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Compatibilidades e Incompatibilidades da Nutrição Parenteral com Medicamentos Intravenosos: Aplicações para o Ambiente Hospitalar O uso de medicamentos intravenosos em pacientes com nutrição parenteral gera muitas dúvidas na prática hospitalar. O assunto é de difícil discussão, em virtude da nutrição parenteral poder ser composta por inúmeras combinações de nutrientes e devido à grande disponibilidade de tipos e dosagens de medicamentos. A nutrição parenteral é uma mistura complexa de nutrientes, dentro de uma só bolsa. Neste recipiente, há um alto número de componentes quimicamente reativos. A maioria das formulações contém emulsão lipídica, que é uma forma termodinamicamente instável. Portanto, o objetivo de manter a estabilidade físico-química da nutrição parenteral é essencial para evitar riscos de complicações para os pacientes. As incompatibilidades físico-químicas clássicas resultam em precipitação, dano da emulsão e alteração na cor da formulação. As reações podem depender das propriedades físico-químicas dos medicamentos misturados. Mas estão, também, relacionadas a cofatores, como concentração, temperatura, exposição à luz e presença de catalisadores (ex.: oligoelementos) (2). As reações podem levar à oclusão de cateter (precipitante), biodisponibilidade modificada do nutriente ou do medicamento e, em casos mais críticos, embolia microvascular dos pulmões (2). Embora seja atraente, a adição de medicamentos dentro da bolsa de nutrição parenteral não é indicada. A mistura cria uma nova e desconhecida formulação, com mudanças em todas as suas propriedades. A adição pode afetar significativamente a biodisponibilidade, tanto da nutrição parenteral como do medicamento. Além disso, a mistura traz grandes riscos de incompatibilidades. Outra possibilidade na rotina hospitalar é a administração intravenosa da nutrição parenteral concomitante aos medicamentos, com o uso de equipo em Y em cateteres de lúmen simples ou múltiplo. Este procedimento também não é indicado. A Sociedade Europeia de Nutrição Parenteral e Enteral recomenda que, quando possível, a administração de medicamentos deve ser intermitente com a nutrição parenteral e com uso de líquido suficiente de enxague (1). A adição de medicamentos via uma conexão em Y é recomendada somente se houver prova suficiente da estabilidade em estudos experimentais. Entretanto, a literatura sobre interações da nutrição parenteral com medicamentos é escassa e, algumas vezes, contraditória. Porém, muitas vezes na prática clínica, a presença de esquemas terapêuticos complexos não dá a possibilidade de evitar a administração simultânea da nutrição parenteral com os medicamentos. Em um acesso intravenoso em Y, leva-se usualmente menos de um minuto para um medicamento injetado entrar na veia. Esse tempo permite a precipitação, mas não a degradação química do fármaco (3). A precipitação é descrita como uma incompatibilidade física ou visual. A separação de fases, coalescência e quebra das emulsões lipídicas endovenosas nas soluções nutritivas parenterais, é sempre imediatamente perigosa. Mas, infelizmente, não é sempre imediatamente visível. Nem todas as precipitações são visíveis, e todas as precipitações visíveis não são nem instantâneas e nem persistentes (2). Um estudo recente avaliou a compatibilidade físico-química da nutrição parenteral 3 em 1 (contendo lipídeos, porém sem vitaminas e oligoelementos) com 25 medicamentos frequentemente prescritos para pacientes em terapia nutricional parenteral (3). O estudo simulou situações de uso simultâneo do medicamento e da nutrição parenteral em até quatro horas. Embora não possam ser extrapolados para todas as composições de nutrição parenteral, os resultados do estudo podem auxiliar a implementar os esquemas terapêuticos no ambiente hospitalar (Quadro 1). Quadro 1. Compatibilidade físico-química de 25 misturas testadas (3) Medicamento Concentrações testadas Compatibilidade após 1 hora Compatibilidade após 4 horas Albumina 200mg/mL I I Amoxicilina/Ácido clavulânico (associação) 50mg/mL10mg/mL C I Cloreto de cálcio 0,13mmol/mL de Ca C C Cefepima 100mg/mL C I Ciclosporina 2,5mg/mL C C Esomeprazol 0,8mg/mL I I Fentanil 0,05mg/mL C C Fluoruracil 25 e 50mg/mL I I Fluoruracil ≤12,5mg/mL C C Furosemida 10mg/mL C C Sulfato de magnésio 0,4mmol/mL de Mg C C Meropenem 50mg/mL C C Metoclopramida 5mg/mL C C Metronidazol 5mg/mL C C Midazolam 2,5mg/mL C C Sulfato de morfina 5mg/mL C C Noradrenalina 1mg/mL C C Octreotide 25mcg/mL C C Ondasetron 2mg/mL C C Pantoprazol 0,8mg/mL I I Paracetamol 10mg/mL C C Piperacilina/Tazobactam 80mg/mL (piperacilina) C C Fosfato de potássio 0,12mmol/L de PO4 C C Tacrolimus 0,1mg/mL C C Tropisetron 1mg/mL I I Vancomicina 10mg/mL C C C=compatível; I=incompatível Além da atenção aos dados publicados sobre incompatibilidades entre medicamentos e a nutrição parenteral, práticas essenciais podem ser listadas para proteger os pacientes das incompatibilidades entre a nutrição parenteral e a infusão de medicamentos (1, 2): 1. Dar preferência, sempre que possível, à administração endovenosa intermitente da nutrição parenteral e de medicamentos, com líquido suficiente para enxague. 2. Quando inevitável, os medicamentos podem ser injetados dentro do fluxo líquido da nutrição parenteral, via um sítio em Y ou injeção, mas não dentro da bolsa de nutrição. 3. Usar um filtro estéril de porosidade adequada (1,2µm). Este filtro deve ser assepticamente afixado em todos os cateteres de nutrições parenterais nos sítios nas entradas de injeções em Y. Esses filtros impedem que precipitados sejam infundidos no paciente, evitando a ocorrência de complicações. 4. Somente um medicamento deve ser injetado de cada vez no fluxo da nutrição parenteral. Nenhum outro medicamento deve ser adicionado até que, pelo menos, 50mL de nutrição parenteral adicional sejam infundidos. Em conclusão, sempre que possível, a mistura entre medicamentos e nutrição parenteral deve ser evitada. Quando inevitável, por razões terapêuticas e práticas, um protocolo rigoroso deve ser estabelecido. Este protocolo deve envolver conhecimento farmacêutico específico, a fim de alcançar o máximo da segurança e da eficácia da terapia nutricional e medicamentosa. Referências Bibliográficas 1. Mühlebach S. Basics in clinical nutrition: drugs and nutritional admixtures. Clin Nutr Metab, 4, e134-e136, 2009. 2. Newton, D.W. Y-site compatibility of intravenous drugs with parenteral nutrition. JPEN Journal of Parenteral and Enteral Nutrition. 37(3), 297-299, 2013. 3. Bouchoud L, Fonzo-Christe C, Klingmüller M, Bonnabry P. Compatibility of intravenous medications with parenteral nutrition: in vitro evaluation. JPEN Journal of Parenteral and Enteral Nutrition. 37(3), 416-424, 2013. Autora Rosemari Belini Batista. Farmacêutica. Coordenadora Técnica da NUTRO Soluções Nutritivas, Curitiba, Paraná. http://institutocristinamartins.com.br/home/compatibilidades-e-incompatibilidades-da-nutricao- parenteral-com-medicamentos-intravenosos-aplicacoes-para-o-ambiente-hospitalar. Acessado em 08/11/2013
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