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Centro Universitário São José de Itaperuna Curso de Graduação em Psicologia GRACIELY DA SILVA SANTOS A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA Itaperuna/RJ 2012 2 GRACIELY DA SILVA SANTOS A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA Artigo apresentado à Banca Examinadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário São José de Itaperuna como requisito final para a obtenção de titulo de Psicóloga. Orientadora: Prof.ª Ms. Camila Miranda de Amorim Resende. Itaperuna/RJ 2012 3 GRACIELY DA SILVA SANTOS A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA Artigo apresentado à Banca Examinadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário São José de Itaperuna como requisito final para a obtenção de titulo de Psicóloga. Orientadora: Prof.ª Ms. Camila Miranda de Amorim Resende. Itaperuna/RJ, 3 de dezembro de 2012. Banca Examinadora: __________________________________ Profª. Ms. Camila Miranda de Amorim Resende UNIFSJ – Itaperuna/RJ __________________________________ Prof. Ignael Muniz Rosa UNIFSJ – Itaperuna/RJ __________________________________ Profª. Ieda Tinoco Boechat UNIFSJ – Itaperuna/RJ 4 A RELAÇÃO MENTE E CORPO E A HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA Graciely da Silva Santos1* Camila Miranda de Amorim Resende 2* Resumo: Esse estudo procurou entender e articular a ligação entre o somático e o psíquico dando ênfase ao que se conhece como psicossomática. Para este trabalho utilizou-se pesquisa bibliográfica de assuntos e autores correlacionados ao tema. Foram brevemente investigadas as teorizações sobre a relação corpo e mente, buscando esboçar como se deu a evolução e o desenvolvimento das ideias nesta área desde J. C. Heinroth, psiquiatra alemão que fez referência à insônia e a influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro em 1818. Viu-se que, em meados do século XX, através das contribuições de Freud, Franz Alexander e também da Escola de Chicago, emerge e se consolida a psicossomática. Foi visto que a humanidade ao longo dos séculos vem mudando as formas de pensar sobre saúde e doença, sobre mente e corpo. Nos dias de hoje, por exemplo, observa-se que novas questões se impõem para serem pensadas neste contexto. Palavras-chave: Psicossomática. Emoção. Adoecimento. Medicina Psicossomática. Introdução Vários são os autores que teorizam sobre a relação entre mente e corpo, sendo que esta sempre proporcionou indagações que seguem até os dias de hoje sendo alvo de vários estudos com o intuito de se chegar a uma unidade, um consenso e posteriormente um conjunto de soluções para as patologias oriundas da somatização. É neste sentido que este estudo tem como finalidade refletir sobre a relação entre corpo e psique, com destaque para o desenvolvimento do campo da psicossomática. Para tal, far-se-á inicialmente breves considerações sobre a relação mente e corpo e, em seguida, elaborar-se-á uma visão em perspectiva da psicossomática psicanalítica no século XX. Este estudo também procura mostrar o 1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Fundação São José (UNIFSJ), em Itaperuna/RJ. E-mail:gracyprojetodedeus@hotmail.com 2 Professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Fundação São José (UNIFSJ), em Itaperuna/RJ. E-mail: camila.mdamorim@gmail.com 5 desenvolvimento das ideias nesta área e examinar as concepções do sintoma somático como representante simbólico de conflitos psíquicos segundo Groddeck; a medicina psicossomática de Alexander e a constituição das “doenças psicossomáticas” e a ruptura epistemológica da Escola de Paris de Marty, para que, em seguida, se possa refletir sobre a psicossomática no contemporâneo e lançar hipóteses de como serão as abordagens para o futuro da mesma. Este artigo será realizado a partir de pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, com leituras interpretativas do tema e de obras relacionadas ao assunto bem como autores que se destacaram na área, como Freud, Marty, Alexander, Groddeck, entre outros. 1. Relação corpo e psique A humanidade ao longo dos séculos vem mudando as formas de pensar sobre saúde e doença, sobre mente e corpo. As doenças psicossomáticas vêm questionar a divisão entre doença física e psíquica como se fossem de naturezas diferentes, sendo esta divisão tradicionalmente cartesiana, que por sua vez, separa mente e corpo, segundo Ferraz (2004 apud CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 42). As expressões gregas soma e psiquê, designando o que pode-se entender como corpo e alma, foram pela primeira vez utilizadas por Anaxágoras (500-428 a.C.), que as considerou como partes distintas, introduzindo uma concepção dualista do ser humano. Pesquisadores e estudiosos de áreas diferenciadas têm se unido nas últimas décadas no sentido da confirmação de que corpo e mente constituem uma totalidade, contrariando a visão dualista. O corpo dá condições para que emoções e sentimentos existam e também estabelece relações indissociáveis com o social ou cultural. Corpo, emoções e linguagem se entrelaçam na ação e nas interações e essa compreensão explica que corpo e psique são uma totalidade, tomando esses elementos como manifestações da mesma realidade: o ser humano. A expressividade do ser humano dá-se por meio dessa totalidade. (PEREIRA, 2008) “Manifestar de forma física o sofrimento mental tem sido uma das maneiras mais tradicionais de comunicar sofrimento” (D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, 6 p. 52). Relatos de queixas somáticas para as quais não se verifica patologia orgânica são recorrentes ao longo da história, desde a época dos antigos gregos e egípcios. “O sofrimento emocional é, de modo geral acompanhado de alguma forma de alteração somática. O que difere de uma pessoa ou grupo para outro é a escolha de uma linguagem ‘somatizante’ ou ‘psicologizante’ como forma prioritária de comunicação.” (D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, p. 55). Os pensamentos e emoções são extensões das influências contínuas entre indivíduo e meio social, e o processo saúde-doença depende das interações contínuas entre corpo e mente. Existe no ser humano uma tendência para experienciar e comunicar distúrbios somáticos sem fundamento orgânico, atribuí-los a doenças físicas e ainda procurar ajuda médica para eles, diz Lipowski (1988 apud D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, p.57). A tentativa de se acomodar o conceito de somatização dentro das classificações diagnósticas revelam o quão distante ainda estamos de um modelo que integre psique e soma, o indivíduo e a sociedade, nas mais diferentes maneiras de adoecer e comunicar sofrimento. E se a somatização Fo considerada como um processo mais amplo, o conceito engloba ainda formas de expressão de conflitos psicológicos, idiomas sociais de insatisfação, posicionamento no sistema local de poder através de papel de doente, um meio de protesto, uma estratégia de sobrevivência utilizada por grupos desempoderados para resistir e denunciar um sistema social injusto e opressor, diz Scheper-Hughes (1987 apud D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, p. 56). A ciência caminha reduzindo o homem a minúsculas partículas, de volta aos genes, para, enfim, fazer o trajeto inverso, integrando novamente as partes em direção ao ser uno com o objetivo de melhor compreender a complexidade e a fim de possibilitar um desenvolvimento quepermita diminuir os sofrimentos dos homens. Procura, portanto, investigar minuciosamente todos os aspectos da formação do indivíduo, investigando todas as suas vivências e experiências para tentar, ao final desta análise, juntar cada parte minuciosamente estudada, a fim de enxergar a origem ou até mesmo os fatores acarretadores para chegar a uma evolução no campo em questão permitindo um alívio e/ou até mesmo uma solução para o sofrimento do ser humano. 7 2. História da psicossomática “Psicossomática é um estudo das relações mente e corpo com ênfase na explicação da patologia somática, uma proposta de assistência integral e uma transcrição para a linguagem psicológica dos sintomas corporais.” (EKSTERMAM, 1992 apud CERCHIARI, 2000, p.67). É um campo de pesquisas sobre o corpo e a mente, ao mesmo tempo em que se constitui em uma prática de uma medicina integral que busca compreender o adoecimento através das investigações sobre a integração entre mente e corpo. O termo psicossomática foi usado pela primeira vez por J. C. Heinroth, psiquiatra alemão que fez referência à insônia e à influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro em 1818. O movimento só se consolidou, entretanto, em meados do século XX, através das contribuições de Freud, Franz Alexander e também da Escola de Chicago, de acordo com Kamienieck (1994 apud CASETTO, 2006, p. 64). Alexander (1989 apud CERCHIARI, 2000, p. 65) vai dizer que: Cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas humorais e que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo processo. O termo psicossomática deve ser usado para indicar um método de abordagem, tanto em pesquisa quanto em terapia. Ou seja, pode ser concebido como o uso simultâneo e coordenado de métodos e conceitos somáticos, de um lado, e métodos e conceitos psicológicos por outro lado. Situa-se, sobretudo, em uma perspectiva peculiar no modo de encarar os fenômenos de doença, segundo Cardoso (1995 apud CERCHIARI, 2000, p. 64). A psicossomática se concentra no sujeito a ser estudado, nas suas vivências e suas experiências, bem como na forma com que ele se relaciona com o meio no qual vive e não somente nos sintomas patológicos. O termo abrange áreas específicas quando se refere à medicina psicossomática, doenças psicossomáticas ou à psicossomática em si, deixando o questionamento da possibilidade de se investigar individualmente cada termo e a necessidade de se encontrar especificidade para cada um. O termo psicossomática 8 foi consolidado a partir do desenvolvimento da psicanálise e do modelo freudiano, que, por sua vez, trabalha com a dicotomia corpo/alma sempre atribuindo à patologia a influência do psiquismo no sintoma somático. 2.1 Freud Com a introdução do conceito de Inconsciente, Freud pôs em causa definitivamente a dicotomia clássica corpo-alma, revelando uma nova leitura das relações entre soma e psique. Como afirma, “o inconsciente seria uma espécie de lugar de passagem, processo no qual se tornaria impossível distinguir o corporal do psíquico, que estariam articulados numa espécie de curto-circuito” (FREUD, 1923, p.75). As investigações sobre a relação entre o psíquico e o somático aparecem em toda a obra de Freud. Em um de seus primeiros trabalhos sobre a histeria, ele começou a reconhecer a influência do funcionamento psíquico nos sintomas somáticos. De acordo com Cardoso (1995 apud CERCHIARI, 2000, p. 77), o maior legado de Freud para as investigações psicossomáticas se deve ao conceito de conversão individual, termo este que explica a transposição de um conflito psíquico na tentativa de resolvê-lo em termos de sintomas somáticos, motores ou sensitivos. Freud acabou desenvolvendo o conceito de conversão somática, que seria uma junção do psíquico e do físico remetendo a outra cena. Freud denominou conversão a uma manifestação somática idêntica ao desejo em que está em jogo, como uma satisfação substitutiva de uma fantasia de conteúdo sexual e onde esta outra cena fala do sujeito através de seu corpo. Sobre a teoria freudiana, Eksterman (2008, p.117) diz que se pudéssemos dissecar todos os componentes comprometidos na transformação do id em ego, teríamos provavelmente respondido aos enigmas que subsistem entre a mente e o corpo, pois a atividade corporal origina do id e este, por sua vez, se diferencia em uma camada mais superficial, o ego, quando em contato com o mundo exterior, ou seja, a transformação do id em ego é o ponto central do encontro da Psicanálise com a Psicossomática. Freud, no entanto, não se interessou pelas consequências efetivamente psicossomáticas de suas descobertas no que tange às questões 9 psicológicas relativas à relação consciente/inconsciente presentes nas doenças do corpo. 2.2 Groddeck Groddeck (1866-1934), através de seu trabalho como médico, soube da existência da psicanálise por volta de 1910 e em 1917 começou a corresponder-se com Freud. Com a aprovação dele, publicou “Condicionamento psíquico e tratamento de moléstias orgânicas pela psicanálise”, no periódico “Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse”. Neste texto, já aparece o conceito do id, ao qual atribui o poder de ação sobre todo o organismo. Defende a doença como uma das expressões do id, tal como seriam o formato do nariz, o jeito de andar, enfim, como uma manifestação de vida, e não como um mal a ser combatido a qualquer preço. Implicou o id até nos acidentes que nos acontecem utilizando uma terapêutica bem mais voltada para a decifração dos sintomas do que para descoberta da cura da patologia. A ideia desse autor nunca parece ter sido a de desenvolver uma técnica poderosa de tratamento. Groddeck aplicou a teoria do processo conversivo a todo episódio de adoecimento, raciocinando de modo finalista: o motivo do sintoma, inconsciente, elucida-se pelas consequências que ele provoca, senão práticas, ao menos simbólicas. Assim, dores de cabeça aplacam os pensamentos; magreza e fraqueza denunciam a nostalgia da condição de recém-nascido; uma barriga, o desejo de gravidez, de acordo com Groddeck (1988 apud CASETTO, 2006, p. 123-124). O autor afirmava que: (...) a doença não provém do exterior, o próprio ser humano a produz; o homem só se serve do mundo exterior como instrumento para ficar doente, escolhendo em seu inesgotável arsenal de acessórios ora a espiroqueta da sífilis, ora uma casca de banana, depois uma bala de fuzil ou um resfriado. (GRODECK, 1923 apud CASETTO, 2006, p.124). 10 2.3 Escola Americana de Chicago e Escola de Paris No fim do século XIX, o campo da psicossomática se estendeu por dois grandes ramos de investigação. O primeiro se refere à Escola Americana, representado por Franz Alexander e Dunbar. A via de investigação dessa escola tem como ponto de partida o modelo médico e procura correlacionar determinados tipos de personalidades às doenças. Foram fundamentais para a consolidação do movimento psicossomático, assim como para a influência sobre uma medicina integral e humanista, diz Cardoso (1995 apud CERCHIARI, 2000, p.79). O segundo grande ramo das investigações psicossomáticas foi formada pelos integrantes da Escola Psicossomática de Paris, composta entre outros por Pierre Marty de M’Uzan, que tentou elaborar uma teoria da economia psicossomática, impondo uma grande parte da pesquisa sobre as causas da doença a um determinismo complexo com forte participação biológica. Para esta corrente, a falta de recurso psíquico para a elaboração dos conflitos derivaria a sua característica principalmente psicossomática e o consequente desequilíbriopsicossomático com a ocorrência de desorganizações orgânicas progressivas, consoante Marty (1993, p.7). 3. O futuro da psicossomática Como já vimos anteriormente, com base em psicanálise, surgiram os primeiros ensaios em medicina psicossomática, que reconheciam algumas doenças como essencialmente psicossomáticas. Dentro da visão da psicossomática atual, entretanto, não existe um tipo exclusivo de distúrbio psicossomático, mas situações particulares nas quais os fatores psicossomáticos atuam, desencadeando causando ou agravando a condição clínica, segundo Mello Filho (1992, p. 134). A psicossomática tem uma tradição muito forte no campo da pesquisa e atualmente não está mais associada a um grupo específico de patologias, sendo considerada um modo completo de olhar todas as condições patológicas. É preciso atingir uma maior integração epistemológica para que essas reflexões possam contribuir para um conhecimento mais complexo da psicossomática, diz Cerchiari (2000, p. 76). 11 A somatização tem se elevado com os anos, estimulada pela medicalização. O crescimento da indústria médico-farmacêutica promove uma ideologia médica e transforma, assim, a demanda dos consumidores que procuram cada vez mais por serviços e produtos médicos. Campanhas educativas alertam o público sobre doenças graves e o levam a ficar alarmado e preocupado com sinais e sensações físicas que possam traduzir-se em patologia. Por consequência, há uma busca de cuidados médicos para desconfortos físicos benignos que são, nesta situação, amplificados e renomeados, de acordo com D’avila; Baptista; Fortes (2003, p. 53). As ditas síndromes somáticas funcionais, que se referem às queixas somáticas com ausência de alterações orgânicas que parecem estar relacionadas às formas mais comuns de somatização crônicas, estão ocorrendo devido a esse número crescente de condições cuja base médica e estatuto científico ainda não foram esclarecidos. (D’AVILA; BAPTISTA; FORTES, 2003, p. 53) Para psicólogos e psiquiatras, o maior obstáculo é justamente o tratamento. Pacientes somatizadores, em geral, não aceitam explicações psicológicas para seu mal-estar e frequentemente retomam a rotina de consumo excessivo de serviços médicos. Somente nestas últimas duas décadas, o fenômeno da somatização vem sendo estudado mais sistematicamente, tanto como um transtorno psiquiátrico, quanto como um fenômeno mais abrangente que inclui, mas não se restringe, às classificações psiquiátricas oficiais, dizem D’avila; Baptista; Fortes (2003, p. 54). Reconhece-se, então, que o adoecer não pode ser analisado senão de uma perspectiva interdisciplinar, pois, sendo determinado por diversos fatores, qualquer ensaio de abordá-lo desde um deles resultaria na compreensão fragmentada do fenômeno. A psicossomática se preocupa com as ligações entre o biológico, o psicológico, o social e com a integração do ser humano com o ambiente, partindo do princípio que este ser é constituído por uma unidade composta por um corpo físico, uma subjetividade pessoal, singular e um contexto histórico e social, sendo cada ser humano único, porém, em completa interação uns com os outros. Baseando-se nesta afirmativa, pode-se dizer que o avanço desenfreado da tecnologia e a produção de conhecimento cada vez mais veloz delineiam um novo contexto de mundo que tende a valorizar o palpável o concreto e privilegiar o 12 individualismo, conforme aponta Campos (1992, p. 127). Os valores coletivos são, portanto, sufocados pelos meios de comunicação que abastecem a sociedade com quantidades inimagináveis de bens e serviços para consumo individual, segundo Toffler (1972 apud CAMPOS, 2008, p. 128). Segundo Campos (2008, p. 130), com o consumismo prevalece a ideologia de conquista e a manutenção de bens materiais. A preocupação ética com a coletividade, com o conjunto de cidadãos não é, portanto, muito considerada, seguindo assim na contramão da psicossomática que, por sua vez, está embasada no estudo do ser humano como um ser individual e único, porém que necessita viver em integração como o meio. Este consumismo e individualismo geram o desejo de consumir mais e este, por sua vez, exige do homem produzir mais e com mais intensidade. Consequentemente, uma coisa vai gerando outra: dedicar mais tempo ao trabalho implica dedicar menos tempo à família, ao lazer, à reflexão pessoal, à religião e ao serviço social e também ajuda a acrescer os níveis de violência contra a natureza e, em especial, a ameaça à integridade física e emocional desse ser único que é a base dos estudos da psicossomática. A psicossomática, embasada no ser humano como um ser uno e também em suas interações, precisa acompanhar estas mudanças do mundo, do homem e de suas interações. Caso não haja uma adequação e integração perderá a sua essência e poderá ser suprimida. Dúvidas sobre o futuro das patologias, dos sentimentos, das relações entre os indivíduos, dos relacionamentos afetivos, sobre o avanço tecnológico, sobre como serão as crianças, os idosos e os adultos estão ligados a essa evolução e mudança vigente e tão acelerada do mundo em que se vive e essas serão as perguntas que a psicossomática de amanhã deverá conviver e integrar, sendo ela mesma uma ideologia da integração que enxerga o ser humano de forma indissociável. Se assim não fizer, poderá ser submersa por todo esse “mar do progresso” e não sobreviverá às questões do futuro e este futuro não mais pertencerá à psicossomática, segundo Campos. (2008, p.132). 13 Considerações Finais Constatou-se que, através dos anos, a sociedade trouxe juntamente com a evolução dos seus variados campos também a ampliação das já diversas enfermidades provenientes dos sentimentos e emoções vivenciadas por cada indivíduo no decorrer de sua existência. Neste contexto, este trabalho pretendeu analisar a relação entre mente e corpo com destaque para o desenvolvimento da psicossomática na atualidade. Ao longo da história da Psicossomática, principalmente do fim do século XIX e início do século XX, em especial com o advento da ciência e das novas tecnologias, a forma de pensar sobre a somatização mudou por não mais ter como base a divisão mente/corpo, deixando de lado essa dualidade para se embasar na totalidade do ser humano, trabalhando, assim, para a compreensão de parte pelo todo. Contudo, ainda estamos longe de chegar a um conceito que una as várias disciplinas e classificações que compõem a Psicossomática, pois o conceito engloba inúmeras formas de expressão dificultando um olhar definitivo sobre ela. Todo ser humano, como único e singular, vivencia ininterruptamente inúmeros sentimentos e emoções e as consequências trazidas por estas emoções são distintas e variáveis. Neste sentido o estudo da psicossomática é de fundamental importância para fazer frente aos vários sintomas de adoecimento que possam surgir de forma isolada. Entende-se, portanto, que há muito que ser explorado e descoberto neste campo denominado psicossomática, ainda mais com o fato das constantes mudanças na forma do homem se relacionar com o mundo na contemporaneidade e as interações estabelecidas por ele dentro do meio em que está inserido. Partindo, então, deste pressuposto, compreende-se que cabem mais estudos sobre o homem e as evoluções das doenças, dos relacionamentos, do adoecer, com a finalidade de entender ou, ao menos, tentar antecipar para onde caminharemos dentro deste tão amplo campo de pesquisa relacionado à complexa relação entre mente e corpo. 14 Referências CAMPOS, E. P. Aspectos psicossomáticos em Cardiologia. In: MELLO FILHO, J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, p.127 - 134,1992. CAMPOS, E. P. Psicossomática Manhã. Revista da AssociaçãoBrasileira de Medicina Psicossomática. Medicina Psicossomática Ontem, Hoje e Amanhã. Recife, vol 7, nº 1/2, p. 126-133, 2008. CASETTO, S. J. Sobre a importância de adoecer: uma visão em perspectiva da psicossomática psicanalítica no século XX. Psyche, São Paulo, v. 10, n. 17, p. 121-142. jun. 2006 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 11382006000100008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 06 set. 2012. 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