Buscar

A relação corpo e mente e a história da Psicossomatica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Centro Universitário São José de Itaperuna 
Curso de Graduação em Psicologia 
GRACIELY DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itaperuna/RJ 
2012 
2 
 
GRACIELY DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo apresentado à Banca 
Examinadora do Curso de Psicologia do 
Centro Universitário São José de 
Itaperuna como requisito final para a 
obtenção de titulo de Psicóloga. 
Orientadora: Prof.ª Ms. Camila Miranda 
de Amorim Resende. 
 
 
 
 
 
Itaperuna/RJ 
2012 
 
3 
 
GRACIELY DA SILVA SANTOS 
 
 
 
 
 
A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA 
 
 
Artigo apresentado à Banca 
Examinadora do Curso de Psicologia do 
Centro Universitário São José de 
Itaperuna como requisito final para a 
obtenção de titulo de Psicóloga. 
Orientadora: Prof.ª Ms. Camila Miranda 
de Amorim Resende. 
 
 
 
Itaperuna/RJ, 3 de dezembro de 2012. 
 
Banca Examinadora: 
 
__________________________________ 
Profª. Ms. Camila Miranda de Amorim Resende 
UNIFSJ – Itaperuna/RJ 
 
__________________________________ 
Prof. Ignael Muniz Rosa 
UNIFSJ – Itaperuna/RJ 
 
__________________________________ 
Profª. Ieda Tinoco Boechat 
UNIFSJ – Itaperuna/RJ 
4 
 
A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA 
 
Graciely da Silva Santos1* 
Camila Miranda de Amorim Resende 2* 
 
Resumo: Esse estudo procurou entender e articular a ligação entre o somático e o 
psíquico dando ênfase ao que se conhece como psicossomática. Para este 
trabalho utilizou-se pesquisa bibliográfica de assuntos e autores correlacionados ao 
tema. Foram brevemente investigadas as teorizações sobre a relação corpo e 
mente, buscando esboçar como se deu a evolução e o desenvolvimento das ideias 
nesta área desde J. C. Heinroth, psiquiatra alemão que fez referência à insônia e a 
influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro em 1818. Viu-se que, em 
meados do século XX, através das contribuições de Freud, Franz Alexander e 
também da Escola de Chicago, emerge e se consolida a psicossomática. Foi visto 
que a humanidade ao longo dos séculos vem mudando as formas de pensar sobre 
saúde e doença, sobre mente e corpo. Nos dias de hoje, por exemplo, observa-se 
que novas questões se impõem para serem pensadas neste contexto. 
 
Palavras-chave: Psicossomática. Emoção. Adoecimento. Medicina 
Psicossomática. 
 
 
 
Introdução 
 
Vários são os autores que teorizam sobre a relação entre mente e corpo, 
sendo que esta sempre proporcionou indagações que seguem até os dias de hoje 
sendo alvo de vários estudos com o intuito de se chegar a uma unidade, um 
consenso e posteriormente um conjunto de soluções para as patologias oriundas 
da somatização. 
É neste sentido que este estudo tem como finalidade refletir sobre a relação 
entre corpo e psique, com destaque para o desenvolvimento do campo da 
psicossomática. Para tal, far-se-á inicialmente breves considerações sobre a 
relação mente e corpo e, em seguida, elaborar-se-á uma visão em perspectiva da 
psicossomática psicanalítica no século XX. Este estudo também procura mostrar o 
 
1
 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Fundação São José (UNIFSJ), em 
Itaperuna/RJ. E-mail:gracyprojetodedeus@hotmail.com 
2
 Professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Fundação São José (UNIFSJ), em 
Itaperuna/RJ. E-mail: camila.mdamorim@gmail.com 
5 
 
desenvolvimento das ideias nesta área e examinar as concepções do sintoma 
somático como representante simbólico de conflitos psíquicos segundo Groddeck; a 
medicina psicossomática de Alexander e a constituição das “doenças 
psicossomáticas” e a ruptura epistemológica da Escola de Paris de Marty, para que, 
em seguida, se possa refletir sobre a psicossomática no contemporâneo e lançar 
hipóteses de como serão as abordagens para o futuro da mesma. 
Este artigo será realizado a partir de pesquisa bibliográfica de natureza 
qualitativa, com leituras interpretativas do tema e de obras relacionadas ao assunto 
bem como autores que se destacaram na área, como Freud, Marty, Alexander, 
Groddeck, entre outros. 
 
1. Relação corpo e psique 
 
A humanidade ao longo dos séculos vem mudando as formas de pensar sobre 
saúde e doença, sobre mente e corpo. As doenças psicossomáticas vêm 
questionar a divisão entre doença física e psíquica como se fossem de naturezas 
diferentes, sendo esta divisão tradicionalmente cartesiana, que por sua vez, separa 
mente e corpo, segundo Ferraz (2004 apud CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, 
p. 42). 
As expressões gregas soma e psiquê, designando o que pode-se entender 
como corpo e alma, foram pela primeira vez utilizadas por Anaxágoras (500-428 
a.C.), que as considerou como partes distintas, introduzindo uma concepção 
dualista do ser humano. Pesquisadores e estudiosos de áreas diferenciadas têm se 
unido nas últimas décadas no sentido da confirmação de que corpo e mente 
constituem uma totalidade, contrariando a visão dualista. O corpo dá condições 
para que emoções e sentimentos existam e também estabelece relações 
indissociáveis com o social ou cultural. Corpo, emoções e linguagem se entrelaçam 
na ação e nas interações e essa compreensão explica que corpo e psique são uma 
totalidade, tomando esses elementos como manifestações da mesma realidade: o 
ser humano. A expressividade do ser humano dá-se por meio dessa totalidade. 
(PEREIRA, 2008) 
 “Manifestar de forma física o sofrimento mental tem sido uma das maneiras 
mais tradicionais de comunicar sofrimento” (D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, 
6 
 
p. 52). Relatos de queixas somáticas para as quais não se verifica patologia 
orgânica são recorrentes ao longo da história, desde a época dos antigos gregos e 
egípcios. 
 “O sofrimento emocional é, de modo geral acompanhado de alguma forma de 
alteração somática. O que difere de uma pessoa ou grupo para outro é a escolha 
de uma linguagem ‘somatizante’ ou ‘psicologizante’ como forma prioritária de 
comunicação.” (D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, p. 55). Os pensamentos e 
emoções são extensões das influências contínuas entre indivíduo e meio social, e o 
processo saúde-doença depende das interações contínuas entre corpo e mente. 
Existe no ser humano uma tendência para experienciar e comunicar distúrbios 
somáticos sem fundamento orgânico, atribuí-los a doenças físicas e ainda procurar 
ajuda médica para eles, diz Lipowski (1988 apud D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 
2003, p.57). 
A tentativa de se acomodar o conceito de somatização dentro das 
classificações diagnósticas revelam o quão distante ainda estamos de um modelo 
que integre psique e soma, o indivíduo e a sociedade, nas mais diferentes maneiras 
de adoecer e comunicar sofrimento. E se a somatização Fo considerada como um 
processo mais amplo, o conceito engloba ainda formas de expressão de conflitos 
psicológicos, idiomas sociais de insatisfação, posicionamento no sistema local de 
poder através de papel de doente, um meio de protesto, uma estratégia de 
sobrevivência utilizada por grupos desempoderados para resistir e denunciar um 
sistema social injusto e opressor, diz Scheper-Hughes (1987 apud D’AVILA; 
BAPTISTA; FORTES, 2003, p. 56). 
A ciência caminha reduzindo o homem a minúsculas partículas, de volta aos 
genes, para, enfim, fazer o trajeto inverso, integrando novamente as partes em 
direção ao ser uno com o objetivo de melhor compreender a complexidade e a fim 
de possibilitar um desenvolvimento quepermita diminuir os sofrimentos dos 
homens. Procura, portanto, investigar minuciosamente todos os aspectos da 
formação do indivíduo, investigando todas as suas vivências e experiências para 
tentar, ao final desta análise, juntar cada parte minuciosamente estudada, a fim de 
enxergar a origem ou até mesmo os fatores acarretadores para chegar a uma 
evolução no campo em questão permitindo um alívio e/ou até mesmo uma solução 
para o sofrimento do ser humano. 
7 
 
2. História da psicossomática 
 
 “Psicossomática é um estudo das relações mente e corpo com ênfase na 
explicação da patologia somática, uma proposta de assistência integral e uma 
transcrição para a linguagem psicológica dos sintomas corporais.” (EKSTERMAM, 
1992 apud CERCHIARI, 2000, p.67). É um campo de pesquisas sobre o corpo e a 
mente, ao mesmo tempo em que se constitui em uma prática de uma medicina 
integral que busca compreender o adoecimento através das investigações sobre a 
integração entre mente e corpo. 
O termo psicossomática foi usado pela primeira vez por J. C. Heinroth, 
psiquiatra alemão que fez referência à insônia e à influência das paixões na 
tuberculose, epilepsia e cancro em 1818. O movimento só se consolidou, 
entretanto, em meados do século XX, através das contribuições de Freud, Franz 
Alexander e também da Escola de Chicago, de acordo com Kamienieck (1994 apud 
CASETTO, 2006, p. 64). 
Alexander (1989 apud CERCHIARI, 2000, p. 65) vai dizer que: 
 
Cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais 
influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas 
humorais e que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no 
mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo 
processo. 
 
O termo psicossomática deve ser usado para indicar um método de 
abordagem, tanto em pesquisa quanto em terapia. Ou seja, pode ser concebido 
como o uso simultâneo e coordenado de métodos e conceitos somáticos, de um 
lado, e métodos e conceitos psicológicos por outro lado. Situa-se, sobretudo, em 
uma perspectiva peculiar no modo de encarar os fenômenos de doença, segundo 
Cardoso (1995 apud CERCHIARI, 2000, p. 64). 
A psicossomática se concentra no sujeito a ser estudado, nas suas vivências 
e suas experiências, bem como na forma com que ele se relaciona com o meio no 
qual vive e não somente nos sintomas patológicos. 
O termo abrange áreas específicas quando se refere à medicina 
psicossomática, doenças psicossomáticas ou à psicossomática em si, deixando o 
questionamento da possibilidade de se investigar individualmente cada termo e a 
necessidade de se encontrar especificidade para cada um. O termo psicossomática 
8 
 
foi consolidado a partir do desenvolvimento da psicanálise e do modelo freudiano, 
que, por sua vez, trabalha com a dicotomia corpo/alma sempre atribuindo à 
patologia a influência do psiquismo no sintoma somático. 
 
2.1 Freud 
 
Com a introdução do conceito de Inconsciente, Freud pôs em causa 
definitivamente a dicotomia clássica corpo-alma, revelando uma nova leitura das 
relações entre soma e psique. Como afirma, “o inconsciente seria uma espécie de 
lugar de passagem, processo no qual se tornaria impossível distinguir o corporal do 
psíquico, que estariam articulados numa espécie de curto-circuito” (FREUD, 1923, 
p.75). 
As investigações sobre a relação entre o psíquico e o somático aparecem em 
toda a obra de Freud. Em um de seus primeiros trabalhos sobre a histeria, ele 
começou a reconhecer a influência do funcionamento psíquico nos sintomas 
somáticos. 
De acordo com Cardoso (1995 apud CERCHIARI, 2000, p. 77), o maior 
legado de Freud para as investigações psicossomáticas se deve ao conceito de 
conversão individual, termo este que explica a transposição de um conflito psíquico 
na tentativa de resolvê-lo em termos de sintomas somáticos, motores ou sensitivos. 
Freud acabou desenvolvendo o conceito de conversão somática, que seria uma 
junção do psíquico e do físico remetendo a outra cena. Freud denominou 
conversão a uma manifestação somática idêntica ao desejo em que está em jogo, 
como uma satisfação substitutiva de uma fantasia de conteúdo sexual e onde esta 
outra cena fala do sujeito através de seu corpo. 
Sobre a teoria freudiana, Eksterman (2008, p.117) diz que se pudéssemos 
dissecar todos os componentes comprometidos na transformação do id em ego, 
teríamos provavelmente respondido aos enigmas que subsistem entre a mente e o 
corpo, pois a atividade corporal origina do id e este, por sua vez, se diferencia em 
uma camada mais superficial, o ego, quando em contato com o mundo exterior, ou 
seja, a transformação do id em ego é o ponto central do encontro da Psicanálise 
com a Psicossomática. Freud, no entanto, não se interessou pelas consequências 
efetivamente psicossomáticas de suas descobertas no que tange às questões 
9 
 
psicológicas relativas à relação consciente/inconsciente presentes nas doenças do 
corpo. 
 
2.2 Groddeck 
 
Groddeck (1866-1934), através de seu trabalho como médico, soube da 
existência da psicanálise por volta de 1910 e em 1917 começou a corresponder-se 
com Freud. Com a aprovação dele, publicou “Condicionamento psíquico e 
tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise”, no periódico “Internationale 
Zeitschrift für Psychoanalyse”. Neste texto, já aparece o conceito do id, ao qual 
atribui o poder de ação sobre todo o organismo. Defende a doença como uma das 
expressões do id, tal como seriam o formato do nariz, o jeito de andar, enfim, como 
uma manifestação de vida, e não como um mal a ser combatido a qualquer preço. 
Implicou o id até nos acidentes que nos acontecem utilizando uma terapêutica bem 
mais voltada para a decifração dos sintomas do que para descoberta da cura da 
patologia. A ideia desse autor nunca parece ter sido a de desenvolver uma técnica 
poderosa de tratamento. 
Groddeck aplicou a teoria do processo conversivo a todo episódio de 
adoecimento, raciocinando de modo finalista: o motivo do sintoma, inconsciente, 
elucida-se pelas consequências que ele provoca, senão práticas, ao menos 
simbólicas. Assim, dores de cabeça aplacam os pensamentos; magreza e fraqueza 
denunciam a nostalgia da condição de recém-nascido; uma barriga, o desejo de 
gravidez, de acordo com Groddeck (1988 apud CASETTO, 2006, p. 123-124). 
O autor afirmava que: 
 
(...) a doença não provém do exterior, o próprio ser humano a 
produz; o homem só se serve do mundo exterior como instrumento 
para ficar doente, escolhendo em seu inesgotável arsenal de 
acessórios ora a espiroqueta da sífilis, ora uma casca de banana, 
depois uma bala de fuzil ou um resfriado. (GRODECK, 1923 apud 
CASETTO, 2006, p.124). 
 
 
 
 
 
10 
 
2.3 Escola Americana de Chicago e Escola de Paris 
 
No fim do século XIX, o campo da psicossomática se estendeu por dois 
grandes ramos de investigação. O primeiro se refere à Escola Americana, 
representado por Franz Alexander e Dunbar. A via de investigação dessa escola 
tem como ponto de partida o modelo médico e procura correlacionar determinados 
tipos de personalidades às doenças. Foram fundamentais para a consolidação do 
movimento psicossomático, assim como para a influência sobre uma medicina 
integral e humanista, diz Cardoso (1995 apud CERCHIARI, 2000, p.79). 
O segundo grande ramo das investigações psicossomáticas foi formada pelos 
integrantes da Escola Psicossomática de Paris, composta entre outros por Pierre 
Marty de M’Uzan, que tentou elaborar uma teoria da economia psicossomática, 
impondo uma grande parte da pesquisa sobre as causas da doença a um 
determinismo complexo com forte participação biológica. Para esta corrente, a falta 
de recurso psíquico para a elaboração dos conflitos derivaria a sua característica 
principalmente psicossomática e o consequente desequilíbriopsicossomático com 
a ocorrência de desorganizações orgânicas progressivas, consoante Marty (1993, 
p.7). 
 
3. O futuro da psicossomática 
 
Como já vimos anteriormente, com base em psicanálise, surgiram os 
primeiros ensaios em medicina psicossomática, que reconheciam algumas doenças 
como essencialmente psicossomáticas. Dentro da visão da psicossomática atual, 
entretanto, não existe um tipo exclusivo de distúrbio psicossomático, mas situações 
particulares nas quais os fatores psicossomáticos atuam, desencadeando 
causando ou agravando a condição clínica, segundo Mello Filho (1992, p. 134). 
A psicossomática tem uma tradição muito forte no campo da pesquisa e 
atualmente não está mais associada a um grupo específico de patologias, sendo 
considerada um modo completo de olhar todas as condições patológicas. É preciso 
atingir uma maior integração epistemológica para que essas reflexões possam 
contribuir para um conhecimento mais complexo da psicossomática, diz Cerchiari 
(2000, p. 76). 
11 
 
A somatização tem se elevado com os anos, estimulada pela medicalização. 
O crescimento da indústria médico-farmacêutica promove uma ideologia médica e 
transforma, assim, a demanda dos consumidores que procuram cada vez mais por 
serviços e produtos médicos. Campanhas educativas alertam o público sobre 
doenças graves e o levam a ficar alarmado e preocupado com sinais e sensações 
físicas que possam traduzir-se em patologia. Por consequência, há uma busca de 
cuidados médicos para desconfortos físicos benignos que são, nesta situação, 
amplificados e renomeados, de acordo com D’avila; Baptista; Fortes (2003, p. 53). 
 
As ditas síndromes somáticas funcionais, que se referem às queixas 
somáticas com ausência de alterações orgânicas que parecem 
estar relacionadas às formas mais comuns de somatização 
crônicas, estão ocorrendo devido a esse número crescente de 
condições cuja base médica e estatuto científico ainda não foram 
esclarecidos. (D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, p. 53) 
 
Para psicólogos e psiquiatras, o maior obstáculo é justamente o tratamento. 
Pacientes somatizadores, em geral, não aceitam explicações psicológicas para seu 
mal-estar e frequentemente retomam a rotina de consumo excessivo de serviços 
médicos. 
Somente nestas últimas duas décadas, o fenômeno da somatização vem 
sendo estudado mais sistematicamente, tanto como um transtorno psiquiátrico, 
quanto como um fenômeno mais abrangente que inclui, mas não se restringe, às 
classificações psiquiátricas oficiais, dizem D’avila; Baptista; Fortes (2003, p. 54). 
Reconhece-se, então, que o adoecer não pode ser analisado senão de uma 
perspectiva interdisciplinar, pois, sendo determinado por diversos fatores, qualquer 
ensaio de abordá-lo desde um deles resultaria na compreensão fragmentada do 
fenômeno. 
A psicossomática se preocupa com as ligações entre o biológico, o 
psicológico, o social e com a integração do ser humano com o ambiente, partindo 
do princípio que este ser é constituído por uma unidade composta por um corpo 
físico, uma subjetividade pessoal, singular e um contexto histórico e social, sendo 
cada ser humano único, porém, em completa interação uns com os outros. 
Baseando-se nesta afirmativa, pode-se dizer que o avanço desenfreado da 
tecnologia e a produção de conhecimento cada vez mais veloz delineiam um novo 
contexto de mundo que tende a valorizar o palpável o concreto e privilegiar o 
12 
 
individualismo, conforme aponta Campos (1992, p. 127). Os valores coletivos são, 
portanto, sufocados pelos meios de comunicação que abastecem a sociedade com 
quantidades inimagináveis de bens e serviços para consumo individual, segundo 
Toffler (1972 apud CAMPOS, 2008, p. 128). 
Segundo Campos (2008, p. 130), com o consumismo prevalece a ideologia de 
conquista e a manutenção de bens materiais. A preocupação ética com a 
coletividade, com o conjunto de cidadãos não é, portanto, muito considerada, 
seguindo assim na contramão da psicossomática que, por sua vez, está embasada 
no estudo do ser humano como um ser individual e único, porém que necessita 
viver em integração como o meio. 
Este consumismo e individualismo geram o desejo de consumir mais e este, 
por sua vez, exige do homem produzir mais e com mais intensidade. 
Consequentemente, uma coisa vai gerando outra: dedicar mais tempo ao trabalho 
implica dedicar menos tempo à família, ao lazer, à reflexão pessoal, à religião e ao 
serviço social e também ajuda a acrescer os níveis de violência contra a natureza 
e, em especial, a ameaça à integridade física e emocional desse ser único que é a 
base dos estudos da psicossomática. 
A psicossomática, embasada no ser humano como um ser uno e também em 
suas interações, precisa acompanhar estas mudanças do mundo, do homem e de 
suas interações. Caso não haja uma adequação e integração perderá a sua 
essência e poderá ser suprimida. 
Dúvidas sobre o futuro das patologias, dos sentimentos, das relações entre os 
indivíduos, dos relacionamentos afetivos, sobre o avanço tecnológico, sobre como 
serão as crianças, os idosos e os adultos estão ligados a essa evolução e mudança 
vigente e tão acelerada do mundo em que se vive e essas serão as perguntas que 
a psicossomática de amanhã deverá conviver e integrar, sendo ela mesma uma 
ideologia da integração que enxerga o ser humano de forma indissociável. Se 
assim não fizer, poderá ser submersa por todo esse “mar do progresso” e não 
sobreviverá às questões do futuro e este futuro não mais pertencerá à 
psicossomática, segundo Campos. (2008, p.132). 
 
 
 
13 
 
Considerações Finais 
 
Constatou-se que, através dos anos, a sociedade trouxe juntamente com a 
evolução dos seus variados campos também a ampliação das já diversas 
enfermidades provenientes dos sentimentos e emoções vivenciadas por cada 
indivíduo no decorrer de sua existência. Neste contexto, este trabalho pretendeu 
analisar a relação entre mente e corpo com destaque para o desenvolvimento da 
psicossomática na atualidade. 
Ao longo da história da Psicossomática, principalmente do fim do século XIX e 
início do século XX, em especial com o advento da ciência e das novas tecnologias, 
a forma de pensar sobre a somatização mudou por não mais ter como base a 
divisão mente/corpo, deixando de lado essa dualidade para se embasar na 
totalidade do ser humano, trabalhando, assim, para a compreensão de parte pelo 
todo. Contudo, ainda estamos longe de chegar a um conceito que una as várias 
disciplinas e classificações que compõem a Psicossomática, pois o conceito 
engloba inúmeras formas de expressão dificultando um olhar definitivo sobre ela. 
Todo ser humano, como único e singular, vivencia ininterruptamente inúmeros 
sentimentos e emoções e as consequências trazidas por estas emoções são 
distintas e variáveis. Neste sentido o estudo da psicossomática é de fundamental 
importância para fazer frente aos vários sintomas de adoecimento que possam 
surgir de forma isolada. 
Entende-se, portanto, que há muito que ser explorado e descoberto neste 
campo denominado psicossomática, ainda mais com o fato das constantes 
mudanças na forma do homem se relacionar com o mundo na contemporaneidade 
e as interações estabelecidas por ele dentro do meio em que está inserido. 
Partindo, então, deste pressuposto, compreende-se que cabem mais estudos sobre 
o homem e as evoluções das doenças, dos relacionamentos, do adoecer, com a 
finalidade de entender ou, ao menos, tentar antecipar para onde caminharemos 
dentro deste tão amplo campo de pesquisa relacionado à complexa relação entre 
mente e corpo. 
 
 
14 
 
Referências 
CAMPOS, E. P. Aspectos psicossomáticos em Cardiologia. In: MELLO FILHO, 
J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, p.127 - 134,1992. 
 
CAMPOS, E. P. Psicossomática Manhã. Revista da AssociaçãoBrasileira de 
Medicina Psicossomática. Medicina Psicossomática Ontem, Hoje e Amanhã. 
Recife, vol 7, nº 1/2, p. 126-133, 2008. 
 
CASETTO, S. J. Sobre a importância de adoecer: uma visão em perspectiva da 
psicossomática psicanalítica no século XX. Psyche, São Paulo, v. 10, n. 17, p. 
121-142. jun. 2006 . Disponível em 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
11382006000100008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 06 set. 2012. 
 
CASTRO, M.G; ANDRADE, T.M.R.; MULLER, M.C. Conceito Mente e Corpo 
Atraves da Historia. Psicologia em Estudo. Maringa, V.11, n.1, p.39-43, 2006 
 
CERCHIARI, E. A. N. Psicossomática um estudo histórico e epistemológico. Psicol. 
cienc. prof., Brasília, v. 20, n. 4, p. 64-79. dez. 2000 . Disponível em < 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-
98932000000400008&script=sci_arttext >. acessos em 06 set. 2012. 
 
D’AVILA, M.I; BAPTISTA, C.M.A; FORTES, S. Quando o ser doente torna-se um 
modo de vida: considerações psicossociais sobre as somatizações femininas. 
Tecendo o Desenvolvimento - saberes, gênero, ecologia social. Rio de Janeiro: 
Mauad e Bapera,p. 51-72, 2003. 
 
EKSTERMAN, A. Medicina Psicossomática no Brasil Revista da Associação 
Brasileira de Medicina Psicossomática. Medicina Psicossomática Ontem, Hoje e 
Amanhã. Recife, vol. 7, nº 1/2, p. 107-124, 2008. 
 
FREUD, S. O Ego e o Id e outros Trabalhos. Obras Psicológicas Completas. 
Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, p. 15-80, 1923. 
 
MARTY, P. A Psicossomática do Adulto. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, p. 3-79, 
1993. 
 
MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, p.134, 
1992. 
 
 
15 
 
PEREIRA, L. H. P. Corpo e psique: da dissociação à unificação - algumas 
implicações na prática pedagógica. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 34, n. 1, Abr. 
2008. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
97022008000100011&lng=en&nrm=iso>. access on 07 Nov. 2012. 
http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022008000100011.