Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hiperbilirrubinemia Neonatal ~ Icterícia Neonatal Definição: Coloração amarelada das escleras, mucosas e/ou pele devido ao aumento da bilirrubina em recém nascidos < 28 dias. Situação mais frequente do período neonatal. • 50% dos nascidos a termo; • 90% dos pré termo (quase 100% nos extremamente prematuros); Predomínio de bilirrubina indireta = Risco de lesão ao SNC! • Como a indireta é lipossolúvel, existe o risco de impregnação do SNC quando esta se eleva muito uma vez que as suas membranas são lipofílicas. • Encefalopatia bilirrubínica ◦ Síndrome clínica neurológica observada em recém-nascidos ictéricos; ◦ Portadores de doença hemolítica e prematuros estão em maior risco de desenvolver a doença; ◦ Hipotonia, debilidade de sucção, recusa alimentar e convulsões; ◦ Em 3 a 4 dias a criança progride para hipertonia, opistótono, hipertermia e choro com tonalidade aguda; ◦ 70% dos pacientes podem evoluir para óbito devido à parada respiratória; • Kernicterus = impregnação amarelada dos núcleos da base característica da encefalopatia bilirrubínica Severa: > 20mg/dL (2% dos a termo) Crítica: > 25mg/dL (0,1 – 0,6% dos a termo) *A medida é da bilirrubina total. Nesse período se usa sempre a mensuração da BT, pois em geral sua alteração corresponde também à alteração da indireta no neonato, uma vez que raramente a direta se eleva. *O aparecimento muito precoce é um sinal de alerta. FISIOPATOLOGIA • Na vida intrautero, a mãe é a responsável pelo metabolismo da bilirrubina do feto (por isso ele não sofre com a icterícia durante a vida fetal); • Imaturidade do metabolismo da bilirrubina ao nascer (mais ascentuada no prematuro); • No recém nascido 75% da bilirrubina formada provém da hemólise, sendo que a criança nasce com um número elevado de hemáceas em relação ao adulto (Hb = 17~18) = aumento da oferta; • Hipoalbuminemia fisiológica no período neonatal, mais profunda nos prematuros. Ou seja, pouca proteína de transporte para conduzir a bilirrubina até o fígado; • No neonato a bilirrubina também encontra dificuldade ao se ligar às proteínas receptoras Y e Z dos hepatócitos uma vez que deve competir com outras substâncias pela ligação, como ácidos graxos livres originados do metabolismo do leite (parte do mecanismo da icterícia pelo leite materno também); • Ausência ou baixos níveis transitórios de glicuronil transferase na primeira semana de vida, enzima responsável pela conjugação da bilirrubina dentro do hepatócito (seu funcionamento se normaliza entre a 6ª e 14ª semanas); • Microbiota intestinal muito limitada nos primeiros dias de vida, não agindo na excreção da bilirrubina. Logo quem age é a B-glicoronidase, desdobrando a bilirrubina conjugada em não conjugada novamente, retornando ao fígado (via entero-hepática); • Tudo isso = Níveis elevados de bilirrubina. ICTERÍCIA FISIOLÓGICA • A termo ◦ > 24h ◦ Pico: 3-4 dias (maioria já teve alta do hospital) ◦ Bilirrubina: 8-10 mg/dL ◦ *A presença de icterícia antes de 24 horas de vida e de valores de BT > 12 mg/dL, independentemente da idade pós-natal, alerta para a investigação de processos patológicos • Pré termo ◦ <24h ◦ Pico: 5-7 dias ◦ Bilirrubina: 12-15 mg/dL CAUSAS DE ICTERÍCIA PATOLÓGICA • Aumento da oferta ◦ Doenças Hemolíticas: ▪ Incompatibilidade sanguíneas – ABO ou RH ▪ Deficiência de Glicose-6-Fosfato desidrogenase ▪ Defeitos eritrocitários ▪ Drogas que causam hemólise (vitamina K) ◦ Bossa serossanguinolenta (subcutâneo, ultrapassa sutura) ou Cefalohematoma (osso – periósteo, não ultrapassa sutura) – são reabsorvidos com o tempo, não há necessidade de puncionar; ◦ Petéquias, máscara cianótica… ◦ Comprometimento do trânsito gastrointestinal (aumento da oferta pela via entero- hepática) ▪ Malformações: atresia duodenal • Problemas na conjugação ou na excreção ◦ Doenças genéticas: ▪ Doença de Gilbert ▪ Crigller-Najjar ▪ Síndrome de Dubin Johnson (*aumento da bilirrubina direta!) ◦ Atresia ou hipoplasia das vias biliares (exige diagnóstico precoce, correção cx urgente) ◦ Nutrição parenteral prolongada • Infecções – mecanismo misto ◦ Sepse neonatal ◦ Infecções congênitas – TORCH ICTERÍCIA PELO LEITE MATERNO • Se diferencia da fisiológica pois a hiperbilirrubinemia é mais elevada e prolongada, porém não é patológica; • A criança pode se manter ictérica até a 6ª semana de vida; • 30% das crianças que mamam exclusivamente no seio podem desenvolver a condição; • Causas: ◦ Estrógeno compete na ligação com a bilirrubina; ◦ Ácidos graxos do metabolismo do leite competem na ligação com as proteínas Y e Z dos hepatócitos; ◦ Baixo aporte de leite: criança não desenvolve microbiota intestinal, aumentando o circuito entero-hepático da bilirrubina (B-glicuronidase desdobra bilirrubina conjugada em não conjugada); DETERMINAÇÃO DA BILIRRUBINA • Padrão-ouro: Bioquímica ◦ Procedimento doloroso ◦ Formação de hematomas • Avaliação clínica (última opção) ◦ Progressão crâniocaudal • Avaliação transcutânea ◦ Indolor, rápido e simples ◦ Aparelho caro ◦ Limitações: cor e espessura da pele, níveis de bilirrubina, fototerapia MANEJO • Triagem universal de todos os recém nascidos para hiperbilirrubinemia ◦ A partir das 12h de vida (não antes); ◦ Até a alta (geralmente 72h); ◦ O exame físico não é eficaz em diagnosticar hiperbilirrubinemia nem a gravidade da condição; ◦ A criança pode ter hiperbilirrubinemia grave e não apresentar icterícia no momento da alta hospitalar; • Uso do gráfico para estratificação de risco: • • • Escolher o tratamento baseado no risco combinado à idade gestacional: • Fototerapia: ◦ Fotoisometização: A bilirrubina absorve energia luminosa formando um isômero hidrossolúvel – a lumirrubina –, sendo rapidamente excretada pelo organismo (cerca de 90%). ◦ Dose adequada/Irradiância: Ideal >16 ◦ Tipos de lâmpada usadas: ▪ fluorescente ▪ halógenas/tungstênio ▪ fibra ótica ▪ LEDS (luzes mais efetivas na atualidade) - (irradiância >30) ◦ A luz do Sol também ajuda ◦ Medir a irradiância com o radiômetro ao longo do procedimento ◦ É esperado que 30-40% da hiperbilirrubinemia diminua dentro de 24h ◦ Recomenda-se realizar o procedimento de forma contínua ◦ Atentar para desidratação (controlar o peso) e repor líquidos quando necessário • Exanguíneo transfusão: ◦ Invasivo e raro atualmente ◦ Repor 2 volemias: 70 – 80 ml/kg ◦ Principal indicação: Imunização RH ◦ Remove cerca de 50% da bilirrubina e 75% dos anticorpos PREVENÇÃO E REDUÇÃO DE RISCO • Promover o aleitamento materno exclusivo (desenvolvimento da microbiota intestinal e redução do circuito entero-hepático da bilirrubina); • Monitorar perda de peso e não oferecer outros líquidos como água, chá… • Utilizar protocolos de estratificação de risco para hiperbilirrubinemia; • Determinar bilirrubina total em todo recém nascido dentro de 24h; • Garantir um seguimento adequado ao neonato ictérico nas primeiras semanas; • E tratar quando indicado, seja com fototerapia ou transfusão; Renata Kestering Santi, UFSM
Compartilhar