Buscar

Cap II - África Ocidental ou Atlântica-1.docx

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A história da cultura afro-brasileira
Capítulo II
O desenvolvimento do comércio entre europeus e africanos.
Segundo Jonh Thornton (americano, historiador, especializado na história da África e da Diáspora Africana. PhD em 1979 – UCLA, possui vários prêmios e publicações) não houve invasão, nenhuma conquista europeia sobre a África. Até mesmo na colonização da América, os escravos que cruzaram o Atlântico, foram negociados pelos próprios africanos, na grande maioria dos casos. Houve sim uma pequena tentativa de ataque pelos mares, mas as vitórias africanas resistiram com sucesso e isso não causou nenhum mal-estar entre ambos. As vitórias navais africanas também não impulsionaram o comércio de nenhuma região, contudo, serviram aos interesses dos ricos, da elite africana, apenas. Mas há quem tenha teses de que o comércio entre Europa x África fora destrutivo e desigual, com os europeus levando maior parte dos lucros a longo prazo, impossibilitando os africanos de se beneficiarem e deixando-os incapazes, debilitados e dependentes. Surgia uma África subdesenvolvida?
(Nota: Países da Europa colonizaram, invadiram, saquearam países em diversos lugares do mundo, em vários continentes. Seria só na África, que as coisas teriam acontecido pacificamente e que, se houve algum interesse, estes teriam sido somente da elite africana, segundo John Thornton?)
As defesas de que a Europa foi a grande vilã, segue abaixo, por dois historiadores consideradíssimos:
Dr. Walter Rodney, foi um proeminente historiador da Guiana, ativista político. Nascido em 1942, assassinado em 1980 em seu país de origem. Segundo Rodney, o especialista mais influente, as relações comerciais entre Europa x África atlântica, foi a partida para o atraso da África. Por estar, a África, não tão desenvolvida economicamente em relação à Europa, ela foi forçada a compactuar com um “comércio colonial”, no qual os africanos cediam matéria-prima e recursos humanos (na forma de escravos), em troca de manufaturados (sistema de fabricação de muitos produtos realizados por máquinas ou homens). Certamente esta foi a característica da dependência do comércio africano. Embora nem todos os estudiosos tenham compartilhado de sua visão radical, mas alguns ainda acreditam que algum tipo de comércio levou a África a um grande prejuízo, ficando assim subdesenvolvida.
Ralph Austen professor emérito de História Africano, PhD 1966 - Harvard. Autor de diversos livros e publicações no assunto, possui opiniões muito mais conservadoras que o colega Rodney, e também concordava que o comércio no séc XVI levou a África a uma grande marginalidade na economia mundial, além de abafar o desenvolvimento tecnológico e algumas estratégias no crescimento econômico.
O autor, Jonh Thornton, conforme os próximos relatos, reforça que um exame sobre o desenvolvimento econômico na África, em torno de 1500, não se mostra tão pessimista quanto à natureza precisa do comércio no Atlântico. O autor relata que os africanos foram muito ativos no desenvolvimento comercial, e o fizeram por conta própria. Pois o comércio no Atlântico não era tão crucial, tão importante, para a economia africana como pensam outros estudiosos. E os produtos manufaturados tinham qualidades necessárias para competir com a Europa pré-industrial.
O comércio africano, culturalmente, costumeiramente, era voltado para dentro da própria África, ou seja, desde a África Ocidental, para outros países mais ao oriente. Como podemos ver a imagem abaixo e não o faziam através do Atlântico. Isso era auto suficiente para a África?
Para entender o papel da economia da África no comércio do Atlântico, é preciso examinar duas questões inter-relacionadas, ambas oriundas de trabalhos de acadêmicos que vêem a África como associados comerciais subalternos e dependentes:
A premissa sobre atraso da África na produção de bens manufaturados, baseada em grande parte na analogia com sua atual incapacidade de produção e seu impacto na moderna economia da África;
O pressuposto da dominação comercial, em que os europeus de alguma forma foram capazes de controlar o mercado africano, por meio do monopólio ou pela manipulação comercial.
A indústria e os termos comerciais
John Thornton diz, que comparar o comércio dos séc XVI e XVII com os dias atuais, relacionando países industrializados com os menos desenvolvidos, não têm embasamento. A África tinha condições de se auto sustentar, de prover as suas necessidades. Embora a África, em 1650, importasse muitos produtos manufaturados (ferro ou tecido) e exportasse semimanufaturados (couro, cobre, borracha, ouro, marfim e escravos) revela que a manufatura na África atendia às suas necessidades. No mais, um interessante aspecto dos primórdios do comércio atlântico tenha sido o fato da Europa só ter oferecido à África artigos que ela própria já produzia – negligenciando análises comerciais. Isso é a diferença para os dias de hoje, séc XXI, onde a indústria doméstica africana não manufatura os importados dos países desenvolvidos.
Antes de 1650, a Europa exportava mercadorias para a África de diversas categorias, como o tecido; depois o metal e como obra-prima o ferro/ cobre em peças trabalhadas em facas, espadas, tigelas etc. Há também a moeda corrente, incidindo em toneladas de cauri (usado como dinheiro partes da África e Ásia), moedas também importadas pela África Central. Por fim havia itens não utilitários como joias, brinquedos mecânicos, bebidas etc... É importante dizer que nenhum desses artigos era mercadoria essencial. A África possuía indústrias bem desenvolvidas que produziam estes itens, mas nem todos eram produzidos em cada distrito. E um número significativo era importado por regiões que realmente não necessitavam por eles, levando essas importações a terem um caráter estritamente funcional.
Mercantilismo: Propensão a sujeitar ou relacionar qualquer coisa ao interesse comercial, ao lucro, às vantagens financeiras. .
John Thornton, ainda diz que o comércio não se desenvolveu para atender as carências da África ou mesmo para suprir uma produção deficiente ou problemas de qualidade dos produtos africanos manufaturados. Mais exatamente, o comércio África x Europa foi levado pelo modismo, ostentação, prestígio a gostos diferentes – e essa motivação tinha em conta uma economia produtiva razoável, bem desenvolvida, para um poder de compra considerável. E, por parte dos africanos, esse comércio atlântico não foi desejo para preencher necessidades básicas, ou um critério de valor às suas carências ou ineficiências, mas sim uma medida de extensão ao mercado doméstico.
Os africanos (a elite africana) optaram pelo comércio atlântico por causa de luxo e ostentação.
Mas há um caso curioso, em respeito à exportação do metal, por exemplo. O ferro importado poderia utilizado em ferramentas, produzir artefatos. Portugal limitava-se por questões da religião, honrando injunções do Papa contra a venda de materiais podendo ser usado por militares infiéis (por ex: espadas). Os holandeses que tinham boas fontes de ferro e os ingleses que possuíam seu próprio ferro, foram os pioneiros na venda de ferro na África no séc XVII, e as barras de ferro já predominavam nos presentes ofertados. Esse comércio foi útil para a África sendo transportada grande quantidade, toneladas.
A África era produtora de ferro e, em alguns lugares, como a Senegâmbia já eram supridos por produtores, (mesmo que de má qualidade) na época da chegada dos portugueses. Mas na verdade os portugueses compravam ferro em Serra Leoa para vendê-lo em Senegâmbia e em outros locais. Porém este comércio posterior de ferro com a Senegâmbia, não foi para competir com outros produtores da África Ocidental para suprir as necessidades da região pobre, na realidade foi mais complexo que isso. A questão da produção de ferro na África é algo atrativo já de longas datas, por volta de 600 a.C. O aço africano era de melhor qualidade, economizava-se mais combustível para o aquecimento do mesmo, devido às técnicas de produção e conservaçãoafricana e etc. Já no séc XV através de estudos, viram que qualquer fundição africana indicava que o aço era equivalente aos produzidos em outros lugares. Mas para fundi-lo eram necessárias muitas madeiras, de difícil disponibilidade. Só próximo a floresta tropical que era possível. E isso enfraqueceu algumas regiões, como a Senegâmbia. Por isso a necessidade de importar, mesmo a qualidade europeia sendo inferior. 
Fato que era extremamente necessária a posse de ferramentas e armas, para a sobrevivência e manutenção da sociedade local. E muitas famílias ou reinados, dependendo do número de escravos, ou de soldados, importava-se muitos quilos. A importação tinha seu papel fundamental neste caso, porém limitada. Só que a renovação das armas e ferramentas levava em média 6 meses, sendo este material de baixa qualidade. Então com uma qualidade melhor do aço ou ferro, havia maior duração e as armas já vinham forjadas, com acabamento final. Os africanos prezavam pela qualidade e acabamento europeu. Era algo a mais do que suas necessidades. 
Já com os tecidos a questão da importação necessitava de mais atenção, pois diferente do ferro (que se importava), o tecido poderia ser fabricado em qualquer lugar. Mas os africanos não compravam tecido europeu por eles não possuírem materiais próprios, nem pelo material europeu ser melhor ou mais barato do que os africanos. Pelo contrário. Os africanos possuíam ótimos tecidos. A África exportou tecelões de Mandinga, onde seus tecidos eram muito bem falados na Europa. Isso era porque a indústria africana utilizava casca de árvore para fazer uma variedade de tecidos, com ótima qualidade. A matéria prima era abundante e os produtores muito eficientes e habilidosos. 
Os portugueses compraram tecido do Congo e Mandinga por exemplo, para exportar para Angola, entre outras regiões. Tinha como finalidade o uso doméstico. O africano ostentava-se com o tecido. Era vestuário, era nas fachadas das residências, nos palácios... Então não tinha necessidade de se importar tecidos da Europa, pois, como já citado por historiadores, e viajantes, o tecido africano era de muito boa qualidade. Mas o tecido era prezado pela elite, tinham de mostrar suas roupas como um artigo de luxo. Mais até que o ferro. Então tecido importado, era ostentação, vaidade e prestígio. A matéria prima saia de Mandinga, ia para a Costa do Ouro, manufaturava-se lá e então era exportada para outras regiões da própria África.
Todos esses fatos não demostram que o comércio afro-europeu não pode ser visto como uma simples troca de produtos, para suprir carências de uma economia deficiente. Certas preferências explicam por que os africanos traziam tanta variedade de mercadorias da Europa. Muito mais por modismo, objetos supérfluos, das suas reais necessidades. Comercializar para satisfazer seus desejos pessoais. E por falar em comércio, a África também exportava produtos manufaturados à Europa, lembrando, inclusive têxteis, entre outros artigos bem elaborados com requintes, isso entre XVII e XVIII. Concluiu, John Thornton, que o comércio Europa x África não pode ser visto como algo destrutivo, pois os europeus não impediram à força, ou nem de outra forma a linha de produção africana, seja produtos que poderiam ser manufaturados na própria África, produtos de boa ou má qualidade ou matéria-prima etc... Não havia razão para que os africanos desejassem cessar o comércio ou que o desejo de continuar baseasse na necessidade.

Outros materiais