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Capítulo 20 Bem de Família

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20. BEM DE FAMÍLIA
20. BEM DE FAMÍLIA
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20. BEM DE FAMÍLIA
SUMÁRIO: 20.1 Tentativa conceitual – 20.2 Mínimo vital – 20.3
Espécies de impenhorabilidade – 20.4 Convencional: 20.4.1
Instituição; 20.4.2 Extinção – 20.5 Legal – 20.6 Beneficiários – 20.7
Rural – 20.8 Dívida alimentar – 20.9 Aspectos processuais – Leitura
complementar.
Referências legais: CF 5.º XI, XXVI e 6.º; CC 1.711 a 1.722; L
8.009/90; CPC 649 e 650; L 6.015/73 (Lei de Registros Públicos –
LRP) 167 I 1, 260 a 265.
20.1 Tentativa conceitual
O Estado assegura especial proteção à família (CF 226). O direito
à moradia é reconhecido como um direito social (CF 6.º) e a casa, o
asilo inviolável do indivíduo (CF 5.º XI). O direito à moradia é
considerado um dos direitos da personalidade inerente à pessoa
humana, quer como pressuposto do direito à integridade física, quer
como elemento da estrutura moral da pessoa. A moradia é tutelada
como objeto de direito, tratando-se de um direito subjetivo,
representando um poder da vontade e que implica no dever jurídico de
respeito daquele mesmo poder por parte dos outros.1
Para dar efetividade ao comando constitucional, a lei cria
ferramentas mais eficazes em defesa da entidade familiar e do lugar
em que a família reside. Afinal, como diz Álvaro Villaça, a violação do
lar é a quebra da última proteção humana; o aniquilamento de uma
família é a incineração do próprio amor: amor da casa, amor da rua,
amor de um semelhante por outro; em uma palavra: amor.2
Daí a instituição do bem de família, que gera a impenhorabilidade
de um bem determinado e se transforma em verdadeiro patrimônio,
num sentido protetivo do núcleo familiar.3 É possível dizer que se trata
de uma qualidade que se agrega a um bem imóvel e seus móveis,
imunizando-os em relação a credores, como forma de proteger a
família que nele reside.
Mesmo que a Constituição assegure especial proteção à família,
sua maior responsabilidade é com o cidadão. O enfoque central do
ordenamento jurídico é o ser humano. Apesar de a expressão “bem
de família” dar a entender que o instituto se destina à proteção da
entidade familiar, passou a Justiça a reconhecer que é um instrumento
de proteção à pessoa do devedor, tendo ele ou não família, morando
ou não sozinho. O objetivo é garantir a cada indivíduo – quando nada
tem – um teto onde morar, mesmo que em detrimento dos credores.
Em outras palavras, ninguém tem o direito de “jogar quem quer que
seja na rua” para satisfazer um crédito. Por isso o imóvel residencial é
considerado impenhorável.4
Fere o princípio da igualdade deixar à margem da lei – e, por
consequência, ao relento – o indivíduo que, por contingência ou
opção, vive só e não constitui uma família. O conceito de entidade
familiar abriga estruturas de convívio das mais diversas, é conceito
amplíssimo, que alberga tanto a união estável, constituída pelo
homem e pela mulher e sua prole, quanto aquelas outras
manifestações de afetividade recíproca e de ajuda mútua, como a
união do homem e da mulher com os filhos das uniões anteriores de
cada um, a união do pai com seus filhos, do pai com os filhos de sua
companheira, dos avós com os netos, da mãe solteira com seu filho. O
sentido e o alcance da norma vêm se modificando, em grande parte
por obra da jurisprudência, que percebeu a mudança de finalidade da
lei ao deparar com casos que refletiam grandes injustiças, como o de
pessoas viúvas, separadas e mesmo solteiras que perdiam sua única
moradia porque, tecnicamente, não poderiam ser equiparadas à
família.5
O STJ6 acabou por sumular a matéria, reconhecendo a
impenhorabilidade do imóvel pertencente a pessoas solteiras,
separadas e viúvas. Este rol esqueceu de incluir as uniões
homoafetivas, que, em decorrência de decisão do STF,7 foram
reconhecidas como união estável no âmbito do direito das famílias e
do direito sucessório.
20.2 Mínimo vital
Os novos valores a serem protegidos pelo bem de família podem
ser resumidos na noção de mínimo vital, que visa a preservar as
bases de dignidade do devedor para que possa recomeçar a vida,
mantendo íntegra a sua personalidade.8 O princípio da dignidade
humana leva o Estado a garantir o mínimo existencial para cada ser
humano em seu território.9 A tendência é encontrar instrumentos
hábeis que preservem o devedor e que, ao mesmo tempo, não
frustrem a garantia do credor. Nesse sentido, o Brasil lidera verdadeira
revolução silenciosa, impulsionada pelos tribunais, que vêm realizando
o direito em sua concretude e atribuindo à lei o seu sentido social,
deixando de lado a visão extremamente positivista e literal a que está
acostumada a tradição jurídica brasileira.10
O princípio do mínimo vital – ou patrimônio mínimo, como prefere
Luiz Edson Fachin – é valor, e não metrificação, conceito aberto, cuja
presença não viola a ideia de sistema jurídico axiológico. Mínimo não
é menos, nem é ínfimo. É um conceito apto à construção do razoável
e do justo ao caso concreto, aberto, plural e poroso ao mundo
contemporâneo.11 É um direito instrumental, um direito
complementar, sobretudo, de garantir a dignidade do devedor de
boa-fé que lutou sua vida inteira para adquirir patrimônio suficiente ao
seu amparo e ao de sua família.12 Todo cidadão tem o direito
fundamental à própria vida e, para isso, necessita de um mínimo para
garantir sua subsistência.
O direito real de habitação assegurado ao cônjuge e ao
companheiro sobrevivente, apesar de dispor da mesma natureza
protetiva, não se confunde com a noção de mínimo vital nem pode ser
reconhecido como bem de família.
20.3 Espécies de impenhorabilidade
Existem duas espécies de bem de família: (a) voluntário –
decorrente da vontade do proprietário ou de terceiro, sendo
necessário o atendimento a uma série de requisitos; e (b) legal – que
não depende da manifestação do instituidor e não está condicionado a
qualquer formalidade. Resulta do simples fato de o devedor residir em
um imóvel que a lei torna impenhorável.
A Constituição instituiu o bem de família rural, visando a proteger
a pequena propriedade rural (CF 5.º XXVI).
O Código Civil injustificadamente regula tão só a constituição
voluntária de um bem como de família (CC 1.711 a 1.722). Autoriza
cônjuges, companheiros e até terceiros a destinarem um imóvel (e os
móveis que o guarnecem e até as rendas para sua manutenção) para
servir de moradia a uma entidade familiar, ficando esses bens isentos
de execução por dívidas. É o que se chama de bem de família
voluntário. A possibilidade da instituição de bem de família por
terceiro não recebe muita atenção da doutrina, porque a utilização
dessa liberalidade é pouco efetiva, devido à condição socioeconômica
da maior parte dos brasileiros, ficando seu uso restrito às pessoas de
maior posse.13
O bem de família legal persiste regulado pela L 8.009/90 e livra da
penhora o bem imóvel que serve de residência ao devedor e à sua
família, os móveis que o guarnecem (desde que quitados) e todos os
equipamentos de uso profissional.
O Código de Processo Civil arrola bens isentos da constrição
judicial (CPC 649 e 650). Não se pode deixar de reconhecer que o
elenco de impenhorabilidades busca, ainda que de modo um tanto
incipiente, atribuir um mínimo de proteção ao devedor e sua família.14
Mesmo que a indisponibilidade gerada pelo CPC não possa ser
chamada de bem de família, ao nominar os bens que ficam livres de
penhora, tenta assegurar o indispensável para preservar a dignidade
do devedor e seus familiares.15
20.4 Convencional
Tanto os “cônjuges” como a “entidade familiar” possuem
legitimidade para instituir bem de família (CC 1.711). Em todos os
demais dispositivos legais que regulam o instituto é usada somente a
expressão cônjuge, parecendo referir exclusivamente ao casamento.
No entanto, não há como admitir tratamento diferenciado, pois a
Constituição outorga igual proteção aos cônjuges, aos conviventes da
união estávele aos integrantes das famílias monoparentais.
Também outras pessoas (CC 1.711 parágrafo único) têm a
possibilidade de instituir bem de família a favor de terceiros, por meio
de testamento ou doação. É necessária, no entanto, a expressa
aceitação dos beneficiários. A necessidade da concordância decorre
do fato de o bem se destinar ao domicílio familiar, ou seja, quem
recebe um imóvel como bem de família precisa morar nele (CC 1.712
e 1.717).
Instituído o bem de família, deixa o imóvel de responder pelas
dívidas do devedor. O bem fica livre de dívidas futuras, não das
dívidas pretéritas. Isso porque a impenhorabilidade não tem efeito
retroativo (CC 1.715). A medida é salutar para evitar tentativas de
fraude. Afinal, as pessoas dispõem de crédito em face do patrimônio
de que são titulares. Por exemplo, concedido empréstimo a alguém
pelo lastro patrimonial que possui, descabido que posterior instituição
de bem de família venha a afastar a garantia do credor.
A administração do bem de família compete a ambos os
cônjuges. Mais uma vez a lei intromete o juiz na vida conjugal,
atribuindo-lhe o encargo de resolver eventuais divergências (CC
1.720). Apesar do silêncio da lei, em se tratando de união estável cabe
reconhecer que os conviventes são coadministradores do bem e
também pode o juiz ser convocado a dirimir controvérsias.
Ante a possibilidade de ser instituído bem de família por
testamento, cabe questionar se tal liberalidade poderia vir em
prejuízo dos credores do testador. Para evitar o uso desse
mecanismo, como forma de driblar o pagamento de dívidas, basta que
os credores do espólio habilitem seus créditos no inventário. Como
os efeitos do testamento fluem a partir da abertura da sucessão, a
instituição do bem de família levada a efeito é posterior às dívidas do
espólio. Assim, somente após o pagamento das dívidas da herança
será possível, se houver sobra de patrimônio, atender à vontade do
testador de assegurar moradia a alguém.
Pode ser destinado como bem de família somente um imóvel
(urbano ou rural); os respectivos bens móveis que o guarnecem
(pertenças, acessórios e utensílios domésticos); e também valores
mobiliários, cujo rendimento se destina à conservação do imóvel e ao
sustento da família (CC 1.712). Essa possibilidade acaba
emprestando caráter alimentar a tal verba, mas, ainda assim, não se
confunde com alimentos.
Mesmo que outros bens possam ser indisponibilizados como bem
de família, é necessária a instituição de, ao menos, um bem imóvel.
Os demais (bens móveis e valores mobiliários) possuem caráter de
acessoriedade e não existem de forma autônoma como bem de
família.16 Ditos bens ficam vinculados ao imóvel e não podem exceder
o seu valor. Igualmente, serão esses valores (CC 1.713) devidamente
individualizados (§ 1.º) e nominados no instrumento de instituição do
bem de família (§ 2.º), podendo a administração ser confiada a
instituição financeira (§ 3.º), caso em que a responsabilidade dos
administradores obedece às regras do contrato de depósito (CC 627 a
652).
20.4.1 Instituição
O bem de família pode ser instituído por meio de escritura pública
ou testamento. Mas há limites: o valor do bem não pode ultrapassar
um terço do patrimônio líquido do instituidor, existente ao tempo da
instituição. Dita limitação acaba permitindo que somente famílias
abastadas possam adotá-lo, pois o acervo patrimonial do instituidor
deve ser de significativa expressão, de modo que uma terça parte seja
liberada para tornar-se impenhorável. Daí o pouco uso do instituto.
O bem de família voluntário não tem o intuito de fraudar credores.
Por isso, sua instituição é cercada de ampla publicidade, para que
todos tenham acesso à informação de que alguém pretende colocar
um imóvel a salvo da constrição por dívidas. A escritura pública, na
qual é declarada a destinação do bem como domicílio da família, deve
ser transcrita no registro imobiliário. O oficial do registro (LRP 261),
após fazer a prenotação (LRP 182), determina a publicação de edital,
com prazo de 30 dias, para que eventuais prejudicados reclamem
(LRP 262). Havendo impugnação, o oficial devolve a escritura ao
instituidor, que pode se socorrer do juiz, cuja decisão é irrecorrível
(LRP 264 § 3.º).
Algumas imprecisões legais são inadmissíveis. Não há como
aceitar a instauração de relação processual sem a citação do
instituidor, em flagrante ofensa ao princípio do contraditório. Além do
mais, a irrecorribilidade ofende o princípio do devido processo legal e
do duplo grau de jurisdição.17 A vedação ao uso da via recursal não
encontra qualquer justificativa, até porque o procedimento é
instaurado junto à Vara dos Registros Públicos, com a intervenção do
Ministério Público, sendo expressamente admitido o recurso de
apelação (LRP 202).
A constituição do bem de família produz efeito a partir do registro
no cartório imobiliário (CC 1.714 e LRP 167 I 1), publicidade que
permite a terceiros terem ciência da indisponibilidade. Quando o bem
de família é instituído juntamente com a transmissão da propriedade, a
inscrição será feita imediatamente após o registro translativo do
domínio (LRP 265).
20.4.2 Extinção
A instituição do bem de família, além de obrigar os beneficiários a
residirem no imóvel, provoca a sua impenhorabilidade e o torna
inalienável. No entanto, variadas são as situações em que pode
ocorrer a sua extinção.
As despesas geradas pelo próprio bem18 não geram
impenhorabilidade (CC 1.715): crédito tributário e despesas de
condomínio. As exceções justificam-se por si. A obrigação de pagar
as despesas condominiais é de todos os condôminos, e livrar o bem
de família levaria um condômino a se locupletar à custa dos outros.19
Para responder por tais dívidas, o bem pode ser penhorado e
alienado. O eventual saldo remanescente permanece como bem de
família, devendo ser adquirido outro bem ou títulos da dívida pública
para atender ao sustento da família. Talvez seja essa a única hipótese
em que o bem de família subsista sem estar atrelado a um imóvel.
Solução outra fica a critério do juiz (CC 1.715 parágrafo único).
O bem de família só pode ser alienado com a ouvida dos
interessados e do Ministério Público (CC 1.717). Quando haja a
impossibilidade de sua manutenção, cabível é a extinção ou a sub-
rogação em outro imóvel (CC 1.719). Em qualquer hipótese, além da
concordância de todos os interessados, é ouvido o Ministério Público.
Desnecessariamente exige a lei que o pedido seja chancelado pelo
juiz. A não ser que haja interesse de menor ou incapaz, a
judicialização é de todo inócua. Descabida a exigência de
procedimento judicial. Para que a manifestação do juiz não se limite a
ato homologatório meramente burocrático, seria necessário que todos
fossem ouvidos, providência absolutamente injustificável. Melhor seria
admitir simples averbação registral.
Diz a lei que os efeitos da instituição do bem de família
permanecem enquanto viver um dos cônjuges (CC 1.716). Apesar do
cochilo do legislador, também o companheiro sobrevivente faz jus ao
mesmo benefício. No caso de falecimento de ambos os cônjuges ou
dos conviventes, havendo filhos menores, a impenhorabilidade
persiste, passando sua administração ao filho mais velho.
Injustificável, para não dizer inconstitucional, o privilégio à
primogenitura. O que cabe é deferir a administração a um dos filhos
maiores. Sendo todos menores, a administração deve passar ao tutor
(CC 1.720 parágrafo único).
A limitação da eficácia do bem de família à menoridade dos filhos
do instituidor não se justifica. O conceito de família não tem mais
formatação definida, sendo reconhecida como família parental a
entidade familiar constituída somente pela prole. O próprio STJ há
muito reconhece a impenhorabilidade do imóvel ocupado por irmãos.20
Não importa a natureza da indisponibilidade, se legal ou convencional:
na ausência dos pais, os filhos formam uma famíliae estão a salvo
dos devedores. Assim, apesar do que está posto na lei, a instituição
do bem de família transmite-se aos filhos. Não há como admitir a
revogabilidade da instituição, pois o bem ainda serve a uma família,
mesmo que seja constituída de filhos maiores. De qualquer modo, na
hipótese de existência de filho incapaz sujeito a curatela,
imprescindível a mantença do encargo.
É possível ao cônjuge ou ao companheiro sobrevivente pedir a
extinção do ônus, em caso de ser o único bem do casal (CC 1.721
parágrafo único). No entanto, havendo filhos menores, essa
possibilidade liberatória pode lhes acarretar prejuízos, fato a ser
considerado pelo juiz.21
Na eventualidade de extinção da benesse instituída por terceiros,
ainda que nada refira a lei, deve-se reconhecer que retorna ao
instituidor a posse plena e a propriedade livre e desembaraçada do
bem, assim como suas pertenças e rendas.
20.5 Legal
O Código Civil prevê somente o bem de família instituído
voluntariamente, remetendo à lei especial a impenhorabilidade do
imóvel residencial (CC 1.711). É a L 8.009/90 que cumpre esta função:
dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. Trata-se de lei
cogente e de ordem pública, de nítido caráter protecionista e
publicista. Garante o mínimo necessário à sobrevivência da família, à
luz do direito fundamental à moradia, amplamente prestigiado e
consagrado pelo texto constitucional (CF 6.º, 7.º, IV e 23, IX). No
entanto, se o devedor oferece à penhora o bem que reside, depois
não pode buscar o reconhecimento de se tratar bem de família.
Configura-se afronta à boa fé objetiva.22
O Estado chama para si o dever de proteção que antes era
deixado ao arbítrio do chefe de família, a quem incumbia a
constituição voluntária do bem de família.23 Conforme lembra Álvaro
Villaça Azevedo, não fica a família à mercê de proteção por seus
integrantes, mas é defendida pelo próprio Estado.24 Em face da
referência à entidade familiar, é necessário estender o instituto a todas
as estruturas familiares. Não há como enfocar o instituto somente
como proteção a este ou aquele modelo de entidade familiar, nem
mesmo como proteção à família do devedor, por não ter sido ela quem
diretamente contraiu a dívida.25
O bem de família não responde por nenhum tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza (L 8.009/90 1.º).
A impenhorabilidade pode ser oposta em execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou qualquer outra (L 8.009/90 3.º). Não há
como impor a venda do bem para assegurar o pagamento de crédito
trabalhista, sob o fundamento que com o produto da venda e
pagamento da dívida é possível a compra de outro bem a servir de
moradia ao devedor.26
Pode ser alegada a qualquer tempo ou grau de jurisdição. Estão
livres da execução: (a) um único imóvel, urbano ou rural, onde se
assenta a moradia permanente da família; (b) as plantações e as
benfeitorias de qualquer natureza; (c) todos os equipamentos,
inclusive os de uso profissional; e (d) os móveis que guarnecem a
casa, desde que quitados. Excluem-se do rol da impenhorabilidade os
veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.
Caso o único bem do devedor se encontre desocupado, não é
reconhecida a sua impenhorabilidade, pois não está atendendo ao
propósito protetivo do instituto.27 Se o devedor possui mais de uma
residência, apenas uma não se sujeita à penhora, a de menor valor.
No entanto, se o devedor vier a se desfazer de um imóvel, não pode
requerer que seja levantada a penhora sobre o outro.28
O fato de o devedor possuir mais bens, não impede a
impenhorabilidade do imóvel onde reside.29 Caso o único bem do
devedor se encontre alugado, desde que o valor do aluguel seja
revertido à subsistência ou moradia da sua família.30
O locatário de imóvel alugado é favorecido pela impenhorabilidade
somente dos bens móveis que guarnecem a sua residência.
Excetuam-se à impenhorabilidade (L 8.009/90 3.º): I – os créditos
dos trabalhadores domésticos e das respectivas contribuições
previdenciárias; II – o financiamento para sua construção ou
aquisição. A justificativa é óbvia. Se assim não fosse, a construção ou
aquisição da casa própria ficaria praticamente inviabilizada a quem
não tivesse patrimônio para responder pelo investimento. Também as
dívidas sobre o bem não o liberam da penhora; IV – impostos predial
e territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel; V –
hipoteca; e VII – fiança concedida em contrato de locação. Desde
sempre foi questionada a constitucionalidade dessa última exceção,
em face do direito à moradia (CF 6.º).31 O tema gerou controvérsias,
mas a jurisprudência acabou se pacificando diante do julgamento do
STF que reconheceu, em decisão com repercussão geral, a
impenhorabilidade do imóvel do fiador que lhe serve de residência.32
Como o direito à moradia foi elevado à categoria de direito social
constitucionalmente preservado, é de se ter por derrogado a exceção
legal quanto ao fiador.33 Na contramão desta orientação, recente
decisão do STJ admite a penhora do bem de família do fiador.34 Paulo
Lôbo afirma que a decisão não atentou à violação do direito
constitucional à moradia (CF 6.º) e o da dignidade da pessoa humana.
Prevaleceu o princípio da autonomia privada do fiador, pouco
importando que ele e sua família sejam desalojados de sua moradia
para satisfação do direito do crédito, evitando-se assim prejuízo à
oferta de imóveis à locação.35
As duas outras exceções são salutares. Não se livra da penhora o
bem de família quando se trata de execução de dívida alimentar (L
8.009/90 3.º III). Ocorre que, entre o direito de alguém morar e a
necessidade de outro viver, optou o legislador pela sobrevivência do
credor de alimentos. Igualmente responde o bem quando foi ele
adquirido com produto de crime, ou quando a dívida decorre de
condenação penal, ressarcimento, indenização ou perda de bens (L
8.009/90 3.º VI). Mas se metade do adquirido em fraude à execução,
em se tratando de imóvel indivisível, a impenhorabilidade alcança todo
o bem.36
20.6 Beneficiários
Atendendo estritamente ao que está posto na lei, só poderia ser
reconhecido como bem de família o imóvel onde reside o devedor e
sua família. É o que diz o art. 1.º da L 8.009/90, que fala em imóvel
próprio do casal ou da entidade familiar. No entanto, em face da
valorização da dignidade do ser humano e da repersonalização do
direito das famílias, o bem de família busca novos rumos, novas
finalidades, e a tendência é reconhecer o instituto como direito social,
invocando-se o direito constitucional à moradia.37 Com essa
preocupação, tanto a doutrina como a jurisprudência têm conferido
significado mais amplo ao conceito de bem de família. Neste sentido
posicionou-se o STJ38 ao editar súmula abrangendo, no conceito de
impenhorabilidade de bem de família, o imóvel pertencente às
pessoas sozinhas. O sentido social da norma busca garantir um teto
para cada pessoa.39 Assim vem sendo reconhecida a
impenhorabilidade do bem onde reside uma pessoa sozinha, a família
monoparental, a família homoafetiva e mesmo quando somente
moram os filhos.
Não só a pessoa física, mas também a pessoa jurídica está ao
abrigo da impenhorabilidade quando se trata de empresa familiar
cujos sócios residam no imóvel,40 mesmo que o imóvel comercial
tenha sido oferecido em garantia real hipotecária.41 A dissolução da
sociedade conjugal ou da entidade familiar não extingue o bem de
família. Sua intangibilidade não beneficia exclusivamente o imóvel
onde reside o proprietário. Mesmo que o devedor não esteja utilizando
o bem, permanecendo na posse o ex-cônjuge ou ex-convivente e
filhos, é reconhecido o bem como impenhorável. Caso tenha o bem
sido prometido a venda, nele residindo um dos cônjuges, este precisa
ser citado para a execução, constituindo-se um litisconsórcio
passivo necessário.42
Outra hipótese merece ser figurada:do devedor que é proprietário
de dois imóveis e mantém uniões paralelas, residindo cada família
em um deles. Pertencendo ambos os bens ao mesmo titular e
servindo cada um de moradia a uma entidade familiar, as duas
residências estão resguardadas pela impenhorabilidade.43
Há mais situações que merecem igual tratamento. Quando os
cônjuges ou companheiros residem em imóveis distintos, ambos
merecem ser reconhecidos como bem de família. Na hipótese de
famílias pluriparentais, há que se reconhecer a existência de três
entidades familiares: a nova família constituída pelo casamento ou
união estável; as duas entidades formadas por cada um dos pais com
sua prole fruto da união pretérita. Ainda que exista a comunicação do
patrimônio e os imóveis que servem de residência a cada uma das
famílias integrem a comunhão de bens, as duas moradias estão
protegidas pela impenhorabilidade legal.
Tratando-se de imóvel indivisível, em que parte é residencial e
parte é comercial, todo o bem é impenhorável.44 A não ser que haja a
possibilidade de desmembramento sem alteração na substância do
imóvel.45 Demonstrado que o imóvel em construção tem finalidade
residencial e o executado não possui outro, residindo em apartamento
alugado, faz jus ao benefício.46 O usufrutuário (CC 1.390 a 1.411) de
imóvel residencial está a salvo para fruir e utilizar o bem que seja
moradia da família. Igualmente, o direito de uso (CC 1.412 e 1.413) e
o direito de habitação (CC 1.414 a 1.416) não se penhoram.47 No
entanto, a nua-propriedade pode sofrer a constrição. A vaga de
garagem não está compreendida no conceito de bem de família.48
20.7 Rural
A Constituição Federal (186), atenta à função social da
propriedade, isenta da penhora a pequena propriedade rural, assim
definida na lei, com referência aos débitos decorrentes da atividade
produtiva desempenhada pela família (CF 5.º XXVI). Trata-se de
impenhorabilidade relativa, condicionada a três pressupostos
cumulativos: (a) o bem tem de ser identificado como pequena
propriedade rural; (b) é indispensável que seja trabalhado pela família;
e (c) a dívida deve ter sido contraída em razão da atividade produtiva.
Ainda que não se encontre regulamentado tal dispositivo
constitucional, não há como lhe negar vigência em face da
determinação de eficácia imediata das garantias fundamentais (CF 5.º
§ 1.º).
A L 8.009/90 concedeu uma nova dimensão à impenhorabilidade
do imóvel rural. Mesmo que se restrinja à sede da moradia (L 8.009/90
4.º § 2.º), não está condicionada à natureza do débito. O Código de
Processo Civil, ao elencar as impenhorabilidades, inclui o imóvel rural
(CPC 649 VIII): a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
desde que trabalhada pela família.
Há toda uma discussão que envolve a identificação do que se deve
chamar de pequena propriedade rural. Por falta de referência mais
precisa cabe invocar, por analogia, o conceito de propriedade familiar
do Estatuto da Terra, que identifica o que é chamado de módulo rural
(L 4.504/64 4.º II e III): imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de
trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e
econômico.49
20.8 Dívida alimentar
Entre as exceções que afastam a impenhorabilidade do bem de
família, a depender da natureza da dívida, encontra-se a obrigação
alimentar. Não distingue a lei a natureza dos alimentos.50 As mesmas
hipóteses de impenhorabilidades estão previstas no estatuto
processual. Como há algumas dívidas frente às quais descabe invocar
a condição de bem de família para livrá-lo da execução, é possível
afastar a impenhorabilidade dos bens referidos no CPC. A questão
ganha relevância quando se trata de dívida alimentar.
A obrigação alimentícia é reconhecida constitucionalmente como
merecedora de exigibilidade mais efetiva, superior até ao direito de
liberdade, pois é autorizada a prisão do devedor (CF 5.º LXVII). Como
as impenhorabilidades elencadas no CPC visam a proteger o devedor,
não pode prevalecer seu interesse, deixando à míngua o alimentando.
Também merece ser invocada a determinação de que a execução seja
feita do modo menos gravoso ao devedor (CPC 620). Ora, entre a
penhora dos bens tidos como impenhoráveis e a liberdade do
alimentante, certamente a forma menos gravosa é fazer com que seu
patrimônio garanta o pagamento de dívida alimentar.
O crédito de honorários advocatícios não é reconhecido como de
natureza alimentar para afastar a impenhorabilidade do bem de
família.51
20.9 Aspectos processuais
A intangibilidade do bem que serve de residência à entidade
familiar do devedor é considerada matéria de ordem pública. Assim,
pode ser suscitada a qualquer tempo ou grau de jurisdição, até o
momento da alienação judicial do bem.52
A exceção de que o bem algo de constrição trata-se de bem de
família pode ser oposta quando do cumprimento da sentença como
na execução. Se o beneficiário da impenhorabilidade não integra a
ação, pode insurgir-se via embargos de terceiro.
Como se trata de exceções à impenhorabilidade, a interpretação
há que ser restritiva.53 O ônus da prova de que o bem se destina ao
uso familiar é do devedor.54
O mesmo fundamento impede que o devedor renuncie à
impenhorabilidade, ao indicar à penhora bens que guarnecem sua
residência.55
Como o bem de família não fica sujeito à penhora, também está
livre de sofrer medidas acauteladoras, como o sequestro.56
Leitura complementar
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Bem de família: com comentários à Lei
8.009/90. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
CREDIE, Ricardo Arcoverde. Bem de família – Teoria e prática. 3.
ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
FACHIN, Luiz Edson. Estatuto jurídico do patrimônio mínimo. 3. ed.
Rio de Janeiro: Renovar, 2012.
1.
Sérgio Iglesias Nunes de Souza, Direito à moradia e de habitação:…, 157.
2.
Álvaro Villaça Azevedo, Do bem de família, 242.
3.
Idem, 254.
4.
César Fiúza, Diretrizes hermenêuticas do direito de família, 233.
5.
Ana Marta C. de B. Zilveti, Novas tendências do bem de família, 248.
6.
Súmula 364 do STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
7.
STF, ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Brito, j. 05/05/2011.
8.
Ana Marta C. de B. Zilveti, Novas tendências do bem de família, 256.
9.
Daniel Sarmento, A ponderação de interesses…, 71.
10.
Ana Marta C. de B. Zilveti, Novas tendências do bem de família, 260.
11.
Luiz Edson Fachin, Estatuto jurídico do patrimônio mínimo, 301.
12.
Ana Marta C. de B. Zilveti, Novas tendências do bem de família, 262.
13.
Claudete Carvalho Canezin, Bem de família, 243.
14.
Ana Marta C. de B. Zilveti, Novas tendências do bem de família, 164.
15.
Bem de família. Impenhorabilidade. Decisão mantida. 1. Considera-se bem de família o
imóvel destinado à moradia da família que, por força da Lei 8.009/90, goza de
proteção, não podendo ser penhorado por toda e qualquer dívida. 1.1 Salvo as
situações que se subsumem aos incisos I a VII do art. 3.º da Lei 8.009/90, descabe a
penhora de imóvel considerado bem de família. 2. In casu, o imóvel, utilizado pela
agravada e sua família para moradia permanente, é o único bem que possui, razão
porque está amparado pela impenhorabilidade da Lei 8.009/90, devendo ser cancelada
a penhora sobre tal bem. 2.1 Como salientado pela eminente Magistrada Grace Correa
Pereira, “A constrição efetiva fere o princípio da dignidade da pessoa humana, pois o
bem penhorado é o único imóvel de sua propriedade, utilizado para sua residência e de
sua família.” (sic), comparecendo impossível, nestes autos, qualquer discussão acerca
das circunstâncias e dos motivos que ensejaram a dissolução do casamento entre as
partes. 3. Precedente Turmário: “1. Art. 1.º da Lei 8009/90 – O imóvel residencial
próprio docasal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza,
contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.” (20130020169295AGI, Relator:
Sebastião Coelho, DJE: 10/12/2013). 4. Agravo de instrumento improvido. (TJDF, AI
20140020036685, 5.ª T. Cív., Rel. Des. João Egmont, j. 09/04/2014).
16.
A única hipótese em que dinheiro pode permanecer como bem de família é aquela em
que há saldo restante da venda do bem (CC 1.715 parágrafo único).
17.
Idem, 105.
18.
São chamadas obrigações reais ou propter rem, ou seja, obrigações decorrentes do
próprio bem.
19.
Álvaro Villaça Azevedo, Do bem de família, 249.
20.
Execução. Embargos de terceiro. Lei 8.009/90. Impenhorabilidade. Moradia da família.
Irmãos solteiros. Os irmãos solteiros que residem no imóvel comum constituem uma
entidade familiar e por isso o apartamento onde moram goza da proteção de
impenhorabilidade, prevista na Lei 8.009/90, não podendo ser penhorado na execução
de dívida assumida por um deles. Recurso conhecido e provido. (STJ, REsp
159.851/SP, 4.ª T., Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 19/03/1998).
21.
Álvaro Villaça Azevedo, Do bem de família, 251.
22.
Execução. Cédula de crédito hipotecária. Bem imóvel oferecido em garantia do
contrato. Impossibilidade de reconhecimento da impenhorabilidade do bem de família.
Exceção prevista no artigo 3.º da Lei 8009/90. Ausência de boa-fé objetiva. Venire
contra factum proprium. Impossibilidade. Decisão mantida. Recurso improvido. A boa-fé
do devedor é determinante para que possa se socorrer do favor legal, reprimindo-se
quaisquer atos praticados no intuito de fraudar credores ou retardar o trâmite do
processo de execução por ele sofrida, em razão de inadimplemento de obrigação
positiva e líquida, em seu termo. O fato de o imóvel dado em garantia ser o único bem
da família certamente é sopesado quando de seu oferecimento em hipoteca, ciente de
que o ato implica renúncia à impenhorabilidade, nos termos do artigo 3.º, V, da Lei
8.009/90. Assim, não se mostra razoável que depois, ante à sua inadimplência, o
devedor use esse fato como subterfúgio para livrar o imóvel da penhora. A atitude
contraria a boa-fé ínsita às relações negociais, pois equivaleria à entrega de uma
garantia que o devedor, desde o início, sabia ser inexequível, esvaziando-a por
completo. Falta ao devedor, no caso, com um dos deveres de conduta na execução do
contrato, também conhecidos na doutrina como deveres anexos, deveres
instrumentais, deveres laterais, deveres acessórios, deveres de proteção e deveres de
tutela, que correspondem à boa-fé objetiva com que deve se portar no cumprimento da
obrigação. Quebra essa regra o devedor que obtém o financiamento em razão da
garantia hipotecária dada ao credor, e posteriormente opõe exceção de
impenhorabilidade do bem, com a pretensão de livrá-lo da constrição judicial, ato que
se caracteriza como venire contra factum proprium, repudiado pelo ordenamento
jurídico. Recurso conhecido e improvido. (TJMS, AI 14113751820148120000, 4.ª C.
Cív., Rel. Des. Dorival Renato Pavan, j. 18/09/2014).
23.
Ana Marta C. de B. Zilveti, Novas tendências do bem de família, 256.
24.
Álvaro Villaça Azevedo, Bem de família: com comentários à Lei 8.009/90, 167.
25.
Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, A impenhorabilidade do bem de família, 163.
26.
O Judiciário deve buscar um equilíbrio entre o direito ao crédito trabalhista do
exequente e o direito à moradia do devedor, o que impõe a flexibilização da norma que
fixa a impenhorabilidade do bem de família, quando o valor do imóvel penhorado for
suficiente para o pagamento do crédito e a aquisição de nova moradia digna e
confortável para o executado. Conclusão: Pelo exposto, conheço e nego provimento ao
agravo de petição. Acordam os desembargadores da 4.ª Turma do Tribunal Regional
do Trabalho da 1.ª Região, por maioria, conhecer e negar provimento ao agravo de
petição, nos termos da fundamentação do voto da Excelentíssima Juíza Relatora. (TRT
1.ª Região, AP 0143100-13.1995.5.01.0203-RJ, 4.ª T., Rel. Juíza Convocada Mônica
Batista Vieira Puglia, j. 21/05/2013).
27.
Impenhorabilidade do bem de família. Imóvel desocupado. […] 3. A jurisprudência do
STJ firmou-se no sentido de que o fato de a entidade familiar não utilizar o único imóvel
como residência não o descaracteriza automaticamente, sendo suficiente à proteção
legal que seja utilizado em proveito da família, como a locação para garantir a
subsistência da entidade familiar. 4. Neste processo, todavia, o único imóvel do
devedor encontra-se desocupado e, portanto, não há como conceder a esse a proteção
legal da impenhorabilidade do bem de família, nos termos do art. 1.º da Lei 8.009/90,
pois não se destina a garantir a moradia familiar ou a subsistência da família. 5.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (STJ, REsp
100.546/SP, 3.ª T., Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. p/ acórdão Min. Nancy Andrighi, p.
03/02/2011).
28.
Bem de família. Impenhorabilidade. Lei 8.009/90. Prova da inexistência de outros bens.
1. Para efeitos de impenhorabilidade, a parte executada deve comprovar que o imóvel
penhorado é o único bem utilizado pela entidade familiar para moradia, inexistindo
outros que possam servir para a mesma finalidade. 2. Possuindo a executada dois
imóveis quando do início da fase de cumprimento de sentença e sendo um deles
penhorado para garantir o cumprimento do débito exequendo, a venda, durante a fase
executiva, do bem não penhorado não poderá justificar a desconstituição da penhora
sobre o outro imóvel penhorado, sob a alegação de que este se tornou o único bem de
família. 3. Agravo provido para determinar a manutenção da penhora sobre o imóvel da
parte executada. (TJDF, Ac. 561850, AI 20110020239607, 1.ª T. Cív., Rel. Flávio
Rostirola, j. 25/01/2012).
29.
Bem de família. Comprovação de que o bem penhorado é o utilizado como residência
familiar. Desnecessidade de provar ser o imóvel o único de propriedade da família.
Impenhorabilidade prevista nos artigos 1.º e 3.º da Lei 8.009/90. Necessária
desconstituição da penhora. Precedentes do STJ. Conhecimento e provimento do
recurso – modificação do julgamento hostilizado. (TJMS, AI 2012.015298-0, 3.ª C. Cív.,
Rel. Des. Amaury Moura Sobrinho, j. 15/08/2013).
30.
Súmula 486 do STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a
subsistência ou a moradia da sua família.
31.
Andréia Andrade da Nóbrega, Proteção à dignidade do fiador:…, 74.
32.
STF, Repercussão Geral em RE 612.360/SP, Rel. Min. Ellen Grace, j. 13/08/2010.
33.
Penhorabilidade do bem de família. Fiador em contrato locatício. Impossibilidade. 1.
Existe forte corrente jurisprudencial que defende a penhorabilidade do bem de família,
quando decorrente de fiança prestada em contrato locatício, em razão da exceção
prevista no art. 3.º, VII, da Lei 8.009/90, notadamente o julgamento realizado pelo
plenário do C. STF, no RE 407.688-8 SP, em 08/02/2006, que, por maioria, entendeu
pela constitucionalidade do dispositivo legal acima citado e pela inexistência de afronta
ao direito de moradia, previsto no art. 6.º da CF. 2. Por se tratar de decisão proferida
em recurso extraordinário, não provida de força vinculante, e levando-se em
consideração que a decisão foi tomada por maioria, cabe aos operadores do Direito
lutar para afastar do sistema jurídico pátrio essa exceção odiosa que ofende o direito
básico à moradia e o princípio constitucional da isonomia. 3. A EC 26/2000, que incluiu
a moradia entre os direitos sociais previstos no art. 6.º da CF, e, portanto, dentre os
direitos fundamentais do homem, revogou aexceção à impenhorabilidade decorrente
de fiança prestada em contrato locatício, prevista na Lei 8.009/90, pois tal dispositivo
legal é incompatível com essa norma constitucional. 4. A penhorabilidade do bem de
família daquele que figura como fiador de obrigação locatícia fere os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, bem como da isonomia. 5. Deu-se provimento ao
agravo dos executados para reconhecer a impenhorabilidade do bem de família de
fiador em contrato de locação e desconstituir a penhora realizada. (TJDF, Ag. Reg. no
AI 2013.00.2.018768-5, 2.ª T. Cív., Rel. Des. J. Costa Carvalho, j. 25/09/2013).
34.
Recurso especial representativo de controvérsia. Art. 543-C do CP. Execução. Lei
8.009/1990. Alegação de bem de família. Fiador em contrato de locação.
Penhorabilidade do imóvel. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: “É legítima penhora de
apontado bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, ante o que
dispõe o art. 3.º, VI, da Lei 8.009/1990”. 2. No caso concreto, recurso especial provido.
(STJ, REsp 1.363.368/MS (2013/0011463-3), Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
12/11/2014).
35.
Paulo Lôbo, Relações de família e direitos fundamentais, 20.
36.
Recurso especial. Fraude à execução. Impenhorabilidade de bem de família. Proteção
à integralidade do bem. 1. Em se constatando que o imóvel no qual reside a recorrente
é um bem de família, ainda que parte dele tenha sido adquirida em suposta fraude à
execução, a impenhorabilidade da parte não eivada de vício (os 50% da recorrente) se
estenderia à totalidade do bem, salvo se se tratar de imóvel suscetível de divisão. 2.
Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, a que se dá parcial
provimento. (STJ, ED no REsp 1.084.059/SP (2008/0173574-8), 4.ª T., Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, j. 11/04/2013).
37.
A EC 26/00 alterou o art. 6.º da CF, incluindo o direito à moradia entre os direitos
sociais.
38.
Súmula 364 do STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
39.
Bem de família. Separação do casal posterior. Penhora incidente sobre imóvel em que
o cônjuge veio a residir. Exclusão. Má-fé não demonstrada. Recurso improvido. 1. A
impenhorabilidade do bem de família, prevista no art. 1.º da Lei 8.009/90, visa
resguardar não somente o casal, mas a própria entidade familiar. 2. A entidade familiar,
deduzida dos arts. 1.º da Lei 8.009/90 e 226, § 4.º, da CF/88, agasalha, segundo a
aplicação da interpretação teleológica, a pessoa que, como na hipótese, é separada e
vive sozinha, devendo o manto da impenhorabilidade, dessarte, proteger os bens
móveis guarnecedores de sua residência. Precedente (REsp 205.170-SP, DJ
07.02.2000). 3. Com efeito, no caso de separação dos cônjuges, a entidade familiar,
para efeitos de impenhorabilidade de bem, não se extingue; ao revés, surge uma
duplicidade da entidade, composta pelos ex-cônjuges: varão e virago. 4. Deveras,
ainda que já tenha sido beneficiado o devedor, com a exclusão da penhora sobre bem
que acabou por incorporar ao patrimônio do ex-cônjuge, isso não lhe retira o direito de
invocar a proteção legal quando um novo lar é constituído. (STJ, REsp 963.370/SC, 1.ª
T., Rel. Min. Luiz Fux, j. 15/04/2008).
40.
Embargos de terceiro. Impenhorabilidade de bem de família. Alegação de que o imóvel
constitui bem de família. Imóvel em nome da pessoa jurídica. Admissibilidade: Os
documentos dos autos mostram que a constrição judicial recaiu sobre imóvel onde
reside sócio da pessoa jurídica executada. Caracterização do bem de família, nos
termos da Lei 8.009/90. É entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça a
possibilidade da proteção do bem de família, no caso de sócio que reside em imóvel
registrado em nome da pessoa jurídica. Sentença reformada. Recurso provido. (TJSP,
AC 1007380-59.2014.8.26.0554, 37.ª C. Dir. Priv., Rel. Des. Israel Góes dos Anjos, j.
11/11/2014).
41.
Recurso especial. Direito civil. Bem de família oferecido em garantia real hipotecária.
Pessoa jurídica, devedora principal, cujos únicos sócios são marido e mulher. Empresa
familiar. Disposição do bem de família que se reverteu em benefício de toda unidade
familiar. Hipótese de exceção à regra da impenhorabilidade prevista em lei. Artigo
analisado: 3.º, inc. V, Lei 8.009/1990. […] 2. Discute-se a penhorabilidade de bem de
família quando oferecido em garantia real hipotecária de dívida de pessoa jurídica da
qual são únicos sócios marido e mulher. 3. O STJ há muito reconhece tratar-se a Lei
8.009/1990 de norma cogente e de ordem pública, enaltecendo seu caráter
protecionista e publicista, assegurando-se especial proteção ao bem de família à luz do
direito fundamental à moradia, amplamente prestigiado e consagrado pelo texto
constitucional (art. 6.º, art. 7.º, IV, 23, IX, CF/88). 4. Calcada nessas premissas, a
jurisprudência está consolidada no sentido de que a impenhorabilidade do bem de
família, na hipótese em que este é oferecido em garantia real hipotecária, somente não
será oponível quando tal ato de disponibilidade reverte-se em proveito da entidade
familiar. Precedentes. 5. Vale dizer, o vetor principal a nortear em especial a
interpretação do inc. V do art. 3.º da Lei 8.009/1990 vincula-se à aferição acerca da
existência (ou não) de benefício à entidade familiar em razão da oneração do bem, de
tal modo que se a hipoteca não reverte em vantagem à toda família, favorecendo, v.g.,
apenas um de seus integrantes, em garantia de dívida de terceiro (a exemplo de uma
pessoa jurídica da qual aquele é sócio), prevalece a regra da impenhorabilidade como
forma de proteção à família – que conta com especial proteção do Estado; art. 226,
CF/88 – e de efetividade ao direito fundamental à moradia (art. 6.º, CF/88). 6. É
indiscutível a possibilidade de se onerar o bem de família, oferecendo-o em garantia
real hipotecária. A par da especial proteção conferida por lei ao instituto, a opção de
fazê-lo está inserida no âmbito de liberdade e disponibilidade que detém o proprietário.
Como tal, é baliza a ser considerada na interpretação da hipótese de exceção. 7. Em
se tratando de exceção à regra da impenhorabilidade – a qual, segundo o contorno
conferido pela construção pretoriana, se submete à necessidade de haver benefício à
entidade familiar –, e tendo em conta que o natural é a reversão da renda da empresa
familiar em favor da família, a presunção deve militar exatamente nesse sentido e não
o contrário. A exceção à impenhorabilidade e que favorece o credor está amparada por
norma expressa, de tal modo que impor a este o ônus de provar a ausência de
benefício à família contraria a própria organicidade hermenêutica, inferindo-se flagrante
também a excessiva dificuldade de produção probatória. 8. Sendo razoável presumir
que a oneração do bem em favor de empresa familiar beneficiou diretamente a
entidade familiar, impõe-se reconhecer, em prestígio e atenção à boa-fé (vedação de
venire contra factum proprium), a autonomia privada e ao regramento legal positivado
no tocante à proteção ao bem de família, que eventual prova da inocorrência do
benefício direto é ônus de quem prestou a garantia real hipotecária. 9. Recurso
especial conhecido em parte e, nesta parte, provido. (STJ, AREsp 1.413.717/PR, 3.ª T.,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 21/11/2013).
42.
Embargos infringentes. Embargos de terceiro. Compromisso de venda e compra de
imóvel residencial. Abandono de lar pelo varão. Esposa lá residente, em companhia
dos filhos. Negócio realizado na constância do casamento. Esposa que não foi citada
para a ação possessória. Necessidade. Irrelevância da circunstância de não ter firmado
o compromisso de venda e compra. Litisconsórcio passivo necessário, em especial por
ser o regime de bens do casamento o da comunhão universal. Doutrina de Rolf
Madaleno. Precedente do Desembargador Ênio Santarelli Zuliani. Embargosinfringentes acolhidos, para que prevaleça o voto vencido, que mantinha a sentença de
primeira instância. (TJSP, EI 0000569-04.2008.8.26.0266/50000, 10.ª C. Dir. Priv., Rel.
Des. Cesar Ciampolini, j. 29/01/2013).
43.
Carlos Eduardo P. Ruzyk, União estável:…, 219.
44.
Penhora. Bem de família. Havendo comprovação de que o imóvel serve de moradia
para o requerente e sua família e não demonstrada a possibilidade de seu
desmembramento, é de ser afastada a constrição judicial. Recurso não provido. (TJSP,
AI 20104914720148260000, 21.ª C. Dir. Priv., Rel. Des. Itamar Gaino, j. 09/06/2014).
45.
STJ, REsp 968.907/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/04/2009.
46.
STJ, REsp 698.750/SP, 1.ª T., Rel. Min. Denise Arruda, j. 10/04/2007.
47.
Ricardo Arcoverde Credie, Bem de família, 53.
48.
Súmula 449 do STJ: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de
imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.
49.
Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, A impenhorabilidade do bem de família, 78.
50.
Bem de família. Obrigação alimentícia decorrente de ato ilícito. Exceção à
impenhorabilidade. 1. A impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3.º, III, da
Lei 8.009/90 não pode ser oposta ao credor de pensão alimentícia decorrente de
indenização por ato ilícito. Precedentes. 2. Embargos de divergência rejeitados. (STJ,
EDiv em REsp 679.456/SP, 2.ª S., Rel. Min. Sidnei Beneti, p. 16/06/2011).
51.
Bem de família. Impenhorabilidade. Crédito. Honorários advocatícios. A Turma
entendeu que não se pode penhorar bem de família para satisfazer crédito exequendo
resultante de contrato de honorários advocatícios. O art. 3.º da Lei 8.009/90 não dispõe
sobre os referidos créditos, não se podendo equipará-los aos de pensão alimentícia.
Assim, a Turma deu parcial provimento ao recurso e afastou a constrição sobre o bem
de família. (STJ, REsp 1.182.108/MS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 12/04/2011).
52.
Embargos infringentes. Alcance. Origem da dívida. Incidência das Súmulas 5 e 7.
Alegação de impenhorabilidade de bem de família. Possibilidade de dedução a
qualquer tempo. Diferença em relação às hipóteses em que a questão foi decidida e
opera-se a preclusão. Enquadramento do imóvel penhorado na proteção conferida pela
Lei 8.009/90. Ônus da prova. Irrelevância da discussão no caso concreto. […] É
possível a arguição de impenhorabilidade do bem de família em sede de apelação
contra sentença proferida em embargos à execução. Cumpre fazer uma distinção:
entre as hipóteses em que a questão já foi alegada e decidida no processo daquelas
em que a alegação advém tardiamente, depois de apresentada a defesa de mérito do
devedor. Quando não há alegação, tampouco decisão anterior, a impenhorabilidade do
bem de família é matéria de ordem pública, dela podendo conhecer o juízo a qualquer
momento, antes da arrematação do imóvel. […] 6. Recurso parcialmente conhecido e
não provido. (STJ, REsp 981.532/RJ (2007/0198107-0), Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
j. 07/08/2012).
53.
Impenhorabilidade de bem de família. Interpretação restritiva de suas exceções. […] A
Lei 8.009/90 institui a impenhorabilidade do bem de família como instrumento de tutela
do direito fundamental à moradia da família e, portanto, indispensável à composição de
um mínimo existencial para uma vida digna. Por ostentar esta legislação natureza
excepcional, é insuscetível de interpretação extensiva, não se podendo presumir as
exceções previstas em seu art. 3.º. Precedentes citados: REsp 988.915-SP, DJe
08/06/2012, e REsp 711.889-PR, DJe 1.º/07/2010. (STJ, REsp 1.074.838/SP, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, j. 23/10/2012).
54.
Impenhorabilidade. Único imóvel próprio alugado. Súmula 486/STJ. Prova da
impenhorabilidade do bem pelos devedores. Excesso de execução. Ausência. “É
impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros,
desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família”. Cabe ao devedor o ônus da prova do preenchimento dos
requisitos necessários, para enquadramento do imóvel penhorado na proteção
concedida pela Lei 8.009/90 ao bem de família. Os devedores comprovaram a
necessidade de utilizar a renda oriunda do aluguel do imóvel para o provimento do
sustento próprio e de sua família, tendo em vista os parcos rendimentos constantes da
declaração de imposto de renda acostada aos autos. Caberia ao credor, assim,
apresentar a prova do fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito dos devedores
(art. 333, II, CPC), ou seja, que teriam renda capaz de prover a sua subsistência que
dispensasse aqueles rendimentos advindos do aluguel do imóvel penhorado. (TJMG,
AI 1.0686.05.169225-5/001, 10.ª C. Cív., Rel. Des. Álvares Cabral da Silva, p.
23/08/2013).
55.
Recurso especial. Ação anulatória. Acordo homologado judicialmente. Oferecimento de
bem em garantia. Pequena propriedade rural. Impenhorabilidade. Equiparação à
garantia real hipotecária. Descabimento. 1. A proteção legal assegurada ao bem de
família pela Lei 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia, por tratar-se de princípio
de ordem pública, que visa a garantia da entidade familiar. 2. A ressalva prevista no art.
3.º, inciso V, da Lei 8.009/90 não alcança a hipótese dos autos, limitando-se,
unicamente, à execução hipotecária, não podendo benefício da impenhorabilidade ser
afastado para a execução de outras dívidas. Por tratar-se de norma de ordem pública,
que visa a proteção da entidade familiar, e não do devedor, a sua interpretação há de
ser restritiva à hipótese contida na norma. 3. Recurso Especial improvido. (STJ, REsp,
1.115.265/RS, 3.ª T., Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 24/04/2012).
56.
Bem de família. Impenhorabilidade. Sequestro. Impossibilidade adjetiva. […] 3. Embora
sejam institutos distintos, sequestro e penhora, a verdade é que, tendo a Lei 8.009/90
protegido o bem de família da impenhorabilidade, também o protegeu, por via indireta,
das medidas acauteladoras que se destinam a resguardar, no patrimônio do devedor, a
solvência da dívida. 4. Em resumo: o sequestro tem como fim último resguardar o
credor pela antecipação de bens aptos a resguardar a solvência final do devedor. E a
satisfação do credor se dá pela arrematação ou pela penhora, de modo que, vedada a
penhora por se tratar de bem de família, está vedado também o sequestro. 5. A teor
dos princípios da executividade de forma menos gravosa ao devedor (art. 620 do CPC)
e da estrita necessidade das medidas constritivas, não é possível permitir sequestro de
bens que, ao fim e ao cabo, não poderão ser expropriados. 6. Recurso especial não
provido. (STJ, REsp 1.245.466/RJ, 2.ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, p.
05/05/2011).

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