Buscar

Transtornos de Personalidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 95 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 95 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 95 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
1 TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE 
1.1 DEFINIÇÃO 
1.2 PERSONALIDADE NORMAL X ANORMAL – TRAÇOS X TRANSTORNO 
1.3 DIAGNÓSTICO 
1.4 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
2 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANOIDE 
2.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
2.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
MÓDULO II 
3 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE 
3.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
3.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
3.2.1 Abordagens Terapêuticas 
4 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA 
4.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
4.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
4.2.1 Abordagens Terapêuticas 
 
 
MÓDULO III 
5 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL 
5.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
5.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
5.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
6 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOIDE E ESQUIZOTÍPICA 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
6.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
6.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
6.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
7 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA 
7.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
7.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
7.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
 
MÓDULO IV 
8 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE 
8.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
8.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
8.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
9 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIVA 
9.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
9.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
9.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
10 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA 
10.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
10.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
10.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
GLOSSÁRIO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
 
MÓDULO I 
 
 
1 TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE 
 
 
1.1 DEFINIÇÃO 
 
 
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
(DSM-IV), somente quando os traços de personalidade são inflexíveis, mal 
adaptativos e causam prejuízo funcional ou angústia subjetiva, é que eles 
constituem transtornos de personalidade. 
Essa definição leva-nos a pensar no que são traços de personalidade, ou 
seja, a personalidade na ausência de um transtorno. Devemos considerar que a 
palavra personalidade é muito versátil. Embora o conceito venha sendo descrito 
desde 4 a.C., é difícil defini-lo. Há, no entanto, algum consenso quanto ao seu 
significado. 
Podemos dizer que a personalidade consiste em modos de funcionamento 
psicológico arraigados, difusos, resistentes e habituais que caracterizam o estilo do 
sujeito. Trata-se de uma intrincada organização de atitudes, percepções, hábitos, 
emoções e comportamentos que definem o modo de uma pessoa relacionar-se com 
os outros e consigo mesma. Somam-se a isso os modos pelos quais a mente 
processa as informações, ou seja, suas funções sintetizadoras e integradoras, que 
incluem o reconhecimento das motivações. 
De modo análogo, o DSM-IV define traços de personalidade como “... um 
padrão persistente, e relativamente estável ao longo do tempo, no modo de pensar, agir e 
se comportar”, ou seja, padrões constantes na maneira de perceber, relacionar-se e 
pensar sobre o ambiente e si próprio, os quais são exibidos em uma ampla gama de 
contextos sociais e pessoais. 
Frequentemente, os termos caráter e temperamento são usados como 
sinônimos do termo personalidade. Cada qual tem um significado diferente. Caráter, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
derivado da palavra grega charaxo, que significa gravar, sugere a natureza 
característica de uma pessoa. É habitualmente usado para definir os traços da 
personalidade, que são produtos dos processos evolutivos e experiências de vida. 
Por outro lado, temperamento sugere aquelas disposições com base 
biológica que colorem a personalidade. Os aspectos temperamentais são tomados 
habitualmente como características simples, não motivadas, que embora 
geneticamente determinadas não se tornam estáveis após os primeiros anos de 
vida. 
A maioria das concepções atuais considera a personalidade como fruto das 
interações dos aspectos constitucionais, das experiências evolutivas e da 
experiência de vida atual. Assim, estas definições acerca da personalidade 
englobam a noção de temperamento e caráter. 
O estudo dos transtornos da personalidade conduz a áreas nas quais a 
diferença entre saúde e doença é ambígua. A distinção entre patologia e 
normalidade é muito tênue. Devem ser considerados portadores de transtorno 
mental um sujeito arrogante e dominador, um jovem com fones de ouvido que se 
recusa a sair do quarto, uma criança que tortura animais, uma mulher que se sente 
constantemente perseguida por seu chefe? 
Em grande parte, os transtornos da personalidade são influenciados por 
normas sociais e valores pessoais. O fato de se considerar um sujeito portador de 
transtorno da personalidade depende de que seus traços de personalidade sejam 
nocivos à sociedade, ao meio em que vive, e particularmente às pessoas com quem 
mais frequentemente interage. Essas qualidades que incomodam aos outros são, 
em muitos casos, manifestadas também no relacionamento com o terapeuta. 
Deve-se, então, levar em conta a bagagem étnica, cultural e social do 
sujeito. Os transtornos da personalidade não devem ser confundidos com 
expressões típicas de cada cultura, como a expressão de hábitos, costumes, valores 
religiosos e políticos. Isso significa dizer, por exemplo, que na avaliação de uma 
pessoa de origem étnica diferente, é importante saber informações sobre a 
respectiva bagagem cultural, os hábitos e todos os valores, próprios da sua cultura. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
1.2 PERSONALIDADE NORMAL X ANORMAL – TRAÇOS X TRANSTORNO 
 
 
Como entender esta diferença? Quando a personalidade deixa de ser 
normal e passa a ser anormal? Quando um traço de personalidade torna-se um 
transtorno de personalidade? Podemos pensar em algumas proposições. Temos o 
conceito estatístico ou de desvio, em que os traços que são comuns em uma 
população são considerados normalidade, enquanto os traços incomuns são 
patológicos. 
Temos também a definição de que os traços patológicos de personalidade 
são os que impedem uma resposta flexível às situações da vida, ao meio em que o 
sujeito vive. Um terceiro conceito sugere que quando uma série de traços de caráter 
anormais ou patológicos provoque um distúrbio significativo do funcionamento 
intrapsíquico e interpessoal, pode ser considerado como transtorno de 
personalidade. Vale notar que esta definição leva em consideração os conflitos 
internos, intrapsíquicos, na constituição do transtorno. 
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) os 
transtornos da personalidade“compreendem diversos estados e tipos de 
comportamentos clinicamente significativos que tendem a persistir e são a 
expressão característica da maneira de viver do indivíduo e do seu modo de 
estabelecer relações consigo próprio e com os outros”. 
Os dados epidemiológicos sugerem que aproximadamente 10 a 13% da 
população em geral possuem transtornos da personalidade. Estes números tornam-
se maiores em classes socioeconômicas mais baixas e em comunidades 
desfavorecidas. 
Os transtornos da personalidade são dispendiosos para a sociedade. Há 
relações claras entre transtornos da personalidade e crime, alcoolismo e abuso de 
drogas. São comuns em homicidas, incluindo os infanticidas, os filicidas e os 
matricidas. Temos taxas aumentadas de morte por suicídio, tentativas de suicídio, 
acidentes e internações. 
Geralmente um transtorno da personalidade pode ser identificado durante a 
adolescência ou começo da idade adulta. Os traços são frequentemente evidentes 
na adolescência, mas podem remontar à infância. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
 
 
1.3 DIAGNÓSTICO 
 
 
De acordo com o DSM IV, a característica essencial do transtorno de 
personalidade é um padrão persistente e duradouro de vivência íntima que se desvia 
de forma marcante das expectativas da cultura do sujeito. A avaliação deve incluir 
aspectos múltiplos de experiência e comportamento, tais como afetos, cognição, 
experiência psíquica e relacionamentos interpessoais. 
Para se diagnosticar um transtorno, deve-se investigar se seus traços estão 
presentes em uma ampla gama de situações, angustiantes ou prejudiciais, de início 
precoce e persistente. Fica a questão: como executar um diagnóstico com 
segurança? 
As entrevistas clínicas são a base do diagnóstico destes transtornos. Para 
tal, o profissional tem que estar familiarizado com os princípios psicodinâmicos da 
entrevista. Isto significa dizer que o profissional precisa saber identificar os 
mecanismos de defesa, transferência, contratransferência, entre outros, que surgem 
durante a entrevista. 
Esta técnica tem suas limitações. Nem todos os transtornos podem ser 
avaliados e, muitas vezes, o profissional não possui conhecimento necessário para 
trabalhar com esta abordagem. Outro recurso são as entrevistas semiestruturadas e 
instrumentos autodescritivos. Esses asseguram um delineamento sistemático de 
cada transtorno. Muitos destes instrumentos são relativamente fáceis de administrar, 
sendo muito úteis quando combinados com a entrevista aberta, na qual o 
profissional pode investigar melhor as contradições e ambiguidades. 
Mesmo que esses instrumentos possam ajudar no processo diagnóstico e 
superar alguns problemas de uma entrevista aberta, deve-se ter em mente suas 
limitações. Como diferenciar transtornos da personalidade de traços de 
personalidade normais? Como executar o processo com segurança? A fronteira é 
frequentemente imprecisa. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 9 
 
 
1.4 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
 
 
O DSM IV classifica como transtornos de personalidade: 
 
Transtorno de Personalidade Paranoide - o sujeito mantém um 
comportamento de desconfiança e suspeitas, de modo que as intenções das 
pessoas são interpretadas como maldosas. 
Transtorno de Personalidade Esquizoide - o sujeito mantém um 
distanciamento dos relacionamentos sociais, com pouca expressão emocional. 
Transtorno de Personalidade Esquizotípica - o sujeito manifesta um 
desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da 
percepção e comportamento excêntrico. 
Transtorno de Personalidade Antissocial – o sujeito apresenta 
desconsideração e violação dos direitos alheios. 
Transtorno de Personalidade Boderline – o sujeito manifesta instabilidade 
nos relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos, bem como grande 
impulsividade. 
Transtorno de Personalidade Histriônica – o sujeito mostra excessiva 
emotividade e busca de atenção. 
Transtorno de Personalidade Narcisista – o sujeito apresenta uma 
necessidade por admiração, um sentimento de grandiosidade e falta de empatia. 
Transtorno de Personalidade Esquiva - o sujeito apresenta inibição social, 
sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas. 
Transtorno de Personalidade Dependente – o sujeita mostra um 
comportamento submisso e aderente, que está relacionado a uma necessidade de 
proteção e cuidados. 
Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva – o sujeito 
apresenta uma preocupação constante com organização, perfeccionismo e controle. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
 
 
 
FONTE: DSM IV 
 
 
 
 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DSM IV PARA TRANSTORNO DE 
PERSONALIDADE 
 
A. Um padrão persistente de vivência ou comportamento que se desvia 
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão 
manifesta-se em duas ou mais das seguintes áreas: 
- cognição (modo de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e 
eventos); 
- afetividade (variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta 
emocional); 
 - funcionamento interpessoal; 
 - controle dos impulsos. 
B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações 
sociais e pessoais. 
C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou 
prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas 
importantes da vida do indivíduo. 
D. O padrão é estável e de longa duração, podendo seu início remontar à 
adolescência ou idade adulta. 
E. O padrão persistente não é mais explicado como uma manifestação ou 
consequência de outro transtorno mental. 
F. O padrão persistente não é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de 
uma substância (ex. droga de abuso, medicamento) ou de uma condição 
médica geral (ex. traumatismo craniano). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
 
 
2 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANOIDE 
 
 
2.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
FONTE: DSM IV 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DSM IV PARA TRANSTORNO DE 
PERSONALIDADE PARANOIDE 
 
A. Um padrão global de desconfiança e suspeitas em relação aos outros, de 
modo que nas intenções são interpretados como maldosos; manifesta-se 
no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, 
indicado por, no mínimo, quatro dos seguintes critérios: 
(1) Suspeita, sem fundamento suficiente, de estar sendo explorado, 
maltratado ou enganado por terceiros. 
(2) Preocupação com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou 
confiabilidade de amigos ou colegas. 
(3) Relutância em confiar em outros por um medo infundado de que 
essas informações possam ser maldosamente usadas contra si. 
(4) Interpretação de significados ocultos, de caráter humilhante ou 
ameaçador em observações ou acontecimentos benignos. 
(5) Armazenamento de rancores persistentes, ou seja, é implacável com 
insultos, injúrias ou deslizes. 
(6) Percepção de ataques ao seu caráter ou reputação que não são 
visíveis pelos outros e reage rapidamente com raiva ou contra-
ataque. 
(7) Suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do 
cônjuge ou parceiro sexual. 
B. Não ocorre exclusivamente durante o curso da esquizofrenia, transtorno de 
humor com características psicóticas ou outro transtorno psicótico, nem é 
decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
 
 
O transtorno de personalidade paranoide é uma entidade patológica distinta, 
independente de fatores culturais e não é um estado transitório. Envolve um estilo 
global de pensar, sentir e relacionar-se com os outros,excessivamente rígido e 
imutável. Estas pessoas apresentam suspeitas frequentes, sem base sustentável de 
que os outros as exploram, prejudicam ou tiram vantagens delas. 
Frequentemente duvidam da lealdade ou da fidelidade de seus amigos, 
sócios e cônjuges ou parceiros sexuais. Temem confiar em outros por medo de que 
as informações sejam usadas contra elas. Esta forma de pensamento é 
caracterizada por uma busca constante de significados ocultos, de pistas que 
revelem a “verdade” por trás das aparências. O óbvio, o aparente, simplesmente 
mascara a realidade. 
Estão constantemente em guarda, vigiando o comportamento dos outros em 
busca de evidências de trapaças, motivos ocultos. Esta busca interminável envolve 
um estado de hipervigilância. O sujeito paranoide geralmente esquadrinha o 
ambiente com bastante atenção, em busca de qualquer coisa fora do comum. 
Geralmente são rápidos em encontrar tais evidências. Um acontecimento benigno 
pode ser interpretado como ameaçador. 
O pensamento paranoide é caracterizado por falta de flexibilidade. O 
argumento mais persuasivo geralmente não terá qualquer impacto sobre as crenças 
rígidas e inabaláveis da pessoa paranoide. 
 
FIGURA 1 
 
FONTE: Disponível em: <http://imgs.sapo.pt/gfx/440808.gif>. Acesso em: 22/03/2012. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
Os indivíduos com o transtorno geralmente culpam os outros por suas 
dificuldades e resistem a qualquer sugestão de sua própria culpa ou 
responsabilidade. De fato, aquelas pessoas que tentam discutir com uma pessoa 
com tal transtorno irão descobrir que simplesmente passarão a ser alvo de suspeita. 
Frequentemente sentem-se atacadas pelos outros e podem reagir 
rapidamente a estas ameaças. Devido à excessiva desconfiança e sensibilidade a 
estes supostos ataques, podem ser excessivamente propensas a discussões 
sarcásticas e queixosas ou silenciosamente hostis e distantes. Guardam rancores 
persistentes contra um suposto atacante. Elas tendem a conter a expressão de 
emoções afetuosas, têm dificuldade para relaxar e parecem tensas, sérias e 
vigilantes. 
Muitas vezes são extremamente sensíveis a temas de posição e poder e 
podem ter visões negativas e prejudiciais dos outros, tais como membros de outras 
raças. Entretanto, alguns sujeitos são capazes de manter relações com outros 
sujeitos que compartilham das suas crenças paranoides, no contexto de uma seita, 
por exemplo. 
Os portadores de transtorno da personalidade paranoide podem funcionar 
com relativa estabilidade, principalmente se seu trabalho não exigir excessiva 
cooperação com outras pessoas. Podem apresentar dificuldades com figuras de 
autoridade e em relacionamentos íntimos, o que tendem a evitar devido aos medos 
de dominação ou vulnerabilidade. Já, sob estresse extremo, podem experimentar 
um pensamento francamente paranoide. 
Tendem a ter percepções altamente precisas do seu ambiente. Entretanto, 
seu julgamento a respeito destas percepções é que está prejudicado. Assim, não é a 
realidade que é distorcida; mas, o significado da realidade aparente que é mal 
interpretado. 
 
 
2.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
A dissociação é o mecanismo de defesa central na dinâmica do paciente 
paranoide. Este mecanismo desenvolvido por Freud e ampliado por Melanie Klein, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
consiste em um processo inconsciente que separa ativamente sentimentos 
contraditórios. Assim, sentimentos de amor e ódio em relação ao mesmo objeto 
devem ser separados um do outro. Qualquer movimento em direção à integração 
cria uma ansiedade intolerável, que tem origem no medo de que o ódio destrua o 
amor. 
A sobrevivência emocional do paciente paranoide exige que ele dissocie 
tudo que é “mau” e projete nas figuras externas. Ele está constantemente no papel 
de vítima frente aos agressores ou perseguidores externos. 
 
 
FIGURA 2 
 
FONTE: Portal Educação. 
 
 
O mundo do paranoide é povoado de estranhos, indignos de confiança. 
Nenhum relacionamento é percebido como duradouro. O sujeito paranoide 
aproxima-se de cada relacionamento com a crença de que a outra pessoa irá 
eventualmente cometer um deslize e confirmar suas suspeitas. 
Mesmo depois de um terapeuta prestativo e estável ter trabalhado com um 
paciente paranoide por muito tempo, um pequeno desapontamento pode levá-lo a 
desconsiderar a conduta anterior do terapeuta e a sentir com total convicção de que 
o terapeuta não merece sua confiança. O terapeuta foi “desmascarado”. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
Logo, as boas experiências com uma pessoa no passado podem ser 
totalmente anuladas pela situação presente. A baixa autoestima está na essência da 
personalidade paranoide, o que os leva a desenvolver uma sintonia aguda em 
relação a questões de hierarquia e poder. Eles têm uma grande preocupação que 
pessoas em posição de autoridade possam humilhá-los ou esperar que sejam 
submissos. 
Apresentam um medo constante de que seus relacionamentos interpessoais 
ameacem sua autonomia. Temem que qualquer pessoa que se aproxime deles 
esteja tentando secretamente assumir o controle. 
 
Abordagens terapêuticas – Os pacientes com transtorno de personalidade 
paranoide são tradicionalmente considerados resistentes à terapia. Isto pode ser 
explicado pelo fato de que estes traços perturbados estão em sintonia com o eu do 
sujeito, o que muitas vezes pode fazer com que o sujeito se apegue a eles com 
orgulho e inflexibilidade. Por exemplo, uma pessoa desconfiada pode orgulhar-se de 
estar sempre preparada, em alerta e uma pessoa indecisa pode sentir-se satisfeita 
de raramente cometer erros. 
O tratamento ameaça tornar vulnerável o indivíduo desconfiado e sujeito a 
falhas, o indeciso. Quem, voluntariamente, se submeteria a tais mudanças? 
Geralmente estes pacientes iniciam o tratamento por alguma pressão externa. Em 
função da grande dificuldade de confiar em qualquer pessoa geralmente não se dão 
bem na psicoterapia de grupo. O indicado, a princípio, é a terapia individual, apesar 
do grande desafio que representa para o terapeuta. 
O primeiro passo, na psicoterapia, é desenvolver uma aliança terapêutica. 
Este processo é dificultado pela tendência destes pacientes a evocarem respostas 
defensivas nos outros. Com o terapeuta não acontece diferente. Ao longo da 
psicoterapia, principalmente durante as fases iniciais de formação de uma aliança, o 
terapeuta deve evitar responder de forma defensiva – assim como todos os demais 
no ambiente do paciente. 
Embora os pacientes que sofram de qualquer um dos transtornos 
psiquiátricos possam tornar-se violentos, os pacientes paranoides são uma ameaça 
em especial. Para prevenir a escalada da agressão, o terapeuta deve ter em mente 
diversos princípios de manejo: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
- Fazer todo o possível para ajudar o paciente a não se sentir humilhado. A 
essência da paranoia é a baixa autoestima, de forma que o terapeuta deve ser 
empático com a experiência do paciente e não desafiar a veracidade do que o 
paciente diz. 
- Evitar levantar mais suspeitas – Devido à desconfiança básica destes 
pacientes, todas as intervenções do terapeuta devem voltar-se para evitar qualquer 
aumento em sua paranoia. 
- Ajudar o paciente a manter um senso de controle. Os pacientes paranoides 
temem a perda do controle. Boa parte da sua ansiedade tem origem no medo de 
que os outros tentarão assumir o controle; assim qualquer coisa que o terapeuta 
possa fazer para indicar respeito pela autonomia destes pacientes irá ajudar a 
reduzir sua ansiedade. Um terapeuta que demonstre medo do paciente perder o 
controle irá apenas aumentar o medodo paciente. 
- Sempre estimular estes pacientes a verbalizarem, em vez de violentamente 
atuarem sua raiva. Conseguir que eles falem da sua raiva o mais detalhadamente 
possível. Tentar oferecer sempre alternativas construtivas para a violência. 
Considerar as consequências lógicas de se tornar violento. O terapeuta que se sente 
ameaçado pode tentar traduzir esta ameaça em palavras. 
- Sempre oferecer aos indivíduos paranoides um ambiente bastante 
espaçoso. Seu medo de submissão passiva aos outros é aumentado pela 
proximidade física. Evitar um arranjo do espaço, das cadeiras, por exemplo, de 
forma a que eles se sintam encurralados. 
- O terapeuta tem que estar sintonizado com sua própria contratransferência 
ao lidar com pacientes que possuam um potencial violento. A negação da 
contratransferência é comum em terapeutas que trabalham com pacientes 
paranoides. Eles podem deixar de fazer importantes perguntas sobre a história, por 
medo de confirmar seus temores. Os terapeutas devem assumir seus próprios 
medos e então evitar situações de perigo. 
 
Para finalizar, temos um caso-exemplo, retirado do Manual de Psiquiatria 
Psicodinâmica (GABBARD, 1998). Trata-se dos estágios iniciais da psicoterapia de 
um paciente com transtorno de personalidade paranoide, que pode ajudar na 
compreensão dos princípios técnicos descritos neste capítulo. Os comentários entre 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 17 
parênteses indicam a relação entre a teoria e a técnica. 
 
O Sr. EE era um contador de 42 anos quer havia ficado em auxílio 
previdenciário por um ano devido às suas constantes queixas de alergias a 
substâncias no ambiente de trabalho. Depois de receber uma promoção, ele 
mudou-se pra um novo escritório, onde subitamente percebeu o início de 
diversos sintomas físicos perturbadores, incluindo cefaleia, pensamento 
lento, aperto no peito, visão borrada, dores generalizadas, fraqueza, fadiga 
fácil e falta de motivação. O Sr. EE associou estes sintomas ao novo 
sistema de ventilação. Os sintomas começavam a se dissipar sempre que 
ele deixava o escritório e muitas vezes desapareciam, até ele ir ao médico. 
Ele passou por várias avaliações diagnósticas com diversos especialistas e 
apenas um deles pensou que houvesse alguma base orgânica para as 
queixas. O Sr. EE utilizava esta opinião isolada para justificar seu próprio 
ponto de vista. Ele foi pressionado a buscar psicoterapia pelo administrador 
de sua firma, que estava preocupado com o fato de sua incapacidade estar 
se tornando permanente. 
Nos estágios iniciais da terapia, o Sr. EE negou quaisquer problemas 
emocionais além da tensão conjugal, pela qual ele culpava sua esposa. Ele 
falou extensamente sobre seus sintomas físicos e estava convencido da 
origem física destes, independente dos achados negativos da maior parte 
dos especialistas. (O paciente se mostra totalmente impenetrável aos 
argumentos racionais dos especialistas. Ele também apresenta 
grandiosidade ao acreditar que sabe mais que os médicos.) 
Quando perguntado a respeito de seus relacionamentos interpessoais, o Sr. 
EE disse que ele e seu pai não estavam se falando, por seu pai tê-lo 
enganado em questões de negócios. Além disso, ele queixou-se de que seu 
pai era sempre mais duro com ele que com todos seus irmãos. Resumiu 
sua descrição do pai dizendo que ele era um homem injusto e que não 
merecia sua confiança. O Sr. EE continuou descrevendo sua esposa como 
enganadora. Ela o havia iludido para ter um filho, deixando de fazer a 
contracepção e ficando grávida. Ele disse nunca ter perdoado sua esposa 
por esta “armação” – oito anos antes – e disse que seu casamento havia 
sido um desastre, desde então. Disse que a única forma pela qual esta 
situação poderia se modificar seria ela tornando-se mais confiável. (O 
paciente projetou objetos maus persecutórios em figuras próximas de sua 
família e os vê como fonte de todos os seus problemas. O próprio admite 
não contribuir para estas dificuldades familiares e sugere que a única 
solução possível é a modificação dos outros e não dele.). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 18 
Ao longo da primeira sessão de psicoterapia, o Sr. EE escutou atentamente 
o terapeuta, constantemente solicitando mais esclarecimentos sobre os 
comentários. Ele parecia estar em busca de mensagens ocultas nas 
comunicações mais benignas. O Sr. EE também estava hipervigilante aos 
mínimos movimentos corporais do terapeuta, com frequência interpretando-
os erroneamente como indicadores de enfado ou desinteresse. Depois de 
escutar por algum tempo, o terapeuta comentou empaticamente: “Você 
deve estar se sentindo horrível. Seu chefe está no seu pescoço para que 
você faça terapia, você se sente fisicamente miserável, e sua esposa e você 
não estão se falando”. 
O paciente respondeu a este comentário empático abrindo-se um pouco 
mais, admitindo que sempre havia sido “sensível”. Ele admitiu que 
comumente se perturbava com pequenas coisas que não incomodavam as 
outras pessoas. (A validação empática que o terapeuta fez da autoestima 
ameaçada do paciente permitiu que ele se sentisse compreendido. Esta 
aliança incipiente permitiu ao paciente admitir um problema próprio pela 
primeira vez, ou seja, que ele era “sensível”.). 
O Sr. EE descreveu seu relacionamento com seu filho de forma fria, 
calculista, dizendo: “Nós estamos juntos mais que a média da população em 
geral.” (Esta descrição revela a incapacidade da personalidade paranoide 
de sentir calor emocional e ternura em relacionamentos, pois ter estes 
sentimentos o faria vulnerável à rejeição e ao ataque). O Sr EE mudou de 
assunto, passando a falar das suas preocupações em relação aos médicos 
que o haviam examinado. 
Ele expressou uma forte sensação de que todos os médicos são 
basicamente incompetentes e pareceu convencido de que um médio havia 
quase provocado nele uma hemorragia cerebral com determinada 
medicação. Descreveu três psiquiatras que o haviam examinado 
anteriormente como sendo totalmente incompetentes. A seguir, perguntou 
ao terapeuta se ele conhecia uma determinada medicação não psiquiátrica. 
Quando o terapeuta admitiu não conhecer a droga, o Sr. EE rapidamente 
respondeu que o terapeuta provavelmente era tão “charlatão” quanto os 
outros médicos. (O medo das pessoas paranoides de serem controladas, 
aliado a sentimentos de inferioridade em relacionamentos “desiguais”, com 
frequência leva à desvalorização e humilhação de outras pessoas. 
Desvalorizando o terapeuta, o Sr. EE reassegura a si próprio de que não 
tem nada a invejar e nenhuma razão para se sentir inferior.) 
Como o Sr. EE continuou a não acreditar nas opiniões dos vários 
especialistas que o haviam examinado, o terapeuta observou: “Isto deve ser 
muito desmoralizante para você”. O Sr. EE respondeu categoricamente: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 19 
“Você está tentando me gozar!” (Aqui o terapeuta tenta empatizar 
introduzindo um novo sentimento, mas ele excedeu a capacidade do 
paciente de admitir tal sentimento. A reação do paciente teria sido mais 
positiva se o terapeuta tivesse permanecido mais próximo às palavras e 
sentimentos descritos pelo paciente.) 
À medida que o Sr. EE continuou a falar a respeito do seu estado atual, ele 
foi capaz de admitir que achava difícil ajustar-se à incapacidade e ao 
desemprego depois de estar na posição de executivo. Percebendo uma 
abertura com relação a questões de autoestima, o terapeuta observou que o 
fato de estar incapacitado de trabalhar deve ter sido um golpe. O Sr. EE 
respondeu perguntando ao terapeuta: “Você pensa que eu sou um fraco?” 
(Novamente, a capacidade do terapeuta de empatizar com a baixa 
autoestima do paciente,em vez de torná-lo defensivo, permitiu ao Sr. EE 
revelar sua preocupação em relação à sua fraqueza e inferioridade 
subjacentes). 
 
FONTE: GABBARD. Manual de Psiquiatria Psicodinânica.Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 282-284. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 20 
 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
 
 
MÓDULO II 
 
 
3 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE 
 
 
3.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM IV para Transtorno da Personalidade Borderline 
Um padrão global de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, da 
autoimagem e dos afetos e acentuada impulsividade, que se manifesta no início da 
idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por, no 
mínimo, cinco dos seguintes critérios: 
(1) Esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou 
imaginário. Nota: não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no 
critério 5; 
(2) Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, 
caracterizado pela alternância de extremos de idealização e desvalorização; 
(3) Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da 
autoimagem ou do sentimento de self; 
(4) Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à 
própria pessoa (p. ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção 
imprudente, comer compulsivo). Nota: não incluir comportamento suicida ou 
automutilante, coberto no critério 5; 
(5) Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de 
comportamento automutilante; 
(6) Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade de humor 
(por exemplo, episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente 
durando algumas horas e raramente mais de alguns dias); 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 23 
(7) Sentimentos crônicos de vazio; 
(8) Raiva inadequada e intensa ou dificuldade de controlar a raiva (por 
exemplo, demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, lutas corporais 
recorrentes); 
(9) Ideação paranoide transitória e relacionada ao estresse ou graves 
sintomas dissociativos. 
FONTE: DSM IV 
 
 
O transtorno da personalidade Borderline é caracterizado por um severo 
descontrole do humor e dos impulsos. O padrão de comportamento visto neste tipo 
de transtorno foi identificado no mundo inteiro, em diversos contextos culturais. 
Antes da adolescência, dificuldades de aprendizagem, problemas de concentração e 
afastamento social estão frequentemente presentes. 
Essas dificuldades evoluem gradualmente para os sintomas clássicos do 
transtorno durante a adolescência e início da idade adulta. É diagnosticado 
predominantemente em mulheres (aproximadamente 75%). 
 
 
FIGURA 3 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 24 
Os pacientes com transtorno de personalidade Borderline apresentam 
comportamentos excessivamente irregulares. Seus relacionamentos tendem a ser 
instáveis, intensos e tempestuosos. Soma-se a esta instabilidade e perturbação, 
mudanças súbitas e drásticas de opinião sobre os outros. Estas podem alternar-se 
entre extremos de idealização e desvalorização – enxergar os outros como apoios 
benéficos e a seguir como cruéis. Da mesma forma que o paciente pode valorizar o 
trabalho terapêutico, pode após algum episódio desvalorizá-lo totalmente. 
Estes sujeitos precisam ter outros a sua volta, mesmo que não gostem e 
nem se relacionem com eles. Os esforços para evitar a solidão e o abandono podem 
ser extremos, tomando a forma de atividades impulsivas, como raiva inadequada, 
comportamentos autodestrutivos e ameaças de suicídio. Podem também ser 
benignos, envolvendo o uso de um objeto transicional, por exemplo, um objeto 
inanimado ou um animal de estimação, que pode atenuar os sentimentos de solidão 
e insegurança. 
Muitas vezes apresentam um padrão de boicote a si mesmo. Destruir um 
relacionamento justamente quando está claro que poderia vir a ser duradouro, 
abandonar um curso próximo ao seu término, por exemplo. Frequentemente, a 
ausência de um relacionamento ou de uma estrutura externa, que se tornam 
experiências estressantes, pode provocar uma variedade de distorções cognitivas e 
perceptivas transitórias, do tipo psicótico, tais como um sentimento de não existir, 
experiências dissociativas e acusações irreais de maus-tratos. 
O paciente Borderline apresenta um distúrbio de identidade que envolve 
mudanças súbitas e drásticas da autoimagem. Ele pode em um momento ser uma 
pessoa carente por ajuda e a seguir um justiceiro vingador por maus-tratos. Às 
vezes pode sentir que absolutamente não existe, geralmente quando está sozinho e 
acredita que não tem relacionamentos. 
O humor dos pacientes com transtorno da personalidade Borderline é 
geralmente uma mistura de raiva, solidão e vazio crônico. Mudanças de humor 
ocorrem em resposta a alterações no ambiente interpessoal. A raiva crônica pode 
ser expressa não apenas por meio de acessos de fúria, mas também de extrema 
amargura, sarcasmo e atitudes depreciativas ou manipuladoras. A raiva é parte 
constante das experiências dos pacientes; eles desejam de alguma forma tornar 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
claro estes sentimentos ou justificá-los como sendo proveniente de uma provocação 
externa. 
 
FIGURA 4 
 
FONTE: Disponível em: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
3.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
Dentre algumas visões psicodinâmicas, vamos priorizar uma que coloca o 
paciente com transtorno da personalidade Borderline como alguém que se fixou na 
fase de separação/individuação. Antes de continuar, vamos nos ater ao esquema 
evolutivo de Margaret Mahler (1982). Ela identificou três amplas fases no 
desenvolvimento da criança. Nos dois primeiros meses de vida ocorre a fase autista, 
na qual o bebê está voltado para si mesmo e mais preocupado com a sobrevivência 
do que com os relacionamentos. 
O período entre dois e seis meses é denominado como simbiose, inicia-se 
com a resposta sorridente do bebê e com a capacidade visual de acompanhar a face 
materna. Para ele a experiência primária da díade mãe-bebê é de uma unidade dual, 
em vez de dois indivíduos separados. 
A terceira fase separação/individuação é caracterizada por quatro subfases. 
A subfase de diferenciação, que se encontra entre os seis e 10 meses, a criança 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 26 
torna-se consciente de que a mãe é uma pessoa separada. Prática é a próxima 
subfase; ocorre entre os 10 e 16 meses. Com as habilidades motoras recentemente 
descobertas desta idade, os bebês adoramexplorar o mundo por si próprios, 
embora na maioria das vezes retornem para suas mães a fim de se 
“reabastecerem”. 
A terceira subfase, reaproximação, é caracterizada por uma consciência 
mais aguçada da mãe como alguém separado, ocorrendo entre os 16 e 24 meses de 
idade. Esta consciência traz consigo um senso mais frágil, uma ansiedade nos 
momentos de separação da mãe. A criança está frequentemente a checar o 
paradeiro da mãe durante as brincadeiras. 
A quarta e última subfase, que corresponde aproximadamente ao terceiro 
ano de vida, é marcada pela consolidação da individualidade e pelo início da 
constância objetal. É a integração de visões dissociadas da mãe em um objeto 
completo, único, que pode ser internalizado como uma presença interna 
emocionalmente tranquilizadora, que sustenta a criança durante a ausência 
materna. 
Assim, os pacientes Borderline atravessaram com sucesso a fase simbiótica, 
mas se fixaram na fase de separação/individuação. Na subfase de reaproximação, 
como vimos, a criança fica alarmada quanto à possibilidade de sua mãe 
desaparecer e por vezes fica muito preocupada sobre onde ela está. Sob este ponto 
de vista evolutivo, os pacientes Borderline podem ser vistos como vivendo 
repetidamente uma antiga crise infantil na qual eles temem que as tentativas de se 
separarem de suas mães resultem no seu desaparecimento e abandono. 
Na forma adulta desta crise infantil, os sujeitos são incapazes de tolerar 
períodos de solidão e temem o abandono por parte das outras pessoas 
significativas. Ao longo do período de separação e individuação, as crianças são 
incapazes de integrar os aspectos bons e maus de si próprios e de suas mães. 
Estas imagens contraditórias são mantidas separadamente pela dissociação, de 
forma que a mãe é vista como alternando entre ser totalmente boa ou totalmente 
má. 
Por volta dos três anos de idade a grande parte das crianças já mantém uma 
constância objetal suficientemente estabelecida. Por terem internalizado uma 
imagem inteira de suas mães, as crianças conseguem sustentar melhor os períodos 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 27 
de sua ausência física. Como os sujeitos Borderline não possuem esta imagem 
interna, eles têm pouca ou nenhuma constância objetal, o que contribui para sua 
intolerância à separação e solidão. 
A passagem pela fase edípica, em função desta agressão inata, fica 
impedida. Logo, os conflitos edípicos dos pacientes Borderline, com frequência 
aparecem de forma mais crua e primitiva, comparados aos dos pacientes neuróticos. 
 
 
3.2.1 Abordagens Terapêuticas 
 
 
A psicoterapia individual de longo prazo pode ser útil para pacientes com 
transtorno de personalidade Borderline, mas a maioria das psicoterapias é 
interrompida de maneira tempestuosa e impulsiva. Os objetivos otimistas na 
psicoterapia individual dos pacientes incluem o fortalecimento do ego, de forma que 
o paciente possa suportar melhor a ansiedade e ter maior controle sobre os 
impulsos; integração das representações dissociadas do objeto, de forma que as 
separações de figuras significativas possam ser toleradas. 
Estes pacientes são propensos a abandonar a psicoterapia, atuar de forma 
destrutiva, fazer exigências excessivas de um tratamento diferenciado por parte do 
terapeuta; provocá-los a ultrapassar os limites profissionais imprudentemente. A 
psicoterapia de grupo pode ser associada à psicoterapia individual. Ela pode 
oferecer ao paciente uma oportunidade de compreender as defesas Borderline de 
dissociação, visto que elas aparecem com certa frequência nos grupos. 
Apesar das vantagens de trabalhar num contexto grupal, os terapeutas irão 
encontrar alguma dificuldade na psicoterapia de grupo. Os pacientes Borderline 
podem facilmente se tornar bodes expiatórios em função da sua psicopatologia mais 
primitiva e sua grande tendência de expressar os afetos de forma direta. O terapeuta 
pode ser solicitado a apoiar o paciente quando o bode expiatório surge como tema 
do grupo. Além disso, os pacientes também podem vivenciar um aumento em seus 
sentimentos de privação devido à competição com o grupo pelo conforto oferecido 
pelo terapeuta. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 28 
Contatos intermitentes com os pais dos pacientes que moram com a família, 
especialmente se os pais estão financiando a terapia, são úteis para consolidar o 
apoio ao tratamento. A partir de diversas abordagens técnicas listamos oito 
princípios básicos que são valorizados na psicoterapia de pacientes Borderline: 
- Definir uma estrutura de tratamento estável – a estabilidade para o 
paciente Borderline deve ser imposta a partir de fontes externas. O psicoterapeuta 
pode introduzir alguma estabilidade na vida do paciente, determinando horários 
fixos, terminando as sessões no horário, mesmo que o paciente insista em ficar mais 
tempo, estabelecendo expectativas claras a respeito do pagamento dos honorários e 
desenvolvendo uma norma explícita sobre as consequências das faltas. 
- Evitar uma posição terapêutica passiva – a posição silenciosa e reflexiva 
do trabalho do psicanalista geralmente não é adequada à psicoterapia com paciente 
Borderline. Estes pacientes frequentemente irão interpretar de forma errada o 
silêncio, como falta de interesse, ou mesmo como uma maldosa privação de apoio. 
A aliança terapêutica é facilitada por maiores verbalizações do terapeuta, mesmo 
fazendo afirmações simples como “Eu entendo” ou perguntas abertas como “Você 
pensa alguma outra coisa a respeito disto?” Quando o paciente fica em silêncio, é 
melhor o terapeuta questionar o motivo do silêncio, em vez de deixar continuar por 
um período prolongado. 
- Conter a raiva do paciente – Os clínicos que escrevem sobre o tratamento 
de pacientes Borderline admitem o desafio que é manter uma postura terapêutica 
frente aos constantes ataques verbais de desprezo e raiva. O terapeuta 
frequentemente se sentirá provocado a se defender ou retaliar com interpretações 
hostis ou sarcásticas. 
O terapeuta pode também recuar consciente ou inconscientemente de um 
investimento emocional no paciente, desejando que ele deixe a terapia e encontre 
outra pessoa para atormentar. A abordagem ótima para a contenção das partes do 
paciente, cheias de ódio projetadas, já foram discutidas na psicoterapia do paciente 
paranoide. Questionamentos suportivos e compreensões empáticas são muito úteis 
nestas situações. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 29 
- Confrontar comportamentos autodestrutivos – Os pacientes Borderline 
geralmente apresentam pensamento mágico a respeito de seu comportamento 
autodestrutivo. Eles podem esquecer completamente as consequências reais de 
suas atitudes por fantasiarem que seu comportamento irá ter resultados diferentes. 
O terapeuta deve fazer com que o paciente veja as consequências reais. Por 
exemplo, um paciente homossexual do sexo masculino disse a seu terapeuta que 
sentia uma forte necessidade de encontros homossexuais, pois o fato de engolir 
sêmen de um homem viril e masculino o fazia sentir mais masculino. Seu terapeuta 
assinalou que apesar desta fantasia, a consequência real de engolir sêmen de outro 
homem era o risco de contrair AIDS. 
- Estabelecer a conexão entre sentimentos e ações - A ação é, na maioria 
das vezes, a linguagem dos pacientes Borderline. Estes pacientes se sentem tão 
controlados por afetos poderosos que a ação pode parecer a única forma de 
encontrar alívio. Entretanto, muito desse padrão está em sintonia com o ego, de 
forma que os pacientes com frequência não estão cientes de que suas ações são 
motivadas por sentimentos. Sua ideia consciente é de que simplesmente estes 
impulsos apareçam “inesperadamente”.Os terapeutas devem, portanto, procurar 
sempre pontuar os sentimentos que levaram à ação. Uma paciente saiu e comprou 
oito barras de chocolate, comendo todas em um intervalo de dez minutos depois que 
um homem lhe telefonou para marcar um encontro. Embora esta paciente não visse 
ligação entre estes dois eventos, o terapeuta a ajudou a compreender que a 
perspectiva de ir a um encontro, a deixou ansiosa, sensação que ela tentou aliviar 
comendo excessivamente. 
- Estabelecer limites – geralmente no início da terapia o profissional pode 
querer estabelecer uma série de “regras fundamentais”, incluindo não telefonar entre 
as sessões, a verbalização de sentimentos suicidas para o terapeuta antes de fazer 
as tentativas, etc. Muitos dos pacientes Borderline vivenciam os limites profissionais 
como privações cruéis e punitivas por parte do terapeuta. Eles podem exigir 
demonstrações mais concretas de carinho, como abraços, sessões prolongadas, 
redução de honorários e disponibilidade 24 horas por dia. Alguns terapeutas que 
vivenciam sentimentos de culpa em relação ao estabelecimento de limites podem 
começar a ultrapassar os limites profissionais, em nome da flexibilidade ou da 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
prevenção do suicídio. Um terapeuta do sexo masculino, por exemplo, começou a 
atender uma paciente em psicoterapia duas vezes por semana, mas dentro de um 
ano, estava atendendo-a sete vezes na semana. Nos domingos ele ia especialmente 
ao consultório para atendê-la. Muitos casos de sexo entre paciente e terapeuta 
envolvem pacientes Borderline. 
O suicídio é um risco sempre presente nos pacientes Borderline e os 
terapeutas devem estar sempre prontos para hospitalizar seus pacientes quando 
estes se tornam demasiadamente fortes. 
- Manter o foco das intervenções no aqui e agora – na psicoterapia dos 
pacientes Borderline a ação está na transferência. A visão que o paciente tem do 
terapeuta se modifica de dia para dia, ou mesmo em uma única sessão. Se o 
terapeuta é percebido em algum momento, como pouco compreensivo, esta 
preocupação pode passar em um piscar de olhos para uma percepção do terapeuta 
como uma pessoa malévola, com intenções sádicas. Estas mudanças devem ser 
abordadas assim que elas ocorrem, em vez de permitir ao paciente que fuja da 
transferência. 
- Monitorar os sentimentos contratransferenciais – a importância da 
observação da contratransferência é central na discussão sobre psicoterapia. A 
atenção contínua aos próprios sentimentos impede a atuação contratransferencial 
do terapeuta. Cada terapeuta tem limites pessoais de quanto de raiva e ódio eles 
suportam. Por exemplo, um terapeuta deve utilizar os sentimentos 
contratransferenciais de forma terapêutica dizendo ao paciente: “Tenho a impressão 
de que você está tentando me deixar com raiva de você, em vez de me deixar ajudá-
lo. Vamos ver se nós podemos compreender o que está ocorrendo aqui”. 
Os terapeutas devem ser reais e genuínos com os pacientes Borderline, ou 
irão apenas aumentar a inveja que os pacientes têm deles como figuras santas, que 
são basicamente não humanas. A evolução da psicoterapia com estes pacientes é 
incerta. A taxa de abandono chega a aproximadamente um terço. Para finalizar, 
temos um caso-exemplo, retirado do Manual de Psiquiatria Psicodinâmica (Gabbard, 
1998, p. 315): 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
 
 
A Sra. GG era uma mulher de 24 anos que veio para a psicoterapia depois 
de repetidas falhas com outros terapeutas. Ela era incapaz de viver fora da 
casa de seus pais, apesar do fato de ser inteligente e pessoalmente 
envolvente. Ela havia tido incontáveis empregos, nenhum por mais de três 
meses. Na entrevista inicial ela conseguia impressionar os empregadores o 
suficiente para convencê-los a empregá-la, mas logo que começava a ter 
sucesso ficava extraordinariamente ansiosa e agia de forma a ser 
despedida. 
Assim que veio a terapia, a Sra. GG desenvolveu um desejo imediato de 
que o terapeuta cuidasse dela. Ela queria ser sua única paciente e ser 
atendida cinco vezes na semana em vez de duas. Ela disse ao terapeuta 
que ele era “simpático e maravilhoso”; que era diferente do outro terapeuta 
que ela havia consultado. Ela achava que poderia melhorar muito se 
pudesse estar na sua presença todos os dias da semana. 
Esta transferência idealizada rapidamente passou para uma desvalorizada, 
quando o terapeuta deu sua opinião de que duas vezes seria preferível, 
considerando-se que uma das dificuldades da Sr. GG era lidar com a 
frustração. Neste ponto a Sr. GG explodiu; ela acusou o terapeuta de ser 
cruel e não empático por estar simplesmente baseando o tratamento no que 
ele pensava ser melhor em vez de responder às suas necessidades. 
Ela saiu enfurecida de seu consultório dizendo que não voltaria mais. Dez 
minutos mais tarde telefonou para seu terapeuta de um telefone público, 
disse que ele era um “filho da puta” e desligou. Dez minutos depois ela ligou 
novamente, desta vez para desculpar-se e dizer que retornaria para a 
próxima sessão. O terapeuta simplesmente respondeu que estaria bom 
para ele. 
Na próxima sessão de psicoterapia a Sr. GG não se referiu ao que havia 
ocorrido na sessão anterior. Ela conversou amigavelmente com o terapeuta 
como se nada houvesse acontecido. O terapeuta ofereceu uma 
interpretação empática. “Parece que você precisa manter os sentimentos de 
ódio da sessão passada fora da sessão hoje para que eles não destruam os 
sentimentos positivos que você está tendo”. Esta intervenção permitiu à 
paciente falar sobre como era frustrante quando outras pessoas não 
respondiam às suas necessidades de dependência como ela gostaria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 32 
 
 
4 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA 
 
 
4.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
Critérios Diagnósticos do DSM IV para transtorno da personalidade narcisista 
Um padrão global de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), 
necessidade de admiração e falta de empatia, que se manifesta no início da idade 
adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mínimo, 
cinco dos seguintes critérios: 
(1) Sentimento grandioso acerca da própria importância (p. ex. exagera 
realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações à 
altura); 
(2) Preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, 
beleza ou amor ideal; 
(3) Crença de ser “especial” e único e de que somente pode ser 
compreendido ou deve associar-se a outras pessoas (ou instituições) especiais ou 
de condição elevada; 
(4) Exigência de admiração excessiva; 
(5) Presunção, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um 
tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas; 
(6) É explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem 
de outros para atingir seus próprios objetivos; 
(7) Ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os 
sentimentos e necessidades alheias; 
(8) Frequentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da 
inveja alheia; 
(9) Comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes. 
FONTE: DSM IV 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
FIGURA 5 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
As pessoas com o transtorno da personalidade narcisista têm um sentimento 
grandioso de vaidade. Elas habitualmente superestimam suas capacidades e 
exageram suas realizações. Frequentemente esperam ser reconhecidas como 
superiores, especiais ou únicas. Elas podem buscar e atribuir indevidamente 
qualidades únicas, perfeitas ou talentosas àqueles que as ajudam. 
Podem mostrar-seorgulhosas e pretensiosas, mas com igual assiduidade 
supõem que os outros atribuem o mesmo valor que elas aos seus esforços, ficando 
dolorosamente magoadas se a admiração esperada não chega. Os pacientes estão 
repetidamente preocupados com fantasias que confirmem sua grandiosidade ou o 
sentimento de serem superiores, especiais ou únicos. Tais fantasias na maioria das 
vezes envolvem admiração e privilégios especiais que eles acreditam merecer. 
Narcisismo saudável x patológico – na prática psiquiátrica 
contemporânea, a distinção entre graus de narcisismo saudável e patológico é 
bastante difícil. Certa medida de amor próprio não apenas é normal como também 
desejável. Assim, não é fácil identificar o ponto em que o narcisismo saudável vira 
narcisismo patológico. 
Outro fator de confusão é que muitos comportamentos podem ser 
patologicamente narcisistas em um sujeito, enquanto uma manifestação de 
autoestima saudável em outro. Um menino de 15 anos, por exemplo, que fica de pé 
em frente ao espelho secando o cabelo com secador por 45 minutos para ter todos 
os fios de cabelo no lugar. A maioria de nós entenderia a vaidade deste tipo como 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 34 
normal para um jovem adolescente. Agora vamos mudar para um homem de 30 
anos, que passa o mesmo período de tempo em frente ao espelho com um secador. 
Este quadro já é um pouco diferente pelo fato que esta excessiva 
autoabsorção está longe da norma para um homem desta idade. Se nós agora 
imaginarmos um homem de 45 anos envolvido na mesma atividade, novamente 
ficamos mais tolerantes em nossa atitude porque, como foi o caso com o menino 
adolescente, nós compreendemos este comportamento como parte de uma fase do 
desenvolvimento no ciclo vital, à qual com frequência nos referimos como a crise da 
meia-idade. 
Entretanto, antes de determinar definitivamente sobre a relativa saúde ou 
patologia destes sujeitos, nós deveríamos saber mais a respeito das suas outras 
atividades. Os exemplos acima ilustram como o narcisismo é julgado de forma 
diferente dependendo da fase do ciclo de vida pela qual a pessoa está passando. 
Para dificultar ainda mais as coisas, vivemos em uma cultura narcisista. Vemos o 
consumo de bens materiais como o caminho para a felicidade. Somos impregnados 
por uma mídia eletrônica que prospera em imagens superficiais e ignora a essência 
e a profundidade. 
Somos consumidos pelo glamour da celebridade. Nosso medo de 
envelhecer e da morte mantém os cirurgiões plásticos ocupados. Livros com títulos 
como “Buscando ser o número 1” fazem parte da lista dos mais vendidos. Técnicos 
de atletismo permanecem impunes pelo tratamento abusivo dado aos seus atletas, 
conquanto eles levem títulos e troféus para casa. A vitória perdoa tudo. 
Levando-se em conta este ambiente cultural, é muitas vezes problemático 
determinar que traços indicam um transtorno de personalidade narcisista e quais são 
simplesmente traços culturais adaptativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 35 
FIGURA 6 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
Soma-se a isso a dificuldade de diferenciar uma autoestima saudável de 
uma autoestima artificialmente inflada. Um profissional de saúde mental, por 
exemplo, apresentando um material científico para uma plateia de colegas. O 
apresentador percebe que metade do público está dormindo durante a apresentação 
e que outros estão se levantando e saindo. No final o palestrante é criticado por seu 
“pensamento confuso” e pelo fato de “não apresentar nada de novo”. Ele responde a 
estas críticas dizendo a si mesmo: “Independente do que eles pensam, eu de 
qualquer forma sei que sou competente”. Como avaliamos esta resposta: 
1) esta pessoa tem uma autoestima saudável que não sucumbe a uma 
experiência desfavorável, ou 2) a resposta do apresentador reflete o narcisismo 
patológico no sentido de ser uma reação defensiva para compensar um dano à sua 
autoestima. 
Que critérios, então, a partir destas variedades de usos, diferenças 
evolutivas e influências culturais, podemos utilizar para a diferenciação do 
narcisismo saudável do patológico? A história de vida do sujeito pode ajudar um 
pouco nesta diferenciação. Sujeitos narcisistas altamente perturbados podem 
encontrar sucesso em certas profissões, como grandes negócios, artes, política, 
indústria da diversão. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 36 
Entretanto, em certos casos também a patologia narcisista pode ser refletida 
na qualidade superficial dos interesses profissionais da pessoa, como se a 
realização e o aplauso fossem mais importantes que o domínio da área. O 
funcionamento profissional é, algumas vezes, baixo, refletindo a relutância em 
assumir riscos em situações nas quais a frustração é possível. 
As formas patológicas do narcisismo também podem ser identificadas pela 
qualidade dos relacionamentos do sujeito. Estas pessoas são acometidas pela sua 
incapacidade de amar. Relacionamentos saudáveis são caracterizados por 
qualidades como empatia e preocupação com o sentimento dos outros. As pessoas, 
algumas vezes, podem fazer uso dos outros para gratificar suas necessidades, mas 
este não é um estilo único e privilegiado de lidar com as outras pessoas. 
Por outro lado, a pessoa com um transtorno narcisista de personalidade 
aproxima-se das pessoas como objetos a serem utilizados e descartados de acordo 
com suas necessidades, sem consideração por seus sentimentos. O sujeito com 
frequência termina um relacionamento depois de um curto espaço de tempo, 
geralmente quando a outra pessoa começa a fazer exigências de acordo com suas 
necessidades. Esta falta de empatia reflete uma ausência de interesse ou uma 
incapacidade de reconhecer os desejos, experiências subjetivas e sentimentos dos 
outros. 
Se o paciente é do sexo masculino, ele pode ter a síndrome de “Don Juan” 
na qual ele seduz as mulheres e as descarta quando a idealização se transforma em 
desvalorização. Considerando as mulheres apenas como conquistas, ele não tem a 
capacidade de empatizar com a experiência interna das mesmas. Embora estes 
pacientes sejam com mais frequência do sexo masculino, as mulheres podem 
apresentar patologia narcisista semelhante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 37 
FIGURA 7 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
Visto que o diagnóstico de transtorno da personalidade narcisista baseia-se 
fortemente em uma grandiosidade que pode não ser declarada, ele pode facilmente 
passar despercebido por profissionais que não estejam atentos à experiência 
subjetiva, fantasias interiores e comportamentos velados. Além disso, a 
grandiosidade pode ser encontrada em outros diagnósticos, tais como a mania e o 
transtorno delirante. 
Por estas razões, a despeito da importância da grandiosidade nas 
descrições do transtorno e do seu surgimento como aspecto mais característico do 
diagnóstico, ela por si só não é suficiente para o diagnóstico. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
FIGURA 8 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
4.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
Para falarmos da dinâmica do transtorno da personalidade narcisista 
usaremos a teoria da psicologia do self de Kohut (1985). A psicologia salienta a 
importância dos relacionamentos externos para manter a autoestima e a coesão do 
self. Esta abordagem teórica entende o paciente como tendo uma necessidade 
desesperada de certas respostas das outras pessoas, a fim de manter um senso de 
bem-estar. 
Kohut (1985) acreditava que os sujeitos com perturbações narcisistas estão 
presos a um estágio de desenvolvimento em quenecessitam de respostas 
específicas das pessoas do ambiente para manter um self coeso. Quando estas 
respostas não ocorrem, estes sujeitos apresentam tendência à fragmentação. Kohut 
entendeu isto como o resultado da falta de empatia por parte dos pais. Esses não 
respondiam de forma adequada, validando e admirando o exibicionismo compatível 
com a fase em que a criança se encontrava. 
Estas respostas aprovatórias são essenciais para o desenvolvimento normal, 
visto que proporcionam à criança um senso de autovalia. Esta ausência de empatia 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 39 
se manifesta na tendência do paciente de desenvolver uma transferência especular. 
Nesta, o paciente espera do analista uma resposta confirmatória e validante, que 
Kohut associou como o “brilho no olhar materno” em resposta às demonstrações de 
exibicionismo da criança. O paciente espera aprovação e admiração por parte do 
terapeuta. 
Podemos usar a metáfora de um casulo para descrever a sensação que um 
sujeito narcisista tem, da ausência de relação com o ambiente. Este casulo é como 
uma ilusão de autossuficiência onipotente, reforçada por fantasias grandiosas que 
podem ser iniciadas por uma mãe que tenha uma visão grandiosa exagerada do 
filho. A tarefa do terapeuta é criar um ambiente propício para que o desenvolvimento 
do paciente prossiga. 
 
 
4.2.1 Abordagens Terapêuticas 
 
 
A terapia individual e, mais especificamente a psicanálise, é o tratamento 
básico para os pacientes com o transtorno da personalidade narcisista. Para Kohut, 
a empatia é a pedra fundamental da técnica. Os terapeutas devem ser empáticos 
com a tentativa do paciente de reativar uma relação parental fracassada, levando o 
terapeuta a preencher suas necessidades de afirmação, de idealização ou de ser 
igual ao terapeuta. 
É importante procurar o lado positivo das experiências do paciente e evitar 
comentários que possam ser duramente críticos. A terapia de grupo é geralmente 
um complemento à terapia individual. Nos grupos é possível encontrar um equilíbrio 
entre o desejo de ficar em um relacionamento especial fantasioso ou idealizado com 
o terapeuta e o desejo de evitar confrontações com pessoas iguais. 
Nenhuma evidência indica que a terapia do comportamento ou medicações 
desempenha um papel significativo no tratamento do transtorno. A seguir, traremos 
um caso-exemplo retirado do Tratado de Psiquiatria (KAPLAN e SADOCK, 1999, p. 
1574) que ilustra bem o transtorno da personalidade narcisista: 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
 
Uma mulher de 43 anos procurou tratamento junto a um renomado analista 
de um famoso instituto para seus problemas “singularmente difíceis”. Ela 
dizia que sua vida era complicada e que apenas alguém tão bem preparado 
como ele seria capaz de ajudá-la; de fato, a paciente foi, provavelmente, 
seu caso mais complexo e desafiador. A paciente dizia que estava tendo 
problemas com seus colegas de trabalho, os quais ela descrevia como 
“incompetentes” e invejosos de suas habilidades especiais como corretora 
imobiliária. Embora suas vendas estivessem na média para a agência, ela 
estava certa de que seus colegas e seus chefes admiravam suas 
“habilidades superiores para lidar com o público” e que ela em breve seria 
reconhecida como a melhor corretora. O problema era que ela não estava 
disposta a fazer alguns trabalhos de contabilidade exigidos de todos os 
corretores porque ela tinha curso superior e considerava aquele trabalho 
indigno dela. Quando seus colegas a chamaram de “presunçosa”, ela ficou 
enraivecida e extremamente humilhada e estava pensando em deixar seu 
emprego. Ela dizia que as outras pessoas estavam lhe causando problemas 
semelhantes. Seu namorado tinha recentemente cancelado um encontro 
para ir ao enterro da sua avó, o que a aborrecera enormemente. E quando 
sua irmã não concordou em ir a uma estação de repouso que a paciente 
preferia, ela raivosamente cancelou a viagem, dizendo que nem mesmo o 
melhor agente de viagens do mundo poderia encontrar um lugar melhor. 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO II 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 41 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 43 
 
 
MÓDULO III 
 
 
5 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL 
 
 
5.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
 
Critérios Diagnósticos do DSM-IV para transtorno da personalidade antissocial 
 
A. Um padrão global de desrespeito e violação dos direitos alheios, que ocorre 
desde os 15 anos, indicado por, no mínimo, três dos seguintes critérios: 
 
(1) Incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a 
comportamentos lícitos, indicada pela execução repetida de atos que constituem 
motivo de detenção; 
(2) Propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes 
falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer; 
(3) Impulsividade ou fracasso de fazer planos para o futuro; 
(4) Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou 
agressões físicas; 
(5) Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; 
(6) Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em 
manter um comportamento laboral consistente ou de honrar obrigações financeiras; 
(7) Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter 
ferido, maltratado ou roubado alguém. 
 
B. O indivíduo tem, no mínimo, 18 anos de idade. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 44 
C. Existem evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos de 
idade. 
 
D. A ocorrência do comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o 
curso de Esquizofrenia ou Episódio Maníaco. (FONTE: DSM-IV). 
 
O transtorno da personalidade antissocial é caracterizado por um 
comportamento invasivo, crônico, de desrespeito e violação dos direitos dos outros; 
tem início na infância ou na adolescência, continua na vida adulta e está presente 
em uma grande variedade de contextos. 
Os antissociais talvez sejam os pacientes mais amplamente estudados, de 
todos os pacientes com transtorno de personalidade. Eles foram chamados de 
pacientes “psicopatas”, “sociopatas” e com “transtorno de caráter”, termos que em 
psiquiatria tradicionalmente significa o mesmo que ser intratável. Alguns podem até 
argumentar que estes pacientes devem ser considerados “criminosos” e não devem 
ser incluídos na jurisdição da psiquiatria. Entretanto, a experiência clínica sugere 
que o rótulo de antissocial é aplicado tanto aos totalmente intratáveis como aos 
tratáveis sob certas condições. 
Este transtorno parece estar associado a situações econômicas 
desfavoráveis e a certos contextos urbanos. Uma infância marcada por pais 
negligentes, ríspidos e fisicamente abusivos são fatores de risco para o 
desenvolvimento da personalidade antissocial. Em alguns casos, o diagnóstico pode 
ser aplicadoincorretamente, na medida em que um comportamento antissocial pode 
servir como uma estratégia de sobrevivência. O transtorno da personalidade 
antissocial é muito mais comum em homens do que em mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 45 
FIGURA 9 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
A definição está pautada na ideia de que o comportamento antissocial 
começa na adolescência. Antes disso, a personalidade provavelmente é 
caracterizada por distração e agressividade. Histórias de enurese, sonambulismo, 
atos de crueldade, também são prognósticos característicos de um futuro 
desenvolvimento do transtorno. 
Já na adolescência, a perturbação assume a forma de comportamentos 
tipicamente antissociais como: mentira, vadiagem, vandalismo, promiscuidade, 
chegando a incluir comportamentos sexuais agressivos e abuso de substâncias. 
Aproximadamente um terço dessas pessoas têm problemas de alcoolismo. A 
incapacidade do adulto jovem de se desempenhar satisfatoriamente no trabalho, 
como pai ou cônjuge, completa o quadro clínico. 
Os comportamentos antissociais tendem a alcançar um pico nos primeiros 
anos de vida adulta e diminuem gradativamente com a idade. 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 46 
FIGURA 10 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
Os sujeitos com o transtorno são regidos por coação ou vantagem pessoal. 
Eles valorizam os outros pelo que eles têm a oferecer e acreditam que precisam 
extorquir o máximo que puderem. Este modo de pensar geralmente manifesta-se em 
comportamentos ilegais, tais como destruição intencional do patrimônio alheio, furto 
e intimidação física. 
Estes comportamentos estão associados à maldade, crueldade e sadismo, 
isto é, prazer pelos problemas que causaram aos outros. São cometidos em 
benefício próprio, sem preocupação aos danos que pode acarretar ao outro. Os 
sujeitos com transtorno de personalidade antissocial carecem de lealdade, fidelidade 
e honestidade, o que os impede de manter relacionamentos duradouros ou 
satisfatórios para ambos os lados. 
Sua aparente autoconfiança e demonstração de desembaraço podem 
impressionar, mas a incapacidade de apresentar razões sinceras ou significativas 
para seus motivos e sentimentos torna-se um obstáculo inaceitável para aqueles 
que buscam um relacionamento íntimo. Sua infidelidade, fuga de obrigações e 
quebra de promessas são um traço marcante. 
A ausência de ligações significativas e os sentimentos superficiais as 
separam dos outros. As pessoas antissociais veem o mundo exterior como 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 47 
afetivamente frio e automático. Elas podem geralmente justificar sem remorso, a 
desconsideração pelas regras e pelos direitos dos outros. 
 
 
5.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
Estudos indicam que fatores genéticos podem influenciar o desenvolvimento 
do transtorno, mas não são claros o quanto são específicas estas influências 
genéticas. Estes fatores biológicos podem, por sua vez, contribuir para problemas 
precoces na relação mãe-filho. Estas crianças, em função de fatores constitucionais, 
podem ser intranquilas, o que interfere na relação com os pais. Pacientes 
antissociais frequentemente têm histórias de negligência ou abuso na infância por 
parte de figuras parentais. 
Independente de se a responsabilidade é da criança, da mãe, ou de ambos, 
estes sujeitos não alcançaram o nível evolutivo da constância objetal descrito por 
Mahler (1975). Assim, eles não possuem uma introjeção materna tranquilizadora. A 
falta da confiança básica, associada à ausência de experiências amorosas com uma 
figura maternal, apresenta graves implicações no desenvolvimento futuro das 
pessoas com o transtorno da personalidade antissocial. 
O processo de desenvolvimento fica paralisado antes de ser completada a 
separação/individuação (Mahler, 1975) e desenvolver-se a constância objetal. Ao 
mesmo tempo, o vínculo emocional entre a criança e a mãe é perturbado porque a 
mãe é sentida como uma estranha. A marca clássica no sentido dinâmico do 
psicopata é o fracasso do desenvolvimento do superego. 
A ausência de qualquer sentido moral nestes sujeitos é uma das 
apavorantes qualidades que os fazem parecer destituídos de qualquer humanidade. 
A agressão é seu único sistema de valores, independente da consequência. Eles 
não fazem o menor esforço para justificar moralmente seu comportamento 
antissocial. Na situação terapêutica eles podem mentir, enganar, roubar, ameaçar ou 
agir de forma irresponsável ou enganosa. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 48 
FIGURA 11 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
5.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
 
A psicoterapia individual do paciente com transtorno antissocial grave está 
condenada ao fracasso. O psicopata puro, num sentido dinâmico, não irá responder 
à psicoterapia. O paciente mente e os engodos são tão generalizados que o 
terapeuta não terá ideia do que realmente está ocorrendo na vida do mesmo. 
Em um contexto hospitalar ou institucional existe algum otimismo com um 
grupo de pacientes antissociais. Ambientes de tratamento tradicionais não são 
particularmente úteis, eles estimulam as piores qualidades destes pacientes. Os 
afetos serão descarregados por meio da ação, por não haver nenhum ambiente 
onde estes possam ser canalizados, contidos. 
Podemos citar algumas características clínicas que contraindicam a 
psicoterapia: 
- a história da conduta sádica ou violenta em relação aos outros que 
resultaram em ferimentos graves ou morte; 
- total ausência de remorso ou racionalização deste comportamento; 
- inteligência muito superior ou na faixa de retardo mental leve; 
- história de incapacidade de desenvolver ligações emocionais com outras 
pessoas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 49 
Os testes projetivos podem ajudar muito a avaliar a severidade da patologia 
antissocial destes pacientes. Embora eles possam ter sucesso ao iludirem os 
clínicos durante uma entrevista, eles têm muito mais dificuldade com o estímulo 
ambíguo de um borrão, como no teste Rorschach, por exemplo. O terapeuta que 
tenta a psicoterapia com pacientes antissociais deve ser capaz de confrontar 
rapidamente seus pacientes, ou serão enganados repetidas vezes, pois enquanto o 
objetivo do terapeuta é uma busca incansável da verdade, o objetivo do paciente é o 
engodo. 
Estes pacientes experimentam um poderoso sentido de prazer, ou excitação 
sempre que convencem o terapeuta de algo que não é verdade. Os terapeutas 
devem aprender a aceitar o fato de que serão enganados apesar de todos os 
esforços de estarem alertas para evitar isto. 
A aliança com o terapeuta pode estar completamente ausente quanto 
percebida apenas em breves e descontínuos lampejos de colaboração. Se, mesmo 
assim, os psicoterapeutas conseguem aceitar o fato de que estes pacientes irão 
trapacear, eles podem continuar com a psicoterapia baseados nas recomendações 
daqueles psicoterapeutas que tiveram muita experiência com esta população. Estas 
recomendações podem ser resumidas em seis princípios básicos: 
 
 
FIGURA 12 
 
FONTE: Banco de Imagens Portal Educação. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 50 
1- O psicoterapeuta deve ser estável, persistente e totalmente incorruptível. 
Estes pacientes farão de tudo para corromper o terapeuta para que tenha condutas 
não éticas ou desonestas. Assim, mais do que com qualquer outro grupo de 
pacientes, o psicoterapeuta deve manter rígidos os procedimentos normais na 
terapia. 
2- O psicoterapeuta deve repetidamente confrontar a negação e 
minimização da conduta antissocial pelo paciente.

Outros materiais