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ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ Elementos do negócio jurídico: Elementos essenciais: imprescindíveis à existência do negócio jurídico, podem ser gerais, se comuns à generalidade dos atos negociais, e particulares, quando peculiares a certas espécies por atinarem às suas formas. Exemplo: Vontade, que é a manifestação do consentimento das partes para a realização do nj, deve-se verificar se essa foi efetivamente manifestada e se coincide com a vontade real daquele que a declarou. Objeto, sobre o qual vai se referir o nj. Forma, dando-se mediante acordo escrito ou verbal. Elementos naturais: são efeitos decorrentes do negócio jurídico, sem que seja necessária qualquer menção expressa a seu respeito, visto que a própria norma jurídica já determina quais são essas consequências jurídicas. Exemplo: negócio jurídico de compra e venda, o elemento natural é a entrega do produto. Elementos acidentais: são estipulações ou cláusulas acessórias que as partes podem adicionar em seu negócio para modificar uma ou algumas de suas consequências naturais (condição, modo, encargo ou termo). Dos Elementos Acidentais dos atos/negócios jurídicos O elemento acidental tem por função alterar ou determinar alguma consequência na eficácia do negócio jurídico de alguma forma. Excepcionalmente as partes podem inserir uma condição, termo ou encargo para controlar a eficácia. CONDIÇÃO - Subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto, fixado com uma clausula subordinativa de efeito. Ex: Na compra um automóvel, Pedro manifesta a vontade de comprar o carro de João. No momento do negócio, Pedro decide colocar um elemento acidental no negócio que só será celebrado quando a condição for exercida, ou seja, o negócio já existe, já é válido em todos os seus requisitos, PORÉM sua eficácia ainda não produz efeitos. A eficácia ficará contida, aguardando o implemento da condição. No nosso exemplo vamos supor que Pedro tenha colocado como condição para comprar o carro de João um evento futuro e incerto: só comprará o carro caso no dia da compra chova. - O negócio existe, é valido, mas não é eficaz momentaneamente, pois só terá eficácia se no dia da compra chover, só depois do implemento da condição o negócio produzirá efeitos. ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ - Pode ser: Suspensiva ou inicial, como no exemplo do caso acima. Ela suspende o exercício e a aquisição do direito e, quando a condição é realizada, as partes têm de volta o exercício e a aquisição dos efeitos do nj. Resolutiva ou inicial, é absolutamente o contrário da anterior. A eficácia, nesse caso, acaba quando a condição é satisfeita. A pessoa adquire o direito imediatamente e esse se estende até o evento. Exemplo: Uma pessoa empresta um livro ao amigo, mas a sua condição é de que ele só fique estudando até o sábado, porque no domingo ele irá usar. Assim, tem-se um empréstimo que perderá sua eficácia assim que a condição é satisfeita, ou seja, assim que chegar o domingo. É existente, válido e eficaz. - Efeito da condição suspensiva pendente. Pendente a condição suspensiva não se terá direito adquirido, mas, expectativa de direito ou direito eventual. Só se adquire direito após o implemento da condição. A eficácia do ato negocial ficará suspensa até que se realize o evento futuro e incerto. A condição se diz realizada quando o acontecimento previsto se verificar. Se terá, então, o aperfeiçoamento do ato negocial, operando-se ex tunc, ou seja, desde o dia de sua celebração, se inter vivos, e à data da abertura da sucessão, se causa mortis, daí ser retroativo. - Implemento de condição resolutiva. Se uma condição resolutiva for aposta em um ato negocial, enquanto ela não se der, vigorará o negócio jurídico, mas, ocorrida a condição, operar-se-á a extinção do direito a que ela se opõe, retornando-se ao status quo ante. Mas, se tal negócio for de execução continuada ou periódica (p. ex., uma locação), a efetivação da condição, exceto se houver disposição em contrário, não atingirá os atos já praticados (como pagamento de aluguéis ou de encargos locativos) desde que conformes com a natureza da condição pendente e aos ditames da boa-fé (CC, art. 422). Acatado está o princípio da irretroatividade da condição resolutiva, quanto às prestações executadas, pois implemento da condição resolutiva terá eficácia ex nunc, preservando os efeitos negociais já produzidos. - No que concerne à origem, a condição pode ser: Causal, que não depende da vontade humana, relacionando-se à ocorrência de eventos advindos do acaso. Potestativa, que pode ser simplesmente potestativa, aquela que depende da vontade intercalada de ambos os contratantes, não se submete a vontade exclusiva de uma das partes, e sim, para que o negócio se realize, depende da ação das partes. Assim, são licitas de modo que o negócio jurídico é válido; e puramente potestativa, aquela que sujeita o negócio ao puro arbítrio de um dos contratantes - depende exclusivamente da vontade de uma das partes - é uma condição nula e invalida o negócio jurídico, por isso, são ilícitas. Mista, que depende, ao mesmo tempo, da vontade de uma das partes e do acaso ou da vontade de terceiro. Mista, aquela que depende concomitantemente da vontade da parte e do acaso ou de terceiros. Exemplo: Se você casar comigo, eu te dou ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ um carro. Momentânea, quando o evento se realiza com um só fato. Exemplo: Nascimento de um nascituro. Sucessiva, aquela que resulta de uma série de eventos. - Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis. Ou seja, se alguém fizer um negócio jurídico com uma pessoa sob condição dessa pessoa fazer algo, esse alguém fizer novas disposições com outra pessoa sobre o mesmo objeto, esse segundo é suspenso; TERMO - Uma cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro certo, tem a mesma futuridade da condição, mas agora temos a certeza do evento. - Pode ser: Suspensivo, que suspende e dá início aos efeitos do negócio quando realizada. Diz-se que o termo suspensivo suspende apenas o exercício do direito e não a aquisição como no caso da condição suspensiva. Resolutivo, quando as partes determinam quando um negócio jurídico, como por exemplo, um contrato de locação, cessará os efeitos esperados pelas partes, no caso, a vigência do contrato celebrado entre locatário e locador. - Prazo = tempo entre o termo final e o inicial. Inicial (dies a quo) → Final (dies ad quem). ENCARGO OU MODO - Não se parece com os dois anteriores, já que consiste na prática de uma liberalidade subordinado a um ônus, como por exemplo, uma doação modal ou também conhecida como onerosa. É próprio das liberalidades (ato de caráter espontâneo que favoreça outrem). Compra e venda não é liberalidade. - É a tarefa atribuída a alguém, por meio de clausula acessória do ato ou negócio jurídico gratuito, que impõe uma obrigação de fazer ao beneficiado. - Efeitos produzidos pelo encargo: O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, exceto quando expressamente imposto no ato pelo disponente como condição suspensiva. Exemplo: Suponhamos que Paulo doe um terreno pra Joaquim, mas tem como cláusula a exigência de que no terreno seja construído escolas, assim temos uma liberalidade juntamente com o encargo (parte onerosada exigência). Caso o encargo não seja cumprido, a liberalidade poderá ser revogada. ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ Dos defeitos (vícios) dos atos/negócios jurídicos A vontade é a mola propulsora dos atos e dos negócios jurídicos, e ela deve ser manifesta ou declarada de forma idônea para que o ato tenha vida normal na atividade jurídica e no universo negocial. Se essa não corresponder ao desejo do agente, o negócio jurídico torna-se susceptível de nulidade ou anulabilidade. Quando a vontade não se manifesta, quando é totalmente tolhida, não se pode falar em existência do negócio jurídico, ou seja, ele será inexistente por lhe faltar o requisito essencial. Quando, porém, a vontade é declarada, com vício ou defeito que torna mal dirigida, mal externada, estamos, na maioria das vezes, no campo do negócio jurídico ou ato anulável, isto é, o negócio terá vida jurídica somente até que, por iniciativa de qualquer prejudicado, seja pedida sua anulação. Essas falhas de vontade tem a denominação de “defeitos dos negócios jurídicos”. - Podem ser: Vícios do Consentimento: são aqueles em que a vontade não é expressa de maneira absolutamente livre, podendo ser eles: Erro, Dolo, Coação, Lesão e Estado de Perigo. Uma das pessoas sai prejudicada. Vícios Sociais: são aqueles em que a vontade manifestada não tem, na realidade, a intenção pura e de boa-fé que enuncia, sendo eles: Fraude contra Credores e Simulação. Uma pessoa fora da relação jurídica irá se prejudicar. ERRO - É um engano fático, uma falsa noção da realidade, ou seja, em relação a uma pessoa, negócio, objeto ou direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico. - Pode ser: Substancial, aquele que incide sobre a essência (causa) do negócio que se prática, sem o qual este não teria se realizado, anulando o negócio jurídico. Quanto a natureza, exemplo: engano quando algo não se trata de empréstimo, mas de venda. Quanto a identidade, quando não é engano de terceiro, mas da própria pessoa. Quanto à qualidade, exemplo: comprar algo pensando que é bronze, mas é cobre. Acidental, sendo realizado o negócio jurídico mesmo que haja um engano. DOLO ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ - É o emprego de um artifício ou expediente astucioso para induzir alguém a pratica de um ato que o prejudica e beneficia o autor do dolo ou a terceiros. → Manobras maliciosas - Pode ser: Principal, que anula o negócio jurídico (exemplo: comprar um carro anunciado como sendo perfeito, mas, dois dias depois, vem a apresentar defeito). É aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando, então, a anulabilidade daquele negócio Acidental, que é secundário. Há a intenção de enganar, todavia o negócio aconteceria com ou sem dolo; porém surge ou é concluído de forma mais onerosa ou menos vantajosa para a vítima. Exemplo: O sujeito declara pretender adquirir um carro; escolhendo um automóvel com cor metálica, e, quando do recebimento da mercadoria, enganado pelo vendedor, verifica que a coloração é, em verdade, básica. Neste caso, não pretendendo desistir do negócio poderá exigir compensação por perdas e danos. Pode-se compreender que o autor do negócio já tinha intenção de comprar um automóvel, e foi enganado apenas na cor deste, que suponhamos que não era de suma importância para a vítima. Diferente, seria, porém, a situação em que ao sujeito somente interessasse comprar o veículo se fosse da cor metálica – hipótese em que este elemento faria parte da causa do negócio jurídico. Nesse caso, tendo sido enganado pelo vendedor para adquirir o automóvel, poder-se-ia anular o negócio jurídico com base em dolo. COAÇÃO - É a pressão física ou moral, exercida sobre a pessoa, sua família ou bens, para obriga-la, induzindo-a, a efetivar um negócio jurídico. Apresenta-se como a violência empregada para que alguém seja forçado a manifestar uma vontade diversa de sua vontade real. - Pode ser: Física, que gera nulidade absoluta, pertencendo à esfera penal. A violência física é exercida sobre o corpo da pessoa, e por sua natureza, pode-se dizer que exclui a própria manifestação de vontade. Dessa forma, quando exercida violência física, o negócio jurídico será considerado inexistente. Psicológica, que anula o negócio jurídico. É aquele exercida sobre o psicológico, levando a pessoa a possuir um fundado temor de dano iminente e considerável à ela, à sua família, ou a seus bens. - Vale dizer que o receio provocado deverá ser fundado, não podendo ser simples temor reverencial (relacionados ao respeito). Também não constituirá coação a ameaça do exercício regular de um direito. Por exemplo: não será coação se uma pessoa disser à outra, que se não pagar uma dívida devida, tomará as providencias judiciais cabíveis como a execução. Da mesma forma que o dolo, a coação também poderá ser exercida por terceiro, e, se a parte a ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ quem a aproveita soubesse ou devesse ter conhecimento, responderá pelos prejuízos juntamente com o terceiro. LESÃO - Lesão e Estado de perigo têm em comum a premência (urgência). Na lesão, a pessoa quer se salvar ou salvar a família. Exemplo: querer salvar um irmão no hospital e assinar termos que levam a uma grande dívida = anulável, pois a pessoa estava em diferentes condições emocionais. - A lesão se justifica como forma de proteção ao contratante que se encontra em estado de inferioridade, que, por premências várias, mesmo nos contratos paritários, perde a noção do real e acaba realizando negócios absurdos do ponto de vista econômico, evidenciando que sua vontade está viciada por pressões variadas. - Pode ser: Objetivo, que diz respeito ao valor do negócio celebrado, que deve ser manifestamente desproporcional à contraprestação, ou seja, valores muito discrepantes. A avaliação das desproporções deve ser feita de acordo com o tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. Subjetivo, que caracteriza-se pela premente necessidade ou pela inexperiência do lesado. A premente necessidade a que se refere este elemento não está ligada a um estado de perigo, decorrente da necessidade de salvar-se, mas sim de uma necessidade de obter recursos, não sendo necessário que o contratante tenha induzido a vítima a celebrar o negócio, nem mesmo que saiba sobre a inexperiência ou o estado de necessidade do outro contratante, pois neste caso ele apenas tira proveito da situação, chamado pela doutrina de dolo de aproveitamento, demonstrando que a lesão está ligada à boa-fé objetiva dos contratantes, exigida como cláusula geral em todos os negócios jurídicos. Importante frisar que não só o vendedor poderá alegar a lesão em juízo, o comprador também o pode fazer. - Efeitos do reconhecimento da Lesão: A sanção prevista no Código Civil é a anulação do negócio. Mas, neste caso, diferentemente do estado de perigo, é permitida a complementação da contraprestação ou a redução do proveito para que seja equilibrado o negócio, não sendo aplicada a sanção de anulação se este requisito for preenchido. Tal fato demonstra que a lesão só pode ocorrer em contratos comutativos, em que a prestação é de dar e não de fazer, sendo que nos aleatórios o risco é parte integrante do negócio, não podendo ser este instituto aplicado. Em suma, o lesado poderá optar pela anulação ou revisão do contrato, mas a outra parte tem a opção de realizar o referido suplemento ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DEAZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ suficiente para afastar a manifesta desproporção entre as prestações, evitando a anulação. ESTADO DE PERIGO - É diferente do Estado de Necessidade, que é uma excludente de ilicitude. - Configura-se em estado de perigo a pessoa que assume obrigação excessivamente onerosa para salvar-se, ou pessoa de sua família, de grave dano conhecido da outra parte. - Elementos: Existência e a atualidade de um dano grave. Existência: haver um dano grave à própria pessoa, ou a seu familiar ou a terceiro, que por qualquer circunstância seja beneficiada pela intenção do declarante (devedor). Atualidade: significa que o acontecimento que pode originar o dano já existe e, caso não seja interrompido, consequências lesivas acontecerão. Para o declarante deve existir a pressão de escolha entre dois males, isto é, sujeitar-se ao dano ou participar de um negócio em condições desvantajosas. Conhecimento do fato de perigo pela contraparte receptora da declaração Trata-se de elemento de natureza subjetiva porque o receptor da declaração feita pela pessoa em perigo deve saber do grave dano real ou putativo que atinge o autor da declaração. Aqui fica demonstrada a razão de o estado de perigo situar-se dentre os defeitos do negócio jurídico, já que é a má-fé exaustiva do credor que descumpre o valor constitucional da solidariedade, aproveitando-se do temor do devedor. A assunção de uma obrigação de excessiva onerosidade No estado de perigo a prestação é desproporcional à contraprestação, que pode ser um serviço, desde a origem do negócio, o que perturba claramente a noção da equivalência que deve ser mantida. A quebra da equivalência se dará porque o declarante, com raciocínio de que estava diante de um grave dano à pessoa ou aos familiares e afetos afins, compromete seu patrimônio assumindo obrigação excessivamente onerosa. Em contraprestação sempre haverá um serviço de valor inferior, o qual, numa situação de normalidade, não exigiria todo aquele dispêndio. O intuito do declarante de salvar a si próprio, um familiar ou um terceiro: ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ O parágrafo único do artigo 156 do Código Civil traz a noção de cláusula geral a possibilidade de anulabilidade se estendida a terceiros que não o declarante nem seus parentes, contudo, pela preservação da pessoa humana não seria justo restringi-la somente ao declarante e seus familiares. - Estado de perigo putativo: a pessoa que julga estar em estado de perigo, concluindo assim certo negócio jurídico. O receptor da declaração, sabendo que a atualidade do dano não é real, aproveita-se do temor mental do declarante para celebrar o negócio. Aos fins da rescisão não tem importância que o perigo seja real. Também o perigo putativo é de fato idôneo para comprometer a liberdade de contratação do sujeito. FRAUDE CONTRA CREDORES - É a pratica maliciosa pelo devedor de atos que despautam o seu patrimônio, com o escopo de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas, em detrimento dos direitos creditórios alheios. - Não conduzem a um descompasso entre o íntimo querer do agente e a sua declaração. A vontade manifestada corresponde exatamente ao seu desejo. Mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros ou de fraudar a lei. - A fraude contra credores é classificada como vício social vez que o devedor, objetivando inadimplir com a obrigação assumida perante seu credor, firma contrato com terceiro alienando bens que garantiriam sua solvência. Aqui o terceiro tem ciência do motivo da disposição do bem, e em conluio com o devedor, conclui o negócio em prejuízo do credor. - Regido pelo princípio da responsabilidade patrimonial segundo o qual o patrimônio do devedor responde por suas obrigações. Esse patrimônio, se desfalcado maliciosamente, e de tal maneira que torne o devedor insolvente, estará configurada a fraude contra credores. - Para caracterizar a fraude aqui arguida, o devedor deve firmar o negócio estando em estado de insolvência, ou tornar-se insolvente em razão do desfalque patrimonial promovido. Enquanto seu patrimônio bastar para o pagamento das suas dívidas, terá total liberdade de dispor dele. - Elementos: Subjetivos (consilium fraudis), que é a vontade de fraudar, ou seja, o devedor precisa ter a intenção de provocar sua redução patrimonial até o ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ estado de insolvência; e Objetivos (eventos damni), a alienação precisa levar o devedor a uma diminuição patrimonial, levando-o a insolvência. - Exemplo: alguém está devendo e começa a desfazer os patrimônios para outras pessoas, para não sofrer a penhora. O advogado do credor pode entrar com uma ação pauliana (ação pessoal movida por credores com intenção de anular negócio jurídico feito por devedores insolventes com bens que seriam usados para pagamento da dívida numa ação de execução). - Hipoteses legais de incidencia de fraude: 1) Transmissoes onerosas, ex: compra e venda. Para entrar com uma ação deve-se provar os elementos objetivos e subjetivos. 2) Negocios juridicos a titulo gratuito, ex: doação. Para entrar com uma ação precisa-se provar apenas os elemento subjetivo. - Credor quirografário: aquele que não tem garantia. SIMULAÇÃO - É uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visando aparentar negócio diverso do efetivamente desejado. Negócio jurídico simulado, assim, é o que tem aparência contrária à realidade. - Pode ser: Absoluta, que é uma situação jurídica irreal e lesiva a direito de terceiro, formada por ato jurídico perfeito, porém ineficaz. Por exemplo: o sujeito que simula com outro a locação de um bem, sem que de fato o contrato exista; da pessoa que emite títulos de crédito em seu desfavor para demonstrar à determinado credor que existem outras dívidas a serem pagas. Nulo, devendo ser anulado todo o ato. Relativa, que é uma declaração de vontade ou confissão falsa, com o objetivo de encobrir ato de natureza diversa. As partes pretendem atingir efeitos jurídicos concretos, embora vedados por lei. Resulta do intencional desacordo entre a vontade interna e a declarada. Uma pessoa, na aparência de um neg. fictício, pretende realizar outro neg. que é verdadeiro. A relativa pode ser Objetiva, quando a simulação diz respeito à natureza do negócio jurídico, a seu objeto ou algumas características. Exemplo: sujeito que realiza uma doação, simulando uma compra e venda; vende um bem simulando a venda de outro; faz constar cláusulas não verdadeiras, tais como o preço mais baixo, com objetivo de burlar o fisco, menciona datas diferentes ou realiza outras mudanças, tudo para lesar terceiro; ou Subjetiva, em que verifica-se quando a ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ pessoa declarada no negócio não é real parte ou beneficiaria do mesmo. Trata- se do que a doutrina chama de interposta pessoa. Por exemplo: sujeito que desejando fazer uma doação à sua amante, transfere o bem a um amigo que, por sua vez, o transmite à real destinatária da liberalidade, com o objetivo de fugir da aplicação do 550, do CC. Outro exemplo é o de uma pessoa quer, ainda em vida, doar parte do bem para um filho. Para isso, faz-se necessário o consentimento dos outros filhos pois tal doação causa a diminuição da massa hereditária. Sabendo que eles não iriam aceitar, a pessoa doa para terceiro, para que esse doe para o seu filho posteriormente.- Resumindo: Procurar aparentar o que não existe é absoluta, e ocultar o que é verdadeiro é relativa (dissimulação). Na absoluta não chega a ser realizado o negócio jurídico. A simulação invalida, tornando nulo e não anulável. -------- Responsabilidade Civil A ideia de responsabilidade civil está relacionada à noção de não prejudicar outro. A responsabilidade pode ser definida como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano causado a outrem em razão de sua ação ou omissão. Em seu sentido etimológico e também no sentido jurídico, a responsabilidade civil está atrelada a ideia de contraprestação, encargo e obrigação. Entretanto é importante distinguir a obrigação da responsabilidade. A obrigação é sempre um dever jurídico originário; responsabilidade é um dever jurídico sucessivo consequente à violação do primeiro. - Espécies: A responsabilidade civil costuma ser classificada pela doutrina em razão da culpa e quanto a natureza jurídica da norma violada. Quanto ao primeiro critério a responsabilidade é dividida em objetiva e subjetiva. Em razão do segundo critério ela pode ser dividida em responsabilidade contratual e extracontratual. Subjetiva e objetiva Subjetiva: aquela causada por conduta culposa lato sensu, que envolve a culpa stricto sensu e o dolo. A culpa (stricto sensu) caracteriza-se quando o agente causador do dano praticar o ato com negligencia ou imprudência. Já o dolo é a vontade conscientemente dirigida à produção do resultado ilícito. PROVA-SE A CULPA. Ex: Lei aquiliana. Objetiva: prescinde da culpa. A teoria do risco é o fundamente dessa espécie de responsabilidade, sendo resumida por Sergio Cavalieri nas seguintes palavras: “Todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e reparado por quem o causou independente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o problema na relação ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ de nexo de causalidade, dispensável qualquer juízo de valor sobre a culpa”. PROVA-SE O DANO. Ex: contratos de transporte, relações de consumo, Estado. O Código Civil brasileiro de 1916 era essencialmente subjetivista. O Código de 2002 ajustou-se a evolução da responsabilidade, e apesar de não ter abandonado por completo a responsabilidade subjetiva, inovou ao estabelecer a responsabilidade objetiva em seu artigo 927: “Haverá obrigação de reparar o dano, independente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. Contratual e extracontratual A responsabilidade civil pode ser classificada, de acordo com a natureza do dever jurídico violado pelo causador do dano, em contratual ou extracontratual. Na primeira, configura-se o dano em decorrência da celebração ou da execução de um contrato. O dever violado é oriundo ou de um contrato ou de um negócio jurídico unilateral. Se duas pessoas celebram um contrato, tornam-se responsáveis por cumprir as obrigações que convencionaram. “A responsabilidade por atos unilaterais de vontade, como a promessa de recompensa é também contratual, por assemelhação, uma vez que os atos unilaterais só geram efeitos e, portanto, responsabilidade, após se bilateralizarem, Se um indivíduo promete pagar uma recompensa a que lhe restitui os documentos perdidos, só será efetivamente responsável, se e quando alguém encontrar e restituir os documentos, ou seja, depois da bilaterização da promessa.” Já a responsabilidade propriamente dita, a extracontratual, que também é denominada de aquiliana, tem por fonte deveres jurídicos originados da lei ou do ordenamento jurídico considerado como um todo. O dever jurídico violado não está previsto em nenhum contrato e sem existir qualquer relação jurídica anterior entre o lesante e a vítima; o exemplo mais comum na doutrina é o clássico caso da obrigação de reparar os danos oriundos de acidente entre veículos. Esta categoria de responsabilidade civil - que visa a reparar os danos decorrentes da violação de deveres gerais de respeito pela pessoa e bens alheios – costuma ser denominada de responsabilidade em sentido estrito ou técnico ou, ainda, responsabilidade civil geral. Na prática, tanto a responsabilidade contratual como a extracontratual dão ensejo à mesma consequência jurídica: a obrigação de reparar o dano. Desta forma, aquele que, mediante conduta voluntária, transgredir um dever jurídico, existindo ou não negócio jurídico, causando dano a outrem, deverá repará-lo. Direta ou indireta ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ A responsabilidade civil direta, também chamada de simples ou por ato próprio, é aquela que o agente do dano é o responsável por sua reparação. Deriva de fato causado diretamente pelo agente que gerou o dano. A responsabilidade civil indireta ou complexa ocorre quando o responsável pela reparação do dano é pessoa distinta da causadora direta da lesão. É a que decorre de ato de terceiro, com o qual o agente tem vínculo legal de responsabilidade, além das situações de fato de animal ou fato da coisa. Responsabilidade por ato de terceiro: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; Responsabilidade pelo fato do animal: Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Responsabilidade pelo fato da coisa: Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ - Pressupostos gerais da responsabilidade civil Os atos ilícitos são aqueles que contrariam o ordenamento jurídico lesando o direito subjetivo de alguém. É ele que faz nascer à obrigação de reparar o dano e que é imposto pelo ordenamento jurídico. O Código Civil Brasileiro estabelece a definição de ato ilícito em seu artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Através da análise deste artigo é possível identificar os elementos da responsabilidade civil, que são: a conduta culposa do agente, nexo causal, dano e culpa. Este artigo é a base fundamental da responsabilidade civil, e consagra o princípio de que a ninguém é dado o direito de causar prejuízo a outrem. Na lição de Fernando Noronha, para que surja a obrigação de indenizar são necessários os seguintes pressupostos: 1. que haja um fato (uma ação ou omissão humana, ou um fato humano, mas independente da vontade, ou ainda um fato da natureza), que seja antijurídico, isto é, que não seja permitido pelo direito, em si mesmo ou nas suas consequências; 2. que o fato possa ser imputado a alguém, seja por dever a atuação culposa da pessoa,seja por simplesmente ter acontecido no decurso de uma atividade realizada no interesse dela; 3.que tenham sido produzidos danos; 4. que tais danos possam ser juridicamente considerados como causados pelo ato ou fato praticado, embora em casos excepcionais seja suficiente que o dano constitua risco próprio da atividade do responsável, sem propriamente ter sido causado por esta (NORONHA, 2010, p. 468/469). ELEMENTO DA CULPA Espécies: O “dolo” (Sim, no direito civil, o dolo é uma espécie de culpa) é a conduta, voluntariamente direcionada a determinado fim. A “culpa stritu sensu”, que é a conduta involuntária. Se apresenta na modalidade imprudência (fazer mais do que deve, ou fazer o que não deve) ou negligência (fazer menos do que deve fazer, o não fazer o que deve). A imprudência e negligência, quando ocorrem em ambiente de técnica (arte, ofício ou profissão), chama-se imperícia. Segunda uma classificação doutrinária, a culpa pode ser: ALUNA: JULIANA AGUIAR LEAL C. DE AZEVEDO – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO PROFESSORA ROSANGELA LIRA – DIREITO CIVIL I (2015.2) II GQ culpa in commitendo – equivale ao dolo ou à imprudência, “faz-se algo” (ou à imperícia, se foi um conduta positiva); culpa in ommitendo – é a presente na conduta negativa, a título de dolo ou negligência (ou, ainda em imperícia na conduta negativa); culpa in vigilando – é a conduta de cuidar mal de quem está sob sua guarda e vigilância; refere-se ao dano causado por outrem que estava sob cuidados pessoais deste culpado; culpa in eligendo - é a conduta de supervisiona mal quem está, por contrato, com a conduta sob sua responsabilidade, por qualquer vínculo negocial; culpa in custodiendo – é a culpa pela guarda da coisa; culpa in contrahendo – É a culpa presente no dano pré-contratual, antes de haver contrato mas já havendo vínculo de confiança (fase de punctuação).
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