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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA ENGENHARIA DE ALIMENTOS AGRONEGÓCIOS 2016.01 PORTIFÓLIO DE AGRONEGÓCIOS 2016.01: “A DINÂMICA DO AGRONEGÓCIO, ATORES DO CENÁRIO AGRÁRIO BRASILEIRO E PERSPECTIVAS EMPREENDEDORAS PARA O CAMPO” LUCAS SIMÕES DUARTE BAGÉ, JULHO DE 2016 LUCAS SIMÕES DUARTE PORTIFÓLIO DE AGRONEGÓCIOS 2016.01: “A DINÂMICA DO AGRONEGÓCIO, ATORES DO CENÁRIO AGRÁRIO BRASILEIRO E PERSPECTIVAS EMPREENDEDORAS PARA O CAMPO” Portfólio referente à disciplina de Agronegócios, componente curricular eletiva do curso de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA/ Campus Bagé. Professora ministrante: Miriane Lucas Azevedo Bagé, julho de 2016. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 2. A CADEIA DO AGRONEGÓCIO ....................................................................... 2 3. “QUALIDADE NA PRÁTICA: MITOS E VERDADES” ................................ 6 4. “ EMPREENDEDORISMO ALÉM DA PORTEIRA” ...................................... 7 5. “OLIVICULTURA COMO ALTERNATIVA DE RENDA NA METADE SUL DO RIO GRANDE DO SUL” .................................................................... 11 6. VII ESTÁGIO INTERDISCIPLINAR DE VIVÊNCIA . .............................13 7. CONCLUSÃO................................................................................................... 18 ANEXOS ............................................................................................................19 1 1. INTRODUÇÃO Na disciplina de agronegócios 2016.01, propôs-se, através da confecção de um portfólio de conceitos e análises do agronegócio brasileiro, uma forma que instiga o aluno a não só estudar esse cenário, mas também analisá-lo criticamente. Na primeira seção deste trabalho busca-se conceituar 1 e discutir alguns fatores que influenciam na dinâmica do agronegócio. As seções seguintes são organizadas por tópicos abordados em palestras propostas nesta disciplina. A partir destes, desenvolvem-se pesquisas que possibilitem um melhor entendimento e explorem discussões críticas quanto ao tema em questão. A primeira palestra “Qualidade na Prática: Mitos e Verdades”2 em grande parte baseada na metodologia do livro “O Monge e o Executivo” reflete princípios de liderança, mediação de conflitos e gerência interna que refletem na produtividade e qualidade dos serviços oferecidos por uma empresa e no bem estar do grupo. A palestra “Empreendedorismo além da porteira”3 apontou a cultura empreendedora como a „via‟ de desenvolvimento dos produtos do campo. Com base nisso, apresentou um panorama geral do agronegócio. A palestra “Olivicultura como Alternativa de Renda na Metade Sul do RS”4 apresentou um cenário extremamente favorável de desenvolvimento dessa cultura para a Região Campanha em termos de condições edafo-climáticas e econômicas. A palestra “VII Estágio Interdisciplinar de Vivência”5 apresentou um panorama do projeto popular pautado pelos movimentos sociais. Ainda, o principal enfoque foi sensibilizar o jovem para mudar a realidade e repensar o papel da universidade. 1 Com base em aulas introdutórias e atividades propostas em sala de aula. 2 Palestra realizada no dia 21 de março de 2016. O palestrante Rodrigo Santos é consultor na empresa Koncepto Consultoria; bacharel em Direito; pós-graduado em Gestão da Administração Pública; pós-graduado em Direito Notarial e Registral; possui experiência em organizações no ramo de serviços; de atuação em Programas da Qualidade; auditoria em Premiações e Certificações; consultoria, com enfoque na área notarial e registral. 3 Palestra realizada no dia 28 de março de 2016. Foi ministrada pelo professor Eduardo Mauch Pereira: Economista da Universidade Federal do Pampa; Professor do Instituto de Desenvolvimento Educacional Alto Uruguai (IDEAU)/Campus Bagé/RS; Consultor e Palestrante. 4 Palestra realizada no dia 11 de abril. O palestrante, Emerson Menezes, é Engenheiro Agrônomo; Coordenador do Projeto Olivais do Pampa / Prefeitura Municipal de Bagé 2 2. A CADEIA DO AGRONEGÓCIO 2.1. Primeiros Conceitos 6 O agronegócio foi conceituado a partir de dois autores norte-americanos, John Davis e Ray Goldberg, que lançaram o termo conhecido como agribusiness nos EUA. Os autores apresentaram o agronegócio de forma sistêmica e integrada e não de forma isolada como até então a agricultura e a pecuária eram tratados (NOVAES et al., 2010). Entende-se por agribusiness como um sistema integrado numa cadeia de negócios, pesquisas, estudos, ciência tecnologia, etc., desde a origem vegetal, animal até produtos finais com valor agregado. É uma prática agrícola que se fundamenta na propriedade latifundiária e na prática de arrendamentos. Nesse cenário, podem se identificar diversos atores na cadeia do agronegócio: os fornecedores de bens e serviços para a agricultura; os produtores rurais; os processadores; os transformadores e distribuidores; e outros envolvidos na geração de fluxo dos produtos agrícolas até o consumidor final (OLIVEIRA; GRANERO, 2008). 2.2 Fatores e Relações entre Demanda, Consumo e Produção de alimentos 2.2.1. A demanda por alimentos. Demanda é a quantidade de um bem ou serviço que um consumidor deseja e está disposto a adquirir por determinado preço e momento. Em um cenário em que a população de vários países emergentes tem aumentado o seu poder de compra e de aumento populacional (em 2030 serão de 8.321 bilhões de pessoas, conforme projeções do Fundo de Populações das Nações Unidas), as projeções são de demanda crescente. No anexo 05, pode se visualizar a projeção de demanda e aumento de área plantada em relação às principais commodities consumidas no mundo. Cultivos estes que representam faixa considerável das áreas de cultivo do mundo. Além desse espectro, há grande procura por alimentos que consomem mais recursos para serem produzidos, como as carnes (OLIVEIRA, 2009; SNA, 2014). 5 Palestra realizada no dia 30 de maio. Com base na experiência de estágio homônimo deste presente autor. 6 Subcapítulo referente à aula “O setor do Agronegócio no Brasil” de 14 de março de 2016. 3 2.2.2. Consumidor neste mercado a. Os Países ricos tem consumo de mais de 75% da produção de alimentos b. Estados de SP, RJ consomem mais de 50% c. Os 10 estados mais ricos do Brasil consomem 80%. As famílias mais ricas têm uma composição de consumo de proteínas animais, frutas e hortaliças. As famílias mais pobres sofrem com a desnutrição e qualidade dos alimentos, portanto destinam o consumo a alimentos com prioridade aos energéticos em primeiro instancia e posterior as proteínas animais, frutas e hortaliças. Assim, o desenvolvimento econômico altera a composição da demanda e tem grande influência sobre a demanda de alimentos. Quanto aos alimentos exportados o que mais conta e a demanda externa. (ALVES E SOUZA, 2004) 2.2.3.O papel do preço Tanto o impacto da renda disponível, como o acréscimo da população, se refletem integralmente no crescimento da demanda, se os preços permanecerem constantes. Se os preços crescerem, porque a oferta não respondeu adequadamente, pode ocorrer que a demanda não cresça, dependendo da magnitude relativa da elasticidade, preços e renda. (ALVES E SOUSA, 2004). Os alimentos costumam serem bens inelásticos, ou seja, a elevação de preços impactará de forma acentuada na renda, principalmente dos trabalhadores de classe mais baixa que são os que mais sofrem em relação ao aumento do custo. 2.2.4. Fatores que influenciam na demanda e quantidade demandada. As principais determinantes da demanda de um indivíduo e a influência destas nas quantidades demandadas e no perfil da demanda. A principal variável é o preço do bem ou serviço. O modelo da demanda prevê que, quando o preço de um bem se eleva e todas as demais variáveis se mantêm inalteradas, a quantidade demandada desse bem diminui. Por outro lado, quando o preço de um bem se reduz e todas as demais variáveis se mantêm inalteradas, a quantidade demandada desse bem aumenta (WAKIL; MIELE; SCHULTZ, 2010). 4 Quando a demanda é maior que a oferta, o resultado é a elevação de preços. Os produtos agrícolas estão expostos a diversos riscos e incertezas, inerentes à própria atividade rural, que impactam diretamente os custos de produção não somente das propriedades agropecuárias, mas de todos os agentes que integram as cadeias produtivas (fornecedores de insumos, propriedades rurais, indústria, atacado e varejo). Esses riscos estão relacionados às especificidades da atividade rural e podem ser divididos em três tipos: riscos relacionados à produção; riscos relacionados ao crédito; riscos relacionados aos preços: oriundos dos movimentos de preços no mercado devido aos deslocamentos da oferta e/ou da demanda dos produtos agrícolas (WAQUIL, MIELE, SCHULT, 2010). 2.2.5. Produto substituo e complementar. A definição dos produtos e serviços que compõem um mercado depende da maneira como se deseja analisá-lo. Para uma análise abrangente (por exemplo, do mercado de alimentos), é necessário agregar (ou incluir) diferentes tipos de produtos em uma mesma categoria (grãos, carnes, frutas, legumes, etc.). Para uma análise restrita, é necessário diferenciar os bens e serviços em categorias bem específicas (por exemplo, cortes especiais de carne suína em embalagem para uma pessoa). De forma geral, as categorias de análise agregam produtos e serviços que mantêm certo grau de similaridade entre si (possibilidade de substituição). 2.3. O consumo de alimentos O gasto com alimentação, apesar de perder importância nas últimas décadas, ainda é o segundo mais importante na participação das despesas das famílias. Tem sido uma diminuição do consumo domiciliar per capita de determinados alimentos tradicionais e crescimento de outros, tais como frutas e alimentos preparados 5 No caso da renda, o aumento pode estar relacionado a uma menor probabilidade de aquisição para arroz e açúcar. Para feijão e farinha de mandioca, os coeficientes da renda também são negativos, porém, não-significativos estatisticamente. Nos demais produtos, o aumento da renda causa aumento na probabilidade de aquisição do produto. m relação às variáveis que captam as diferenças regionais, a maior. Os resultados mostram, por exemplo, que o aumento da renda tende a elevar o consumo domiciliar de produtos como queijos e carne bovina de primeira e diminuir o consumo de produtos básicos, como arroz e feijão. O conhecimento das diferenças de comportamento entre níveis de escolaridade, raça, e gênero do comprador é também de grande relevância para o planejamento das estratégias de marketing para os gêneros alimentícios. Os padrões de consumo alimentar de diversos países têm sofrido intensas e rápidas modificações nas últimas décadas. (WAQUIL, MIELE, SCHULT, 2010). 1 6 3. “QUALIDADE NA PRÁTICA: MITOS E VERDADES” A palestra abordou sobre certificação da qualidade no Brasil, conceituado no Mundo por ter um dos melhores sistemas de gestão da qualidade 7 . A palestra tem um forte cunho motivacional, e em grande parte se baseia no método do livro “O monge e o executivo”, focado na formação de lideranças: um bom líder saber ouvir e intermediar conflitos e se relacionar com os membros da empresa. Enfatiza também a importância de trabalharmos em projetos que nos trazem grande realização pessoal, paixão. Requisitos para a qualidade e excelência em uma empresa. Eis alguns ensinamentos do Livro (anexo 08): - a diferença entre poder e autoridade, e o conceito de liderança; - o que você faz e não o que você sente, ou seja, você pode odiar uma pessoa mais pode agir com amor. -ambiente de trabalho tem que ser saudável para estimular os funcionários. - quando nos comprometemos a concentrar atenção, tempo, esforço e outros recursos em alguém ou algo durante certo tempo, começamos a desenvolver sentimentos pelo objeto de nossa atenção. - recompensa da alegria é algo que traz satisfação interior e convicção de saber que você está verdadeiramente em sintonia com os princípios profundos e permanentes da vida. - a liderança, é possível encontrar dois elementos comuns em todas elas: por um lado é um fenômeno de grupo e, por outro, envolve um conjunto de influências interpessoais, exercidas num determinado contexto através de um processo de comunicação humana com vista à conquista de determinados objetivos - o líder de hoje é muito diferente do de antigamente, pois ele deve ser muito mais um sábio do que um técnico, deve acompanhar todas as mudanças. “Liderança é você inspirar e influenciar o outro para ação. É influenciar pessoas com entusiasmo e trabalho para o bem comum”. 7 O Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) é a estrutura organizacional criada para gerir e garantir a Qualidade, os recursos necessários, os procedimentos operacionais e as responsabilidades estabelecidas. 7 4. “ EMPREENDEDORISMO ALÉM DA PORTEIRA” 4.1. Tópicos sobre perfil empreendedor Para introduzir como um profissional desenvolve um perfil empreendedor, o palestrante apontou algumas questões-chave. De forma sucinta, destacam-se algumas: a. “O que adianta ser competitivo sem ser competente?” Para conseguir atuar em certa área, além de obter conhecimento teórico e prático, o profissional precisa desenvolver habilidades mínimas como: capacidade de trabalhar em equipe; capacidade de comunicação verbal e escrita, ter capacidade de sugerir soluções para os problemas do(a) negócio/empresa; entre outras. b. “Ser empreendedor é correr riscos calculados” Conhecer os recursos e habilidades necessários para participar de um mercado inclui também a capacidade de gerir os riscos inerentes a esse mercado. Uma das ferramentas para analisar a viabilidade de um negócio é desenvolver um Plano de negócios, por exemplo. Outros recursos de gestão podem ser aplicados. c. “Não sejam (parte da) geração T” 8 A falta de curiosidade e de senso crítico é um dos principais entraves intelectual para o profissional da geração “T” conseguir reconhecer/analisar erros e apontar soluções. Possivelmente, em reflexo à alta velocidade de informações disponíveis, muitas pessoas não refletem sobre algum assunto/conceito, apenas o reproduzem.8 Novo conceito de geração, a “T”, de “testemunha”. São pessoas que sabem tudo o que acontece, mas não têm idéia do por quê. Ela não se delimita a uma faixa etária como as outras. O que a define é a atitude de apenas assistir à vida, sem ser capaz de desenvolver um senso crítico (Anexo 09). 8 4.2. Tópicos citados sobre a cadeia do agronegócio “Agronegócio é a grande saída para o Brasil” Abrindo esse tópico, uma frase dita pelo palestrante. Para verificar essa máxima, fez a leitura do artigo “Desempenho do agronegócio em 2015”, Anexo 10. Em 2015, o Brasil registra perspectiva de expansão anual de 4,4 % nas culturas agrícolas pesquisas pelo CEPEA 9 , em destaque para a soja e o milho, as duas culturas mais produzidas no Brasil. O cenário da economia internacional não é favorável à balança comercial brasileira. O crescimento mundial mais lento, principalmente da China (principal parceiro econômico do Brasil), e da elevação de juros dos EUA. A configuração de preços de commodities estagnados ou em queda, e o dólar em alta afetam diretamente no poder de venda dos produtos agrícolas brasileiros. A desvalorização do Real ajudou o setor exportador, ao atenuar a forte queda dos preços internacionais. Mas, por outro lado prejudicou indústrias brasileiras que importam grande parte da sua matéria-prima, como a indústria têxtil e vestuarista. Medidas macroeconômicas como essa, focando em conter o grau de risco do país, somado a instabilidade política e menos incentivos governamentais tem desaquecido a economia. Empresários e produtores com menos crédito, como é o caso do atraso do Plano Safra 10 2015/16 tem cada vez menos poder de investimento. O setor do agronegócio ainda é o carro chefe da economia brasileira, com perspectiva de queda bem menos esperada do que para o total da economia. 9 Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada ESALQ/USP. 10 Informações quanto ao Plano agrícola e pecuário 2016/2017 estão disponíveis no anexo 11. 9 O palestrante cita que os segmentos “após a porteira” são determinantes na formação de preço da produção de alimentos. a. Maiores „players‟ do mercado internacional Muitas vezes, os maiores produtores de matérias-primas não obtêm a maior fração do lucro da cadeia alimentícia. Exemplos são a Alemanha, uma das maiores exportadoras mundiais de produtos de café. O anexo 12, uma reportagem feita pelo Ministério da Agricultura, aborda mais a fundo essa questão. b. Matriz produtiva do Brasil “Soja e minérios: já não „conseguimos fazer preço‟(agregar valor) nisso” “Eu não tenho dúvida que o Brasil, muito em breve, terá que rever sua matriz produtiva. (...). E que terá que apoiar os pequenos produtores” A soja como relatado anteriormente tem aumentado sua produção e área plantada, por ser vista como puma cultura rentável e de preço apreciável. De fato é, o problema é a adoção de um comércio prioritário de grão in natura em detrimento dos subprodutos farelo de soja e óleo de soja, de preços mais estáveis e de maior valor agregado. O País passa a viver num cenário mais arriscado, pois concentra suas vendas num produto de grande risco de preço e em um único mercado comprador, a China. Como fica evidente no artigo “Mudanças na pauta de exportações e a primarização do complexo soja” (Anexo 13). para não só essa cultura, mas para os produtos agrícolas em geral, tem ocorrido um processo de desindustrialização e primarização das exportações. Isso é resultado da mudança nas políticas das décadas de 1970 e 1980, o objetivo das políticas era estimular o processamento da soja e a exportação de farelo e óleo por meio de impostos diferenciados, subsídios e crédito. Porém, na década de 1990, houve mudança no foco das políticas, especialmente com a implantação da Lei Kandir 11 , em 1996, e as vantagens para a exportação de produtos processados foram eliminadas. 11 LC nº 87/96: isenta de impostos às exportações de bens primários e de semimanufaturados. 10 A reportagem “Os prejuízos com a Lei Kandir” (Anexo 14) explicita o ônus que foi a implantação desta lei para a matriz econômica, na perda de recursos na forma de impostos e perda de divisas. Ainda nesse aspecto faz um breve panorama histórico da política entreguista 12 adota desde a década de 50. c. Agentes comerciais e Rendimento ao produtor “Se conseguir retirar os atravessadores, remuneramos melhor o produtor (...)”. A venda da produção in natura ou pouco processada é geralmente vendida a atravessadores, atacadistas, feiras livres, supermercados, ou mesmo passa pelas bolsas de mercadorias. Setores que muitas vezes engessam o retorno financeiro do produtor. d. Agro-industrialização e Organizações de produtores Uma das formas do produtor agregar valor aos seus produtos pode ser por via da agroindústria. As agroindústrias tem sido uma alternativa de reter para o produtor uma margem maior de lucro, que iria para os atravessadores. Investimento esse, que necessita geralmente de recursos humanos com certo grau de conhecimento técnico. No caso de pequenos e médios produtores, a organização na forma de associações ou cooperativas pode melhor atender essa necessidade. Ainda, a agroindústria familiar tem forte presença nesse cenário. Só para ilustrar essas relações ao cenário do RS, a reportagem “Cooperativas agrícolas gaúchas faturaram R$ 22 bi em 2015” (anexo 15): (...) o avanço das cooperativas agrícolas reflete, pelo menos em parte, os investimentos em infraestrutura, industrialização e modernização realizados pelos grupos radicados no Estado. 12 Consiste na desnacionalização sistemática da indústria, mas especialmente de setores-chave da indústria de produção, entre os ramos mais dinâmicos, entregando o controle dos mesmos a capitais estrangeiros. Entreguismo é uma característica estrutural da sociedade de elite mas sua intensidade pode passar por variações conjunturais (um período particularmente marcado pelo entreguismo foi o que seguiu o impeachment de Collor). 11 5. “OLIVICULTURA COMO ALTERNATIVA DE RENDA NA METADE SUL DO RIO GRANDE DO SUL” O cenário para o desenvolvimento da olivicultura no RS se mostra bastante favorável sob diversos aspectos: 1. Tópicos sobre Mercado externo. a. Países produtores na América Latina: Argentina, Brasil, Uruguai e Chile. Com destaque para: a Argentina na produção de azeitonas de mesa. A produção é exclusivamente manual. Realiza uma política eficaz de lobby em defesa de seu produto e de marketing; e o Chile por executar uma produção altamente tecnológica. b. Países produtores de destaque na Europa: Espanha e Itália. Na Espanha, a produção é feita em médias e grandes propriedades, e o beneficiamento é feito por poucas indústrias. Na Itália, a produção é feita em pequenas propriedades. Há muitas indústrias beneficiadoras. O que pode ser um fator que desfavorável de qualidade, ao ser gerado muito estoque de produção _ fator desfavorável, pois o azeite só pode ser estocado por até um ano. Por esse e outros fatores comerciais, a Itália compra azeite in natura da Espanha e Norte da África e revende com o selo italiano. 2. Oportunidade ímpar para a Região Campanha: a. O clima, a geografia e a exposição solar ideal favorecem o plantio de oliveiras e produção de um azeite de excelente qualidade. Ainda, coma possibilidade de lançar produto no período da entressafra europeia; b. Características de beneficiamento. Extração do azeite extra-virgem só pode ser feita mecanicamente; É proibido o uso de meios químicos e físicos. c. O mercado brasileiro é enorme. 99% do azeite é importado; 80% dos produtos do mercado atual são adulterados. Também é grande importador de azeitona de mesa; d. Produto de alto valor comercial Podem ser desenvolvidos produtos a base de azeite para a indústria farmacêutica e outras; Mercado vai além da alimentação Há potencial para promoção de turismo rural; integração com pecuária; e. Associação com outras culturas; f. Desafios. No Brasil necessita-se de: definição de defensivos agrícolas específicos para essa cultura; definição de normas para a produção e comercialização de mudas; um sistema contra fraudes; desenvolvimento de agroindústrias para o 12 aproveitamento de resíduos da extração; mais pesquisas e conhecimento científico Mais pesquisas em sintonia com a olivicultura; Valorização e capacitação da mão-de-obra; Ainda em relação a fiscalização. g. Dos fatores de implantação e rendimentos. O custo para instalação varia em média 10 000 R$. Em torno de 1 ha (hectare) comporte 330 plantas com rendimento de 6000 kg de azeitona. Supondo uma venda de 2,50 R$ o quilo, apresenta um lucro bruto de 10000 R$/ano. E um gasto de 2000 R$. h. Indústrias no RS. No RS já são seis indústrias localizadas em Bagé, Pinheiro Machado, Cachoeira e Caçapava, geridas por 10 sócios proprietários. Algumas notícias informam como cadeia tem se desenvolvido: (...) A empresa Frutitec de Bagé, inicialmente no ramo de assistência técnica, tem crescido com a comercialização de mudas de oliveira. "Com a entrada da olivicultura deu um salto, pois é uma cultura que muitos queriam produzir há muito tempo e só hoje se torna uma realidade pela atuação do setor de pesquisa que viabilizou o cultivo no nosso país", destaca comentando que a procura por informações é grande, principalmente em relação à obtenção de crédito para investir na cultura, o que se traduz em um bom número de projetos que já estão em andamento. Questionado sobre o principal desafio para fomentar o setor, Marcelo Perrone entende que a aprovação de linhas de crédito para a cultura seria importante para o ingresso de mais produtores à atividade. (Anexo 16). No cenário das pesquisas, o setor tem firmado amplas parcerias. Na UNIPAMPA, o projeto Olivais do Pampa tem ganhado recursos que estão viabilizando a realização de várias linhas de pesquisa como a secagem de resíduos de caroço, visando o reaproveitamento de resíduos. A construção do laboratório próprio para análises da qualidade e desenvolvimento de produtos demonstra o potencial do setor. A notícia, conforme anexo 17 “Argos13 assina mais um convênios técnico/científico internacional” demonstra o reconhecimento internacional de uma Entidade e setor forte. (...) “A ação promove uma interação de informações no sentido de ampliar conhecimento e, ao mesmo tempo, interagir com a olivicultura internacional o trabalho científico e de pesquisa e ao mesmo tempo oferecer condições para os associados a oportunidade de ter segurança e retorno aos seus investimentos.” 13 A Associação Rio-Grandense de Olivicultores é uma das Entidades fundadoras e conveniadas da REDE dos países Iberoamericanos para Estudos do “Olivar e Aceite de Oliva”. Estão dentro da REDE Entidades dos seguintes países: Espanha, Argentina, Uruguai, Chile,México, Portugal, Peru e a ARGOS do Brasil . 13 6. ESTÁGIO INTERDISCIPLINAR DE VIVÊNCIA 6.1. VII Estágio Interdisciplinar de Vivência/RS “A cabeça pensa onde os pés pisam” 14 O Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) representa hoje um importante processo de reflexão e elaboração crítica dos objetivos da universidade. Nessa linha, propõe ao estudante questionar o projeto de sociedade vigente, suas possíveis contradições e contribuições para um desenvolvimento social harmônico e responsável. A VII edição do EIV/RS foi organizada pelo Levante Popular da Juventude 15 /RS e contou com a colaboração ativa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MBA) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Ocorreu em fevereiro deste ano na cidade de Santa Cruz do Sul/RS (1ª etapa) em espaço e estrutura cedidos pelo MPA. O método pedagógico deste estágio segue uma adaptação do método sistematizado pelo Instituto de Educação Josué de Castro e utilizado nas escolas do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Mais informações estão disponíveis no anexo 18, Manual do Estagiário. Em um primeiro momento, o estágio é destinado ao estudo e debate de temas como conjuntura e capitalismo, questão energética e o papel da juventude sob a ótica da luta dos movimentos sociais do campo em contraste ao modelo do agronegócio. Tais leituras estão disponíveis no anexo 19, Caderno de Textos VII EIV RS. 14 Na década de 1970 intensificou-se, no Continente, o “trabalho de base” com setores populares, assessorados por equipes de educação popular empenhadas em “conscientizar” camponeses, operários e pessoas de baixo poder aquisitivo. O verbo implicava tornar o educando “consciente” politicamente, ou seja, crítico ao sistema capitalista, às ditaduras, à opressão social e, ao mesmo tempo, adepto do projeto de construção de uma sociedade socialista. Este, então, o perfil de um militante “conscientizado”. Aos poucos, percebeu-se que não basta “conscientizar”, dotar o militante de noções políticas de matiz crítico. A cabeça pensa onde os pés pisam. Ainda que se adquira “consciência” dos problemas sociais e dos desafios políticos, o risco de idealismo é superado se o militante mantém vínculos orgânicos com os movimentos sociais. Sem prática social não há teoria que transforme a realidade (Elogio da conscientização, Frei Betto, 2006). 15 O Levante Popular da Juventude é uma organização de jovens militantes voltada para a luta de massas em busca da transformação da sociedade. Somos a juventude do Projeto Popular. A nossa proposta é organizar a juventude onde quer que ela esteja. Deste modo, nos organizamos a partir de três campos de atuação: Frente estudantil, territorial e camponesa (LPJ.org.br/QuemSomos.Net). 14 6.2. Movimentos Sociais: Conjuntura e Capitalismo contemporâneo Os movimentos sociais são criticados por supostamente defenderem em vários momentos a agenda dos governos lulo-petistas. Muito pelo contrário, a via campesina do Brasil tem plena consciência do abandono desses governos a agenda de esquerda e do projeto popular defendido pela via campesina. Cabe analisar que dentre todas as conjunturas políticas, essa foi a que mais se aproximou da agenda de esquerda. Durante o estágio, propôs-se a leitura seguida de palestra sobre conjuntura política e seu efeito sobre o projeto camponês. O texto lido, anexo 20, elaborado pelo cientista político André Singer retrata o ensaio desenvolvimentista no primeiro mandato de Dilma Rousseff, a tentativa de regulação dos juros e o retorno a medidas de austeridade e contração de investimentos. Dentre várias análises, destaca-se a que envolve a tentativa de combate às irregularidades do sistema financeiro: Faz uma importante análise sobre as políticas de reduzir os juros e forçar os spreads 16 para baixo, de modo a „dar fôlego‟ ao crescimento da economia. A análise segue observando as ações adotadas pelalinha neodesenvolvimentista como: redução dos juros; uso intensivo do BNDES 17 ; aposta na reindustrialização; desonerações; plano para a infraestrutura; reforma do setor elétrico; desvalorização do Real; o controle de capitais; e proteção ao produto nacional. Medidas que em síntese visavam combater “as armadilhas da alta taxa de juros e do câmbio sobreapreciado” na visão de Bresser-Pereira (...). Entretanto, (a presidente) pressionada por setores como os bancos, logo essas medidas são abandonadas, retornando-se a política monetária para segurar a inflação – senha da direção neoliberal. Entre as novas medidas o BC iniciava o de ciclo de alta de 16 Spread bancário é a diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que eles cobram ao conceder um empréstimo para uma pessoa física ou jurídica. No valor do spread bancário estão embutidos também impostos como o IOF e o CPMF. Nesse contexto, o termo inglês "spread" significa "margem".Essa margem financeira cobrada pelo banco e outras instituições financeiras, é um valor que varia de banco para banco e acresce à habitual taxa de juro cobrada pelo empréstimo.Para os bancos, quanto maior o spread, maior é o lucro nas suas operações. O spread bancário brasileiro é um dos mais altos do mundo, o que gera muitas críticas, uma vez que é um dinheiro que poderia estar fazendo girar a economia e não ser totalmente utilizado pelos bancos. 17 Fundado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo e, hoje, o principal instrumento do Governo Federal para o financiamento de longo prazo e investimento em todos os segmentos da economia brasileira. (BRASIL, BNDES.gov.br./A Empresa). Banco financiou 975 bilhões de reais em cinco anos e não divulga detalhes de operações devido ao sigilo bancário previsto em contratos (ver mais em Anexo xx, Sigilo em empréstimos do BNDES em xeque). 15 juros. Ao elevar a Selic, o BC apostava na contração, carreando recursos para os rentistas (...). Além do aumento dos juros, o corte no investimento público, a diminuição das restrições ao capital especulativo e as privatizações na área de transportes iriam pontilhando a volta atrás. Essa política contracionista incidiu perdas de investimento em políticas de desenvolvimento ao setor agrícola e a programas sociais. No artigo “Neodesenvolvimentismo no Brasil e os Impactos às Políticas Sociais“ (anexo 21), faz-se uma crítica sobre o modelo do neodesenvolvimentismo adotado pelos últimos governos : (...) o neodesenvolvimentismo como resposta a crise estrutural do capital propondo hoje uma agenda “diferente” para as demandas da reprodução da sociedade capitalista, seria um crescimento econômico com o desenvolvimento social. Em síntese, é uma falsa alternativa, pois não resolve os problemas estruturais da sociedade capitalista, muito menos atende as condições de trabalho e de reprodução social. Em relação à conjuntura internacional, os acordos de livre comércio afrontam a soberania nacional e podem afetar radicalmente o sistema de preço dos alimentos. De caráter claramente combativo às distorções e irregularidades do sistema capitalista, a via Campesina 18 desenvolve amplos debates e ações de luta no mundo. A reportagem “América do Sul: nova resistência ao ultra-capitalismo”, anexo xx, expõe esse cenário: (...) A pressão é para que o Mercosul ingresse em outra agenda de acordos comercias, dada a mudança de ambiente político nas duas principais economias do bloco, com a ascensão de Macri na Argentina e a crise de Dilma Rousseff no Brasil. A agenda propõe a entrada dos países no Acordo de Associação Transpacífico que abrange uma série de temas que extrapolam o comércio e institui uma espécie de arquitetura institucional supraestatal. Apenas representantes do setor empresarial, em especial lobistas de transnacionais, participaram das negociações, que não foram abertas a outros setores da sociedade, nem do Legislativo. Estabelecendo uma zona de livre- comércio que responde por 40% do comércio mundial, o TPP impede que os governos nacionais tenham autonomia para suas compras governamentais, adota parâmetros dos Estados Unidos para a questão de direitos autorais, amplia a duração das patentes farmacêuticas, subordina a legislação ambiental a interesses econômicos, entre outros aspectos. Além do TPP, há outros dois mega-acordos que os Estados Unidos estão promovendo em escala global com abrangência similar _ o Acordo sobre Comércio e Serviços (TISA) e o Tratado Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP). (...) Em troca de ampliar a venda de produtos agrícolas no mercado europeu, o Mercosul negocia a abertura do setor federal de compras governamentais, reduzindo a possibilidade de utilizá-las em políticas públicas. Além disso, uma eventual redução de tarifas para produtos industrializados importados da Europa reforçaria a tendência de reprimarização da economia, em especial no caso brasileiro, maior parque industrial do Mercosul, aprofundando um modelo econômico lastreado em commodities, com severas repercussões sócio-ambientais. 18 A Via Campesina é um movimento internacional que coordena organizações camponesas de pequenos e médios agricultores, trabalhadores agrícolas, mulheres rurais e comunidades indígenas e negras da Ásia, África, América e Europa. Uma das principais políticas da Via Campesina é a defesa da soberania alimentar. 16 6.3. A dialética da Reforma Agrária 6.3.1. Reforma Agrária: Um direito e uma Política de Desenvolvimento A história da reforma agrária brasileira se inicia, no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando a reivindicação pelas “reformas de base” passou a fazer parte das discussões populares. Se destacando em meio às demais, a reivindicação pela reforma agrária, exigia a extinção do latifúndio e a melhoria das condições de vida no campo. Época também em que o Estatuto do Trabalhador Rural levanta a necessidade de afirmação dos direitos dos trabalhadores 19 (Anexo 19, Caderno de Textos VII EIV/RS). Em alternativa a projetos de desenvolvimento liberal ou desenvolvimentista, e em contraposição a políticas entreguistas e imperialistas adotados por diversos governos anteriormente, os movimentos sociais propuseram um Projeto Popular 20 para o Brasil. Este discute temas como Cultura, Reforma agrária, Combate à Violência Sexista, Democratização da Comunicação, Saúde Pública, Desenvolvimento Diversidade étnica, Sistema político, Soberania Nacional e Popular (Mais detalhado em "As Bandeiras do MST e o Projeto Popular para o Brasil, Anexo 22). Neste projeto, a bandeira da Reforma agrária ainda é a mais destacada. “(...) É preciso realizar uma ampla Reforma Agrária, com caráter popular, para garantir acesso à terra para todos os que nela trabalham. Garantir a posse e uso de todas as comunidades originárias. Estabelecer um limite máximo ao tamanho da propriedade de terra, como forma de garantir sua utilização social e racional. É preciso organizar a produção agrícola nacional tendo como objetivo principal a produção de alimentos saudáveis, (...), aplicando assim o princípio da soberania alimentar. A política de exportação de produtos agrícolas deve ser apenas complementar, buscando maior valor agregado possível e evitando a exportação de matérias-primas.” 19 O Estatuto do Trabalhador Rural (Lei nº 4214, de 2 demarço de 1963), o Estatuto da Terra (Lei 4504, de 30 de novembro de 1964) e a Constituição Federal de 1988, entre diversas outras medidas formais, abriram espaços legais para a afirmação dos direitos dos camponeses, das famílias de posseiros e dos trabalhadores rurais, e ampliaram os mecanismos legais de acesso formal à terra, em particular pela reforma agrária e pela regularização fundiária dos camponeses posseiros. 20 Ver mais em “A contribuição do pensamento de Paulo Freire para a construção do projeto popular para o Brasil” (Anexo 23), que retrata a educação popular (um movimento do final da década de 50 e início da de 60 (movimentos de Igreja, educação de jovens e adultos, movimentos sociais urbanos e rurais). 17 6.3.2 Uma outra visão da questão agrária A questão agrária no Brasil, remetida quase que prontamente por grande parte das pessoas à reforma agrária, abrange uma série de interpretações e vieses. Este subcapítulo se propõe a analisar até que ponto a reforma agrária efetivamente atende as suas bandeiras, ao expor a questão agrária na visão de Zander Navarro 21 , pesquisador da EMBRAPA, com texto adaptado do capítulo “Por que não houve (e nunca haverá) reforma agrária no Brasil?" do livro “O Mundo Rural no XXI: A Formação de um Novo Padrão Agrário e Agrícola”. p. 702-714. EMBRAPA: 2014. Ei-lo: "Por que não houve (e nunca haverá) reforma agrária no Brasil?" (...) O debate intelectual e político sobre a questão agrária: Há aqui uma diferença crucial que precisa ser explicitada: é somente no âmbito das análises à esquerda que a questão agrária, ao tentar dissecar os elementos sociais, políticos e econômicos do mundo rural ante a expansão capitalista, pretende oferecer uma interpretação (teórica e política) que seja primordialmente de crítica ao próprio capitalismo – e que supõe a sua superação. Durante cinco mandatos presidenciais, vigentes entre 1994 e atualmente, foi ampla a ação governamental, e aproximadamente 1,26 milhão de famílias foram assentadas até o final de 2012, de acordo com dados oficiais. Em termos estritamente conceituais, jamais existiu, de fato, qualquer processo de reforma agrária no Brasil. Tivemos em nossa história agrária apenas programas governamentais de aquisição de terras para a posterior redistribuição a grupos de famílias rurais pobres e interessadas nos assentamentos. A resposta é relativamente simples, necessitando apenas que se observem as mudanças operadas no Brasil no período contemporâneo, bem como diversas tendências já em andamento, internamente e nos mercados internacionais. Especialmente em face da observação anterior, nenhum processo de redistribuição de terras, seja qual for, conseguirá alterar mais a realidade de uma estrutura fundiária concentrada e o seu atual padrão bimodal, aspectos estruturais que permanecerão como uma marca distintiva do mundo rural nas décadas vindouras. O atual programa nacional de reforma agrária teria assentado pouco mais de 1 milhão de famílias, sem que o índice de Gini para medir a concentração fundiária sequer tenha se alterado (ainda que minimamente) em qualquer das regiões rurais brasileiras. Alguma dimensão de conflito social deverá permanecer, mas vai se tornando residual com o passar do tempo, reduzindo-se à esfera trabalhista. Conflitos entre o governo federal e interesses setoriais mais gerais (como o endividamento agrícola) ou mais específicos, como quedas de preços ocasionais de alguns produtos. Passivos históricos, como a apropriação fraudulenta da terra em diversas regiões e em épocas distintas, a essa altura, não têm a menor possibilidade política de que sejam revistos, tendendo a ser definitivamente legalizados". 21 Engenheiro-agrônomo, doutor em sociologia, pesquisador da Embrapa Estudos e Capacitação, Brasília, DF. 18 7. CONCLUSÃO As palestras sobre “Qualidade na prática” e “Empreendedorismo além da porteira” reforçam a característica de liderança como principal veículo de um negócio bem sucedido. Ainda, a segunda palestra mostrou a necessidade de se repensar a matriz produtiva do Brasil, dependente de um sistema financeiro nacional e internacional que „puxa‟ preços de produtos básicos de consumo para baixo. Sobre olivicultura, o protagonismo de produtores de médio e grande porte no desenvolvimento das agroindústrias na região mostra o dinamismo do setor. Ainda que haja desafios para essa cadeia como a falta de pesquisas acadêmicas sobre a cultura e aproveitamento de subprodutos, e da regulação de um sistema de fiscalização a fraudes. A palestra sobre o EIV demonstrou que em uma democracia é indispensável uma participação ativa dos movimentos camponeses no processo de definição de políticas agrícolas e alimentares. A transparência da informação, a liberdade de expressão e o direito de se organizar são as condições indispensáveis dessa participação. Sobre a questão da soberania nacional, o governo precisa rever a política de eliminação das vantagens tributárias para a exportação de produtos processados, de forma a não estimular o processo de desindustrialização que tem afetado setores da economia brasileira, em destaque o agrícola. O desafio de manter o pequeno produtor no campo não passa apenas por reformas que garantam o seu acesso à terra. Se faz necessário aliar reforma agrária com acesso a extensão rural e conhecimento técnico, e políticas de crédito para a industrialização na pequena propriedade. 19 ANEXOS ANEXO 01. Análise dos fatores críticos de sucesso do agronegócio brasileiro. 20 ANEXO 02. O papel do marketing no agronegócio canavieiro da região de Franca/SP 21 ANEXO 04. 22 ANEXO 05. Projeção de demanda de alimentos pela população mundial em 2020. Fonte: http://www.valor.com.br/sites/default/files/antonio_arantes_licio.pdf 23 ANEXO 06. 24 ANEXO 07. 25 ANEXO 08. 26 ANEXO 09. 27 28 ANEXO 11. 29 ANEXO 12. Foto: Ministério da Agricultura Alemanha, ao exportar café, dá uma lição ao Brasil, diz Mangabeira “Vocês sabem quais são os dois países no mundo que exportam produtos de café de maior valor agregado? São a Alemanha e a Suíça. E lá não se planta café, são eles que lucram mais com isso e não têm nenhum pé de café por lá”. A provocação foi feita pelo ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira, em encontro com empresários de Rondônia. Entusiasmado com a performance da cafeicultura rondoniense, conhecedor do potencial desse estado do Norte, e sabendo que ele é o segundo maior produtor de café Conilon (veja comparativo abaixo) no país, o ministro explicou porque, diferentemente doBrasil, a exportação ganha vapor em países europeus e por isso quer jogar luz no melhor aproveitamento dos produtos agrícolas brasileiros. Segundo ele, isso acontece com economias policêntricas densas em conhecimento. “Então eles podem inventar, produzir e exportar aquelas cápsulas das máquinas de expresso, que agora são vendidas em todo mundo e que valem o múltiplo desse café rudimentar e de pouco valor agregado que nós exportamos. Essa é uma lição tremenda!”, enfatizou o ministro. Não se pode desprezar a estrutura da malha ferroviária europeia, o que representa uma vantagem comparativa em relação ao Brasil, que enfrenta problemas de logística, mas também deve-se lembrar que muito do valor agregado vem do marketing e da forma sagaz de fazer negócio. Pensar que nossos grãos saem crus daqui e que por lá, tomam forma de cápsulas, na fábrica da Suíça, gerando lucros múltiplos, nos faz perceber que o brasileiro precisa urgentemente rever os conceitos de suas matérias-primas valiosas e abundantes, porém, subaproveitadas mercadologicamente. 30 ANEXO 13. 31 ANEXO 14. 32 ANEXO 15. 33 ANEXO 16. 34 ANEXO 17. 35 ANEXO 18. 36 ANEXO 19 37 ANEXO 20. 38 ANEXO 21. 39 ANEXO 22. 40 41 42 43 ANEXO 23. 44 ANEXO 24.
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