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CURSO DE CERTIFICAÇÃO PARA INSERÇÃO DO PICC GUIADO POR ULTRASOM. 2 SUMÁRIO MÓDULO I 4 Atualização em acesso vascular: Histórico do cateter, dispositivos intravenosos convencionais e PICC; Indicações e contra indicações de uso de PICC MÓDULO II 20 Aspectos éticos e legais da utilização de PICC MÓDULO III 27 Anatomia e fisiologia da pele e Sistema vascular MÓDULO IV 41 Terapia intravenosa e Interações medicamentosas MÓDULO V 66 Controle de infecção e epidemiologia no uso de PICC MÓDULO VI 76 Avaliação do paciente pré-inserção de PICC Técnica de inserção de PICC Complicações associadas ao uso de PICC e Intervenções Cuidados e manutenção de PICC MÓDULO VII 117 Técnica de inserção de PICC guiado por US MÓDULO VIII 130 Documentação e registros / Protocolo 3 MÓDULO I Histórico do cateter Atualização em acesso vascular: Dispositivos intravenosos convencionais e PICC Indicações e contra indicações de uso de PICC 4 1. Histórico do cateter Desde os primórdios da história, o homem tenta introduzir alimentos, líquidos e soluções no corpo humano por via não oral, tendo como finalidade alimentar, hidratar, medicar e repor volumes de líquidos perdidos. No século XV experimentou-se a transfusão de sangue de animais para humanos, o que naturalmente falhou. Em 1881, o sangue humano foi utilizado pela primeira vez em transfusões no homem com resultados insatisfatórios, pois o conceito de compatibilidade sangüínea ainda não era conhecido. Somente no século XX as transfusões sangüíneas e outras infusões endovenosas começaram a se realizar com sucesso. O conhecimento sobre grupos sangüíneos e o desenvolvimento de processos eficazes de esterilização tornaram-se mais abrangentes e fizeram com que os fatores que interferiam nos resultados negativos fossem amenizados. Com os avanços científicos, apareceu a necessidade de desenvolvimento de novos dispositivos para acesso venoso. Em 1920, o conhecimento já existente sobre soluções parenterais estéreis, agulhas descartáveis e dispositivos de administração endovenosa prepararam o caminho para as mais amplas técnicas endovenosas, como transfusões sangüíneas para tratamento de pacientes em estado de choque hipovolêmico. Nos anos 50 foi desenvolvida a agulha de Rochester, um dispositivo que consistia de uma agulha oca de metal com canhão curto e adaptador de metal cego, que era conectado acima do canhão da agulha, mais uma cânula de plástico. Foi o primeiro conceito de cateter sobre agulha desenvolvido. Em 1952, durante a guerra da Coréia, foi descrito pela primeira vez o uso de inserção percutânea de cateter através da veia subclávia como um método rápido e eficaz de reposição volêmica. Em 1962 foi popularizado seu uso para a verificação da pressão venosa central e, em 1968, foi difundido e adaptado seu uso para administração de nutrição parenteral total, permitindo assim a introdução de soluções hiperosmolares em grandes quantidades no organismo, sem, no entanto promover danos ao endotélio das veias. Atualmente, os riscos associados às transfusões e infusões endovenosas diminuíram sensivelmente, sendo que milhões de pessoas em todo mundo recebem terapia intravenosa diariamente, expondo-se a riscos conhecidos, estudados e calculados. A trajetória através do tempo: 1660 – Desenvolvimento da agulha hipodérmica (Sir Chistopher Wren) 1929 – Primeiro relato de utilização de um cateter de forma semelhante ao PICC descrito na literatura. Um médico alemão, Dr. Forssmann, anestesiou o próprio braço e puncionou uma veia 5 da fossa cubital com uma agulha de grande calibre e passou através desta um cateter ureteral de 4Fr, progredindo a ponta do mesmo até o coração. 1941 – Doutor Cournand desenvolveu a cateterização cardíaca usando a veia antecubital, era um cateter radiopaco. 1945 – Dr. Lawrence Meyer inseriu um cateter plástico na veia antecubital. 1949 – Derfly foi o primeiro a relatar a inserção de cateter central de poliuretano na região antecubital, femoral e jugular externa. 1950 – Foi provado que a administração de fluídos diretamente na veia cava superior produz melhores resultados do que por veia periférica. Gautier introduziu a agulha de Rochester. 1952 – Cateter de subclávia (intra cath) 1957 – Chega ao mercado o cateter agulhado com asas dobráveis (scalp). 1959 – Hughes e Magoxin descreveram e documentaram a técnica de medida da Pressão Venosa Central (PVC) em que a veia basílica e veia femoral eram utilizadas para o acesso vascular. 1962 – Primeiro cateter de silicone foi apresentado por Steward e Sanislow. Início da década de 70 - Início das pesquisas, primeira utilização de PICC para administração de nutrição parenteral, para antobioticoterapia em casos de fibrose cística de pâncreas e primeira utilização de PICC para administração de drogas antineoplásicas. 1973 – Fundação da INS (Intravenous Nursing Society), com sede em Norwood, Massachussets. Final da década de 70 / início da década de 80 - A idéia / conceito e a popularidade do PICC se espalham com o desenvolvimento da terapia IV como especialidade. Início da década de 80 – Publicadas as primeiras “guidelines” do CDC (Center for Diseases Control and Prevention) para prevenção de infecções relacionadas à terapia intravenosa. Final a década de 80 - A utilização do PICC teve um crescimento significativo nos serviços de Home Care e com o aumento da necessidade de acessos vasculares confiáveis. O PICC começou a ser comercializado no Brasil na década de 90, a princípio para uso em neonatologia, devido ao pequeno diâmetro do cateter e à flexibilidade do material (silicone). Quanto à utilização de PICC em adultos, há um registro “informal” de inserção no Rio de Janeiro, datado de 08/02/1995 e o cateter teve um tempo de permanência de 65 dias (uma paciente em sistema de home care, inserido em veia basílica antebraquial, no 1/3 proximal do antebraço esquerdo. Era um cateter da marca L-Cath de 4.0 Fr. A paciente era portadora de um carcinoma metastático de mama direita, 65 anos e evolui ao óbito). 1996 - Fundação da SOBETI (Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Terapia Intensiva), responsável pelos primeiros cursos de capacitação de PICC ministrados no Brasil. 6 O primeiro registro "oficial" foi publicado em 1999 na Revista Brasileira de Cancerologia, porém a experiência / trabalho da equipe de enfermagem teve início em 1997 - A data de inserção do mesmo foi 03/01/1997 e remoção em 21/02/1997 (49 dias) em decorrência de dermatite de contato (alergia ao curativo). O paciente era portador de Doença de Hodgkin e tinha 18 anos. O PICC foi inserido em veia cefálica braquial direita. 1999 – Primeiro curso de capacitação de PICC ministrado no Brasil pela SOBETI. 2002 - Fundação da INS Brasil. 7 2. Dispositivos convencionais e PICC Há diversos tipos de cateteres existentes no mercado, construídos em diferentes tipos de materiais. De acordo com o material utilizado em sua construção, os cateteres podem ficar implantados por diferentes períodos de tempo. As orientações do fabricante devem sempre ser observadas e seguidas, para que se obtenha sempre o melhor resultado com a utilização dos cateteres.- Cateter periférico curto (tipo Jelco, Abbocath) – Construído em PTFE sobre uma agulha hipodérmica comum. Introduzido através de punção venosa simples (enfermagem realiza). Após a punção, a agulha é retirada e o cateter de PTFE permanece no interior da veia, podendo ser mantido até 72 horas. (Lembrar que o PTFE não é compatível com quimioterapia...). Este cateter é mantido em posição apenas através de curativo. - Cateter de subclávia (tipo Intra Cath, I-Cath) – Construído em PTFE por dentro de uma agulha hipodérmica comum. Introduzido através de punção percutânea “cega” / sondagem (médico realiza). Após a punção, o cateter permanece por dentro da agulha, que fica “protegida” dentro de uma presilha plástica, para que sejam prevenidas as lesões ao cateter e na pele. Este cateter pode permanecer no interior da veia por um período entre 7 a 15 dias. (Lembrar que o PTFE não é compatível com quimioterapia...). Este cateter é mantido em posição através de suturas na pele e curativo. 8 - Cateter venoso central (tipo mono lúmen, duplo lúmen, triplo lúmen, cateteres para hemodiálise, cateteres agudos) – Construído em poliuretano, inserido através de punção percutânea / técnica de Seldinger (médico realiza). Após a punção, o cateter fica diretamente no interior da veia, sendo fixado à pele através de sutura. Pode permanecer no interior da veia por várias semanas / meses. (Lembrar que a grande maioria dos poliuretanos não é compatível com soluções antissépticas de base alcoólica...). - Cateter central de inserção periférica (PICC /CCIP) – Construído em silicone ou poliuretano. Introduzido através de punção venosa periférica (enfermagem ou médico realizam). Após a punção, o cateter é introduzido na veia até atingir uma situação central (veia cava superior ou inferior). Este cateter pode permanecer no interior da veia por períodos acima de 7 dias até o término do tratamento – o silicone é um material dimensionado para longa permanência. (Lembrar que a grande maioria dos poliuretanos não é compatível com soluções anti-sépticas de base alcoólica ...). Este cateter é mantido em posição através de curativo. 9 - Cateter semi-implantável (crônico) – Construído em silicone. Introduzido através de procedimento cirúrgico (tunelização e colocação do cuff para fixação no tecido subcutâneo e punção / dissecção para introdução do cateter na veia) (médico realiza). Após a tunelização e punção ou dissecção, o cateter é introduzido na veia até atingir uma situação central (veia cava superior ou inferior). Este cateter pode permanecer no interior da veia por longos períodos – meses – pois o silicone é um material dimensionado para longa permanência. Este cateter é mantido em posição através da fixação do cuff no tecido subcutâneo / formação de fibrina. - Cateter totalmente implantável – Desenvolvido para prover acesso confiável de longa duração. O sistema consiste em duas partes distintas: um local de acesso através de agulha vedado com septo de silicone e um cateter construído em material radiopaco, silicone ou poliuretano. Pode ser usado intravenoso, intraperitoneal ou intra-arterial. É um sistema totalmente implantável para administração de drogas que permite acesso venoso repetido para qualquer tipo de infusão. Introduzido através de procedimento cirúrgico (tunelização e colocação do reservatório no tecido subcutâneo e punção / dissecção para introdução do cateter na veia) (médico realiza). Após a tunelização e punção ou dissecção, o cateter é introduzido na veia até atingir uma situação central (veia cava superior ou inferior) e logo após conectado ao reservatório. Este sistema pode permanecer implantado por longos períodos – anos – pois o silicone é um material dimensionado para longa permanência. Este cateter é mantido em posição através da fixação do reservatório no tecido subcutâneo. 10 Tipo de dispositivo Material utilizado na construção Duração Cateter periférico curto PTFE/ politetrafluoroetileno Curta Cateter central não tunelizado Vialon / polieteruretano Curta Cateter de subclávia / jugular Poliuretano (PU) Média Cateter de linha média (Midline) 100% silicone grau médico / PU Média Cateter central de inserção periférica (PICC) 100% silicone grau médico / PU Média Cateter semi-implantável tunelizado - Hickman, Broviac - Groshong 100% silicone grau médico / cuff PU Longa Cateter totalmente implantável - Reservatório - Cateter - Plástico ou titânio - 100% silicone grau médico / PU Longa 11 3. Tipos de PICC a. Características O cateter central de inserção periférica (PICC / PICC) é um cateter longo e flexível, inserido por punção em uma veia periférica, geralmente da região da fossa antecubital, progredindo através desta até o sistema venoso central, sendo que sua ponta deverá ficar posicionada em terço médio / inferior da veia cava superior ou em terço superior da veia cava inferior (especificamente nos neonatos). Há vários tipos diferentes de cateteres disponíveis no mercado, com características diversas referentes a material de construção, calibre, número de lumens, comprimento, ponta, radiopacidade e recursos disponíveis, entre outras. o Material de construção: Os cateteres devem ser construídos em materiais que apresentem as seguintes características: - Obrigatórias: biocompatibilidade, hemocompatibilidade, bioestabilidade, radiopacidade, ofereça segurança ao paciente. - Desejáveis: tromboresistência, flexibilidade, resistência a dobras e deformações, termosensibilidade e mínima aderência bacteriana. Atualmente, os materiais mais utilizados na construção de cateteres são o poliuretano e o silicone. Poliuretano: É um polímero termoplástico, amplamente utilizado na fabricação de cateteres. Suas principais características são: dureza; resistência química; moldabilidade; bioestabilidade; resistência e baixa trombogenicidade. Silicone: É um polímero sintético cujas características permitem sua utilização na construção de ampla variedade de implantes médicos. O elastômero de silicone apresenta como principais propriedades físico-químicas: elevada inércia química e força tênsil; resistência à temperatura e oxidação; alta resistência à dobras; baixa trombogenecidade; baixa aderência bacteriana; altíssima biocompatibilidade. 12 Silicone Poliuretano • Mais maleável • Paredes mais espessas • Diâmetro interno reduzido • Suporta menos pressão • Maior resistência a dobras e pinçamentos repetidos • Compatível com soluções antissépticas com base alcoólica • Menos maleável / apresenta memória • Paredes mais finas • Diâmetro interno maior • Suporta mais pressão • Menor resistência a dobras e pinçamentos repetidos • A termosensibilidade é uma característica importante desse material • PICC confeccionados com poliuretano podem ser utilizado para infusão de contraste por bomba em altas pressões. o Calibre: É a medida do diâmetro externo do cateter, cuja unidade é conhecida como French (equivale à 0.3 mm) – Quanto maior o french do cateter, maior o seu calibre. Há uma diferença entre o diâmetro externo do cateter (D.E ou O.D) e o diâmetro interno do cateter (D.I ou I.D), pois dependendo do material utilizado na construção do cateter, a espessura da parede varia. O calibre dos cateteres pode variar entre 1.0 Fr (para prematuros extremos) até 6.0 Fr (adultos) Obs.: Gauge é a medida de calibre de agulhas (quanto maior o gauge, menoré o calibre da agulha). o Número de lumens: Lúmen é o interior ou canal do cateter. D.I D.E 13 O cateter pode apresentar lúmen único, duplo ou triplo, o Comprimento: Varia de 15 a 65 centímetros, apresentando ou não marcas de profundidade a cada centímetro. o Ponta: A ponta distal do cateter pode se apresentar aberta ou valvulada. Cateter com ponta aberta Cateter com ponta distal valvulada • Heparinização obrigatória após a lavagem • Necessário clampear quando não estiver em uso • Necessário técnica de pressão positiva para flush • Maior risco de embolia aérea • Não é necessário heparinizar após a lavagem • Não possui clamp • A ação da válvula substitui a técnica de pressão positiva para flush • Mínimo risco de embolia aérea 14 o Suporte a pressão: atualmente temos disponibilizados cateres centrais de inserção periférica, fabricados em poliuretano, que suportam altas pressões (em torno de 300 psi com fluxo de 6ml/seg, variando conforme a marca). o Radiopacidade: Capacidade de o cateter permitir visualização através de imagem / raios-X ou fluoroscopia. Esta característica é devida à adição de bário (elemento radiopaco) ao material de construção do cateter, para permitir a visualização do cateter sob fluoroscopia ou raios X (esta mistura não deve ultrapassar 30%, caso contrário, o material torna-se frágil e quebradiço). o Recursos disponíveis: Construção em silicone ou poliuretano Lúmen único, lúmen duplo ou triplo lúmen Com ponta distal aberta ou ponta distal valvulada Com agulha introdutora, introdutor que “descasca” ou micro-introdutor Os introdutores para cateter apresentam duas características básicas: são do tipo que descasca (peel away), constituídos por uma bainha plástica com asas ao redor de uma agulha hipodérmica (bastante semelhante a um cateter periférico curto, tipo Jelco ou Abbocath, o qual é rasgado após a conclusão da inserção do cateter) ou são agulhas metálicas quebráveis com asas, possuindo um friso que separa as partes quando as asas são aproximadas. Ambos apresentam uma câmara para observação do refluxo sangüíneo após a punção venosa. A medida dos introdutores é a mesma das agulhas, gauge (quanto maior o gauge, mais fino é o introdutor / agulha). Introdutor para cateter Groshong: semelhante ao dispositivo intravenoso curto (abbocath) geralmente calibrosos, pois os mesmos são removidos após a inserção do cateter sem que necessidades de “quebra-los” como os descritos anteriormente. (Ver maiores detalhes na técnica de punção PICC Groshong). Punção com Micro-introdutor: utiliza a Técnica de Seldinger modificada, onde a punção venosa é realizada com uma a 15 Com ou sem fio guia (metálico ou plástico) Excetuando-se os cateteres utilizados na neonatologia (1.0, 1.9 e 2.0 Fr), os demais tamanhos geralmente possuem estiletes metálicos ou plásticos, semelhantes a um fio guia, para conferir mais firmeza ao cateter e facilitar sua introdução / progressão através da veia após a punção, os quais podem ou não vir pré-montados nos cateteres. Há ainda cateteres que são inseridos através da Técnica de Seldinger ou Seldinger Modificada. Dispositivo para irrigação A maioria dos cateteres e estiletes tem algum tipo de tratamento hidrofílico, isto é, quando entram em contato com meio aquoso (solução fisiológica) tornam-se escorregadios, facilitando seu trajeto pelo interior da veia puncionada e sua retirada do interior do cateter após a conclusão do procedimento. É por esta razão que todos os cateteres devem sempre ser “molhados e preenchidos com solução fisiológica” antes de sua inserção no sistema venoso. Muitos cateteres apresentam dispositivos para irrigação, permitindo que ele seja irrigado antes, durante e após o procedimento de inserção. Com ou sem extensões / conectores Alguns cateteres apresentam conectores com local para infusão / injeção lateral, disponibilizando mais um ponto para acesso ao sistema venoso sem a necessidade de manipular o conector do cateter diretamente. Kit para reparo Alguns fabricantes de cateter oferecem a opção de kit para efetuar reparo no cateter quando ocorrem fraturas / quebras no segmento externo de um cateter que está permeável e funcionando bem, sem, no entanto ter que removê-lo. Geralmente estes kits constam de conectores extras, na medida do cateter que se quebrou. Com ou sem kit completo para inserção 16 Há diversas apresentações de cateteres, desde bandejas simples contendo o cateter, o introdutor ou agulha introdutora e o estilete, até kits completos contendo todo material necessário à execução da técnica (fita métrica, tesoura, introdutor, cateter, garrote, seringa, agulha hipodérmica, pinça delicada, fita adesiva para fixação, curativo transparente, campos cirúrgicos, campo fenestrado, compressas de gaze, swab com anti-sépticos, álcool e solução para preparo da pele). Por razões econômicas, muitas vezes opta-se pelas embalagens mais simples. 4. Escolha do cateter: Desde muito tempo, no exercício diário da assistência de enfermagem, a escolha de um dispositivo de acesso venoso é um passo importante e necessário à implementação da terapia intravenosa prescrita. Geralmente, esta acaba recaindo sobre um cateter periférico curto, independente da terapia prescrita. Atualmente, a escolha e indicação de um cateter central de inserção periférica logo de início é uma opção racional e viável, para que se possa utilizá-lo desde o início até o final do tratamento. Esta escolha se baseia nas características básicas de um “dispositivo venoso adequado” deve apresentar: o Possuir a maior chance de permanecer durante todo o tempo previsto para o tratamento o Prestar-se aos requerimentos do tratamento o Ser o menos invasivo possível o Apresentar o menor calibre em relação à veia o Utilização do menor número de cateteres para implementar o tratamento prescrito o Apresentar uma relação custo x risco x benefício viável Além disso, deve-se também levar em consideração as indicações, limitações para uso, contra- indicações, vantagens, desvantagens e escolha / preferência do paciente. 17 5. Indicações e Contra Indicações do PICC a) Indicações O cateter central de inserção periférica é considerado um acesso venoso central confiável, uma vez que sua ponta está posicionada em veia central de grosso calibre. Ele está indicado quando houver previsão de terapia intravenosa prescrita por períodos acima de sete dias a vários meses; para administração de antibióticos por longos períodos (02 a 03 semanas a vários meses); para administração de nutrição parenteral, com ou sem lipídeos; para infusão de drogas antineoplásicas, drogas com características irritantes ou vesicantes ou que apresentem extremos de pH e osmolaridade / concentração; para infusão de sangue total, hemoderivados ou hemocomponentes (cateteres acima de 4.0 Fr); para verificação de pressão venosa central em unidades de cuidados intensivos, atendimento domiciliar (home-care) ou de acordo com as preferências do paciente. Em pediatria e neonatologia, alguns exemplos concretos para se considerar a escolha de PICC: Crianças necessitando de terapia IV por mais de 7 dias; prematuros com peso <1.500g; crianças que irão receber terapia antimicrobiana para meningite; aquelas que irão receber nutrição parenteral; crianças que irão receber medicamentos antivirais IV; com acesso vascular pobre (com aumento de gordura no subcutâneo, tornando difícil achar as veiasou com carência de veias adequadas; presença de anomalias em membros); com desordens gastrintestinais (enterocolite necrotizante, onfalocele, gastrosquise); com doenças cardíacas congênitas (infusão pré-operatória de prostaglandina E1, administração de fluidos ou medicamentos no trans e pós operatório). Deve haver critérios para se considerar o tempo de permanência do cateter. Se for sabido que a duração do cateter pode chegar ou exceder um ano, deve-se considerar a escolha de um outro tipo de cateter venoso central (longa permanência). 18 Tabela de Indicações para o PICC Local Terapia Medicamentosa Condições do Paciente Tipo de PICC Hospital (paciente internado) Drogas vesicantes e Irritantes Antibiótico; Quimioterápicos; NPT; Drogas vasoativas; CT com contraste seriadas. Alta complexidade e múltiplas drogas PICC de poliuretano: Múltiplos lumens; Suporte a alta pressão; Maior fluxo. • Power PICC Bard Hospital (paciente internado) Drogas vesicantes ou irritantes Antibiótico; Quimioterápicos; NPT; Drogas vasoativas; Baixa complexidade Drogas únicas PICC Groshong Menor manipulação, sem necessidade de heparinizações. Hospital (atendimento internado e ambulatorial) Drogas vesicantes ou irritantes; Quimioterapia; Antibiótico. Baixa complexidade; PICC Groshong: pacientes recebem medicação no hospital (internado ou ambulatótio); Mantem cateter em casa fazendo manutenção 1x por semana no ambulatório. Home Care Drogas vesicantes ou irritantes Antibiótico; Quimioterápicos; NPT; Drogas vasoativas; Baixa complexidade PICC Groshong Observação: o cateter poder ser inserido na casa do paciente. 19 6. Contra-indicações Há situações em que a escolha / utilização do PICC como primeira opção de acesso venoso confiável está contra indicada, embora, por várias vezes, a sua utilização ainda seja a melhor opção para o paciente, levando-se em conta suas condições gerais. Assim sendo, considera-se contra-indicada sua utilização quando o paciente apresentar: infecção da pele; flebites, tromboflebites, tromboses ou extravasamentos químicos; lesões dérmicas que possam comprometer a inserção e os cuidados posteriores com o cateter; alterações anatômicas (estruturais ou venosas) que possam impedir a correta progressão do cateter (punções venosas prévias, dissecções, lesões ou cirurgias prévias que possam ter alterado a anatomia venosa ou o retorno venoso); deficiência de acesso venoso periférico; alterações neurológicas ou ortopédicas, história prévia de trombose venosa profunda, pacientes com insuficiência renal aguda e uso de muletas no lado que será inserido o PICC. 7. Limitações Devem ser levadas em conta ainda algumas situações especiais que podem limitar a escolha / utilização do PICC - exigem monitoramento e discussão prévia com a equipe para a tomada de decisão / escolha do PICC. Lembrar sempre que o PICC ainda permanece como sendo uma das únicas alternativas de acesso para estes pacientes. o Plaquetopenia severa; o Utilização de medicação com efeito anticoagulante / prevenção de trombose venosa profunda; o Doença cardíaca com edema – Veias de difícil acesso e risco de sobrecarga volêmica; o Diabetes – Neuropatia periférica e risco de infecção; o Câncer – a quimioterapia que poderá levar ao imunocomprometimento e ou hemorragias e, por outro lado, a hipercoagulação desencadeada por alguns tumores. o Imunossupressão – devido ao risco de infecção aumentado; o Desidratação – devido ao volume intravascular reduzido; o Mastectomia – circulação comprometida quando de esvaziamento axilar; o Hemodiálise – frente ao risco de atingir a fístula arteriovenosa; o Obesidade – o aumento do tecido adiposo torna as veias mais profundas e de difícil acesso; 20 o Veias esclerosadas – a esclerose acarreta redução do fluxo sanguíneo no interior da veia e as “calosidades” podem propiciar dificuldade na progressão do cateter. Candidatos à utilização de PICC Exemplos de diagnósticos Drogas utilizadas / justificativa Abscessos Antibióticos AIDS Pneumonia / Pneumocystis carinii A terapia farmacológica depende da infecção oportunista que estiver instalada / Antibióticos analgesia Aneurisma cerebral Craniotomia Agentes hipotensores, bloqueadores de cálcio, aminofilina, corticóides, inibidores fibrinoliticos, albumina, sangue e ou derivados. Apendicectomia Antibióticos Artrite séptica Antibióticos AVC Hematoma intracerebral Corticóides, analgésicos, anticoagulantes Câncer de pâncreas Quimioterapia, controle da dor, suporte nutricional, antibióticos Cardiomiopatias Vasodilatadores (Dopamina) Celulites Antibióticos Cirrose hepática Anti-eméticos, anti-histamínicos, hidratação Citomegalovírus Antibióticos / antivirais Coagulação intravascular disseminada Plasma, crioprecipitados, plaquetas, heparina Doença de Crohn Corticóides, agentes antibacterianos, antidiarréicos, imunossupressores, analgésicos, sangue e derivados Encefalite Antivirais / anibióticos Endocardite Miocardite Pericardite Antibióticos Enfisema pulmonar Broncodilatadores, antibióticos, esteróides Fibrose cística Antibióticos Hiperêmese Fluidos e reposição deeletrólitos Infecções de feridas operatórias e outras Antibióticos Insuficiência cardíaca congestiva Vasodilatadores periféricos ( Dopamina) diuréticos (Lasix) Insuficiência renal aguda Diuréticos, reposição eletrolítica, bicarbonato de sódio, anti-hipertensivoss, antibióticos Leucemia aguda Quimioterapia, corticóides, antibióticos, sangue e derivados Meningite Antibióticos Osteomielite Antibióticos Pancreatite Reposição de líquidos e eletrólitos, albumina, dopamina (nos casos de choque e septicemia), analgésicos, insulina, antiácidos, anti-histamínicos, anti-colinérgicos, antibióticos 21 Peritonite Antibióticos, analgésicos, suporte nutricional, reposição hidroeletrolítica Pneumonias complicadas Suporte ventilatório mecânico Traqueostomias Antibióticos Hidratação IV Procedimentos no intestino delgado ou grosso (diverticulite, obstrução intestinal) Analgésicos, anticolinérgicos, antibióticos Queimaduras Nutrição, hidratação, reposição hidroeletrolítica, controle da dor Retocolite ulcerativa Esteróides, antibióticos, agentes anti-colinérgicos, imunossupressores, reposição de líquido e eletrólitos, sangue e derivados, suporte nutricional Septicemia / infecções por pseudomonas Antibióticos Toxoplasmose Antimicrobianos Transplante hepático Anti-eméticos, anti-histamínicos, hidratação, antibióticos Ulceras de decúbito Suporte nutricional, antibióticos Também são boas indicações para uso de PICC: - Controle da dor; - Coletas de sangue (cateteres acima de 4.0 Fr); - Acesso venoso limitado na internação; - Esteróides; - Pacientes com restrições hídricas; - Usuários de drogas injetáveis; - Diabéticos; - Administração de drogas múltiplas; - Múltiplas internações; - Pacientes obesos - Pacientes plaquetopênicos; - Infusão simultânea de drogas incompatíveis. Considerações importantes na hora da escolha: Os fatores abaixo podem interferir na integridade / condições da rede venosa periférica: - Diabetes (devido à perda de gordura subcutânea, turgor da pele); - DPOC (perda de massa muscular); - Obesidade; - Usuários de drogas (falta de acessos venosos); - Utilização de corticóides (fragilidade venosa); entre outros. 22MÓDULO II Aspectos éticos e legais da utilização de PICC 23 Aspectos Éticos e Legais da Utilização do PICC Diferentes conceitos instrumentalizam a trajetória profissional da classe de Enfermagem, tão indispensável à administração da saúde. Conceitos estes, reguladores das normas específicas ao exercício da profissão. Para tanto, necessário é, exigir explicitando direitos e deveres, dentro do universo do exercício de suas atividades e das necessidades prementes de informação e aculturamento dos referidos profissionais. Moral Para Barton e Barton (4) o estudo da filosofia moral consiste em questionar-se o que é correto ou incorreto, o que é uma virtude ou uma maldade nas condutas humanas. A moralidade é um sistema de valores do qual resultam normas que são consideradas corretas por uma determinada sociedade, como, por exemplo, os Dez Mandamentos, os Códigos Civil e Penal etc. A lei moral ou os seus códigos caracterizam-se (2) por uma ou mais normas, que usualmente têm por finalidade ordenar um conjunto de direitos ou deveres do indivíduo e da sociedade. Para que sejam exeqüíveis, porém, torna-se necessário que uma autoridade (Deus, Juiz, Superego) as imponha, sendo que, em caso de desobediência, esta autoridade terá o direito de castigar o infrator. Gert (5) propõe cinco normas básicas de moral: Não matar; 2) não causar dor; 3) não inabilitar; 4) não privar da liberdade ou de oportunidades; 5) não privar do prazer. Ética Para “Barton e Barton” (4) a ética está representada por um conjunto de normas que regulamentam o comportamento de um grupo particular de pessoas, como, por exemplo, advogados, médicos, psicólogos, enfermeiros etc. Pois é comum que esses grupos tenham o seu próprio código de ética, normatizando suas ações específicas. Nesta interpretação da ética, ela não se diferencia em nada da moral, com a exceção de que a ética serviria de norma para um grupo determinado de pessoas, enquanto que a moral seria mais geral, representando a cultura de uma nação, uma religião ou época. Não nos associamos a esse enfoque. Nossa compreensão de ÉTICA é a seguinte: conforme já dissemos, a eticidade está na percepção dos conflitos da vida psíquica (emoção x razão) e na condição, que podemos adquirir, de nos posicionar, de forma coerente, em face desses conflitos. Consideramos, portanto, que a ética se fundamenta em três 24 pré-requisitos: 1) percepção dos conflitos (consciência); 2) autonomia (condição de posicionar-se entre a emoção e a razão, sendo que essa escolha de posição é ativa e autônoma); e 3) coerência. Assim, fica caracterizado o nosso conceito de ética, reservando-se o termo eticidade para a aptidão de exercer a função ética. Kant estabeleceu como pressuposto de sua moral a condição de livre escolha, fundamentando essa escolha na razão. Mas a razão também é um pressuposto, passível de avaliação de fora. O que é razoável (ou racional) para uns pode não ser para outros. Entendemos que nossa conceituação de ética, que não se atém apenas à racionalidade, é mais dinâmica e abrangente do que a kantiana. Admitimos, entretanto, que, mesmo pretendendo pluralizar ao máximo o conceito de ética, distinguindo-o do de moral, não há como estabelecê-lo sem amarrá-lo a alguns valores preestabelecidos. Bioética e o Exercício Profissional da Enfermagem Bioética é “o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e dos cuidados da saúde, na medida em que esta é examinada a luz dos valores e princípios morais”. Poderíamos filosofar sobre conceitos diversos, de relativo valor, pois para a abrangência desta matéria o mais próximo do entendimento e da eficácia da interpretação geral é, efetivamente, a prática. Justiça O termo justiça, de maneira simples, diz respeito à igualdade de todos os cidadãos. É o principio básico de um acordo que objetiva manter a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal (constitucionalidade das leis) ou na sua aplicação a casos específicos. Dolo: Significa a intenção de cometer determinado crime. Exemplo: a enfermeira que deseja vingar-se de determinado paciente aproveita-se do pretexto de inserir o PICC, sabendo dos riscos e ciente que familiares, entre outros, também sabem, induz a falha no sistema de aplicação provocando uma obstrução que leve o paciente a óbito. Observação: houve a “intenção” de matar! Dolo Eventual: Quando não há intenção objetiva de lesar, porém ocorre o conhecimento do risco que possa causar pelo agente causador do dano. 25 Exemplo: houve a determinação pela chefia imediata para inserir o PICC em paciente. A enfermeira que recebe a incumbência executa o procedimento, mesmo não habilitada para tal e desconhecedora da metodologia necessária, assume o risco para não descumprir ordens. Culpa: Toda ação lesiva em que o agente não assume o risco e nem tem a intenção objetiva de lesar ou matar ou produzir qualquer dano. O fato ocorre independente de sua vontade. Exemplo: a Enfermeira que em pleno ato de introdução do PICC, cercada de todos procedimentos técnicos, com a devida assepsia e conhecimentos específicos, com as respectivas autorizações para o exercício de sua atividade e ação do procedimento técnico, vem a provocar um aneurisma, seguido de óbito do paciente. Em razões adversas, colaterais, não ligadas aos problemas vasculares provocados pelo procedimento, gera-se a culpa. Exemplo: O indivíduo que trafega em velocidade regular sendo surpreendido por um cidadão que ao atravessar a rua atira-se na sua frente. O fato gera um homicídio culposo, pois o motorista nada tem haver com a tentativa de suicídio do cidadão. Observa-se que o motorista terá responsabilidade sobre o fato, na medida de sua culpabilidade. A importância de o profissional ter relativo conhecimento destes instrumentos jurídicos é fundamental. A responsabilidade declinada deverá ser justa, pois somente haverá a responsabilização para a Enfermeira e o Enfermeiro quando houver a incidência de sua culpabilidade, caracterizada no Dolo ou Dolo Eventual. Somente haverá responsabilização, na medida exata da sua culpabilidade. Código Penal Brasileiro. Isto remete-nos aos seguintes aspectos: somente o profissional, de qualquer área, será culpado sobre algo se realmente for o autor do feito. Exemplo: em uma sala de recuperação, o paciente morre por que a equipe esqueceu no interior de seu corpo, um instrumento cirúrgico, resultante de agravamento do quadro e conseqüente óbito. Haverá uma responsabilização específica à negligência e suas conseqüências, porém, é necessário que se identifique o culpado ou os culpados. Dificilmente toda equipe teria culpa, portanto, só responderá na medida exata de sua responsabilidade aqueles que, por imperícia, imprudência ou negligência equivocaram-se ou contribuíram para tanto. Elementos fundamentais em que a justiça baseia-se para a responsabilização dos profissionais da saúde entre outros: 26 Imperícia Ausência de conhecimento específico “sem ser perito” (Falta de habilidade); sem capacitação para tal; sem conhecimento ou normatização que regulamente o ato executado. Ignorância associada à falta de conhecimento técnico. Imprudência Irresponsabilidade na gerência ou na ação de qualquer atitude. Falta de prudência, ação inconseqüente sem prévia avaliação das possibilidades de erro ou dano. Precipitação, inconseqüência. Negligência Ausênciade precaução, indiferença às conseqüências, desleixo. Desatenção, falta de acompanhamento adequado das responsabilidades exercidas. Lei “Regra geral justa e permanente que exprime a vontade imperativa do Estado a que todos são submetidos”. “Regramento impositivo no qual todos os cidadãos devem conhecer e cumprir obrigatoriamente. O argumento do desconhecimento da lei é descartado, pois é dever do cidadão o pleno conhecimento da lei”. 27 Código de Ética de Enfermagem (Resolução Cofen 240/2000) Art. 1 A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais. Art. 6 O profissional de enfermagem exerce a profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais da enfermagem. Art. 16 Assegurar ao cliente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrente de imperícia, negligência ou imprudência. Art. 17 Avaliar criteriosamente sua competência técnica e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para a clientela. Resolução Cofen 258/01 Inserção de Catéter Periférico Central, pelos Enfermeiros: O Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, no uso de suas atribuições legais e regimentais; Considerando a competência técnica do Enfermeiro, estatuída na lei número 7.498/86 em seu artigo 11, inciso l, alínea “e” e “f”; Considerando a resolução do Cofen número 240/2000, que aprova o código de ética dos profissionais de enfermagem, em seu capítulo lll, artigos 16, 17 e 18; Considerando o parecer da Câmara Técnica Assistencial número 011/2001, aprovado na reunião Ordinária do Plenário número 296; Artigo Primeiro: É ilícito ao enfermeiro, a inserção de Catéter Periférico Central. 28 Artigo Segundo: O Enfermeiro para o desempenho de tal atividade, deverá ter-se submetido a qualificação e/ou capacitação profissional. Artigo Terceiro: Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando disposições em contrário. Rio de Janeiro, 12 de Julho de 2001. Gilberto Linhares Teixeira Coren – Rj número 2.380 Presidente João Aureliano Amorim de Sena Coren – Rj número 9.176 Primeiro Secretário *A referência supra citada constata a entrada em vigor da resolução. Resolução é o instrumento legal, normativo elaborado e executado por Órgãos e ou Conselhos. Em anexo segue os pareceres técnicos do Coren sobre a utilização da Técnica de Seldinger e da Punção Venosa Guiada por Ultrasom. 29 MÓDULO III Anatomia e fisiologia da pele e Sistema vascular 30 1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE A pele é uma cobertura impermeável que envolve todo o corpo humano, protegendo-o e adaptando-o ao meio ambiente. Suas principais funções são a regulação da temperatura do corpo, proteção contra a desidratação, proteção contra a infecção e coleta de informações sensitivas. 1.1 Camadas da Pele A pele é formada por duas camadas principais, que são epiderme e derme, além do tecido subcutâneo que serve para unir a pele aos demais tecidos. • Epiderme: formada por uma camada de células epiteliais sobrepostas, não contém vasos sanguíneos, mas contém terminações nervosas. É a camada sobre a qual se encontra as bactérias, denominadas de microbiota residente e transitória. • Derme: uma densa camada de fibras colágenas e elásticas entrelaçadas, sobre a qual se apóia a epiderme. Dá suporte a vasos, nervos, gânglio linfáticos, glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos. A dor referida durante a punção venosa é em decorrência principalmente da penetração dessa camada, pois é rica em terminações nervosas. • Tecido subcutâneo: não é considerado exatamente uma camada da pele, situando-se entre a derme e a fáscia muscular. É formado principalmente por um tecido conjuntivo frouxo (colágeno e elastina) e tecido adiposo. Os vasos sanguíneos que auxiliam na regulação da temperatura corporal e suprem a pele se localizam nessa camada. 31 32 1.2 Microbiota da Pele A pele humana é normalmente colonizada por bactérias, sendo algumas regiões do corpo mais ou menos colonizadas que outras, dependendo da umidade, calor local e proximidade com locais de produção de secreção. A microbiota da pele é classificada em residente e transitória. 1.3 Sistema Vascular O Sistema Vascular é responsável pelo transporte do sangue para todas as partes do corpo humano e destas para o coração. Os vasos sanguíneos que compões o sistema vascular são classificados em: artérias, veias e capilares. Artérias: Transportam o sangue do coração para os tecidos. Têm a capacidade de se contraírem, pois são controladas pelo sistema nervoso autônomo. Suas paredes são mais espessas, pois precisam suportar a pressão exercida pelo coração. Veias: Transportam o sangue dos tecidos para o coração. Suas paredes são mais finas e seu diâmetro interno é em geral maior e, como conseqüência, a pressão venosa é muito mais baixa que a arterial. Muitas veias possuem válvulas que impedem o refluxo venoso. Capilares: são vasos microscópicos e possuem somente uma camada formada de endotélio. Atuam como membranas semipermeáveis, que permitem a realização das trocas gasosas e de nutrientes entre o vaso sanguíneo e as células. 33 34 1.4 Camadas dos Vasos As artérias e veias são compostas por três camadas ou túnicas e os capilares por apenas uma camada, classificada em: • Túnica Intima: membrana interna formada por células epiteliais achatadas, o endotélio, que reveste todo os sistema circulatório, formando uma superfície interna lisa. A túnica íntima pode ser lesada por cateterização traumática, irritação da íntima por dispositivo muito calibroso ou hiperosmoloridade da solução administrada. • Túnica média: é mais espessa e central, composta por fibras elásticas e musculares que respondem aos comandos do sistema nervoso autônomo. O tecido elástico permite que o vaso se distenda e se contraia quando necessário, tolerando mudanças na pressão e no fluxo. • Túnica externa: é a camada externa dos vasos, formada de tecido conjuntivo, que reforça a parede do vaso para que ele não se rompa com a pressão. 1.5 Sistema Venoso Considerando que o CCIP é inserido em sistema venoso periférico com ponta em localização venosa central (em veia cava superior ou inferior), neste estudo vamos abordar a anatomia e fisiologia do sistema venoso profundo e superficial, com ênfase nos vasos utilizados durante a inserção até a localização central da ponta do cateter. O sangue que é levado à periferia por meio da aorta e das suas ramificações volta ao coração transportado por veias que desembocam em duas grandes veias: a veia cava superior e a veia cava inferior, que desembocam no átrio direito. O sistema venoso segue o mesmo trajeto que as artérias e de um modo geral, as veias têm o mesmo nome das artérias que acompanham. Em quase toda a extensão do membro superior (braço, antebraço e mão), e metade distal do membro inferior (perna e pé), profundamente encontramos duas veias para cada artéria. O fluxo venoso ocorre em direção ao coração por influência de diversosfatores, sendo promovido pela contração da musculatura vizinha, da pressão intratorácica negativa que ocorre com a respiração, da ação da gravidade na parte superior do corpo e pela presença de válvulas. Válvulas Venosas As válvulas são dobras endoteliais da túnica íntima que permitem o fluxo venoso em apenas uma direção. Quando o sangue tende a fluir de uma forma retrógrada, a válvula fecha, prevenindo o retorno do fluxo, principalmente nas partes inferiores do corpo onde o retorno do sangue é realizado contra a gravidade. 2,6,8 A presença de válvulas algumas vezes pode dificultar a progressão do cateter dentro da veia. Classificação das veias Veias Superficiais São veias localizadas na tela subcutânea, principalmente nos membros, e muitas vezes possíveis de serem visualizadas.6 Na extremidade superior encontramos as seguintes veias superficiais: veias do dorso da mão, veia cefálica, veia basílica, veia intermédia do cotovelo e veia safenas magna e parva, as mais longas do corpo humano.1-3,8 A topografia das veias superficiais pode apresentar pequenas variações entre indivíduos, porém este capítulo descreve o admitido como padrão. Para facilitar a compreensão da anatomia das veias, sugerimos acompanhar o estudo visualizando as figuras do sistema venoso. 35 Veias profundas Geralmente são paralelas às artérias e normalmente possuem os mesmos nomes que as suas artérias correspondentes. Exemplos de veias profundas na extremidade superior: jugular interna, braquiocefálica, axilar e subclávia. E na extremidade inferior: tibial, poplítea e femoral. Principais veias Veias do membro superior à veia cava superior � Veia cefálica: nasce na mão no lado radial do arco venosos dorsal, ascende pela face anterior do antebraço e sobe pelo braço correndo ao nível do ombro, no sulco deitopeitoral. Em seguida se aprofunda nos tecidos, unindo-se à veia axilar. � Veia basílica: nasce na mão no lado medial do arco venoso dorsal e ascende na face posteromedial do antebraço. Na metade do braço a veia basílica perfura profundamente os tecidos e na região da axila se une à veia braquial, formando a veia axilar. � Veia intermédia do cotovelo: próximo à prega de flexão do cotovelo a veia cefálica e a veia basílica se unem formando a veia intermédia do cotovelo, separando-se novamente em veia cefálica e veia basílica no braço. � Veia intermédia do antebraço: as veias da região palmar formam a veia intermédia do antebraço, que se localiza entre a veia cafálica e a basílica, podendo unir-se a essas duas na prega de flexão do cotovelo. Ainda a veia intermédia do antebraço pode bifurcar-se na prega de flexão do cotovelo em veia mediana cefálica e veia mediana basílica que vão se anastomosar com a veia cefálica e veia basílica respectivamente. � Demais veias: axilar, jugular, subclávia, braquiocefálica e cava superior. A veia axilar continua na veia subclávia ao nível da borda externa da primeira costela, e forma com a veia jugular interna a veia braquiocefálica. A veia jugular externa começa próximo do ângulo da mandíbula, desce pelo pescoço, cruza o músculo esternocleidomastóideo, esvaziando-se na veia subclávia. As veias braquiocefálicas direita e esquerda se unem formando a veia cava superior. A veia cava superior é muito curta e desemboca no átrio direito do coração, drenando o sangue que provém dos órgãos localizados acima do diafragma. 36 37 38 Veias dos membros inferiores à veia cava inferior O sistema venoso superficial dos membros inferiores é composto pela veia safena magna e veia safena parva. � Veia safena magna: origina-se na rede de veias da região medial do dorso do pé e estende-se para cima no lado medial da perna, joelho e coxa, desembocando na veia femoral próximo à virilha. À medida que ascende na perna e na coxa, a veia safena magna recebe diversas tributárias e comunica-se com a veia safena parva, o que resulta na formação de uma complexa rede venosa. � Veia safena parva: nasce da união das veias da margem lateral da região dorsal do pé, sobe pela linha mediana da face posterior da perna e na fossa poplítea (posterior ao joelho) aprofunda-se para esvaziar em uma das veias poplíteas. � Veia poplítea: é formada pelas veias tibiais, que drenam as veias do arco venoso plantar. � Demais veias: femoral, ilíaca externa, ilíaca interna, ilíaca comum e cava inferior. A veia femoral é uma continuação da veia poplítea, que posteriormente se torna em veia ilíaca externa. A veia ilíaca interna e veia ilíaca interna se unem e formam as veias ilíacas comuns (direita e esquerda). A veia ilíaca direita comum e veia ilíaca esquerda comum se unem e formam a veia cava inferior. A veia cava inferior é mais longa que a veia cava superior e drena o sangue proveniente das partes do corpo abaixo do diafragma. Depois sobe e atravessa o diafragma desembocando no átrio direito do coração. 39 Para executar uma técnica de inserção de um cateter por veia periférica, é importante estar atento às outras estruturas anatômicas que compõem o membro escolhido, como tendões, nervos e artérias, buscando prevenir acidentes e possíveis problemas. Sistema venoso no recém-nascido As principais veias para acesso venoso pediátrico incluem as veias das regiões cefálica, dorso da mão, antebraço e pé. Preferencialmente deve-se optar por puncionar as veias localizadas nos membros superiores, considerando como primeira opção as veias basílicas e as veias cefálicas, pois apresentam menores irregularidades em seu trajeto e como segunda opção a veia intermédia do cotovelo. As veias da região cefálica utilizadas para punção venosa são: veia temporal, veia frontal e veia auricular posterior. A punção das veias da região cefálica pode ser realizada até 18 meses, a partir de quando a epiderme torna-se endurecida e os folículos dos cabelos maduros. As veias localizadas na região cefálica e pescoço devem ser a última escolha de inserção do CCIP em recém-nascidos pela dificuldade de fixação e risco de migração do cateter. A punção da veia jugular externa ainda apresenta um risco adicional, de punção acidental da artéria carótida. Nos membros inferiores as opções são a veia poplítea, a veia safena e a veia femoral, porém devido à presença de muitas válvulas nessas veias pode ocorrer dificuldade de migração do cateter. 40 MÓDULO IV Terapia intravenosa e Interações medicamentosas 41 Interações Medicamentosas A prescrição médica de dois ou mais medicamentos administrados seqüencialmente ou concomitantemente faz parte da rotina diária. Pode ocorrer interferência de um fármaco na ação de outro ou de um alimento/nutriente na ação de medicamentos. A interação medicamentosa pode ser definida como resposta clínica ou farmacológica à administração de diferentes combinações de medicamentos, uma situação na qual os efeitos de um medicamento são alterados pela administração prévia ou concomitante de outro medicamento. O conceito de interação medicamentosa se estende incluindo situações nas quais: � Alimentos ou outros itens da dieta influenciam a atividade de um medicamento(ou seja,interações fármaco-alimetares); � Substâncias químicas ambientais ou tabagismo influenciam a atividade de um medicamento; � Um medicamento causa alteração dos resultados dos exames laboratoriais (ou seja, interações fármaco-exame laboratorial); � Um medicamento causa efeitos indesejáveis em pacientes com determinados processos mórbidos (ou seja, interações fármaco-doença). Classificação das Interações: • Interações Farmacêuticas(Incompatibilidade Medicamentosa): resulta de reações físico-químicas entre os fármacos, ou com o seu material de acondicionamento e administração. • Interações Farmacocinéticas: ocorrem durante os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Um exemplo desse tipo de interação é a indução das enzimas hepáticas que fazem a biotransformação, como por exemplo os barbitúricos, que acabam aumentando o metabolismo e diminuindo as concentrações plasmáticas da varfarina e dos antidepressivos, podendo resultar em agravação da doença. • Interações Farmacodinâmicas: ocorrem nos sítios de ação dos fármacos, quando estes estão envolvidos no mesmo receptor ou enzima. Um fármaco pode aumentar o efeito do agonista por estimular a receptividade do seu receptor celular ou por inibir enzimas que o inativam no seu local de ação, ou diminuir o seu efeito por competir pelo mesmo receptor. Exemplo: ondansetrona e tramadol, que geram um antagonismo por bloqueio de receptores. 42 Exemplos: Agente precipitante Agente afetado Interação resultante Mecanismo proposto Trimetoprima Sulfametoxazol Sinergia Atuação em etapas diferentes da mesma rota metabólica Naloxona Morfina antagonismo Competição por receptor Flumazenil benzodiazepínicos antagonismo Competição por receptor Ondasentrona Tramadol Antagonismo Bloqureio de receptores • Interações de Efeito: ocorrem quando os fármacos exercem efeitos similares ou opostos sobre uma mesma função do organismo, sem interagir diretamente um sobre o outro. Exemplo: ácido acetilsalicílico e anticoagulantes orais, que aumentam o sangramento. Significância das Interações: A significância é um dos principais interesses quando se avalia o potencial de interação medicamentosa. Está relacionada ao tipo de efeito e sua magnitude e, conseqüentemente, à necessidade de monitoramento do paciente ou de alteração da terapia a fim de evitar efeitos adversos sérios. Os principais fatores que definem a significância clínica são: • Início de efeito: é o tempo que leva para a manifestação dos efeitos clínicos decorrentes de uma interação. Determina a urgência com que medidas preventivas devem ser adotadas. O nível de início de efeito pode ser rápido (os efeitos serão evidentes dentro de 24 horas após a administração), ou lento (os efeitos não são evidentes por um período de dias ou semanas após a administração). • Severidade ou gravidade: a avaliação da gravidade é importante para se medir os riscos versus os benefícios das alternativas terapêuticas. Existem três graus de severidade: maior (os efeitos oferecem riscos potenciais à vida ou são capazes de causar danos permanentes), moderada (os efeitos podem agravar as condições clínicas do paciente, podendo ser necessário um tratamento adicional ou hospitalização) ou menor (os efeitos são normalmente leves e as conseqüências podem ser desagradáveis ou imperceptíveis, e não devem afetar significativamente o resultado da terapia). Uma das conseqüências mais importantes da interação medicamentosa é uma resposta excessiva a um ou mais agentes que também estão sendo administrados. Por exemplo, um efeito 43 significativamente acentuado de agentes como a digoxina e a varfarina pode resultar em efeitos adversos sérios como aumento do risco de sangramento. Não tão bem reconhecidas, mas também muito importantes, são aquelas interações nas quais a atividade do medicamento está diminuída resultando em perda de eficácia. Essas intrerações são especialmente difíceis de detectar, porque podem ser confundidas com fracasso terapêutico ou progressão da doença. Numerosos estudos têm demonstrado que muitos pacientes são medicados com agentes de potencial risco de interação. À medida que aumenta o número de medicamentos no esquema terapêutico do paciente, maior é o risco de ocorrência de uma interação medicamentosa. Existe uma possibilidade aumentada de dois medicamentos administrados concomitantemente afetarem algum sistema comum. Quando se considera o potencial de interação entre os medicamentos, existe freqüentemente uma tendência apenas de se preocupar com os efeitos primários dos medicamentos envolvidos e deixar passar as atividades secundárias que eles possuem. Muitos fatores que influenciam na resposta a um medicamento pertencem ao paciente e podem predispô-lo ao desenvolvimento de reações adversas a um medicamento e influenciar nas interações medicamentosas tais como: � Idade � Fatores genéticos � Estados mórbidos � Função renal � Função hepática � Etilismo � Tabagismo � Dieta � Fatores ambientais � Variação individual Recomendações para redução das interações medicamentosas: � Identificar os fatores de risco do paciente; � Obter história medicamentosa completa; � Conhecer as ações dos medicamentos usados; � Considerar alternativas terapêuticas; � Evitar esquemas terapêuticos complexos quando possível; � Educar o paciente; � Monitorar a terapia; � Individualizar a terapia 44 As interações podem ser desejáveis quando têm por objetivo tratar doenças concomitantes, reduzir efeitos adversos, incrementar a eficácia ou permitir a redução da dose. Já as interações indesejáveis são as que determinam redução do efeito ou resultados contrários aos esperados, aumento da incidência e da gama de efeitos adversos e do custo da terapêutica, sem incremento no benefício terapêutico. Vantagens e desvantagens das interações medicamentosas: Vantagens de sinergismos: • Aumento da eficácia terapêutica: substâncias que atuam em mais de uma etapa do mesmo mecanismo de ação ( sulfametoxazol + trimetoprima; associações de antineiplásicos) ou em diversas manifestaçãoes do mesmo processo fisiopatológico (broncodilatadores + antiinflamatórios); • Redução de efeitos tóxicos (sulfas associadas podem diminuir a cristalúria); • Obtenção de maior duração de efeito pelo impedimento, por exemplo da excreção do fármaco (Probenecida+ penicilinas); • Combinação de latência curta com duração de efeito prolongado (penicilina G cristalina + penicilina G procaína) • Impedimento ou retardo de surgimento de resistência bacteriana (esquema tríplice de antituberculosos); • Impedimento ou retardo de emergência de células malignas (esquema com múltiplos antineoplásicos); • Aumento de adesão ao tratamento por facilitação do esquema (menor número de fármacos a ingerir, como na associação rifampicina + isoniazida); • Inibição da multiplicação viral (esquema múltiplo de fármacos anti-retrovirais de alta potência). Vantagens de antagonismos: • Anular o efeito indesejável de certo fármaco (efeito corretivo). Ex: Uso da naloxona como antídoto para morfina; • Inativar composto causador de intoxicação (antidotismo químico). Ex: Emprego de BAL (quelante) na intoxicação por mercúrio. 45 Desvantagens das interações: • Soma dos efeitos indesejáveis, quando os fármacos associados têm o mesmo perfil toxicológico. Ex.: vancomicina e aminoglicosídeo, aumentando a toxicidade renal. • Dificuldades no ajuste de doses individuais e na detecção do agente responsável por eventual reação adversa. • Custo elevado. Incompatibilidades Medicamentosas São consideradas interações farmacêuticas e ocorrem in vitro, isto é, antes da administração dos fármacos no organismo, quando se misturam dois ou mais deles numa bolsa de soro, na mesma seringa, equipo de infusão ou outro recipiente. Devem-se a reações físico- químicas que resultam em: � Alterações organolépticas; � Diminuição da atividade de um ou mais dos fármacos originais;� Inativação de um ou mais fármacos originais; � Formação de novo composto (ativo, inócuo, tóxico); � Aumento da toxicidade de um ou mais dos fármacos originais. A ausência de alterações macroscópicas não garante a inexistência de interação medicamentosa. Há fatores que afetam a compatibilidade entre substâncias, tais como a estrutura molecular, natureza do soluto, solvente, material do recipiente (vidro, polietileno, EVA), pH do meio, constante de dissociação do fármaco; solubilidade, concentração temperatura, luminosidade e tempo de contato entre os compostos. Os fármacos podem ser incompatíveis in vitro e sinérgicos dentro do organismo, desde que tenham sido administrados separadamente, como por exemplo, gentamicina e penicilina. Algumas medidas podem ser tomadas para evitar as interações farmacêuticas, tais como: � Leitura atenta das orientações referentes quanto a reconstituição, diluição, temperatura e condições de armazenamento pós-diluição; � Não adição de outros fármacos nas soluções de infusão, a menos que haja garantia de compatibilidade; � Certificação da completa diluição do fármaco na solução de infusão, verificando presença de alterações; � Não exposição do medicamento ou fármaco ou da diluição à luz direta; protegê-los do calor excessivo durante a infusão; 46 � Rotulagem adequada do recipiente de infusão; � Preparação de diluições no momento da administração quando não houver segurança quanto à estabilidade; � Administração de nutrição parenteral em via exclusiva; � Consulta ao farmacêutico hospitalar em caso de dúvida. Vias de administração parenterais A administração de medicamentos deve ser realizada com eficiência, segurança e responsabilidade, a fim de que sejam alcançados os objetivos da terapêutica, ou seja, melhora do quadro clínico do paciente. As principais vias de administração são as seguintes: intradérmica, subcutânea, intramuscular, intravenosa e intra-raquídea. A escolha da via de administração depende dos fatores clínicos, farmacológicos e farmacocinéticos bem como fatores tecnológicos (aprimoramento das formulações, visando ampliar o uso para diversas vias de adminitração). A taxa de absorção das vias subcutânea e intramuscular depende da passagem pela barreira capilar e da dissolução do veículo no fluído intersticial. Os canais aquosos relativamente grandes da membrana endotelial permitem a difusão de moléculas com solubilidade lipídica. Moléculas grandes, como as proteínas, lentamente ganham acesso à circulação pelos canais linfáticos. A via intravenosa não apresenta absorção, apresentando 100% de biodisponibilidade e potenciais efeitos imediatos. As vias de administração diferem-se em alguns parâmetros: rapidez de início de ação, natureza da via, quantidade a ser administrada e as condições do paciente. Via intramuscular - IM Administração direta do injetável na massa muscular. A velocidade de absorção do medicamento após a administração IM é dependente do tipo de administração, bem como dos fatores farmacocinéticos. Dentre estes fatores incluem solubilidade do medicamento, efeito do solvente, volume e concentração da solução injetada, tamanho da molécula do fármaco e a perfusão vascular no local da injeção. Propriedades da via • músculo estriado é dotado de elevada vascularização, no entanto, é pouco inervado por fibras sensitivas. Estas características conferem-lhe facilidade de absorção dos medicamentos e possibilidade de uma administração menos dolorosa. 47 • A absorção depende do fluxo sangüíneo no local da injeção e geralmente é rápida, havendo pronto início dos efeitos terapêuticos. • Fármacos em solução aquosa são absorvidos rapidamente, dependendo do fluxo sangüíneo no local de administração. Massagem e exercício podem aumentar a absorção por essa via. • A velocidade de absorção no músculo deltóide ou no grande lateral é maior do que a absorção no músculo grande glúteo. • Volume de líquidos administrados não devem ultrapassar 10mL. Na maioria dos casos o volume administrado é de 1 a 5 mL. Propriedades dos fármacos • Os fármacos administrados pela via IM devem permanecer em solução nos líquidos intersticiais até serem absorvidos e por isso se exige suficiente solubilidade em água no pH fisiológico. • Além disso, algum grau de lipossolubilidade é necessário para permear as células endoteliais dos capilares. • Em geral, as soluções utilizadas são aquosas, oleosas e suspensões. Algumas injeções intramusculares são dolorosas, logo é frequente incluir na sua fórmula anestésicos locais, que simultameamente são conservantes. Podem ocorrer efeitos adversos locais como dor e desconforto, dano celular, hematoma, abscessos estéreis ou sépticos e reações alérgicas. Apropriado para volumes médios, veículos oleosos e algumas substâncias irritantes. Via intravenosa - IV A administração intravenosa ou endovenosa é caracterizada pela introdução do medicamento diretamente na corrente sangüínea. Propriedades da via • volume de líquidos a serem injetados nesta via pode oscilar entre 1 a 1000mL e, em alguns casos, pode ser superior. A concentração desejada de um fármaco no sangue é obtida com maior precisão e rapidez do que nas demais vias. • Uso apropriado para grandes volumes e para substâncias irritantes, quando diluídas. Propriedades dos fármacos • Preparações aquosas, e em alguns casos, suspensões aquosas ou emulsões óleo em água. Nestes dois últimos tipos de preparações, é importante ressaltar a 48 importância de que as partículas suspensas ou emulsionadas devem apresentar diâmetros inferiores a 7 µm. Usualmente utilizam-se partículas de 1 a 2 µm, com objetivo de evitar fenômenos do tipo de trombose e/ou embolia. • Os medicamentos destinados a esta via devem ser isotônicos, isentos de pirogênios e possuir pH neutro (6,0 e 7,5). Contudo, são toleráveis desvios mínimos de isotonia, tanto para o lado hipotônico quanto para o lado hipertônico*3. Via intradérmica - ID Os medicamentos são administrados na pele entre a derme e a epiderme, especialmente a zona do antebraço. Propriedades da via: o volume injetado é pequeno, na ordem de 0,03 a 0,18mL. Via subcutânea - SC Os medicamentos são administrados no tecido subcutâneo, abrangendo as áreas abaixo da pele. Propriedades da via: • Soluções injetadas pela via subcutânea são influenciadas pela capacidade tamponante dos tecidos e fluídos subcutâneos. A absorção dos medicamentos administrados por esta via é geralmente mais lenta do que a absorção dos fármacos administrados pela via intramuscular (IM) devido ao menor fluxo sangüíneo regional nos tecidos subcutâneos. • A velocidade de absorção é determinada pelo fluxo sangüíneo da região. O uso de vasoconstritores prolonga os efeitos locais, e a aplicação de calor ou massagem acelera a absorção. • Esta via prevê uma absorção rápida pois o fármaco só necessita ultrapassar as células endoteliais para chegar à corrente circulatória. O fluxo sangüíneo regional é o maior determinante da velocidade de absorção. • Esta via não é adequada para a administração de grandes volumes (somente de 0,5 a 2,0mL saõ injetados confortavelmente) ou de substâncias irritantes. Seus incovenientes incluem dor local, abscessos estéreis, infecções e fibrose. 49 Propriedades dos fármacos: • Esta via é usada apenas para substâncias que não são irritantes para os tecidos. A absorção costuma ser constante e suficientemente lenta para produzir um efeito sustentado. • Apropriada para suspensões insolúveis e implantaçãode pellets. Via intra-raquídea - IR A administração intra-raquídea consiste em injetar a preparação medicamentosa no canal raquideano. Os medicamentos injetáveis destinados a esta via devem ser soluções aquosas neutras e isotônicas, estéreis e apirogênicas. Não devem conter conservantes germicidas, pois podem lesar elementos do tecido nervoso. Devido ao pequeno volume e a lentidão dos movimentos do líquido céfalo-raquideano, as preparações injetadas nesta via também devem apresentar pH e tonicidade próximos aos valores fisiológico INFUSÃO DE MEDICAMENTOS POR ACESSO VENOSO PERIFÉRICO Medicamento vesicante: causa destruição do tecido. Medicamento irritante: causa dor, tensão e flebite com ou sem inflamação. Extravasamento: Quantidade de líquido do medicamento perdida por vazamento que causa dor, necrose ou pele de cobra. Extravasamento tardio: Os sintomas ocorrem 48 horas após a administração. 50 51 52 Medicamentos que são irritantes / vesicantes quando administrados por via periférica, pois irritam e destroem o endotélio venoso nas seguintes concentrações: Medicamento Concentração Aciclovir Anfotericina B Ampicilina Bicarbonato de sódio Ceftriaxona Cloreto de potássio Dopamina Eritromicina Fenitoína Gluconato de cálcio Piperacilina Vancomicina [7 mg/mL] [0,1 mg/mL] [250 mg/mL] [0,5 mEq / mL] [50 mg/mL] [2 mEq / mL] [0,8 mg/mL] [100 mg/mL] [50 mg/mL] [100 mg/mL] [100 mg/mL] [5 mg/mL] Flebites – Acesso Periférico: A irritação venosa e o desenvolvimento de flebite química está associada com a administração de soluções com extremos de pH e/ ou osmolaridade. Medicamentos com pH acima de 4,1, já são irritantes para o sistema venoso, podendo desencadear flebite. Os mais preocupantes são: vancomicina, fenitoína, prometazina, morfina e aciclovir. Medicamentos irritantes para o acesso periférico Penicilinas Cefalosporinas Anfotericina B Aciclovir Ganciclovir Fenobarbital Diazepam Cloreto de potássio 53 Medicamentos vesicantes para o acesso periférico Vincristina Vimblastina Doxorrubicina Gluconato de cálcio Cloreto de potássio Dopamina Nitroprussiato de sódio Glicose 10%, 20%, 50% AGENTES VESICANTES Toxinas Celulares Diretas Agentes Hiperosmóticos (>280 mOsm/L) Indutores de Isquemia Agentes não Antineoplásicos Agentes Antineoplásicos Gluconato de Cálcio Dobutamina Nitroglicerina Dactinomicina Glicose (>10%) Esmolol Fenitoína Epirrubicina Manitol (>5%) Metaraminol Tiopental Sódico Esorrubicina Acetato de Potássio (>2 mEq/mL) Norepinefrina Tetraciclina Idarrubicina Cloreto de Potássio (>2 mEq/mL) Fenilefrina Mecloretamina Bicarbonato de Sódio (≥8,4%) Vasopressina Mitomicina Cloreto de Sódio (>1%) Streptozocina Agentes relacionados com reações ocasionais de extravasamento Bleomicina Fluorouracila Carboplatina ≥10 mg/mL Gencitabina Carmustina Gentuzumabe Cisplatina Ifosfamida Ciclofosfamida Irinotecano 54 Dacarbazina Mitoxantrona Daunorrubicina Citrato (lipossomal) Oxaliplatina Dexrazoxano Paclitaxel Docetaxel Tenoposideo Doxorrubicina (lipossomal) Topotecano Etoposide MEDICAMENTOS MAIS UTILIZADOS POR VIA INTRAVENOSA FENTANIL Categoria terapêutica: analgésico narcótico Efeito da ação analgésica: o IV ocorre imediatamente; duração da ação: 30 a 60 min. Administração parenteral: o IV push lento: 3 a 5 min o Infusão contínua: em SG5% ou SF 0.9% o Estabilidade: 48h a temperatura ambiente (TA) Monitorar: o taxa respiratória, pressão sangüínea, saturação de oxigênio, distensão abdominal Cuidados: o Administração IV rápido pode resultar em apnéia o Apresenta efeito hipotensor menor que o fenobarbital e tiopental Incompatibilidades em Y: o Fenobarbital o Tiopental o Fenitoína o Azitromicina Ocorre precipitação. MIDAZOLAM Categoria terapêutica: anticonvulsivante Farmacodinâmica: o Início da ação sedativa: 1 a 5 minutos o Duração da ação: 20 a 30 minutos 55 Administração parenteral: o IV lento por 2 a 5 minutos na concentração de 1 a 5 mg/mL (concentração máxima de 5 mg/mL) o IM: concentração máxima de 1 mg/mL o Estabilidade: na concentração de 0,5 mg/mL, é estável por 24 horas em SG 5% ou SF 0,9%, ou por 4 horas em Ringer lactato. Monitorar: o Nível de sedação, taxa respiratória, taxa cardíaca, pressão sangüínea, saturação (oximetria de pulso). Cuidados: o Evitar extravasamento, não administrar intra-arterial o Retirada abrupta pode resultar em síndrome de abstinência. Neonatologia: o Não usar via IV quando for doses maiores. Incompatibilidades em Y: o Amoxacilina o Amoxacilina/Clavulanato o Albumina o Ceftazidime o Cefuroxime o Dexametasona fosfato o Hidrocortisona succinato o Imipenem/Cilastatina o Bicarbonato de Sódio NORADRENALINA Sinônimo: Norepinefrina Categoria terapêutica: agente agonista adrenérgico Cuidados: o Deve ser diluída antes do uso. o Monitorar status termodinâmico. o A injeção contém metabissulfito, o qual pode causar reações alérgicas em indivíduos suscetíveis. o Extravasamento pode causar necrose tecidual. o Não administrar em pacientes com trombose vascular mesentérica ou periférica porque a isquemia pode ser aumentada e a área do infarto estendida. 56 Estabilidade: o Oxida rapidamente; não usar se coloração escurecida (marrom). o Diluir em SG 5% ou soro fisiológico (SG 5%/SF 0,9%). Não é recomendada diluição em SF 0,9%. o Concentração: 8 mg/mL em SG 5%. o Não é estável em soluções alcalinas. o Proteger da luz. Administração: o Em veia de grande calibre. o Concentração padrão: 4 mcg/mL, porém 16 mcg/mL tem sido usado com segurança e com eficácia em situações de restrição hídrica. Incompatibilidade em Y: o Insulina VANCOMICINA Categoria terapêutica: antibiótico Estabilidade: o Frasco/ampola 500 mg, reconstituir com 10 mL AD. Estável por 24 horas se refrigerado. o Soluções para infusão: SG 5%, SF 0,9%; concentração máxima: 5 mg/mL. Estável por 24 horas a temperatura ambiente. Administração: o 500 mg: mínimo 60 minutos o 1000 mg: mínimo 90 minutos o Adultos com função renal normal: não exceder 2 g/dia Cuidados: o Não administrar IM. Incompatibilidades em Y: o Heparina o Fenobarbital o Foscarnet o Aminofilina o Cotrimoxazol (SMT + TMP) o Ceftazidime o Albumina 57 o Bicarbonato de Sódio MORFINA Categoria terapêutica: analgésico, narcótico. Cuidados: o Depressão respiratória. o Neonatos e crianças menores que 3 meses de idade são mais suscetíveis à depressão respiratória. Não diluir em soluções com conservante. o Descontinuação abrupta em uso prolongado pode causar síndrome de retirada. o Injeções podem conter metabissulfito de sódio, que pode causar reações alérgicas. Interações: o Depressores do SNC (fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos) o Isoenzima do citocromo P450. Dose máxima em neonatos: 0,1 mg/kg/dose Administração: o Push: administrar acima de 5 minutos até uma concentração final de 0,5 a 5 mg/mL (IV rápido pode aumentar os efeitos adversos). o Infusão intermitente: administrar acima de 15 a 30 minutos, a uma concentração final de 0,5 a 5 mg/mL. o Infusão contínua:
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