • a identificação de pessoas cujas atividades estão relacionadas à temática a ser abordada; • os serviços, ações e posições de outros atores, pontos fortes e fracos e natureza dessas ações; • os recursos disponíveis e obstáculos; • as lições que se podem tirar de experiências semelhantes; e, • os possíveis cenários onde se poderá atuar. O diagnóstico realizado de maneira inadequada pode trazer ris- cos, quando privilegia situações ou dados pouco pertinentes, enfatizando excessivamente sua ocorrência ou gerando um acúmulo de informações desnecessárias e de pouca utilidade prática – ou seja, sobrevalorizando ou subdimensionando determinados aspectos e atores da realidade es- tudada. CAMPOS, A.E. M.; ABEGÃO, L.H.; DELAMARO, M. C. O Planejamento de Projetos Sociais: dicas, técnicas e metodologias. Cadernos da Oficina Social , n. 9, Rio de Janeiro: COEPI, jan. 2002. Disponível em: <http:// www.coepbrasil.org.br/portal/publico/apresentarConteudoMestre. aspx?TIPO_ID=1>. Acesso em: 16 mar. 2014. BROSE, Markus. Metodologia Participativa: uma introdução a 29 ins- trumentos.Tomo Editorial: Porto Alegre, 2010. TENÓRIO, F. Elaboração de projetos comunitários: abordagem prática. Edições Loyola: São Paulo, 1995. DIAS, C. M. M. Metodologias participativas em organizações de coo- peração internacional: o caso do Banco Mundial. In: Seminário Interna- cional Empreendedorismo, Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvi- mento Local, 2., 2004, Rio de Janeiro. Disponível em:<http://www.itoi.ufrj. br/seminario/anais/Tema%206-2-DIAS.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2008. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM 21 É importante dar atenção à instituição que promove ou apoia o projeto, e, portanto, o diagnóstico. Deve-se lembrar que o diagnóstico não é neutro, mas pode reforçar ou salientar determinados aspectos conside- rados importantes pelos promotores. Os meios necessários à realização do diagnóstico também são fundamentais, pois possibilitam dimensionar os recursos humanos e orçamentários a serem utilizados. O diagnóstico não pode ser visto como um fim em si mesmo, é necessário ter em mente o processo de aprendizagem e de ação e manter permanentemente um posicionamento crítico e equidistante. PRINCÍPIOS DO DIAGNÓSTICO A realização de um bom diagnóstico pressupõe alguns princípios básicos. Há uma metodologia conhecida como diagnóstico participativo, que pode ser um valioso instrumento. É constituído de um conjunto de técnicas para se compreender as diferentes percepções da realidade em que se quer intervir. Para tanto, faz-se necessário levar em conta alguns princípios básicos, entre os quais pode se realçar: • Compreensão das diferentes percepções. Como cada pessoa observa a realidade de seu ponto de vista, não devemos, nesta fase, julgar se essa percepção é correta ou não; devemos, antes, respeitá-la e compreender a razão de tal percepção. Todo ponto de vista é a vista de determinado ponto. • Escuta da máxima diversidade possível de atores. Como nem todos pensam e percebem a realidade da mesma forma, impõe- -se escutar um conjunto diversificado de atores, procurando ob- servar as divergências e possíveis convergências de opiniões. • Visualização. O uso de recursos visuais para dar forma às ex- plicações verbais e escritas facilita a apropriação do conteúdo a ser analisado. Com essa finalidade, podem-se utilizar mapas, dia- gramas, esboços e modelos relativos aos assuntos e às discussões que estão em pauta. • Triangulação. Trata-se, aqui, da coleta e confrontação de dife- rentes fontes de informação, tais como entrevistas, observações e diagramas. A coleta deve ser efetuada junto a diferentes mem- bros da comunidade, grupos sociais, homens e mulheres, etc. • Ignorância ótima. Esta expressão indica que não convém cole- tar informações em excesso e que existem dados que é preferível ignorar, privilegiando as questões mais relevantes e pertinentes com relação ao assunto que se deseja abordar. 4.1 UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 22 FERRAMENTAS DO DIAGNÓSTICO Apresentaremos a seguir, sinteticamente, algumas ferramentas de diagnóstico, ressalvando, porém, que existe uma infinidade de outras que fogem ao escopo do presente trabalho. • ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS Trata-se de entrevistas guiadas por um conjunto de perguntas previamente organizadas, que abordam a temática a ser estudada. Elas se diferenciam de um questionário, pois permitem o diálogo; por isso, a se- quência é determinada de acordo com o desenvolvimento da abordagem do entrevistado. Em vista disso, é oportuno desenvolver a arte de formular perguntas abertas, estimulantes, dignificantes e referentes a elementos- -chave. Seguem alguns exemplos: • Pergunta aberta: “Qual é sua percepção sobre a coleta e desti- nação de resíduos sólidos no município?” • Pergunta estimulante: “Como você e seus vizinhos separam os resíduos sólidos em casa? Como acontece a coleta no seu bairro ou na sua rua?” • Perguntas dignificantes: “A partir da experiência de coleta se- letiva no seu bairro, o que poderia ser sugerido para melhorar o serviço de coleta da prefeitura”? • Pergunta sobre elemento-chave: “Que atividades de aprovei- tamento dos resíduos do bairro estão gerando trabalho e renda dentro da própria comunidade?” • MAPAS Instrumentos interessantes para se realizar uma discussão e uma análise de informações de forma visualizada, os mapas podem ser prepa- rados em papel ou até mesmo desenhados no chão. Podem ser utilizados para caracterizar, entre outros fatores, os recursos naturais, a estrutura so- cial, a comunidade, a propriedade, os fluxos econômicos, a migração e a visão do futuro. A escolha de um desses instrumentos depende dos obje- tivos e da temática do diagnóstico. Podemos, por exemplo, optar pela construção do mapa de uma comunidade mediante a configuração proposta pelos próprios morado- res da localidade. Em tal mapa, pode ser representada a água potável, a energia elétrica, a qualidade das moradias, o número de lares, e assim por diante. 4.2 VERDEJO, Miguel Ex- pósito. Diagnóstico rural participativo. Brasília: SAF/MDA, 2006. Disponível em: <http://www.ufrgs. br/cegov/files/ppa/ VERDEJO_2006_ DiagnosticoRural- Participativo.pdf> VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM atenção O uso das ferramen- tas de diagnóstico apresentadas a seguir pode ser feito nas instâncias formais de consulta, tais como: audiências públicas, conselhos de políticas públicas, reuniões de orça- mentos participativos e outras dinâmicas instituídas. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM23 Figura 1 - Mapa falado da localização de agricultores familiares num muni- cípio de Roraima, segundo agricultores da localidade Fonte: MDA, 2011. A realização dessa tarefa requer de duas a três horas; ela pode ser executada em papel, com pincel atômico, ou mesmo no chão, com pedras, paus e sementes. O essencial é que o facilitador faça perguntas-chave, para que os moradores caracterizem o conjunto de elementos socioam- bientais existentes na comunidade. • DIAGRAMAS Um diagrama valioso e eficiente para a identificação dos atores institucionais locais e sua inter-relação é o diagrama de Venn, também co- nhecido como diagrama de tortas. Para executá-lo, escreve-se no centro de um papel o nome da comunidade ou do grupo em questão; depois, pergunta-se quais são as instituições com as quais essa comunidade ou esse grupo tem relação. A organização com a qual a comunidade ou gru- po tem maior relação inscreve-se o mais próximo do nome da comunida- de ou grupo, e as que têm menor relação com a comunidade ou grupo são inscritos proporcionalmente mais longe. Posteriormente, podem ser traçadas linhas e setas caracterizando a relação das instituições entre si; por exemplo, relação de conflito, de cooperação, de parceria, ou outra. UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 24 Figura 2 – Diagrama de Venn Fonte: Sítio do Brasil Escola. Outro diagrama que pode ser elaborado é a chamada árvore de problemas, que busca analisar a relação causa-efeito de determinado pro- blema. As raízes da árvore simbolizam as causas do problema; o problema figura no tronco; e os galhos representam os efeitos. O exercício é realiza- do em um tempo aproximado de duas horas, iniciando-se com o desenho da árvore e a inscrição do problema na área do tronco. Durante a discus- são, são anotadas as causas (raízes) e os efeitos (galhos) do problema men- cionado. Ao final, são discutidas as ações que possam ser desenvolvidas para eliminar ou controlar as causas dos problemas. A discussão em torno da técnica da árvore de problemas será aprofundada na unidade II. • CALENDÁRIOS A dimensão do tempo é fundamental para a análise dos proble- mas e, principalmente, das atividades agrícolas. Assim sendo, os calendá- rios fornecem informações básicas referentes à dinâmica de uma proprie- dade ou comunidade. A construção de um calendário de atividades de um grupo familiar, por exemplo, pode auxiliar a visualizar o conjunto de atividades que são desenvolvidas, mas que não são necessariamente re- lacionadas com a agricultura. Para sua execução, define-se inicialmente a escala de tempo (semanas, meses, estações, etc.). Em seguida, determi- nam-se as principais atividades agrícolas, sociais e culturais. A escala de tempo figura no alto, em linha horizontal, enquanto as diferentes ativida- des constam em uma coluna à esquerda. Nas células de encontro entre as atividades e o tempo, anotam-se as categorias de uso do tempo – por exemplo: pouco, regular e muito. Depois dessa categorização, analisa-se a utilização do tempo ao longo do ano e o trabalho dos diferentes membros do grupo familiar. ! O QUE É UM PROBLEMA? PROBLEMA RELEVANTE DIFERENTES PERCEPÇÕES (não uma só verdade) COMPLEXIDADE DE CAUSAS EFEITO SENTIDO POR UMA PESSOA TEM ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO HISTÓRIA DINÂMICA A B C REDUÇÃO DO NÚMERO DE PASSAGEIROS PERDA DE CONFIANÇA NA EMPRESA PASSAGEIROS CHEGAM ATRASADOS PASSAGEIROS SÃO FERIDOS/MORTOS MAU ESTADO DOS VEÍCULOS ALTA FREQUÊNCIA DE ACIDENTES ÔNIBUS TRAFEGAM EM ALTA VELOCIDADE MAU ESTADO DAS RUAS MOTORISTAS DESPREPARADOS VEÍCULOS MUITO VELHOS INSUFICIENTE MANUTENÇÃO DOS VEÍCULOS DIFICULDADE NA OBTENÇÃO DE PEÇAS DE REPOSIÇÃO EFEITOS CAUSAS NÚMERO DE PASSAGEIROS AUMENTANDO CONFIANÇA NA EMPRESA RECUPERADA PASSAGEIROS CHEGAM NO HORÁRIO NÚMERO DE PASSAGEIROS FERIDOS/MORTOS REDUZIDO VEÍCULOS EM BOM ESTADO ÍNDICE DE ACIDENTES REDUZIDO ÔNIBUS TRAFEGAM NA VELOCIDADE PERMITIDA RUAS EM BOAS CONDIÇÕES DE USO MOTORISTAS CAPACITADOS FROTA RENOVADA MANUTENÇÃO ADEQUADA DOS VEÍCULOS PEÇAS DE REPOSIÇÃO ACESSÍVEIS ÁRVORE DE PROBLEMAS ÁRVORE DE OBJETIVOS CA U SA S EF EI TO S PR O BL EM A CE N TR A L FINS MEIOS M EI O S FI N S O BJ ET IV O CE N TR A L 25 • MATRIZES De maneira geral, as matrizes buscam comparar diferentes aspec- tos, objetivando classificá-los, analisá-los ou avaliá-los. Uma matriz de uso corrente é a denominada FOFA (fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças). As fortalezas indicam aspectos de bom desempenho no inte- rior de um grupo/comunidade. As oportunidades correspondem a fato- res externos que influem positivamente no aspecto analisado. As fraque- zas designam fatores do interior do grupo que influem negativamente sobre o desempenho. Por fim, as ameaças representam fatores externos que podem influenciar negativamente no desenvolvimento do aspecto analisado. Para realizar o exercício, inscrevem-se essas dimensões em qua- tro quadrantes em um papel e formulam-se as perguntas relacionadas a cada dimensão. Ao final da tarefa, procura-se analisar as respostas, pen- sando que das fortalezas devem ser tiradas vantagens, as oportunidades devem ser aproveitadas, as fraquezas, eliminadas e as ameaças, evitadas. Esta outra técnica também terá mais espaço para discussão na unidade seguinte. Existe uma série de outras matrizes que podem ser desenvolvidas com relação a temáticas variadas, tais como o processo de comercializa- ção, camadas sociais, a priorização de problemas, o cenário de alternati- vas, etc. Da mesma forma, estão disponíveis uma série de ferramentas e técnicas de diagnósticos. A seleção de uma dessas ferramentas ou técni- cas pode ser orientada pelo bom senso e pelo diálogo compreensivo, no intuito de desvendar gradativamente novos aspectos e percepções sobre o tema a ser analisado. Esse processo não deve constituir apenas uma nova retórica ou modismo, que impeça a criatividade e leve a aplicar téc- nicas com rigidez e formalismo. O essencial é, por um lado, prever e saber trabalhar resolutamente com conflitos e diferentes perspectivas em con- fronto e, por outro, observar a equidade e o empoderamento do processo, sem reforçar as relações de poder já constituídas. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM lembre-se Geralmente, existe mais de uma maneira para se obter determinada in- formação. A questão fundamental é: “Qual é o método mais adequado, dentro das circunstâncias, para se coletar este dado?”. Para encontrar a resposta, deve-se levar em conta os recursos disponíveis, o tempo dis- ponível e a natureza da informação (qualitativa ou quantitativa). VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM lembre-se O guia de estudos do módulo I também fornece materiais para a leitura e realização de diagnósticos. Não hesite em consultá-lo! UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 26 O PROBLEMA Inicialmente, é importante entendermos que o problema tem uma história dinâmica e que é necessário conhecê-la para compreender- mos como ele tornou-se relevante ao longo do tempo para os atores em questão. Além disso, é necessário buscar entender as iniciativas anteriores que foram utilizadas para solucioná-lo e que, por vezes, agravaram em vez de solucionar a situação. O problema relevante tem normalmente uma complexidadede causas, sendo que as variáveis que o afetam nem sem- pre são controláveis e/ou perceptíveis. O problema considerado relevante também pode ter diferentes percepções, oriundas de juízos de valores, suposições e interesses pesso- ais, os quais podem levar a culpabilizações. Isto pode levar a um processo conflitivo na construção com os atores, necessitando que sejam estabe- lecidas regras para ser considerado um problema. Por fim, o problema é sentido por uma pessoa ou um conjunto de pessoas e normalmente tem alternativas de solução, não apenas solução única. 5 Sendo assim, os problemas formulados devem se enquadrar em alguns critérios: • O problema deve ser concreto. É importante que o problema não seja personalizado, levantan- do suspeitas sobre pessoas ou busca de culpados. Por exemplo, “falta de responsabilidade do Prefeito” é uma formulação que coloca a situação de forma personalizada, sendo difícil de encontrar formas de encaminhar a intervenção planejada. A situação pode ser formulada como “morosidade na obra de saneamento do Bairro S. João”, desta forma é mais fácil envol- ver os diversos atores na procura de soluções para o problema. Fonte: elaboração própria. ! O QUE É UM PROBLEMA? PROBLEMA RELEVANTE DIFERENTES PERCEPÇÕES (não uma só verdade) COMPLEXIDADE DE CAUSAS EFEITO SENTIDO POR UMA PESSOA TEM ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO HISTÓRIA DINÂMICA A B C REDUÇÃO DO NÚMERO DE PASSAGEIROS PERDA DE CONFIANÇA NA EMPRESA PASSAGEIROS CHEGAM ATRASADOS PASSAGEIROS SÃO FERIDOS/MORTOS MAU ESTADO DOS VEÍCULOS ALTA FREQUÊNCIA DE ACIDENTES ÔNIBUS TRAFEGAM EM ALTA VELOCIDADE MAU ESTADO DAS RUAS MOTORISTAS DESPREPARADOS VEÍCULOS MUITO VELHOS INSUFICIENTE MANUTENÇÃO DOS VEÍCULOS DIFICULDADE NA OBTENÇÃO DE PEÇAS DE REPOSIÇÃO EFEITOS CAUSAS NÚMERO DE PASSAGEIROS AUMENTANDO CONFIANÇA NA EMPRESA RECUPERADA PASSAGEIROS CHEGAM NO HORÁRIO NÚMERO DE PASSAGEIROS FERIDOS/MORTOS REDUZIDO VEÍCULOS EM BOM ESTADO ÍNDICE DE ACIDENTES REDUZIDO ÔNIBUS TRAFEGAM NA VELOCIDADE PERMITIDA RUAS EM BOAS CONDIÇÕES DE USO MOTORISTAS CAPACITADOS FROTA RENOVADA MANUTENÇÃO ADEQUADA DOS VEÍCULOS PEÇAS DE REPOSIÇÃO ACESSÍVEIS ÁRVORE DE PROBLEMAS ÁRVORE DE OBJETIVOS CA U SA S EF EI TO S PR O BL EM A CE N TR A L FINS MEIOS M EI O S FI N S O BJ ET IV O CE N TR A L Figura 3 - Identificação e definição de um problema 27 ATIVIDADE 1 Escolha uma das situações problema a seguir e identifique os ele- mentos solicitados posteriormente. Situação problema 1 (fictícia): Problemas constantes de congestionamento nas 5 principais vias da cidade de Belo Verde alertaram a prefeitura para a necessida- de de apresentar soluções. Um estudo encomendado à universida- de local verificou que, entre 2003 e 2013, o número de automóveis e motocicletas no município cresceu 4 vezes. As últimas grandes obras naquelas vias que recebem os maiores fluxos diários de trânsito, no entanto, foram realizadas há mais de 16 anos – quando a população do município e a frota de veículos eram consideravelmente menores. Em sondagens iniciais com a população, verificou-se ainda • O problema deve ser sustentado. O problema deve ser real e significativo para o tema em ques- tão. Quando o problema não tem impacto significativo no horizonte da intervenção não devem ser considerado. Por exemplo, se um problema é formulado como “falta de encaminhamento da estrada pela Secretaria de Obras” e é um fato que ocorreu apenas uma vez há muito tempo, isso não deve ser considerado. Além dos critérios listados anteriormente, o problema deve ter al- gumas regras de formulação: • O problema não deve estar formulado na negativa. É preciso ter presente que a situação objetivo deverá ser o oposto do problema formulado. Quando formulamos um problema como “ele- vado número de acidentes nas linhas de transporte público municipal”, com base nesta formulação poderemos estabelecer o objetivo como “di- minuição ou eliminação do número de acidentes nas linhas de transporte público municipal”. • O problema deve estar formulado de forma sintética. A forma sintética permite que ele seja facilmente visualizado, mesmo que sejam necessárias explicações e correções na formulação. Também evitará que sejam colocados dois problemas no lugar de apenas um. Por exemplo, o problema “descumprimento dos prazos de entrega de- vido a falhas na emissão das ordens de expedição” na realidade são dois problemas um “descumprimento dos prazos de entrega” e outro “falhas na emissão das ordens de expedição”. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM atenção É a partir da situação- -problema escolhida neste momento que você realizará as tarefas das próximas unidades e redigirá o seu projeto, tarefa final do curso. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 28 que a má qualidade do transporte público e o incentivo ao consumo a faz optar pelo transporte individual, agravando o problema. Projetos que visem implantar soluções para a melhoria do fluxo de trânsito nas regiões e que proponham alternativas de transporte no município são urgentes. O mesmo estudo apontou que as vias que são objetos de aten- ção da prefeitura encontram-se em dois grupos: (a) aquelas que podem ser ampliadas e (b) aquelas que se encontram no limite de sua expan- são, pois são rodeadas por prédios tombados pelo patrimônio histórico. (a) As vias que podem ser ampliadas são 3, podendo passar: de 2 para 4 faixas. Pode-se decidir se as 4 faixas serão para o tráfego de todos os veículos (veículos particulares, ônibus, motocicletas, etc.) ou se serão destinadas 2 faixas para o tráfego de todos os veículos e destinadas 2 faixas para o tráfego exclusivo de ônibus municipal e intermunicipal, por exemplo; (b) As vias que não podem ser ampliadas são 2: ambas localizadas no centro histórico da cidade, onde se nota a preponderância do uso de carros particulares para a locomoção apesar da existência de linhas regulares de ônibus para todos os pontos da cidade e da existência de ciclovias. Ciclovias estas que, segundo a população jovem e adul- ta, são pouco aproveitadas devido ao sentimento de desrespeito dos motoristas em relação aos ciclistas e ao alto índice de sedentarismo da população local. O valor destinado pela prefeitura para as obras nas vias e ar- redores é de R$ 1,5 milhão. Este recurso financeiro pode ser utilizado integralmente na realização das obras ou ser utilizado como contra- partida na busca por mais recursos. * Informações que podem interessar a você: Algumas estimativas: -- Estima-se que as obras de ampliação de cada uma das vias terá o custo de: R$ 245 mil -- O valor estimado para a construção de novos corredores de ônibus em cada via ampliada é de: R$ 60 mil -- O investimento estimado para a criação de cada nova ciclovia fora do centro histórico é de R$ 38 mil Perfil populacional do município: -- 15% de crianças de 0 a 9 anos; 6% de crianças e jovens de 10 a 14 anos; 59% de jovens e adultos entre 15 a 49 anos; 13% de idosos de 60 a 79 anos; e, 7% com mais de 80 anos. 29 Situação problema 2 (fictícia): A alta taxa de mortalidade infantil no município de Belo Ver- de é um grande problema social: atualmente, a cada mil crianças nas-cidas vivas, 31,2 morrem antes de completar 1 ano de idade – uma das maiores taxas de mortalidade no país. A Secretaria de Saúde do município estuda alternativas para a redução deste índice pela meta- de até o ano de 2030. Informações fornecidas pelos hospitais e postos de saúde da região apontam que medidas preventivas poderiam amenizar o problema, tais como: a ampliação da oferta de saneamento básico na localidade e o acompanhamento médico destas crianças. Já a amplia- ção de recursos destinados à compra de remédios e vacinas para o seu tratamento também vem sendo demandado por profissionais da saúde da localidade. A mesma fonte de dados aponta ser necessária a priorização de ações em 3 bairros do município: 2 deles situam-se em situação emergencial devido ao alto índice de mortalidade infantil e 1 em vias de atingir a mesma condição. Na busca por soluções, a equipe técnica da Secretaria de Saú- de do município deparou-se com a experiência de outra cidade da região: através da parceria com uma universidade local, criou-se um programa de acompanhamento das crianças de até 1 ano de idade e suas mães e/ou pais, a fim de apresentar cuidados essenciais de higiene no manuseio de alimentos, tecnologias sociais como o soro caseiro, etc. e, sobretudo, a inserção na dieta diária de um composto alimentar desenvolvido pelos pesquisadores da instituição para com- bater a desnutrição das crianças que se encontram nesta situação. Numa primeira aproximação com esta instituição, o municí- pio de Belo Verde recebeu resposta positiva para replicar a experiên- cia do programa em sua localidade, contando com o suporte técnico de pesquisadores e alunos. Porém, com a condição de ofertar condi- ções de sua permanência e atuação na região (moradia temporária, alimentação, transporte, etc.). A Secretaria tem disponível R$ 1,2 milhão para o emprego em um projeto voltada à mitigação do problema. * Informações que podem interessar a você: Algumas estimativas: -- Estima-se que as obras de ampliação da rede de esgoto, de 47% para 82% de cobertura em dois bairros, terão o custo de: R$ 750 mil; -- O valor estimado para a aquisição de remédios e vacinas é de: R$ 63 mil (quantidade suficiente para suprir a demanda dos três bairros indicados); -- Estima-se que a construção de 1 poço artesiano tenha o custo de: R$ 13,5 mil (quantidade demandada: 20, sendo 13 nos bairros com os UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 30 mais altos índices de mortalidade infantil); -- O investimento estimado para a permanência e atuação de 2 profes- sores pesquisadores e 5 alunos estagiários na localidade é de R$ 12 mil mensais (duração mínima recomendada do programa: 1 ano). Agora que você escolheu uma das situações-problema apre- sentadas, faça as tarefas a seguir: (1) Identifique qual o problema a ser enfrentado; (2) Identifique os trechos do texto que apresentam elementos de diagnóstico e identifique qual método ou técnica foi em- pregado para realizá-lo; (3) Responda: quais técnicas ou métodos você proporia para aprimorar o diagnóstico (consulta plataformas de dados, reali- zação de entrevistas, etc.)? (4) Aponte claramente como a definição do problema e o diag- nóstico podem ter caráter participativo: como a população/co- munidade pode contribuir nesse processo? Que atores devem ser escutados? Como deve se dar a dinâmica participativa? NESTA UNIDADE VOCÊ APRENDEU QUE ü Há uma “hierarquia” no que se refere à amplitude das partes que compõem um processo de planejamento (conteúdo, abran- gência e prazo): do mais amplo para o mais restrito, temos o plano, programa e projeto; ü Há perguntas-chave que podem auxiliar você a estruturar um projeto; ü Ao criarmos projetos de mudanças da realidade, nosso olhar precisa estar atento à diversidade de grupos e atores sociais e de- ve-se levá-la em consideração ao construir um projeto ou executar ações que visem o desenvolvimento local; ü Há princípios básicos que devem ser considerados ao realizar um diagnóstico; ü Diferentes ferramentas de diagnóstico podem auxiliar você a conhecer a realidade na qual se quer intervir; ü O problema relevante tem normalmente uma complexidade de causas e não apenas uma solução. Ele também pode ter dife- rentes percepções, oriundas de juízos de valores, suposições e in- teresses pessoais. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM 31 REFERÊNCIAS BRACAGIOLI, A. Elaboração de Projeto. IN: BRACAGIOLI, A.; GEHLEN, I.; OLIVEI- RA, V. L. de. Planejamento e Gestão de Projetos para o Desenvolvimento Rural. Porto Alegre: UFRGS / PLAGEDER, 2010. p. 20 a 25. CURY, Maria Christina Holl. Elaboração de projetos sociais. In: ÁVILA, Célia M. de (Coord.). Gestão de projetos sociais. São Paulo: AAPCS, 2001. p. 37-58. GANDIN, Danilo. A prática do planejamento participativo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. GEHLEN, I. Identidade estigmatizada e cidadania excluída: a trajetória cabo- cla. In: ZARTH, P. A. et. al. (Orgs.) Os caminhos da exclusão social. Ijuí: Ed. da UNIJUÍ,1998. p. 121-141. ____. Atores Sociais. In.: GEHLEN, I.; MOCELIN, Daniel Gustavo (Orgs.). Orga- nização Social e Movimentos Sociais Rurais. 1ª. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009, p. 29 a 34. GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteri- orada. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. KYMLICKA, W. Cidadania, identidade e diferença. A Tempo/Sem tempo, nov. 2007. Disponível em: <http://worldroom.wordpress.com/2008/10/10/a-tem- posemtempo>. Acesso em: fev. 2014. Trad. de Citizenship. In: CRAIG, E. (Org.). Routledge Encyclopedia of Philosophy. London: Routledge, 1998. MDA. Anexo I – Metodologia de diagnóstico rápido participativo (DRP) e mapeamento de comunidades e estabelecimentos da agricultura famil- iar – CGBIO/DGRAV/SAF/MAD. Disponível em: <portal.mda.gov.br/portal/saf/ arquivos/file?file_id=7902980>. UNIDADE 1: FUNDAMENTOS E ESTRUTURA DE PROJETOS 32 UNIDADE 2: OBJETIVOS E METODOLOGIA 1 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Nesta unidade você irá aprender: • O que é e como formular objetivos, justificativas, ações, metas e indicadores para um projeto; • Princípios e ferramentas metodológicas para a elaboração e exe- cução de projetos. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM FORMULAR OBJETIVOS, JUSTIFICATIVAS, AÇÕES, METAS E INDICADORES OBJETIVOS Os objetivos são o coração de um projeto. Influenciam no antes, ou seja, a seleção de informações de diagnóstico e o problema e determi- nam o depois, ou seja, as ações ou atividades, os procedimentos metodo- lógicos, os indicadores, o cronograma e o orçamento ou os recursos. Um Objetivo Geral remete a conceitos, estratégia, resultados es- perados, mesmo que latentes. Sua redação deve ser objetiva, impessoal e sintética, que facilite a leitura. 1.1 EXEMPLO: Elaborar uma política de mobilidade na cidade priori- zando a diversificação, a qualificação e a prioridade, dos meios de locomoção, segundo as condições geofísicas, as tradições culturais e a prioridade às populações que mais utilizam ou necessitam de cada meio. 33 UNIDADE 2: OBJETIVOS E METODOLOGIA Os objetivos específicos expressam as ações ou atividades previs- tas no Projeto. Devem ser formulados de forma objetiva e bem focados. A quantidade de objetivos específicos depende de cada projeto e deve ser coerente com a quantidade de ações / atividades, os recursos, o crono- grama e a metodologia. Em geral, cada objetivoespecífico corresponde a pelo menos uma ação ou atividade. A redação dos objetivos específicos segue os mesmos parâmetros do objetivo geral, ou seja, precisam ser concisos, claros e compreensíveis em si mesmos. O objetivo geral e os objetivos específicos constituem o principal parâmetro para avaliação do projeto, na sua execução. Eles ga- rantem a coerência “interna” do projeto, ou seja, qualquer item do projeto pode ser lido e compreendido em confronto com objetivos JUSTIFICATIVAS A justificativa tem a finalidade de explicitar de forma sintética e clara as razões pelas quais o projeto merece ser realizado, e, no caso de solicitação de apoio, convencer o(s) parceiro(s) do seu mérito, necessidade e/ou importância para o desenvolvimento local / regional. A importância do projeto será justificada pela sua vinculação, mostrada no diagnóstico, com problemas ou demandas relevantes. Ou seja, o diagnóstico e o problema definido como foco do projeto dão con- sistência à(s) justificativa(s). Importante destacar os BENEFÍCIOS que trará para a população beneficiária e eventualmente benefícios indiretos para outras populações. Ressaltar a qualificação e, se for o caso, experiência ou expertise de quem promove e/ou vai executar o projeto ajuda muito a angariar sim- patia e apoio. Destacar o papel estratégico do projeto para o desenvolvimento local (territorial) e como desencadeador de outros processos ou inovações. AÇÕES /ATIVIDADES Prever as ações e/ou atividades que farão parte da execução do Projeto é essencial para definir os indicadores, a metodologia e o crono- grama. Cada ação ou atividade precisa estar bem dimensionada em rela- ção ao cronograma, aos recursos e também ao público. 1.2 VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM atenção Objetivos e metas são diferentes entre si, não confunda! Um objetivo é a descri- ção mais abrangente daquilo que se pre- tende alcançar. Uma meta é a definição em termos quantita- tivos e com um prazo determinado para o alcance dos objeti- vos. 1.3 34 METAS E INDICADORES Para que se possa fazer a adequada e tempestiva gestão de qual- quer projeto, é preciso que, como desdobramento dos objetivos e das atividades ou ações propostas, existam mecanismos de monitoramento e avaliação. No próximo módulo desta capacitação, os mecanismos de mo- nitoramento e avaliação dos projetos serão detalhados e explorados de modo mais pormenorizado. Por ora é necessário que a você se familiarize com duas ferramentas de gestão: as metas e os indicadores do projeto. As metas são quantificações dos objetivos, fundamentais para o acompanhamento e avaliação do projeto. Devem ser explícitas e mensu- ráveis. Normalmente são escritas com um nome e/ou um número. Por exemplo: para uma atividade como “realizar visitas domicilia- res para levantamento dos hábitos alimentares das famílias”, a meta deve ser algo como “20 visitas semanais”. Note-se que a meta do exemplo tem um número de visitas, mas a meta também pode ser um prazo (“Visitar todas as famílias da comunidade nos primeiros 90 dias de execução do projeto”). Para uma atividade “Realizar curso de informática básica com pessoas da terceira idade”, a meta pode ser uma quantidade de pessoas (“formar 120 pessoas” ou “formar pelo menos 80% das pessoas que inicia- ram o curso) ou um grau de domínio (“alunos com média superior a 7,0 na avaliação final”). Uma meta bem estipulada só tem duas respostas possíveis: sim ou não (atingida ou não atingida). Se for preciso escrever uma explicação para o resultado da meta, possivelmente ela não está bem formulada. Os indicadores são dados concretos que permitem facilmente ao gestor acompanhar as atividades previstas no projeto e avaliar o alcance dos objetivos. Há indicadores de processo que apontam se as atividades propostas estão sendo executadas dentro do prazo e cumprindo as suas metas. Já os indicadores de resultado mostram se os objetivos foram al- cançados. Em alguns casos, o projeto pode trabalhar ainda com indicado- res de impacto, que são aqueles que medem eventuais consequências do projeto para além do seu objetivo geral. Por exemplo, um projeto pode ter o objetivo geral de “Fomentar iniciativas de geração de trabalho e renda”, mas ter como impactos indire- tos questões como elevação da auto-estima ou desenvolvimento da cida- dania. Note-se que esses não são objetivos diretos do projeto, mas podem ser uma decorrência dele por causa da maneira como ele foi desenvolvido, da sua metodologia, etc. Portanto, este seria um possível indicador de im- pacto. 1.4 35 UNIDADE 2: OBJETIVOS E METODOLOGIA Em um projeto bem elaborado, é preciso também deixar claro como esses indicadores serão coletados, com que periodicidade e por quem. Observe o exemplo abaixo para identificar a relação direta que deve existir entre objetivos, metas e indicadores (no caso, estamos falando de indicadores de resultado): EXEMPLOS Objetivo geral: Ampliar o aproveitamento de resíduos sólidos reci- cláveis descartados na cidade de Belo Verde. Meta: Ampliar para 80% o índice de aproveitamento de resíduos só- lidos em 4 anos. Indicador (de resultado): índice de aproveitamento dos resíduos na cidade Instrumento de verificação: planilha de controle da quantidade produzida x quantidade reaproveitada e vendida pelos galpões de reciclagem da cidade Periodicidade de verificação: mensal Responsável pela verificação: Secretaria de Meio Ambiente – De- partamento de Controle de Resíduos Sólidos. VIDEOTEC TIVID DES C DERNO DE ESTUDOS BIBLIOTEC SOBRE O MOODLE SOBRE O CURSO FERRAMENTAS V LI Ç O FIN L VIDEOS TUTORIAIS ~ Módulo 1 Módulo 2 sai ba OBJETIVOS DE PRENDIZ GEM ! ! + FÓRUM atenção A definição clara de metas e indicadores faz do projeto uma poderosa ferra- menta de gestão que permite ao administrador público monitorar e avaliar o al- cance dos objetivos. Neste sentido, é importante que para todos os objetivos e atividades previstos no projeto existe a definição de metas e indicadores próprios. Como já foi ressaltado, nos módulos seguintes dessa capacitação (Monitora- mento e Avaliação de projetos), esse tema será aprofundado e detalhado. No entanto, no presente módulo de Elaboração de Projetos é necessário que se construam esses pontos para que o mesmo tenha coerência e consistência. 36 Objetivos específicos Metas Indicadores de resultado Instrumento de verificação Periodicidade de verificação Responsável pela verificação (a) aumentar a capacidade de coleta seletiva de re- síduos sólidos recicláveis; (a) aumentar a frota de caminhões de coleta, em 1 caminhão por ano, durante 4 anos; (a) número de caminhões na frota do município em condições plenas de fun- cionamento; (a) inventário de patrimô- nio da prefeitura; (a) anual; (a) Secretaria de Meio Ambiente – Departamen- to de Controle de Resíduos Sólidos; (b) ampliar a rede de galpões de reciclagem; (b) aumentar o número de galpões de re- ciclagem, em 2 galpões por ano, durante 4 anos; (b) número de galpões do município; (b) inventário de patrimô- nio da prefeitura; (b) anual; (b) Secretaria de Meio Ambiente – Departamen- to de Controle de Resíduos Sólidos; (c) de- senvolver campanhas educativas ambientais; (c) Sensibilizar 2 mil pessoas por ano em diferentes cam- panhas durante o período de execução do PPA; (c) número de campanhas feitas; (c) número de comunida- des, famílias ou pessoas alcançadas pelas ações de conscientização
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