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Apostila Completa História do Brasil III

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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
  
CURSO: Licenciatura em História
MODALIDADE: Ensino à Distância (EAD)
ANO: 2016_2
COMPONENTE CURRICULAR: História do Brasil III
SEMESTRE: 5º.
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas
  
EMENTA
Elaboração do estudo e pesquisa de temas consagrados sobre o período compreendido entre o final do século XIX e os dias atuais. Analise do processo de abolição do sistema escravista e o advento do trabalho assalariado através da imigração; Entendimento sobre a importância do café como principal produto de exportação e motor da economia brasileira.  Compreensão do movimento republicano e suas bases sociais marcadas no meio militar e oligárquico; Exame da era Vargas e a questão do populismo; Reflexão sobre o regime militar e seu processo de repressão à esquerda; Detalhamento do processo de abertura e dos movimentos populares. Análise da conjuntura social, política e econômica da atualidade.
  
OBJETIVO GERAL
 Preparar os alunos para compreender o processo histórico de transformação das sociedades humanas na perspectiva da longa duração e para a construção autônoma do conhecimento histórico.
 
 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Unidade 1 – O projeto de nação, a industrialização e o surgimento do movimento operário.
Objetivo da Unidade
Entender as transformações e características da conjuntura política e social, nos primeiros anos de república, percebendo as suas conexões com o processo de formação cultural de um novo tempo, sem descartar as permanências e tradições mantidas.
Unidade 2 – Populismo e autoritarismo
Objetivo da Unidade
Analisar a importância da contribuição do processo imigratório e da industrialização nas primeiras décadas do século XX. Estudar o panorama social e político do Brasil, a partir das mudanças de poder, com foco no Estado Novo e seus desdobramentos, até a implantação da ditadura militar.
  
Unidade 3 – Ditadura, revolução cultural e o movimento de massas
Objetivo da Unidade
Refletir sobre os movimentos de abertura política e suas consequências no universo social e econômico da Nova República. Entender os planos econômicos adotados no Brasil e analisar a conjuntura internacional na esfera econômica e política.
  
Unidade 4 – Redemocratização, exclusão social e neoliberalismo
Objetivo da Unidade
Confrontar a nova construção da democracia com o velho regime político centralizador, percebendo os desdobramentos dessas transformações até o governo Lula.
  
 BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
SKIDMORE, Thomas.  Brasil de Getúlio a Castelo. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
SKIDMORE, Thomas.  Brasil de Castelo a Tancredo 1964-1985. São Paulo: Paz e Terra, 1988.
WEFFORT, Francisco C. O populismo na política brasileira. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
  
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: 
CARVALHO, José Murilo. A formação das almas. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder.  Volume 2. São Paulo: Globo, 2001.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2008.
CARONE, Edgard. A República Velha – 2ª. Evolução Política (1889-1930). Rio de Janeiro: Difel, 1983.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Império em Procissão - Descobrindo o Brasil São Paulo: Jorge Zahar, 2001.
  
 METODOLOGIA
As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns, atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites, atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores.
  
AVALIAÇÃO
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações à distância e Presencial, de acordo com a Portaria da Reitoria UNIMES 04/2014.
Última atualização: quinta, 4 Ago 2016, 09:54
AULA 01_ A CHEGADA DOS IMIGRANTES: CAFÉ E INDÚSTRIAS
  
As primeiras tentativas de se trazer mão-de-obra européia para o Brasil datam do início do século XIX. Sem muito sucesso, a imigração se intensificou a partir de 1850, com a proibição do tráfico negreiro e com a expansão do café na região sudeste do país. 
No século XIX a indústria açucareira do nordeste encontrava-se em franco declínio, obrigando os fazendeiros da região a vender os escravos para a região paulista, produtora de café, que se encontrava em plena ascensão. Durante algum tempo, a mão-de-obra escrava sustentou a expansão das lavouras de café. Entretanto, com a proibição do tráfico, os escravos tornavam-se cada vez mais caros e a própria escravidão aparecia como um regime de trabalho incompatível com a estrutura capitalista que começava a despontar no período. Em vis-ta disso, os cafeicultores paulistas deram início à experiência de emprego de mão-de-obra livre e estrangeira. 
Os imigrantes eram, em sua maioria, italianos que buscavam melhores oportunidades de vida e de trabalho, fugindo da situação de guerra e fome da Europa. No período de 1840 a 1857 os imigrantes tinham a viagem paga, além de dinheiro e mantimentos necessários, até se estabelecerem e iniciar o trabalho. Cada família cuidava de uma parte do cafezal, comprometendo-se a cultivar, colher e beneficiar o produto. Após a venda do café, metade do lucro ficava com o imigrante. Esse regime de trabalho ficou conhecido como sistema de parcerias e, à primeira vista parecia vantajoso ao imigrante, porém, na realidade, acabava por escravizá-lo. A metade do lucro das vendas nunca chegava às mãos do imigrante, pois todas as despesas que o fazendeiro assumira com sua contratação eram descontadas, com a cobrança de juros de 6% ao ano. Além disso, os imigrantes só podiam comprar produtos vendidos nos armazéns dos próprios fazendeiros, cujos preços eram muito mais caros do que o normal, e os pesos e medidas eram falseados em prejuízo aos imigrantes. Aqueles que ousavam enfrentar os patrões recebiam castigos, os que fugiam, muitas vezes eram mortos. Na época, dizia-se que os imigrantes eram tratados da mesma maneira que os escravos.  
Essa situação acabou por gerar uma revolta dos imigrantes. Diversos países europeus proibiram a emigração para o Brasil e o sistema de parcerias fracassou. 
A região sudeste, mais precisamente o Oeste Paulista, se tornou o centro cafeeiro do país, devido às condições naturais como o solo apto ao cultivo do café e o clima favorável aos imigrantes. O porto de Santos, até então bastante pequeno, ganhou uma importância crucial para o escoamento do café, e tempos depois, conseguiu ultrapassar o porto do Rio de Janeiro, tanto em termos de quantidade de exportação, como de extensão portuária. 
A estrutura de produção era precária: as lavouras ainda mostravam características coloniais; praticamente nenhuma inovação tecnológica foi introduzida para substituir a enxada e a foice; as vias de comunicação permaneciam rudimentares; o escoamento do café era realizado por tropas de mulas. A própria economia continuava baseada no latifúndio e na monocultura de exportação. 
Em 1850, os fazendeiros haviam conseguido a aprovação da Lei de Terras, a partir da qual, a posse de terras no Brasil, ficava regulada por operações de compra e venda e não, por instrumentos de doação ou arrendamento ou, ainda, pelo simples empossamento, como antes. Em outras palavras, a terra passou a ser considerada uma mercadoria — embora, na prática, essa nova maneira de compreender as relações de propriedade demorassem um pouco para se consolidar. 
Ao regulamentar a posse, a lei possibilitava aos fazendeiros monopolizar a mão-de-obra, pois o imigrante precisaria trabalhar bastante até acumular algum capital para poder adquirir terras.
 
A lei não só proibia a posse como também declarava que “os simplesroçados, queimas de mato ou campos, levantamento de ranchos ou outros atos de semelhante natureza” não eram considerados como tal.[...] 
No que diz respeito à imigração, a lei determinava a permissão de venda de terras aos estrangeiros e, caso houvesse interesse, estes poderiam se naturalizar. Mas, como se sabe, as terras eram vendidas por um preço relativamente alto, dificultando a aquisição por parte dos colonos. 
Antes da promulgação da Lei de Terras, os lotes eram cedidos gratuitamente aos colonos, que se instalavam por conta própria, por conta do governo ou por conta das companhias de colonização. Após essa lei, em regra, o governo cedia gratuitamente as terras às companhias que, por sua vez, as revendiam aos imigrantes em condições lucrativas.
(CAVALCANTE, J.L. A Lei de Terras de 1850 e a re-afirmação do poder básico do Estado sobre a terra.
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/ anteriores/edicao02/materia02/ )
  A contratação de trabalhadores imigrantes assalariados consolidou-se a partir de 1870 e o café se tornou o motor da economia brasileira. Esse fato decorreu do consumo crescente dos mercados europeu e norte-americano, e o café suplantou definitivamente a economia do açúcar. A exportação de café aumentou de 17 milhões de sacas entre 1840 e 1850 para 53 milhões de sacas entre 1880 e 1890. 
A industrialização brasileira se inicia justamente nesse período. A abolição do tráfico negreiro permitiu a transferência de capitais – antes investidos no mercado escravista – para novos investimentos como a indústria. Aumentou consideravelmente o número de indústrias têxteis, ferrovias e companhias de luz. As ferrovias construídas, sobretudo, com capital externo, facilitaram o transporte do café até os portos, ao mesmo tempo em que possibilitava a ligação de regiões isoladas.
B
AULA 02_OS MOVIMENTOS ABOLICIONISTAS
 
A extinção do tráfico negreiro em 1850 contribuiu para a diminuição da mão-de-obra nas lavouras, afinal, o índice de mortalidade superava, em muito, o de natalidade, graças às precárias condições de vida e de trabalho dos negros. 
Internacionalmente, a imagem do Brasil era bastante negativa, pois em 1870, era o único país independente da América a manter a escravidão. O governo imperial, assim como o parlamento, possuía posições abertamente escravagistas. O partido republicano, com posições abolicionistas começava a se organizar. A ideia de emancipação dos escravos ganhava espaço. 
Foi nesse contexto que, para apaziguar os ânimos dos oposicionistas, promulgou-se a Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871. Segundo ela, todos os escravos nascidos a partir daquela data seriam considerados livres, mas sob as seguintes condições: até 8 anos ficariam sob a autoridade do proprietário; a partir dessa idade, o proprietário poderia libertá-lo (recebendo indenização do governo) ou utilizar-se de seus serviços até a idade de 21 anos. 
Fora do governo e do parlamento começou a se organizar o movimento a favor da libertação dos escravos. Houve uma explosão de jornais, clubes, associações, pronunciamentos públicos e nomes como Joaquim Nabuco, Pereira Barreto, Campos Sales, José do Patrocínio, Rui Barbosa e André Rebouças tornaram-se referências da causa abolicionista, embora com diferentes ideias e diferentes graus de comprometimento. 
Os abolicionistas moderados reivindicavam uma abolição lenta e gradual, sem a participação ativa do escravo. Eles temiam uma insurreição negra, a exemplo do Haiti, e que a campanha assumisse um aspecto popular e revolucionário. 
Os abolicionistas radicais defendiam a abolição total da escravidão através da luta e da revolta dos escravos. Esse grupo era chefiado por Silva Jardim, Luís Gama (ex-escravo), Augusto de Lima, Alberto Torres, Antônio Bento e Raimundo Corrêa.
A partir de 1884, algumas províncias (Ceará, Amazonas e Rio Grande do Sul) e cidades começaram a abolir a escravidão em seus territórios por conta própria. Muitos militantes promoviam fugas de escravos ou recolhiam em esconderijos os negros fugitivos. Organizavam-se comissões a fim de recolher fundos para comprar a liberdade dos cativos. A oposição ao governo escravista aumentava e ganhava adeptos junto ao clero, aos estudantes, militares, parte dos fazendeiros e à imprensa. 
O governo, então, promulgou a Lei dos Sexagenários, pela qual passaram a ser considerados libertos os escravos maiores de 60 anos de idade. Na verdade, essa foi outra solução paliativa, uma vez que o número de escravos com mais de 60 anos era irrisório e os poucos que chegavam nesta idade já não podiam trabalhar. Com essa lei o governa apenas protelava a abolição.
No final de 1886, os abolicionistas conseguiram uma vitória significativa: a revogação nos estatutos brasileiros do uso do açoite como castigo dado aos escravos indisciplinados. A abolição do castigo corporal representava o fim do mecanismo de sustentação do próprio escravismo. Sem a ameaça do castigo, o escravo tomava coragem para lutar por sua liberdade através de fugas e revoltas. Formavam-se muitos quilombos e muitas fazendas viram-se, de repente, completamente desprovidas de mão-de-obra. A polícia não conseguia atender a todos os pedidos de busca feitos pelos fazendeiros. 
No dia 11 de maio de 1888, chegou ao Senado o projeto do primeiro-ministro João Alfredo, em que se propunha a abolição total e incondicional da escravidão sem indenização. Apesar das discussões, o projeto acabou sendo aprovado. No dia 13 de maio ele foi sancionado pela princesa Isabel (Lei Áurea, 1888). Com isso, a monarquia perdia parte de sua base de sustentação, uma vez que a base do poder político do regime encontrava-se na elite agrário-escravocrata. 
Para os negros libertos, a integração à sociedade de classes continuou sendo bastante difícil. O racismo cultivado pela sociedade, a inexistência de possibilidades de educação, trabalho e saúde para os negros, estes acabaram por continuar sendo a camada mais explorada da sociedade, porém não mais com o título de “escravos”.  
Atividade: Análise de imagem
Observe as imagens. Estabeleça diferenças e semelhanças entre elas levando em conta a situação do negro antes e depois da abolição. 
Aula 03_O fim do império brasileiro: surge a república dos coronéis
 A agitação abolicionista estava ligada ao avanço das idéias republicanas. Reprimidas na época da independência e do período regencial, elas voltaram a ganhar força no plano político, a partir da dissidência no interior do Partido Liberal, em 1868. 
Logo, as idéias republicanas ganhariam força nas províncias de São Paulo e Rio Grande do Sul, onde se formaram par-tidos republicanos que possuíam uma expressão predominantemente regional e local, ao contrário dos partidos do Império, fortemente unidos nacionalmente. 
O movimento começava a ganhar força entre os militares e à medida que aumentavam em número, os republicanos dividiram-se em dois grupos: históricos ou evolucionistas e revolucionários. Os históricos, liderados por Quintino Bocaiúva, estavam ligados aos cafeicultores paulistas e eram chamados de evolucionistas por pretenderem chegar à República através de reformas sucessivas. Os revolucionários, ligados às camadas médias urbanas, liderados por Silva Jardim, advogavam a luta armada, se necessário, para a derrubada do Império. 
A ala militar foi fortemente influenciada por formas vagas de Positivismo, escola filosófica fundada por Augusto Comte, na França. Para os positivistas a humanidade atingiria o ápice do progresso, afastando-se do misticismo e baseando-se na ciência e na matemática. Em termos políticos pregavam o culto à autoridade, à necessidade de ordem como condição básica do progresso e à república autoritária como o grande ideal. 
Até a guerra com o Paraguai (1864-1870) o Exército dispunha de reduzido apoio. Os governantes prestigiavam amplamente a Marinha. A guerra forçou o governo a expandir e melhorar a organização do Exército. 
Com a vitória, os militares adquiriram um novo statusjunto à sociedade, e converteram-se ao abolicionismo e ao republicanismo. Dessa forma, os militares passaram a formar um “espírito de corpo”, ou seja, um conjunto de valores próprios que muitas vezes se chocavam com os valores civis. Tinham a ideia de que os civis, apegados aos interesses materiais, não saberiam cuidar dos interesses da pátria. Começavam a nascer as ideias de intervenções militares na política.
A crise financeira, a alta de preços e de impostos, os casos de corrupção e favorecimento pessoal àqueles que estivessem próximos da família imperial levaram a população a se mostrar cada vez mais insatisfeita com o regime monárquico. 
Setores do poder imperial também estavam dispostos a mudanças, não só por que eram necessárias, mas como forma de esvaziar os argumentos da oposição republicana. Em junho de 1889, o imperador encarregou o Visconde de Ouro Preto, membro do Partido Liberal, de organizar um novo gabinete. O gabinete liberal organizou um programa de reformas que se assemelhava às reivindicações republicanas: democratização do voto, diminuição dos poderes do Conselho de Estado, implantação de uma estrutura federalista dando maior autonomia às províncias. Além disso, Ouro Preto pretendia restaurar a antiga disciplina do Exército, medida que suscitou grande animosidade entre os militares. O programa foi combatido duramente no Parlamento por conservadores e até por liberais.
Enquanto isso republicanos, civis e militares, armavam uma conspiração visando a deposição do governo e, se possível, a derrubada do regime monárquico. Os oficiais mais velhos, porém, mantinham-se fiéis ao imperador, e o próprio Deodoro da Fonseca entrou na conspiração, visando derrubar Ouro Preto; só depois aderiu à derrubada do regime. 
Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, Ouro preto, sabedor da conspiração em andamento, reuniu-se no Ministério da Guerra. Tropas saídas de alguns quartéis, lideradas pelo marechal Deodoro da Fonseca, cercaram o edifício do ministério e conseguiram a adesão da tropa que o guarnecia e prenderam o gabinete. 
À tarde a Câmara dos vereadores do Rio de Janeiro, presidida por José do Patrocínio, declarou proclamada a república. 
A população em geral não teve influência ou participação alguma no processo de proclamação da república. Na capital, a vida corria normalmente, só aos poucos a população tomou conhecimento de que a parada militar, ocorrida pela manhã, conduzira à mudança de regime. 
Logo depois do dia 15 de novembro, dois grupos adquiriram grande importância: os militares e a oligarquia cafeeira. Os militares, inicialmente apoiados pelos cafeicultores, organizaram um governo provisório sob o comando do marechal Deodoro da Fonseca. O novo governo ordenou que a família real deixasse o país, vários membros do último ministério imperial foram presos e os partidos Conservador e Liberal, dissolvidos.
Em 1890, organizou-se uma Assembleia Constituinte, responsável pela elaboração da primeira Constituição republicana, que seria promulgada em 1891. A nova organização política do país, contudo, não significou uma participação popular efetiva e muito menos uma ampliação expressiva de direitos sociais. Pela Constituição de 1891, apenas os homens podiam votar, e desde que fossem maiores de 21 anos e alfabetizados. Esse critério reduzia o direito de voto a uma pequena parte da população. A fraude e a manipulação dos resultados eleitorais ocorriam com frequência. Uma das formas fundamentais de garantir o domínio das oligarquias regionais era a intervenção dos coronéis, grandes proprietários de terras, que intervinham na vida política local induzindo a população a votar em seus candidatos em troca de favores ou sob ameaças. A partir dessa lógica, fortaleceram-se as oligarquias estaduais assentadas sob a força do coronelismo. 
O regime oligárquico tornou-se mais explícito com a chamada política dos governadores, pela qual o governo federal deixava de intervir diretamente na política estadual, desde que ficasse garantida a eleição de deputados e senadores que não fizessem oposição ao poder executivo federal. Como os governadores conseguiam que fossem eleitos os candidatos convenientes aos seus interesses? Utiizando-se de fraudes e manipulações diversas. Com a consagração da política dos governadores a partir do governo do presidente Campos Salles (1898-1902), o federalismo ganhou impulso, possibilitando aos governos estaduais gerir os recursos públicos sem a intervenção federal. Em síntese, o governo federal governava sem oposição enquanto os governos estaduais desfrutavam de autonomia. 
Os produtores de café indicavam os candidatos à presidência da república e a condução do governo sempre atendeu aos interesses da economia cafeeira. 
Para o restante da população, aumentava o custo de vida, uma vez que o país dependia de produtos estrangeiros industrializados e a moeda nacional perdia valor. Essa desvalorização ocasionava o aumento da dívida externa brasileira. 
 
Atividade: Leia o texto a seguir e responda: 
 
“A proclamação da república correspondeu ao encontro de duas forças diversas – Exército e fazendeiros de café – movidas por razões diferentes. O Exército tinha motivos de ordem corporativa e ideológica para se opor à monarquia. A Guerra do Paraguai favoreceu a identificação dos militares como grupo, e eles começaram a criticar a posição secundária que o Império conferia à instituição. Pouco a pouco, foram afirmando o direito de expressar abertamente suas críticas e de se organizar politicamente. (...) Ao mesmo tempo, um grupo minoritário, mas extremamente ativo, liderado por Benjamin Constant, combinava tais críticas com uma perspectiva ideológica de maior alcance. Sob a influência do positivismo defendiam a implantação de um regime republicano e modernizador. Como se sabe, os fazendeiro paulistas, através do Partido Republicano Paulista, moviam-se por razões claramente econômicas. A República, sob forma federativa, significa o fim de centralização imperial, a autonomia dos Estados e a possibilidade de impor ao país um sistema que favorecesse o núcleo agrário-exportador em expansão”.
(FAUSTO, Boris. Pequenos Ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo: CEBRAP). 
  
Que situação econômico-social tornou possível a queda do Império? 
 
 AULA 04_O SURGIMENTO DO MOVIMENTO OPERÁRIO
A maioria dos estabelecimentos industriais no Brasil, no final do século XIX e início do século XX, estavam situados no eixo Rio de Janeiro - São Paulo. Essa região produzia 49% do total da produção industrial brasileira em 1907 e 51% em 1920. O restante estava espalhado por Salvador, Recife, Juiz de Fora e Porto Alegre. 
As condições de trabalho eram muito precárias: os operários eram submetidos, em geral, a jornadas de 16 horas diárias, e a semana consistia de seis e até sete dias de trabalho; não existia nenhum tipo de legislação em relação aos direitos dos trabalhadores e as demissões eram feitas sem qualquer justificativa ou indenização. Os operários recebiam, muitas vezes, castigos físicos, que recaíam, principalmente, sobre as crianças, que constituíam 50% dos trabalhadores da indústria. 
As mulheres operárias, além de receberem remunerações inferiores às dos homens, sofriam com frequência agressões de seus chefes e até mesmo assédio sexual. Os acidentes de trabalho eram constantes. 
À medida que a mecanização era introduzida em larga escala em vários setores da indústria brasileira, outro problema surgia: o desemprego que provocava um excedente de mão-de-obra que, por sua vez, garantia a redução dos salários, que já eram baixos. Os trabalhadores insatisfeitos podiam ser demitidos facilmente, pois haveria outros tantos disponíveis para o emprego. 
Para enfrentar esses problemas os trabalhadores começaram a formar as primeiras sociedades mutualistas, no final do século XIX. Estas sociedades tinham o objetivo de unir os trabalhadores de determinado ofício e garantir um mínimo de acesso à saúde e à educação das famílias operárias.Porém estas associações não possuíam um caráter de reivindicação de direitos perante o Estado. Isso só passou a acontecer com a formação dos primeiros sindicatos e federações já no início do século XX. 
As primeiras grandes greves foram organizadas nesse contexto. As cidades mais combativas eram: São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. A cidade de Santos possuía, assim como o Rio de Janeiro, um outro tipo de movimento operário, diferente do industrial: o portuário. A crescente exportação de café transformara a cidade de Santos em um gigantesco polo de trabalho. A cidade foi reconhecida como a que possuía a classe operária mais organizada do país, a partir de 1912. 
O ponto crucial da formação do movimento operário ocorreu em 1906 na ocasião do Primeiro Congresso Operário Brasileiro (COB), onde se definiu a linha teórica e prática que se tornou hegemônica a partir de então: o anarco-sindicalismo. 
O anarco-sindicalismo entendia que os trabalhadores conseguiriam ter seus direitos atendidos através da prática da greve geral e esta prepararia uma greve revolucionária que destruiria o capitalismo e daria início a uma nova sociedade. Os anarquistas negavam toda forma de participação parlamentar e política, restringindo suas atuações na base dos sindicatos e na imprensa operária. 
Havia operários e sindicatos com outras concepções: os trabalhistas ou reformistas, entendiam que os operários deveriam se estruturar em partidos e negociar com o governo para assim obter melhores salários e condições de trabalho; os comunistas começaram a se organizar no Brasil após a revolução russa de 1917. Surgiram como uma dissidência do anarco-sindicalismo. Entendiam que o caminho da revolução deveria ser guiado por um partido centralizado que representasse a base dos trabalhadores. O Partido Comunista Brasileiro em 1922. 
Os imigrantes europeus tiveram participação ativa no movimento operário brasileiro, trazendo as ideias anarquistas e socialistas, as experiências de luta e de organização sindical.
O movimento operário brasileiro teve grande importância para que mais tarde fosse garantida aos operários uma legislação específica para tratar de seus direitos. Foram as greves e o enfrentamento aos patrões que tornaram possível o reconhecimento do operário como ser humano, antes tratado como simples ferramenta de trabalho. 
Aula 05_As revoltas Sociais
 
A República recém fundada assistiu, entre 1893 e 1897, durante o governo de Prudente de Morais, a um dos mais dramáticos acontecimentos da história do Brasil, gerado por um contexto de miséria e exclusão do povo sertanejo. 
O massacre de Canudos caracterizou-se pelo intenso fanatismo religioso. A população de crentes rebelou-se contra o governo, dizendo defender a pureza da religião que, segundo eles, estava ameaçada pela República. Para a massa de sertanejos empobrecida, as práticas religiosas eram o que restava e pareciam ameaçadas pelo novo regime que separou a religião do Estado, estabeleceu o casamento civil e a secularização dos cemitérios. 
A organização comunitária de Canudos começou a preocupar os fazendeiros da região que, aos poucos, iam perdendo a tutela sobre a população e começaram a exigir do governo atitudes para dispersar o povoado. Após quatro expedições militares fracassadas, o governo republicano organizou um aparato militar extraordinário, para pôr fim à resistência dos sertanejos. O resultado foi um massacre, onde no final restaram apenas um velho e algumas crianças. 
Outro movimento social importante foi a Revolta da Vacina.  No início do século XIX, a capital da República enfrentava diversas epidemias causadas principalmente pelas más condições de higiene das moradias das camadas mais pobres da população, 
em geral concentradas em antigos casarões na área central da cidade. O médico sanitarista Oswaldo Cruz, investido de poderes ilimitados, foi encarregado pelo presidente Rodrigues Alves de acabar com elas. No primeiro semestre de 1904, realizou campanha contra a febre amarela, organizando brigadas mata-mosquitos que invadiam as casas e internavam os moradores doentes à força. 
Com a publicação do decreto que obrigava a população a vacinar-se contra a varíola, surgiram protestos, não contra a vacinação propriamente dita, mas em resposta ao violento e autoritário processo de intervenção sanitária. 
A população tomou a cidade por uma semana. Realizaram-se comícios, calçamentos foram arrancados, a iluminação pública destruída, delegacias de polícia assaltadas e veículos destruídos. A rebelião só foi vencida após o governo revogar a obrigatoriedade da vacina. Vários manifestantes foram mortos. Quase mil foram presos, sendo grande parte deles deportada para o Acre. 
A Revolta da Chibata teve um caráter diferente. Durante o governo de Afonso Pena (1906-1909), a Marinha brasileira ganhou um poderio incrível com a compra de dois grandes couraçados ingleses. Apesar disso, a estrutura militar e hierárquica mantinha suas características rústicas e arcaicas. O recrutamento dos marinheiros era compulsório, realizado mediante verdadeiros sequestros, seguidos de longos castigos físicos como, por exemplo, a surra de chibata. 
No início de 1910, tomava posse na presidência da República o marechal Hermes da Fonseca e os couraçados ingleses Minas Gerais e São Paulo aportavam na Baía de Guanabara. Dentro dos navios a situação era extremamente tensa, principalmente por causa dos castigos. No Minas Gerais, depois de alguns dias de sigilosa preparação, explodia a revolta em 22 de novembro, liderada pelo marinheiro João Cândido. Nos dois couraçados, oficiais foram mortos e os marinheiros passaram a controlar os navios. 
O marechal Hermes assistia a uma ópera de Wagner, que foi interrompi-da por um tiro de canhão sobre a cidade. Logo em seguida o presidente recebia as reivindicações dos revoltosos: fim da chibata e dos castigos, melhores condições de trabalho, aumento dos soldos e anistia. O governo devia aceitar tais condições em algumas horas sob pena da capital ser bombardeada. O pânico tomou conta da cidade. Depois de intensos debates, as condições dos marinheiros foram aceitas. Os oficiais voltaram aos navios e a hierarquia foi restabelecida. 
A situação persistiu tensa e o governo exerceu forte repressão. Desrespeitou-se a anistia, seiscentos marinheiros foram presos, torturados, mortos ou mandados para prisões na Amazônia.
A Guerra do Contestado, entre os anos de 1912 e 1915, um conflito semelhante ao de Canudos, eclodiu na região entre o Paraná e Santa Catarina. Foi chamada de Contestado, por ser disputada entre os dois Estados. A região passava por grandes mudanças. Duas companhias norte americanas: aBrazil Railway, encarregada da construção de uma estrada de ferro e a Southern Brazil Lumber & Colonization dedicada à exploração de madeira, submetiam seus trabalhadores a castigos físicos e tratamentos desumanos. Além disso, essas empresas utilizaram métodos violentos para desalojar famílias da área por onde passaria a ferrovia e as áreas de extração de madeira, ocasionando também o desemprego de muitos trabalhadores, serradores e madeireiros que não podiam competir com a tecnologia da empresa norte-americana. 
Essa situação desenvolveu na massa desprotegida a esperança de uma justiça divina, que se manifestaria através de um enviado de Deus, isto é, um Messias. Por volta de 1894, surge um beato chamado João Maria, que adquire inúmeros seguidores, mas desaparece misteriosamente em 1908, provocando o mito de seu retorno glorioso. Quatro anos depois, surge um novo beato denominado José Maria, logo reconhecido como o antes desaparecido João Maria. Seus seguidores formaram uma comunidade chamada “Monarquia Celeste”. O grupo foi considerado subversivo e monarquista. Após diversas expedições militares fracassadas, passou-se a temer a repetição de Canudos. No início de 1914, seis mil soldados, contando com artilharia e aviação, atacaram os crentes, cuja resistência só foi aniquilada em maio de 1915. 
A Greve de1917 explica-se pelas transformações por que passava a indústria nacional com o advento da Primeira Guerra Mundial. Esse período significou para os operários a diminuição dos salários e o aumento da jornada de trabalho. No dia 9 de junho, uma seção do Cotonifício Crespi (fábrica têxtil localizada no bairro da Mooca, em São Paulo) paralisou suas atividades pedindo aumento salarial, ante a exigência de serviço noturno feita pelos proprietários. A greve se estendeu por toda a fábrica, abrangendo seus 2.000 trabalhadores.
As reivindicações também se ampliaram: abolição das multas, regulamentação do trabalho das mulheres e dos menores, modificação do regime interno da empresa e supressão da contribuição “Pró-Pátria” que consistia em um desconto salarial para auxiliar a Itália, então envolvida na Primeira Guerra Mundial. A greve se alastrou por outras empresas como a Estamparia Ipiranga, a fábrica de bebidas Antartica e a fábrica têxtil Mariângela do grupo Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo no bairro do Brás. Ao todo 15.000 operários parados e 35 empresas envolvidas. 
Iniciaram-se inúmeras greves e, no dia 9 de julho, um jovem sapateiro morreu em choque com a polícia, na porta de uma tecelagem das Empresas Matarazzo. O enterro, no dia 11, realizou-se em meio a violentos choques, saques de lojas e manifestações, paralisando por completo a cidade. Dada a força do movimento, liderado pelos anarquistas, as classes dominantes, depois de usarem em larga escala a repressão, trataram de chegar a um acordo com os operários. Estabeleceu-se um comitê de conciliação integrado por jornalistas da grande imprensa e, através de negociações, a greve chegou ao fim. Os operários obtiveram: aumento de 20%, a promessa de fiscalização dos preços dos alimentos, liberdade para os presos e a não punição dos grevistas. 
Fortalecido pela vitória, o movimento operário cresceu ainda mais nos dois anos seguintes e atingiu outras cidades. 
 
Fonte: PINHEIRO, Paulo Sérgio & HALL, Michael M. A classe operária no Brasil: Documentos (1889-1930). 
Aula 06_Crise econômica e renovação cultural
 
O início do século XX representou um novo ciclo de transformações no país. A urbanização ou “civilização” como era chamada, se tornou uma meta, e as principais cidades do país, como a capital federal, Rio de Janeiro, e São Paulo passaram por reformas, tendo em vista os novos padrões de urbanização. 
Foram demolidas as construções coloniais, que eram substituídas pelas mais modernas obras de engenharia, inspiradas nos padrões franceses. No Rio de Janeiro e em Santos, por exemplo, uniram-se os projetos urbanos aos projetos sanitários. Inúmeros cortiços foram derrubados e a população pobre que morava nos centros dessas cidades, foram cada vez mais empurradas para as regiões periféricas. Assim criava-se um espaço urbano e “civilizado” para a nova elite brasileira desfrutar de todo o conforto e novidades do mundo moderno, enquanto a imensa maioria da população ficava alijada das condições de usufruir tais progressos de forma satisfatória. 
A vida cultural deste período também sofreu a influência das transformações ocorridas na Europa. As novas ideias da modernidade foram trazidas para o Brasil pela elite intelectual que frequentava as cidades europeias. Logo aderiram aos movimentos de vanguarda e trouxeram em suas bagagens os ideais estéticos que caracterizam os anos 1920. 
O modernismo — como ficou conhecido esse movimento artístico renovador — retratou com extrema fidelidade as transformações após a Primeira Guerra Mundial: a industrialização, o corre-corre das grandes cidades, a tecnologia etc. 
Os modernistas eram poetas, músicos, escritores e artistas plásticos que propunham romper com os valores tradicionais e promover o novo. As artes plásticas deixaram de ser imitativas, para ser deliberadamente deformadas (Cubismo, Construtivismo, Futurismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo). A literatura radicalizou sua linguagem e sua temática; a música rompeu com os padrões de tonalidade e melodia tradicionais. O modernismo tinha como objetivo romper com o academicismo e libertar a inspiração para produzir o novo. 
Mesmo com a intervenção governamental, na década de 1920, ocorreram várias crises de superprodução do café, ou seja, produziu-se muito mais do que o mercado mundial foi capaz de consumir. O preço do produto caiu expressivamente no mercado internacional ao longo da década. 
Em 1929, agravou-se a crise brasileira com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos, já na época, o maior centro financeiro do mundo. O resultado da crise financeira levou à queda da produção industrial, à interrupção dos empréstimos norte-americanos ao exterior e à forte queda do preço e da procura pelo café no mercado internacional, já que os Estados Unidos eram os maiores importadores do produto brasileiro. A crise iniciada naquele país espalhou-se pelo mundo, inaugurando o período que ficou conhecido como a Grande Depressão. 
  
Urbanização do Rio de Janeiro 
Aula 07_O Tenentismo e o movimento de 1930
Com a crise do café nos anos de 1920, as oligarquias paulista e mineira perderam o apoio das oligarquias de outros estados. Estas últimas, por sua vez, vendo-se demasiadamente excluídas do governo, buscaram alianças com outras camadas da população urbana, tais como tenentes e industriais, e propuseram mudanças. Um desses movimentos de oposição à oligarquia cafeeira foi o tenentismo. 
O movimento tenentista surgiu entre os militares, especialmente entre oficiais de baixa patente oriundos das camadas médias da população. Eles defendiam a moralização da vida política, principalmente no que se referia ao fim da corrupção e dos privilégios. Organizaram diversas ações militares na década de 1920, como o Levante dos Dezoito do Forte de Copacabana (1922), as revoltas de 1924 e a Coluna Prestes, entre 1925 e 1927. 
Em 1924, planejaram a explosão simultânea de várias revoltas em diferentes estados brasileiros, com o fim de forçar a queda do presidente Artur Bernardes (1922-1926). Exigiam também o fim das fraudes eleitorais, o término da corrupção e maior centralização do poder político. 
São Paulo deveria marcar o início do movimento, que teria repercussão e continuidade previstas no Rio Grande do Sul, Pará, Sergipe, Amazonas e Mato Grosso. Neste último estado, o conflito foi dominado logo de início. Em Sergipe, chegou-se a formar uma junta do governo rebelde, mas foi rapidamente sufocada. No Amazonas e Pará, o movimento conseguiu algum êxito, chegando a dominar o prédio da polícia e o palácio de governo no Amazonas. 
Contudo, isolados e sem apoio militar dos tenentes de outros estados, seus integrantes acabaram derrotados pelas forças governamentais. 
Em São Paulo, a revolta ocorreu no dia 5 de julho, estendendo-se os combates entre os tenentes e as forças do governo até o dia 27. A violência e a intensidade dos conflitos fizeram com que cerca de 300 mil pessoas abandonassem a cidade, temendo ser atingidas por disparos. Ocorreram vários bombardeios, que destruíram parte da capital paulista. O governador, Carlos de Campos, teve de fugir para o interior do estado, mas a ofensiva governamental obrigou as tropas rebeldes a deixar a cidade no dia 27 de julho.
Sem conseguir seu objetivo, os tenentes Luís Carlos Prestes e Miguel Costa formaram uma tropa que marchou 24 mil quilômetros pelo interior do país entre 1925 e 1927, fazendo propaganda revolucionária e estimulando a revolta contra as oligarquias no poder. Essa marcha acabou ficando conhecida como Coluna Prestes.
Alguns historiadores viram no tenentismo um movimento porta-voz da classe média, que crescia em número e desejava ascensão social e política, mas encontrava-se barrada pela política econômica e pelas restrições do quadro político-administrativo da Primeira República. 
Em 1929 houve eleições presidenciais no Brasil. O momento de crise favorecia a oposição à poderosa oligarquia cafeeira paulista. Por intermédio da AliançaLiberal, a oligarquia mineira selou compromisso com a oligarquia do Rio Grande do Sul, lançando o gaúcho Getúlio Vargas à presidência da República. Essa candidatura opunha-se à de Júlio Prestes, nome ratificado pelos paulistas. 
Júlio Prestes venceu as eleições, mas nunca chegou a assumir o cargo.
A Aliança Liberal, junto com os tenentes, decidiu organizar a luta armada para impedir sua posse. Com a vitória do movimento, Getúlio Vargas assumiu o governo, depôs e prendeu Washington Luís. 
Os acontecimentos de 1930 têm sido objeto de estudos e pesquisas, resultando em diferentes interpretações e conclusões. Alguns historiadores o definem como uma revolução, pois resultou em mudanças nos padrões econômicos e políticos brasileiros. Outra vertente de interpretação considera que a ideia de revolução representa uma memória e o ponto de vista da classe social vitoriosa. Portanto, 1930 não foi um movimento que causou a ruptura com a velha ordem política estabelecida até então. Outro fator importante é a ausência de participação popular. O conceito de revolução concerne em uma mudança radical das estruturas políticas, econômicas e sociais conduzidas por uma parcela significativa da população. Resumidamente, foi um acontecimento político-militar que levou à deposição do presidente Washington Luís.
Aula 08_O Brasil e o projeto de nação
 
O período da Primeira República trouxe certamente grandes transformações ao país. Ampliaram-se os direitos dos cidadãos brasileiros. Quintino Bocaiúva (1836-1912), líder do movimento republicano, afirmou num manifesto, em 1889: 
 
A República, como nós a queremos e como a temos proclamado em vários dos nossos manifestos, tem de ser – e deve ser – um governo de liberdade, de igualdade, de fraternidade, de justiça, de paz, de progresso e de ordem; de garantias para todos os direitos e de respeito para todos os interesses legítimos. 
 
Cabe aqui entender o significado da palavra nação: originada do latim nascere, corresponde à ideia de nascimento comum e de comunidade. Para osindígenas, nação é o conjunto de indivíduos com a mesma herança cultural (hábitos, ascendentes, línguas, festejos etc.) 
Uma vez conseguida a independência política, os grupos dominantes passaram a construir um projeto de nação, com base na ideia de unidade, de harmonia e de comunhão de interesses, procurando eliminar os conflitos e as diversas concepções de liberdade. Para tanto, hinos, bandeiras, monumentos, heróis e todos os demais símbolos nacionais tornaram-se importantes instrumentos na busca dessa unidade, que estaria acima de cada indivíduo, pertencendo à coletividade. 
O Brasil surgiu como um Estado Nacional no século XIX. Após a proclamação da República, em 1889, a elite governante brasileira trouxe consigo o ideal de um Brasil moderno, no qual o progresso deveria ser a marca. Para inserir- se na modernidade, o país deveria seguir os passos dos países europeus e dos Estados Unidos, adotando o mesmo modelo cultural, urbano, de desenvolvimento científico e tecnológico referentes àqueles países. 
Será que os escravos fizeram parte do projeto de nação implementado a partir da independência? A República proclamada no final do século XIX incluiu esses ex escravos no projeto de nação? E atualmente, os indígenas que moram no território brasileiro se sentem fazendo parte da nação brasileira? Seus habitantes de diversas origens e culturas formam um corpo único? As desigualdades sociais, a corrupção, a impunidade transmitem um sentido de unidade?
O que se formou em 1822, com a independência, e depois em 1889, com a proclamação da República foi o Estado brasileiro. A nação (no seu sentido contemporâneo), isto é, uma unidade mínima de interesses, uma igualdade mínima entre os cidadãos perante a lei, o desejo de permanecer como membro de uma mesma unidade política, ainda representa um sonho a ser alcançado.  
Resumo_Unidade I
Esta unidade apresentou o período da Primeira República de acordo com a sua conjuntura econômica, política, social e cultural, ligando as estruturas aos fatos sociais. A questão do fim do tráfico negreiro como desencadeadora de um processo de mudanças econômicas e sociais, a mão-de-obra imigrante, o início da industrialização. Abordou a formação do Estado republicano, desde movimento de oposição ao império até a sua consolidação. 
Dentro desse contexto analisamos o surgimento do movimento operário como produto desse processo de modernização, suas condições de trabalho e suas reivindicações. Vimos que o período republicano foi marcado também por revoltas sociais de sertanejos, camponeses, marinheiros, operários e a população em geral, por motivos sempre resultantes do autoritarismo republicano. 
Analisamos as transformações ocorridas nas primeiras décadas do século XX, como a urbanização crescente das cidades, seguindo os padrões europeus, a renovação cultural marcada pelo modernismo, e a crise econômica mundial, caracterizada pela quebra da bolsa de Nova York. 
Por fim estudamos como se deu a formação do tenentismo e o seu envolvimento no movimento de 1930.
  Referências Bibliográficas
CARONE, Edgard. Movimento operário no Brasil (1877-1944). 2. ed. São Paulo: Difel, 1984. 
CARONE, Edgard. A Primeira República. São Paulo: Difel, 1969. 
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: Difel,1983. 
HARDMAN, Francisco F., LEONARDI, V. História da indústria e do trabalho no Brasil: das origens aos anos vinte. São Paulo: Global, 1982. 
NOSSO século; 1900-1910; 1910-1930. São Paulo: Abril Cultural, 1985. 
PRADO Jr. Caio. História econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: brasiliense, 1979.
AULA 09_ERA VARGAS: A NOVA ORDEM POLÍTICA
 
Após o movimento de 1930, Getúlio Vargas conseguiu envolver as oligarquias estaduais e o movimento tenentista na defesa da nova ordem por ele estabelecida e a qual denominava modernização do Estado. Para isso, muitos militares foram nomeados interventores estaduais e os membros das elites locais foram nomeados para cargos públicos, inclusive nos recém-criados ministérios da Educação e Saúde, da Justiça do Trabalho e da Indústria e Comércio. 
Para se manter no poder, Vargas utilizou estratégias autoritárias. Passados dois anos de governo, nada tinha sido feito para que fosse elaborada uma nova Constituição, aspiração de todos os grupos que haviam apoiado a Aliança Liberal. O fato é que a ordem constitucional poderia impor limites ao exercício de seu poder, o que não interessava a Vargas. 
Nesse sentido, em 1932, ocorreu em São Paulo um conflito armado, que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista. O conflito representou o descontentamento das elites que haviam perdido a hegemonia do poder (cafeicultores e líderes urbanos da elite), mas acabou reunindo também a população descontente com o governo. 
O movimento de 1932 defendia uma nova constituição para evitar os abusos praticados pelo novo governo contra toda a nação — segundo a opinião de seus participantes — e, especialmente, contra o estado de São Paulo, pois Vargas lhe ofereceu pouca atenção. 
A revolta foi derrotada, mas Getúlio nomeou um representante da elite paulista para governar o estado, numa tentativa de amenizar o descontentamento. Contudo, a grande adesão popular ao movimento constitucionalista fez com que Getúlio Vargas convocasse eleições para uma Assembléia Constituinte em 1933, que seria responsável pela elaboração de uma nova Carta Constitucional, aprovada em julho de 1934. Aceitando-a, o presidente queria causar a impressão de que estava se afastando das forças autoritárias e ditatoriais. Porém manteve a repressão às organizações de esquerda representadas pela Aliança Nacional Libertadora. 
Vargas utilizou o rádio, como veículo de transmissão dos valores nacionais progressistas. Em 1934, criou o programa diário Hora do Brasil. Nesse programa, que era obrigatório e passavapontualmente às dezenove horas, além dos discursos de Getúlio, apresentavam-se, em geral, artistas cantando músicas consideradas genuinamente nacionais e políticos fazendo elogios ao governo. Como muitas pessoas desligavam o rádio nesse horário, foi determinado por lei que bares e botequins mantivessem os aparelhos funcionando durante o programa.
As mensagens de Vargas enalteciam o trabalho como elemento da promoção do desenvolvimento econômico e social do país e o trabalhador brasileiro como colaborador da construção do progresso da nação. A ideia do trabalhador disciplinado, pai de família, ciente de sua responsabilidade social, era sempre valorizada e difundida.
 Aula 10_A política trabalhista e o sindicato controlado pelo Estado
No início do governo, em 26 de outubro de 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio tendo a frente Lindolfo Collor. No mês seguinte foi decretada a Lei dos Dois Terços, chamada de Lei na Nacionalização do Trabalho. 
Diante do desemprego que afetava os trabalhadores brasileiros, as firmas de origem estrangeira eram obrigadas a ter pelo menos dois terços de brasileiros contratados. Por um lado, essa medida atendia a uma reivindicação importante dos trabalhadores brasileiros, especialmente numa época de desemprego, mas, por outro lado, diminuindo o número de estrangeiros no seio do proletariado, o governo visava enfraquecer a capacidade de luta da classe, pois grande parte dos imigrantes possuía um nível de consciência e de organização política maior que os brasileiros. 
Em 19 de março de 1931, decretou-se a Lei de Sindicalização, inspirada na Carta del Lavoro implantada por Mussolini na Itália, que regulava os direitos das classes patronais e operárias. Os estatutos dos sindicatos deveriam, a partir de então, ser aprovados pelo Ministério do Trabalho. 
Delineava-se o sentido da política trabalhista de Vargas, rumo ao controle do movimento operário e à criação de condições para o desenvolvimento industrial. O trabalho feminino e de menores foi regulamentado, a carteira profissional foi instituída, a jornada de trabalho foi fixada em 8 horas diárias, foi instituído o descanso semanal obrigatório e remunerado. Reafirmou-se o direito às férias anuais, estabelecido desde 1926, mas não cumprido: quinze dias úteis, sem prejuízo dos vencimentos. Em 1931, foi apresentado o anteprojeto da Lei do Salário Mínimo. A lei só foi sancionada durante o Estado Novo, em 1943. 
Segundo Getúlio Vargas, “a complexidade dos problemas morais e materiais inerentes à vida moderna alargou o poder de ação do Estado, obrigando-o a intervir mais diretamente como órgão de coordenação e direção nos setores da atividade econômica e social”. 
O governo Vargas estabeleceu uma nova postura perante os trabalhadores urbanos, pois, durante a Primeira República, de forma geral, a classe operária e seus problemas constituíam “um caso de polícia”. Os novos donos do poder continuaram a usar a polícia contra o proletariado, mas, ao mesmo tempo, procuraram elaborar uma legislação que “domesticasse” e atendesse algumas reivindicações da classe. 
Os discursos de Lindolfo Collor e de Vargas tornavam visíveis  algumas intenções dos novos governantes: apresentar as novas leis trabalhistas como “doação” do governo; afastar da classe trabalhadora os “elementos perturbadores”, isto é, comunistas, socialistas e anarquistas; incentivar os sindicalistas “pelegos” ou “amare-los” como eram chamados, defensores de uma colaboração submissa da classe operária com os patrões e o Estado. 
 
Aula 11_Fascismo Brasileiro
 
A partir da década de 1920, o mundo presenciou o surgimento do nazifascismo. As democracias burguesas começaram a perder força, enquanto as forças autoritárias de direita e de esquerda conquistavam os governos de diversos países. O Brasil não ficaria à margem do novo quadro político que se formava na Europa. 
O período constitucional de Vargas (1934-1937) foi marcado pelo aparecimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), de esquerda, e da Ação Integralista Brasileira (AIB), de conotação fascista. Foram vários, porém, os movimentos de cunho fascista que apareceram no país durante esse período. Entre eles, a Ação Social Brasileira (em Minas Gerais), a Legião Cearense do Trabalho, a Legião Liberal Mineira, o Partido Nacional Sindicalista (Minas) e a Ação Imperial Patrianovista (São Paulo e Rio de Janeiro). Enquanto isso, a política de Vargas encaminhava-se num sentido cada vez mais centralizador e autoritário. 
Liderada pelo jornalista e escritor Plínio Salgado, a Ação Integralista Brasileira, criada em 1932, era, fundamentalmente, um movimento social e político de orientação fascista e reivindicava um governo ditatorial com um partido único. Eleito deputado estadual pelo Partido Republicano Paulista em 1927, Plínio Salgado viajou para a Itália em 1930, onde teve uma entrevista com Mussolini. Saiu maravilhado do encontro e escreveu a um amigo: “Tenho estudado muito o fascismo. Não é exatamente o regime de que precisamos aí, mas é coisa semelhante”. 
Os desfiles dos “camisas-verdes” (como eram chamados devido a seu uniforme) tornou-se um espetáculo comum e por toda parte viam-se integralistas cumprimentando-se no seu estilo habitual: com o braço direito levantado e gritando sua saudação indígena “Anauê!”. Crescia cada vez mais o número de seguidores que juravam lealdade ao movimento e ao lema: “Deus, Pátria e Família”. 
A primeira marcha integralista ocorreu em 23 de abril de 1933, em São Paulo; e em maio de 1934, a primeira grande manifestação no Rio de Janeiro. O movimento tinha um jornal diário, A Ofensiva, editado no Rio. 
A AIB pretendia estabelecer o Estado totalitário ou integral estruturado mediante corporações representativas das profissões e em uma rígida hierarquia sob controle do chefe. A esse chefe integralista se subordinariam todos os cidadãos, unidos pelo ideal de criação de uma nação identificada com o próprio Estado. Propunham o combate ao comunismo, à democracia liberal e ao capitalismo internacional. 
Em 1º de novembro de 1937, 50 mil milicianos da AIB desfilaram em frente ao Palácio do Catete (sede do governo federal). Dez dias depois dessa demonstração de força, Getúlio Vargas decretou o Estado Novo, outorgando uma nova Constituição de cunho totalitarista, para o país. Seu autor foi o jurista Francisco Campos, que em 1931 pertencera à (fascista) Legião Liberal Mineira.
A AIB foi fechada em dezembro de 1937, mas no ano seguinte os integralistas tentaram um golpe, tomando de assalto o Palácio Guanabara (residência de Vargas), no Rio. Sem nenhuma chance de vitória, muitos foram presos, até Plínio Salgado, que terminou por se exilar em Portugal. Com a deposição de Vargas em 1945, ele voltaria à atividade política legal, a qual exerceu até a sua morte em 1973. Os integralistas nunca conseguiram comover as massas como os fascistas da Europa. Na realidade, parte de seus anseios se realizou com o próprio governo de Vargas, declaradamente totalitário e anticomunista.
  
Atividade:
 Observe as imagens dos cartazes integralistas. O que elas expressam?
Aula 12_A oposição de esquerda
Nos anos de 1920 a política mundial dos partidos comunistas era a busca da hegemonia, combatendo os demais partidos. Foi a partir de 1933, quando os comunistas recusaram-se a apoiar os social-democratas, abrindo espaço para a vitória de Hitler, que essa orientação mudou. Assim, a Internacional Comunista, passou a propugnar a tática das “frentes únicas”, preconizando uma aproximação com os socialistas, liberais de esquerda, radicais e todas as forças que pudessem combater o fascismo. 
No Brasil, diferentes tendências de esquerda tentaram unir  suas forças. Uma manifestação popular em São Paulo, em outubro de 1934, reuniu os partidos, estudantes e operários e obteve grande repercussão. Em janeiro de 1935, a leitura de um manifesto na Câmara Federal anunciava a criação da Aliança Nacional Libertadora. Seu programa possuía cinco pontosfundamentais: por um governo popular que garantisse as mais amplas liberdades, proteção aos pequenos e médios proprietários, nacionalização das empresas estrangeiras e cancelamento unilateral da dívida externa. Embora o objetivo fosse atrair os sindicatos, a ANL recrutou a maior parte de seus militantes nas classes médias, militares, intelectuais, profissionais liberais e estudantes. 
Com apenas dois meses de funcionamento, já existiam sedes da ANL na maioria dos estados, e somente no Distrito Federal inscreveram-se cerca de 50 mil pessoas. Entre os aliancistas, podemos destacar figuras de projeção, como o prefeito do Distrito Federal e o governador do Pará. 
A ANL iniciava suas atividades como um vigoroso movimento de massas que se antepunha ao crescimento do fascismo, e também como oposição ao governo Vargas. Ainda que discretamente, o governo nutria simpatias maiores aos integralistas. Vargas passou então a tomar providências para colocar a ANL na ilegalidade. Em julho de 1935, as sedes aliancistas são ocupadas pela polícia. 
A ilegalidade radicalizou as posições da ANL e reforçou a liderança do Partido Comunista, cujos militantes foram recrutados, principalmente no Exército, entre os anos de 1933 e 1934, utilizando o prestígio de Prestes, ex-líder tenentista. Os militares logo chegariam à direção do partido. A entrada dos militares no PCB resultou numa estranha mistura de stalinismo com tenentismo, que transformou a tática stalinista da frente antifascista numa típica quartelada tenentista. 
No dia 23 de novembro, um levante de militares ligados à ANL e ao PCB eclodiu em Natal, o mesmo ocorrendo a 24 no Recife e no dia 27 no Rio de Janeiro. O governo estava avisado e as rebeliões foram facilmente sufocadas. Por vários motivos, o levante havia sido precipitado sem quaisquer condições de êxito. A greve geral dos operários das cidades, esperada pelos chefes comunistas, revelou-se um sonho. 
O fracasso da insurreição foi seguido por uma terrível repressão. Sucederam-se as prisões de comunistas e demais partidários da ANL, e as torturas tornaram-se exageradamente violentas. 
 
Aula 13_O Estado Novo
Vargas decretou estado de sítio, logo transformado em estado de guerra no território brasileiro, entre 1935 e 1937. Enquanto isso, os políticos e a população preparavam-se para as eleições presidenciais, previstas na Constituição para 3 de janeiro de 1938. 
No dia 30 de setembro de 1937, os jornais e estações de  rádio de todo o país alarmaram o público anunciando que o Estado-Maior do Exército havia “descoberto” um plano comunista de tomada violenta do poder. Intitulado “plano Cohen”, o suposto documento propunha uma revolução, na qual as redações de jornais seriam destruídas, igrejas queimadas e centenas de pessoas massacradas. A “descoberta” encheu as páginas dos jornais, acompanhada de mensagens do ministro da Guerra alertando a população contra a “ameaça comunista”. 
O plano Cohen, que se constituiu no pretexto para o golpe de Vargas, era na verdade uma fraude forjada pelo capitão Mourão Filho, membro do movimento integralista.
Durante todo o mês de outubro, enquanto a nação se apavorava com as notícias e discussões sobre o Plano Cohen, a cúpula governamental acelerou os preparativos para o golpe de Estado. Os integralistas organizaram um impressionante desfile de 50.000 “camisas-verdes” para afirmar sua solidariedade ao presidente da República e às Forças Armadas na luta contra o comunismo. 
Na manhã de 10 de novembro de 1937, as portas do Senado e da Câmara dos Deputados permaneceram fechadas e guardadas por soldados, que impediam a entrada dos legisladores. Era o sinal de que o golpe de Estado fora dado. Não houve muitos protestos. Oitenta congressistas federais enviaram congratulações a Vargas. Somente seis expediram mensagens de protesto. No mesmo dia entrou em vigor a constituição de 1937, que implantou no Brasil a ditadura do Estado Novo. À noite, Vargas falou à nação pelo rádio, no palácio da Guanabara, anunciando e justificando o novo regime. 
Preparada desde 1935, a Constituição possuía um caráter autoritário e populista. Francisco Campos, encarregado da redação, misturou fórmulas fascistas, nacionalistas e até mesmo liberais, para obter apoio popular. 
O presidente foi instituído como autoridade máxima da nação, sendo-lhe facultado o direito de legislar por decretos-leis. A constituição continha disposições sobre o salário mínimo, horas de trabalho e férias, mostrando o caráter trabalhista do novo regime. A Carta proibia as greves e instituía a pena de morte. Os recursos minerais, as fontes de energia, os bancos, as companhias de seguro e as indústrias de base foram nacionalizadas. 
Os principais órgãos surgidos durante o Estado Novo foram o DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), de caráter eminentemente burocrático e encarregado de supervisionar os interventores, e o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), grande arma ideológica do Estado Novo, que, além de ser órgão de censura, planejava a propaganda do governo e controlava a opinião pública. Todas as lojas, restaurantes e outros locais de negócios deviam exibir a fotografia de Vargas, que preferia ser chamado de presidente em vez de ditador. 
O regime foi apoiado por várias classes sociais: classe média, burguesia e oligarquias. A classe trabalhadora urbana, cada vez mais importante na cena política do país, foi cooptada pelo regime através da intervenção do Estado nos sindicatos e da propaganda intensa que apresentava Vargas como o “pai dos pobres” e único criador da legislação trabalhista. Órgãos governamentais foram encarregados de organizar festas e comícios oficiais visando aproximar povo e governo. 
Era o DIP que organizava as comemorações do Dia do Trabalho, nas quais, diante de grande número de pessoas concentradas nos estádios de futebol, o governo anunciava medidas de alcance social. Entre elas encontrava-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), anunciada em 1º de maio de 1943. 
No início da Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas manteve certa indefinição quanto ao lado que apoiaria. Embora, num discurso em junho de 1940, revelasse sua simpatia pelos países do Eixo, em 1942, o Brasil entrou na guerra ao lado dos aliados. Esse apoio começou a ser negociado com os Estados Unidos a partir de 1941, quando se intensificaram as relações econômicas entre os dois países e o governo norte-americano autorizou um empréstimo para a construção de nossa primeira siderúrgica, a usina de Volta Redonda. 
A participação na guerra enfraqueceu o autoritarismo no país, pois ficava evidente uma contradição: no Exterior, combatia-se pela democracia, enquanto internamente mantinha-se um regime totalitário. 
 
Manifestação organizada pelo DIP no dia do trabalho, 1942.
Aula 14_O retorno da legalidade
A partir de 1943, várias entidades e categorias sociais começaram a se manifestar a favor da redemocratização do Brasil. A União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou passeatas no Rio de Janeiro, enquanto advogados, políticos e intelectuais reivindicavam a volta da democracia; manifestações de rua ocorreram em São Paulo com o mesmo objetivo. 
Percebendo a articulação da oposição, Vargas tomou uma série de medidas com o objetivo de conseguir apoio das massas populares. No início da década de 1930, a industrialização provocara o crescimento do proletariado urbano, principalmente em São Paulo. Atendendo em parte às reivindicações dos trabalhadores e com a política de controle dos sindicatos o governo conseguiu o apoio das bases populares de que necessitava para manter-se forte. Desenvolvia-se assim a política populista de Vargas.
Porém, a oposição ao governo crescia em todas as camadas sociais. Vários partidos políticos foram organizados ou reorganizados: UDN (União Democrática Nacional), PSD (Partido Social Democrático), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PRP (Partido de Representação Popular, composto por antigos integralistas) e PTB (Partido TrabalhistaBrasileiro, formado por partidários de Vargas). 
Vargas, cada vez mais pressionado, assinou o decreto da anistia e marcou eleições para 2 de dezembro de 1945. O PSD escolheu o general Eurico Gaspar Dutra para disputar a presidência, com apoio de importantes setores do Exército. A UDN lançou outro militar como candidato: o brigadeiro Eduardo Gomes, herói do movimento tenentista. Temendo o não cumprimento das eleições e um novo golpe, os udenistas passaram a exigir a substituição de Getúlio pelo presidente do Supremo Tribunal. 
Abandonado pelas Forças Armadas e desejando permanecer no poder através de uma nova Constituição, Getúlio aproximou-se cada vez mais dos setores populares e mesmo do Partido Comunista. Em junho, o PTB desencadeou o “queremismo”, ou seja, a campanha do “queremos Constituição com Getúlio” que logo foi apoiada pelo Partido Comunista, liderado por Luís Carlos Prestes.
A oposição, receosa de um golpe continuísta, passou a apelar aos chefes militares visando a deposição do chefe de governo. O medo da oposição foi confirmado com a nomeação de Benjamim Vargas, irmão de Getúlio, para o cargo de chefe de polícia do distrito federal. Falava-se que Benjamim pretendia prender todos os generais que estavam conspirando. Sob o comando do general Góis Monteiro, os chefes militares depuseram Vargas no dia 29 de outubro de 1945, sob garantias de que não haveria prisão nem exílio, exigindo-se somente que se retirasse para o Rio Grande do Sul. Entregou-se então, interinamente, o poder a José Linhares, presidente do Supremo Tribunal. 
 
 
Getúlio Vargas
Aula 15_Os governos populistas
A característica mais marcante do período entre 1930 e 1964 foi a presença efetiva das camadas urbanas no processo político nacional. Já não era possível tomar qualquer decisão sem levar em conta a opinião popular. Perante essa nova conjuntura surgiu o populismo. Este se define por uma política do Estado que busca satisfazer as necessidades imediatas das camadas populares sem alterar a estrutura de poder dominante. O Estado aparecia perante as camadas populares na figura de um líder carismático e paternalista, capaz de seduzir e empolgar a grande massa social e dela obter admiração e fidelidade de uma forma alienada. 
Com a deposição de Vargas preparou-se as eleições para dezembro de 1945, que foi vencida por Eurico Gaspar Dutra.
Seu governo foi marcado pela promulgação da nova Constituição, em 18 de setembro de 1946. De caráter liberal e democrático, a Constituição restaurou o cargo de vice-presidente da República, instituiu o mandato presidencial de cinco anos, restabeleceu parte da autonomia dos estados e municípios, determinou a separação e harmonia entre os poderes (o Executivo, o Legislativo e o Judiciário). 
No início do governo Dutra ocorreram muitas greves, o que motivou a intervenção federal em dezenas de sindicatos. Em 1947, o PCB foi fechado e seus deputados foram cassados. Essas atitudes refletiam, em parte, as tensões da política internacional. Os Estados Unidos lideravam os países capitalistas e pretendiam deter o crescimento do comunismo. Nessa época o Brasil assinou diversos acordos com os Estados Unidos e passou a defender os interesses norte-americanos no plano internacional. 
O liberalismo econômico facilitava a importação em detrimento da produção nacional e ocasionou em uma crise econômica gerada pelo esgotamento das divisas do país. 
Getúlio Vargas continuou atuando politicamente como senador e nas eleições presidenciais de 1950, apresentou-se como candidato, elegendo-se com 48,7% dos votos.
Do ponto de vista econômico, Getúlio procurou desenvolver a indústria nacional, sem abrir mão do capital estrangeiro. Durante seu governo foi criada a Petrobrás e foi estabelecido o monopólio estatal sobre a prospecção e o refinamento do petróleo brasileiro. Foi também criado o BNDE, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, em 1951. O governo também procurou combater as remessas de lucros para o exterior pelas empresas estrangeiras. Vargas continuou sua política populista de buscar apoio nas massas trabalhadoras. Foi tolerante com os movimentos grevistas e em 1954, o Ministro do Trabalho, João Goulart, decretou aumento de 100% do salário mínimo. 
A oposição a Vargas se concentrava principalmente na UDN, cujo porta-voz, Carlos Lacerda, pregava abertamente a renúncia do presidente. O movimento contra Getúlio se fortaleceu devido às dificuldades econômicas que o governo enfrentava. As denúncias de corrupção na administração e o desentendimento com os Estados Unidos, ocasionado pelo fato do Brasil não enviar tropas para lutar na Coréia contra o governo comunista daquele país.
 Em 5 de agosto de 1954, ocorreu um atentado contra Carlos Lacerda, principal adversário de Vargas. Apesar de Lacerda escapar com ferimentos leves, o major-aviador Rubens Florentino Vaz, que o acompanhava, morreu. No inquérito descobriu-se que elementos da guarda pessoal de Getúlio estavam envolvidos no episódio. A repercussão do fato levantou violentíssima oposição política, das forças armadas e da imprensa. 
Getúlio Vargas, pressionado por todos os lados, acatou a sua destituição, mas, suicidou-se com um tiro no peito. A atitude drástica de Vargas não era esperada pelos seus seguidores nem por seus adversários. Sua morte provocou uma verdadeira comoção em todo o país, com manifestações de repúdio à UDN, à imprensa anti-getulista e à embaixada norte-americana no Rio de Janeiro. 
 
Milhares de pessoas participaram das últimas homenagens ao ex-presidente 
 
Após a morte de Vargas, a situação política do país manteve-se instável. 
Entre agosto de 1954 e janeiro de 1956, foram três os presidentes interinos: João Café Filho, Carlos Coimbra da Luz e Nereu de Oliveira Ramos. Foram realizadas novas eleições para presidente, mas desenvolvia-se uma campanha movida por grupos que temiam a continuidade do getulismo, contra a posse dos candidatos eleitos, Juscelino Kubitschek (presidente) e João Goulart (vice-presidente. 
Em 31 de janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek assumiu a presidência do país, eleito por uma coligação entre PTB e o PSD. Teve uma vitória apertada, obtendo 36% dos votos, contra 30% de Juarez Távora, 26% de Ademar de Barros e 8% a Plínio Salgado. 
O novo presidente introduziu uma política conhecida como desenvolvimentismo, que consistia em incentivar o progresso econômico do país estimulando a industrialização. Kubitschek estabeleceu um plano ambicioso de realizações, prometendo “cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo”. Estabeleceu um plano de metas para a economia, que estabelecia 31 objetivos a serem alcançados, priorizando os setores de energia, transportes, alimentação, indústria de base e educação. 
A fundação de Brasília, ocorrida em seu governo, tem origem na Constituição Republicana de 1889, onde se determinava a construção da nova capital no centro do país. A localização era estratégica, pois criaria um polo dinâmico no interior do território nacional. 
Durante o governo de Juscelino houve um considerável avanço industrial. O governo procurou atrair o capital estrangeiro para investir no País, obtendo empréstimos e incentivando empresas internacionais a se instalarem no Brasil. No entanto, o progresso econômico do período apresentou problemas: concentração de riquezas cada vez maior na região sudeste; aumento da dívida externa; e a crescente desvalorização da moeda. 
Em outubro de 1960 foram realizadas as eleições presidenciais. Jânio Quadros, apoiado pela UDN, PDC e PSB, foi eleito com 47, 9% dos votos. 
Desde a campanha eleitoral, Jânio demonstrava um estilo político diferente, de caráter populista e conservador. Utilizou a vassoura como símbolo de seu programa de ação; depois de eleito, adotou uma série de medidas que despertaram violenta oposição contra seu governo. A pressão contra Jânio atingiu o apogeu quando o presidente entregou a condecoração da Ordem do Cruzeiro do Sul ao líder guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara.Em 25 de agosto de 1961, por motivos até hoje não totalmente esclarecidos, Jânio Quadros renunciou ao poder. João Goulart, vice-presidente, encontrava-se na China em missão oficial e o cargo foi assumido interinamente pelo presidente da Câmara dos Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli. 
Ao que tudo indica, a renúncia fazia parte de um plano maior do presidente, que esperava retornar ao posto com o apoio do Exército e do povo para ampliar seus poderes. Nada disso aconteceu, pois não houve mobilização popular ou militar pela permanência de Jânio, e o Congresso aceitou imediatamente a renúncia. 
Surgiu forte oposição à posse de João Goulart, principalmente entre os chefes militares. 
O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, liderou um movimento visando garantir a posse de Goulart. Organizou a milícia gaúcha e promoveu intensa campanha radiofônica, incentivando o povo a apoiar a posse de João Goulart. 
A oposição encontrou uma saída para enfraquecer os poderes do presidente eleito. Em 2 de setembro, foi promulgada a  Emenda Constitucional nº 4, instituindo o sistema parlamentarista no Brasil. A chefia do governo cabia agora ao primeiro-ministro e ao conselho de ministros. Restava ao presidente apenas a função de chefe do Estado, posição politicamente secundária no regime parlamentarista.  
Aula 16_Reformas de base, radicalização dos movimentos sociais e a articulação do golpe militar
O período posterior à Segunda Guerra Mundial caracterizou-se pelo crescimento industrial e pelo progresso no setor dos transportes. 
O desenvolvimento industrial provocou o aumento da população das cidades. Em 1950, a população urbana correspondia a pouco mais de 36% do total do país; em 1960, já alcançava 45%. Essa concentração urbana provocou: 
A necessidade de aprimorar a legislação trabalhista para oferecer melhores condições de vida para o proletariado; 
Agravamento do problema da falta de moradias; 
Necessidade de ampliação das redes de iluminação e de saneamento básico; 
A necessidade de grandes investimentos em educação e saúde. 
 
João Goulart, mais conhecido como Jango, era considerado herdeiro político de Vargas. Empossado em 1961, estabeleceu uma política econômica nacionalista e elaborou um programa de reformas para o país, procurando apoiar-se na mobilização das classes trabalhadoras, já que seu poder era limitado em virtude do sistema parlamentarista implantado no Brasil, após a renúncia de Jânio Quadros. Em 1963, foi realizado um plebiscito no qual a grande maioria dos eleitores se manifestou contrariamente ao parlamentarismo, optando pela volta ao sistema presidencialista. João Goulart assumiu o poder executivo, deixando de ser apenas chefe do Estado. 
O programa de Reformas de Base previa a realização de importantes mudanças: reforma agrária, reforma tributária, reforma administrativa, bancária e educacional. Jango defendia também a extensão dos direitos trabalhistas aos trabalhadores rurais, a nacionalização de empresas estrangeiras e a aplicação da Lei de Remessa de Lucros (que deveria diminuir a “fuga’” de capitais para o exterior, sob a forma de lucros auferidos por empresas estrangeiras no Brasil).
O programa de reformas do presidente Goulart acentuou a radicalização política, crescente desde 1961. A mobilização era intensa, tanto dos partidários de Jango como de seus opositores. O governo tinha o apoio dos sindicatos, da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), da UNE, do PTB, dos socialistas e dos comunistas. 
Eram contrários às Reformas de Base: empresários, fazendeiros, militares e setores da classe média. Politicamente o governo encontrava forte oposição da UDN e do PSD. Mesmo velado, era forte o descontentamento do governo americano em relação às reformas de base, pois estas prejudica-riam seus interesses econômicos. 
O aumento da inflação, o aumento do número de greves por melhores condições de trabalho e salário, e as várias manifestações dos setores da classe média e da burguesia contra o regime provocaram um estado de tensão e incertezas políticas. Jango era pressionado dos dois lados: os sindicatos, as organizações de trabalhadores rurais, partidos de esquerda exigiam a implementação das reformas de base o quanto antes, e forçavam cada vez mais a radicalização das posições do governo. De outro lado, os militares, as organizações católicas de cunho conservador, organizações de mulheres de classe média, taxavam o governo como comunista e pediam a renúncia de Jango.
No Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, João Goulart participou de um comício na Central do Brasil, onde assinou decretos de nacionalização de empresas petrolíferas e de desapropriação de áreas improdutivas situadas às margens de rodovias e ferrovias. 
Seis dias depois, em São Paulo, uma multidão participou da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, protestando contra o governo. A direita a partir de então, liderada por Carlos Lacerda, governador da Guanabara, pregava abertamente o golpe. 
No interior das forças armadas continuavam os movimentos reivindicatórios de sargentos e cabos, que o governo procurou não punir, perdendo assim, qualquer apoio da alta oficialidade, que passou a aderir às diversas conspirações em marcha. 
No dia 31 de março de 1964, tinha início uma rebelião militar em Minas Gerais, apoiada pelo governador Magalhães Pinto e comandada pelo general Olímpio Mourão Filho. Visando a derrubada do governo, as tropas deslocaram-se para o Rio de Janeiro e receberam a adesão de vários batalhões e Regimentos. O governo indeciso na resistência foi totalmente abandonado pelos militares. A greve geral decretada pela CGT fracassou, manifestações civis foram facilmente sufocadas e, no Rio Grande do Sul, os partidários de Brizola não tiveram condições de resistir. No dia 2 de abril, João Goulart foi para o exílio no Uruguai. 
  
Atividade:
Leia o texto a seguir: 
 
“(...) existe o perigo de o Brasil se converter em outro bastião comunista, como Cuba (...). Se o Brasil chegar a ter uma ditadura esquerdista, isto significará a guerra atômica. Se chegar a estabelecer- se uma cabeça-de-ponte russa no Brasil, os Estados Unidos terão que aceitar tal guerra e então será o fim (...)”. 
(Júlio de Mesquita Filho, diretor de O Estado de S. Paulo, em entrevista ao Los Angeles Times, em 18 de novembro de 1963) 
 
Analise a frase observando a influência externa na oposição à Goulart.
Aula 17_Os militares no poder
No dia 2 de abril de 1964, uma junta militar assumiu o controle da nação. O expurgo do “populismo subversivo” foi a primeira providência do Supremo Comando da Revolução, 
que no dia 9 de abril baixou o Ato Institucional nº 1. Esse dispositivo concedia ao Executivo poderes especiais para cassar mandatos e suspender direitos políticos por dez anos, estabelecer estado de sítio sem aprovação parlamentar e legislar através de emendas constitucionais. 
Esse Ato Institucional que vigoraria até 31 de janeiro de 1966, marcava eleições presidenciais diretas para 3 de outubro de 1965. Os direitos políticos de centenas de pessoas foram suspensos, entre as quais, João Goulart, Leonel Brizola, Jânio Quadros, Miguel Arraes e Luís Carlos Prestes. Iniciaram-se os expurgos no Exército e, paralelamente, realizaram-se as eleições que escolheriam o presidente provisório, cujo mandato se estenderia até janeiro de 1966. 
O General Castelo Branco, mediador entre os militares de “linha dura” e as facções tradicionais de cunho liberal, foi eleito. Configuravam-se os princípios que “legitimariam” o golpe: a ordem e a paz social com a eliminação comunista, o combate à corrupção e a retomada do crescimento econômico através do impulso ao capitalismo privado. 
O novo modelo econômico era considerado modernizador e atendia às exigências norte-americanas. Foi montado um programa econômico anti-inflacionário, baseado na diminuição das despesas estatais e na contenção salarial. O alinhamento incondicional com os EUA proporcionou grandes empréstimos

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